segunda-feira, fevereiro 17, 2014

Hobbes nas ruas - LUIZ FELIPE PONDÉ

FOLHA DE SP - 17/02

Gente comum quer uma vida pautada por rotinas de trabalho, escola, lazer e consumo


Dias atrás, o Brasil se chocou com cenas de violência nas ruas. Pessoas comuns batendo em supostos (ou comprovados) bandidos. Policiais tendo que protegê-los da fúria da gente comum.

De um lado, uma jornalista faz comentários arriscados na TV, do outro, setores da intelligentsia pedem providências do Ministério Público contra a jornalista, botando ainda mais lenha na fogueira da atmosfera de ódio e ressentimento que toma conta, lentamente, da alta, média e baixa culturas nacionais.

Não se pode defender o espancamento na rua, mesmo sendo bandido. Só o Estado detém o monopólio legítimo da violência. Mas é esta mesma intelligentsia (tribunais, universidades, mídia, escolas, ONGs) que vem sistematicamente erodindo esse monopólio legítimo da violência que pertence à polícia. Claro que os erros desta precisam ser sanados, mas a sociedade não faz nada para melhorar o tratamento institucional dado à polícia, e sem ela, sim, a gente comum vai espancar supostos (ou comprovados) bandidos na rua. E vai piorar.

O espancamento de supostos (ou comprovados) bandidos na rua é parte do fenômeno de massa que os inteligentinhos chamam de "jornadas de junho", num esforço de reviver a ejaculação precoce que foi o Maio de 68 na França, aquela revolução de mimados.

Lembremos que quando as manifestações do ano passado atingiram o nível de massa, os inteligentinhos começaram a gritar dizendo que o movimento (deles!) tinha sido sequestrado por setores "conservadores" da sociedade. Para eles, "conservador" é todo mundo que não os obedece e não os teme, mesmo que seja apenas para parar a Paulista.

Se no ano passado vimos uma inesperada crise na representação política, agora assistimos a um crescente rompimento do contrato social. E quem está na rua é o homem descrito pelo intelectual honesto que foi Hobbes, e não o pseudo-homem dos "delírios do caminhante solitário" e vaidoso Rousseau.

Já falei algumas vezes nesta coluna do que podemos chamar de psicologia da gente comum. Esta gente que a intelligentsia, na verdade, despreza, apesar de posar de defensora da gente comum. Digamos a verdade. Nossa contradição aparece quando, por exemplo, algumas pessoas começam a gritar contra gente mal-educada e sem compostura frequentando aeroportos, e os "defensores dos menos privilegiados" saem ao ataque da burguesia chocadinha reclamona.

Infelizmente, a intelligentsia não percebe que tanto a burguesia chocadinha quanto os mais pobres fazem parte da mesma categoria de gente comum. Perdemos, nós da intelligentsia, a capacidade de enxergar essa gente comum, porque vivemos em nossa "casinha" correndo atrás da produtividade inócua da Sua Excelência Capes ou delirando com seres humanos que não existem.

E qual é a psicologia de gente comum? Gente comum é duramente meritocrática: quem não trabalha é vagabundo. Não quer ser assaltada quando vai para o trabalho ou para casa (e se for, quer ver o ladrão se ferrar feio!), quer também casa própria, metrô e ônibus que andem, comprar um carro logo que for possível, hospital sem muita fila, comer pizza no domingo, transar por cinco minutos quando não estiver muito estressada, ir para praia, ganhar cada vez mais, ir ao cinema mais perto de casa, ir ao salão de beleza, ver os filhos crescerem, tomar cerveja, e se der, ler alguma coisa além de ver TV.

E, digamos: pagam impostos e tem todo o direito de viver assim (menos de bater em gente na rua). Mas vão bater em supostos (ou comprovados) ladrões cada vez mais porque estão sentindo que a sociedade não está nem aí para eles.

Quando a chamada classe D alcançar os níveis do consumo da classe C, vão querer a mesma coisa. Uma vida pautada por rotinas de trabalho, escola, lazer, consumo e férias. E quem ficar no caminho vai apanhar. Esta é única "consciência social" que existe.

Quando essa massa de gente que está de saco cheio de ser pisada no trem, de pagar imposto e não poder andar com seu carro nas ruas, de ver sua filha com medo, agir, o homem de Hobbes fará sua "revolução". A vida será doída, violenta e breve.

Ocupa quiosque - JOAQUIM FERREIRA DOS SANTOS

O GLOBO - 17/02

A maldição dos quiosques ameaça se espalhar, murar a praia e dar mais um golpe nesta moribunda civilização à beira-mar plantada


E Deus, sem receber qualquer comissão, sem se deixar corromper por qualquer empreiteira, fez de livre arbítrio, na camaradagem, no 0800, o fabuloso desenho em curva da praia de Copacabana. Embaixo do projeto, escreveu “divirtam-se”, e foi descansar satisfeito, coitado, crente que estava agradando. Dois mil anos depois, o homem inventou o quiosque e apagou tudo.

De uma ponta a outra daquele arco delicado entre o Leme e o Posto 6, o tal homem feito a imagem e semelhança do Criador, mas que precisa urgente de um recall, construiu uma barreira de casebres de plástico colorido. Não se veem mais o mar, nem as garotas estendidas na areia, os golfinhos saltitando ou a linha infinita da poesia no horizonte, essa necessidade que todos têm em localizar um ponto de sonho lá longe e, através da sua contemplação, fugir deste rojão cotidiano.

A curva de Copacabana era para ser um mirante plano, diziam os urbanistas da primeira Bíblia. Para um lado, contemplar-se-iam o Atlântico e o lento afastar do continente africano. Para o outro, encheríamos os olhos com as curvas das montanhas, feitas à semelhança das mulheres que chegariam aqui. Não deu certo. Primeiro os homens fizeram os prédios, e não vemos mais a cordilheira carioca. Agora, chegou a vez de quioscarem, digo, fecharem ao cidadão a visão do mar.

Eu sei que o Rio de Janeiro tem pragas mais urgentes a serem exterminadas, mas eu sou um cronista. Vejo o deputado Natan Donadon sair da prisão, ser cassado na primeira votação com voto aberto da Câmara, e o que me chama a atenção é o fato de o uniforme de presidiário agora ser branco, como se fosse um exercício de cromoterapia para purificar a índole criminosa do sujeito.

O cronista é o Jack Estripador da literatura. Reparte a cena. Valoriza as minúcias porque sabe que se esquecer uma do lado de fora da mala ou do congelador vão saber que foi ele. O cronista procura os detalhes — embora os quiosques construídos ao redor das praias do Rio já formem uma extensão tão monstruosa que se aproxima do tamanho da muralha da China. Pior. Da muralha ainda se contempla alguma coisa. O tapume dos quiosques é um muro, o verdadeiro black bloc. Ele foi construído para nada se ver.

Esta é uma cidade com um cardápio reduzido de trunfos. A política, a indústria, o mercado financeiro, os serviços, a civilidade, a segurança – tudo é tacanho. Existe, no entanto, um cenário de real valor já cantado neste tom maior por todas as escolas de samba. Isso pode dar dinheiro, progresso para a cidade e felicidade para outros. Guardem o troco. Do progresso eu quero só a sandália Havaiana. Eu quero mesmo é a dona felicidade — e uma delas é andar de um lado para o outro no calçadão da praia, como ainda fazem os personagens das fotos de Augusto Malta nos anos 1920. Copacabana, acreditem, era deslumbrante, e seria bom vê-la de volta.

Há quem prefira passeios em iates, escalar o Everest. Eu prefiro bater perna logo ali na esquina, na calçada da praia, mas sem tropeçar nos barracos construídos para um péssimo serviço de venda de coco e cerveja.

A propósito, eu e Nelson Cavaquinho fizemos um samba: “tire esse quiosque do caminho, que eu quero passar com a minha dor”. Já bastam as inacreditáveis barracas plantadas na areia, como se fossem uma segunda linha de zagueiros, impedindo o alumbramento previsto no versículo da Bíblia, aquele de que a natureza é ao homem intrínseca e ninguém lha tocará.

Estou falando isso, blasfemando contra os vendilhões do grande templo carioca que é a praia, porque é verão. Porque ainda dá tempo. Passei pela praia de Ipanema e os quiosques gigantes ao estilo dos de Copacabana, apesar das obras anunciadas há anos, ainda não chegaram ali. Sobrevivem uns casebres menores — fora com todos! — igualmente pútridos, mal ajambrados, cercados de cadeiras, cachos de coco e lixeiras abóbora.

O que se ganha com eles?

Qual a necessidade de eles serem colocados maiores ainda no espaço reduzido de Ipanema?

Quem são essas pessoas autorizadas a construir dentro do mais importante metro quadrado da cidade?

Ainda há tempo de evitar que as Cagarras e todo o deslumbrante cenário da praia de Ipanema fiquem escondidos atrás do mesmo bloco de tapumes gigantescos que em Copacabana tirou a linha do mar da visão do carioca. É um vício da cidade. O Aterro do Flamengo, por mais bonito, acabou com praias e trocou o mar pelas pistas de alta velocidade. O alargamento da Avenida Atlântica também mandou o oceano para longe. Não deve ser à toa que na esquina de República do Peru alguém grafitou: “o horror, o horror”.

Agora a maldição dos quiosques ameaça se espalhar, murar a praia e dar mais um golpe nesta moribunda civilização à beira-mar plantada. O calor, está no Apocalipse, completará o serviço. Ou alguém duvida que este verão seria diferente com a brisa marinha ventando mais próxima e diretamente nos poros dos nossos cangotes?

Desculpas imperdoáveis - LÚCIA GUIMARÃES

O Estado de S.Paulo - 17/02

"Não foi esta a minha intenção", desculpou-se uma professora da PUC do Rio, depois de publicar no Facebook a foto de um homem de bermudas e camiseta no aeroporto Santos Dumont, com a pergunta: "Aeroporto ou rodoviária?" Com apoio de seus seguidores, inclusive o reitor da UniRio, a professora continuou: "O pior é que o Mr. Rodoviária está no meu voo! Ao menos, não do meu lado! Ufa!". Diante do furor viral, a passageira insultada com a violação visual, exposta ao escárnio público, fez o que faz Justin Bieber toda semana. Pediu desculpas com a sinceridade do astro pop canadense. O homem fotografado sem sua autorização revelou-se um advogado e procurador da cidade mineira de Nova Serrana. Alguém acredita que uma acadêmica se daria ao trabalho de fotografar um gajo e escrever o que escreveu se não estivesse dizendo exatamente o que pensa?

Um consultor de empresas, falando a empresários no Fórum Econômico Mundial em Davos, pediu um cessar-fogo de pedidos de desculpas. Dov Seidman acompanha o aviltamento progressivo do pedido de desculpas público há anos. E se diz insultado com o fato de que tantos autores dos pedidos subestimam sua inteligência. A palestra de Seidman em Davos inspirou um editor de negócios do New York Times a criar uma seção, Apology Watch, para monitorar a rotina da hipocrisia e não deu outra: em poucos dias, foi brindado com a gafe épica do CEO da AOL, Tim Armstrong. Durante um telefonema para funcionários, Armstrong disse que a empresa ia reduzir seus benefícios de aposentadoria em parte porque tinha gasto US$ 2 milhões com dois bebês doentes, filhos de empregados. A mãe de um dos bebês se apresentou, contou sua história trágica e o castigado Armstrong, conhecido por sua crueldade em outro episódio público, se desculpou. De novo, ninguém o acusou de sinceridade.

O ciclo de agressão e desculpas está tão rápido que, enquanto um âncora da CNN relatava a entrevista homofóbica de um jogador de futebol americano no ar, alguém soprou no seu ponto eletrônico que o jogador já estava voltando atrás em outro canal. Como sempre, o jogador espera que a gente acredite: foi possuído por um misterioso ente do mal e disse exatamente o oposto do que pensa.

Desde que escrevi a primeira linha acima, já caiu no meu colo outra pérola da prostituição do pedido de desculpas. Isabel Allende acaba de lançar Ripper, um romance de mistério, e disse, numa entrevista à rádio pública americana, que não gosta do gênero. Antes de se lançar ao trabalho, a escritora mais conhecida pelo realismo mágico de A Casa dos Espíritos, começou a ler os autores de mistério mais bem sucedidos. Foi quando chegou à conclusão: "Não consigo escrever este tipo de livro. É macabro demais, violento demais, sombrio demais. Não há redenção ali". Confesso que tenho opinião sobre que tipo de livro Allende consegue escrever e suas chances de redenção para mim como leitora, mas isto não vem ao caso. A sandice do comentário provocou uma reação irada de fãs de livros de mistério. Allende, casada com um autor de tal literatura, Michael C. Gordon, pediu desculpas porque não foi clara. Na verdade, disse, o comentário era uma piada. Sim, uma best-seller artesã da palavra certamente encontra dificuldades em expressar opinião sobre um gênero literário.

Mas foi outro autor de best-sellers, Stephen King, que ilustrou recentemente, a meu ver, a inflação do arrependimento público. Quando Dylan Farrow acusou Woody Allen de tê-la molestado quando ela tinha 7 anos, King escreveu no Twitter: "Estou perplexo com esta, mas há um elemento de 'bitchery' palpável". Caca no ventilador. Bitch, além de cadela, é o termo chulo para prostituta. Chamar mulher de bitch é mais pesado do que chamar de jararaca. Açodado pela turba digital, King logo tuitou: "Não tenho opinião sobre as acusações; espero que não sejam verdade. Provavelmente usei a palavra errada". E, em seguida, King, calouro no meio, concluiu: "Ainda estou aprendendo a me mexer nesta coisa. Tenham misericórdia".

King expôs o fato de que, quando todo mundo publica qualquer pensamento, neste ambiente de diarreia opinativa, vivemos em estado de conflagração constante entre quem insulta e é insultado. A professora da PUC gostou de saber que seus pares concordam com ela sobre a aparência do homem que, não suspeitava, tem um canudo como o seu. Mas ela se aterrorizou quando a chusma que viaja como quer se juntou em bando para atacá-la.

As desculpas públicas perderam a legitimidade porque não são fruto de arrependimento ou da dor de ferir alguém, mas do desejo de escapar de um desconforto e administrar a própria imagem. Sua motivação é imperdoável.

Desgaste das térmicas começa a preocupar - CLAUDIA FACCHINI

VALOR ECONÔMICO - 17/02

Além de custar bilhões de reais ao Tesouro Nacional, o funcionamento prolongado das usinas térmicas também traz outro tipo de preocupação: não se sabe por quanto tempo mais essas unidades vão conseguir operar no limite de sua capacidade, sem apresentar falhas. As usinas térmicas deveriam servir como um apoio, uma segurança ao sistema elétrico nacional. Algumas foram projetadas para passar a maior parte do tempo paradas, por isso possuem um custo operacional elevado.

O Operador Nacional do Sistema (ONS) acionou neste mês todas as usinas térmicas do país devido ao baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas. Empresários disseram ao Valor que o governo solicitou ainda que fossem adiadas eventuais manutenções das termelétricas. O objetivo é evitar o risco de novos apagões, sobretudo na região Sudeste, onde já existe um déficit na oferta. O ONS precisa transferir atualmente energia das regiões Norte e Nordeste para o Sudeste para poder atender o consumo.

No entanto, o governo havia pedido para que as empresas fizessem a manutenção das usinas antes do início da Copa do Mundo, diz o executivo de uma comercializadora de energia. Agora, há dúvidas se haverá tempo hábil para isso, segundo ele.

Em e-mail enviado ao Valor, o Ministério de Minas e Energia (MME) respondeu que "as unidades geradoras terão suas manutenções alocadas em período anterior a Copa de 2014, observando-se a segurança eletroenergética do SIN (Sistema Interligado Nacional)".

Ao ser questionado se havia uma preocupação com possíveis falhas nas usinas, o MME afirmou que "todo equipamento possui uma taxa de indisponibilidade programada e intempestiva, porém essa informação é considerada no planejamento da operação, razão pela qual não causa nenhuma preocupação."

Mas, na avaliação de fontes do setor, o uso intenso dos equipamentos transformou-se em um fator de risco. Mas ainda é cedo para levar em consideração esse cenário, já que é possível que ocorram chuvas em níveis significativos no fim de fevereiro e início de março.

"É preciso aguardar", diz Alexei Vivan, do escritório de advocacia L.O. Baptista-SVMFA. Ele não vê, contudo, maiores problemas. "Daria para fazer a manutenção das usinas", afirma o executivo. Segundo ele, o sistema está de fato mais vulnerável, mas por outro motivo. Como ONS precisa transportar energia da região Norte para o Sudeste, incidentes nas linhas de transmissão podem causar blecautes, como o que ocorreu no dia 4 de fevereiro, quando treze Estados ficaram sem energia.

O ONS prevê a transferência de 2,8 mil MW médios do Norte para o Sudeste em fevereiro. Outros 600 MW médios virão do Nordeste.

Segundo Claudio Sales, do Instituto Acende, originalmente, as térmicas não foram concebidas para funcionar de forma contínua. "Mas não dá para dizer que elas vão pifar por causa disso", diz o executivo, ao ponderar que seria necessário fazer uma análise "cuidadosa". Mas é fato, segundo ele, que as usinas térmicas assumiram um papel para o qual elas não foram projetadas.

De acordo com Sales, as térmicas chegaram a responder por 17,6% do abastecimento de energia do país neste mês- com base nos dados do ONS. Esse percentual já é maior que o da usina de Itaipu, de onde veio 14% da energia consumida. Com a falta de linhas de transmissão na região Nordeste, as eólicas estão contribuindo com menos de 1% para o sistema.

Devido à grande dependência nas usinas térmicas, a rede elétrica opera hoje com uma sobra de energia pequena, em torno de 300 MW, diz um executivo. "É muito pouco. Isso representa um terço só do que a Vale consome. Essa reserva no sistema teria de ser 10 vezes maior", afirma.

Para esta semana, o ONS informou que prevê o despacho de 16 mil MW de energia térmica. O operador optou por ligar usinas que custam até R$ 1.777 por MWh na região Sudeste, valor superior ao que havia sido estabelecido para a semana anterior, de R$ 1.691 por MWh. Por esse preço, já seria melhor que o país cortasse o consumo de energia, afirma uma fonte.

PALAVRAS, PALAVRAS - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 17/02

O deputado federal Luis Carlos Heinze (PP-RS) entrou na mira do Conselho Nacional de Combate à Discriminação e Promoção dos Direitos LGBT, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência. O órgão vai pedir a cassação de seu mandato por ele ter dito que índios, gays e lésbicas são "tudo o que não presta".

QUESTÃO DE RESPEITO
O protocolo será apresentado nesta semana na Câmara dos Deputados. No documento, o colegiado repudia as "declarações fascistas" e pede providências da Comissão de Ética. O parlamentar diz que não teve a intenção de "desrespeitar qualquer ser humano".

PÚBLICO CERTO
A equipe da pré-campanha presidencial de Eduardo Campos (PSB-PE) está fazendo pesquisa para saber, entre outras coisas, o impacto da presença de Marina Silva como vice em sua chapa. O foco são jovens da classe C, considerados influentes num estrato em que o PT estaria desgastado. Os grupos pesquisados são de SP.

ALTURAS
Embora a pesquisa seja qualitativa, a conclusão é a de que Campos, sozinho, tem hoje cerca de 2% das preferências nesta faixa de eleitores; com Marina, ele salta para o patamar dos 30%.

É ELA
É consenso entre especialistas em campanhas que Marina é holofote poderoso para iluminar a candidatura de Campos, que terá pouco tempo de TV para se fazer conhecido do eleitorado.

TOTAL
Dos 16,6 milhões de veículos em circulação no Estado de SP, cerca de 25% estão quites com o IPVA.

O pagamento à vista, em janeiro, mais a primeira parcela dos que decidiram distribuir o desembolso ao longo do ano, rendeu aos cofres do governo cerca de R$ 5,24 bilhões. No ano passado, foram arrecadados R$ 4,9 bilhões no mesmo período.

SANTA, EU?
Estrela de campanhas internacionais, a americana Gigi Hadid, 18, veio ao Brasil, convidada pelo stylist Luis Fiod, para fazer a campanha de uma grife feminina; em meio a imagens sacras, ela posou de santa

CUIDADO, TINTA FRESCA
O artista Sergio Lucena recebeu amigos e galeristas em seu ateliê, na Pompeia, para apresentar sua nova pintura, chamada "O Lugar da Memória". A coordenadora de intercâmbio do Masp, Eugênia Gorini Esmeraldo, foi uma das convidadas do artista, além do galerista Renato De Cara e do dramaturgo Bernardo Fonseca Machado. Michel Serebrinsky e Ester Krivkin, da Brazil ArtFair, também estiveram no evento.

DANO PSICOLÓGICO
Uma cliente da Unimed ganhou ação por dano moral pela recusa do plano de saúde em pagar por uma prótese de quadril. A ministra Nancy Andrighi, do STJ (Superior Tribunal de Justiça), reconheceu que a não cobertura "agrava a situação de aflição psicológica e de angústia" de quem "já se encontra com a saúde debilitada". O plano arcará com despesas e mais R$ 8.000.

CASAL
Lázaro Ramos e Taís Araújo voltarão a atuar juntos no teatro em 2015. "O Topo da Montanha", da dramaturga Katori Hall, sobre a última noite de Martin Luther King, ficará em cartaz no teatro Faap por três meses.

RADIAÇÃO
O PSDB de SP entrou com ação na Justiça contra Alexandre Padilha (PT-SP) para suspender portaria do Ministério da Saúde que mudou a regra de remuneração de mamografias pelo SUS quando o pré-candidato petista a governador ainda era ministro. Alega que a medida impede a realização do exame por mulheres abaixo de 50 anos, que agora dependem de recomendação médica para fazê-lo. O CFM (Conselho Federal de Medicina) também foi à Justiça contra a portaria.

TUDO CERTO
"O que fizemos foi incentivar a mamografia dos 50 aos 69 anos, seguindo a OMS [Organização Mundial da Saúde], estudos respeitados e protocolos de países da Europa. O serviço está assegurado a todas", afirma Helvécio Magalhães, secretário de Atenção à Saúde. Para ele, é "esquisito" um partido fazer o questionamento. "Mas na democracia cabe tudo. Estamos seguros."

CURTO-CIRCUITO
Bruna Marquezine, Vanessa Giácomo e Danielle Winits foram confirmadas no Camarote Brahma em Salvador, no Carnaval.

Paulo Henriques Brito participa do Poesia de Segunda, hoje, no Clube das Artes, em Higienópolis.

O Movimento por um Futebol Melhor comemora seu primeiro ano, hoje, no MuBE. Galvão Bueno será um dos apresentadores.

A Mares, nos Jardins, recebe convidados na quarta, das 10h às 20h, para lançar a coleção inverno.

Dilma e o Papa - ANCELMO GOIS


O GLOBO - 17/02

Dilma aproveita a ida ao Vaticano no sábado, na cerimônia de D. Orani Tempesta, para ter uma audiência com Francisco.

Réveillon da Heloísa
A pesquisadora Heloísa Buarque de Hollanda lança em abril, por conta dos 50 anos do golpe militar, “Cultura em transe: Brasil anos 60”, em formato de aplicativo.
Ele traz 50 entrevistas de protagonistas da época, como Helio Oiticica, Gilberto Gil e Cacá Diegues, além do vídeo do incêndio da UNE.

Um pouco de História...
Aliás, Heloísa é um dos principais personagens do livro “1968: o ano que não terminou”, de Zuenir Ventura, que trata do conturbado ano que culminou com o AI-5.
No réveillon de 1968, ela fez uma festa que marcou época.

Dilema na PM
O grupo Pela Vidda recorreu ao Conselho Superior do MP, em sua luta contra o edital da PM do Rio que obriga os candidatos a passarem por testes de Aids.
A questão é que uma lei estadual determina a aposentadoria do servidor militar que contrair Aids.

Crise conjugal
Desabafo de Francesco Fallica, investigador italiano do caso Henrique Pizzolato, condenado no mensalão: “Os brasileiros estão minando o meu casamento.”
É que na sexta, Dia dos Namorados na Itália, ele avisou à mulher que se reuniria com procuradores brasileiros. Mas madame não acreditou.

Eu sou virginiano
Uma das perguntas para se inscrever no curso de atores de Wolf Maia é “qual é o seu signo?”.

O motivo é... não sei. Malcolm X
O diretor americano Spike Lee vai gravar na Mangueira, no Rio, no próximo sábado.
É para o documentário “Go Brazil Go”, um retrato do país a partir da questão racial feito através de depoimentos de artistas, atletas e líderes de diversos setores.

Primeiro negro...
O diretor de “Malcolm X” já entrevistou para o filme umas 30 personalidades, entre as quais Lázaro Ramos, o primeiro protagonista negro de uma novela brasileira.

Que Copa, hein?
De acordo com o site marroquino Policymic, Shakira, a badalada cantora colombiana que namora o jogador espanhol Gerard Piqué, desistiu de cantar na cerimônia de abertura da Copa do Mundo.
Ela teria desistido em solidariedade ao cantor palestino Mohammad Assaf, que foi convidado e depois dispensado de se apresentar na cerimônia.
Segundo o site, o governo de Israel acusa Assaf de cantar músicas que incitam os palestinos a odiarem os judeus.

Beiço
Tem empresa fornecedora ligada ao Comperj, em Itaboraí (RJ), atrasando pagamento aos comerciantes locais.
O Consórcio Jaragua/Egesa, por exemplo, é acusado de dar calote de R$ 600 mil num posto de bandeira BR.

Já...
A Petrobras, por seu lado, garante que não há atrasos no pagamento das empresas que constroem a refinaria.

Diminuindo a fila
O Flamengo já desembolsou, este ano, cerca de R$ 700 mil para quitar dívidas trabalhistas. Em 2013, o clube negociou o fim de 60 ações na Justiça.
Gastou cerca de R$ 1,7 milhão.

Boletim médico
O médico Luiz Roberto Londres teve um enfarte sábado. Está internado na Clínica São Vicente, na Gávea, da qual é diretor.

Chama a polícia
Cerca de 15 pessoas fumavam crack ontem, por volta das 9h, no calçadão de Ipanema, perto da Rua Teixeira de Melo. Um amigo da coluna procurou um policial para fazer a denúncia.
Mas não encontrou nenhum entre o Arpoador e o início do Leblon.

Rio na moda
O jornal inglês “The Telegraph” criou um aplicativo na sua editoria de viagens para dar dicas sobre o Rio.
E, olha que luxo, a Louis Vuitton vai lançar em 2015 um livro de viagens dedicado à Cidade Maravilhosa.

Applemaníaca
Entre a turma que foi à inauguração da Apple, na Barra, no sábado, estava uma senhorinha que, conectada na internet, mostrava para o filho, nos EUA, todos os detalhes.
Ela ficou, acredite, duas horas na fila. Parece exagero. E é.

Meia volta, volver - VERA MAGALHÃES - PAINEL


FOLHA DE SP - 17/02

Emissários do Planalto pressionam o governador Agnelo Queiroz (PT) a recuar de sua promessa de reajuste dos benefícios pagos à Polícia Militar do Distrito Federal. Segundo interlocutores, o governo federal teme que a proposta incentive as corporações das outras unidades da federação a conseguirem emparedar seus governadores em busca de aumento, além de servir de pretexto para retomar a discussão da PEC 300, que fixa piso salarial para os policiais, em pleno ano eleitoral.

Jogral 1 Atuando em conjunto na reunião que a Rede Globo promoveu para discutir as regras da cobertura eleitoral, os representantes de Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) se queixaram da discrepância de tratamento dado a Dilma Rousseff e aos demais pré-candidatos.

Jogral 2 Como a cobertura equitativa só começará a partir de julho, tucanos e pessebistas se queixam que a petista leva vantagem, pois recebe cobertura nacional e regional dos eventos que faz como presidente. A Globo ficou de submeter o questionamento ao conselho editorial.

Tamo... Aécio discutiu na semana passada com o governador Sérgio Cabral e o prefeito do Rio, Eduardo Paes, o cenário eleitoral no estado. Depois, o tucano conversou com o presidente estadual do PMDB, Jorge Picciani.

...junto? O peemedebista disse ao senador que dará um prazo ao PT para que a legenda retire a candidatura própria à sucessão de Cabral. Na sequência, submeterá o apoio ao presidenciável à Executiva da legenda.

Nem aí Filho de Roberto Requião (PMDB-PR), Maurício criticou recentemente Gleisi Hoffmann (PT-PR) em artigo. Ao encontrar Requião no plenário do Senado na semana passada, ela cantarolou música de Chico Buarque, mas fez um trocadilho: "Seu filho não gosta de mim, mas sei que você gosta".

Maria... Novo comercial do PT que vai ao ar a partir de hoje usa a metáfora de que São Paulo é a "locomotiva do Brasil" para fustigar os governos do PSDB no Estado e introduzir, de forma indireta, a discussão sobre problemas na área de trens e metrô. O tema também será explorado no programa do partido, que irá ao ar no mês de abril.

... fumaça No filme, o pré-candidato petista ao governo, Alexandre Padilha, diz que a "locomotiva está andando devagar", e conclui que "São Paulo pode e precisa andar mais rápido".

Lé com cré Estrategistas da campanha do ex-ministro do PT vão associar os problemas do dia a dia de usuários do metrô e a discrepância entre a promessa de novas linhas e expansão da rede e o que foi entregue à acusação de cartel no setor, considerada de difícil compreensão.

Ruído O QG de Alckmin detectou que, a despeito de o assunto ainda não ter abalado a imagem do governador, pesquisas qualitativas já mostram um incômodo em parcela dos simpatizantes do tucano com as denúncias e a cobrança por explicações.

Torneira O governo paulista enfrentou na semana passada pressão do setor técnico, vinda principalmente da ANA, para que fosse desenhado um plano de racionamento de água. A ordem no Palácio dos Bandeirantes é que ainda é cedo para se discutir esse assunto.

É a política Um ex-membro do governo federal que atuou na área diz que o anúncio do racionamento seria importante para manifestar urgência e reforçar o pedido de apoio da agência nacional de águas, embora não seja "condição sine qua non" para que um Estado peça ajuda.

Tiroteio
Vai ser divertido ver Joaquim Barbosa correndo atrás de um partido de mentirinha se quiser ser candidato após deixar o STF.

DO VICE-PRESIDENTE DA CÂMARA, ANDRÉ VARGAS (PT-PR), sobre as especulações de que o presidente da corte queira entrar para a política.

Contraponto


Há vagas
Na última terça-feira, a presidente Dilma Rousseff esteve em Lucas do Rio Verde (MT) acompanhada por ministros e parlamentares, como a senadora Katia Abreu (PMDB-TO), para a abertura oficial da colheita da safra de grãos 2013/2014. Após dirigir uma máquina agrícola, durante o evento, a presidente brincou em uma reunião com microempresários:

-Agora, tenho uma outra profissão depois que deixar a presidência: vou dirigir trator!

Perto da conversa, Katia Abreu emendou rápido:

-Emprego na minha fazenda não vai faltar...

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 17/02

Usinas nucleares operam acima da capacidade
As usinas nucleares Angra 1 e 2, no litoral sul fluminense, produziram energia elétrica além da capacidade máxima nominal durante toda a semana passada.

Com isso, aumentaram sua participação no Sistema Interligado Nacional em período de forte consumo e queda severa no nível dos reservatórios das hidrelétricas do Sudeste e do Centro-Oeste, causada pela estiagem.

Na sexta-feira, Angra 1 e 2 produziram carga de 2.006 MW médios, ou 16 MW acima do limite de 1.990 MW médios, que vem sendo superado desde a primeira semana de fevereiro. O pico do ano ocorreu na terça-feira, com a geração de 2.021 MW.

A média de fornecimento em fevereiro tem sido de 1.997 MW médios, ante 1.964 MW em janeiro, mês em que o limite não foi superado em nenhum dia.

A capacidade nominal é o limite que a Eletronuclear informa ao ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) como contribuição máxima ao sistema, diariamente.

O número considera as condições de segurança dos equipamentos e a temperatura média do mar de Angra dos Reis, de 27ºC, cujas águas são utilizadas para resfriamento da usina.

Nos últimos dias, o mar apresentou temperaturas mais baixas, chegando a 21˚C de madrugada.

Por isso, foi possível ir além da capacidade nominal, fornecendo mais energia em um momento crítico em razão do elevado consumo e do nível dos reservatórios.

Maior geração de energia é segura, dizem especialistas
A geração de energia além da capacidade nominal não apresenta riscos, de acordo com especialistas.

"A temperatura menor da água do litoral permite que nosso gerador opere com um pouco mais de eficiência, entregando carga maior ao sistema", afirma Paulo Carneiro, assessor da presidência da Eletronuclear.

"Isso acontece sem que se mude a potência do reator, que, de forma alguma, pode rodar além da capacidade. Não há riscos nesta geração maior", diz.

No ano passado, houve oferta de carga além da capacidade das usinas nucleares em meados de junho, setembro e novembro.

Nos anos anteriores, não foi registrada superação do limite. Em média, o complexo fornece entre 1.500 MW e 1.800 MW médios ao sistema. Em maio do ano passado, a média foi de 734 MW.

Roberto Brandão, pesquisador da UFRJ, também não vê riscos para a segurança.

"Existe uma obsessão muito grande com segurança entre os técnicos que operam Angra 1 e 2. Se eles estão superando os limites, certamente não é de forma irresponsável", afirma.

SEGURO ESCOLHIDO
A corretora on-line de seguros EscolherSeguro recebeu um novo aporte de investidores no início deste ano.

Com o novo investimento, a companhia vai reforçar a equipe de colaboradores para suprir o aumento de demanda. Além disso, vai aprimorar seu site para torná-lo mais funcional.

A empresa já havia recebido um aporte em 2012 do fundo nacional de venture capital Warehouse Investimentos e se preparava para uma nova rodada de captação, conforme adiantado pela coluna.

O novo aporte, cujo valor não foi divulgado, mas girou em torno de R$ 3 milhões a R$ 5 milhões, foi feito por investidores pessoas físicas -pelos fundadores Pieter Lekkerkerk e Marco Kemp, além da Warehouse.

"Vamos melhorar o fluxo interno para que clientes sejam contatadas em até 30 minutos após a conclusão do formulário no site", afirma o sócio Lekkerkerk.

Para o empresário, com a freada no consumo e a queda no emplacamento de veículos, o crescimento do valor dos prêmios deverá sofrer uma leve retração em 2014.

"Mas, como a penetração das corretoras on-line ainda é baixa, acreditamos em uma expressiva expansão neste ano, conforme mais pessoas descobrirem a contratação de seguros pela internet", acrescenta Lekkerkerk.

Empresa de call center abrirá três unidades em 2014
A AeC, empresa de call center, investe na abertura de uma unidade em Petrolina (PE) e já planeja outros dois empreendimentos, no Maranhão e no Ceará, para 2014.

Com investimento de cerca de R$ 25 milhões, entre obras, tecnologia e treinamento, a nova operação será inaugurada em junho. De início, serão 1.300 posições de atendimento, mas a empresa prevê alcançar 3.000 empregos diretos em breve.

Cerca de 70% dos investimentos da companhia são feitos com recursos próprios.

A expansão no Nordeste reflete a estratégia de interiorização do setor.

"Buscamos cidades com cerca de 400 mil habitantes, ainda não exploradas pelo segmento, com mão de obra abundante, boa infraestrutura, com transporte para funcionários e ensino de qualidade", diz Alexandre Moreira, presidente da AeC.

"Todas as cidades que receberam nossos centros, além de boa mão de obra, tem aeroportos", afirma.

No grandes centros, já há escassez de mão de obra e dificuldade em encon trar profissionais com a qualificação e a motiovação vistos no Nordeste, segundo o executivo.

"Nosso emprego é, em geral, o primeiro nesses locais."

CONTA VENCIDA
O número de títulos protestados na cidade de São Paulo cresceu 17% em janeiro na comparação com o mesmo mês de 2013, segundo levantamento do Instituto de Estudos de Protesto de Títulos.

Na comparação com dezembro do ano passado, a alta foi de 44%. O aumento no volume de protestos é normal no primeiro mês do ano, de acordo com o instituto.

As duplicatas, que avançaram 60% entre dezembro e janeiro, representaram 76% do total de títulos.

O cancelamento de protestos também registrou expansão: passou de 17.757 em dezembro para 22.236 -elevação de 25%.

Sala... O Insper e a Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP firmaram uma parceria para promover o intercâmbio entre estudantes de graduação das duas instituições.

...de aula O acordo é de cinco anos. Serão, por semestre, cinco vagas em disciplinas optativas em cada escola.

Água... A cobertura de lojas da marca de purificadores de água da Unilever cresceu cinco vezes em 2013. A meta é crescer mais cinco até 2015.

...pura Uma pesquisa interna da empresa revelou que a penetração de purificadores no Brasil é de 14,6%. Para 64% dos usuários, o aparelho é o primeiro do domicílio.

Bagagem... A Swissport, companhia que presta serviços aeroportuários, está investindo na compra de novos equipamentos, como tratores elétricos e carretas, que são usados na movimentação de bagagens e aeronaves.

...aérea Os aparelhos serão empregados pela companhia no novo terminal do aeroporto de Guarulhos. A empresa também pretende substituir os veículos movidos a diesel, que hoje estão em uso. O aporte será de R$ 2,8 milhões.

Dinheiro seguro O grupo Protege, de segurança, diversificará a atuação com pequenas e médias empresas do Sul e do Sudeste. A companhia investirá R$ 16 milhões para ampliar o serviço de cofre inteligente, para controle de valores.

Aço A siderúrgica ArcelorMittal Tubarão obteve uma receita extra de US$ 9 milhões em 2013 com a venda do excedente de criogênicos (oxigênio, nitrogênio e argônio), que são produzidos e também consumidos pela companhia.

Por uma cabeça - VINICIUS MOTA

FOLHA DE SP - 17/02

SÃO PAULO - Para quem gosta de alimentar a competição entre brasileiros e argentinos, vai uma dica. Foi-se o tempo em que a renda per capita brasileira, medida em dólares, era uma pequena fração comparada à argentina.

Em 1983, quando o vizinho do sul saiu da ditadura, o PIB por habitante no Brasil não chegava a um terço do argentino. Três décadas depois, estamos a cinco pontos percentuais da igualdade. Por uma cabeça, como diz o tango de Carlos Gardel.

Se cotejamos o volume total das duas economias, o cavalo lusófono dispara na pista. Para cada US$ 100 produzidos no Brasil hoje, a Argentina faz apenas US$ 22 ""contra US$ 71 há 30 anos.

O desempenho do Brasil no período foi apenas razoável. Foi a Argentina que afundou, e as explicações sobre esse desastre nacional convergem para a política.

A redemocratização argentina passou ao largo da necessidade de regularizar, aprofundar e estabilizar as instituições de mercado. A moeda nacional foi rifada na gestão Menem (1989-1999), no plano para erradicar a inflação com dólares alheios.

O modelo ruiu quando os dólares globais buscaram abrigo nos EUA no final da década de 1990. Na Argentina, isso produziu uma das mais severas recessões de que há registro. A deterioração financeira logo se tornou catarse política, que derrubou o presidente Fernando de la Rúa em 2001.

O ciclo seguinte em nada inovou. Reascendeu a velha cepa populista argentina, que distribuiu fartos recursos públicos sob a forma de subsídios, controlou preços e afugentou investimentos.

Esse grupo gozou de conforto no poder enquanto durou a exuberante arrancada chinesa da primeira década do século 21.

A bonança chega ao fim sem que a Argentina tenha se modernizado. O peso afunda em descrédito, e a crise financeira está perto, a uma cabeça, de desaguar em convulsão política.

Estatais perdem a energia - ADRIANO PIRES

O GLOBO - 17/02

Situação da Eletrobras e da Petrobras precisa ser discutida com muita seriedade e serenidade na campanha eleitoral



Um tema que merece ser discutido, com muita seriedade e serenidade, neste ano de eleições, é a atual situação das duas principais estatais brasileiras, a Petrobras e a Eletrobras. Nos últimos anos, as duas estatais têm sido vítimas de uma política equivocada e, por que não dizer, irresponsável, que levou a uma descapitalização das empresas, comprometendo investimentos futuros e o papel que irão desempenhar daqui para a frente na economia brasileira.

Os números são assustadores. No caso da Petrobras, temos uma empresa com endividamento crescente, com problemas de caixa devido ao controle dos preços da gasolina e do diesel e com a produção estagnada, apesar do pré-sal. Em 2013 a produção de petróleo da Petrobras foi 2,5% inferior à de 2012, que já havia sido 2,1% menor em relação a 2011. A dívida da Petrobras, que era de R$ 94 bilhões em 2009 e foi reduzida para algo em torno de R$ 56 bilhões em 2010, devido ao processo de capitalização, chegou a mais de R$ 200 bilhões no fim de 2013.

O que assusta e chama a atenção é que, apesar de a dívida ter multiplicado por quatro, a produção de petróleo não cresceu nos últimos três anos, até caiu. Ao insistir no controle dos preços da gasolina e do diesel, o governo provocou uma perda de mais de R$ 50 bilhões no caixa da empresa. O que é quase inacreditável é que esses péssimos resultados tenham ocorrido num contexto de barril de petróleo a mais de US$ 100, com o mercado de derivados crescendo a taxas muito superiores ao PIB, com a empresa agregando grandes reservas de petróleo e gás, devido a descoberta do pré-sal, e sendo monopolista na venda de derivados no mercado interno.

No caso da Eletrobras, as coisas não são diferentes e até podemos dizer que a situação da empresa é pior. No resultado de 2012, a Eletrobras apresentou prejuízo de R$ 6,8 bilhões, sendo que no quarto trimestre o prejuízo atingiu a cifra de R$ 10,5 bilhões. É bom lembrar que, em 2011, a estatal obteve um lucro de R$ 3,7 bilhões. Em 2013, a Eletrobras continuou com resultados negativos. No terceiro trimestre de 2013 houve um prejuízo líquido de R$ 915 milhões, 191% menor do que o lucro líquido de R$ 1,003 milhão do terceiro trimestre de 2012. Entre janeiro e setembro de 2013, o prejuízo líquido da Eletrobras foi de R$ 787 milhões, uma redução de 122% com relação ao lucro líquido de R$ 3,62 milhões do mesmo período de 2012.

A origem principal desses péssimos resultados foi a publicação em setembro de 2012 da MP nº 579/2012. Esse evento acabou ficando conhecido como o 11 de setembro do setor elétrico. A MP 579, que foi elaborada de maneira autoritária sem qualquer discussão com as empresas e com os demais agentes do setor e que depois foi transformada em lei em janeiro de 2013, atrelou a renovação das concessões a uma redução das tarifas, com o objetivo de aumentar a popularidade da presidente e controlar a inflação. As empresas estaduais como a Cemig, a Cesp e a Copel que não aderiram à MP encontram-se hoje capitalizadas, ao contrário das federais.

Diante desse cenário é fundamental que se aproveite o período eleitoral para se mostrar à sociedade brasileira, sem viés ideológico, a real situação das suas duas principais estatais. Não se trata de discutir privatizações, e sim de se criar politicas que conduzam as duas estatais de volta a um caminho de excelência, perseguindo a eficiência, o lucro, e com isso se olhe mais o interesse do acionista e menos os dos políticos de plantão, que quase destruíram dois dos principais patrimônios do povo brasileiro.

Crônica de uma morte anunciada - JOSÉ GOLDEMBERG

O Estado de S.Paulo - 17/02

O que está acontecendo com o sistema que produz eletricidade no Brasil lembra bem o maravilhoso romance de Gabriel García Márquez que conta a história de um assassinato premeditado. Acusado por Angela Vicario de tê-la desonrado, o jovem Santiago Nasar é morto a facadas pelos irmãos dela. Toda a localidade fica sabendo com antecedência da vingança premeditada, mas nada salva Santiago do seu trágico destino, anunciado logo na primeira linha do romance.

Mais de 80% da energia elétrica gerada no Brasil se origina em usinas hidrelétricas, nas quais a força das águas movimenta as máquinas que produzem a eletricidade. Elas dependem, portanto, de chuvas regulares e de reservatórios que acumulem a água para ser usada nos meses (ou anos) em que chove menos.

Reservatórios, às vezes, inundam terras férteis ou áreas cobertas com florestas. É preciso que as empresas que constroem as hidrelétricas reassentem a população afetada - alguns milhares de pessoas em geral - e reduzam ao mínimo os impactos ambientais decorrentes da formação dos reservatórios. Há muitos casos em que isso foi feito com sucesso, como em Itaipu. Em outros, como Balbina, os cuidados devidos não foram tomados em tempo.

Sucede que desde 1985, nas usinas hidrelétricas construídas no País, os reservatórios de água foram negligenciados, tornando-se cada vez menores. A razão para tal foi a falta de visão e coragem de sucessivos governos para enfrentar os problemas tanto sociais como ambientais, que não eram considerados prioritários.

Os inconvenientes decorrentes da formação de reservatórios são, de modo geral, compensados pelas vantagens de dispor de eletricidade a milhares de quilômetros de distância do local onde as usinas hidrelétricas estão localizadas, atendendo às necessidades de milhões de habitantes nas grandes cidades.

Há aqui a necessidade de comparar custos e benefícios e como tratar os problemas dos que são prejudicados com as vantagens dos que são beneficiados. Essa é a função do poder público.

A gravidade do problema de negligenciar a formação de reservatórios ficou evidente em 2001, quando chuvas mais fracas quase levaram ao racionamento de energia elétrica, fato amplamente explorado nas eleições de 2002, que levaram o então candidato a presidente Lula e o PT ao poder. Daí a analogia com o romance de Gabriel García Márquez: o mesmo problema poderia voltar a ocorrer - como se fosse uma morte anunciada - se não fossem tomadas medidas adequadas. Os ministros de Energia de Fernando Henrique Cardoso poderiam alegar ignorância, mas não os de Lula e Dilma Rousseff.

No governo Lula o problema dos reservatórios não foi enfrentado - como, de modo geral, todos os problemas de infraestrutura do País - e a solução adotada a partir de 2001 foi gerar eletricidade com gás natural para complementar a geração das usinas hidrelétricas em períodos secos. Essa é uma solução transitória e muito cara, como sabem muito bem os técnicos do setor, por causa do elevadíssimo custo do gás natural no Brasil, razão pela qual usinas a gás podem ser usadas emergencialmente, mas não o tempo todo.

Para piorar a situação, o atual governo tomou em 2012 uma medida claramente demagógica, por meio da Medida Provisória (MP) 579: a de reduzir o custo da contra de luz em 20%. Essa medida foi apresentada como uma espécie de "bolsa eletricidade" para ajudar os mais pobres, mas beneficiou também amplamente os grandes consumidores de energia elétrica no setor eletrointensivo da indústria.

Nesse processo as empresas geradoras de eletricidade - na maioria estatais, uma vez que a privatização promovida pelo governo Fernando Henrique se restringiu basicamente às distribuidoras - foram levadas quase à bancarrota e perderam a capacidade de fazer novos investimentos. Além disso, a confiança dos possíveis novos investidores foi seriamente abalada pelas mudanças regulatórias intempestivas.

O resultado não poderia ser outro, como foi o assassinato de Santiago Nasar amplamente anunciado com antecedência. Bastou chover menos em 2014 para vivermos sob ameaça de racionamento, que exigiu o acionamento de todas as usinas geradoras a gás natural, o que elevou o custo da eletricidade a cerca de quatro vezes o seu custo usual. Até o ano passado o Tesouro pagou a diferença, isto é, todos os brasileiros - mesmo os que não consomem eletricidade - pagaram por ela. Os custos já são de dezenas de bilhões de reais e se não houver novo socorro do governo às distribuidoras as contas de luz poderão subir 20% em 2014, anulando os efeitos da MP 579.

É cedo ainda para dizer se chegaremos a um racionamento de energia elétrica. Mas é evidente que a situação atual não pode continuar.

Há muitos anos se costumavam chamar as ações das empresas de eletricidade do País de "ações das viúvas". Isso porque, apesar de renderem pouco, eram seguras, dando às "viúvas" a estabilidade financeira de que necessitavam. Essa confiabilidade foi destruída com as medidas atabalhoadas tomadas pelo governo em 2012, ao reduzir as tarifas em troca da antecipação da renovação das concessões.

Não são manobras eleitoreiras de curto prazo que vão resolver o problema. A atuação do Ministério de Minas e Energia precisa de uma reavaliação: é necessário um planejamento de longo prazo que devolva segurança aos investidores.

Se não houver racionamento de eletricidade em 2014, haverá ainda algum tempo para a tomada de decisões estruturais corajosas a fim de reorganizar o setor elétrico. Com isso se poderia adiar a "morte anunciada" que é o racionamento, o qual acabará por desorganizar ainda mais o já desorganizado setor de energia do País.

Populismo energético - VALDO CRUZ

FOLHA DE SP - 17/02

BRASÍLIA - O governo rezou, o tão esperado fim de semana de chuvas chegou e a guerra política em torno do racionamento de energia deve ter uma trégua. Os problemas do setor, contudo, continuarão. E podem continuar minando a imagem da presidente Dilma no ano da eleição.

Racionamento sempre foi muito improvável, para não dizer fora do cenário. O mesmo não dá para dizer de novos apagões, como em Alagoas no sábado. Afinal, o sistema elétrico vive um momento de forte estresse, provocado pelos raios intervencionistas do governo petista.

Dilma e sua equipe reclamam da exploração política que a oposição faz do tema, mas foram os petistas que transformaram energia elétrica em arma eleitoral. Primeiro, ao bater pesado, com toda razão, no racionamento tucano de 2001.

Depois, ao lançar, com tons de campanha, o programa de redução de tarifas em 2012. Virou prisioneiro de seu discurso e vai se enrolando em fios desencapados para manter a hoje falsa sensação de queda no custo da energia elétrica.

O programa, é bom reconhecer, teve seus méritos. Mas seus efeitos foram temporários e seu alcance, restrito. Não beneficiou boa parte da indústria --aquela que deveria ser o alvo principal do programa.

Hoje, por causa da natureza e dos erros do governo, o custo da energia só faz subir. Para manter a bandeira eleitoral, o Palácio do Planalto espeta a conta no Tesouro e retarda o repasse do gasto extra aos consumidores. Um equívoco fiscal.

Esta é mais uma conta que será cobrada num futuro próximo. Assim como a da gasolina, das tarifas de transporte público. É o governo definindo artificialmente preços da economia em nome da reeleição.

Por último, a crise hídrica deste ano recomendava ao governo lançar um programa de racionalização no uso da energia. Não o fez. Segundo um assessor, para evitar que a oposição soltasse o grito alarmista de "vem aí um racionamento".

Um Brasil desregulado - RAFAEL VÉRAS DE FREITAS

O GLOBO - 17/02

Agências reguladoras viraram braços dos ministérios aos quais se encontram vinculadas



Não é de hoje que o modelo regulatório brasileiro vem sendo desvirtuado. Já em 2003, o então presidente Lula considerou abusivo o reajuste das tarifas de telefonia fixa e recomendou ao Ministro das Comunicações que determinasse à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) a sua redução.

De lá para cá, o modelo de Estado Regulador, implementado no país por conta do processo de desestatização da década de 1990, vem sofrendo duros golpes em um de seus principais alicerces: a independência das agências reguladoras. Esse modelo, que tinha como pilar o equilíbrio entre os interesses do estado, do governo, dos concessionários e dos usuários de serviços de públicos, vem sendo, gradativamente, deteriorado pelos interesses do jogo político de ocasião.

As agências reguladoras não têm mais nada de independentes. Elas foram transformadas em braços dos respectivos ministérios aos quais se encontram vinculadas ou em entidades administrativas auxiliares de empresas estatais criadas pelo governo, com a justificativa de que atenderiam a um “relevante interesse coletivo”.

A Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), por exemplo, com a edição do novo marco regulatório do setor portuário, perdeu algumas de suas competências técnicas para Secretariaria Especial de Portos (SEP). A Anac, especialmente após o acidente de Congonhas, viu inúmeras atribuições serem transferidas, para a Secretaria de Aviação Civil (SAC). A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), por sua vez, teve algumas de suas competências repartidas com a Empresa de Planejamento Energético (EPE). A Agência Naciolnal do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), da mesma forma, perdeu diversas de suas competências para a estatal criada para explorar o pré-sal. A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) perdeu para a Empresa de Planejamento e Logística (EPL).

Se não bastassem todas essas competências que foram suprimidas das agências reguladoras federais, a ingerência nessas entidades também pode ser observada pelas constantes nomeações político-partidárias — e não técnicas — de seus dirigentes; pela ausência de nomeação de seus dirigentes, impedindo o seu funcionamento; pelo frequente contingenciamento de recursos, como os do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust), pelo Ministério das Comunicações; e pela submissão de suas decisões finais aos respectivos ministérios, admitida após o Parecer Normativo nº 51, da Advocacia-Geral da União.

Por trás dessas manobras institucionais, está o objetivo de que prevaleça a vontade política em detrimento das decisões técnicas das agências reguladoras. Trata-se de postura governamental que contribui, sobremaneira, para o incremento dos “riscos regulatórios” e para a manutenção dos gargalos de infraestrutura do país.

O macabro baile dos mascarados - PAULO BROSSARD

ZERO HORA - 17/02
Tudo começou com manifestações que se distinguiram pela circunstância de apresentarem-se com máscara os manifestantes, o que impedia a identificação desses. Os mascarados permitiram-se a prática de atos ilícitos com danos materiais e morais, consistentes na depredação de prédios públicos, vitrines de estabelecimentos comerciais e bancários. Esta conduta se repetiu algumas vezes, e nenhuma vez nenhuma autoridade tomou nenhuma providência. Tinha-se a impressão de que a autoridade ou entendia que em uma manifestação em termos civilizados se continha a prerrogativa de destruir bens privados ou públicos, ou tinha medo de cumprir a lei, se é que lei alguma permite que alguém, a seu arbítrio, possa lesar gratuitamente o próximo.
A omissão oficial obviamente passou a servir de estímulo para os abusos aumentarem. Não era costume, até então, destruir ônibus, mediante o incêndio deles, mas o expediente macabro era curioso, uma vez que inédito, e a destruição desses bens se tornou mais ou menos habitual, porque também ela constituía uma novidade. Só na cidade de São Paulo mais de 30 ônibus foram consumidos pelo fogo, em questão de dias. Depois, era fácil iniciar a operação, bastando quebrar um vidro e jogar um coquetel molotov, para que o objeto ficasse reduzido a um esqueleto de máquina. A partir daí o quebra-quebra estava institucionalizado, seja pela passividade da custódia inerente ao poder público, revogada por omissão culposa, seja por ordem superior, como ocorreu aqui entre nós.

Pode-se dizer que a lassidão, a indiferença e a covardia passaram a ocupar o lugar reservado à fidelidade à lei, ao dever funcional e ao senso de responsabilidade. Era natural que os desvios do poder permitidos às escâncaras não parassem aí, era evidente que eles seriam agravados, só um tolo podia imaginar que a desordem ficasse satisfeita com os males causados. O que era inevitável ocorrer aconteceu.

Com efeito, em manifestação pacificamente iniciada na altura da Central do Brasil, no Rio, os mesmos mascarados começaram a fazer o que deles é habitual, duas pessoas conduziam sucessivamente um foguete e, a certa altura, foi ele aceso e jogado ao chão e em pleno movimento veio a atingir um profissional, cinegrafista da Bandeirantes, Santiago Ilídio Andrade; atingido na cabeça, foi levado ao Hospital Souza Aguiar e submetido a demorada intervenção; chegou em estado grave e assim continuou até a morte.

A reação social foi imensa e houve quem imaginasse que o fato poderia servir para afastar os excessos rotineiros, mas dois fatos ocorreram de imediato, que me deixaram cético; o primeiro deles ocorrido no Rio de Janeiro, na Avenida Presidente Vargas, na altura da Central do Brasil; como de estilo, os encapuzados iniciaram depredação da qual não ficaram imunes prédios e não faltaram feridos no quebra-quebra; o outro, manifestação realizada em Brasília, maior e mais expressiva, estimada em 15 mil pessoas, vestidas uniformemente, obviamente originários de vários Estados e que, depois de comprometer o trânsito local, tentaram ingressar no Planalto; diante da resistência, reagiram, resultando feridos, sendo dois em estado grave. Essa movimentação não se faz sem recursos abundantes. Fato que está a mostrar que há mais coisas no ar do que os aviões de carreira.

Este quadro esboçado, breve e superficialmente, está a indicar a natureza e gravidade das organizações que a esta altura dão fisionomia a um conflito que, talvez, a senhora presidente, no seu afã eleitoral, não tenha medido.

Antes que esqueça, assoalha-se até pela imprensa que os mascarados receberiam R$ 150 diários para melar as manifestações. Verdade? Fabulação?

O neoescravagismo cubano - IVES GANDRA DA SILVA MARTINS

FOLHA DE SP - 17/02

O governo federal não poderia aceitar a escravidão dos médicos cubanos que recebem 10% do que ganham os demais estrangeiros


A Constituição Federal consagra, no artigo 7º, inciso XXX, entre os direitos dos trabalhadores: "XXX "" proibição de diferença de salários, de exercício de função e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil".

O governo federal oferece para todos os médicos estrangeiros "não cubanos" que aderiram ao programa Mais Médicos um pagamento mensal de R$ 10 mil. Em relação aos cubanos, todavia, os R$ 10 mil são pagos ao governo da ilha, que os contratou por meio de sociedade intitulada Mercantil Cubana Comercializadora de Serviços Médicos Cubanos S/A. Pela cláusula 2.1 "j" desse contrato, receberia cada profissional no Brasil, apenas 400 dólares por mês, depositando-se em Cuba outros 600 dólares.

Em face da cláusula 2.1 "n", deve o profissional cubano guardar estrita confidencialidade "sobre informações não públicas que lhe sejam dadas". Pela cláusula 2.2 "e", deve abster-se de "prestar serviços e realizar outras atividades diferentes daquelas para que foi indicado", a não ser que autorizado pela "máxima direção da missão cubana no Brasil". Não poderá, por outro lado, "em nenhuma situação, receber, por prestação de serviços ou realização de alguma atividade, remuneração diferente da que está no contrato".

Há menção de vinculação do profissional cubano a um regulamento disciplinar (resolução nº 168) de trabalhadores cubanos no exterior, "cujo conhecimento" só o terá quando da "preparação prévia de sua saída para o exterior". Na letra 2.2 "j", lê-se que o casamento com um não cubano estará sujeito à legislação cubana, a não ser que haja "autorização prévia por escrito" da referida máxima direção cubana.

Pela letra 2.2 "q", só poderá receber visitas de amigos ou familiares no Brasil, mediante "comunicação prévia à Direção da Brigada Médica Cubana" aqui sediada. Pela letra "r", deverão manter "estrita confidencialidade" sobre qualquer informação que receba em Cuba ou no Brasil até "um ano depois do término" de suas atividades em nosso país.

Por fim, para não me alongar mais, pela cláusula 3.5, o profissional será punido se abandonar o trabalho, segundo "a legislação vigente na República de Cuba".

A leitura do contrato demonstra nitidamente que consagra a escravidão laboral, não admitida no Brasil. Fere os seguintes artigos da Constituição brasileira: 1º incisos III (dignidade da pessoa humana) e IV (valores sociais do trabalho); o inciso IV do art. 3º (eliminar qualquer tipo de discriminação); o art. 4º inciso II (prevalência de direitos humanos); o art. 5º inciso I (princípio da igualdade) e inciso III (submissão a tratamento degradante), inciso X (direito à privacidade e honra), inciso XIII (liberdade de exercício de qualquer trabalho), inciso XV (livre locomoção no território nacional), inciso XLI (punição de qualquer discriminação atentatório dos direitos e liberdades fundamentais), art. 7º inciso XXXIV (igualdade de direitos entre trabalhadores com vínculo laboral ou avulso) e muitos outros que não cabe aqui enunciar, à falta de espaço.

O governo federal, que diz defender os trabalhadores --o partido no poder tem esse título--, não poderia aceitar a escravidão dos médicos cubanos contratados, que recebem no Brasil 10% do que recebem os demais médicos estrangeiros!!!

Não se compreende como as autoridades brasileiras tenham concordado com tal iníquo regime de escravidão e de proibições, em que o Direito cubano vale --em matéria que nos é tão cara (dignidade humana)--, mais do que as leis brasileiras!

A fuga de uma médica cubana --e há outros que estão fazendo o mesmo-- desventrou uma realidade, ou seja, que o Mais Médicos esconde a mais dramática violação de direitos humanos de trabalhadores de que se tem notícia, praticada, infelizmente, em território nacional. Que o Ministério Público do Trabalho tome as medidas necessárias para que esses médicos deixem de estar sujeitos a tal degradante tratamento.

Dilma e Sininho - RICARDO NOBLAT

O GLOBO - 17/02

"É inaceitável que um jornalista seja tolhido ou ameaçado no exercício da sua profissão"
JOSÉ EDUARDO CARDOZO, Ministro da Justiça 
O que há de comum entre Dilma Rousseff e Elisa Quadros, de apelido Sininho? Antes de responder à pergunta, apresento-lhes Sininho. Gaúcha de 28 anos de idade, estudante de Cinema, no momento desempregada, ela mora no Rio de Janeiro e é ligada aos black blocs - aqueles sujeitos mascarados que se metem em passeatas legítimas e pacíficas para destruir o que encontram pela frente. Por que agem assim?

BEM, UMA COISA de cada vez. O alvo dos black blocs são os símbolos do capitalismo - agências de bancos, por exemplo, lanchonetes do tipo McDonald's e vitrines de lojas. Sininho faz o meio de campo entre os black blocs e pessoas de extrema-esquerda que pensam como os black blocs. Se não pensam, os querem como aliados. Na semana passada, Sininho atraiu todos os holofotes.

UM CINEGRAFISTA morreu no Rio atingido por um rojão. Quem disparou o rojão foi um black bloc. Sininho arranjou um advogado para defender o black bloc. E assim virou o objeto de desejo dos jornalistas.

Repito: o que há de comum entre Dilma Rousseff e Sininho? A política. As duas são políticas.

E as duas admitem o uso da violência para alcançar objetivos políticos. (Devagar. Não tirem conclusões apressadas.) 

DILMA PRECISOU usar violência para ajudar a derrubar a ditadura militar de março de 1964, que durou 21 anos. Sininho usa a violência para derrubar...

Nem ela mesma sabe direito o quê. O ideal é que as ditaduras caíssem sem o emprego da violência.

Mas o emprego da violência justifica-se, sim, para derrubar uma ditadura. É o que penso. Vocês podem pensar diferente. Por sinal, essa é uma das vantagens da democracia.

DE ESQUERDA ou de direita, ditadura usa a violência contra o povo. Enquanto existe uma ditadura, você só dirá sem medo o que pensa se você pensar como ela.

Se pensar diferente, poderá ser preso, torturado e morto.

Dilma está aí vivinha, mas foi presa e torturada.

SUPONHO QUE Sininho e sua turma desejam ferir gravemente o regime democrático sob o qual vivemos.

O regime democrático é imperfeito e sempre será. Mas é o melhor dos regimes. Na democracia, posso dizer o que penso porque jamais serei preso e torturado por pensar assim ou assado.

É CRIME usar a violência para que o regime democrático ceda lugar a outro. Sininho sabe disso. Mas parece não se importar. Ganhou seus cinco minutos de fama. Quem não gostaria de virar celebridade? Pois é... Dilma não lutou contra a ditadura em troca de cinco minutos de fama. Não havia isso naquela época.

HÁ OS QUE acham que Dilma lutou contra a ditadura para pôr no lugar outra ditadura de acordo com suas ideias, e não uma democracia de verdade. O que eu acho disso? Até pode ser que sim. Mas Dilma acabou chegando ao poder por meio do voto livre, que é a base da democracia. Converteu-se, digamos assim, à democracia.

O QUE QUERO mesmo dizer com essa história de Dilma e Sininho? Eu sei o que quero dizer. Mas prefiro que vocês tirem suas próprias conclusões. Vocês têm 30 segundos... Pronto! Acabou o prazo! Pensaram? Não? Então lá vai a minha conclusão.

SE LUTAMOS tão arduamente, arriscando nossas vidas, inclusive, para derrotar uma ditadura militar que silenciava as palavras, faz sentido agora permitir que a expressão da democracia seja a morte de um jornalista? Não, não faz sentido. Não faz o menor sentido.

Violência na cabeça - JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO

O Estado de S.Paulo - 17/02

O medo está em alta no Brasil. O medo da violência cresce, e não só por causa de eventos isolados. A ampla cobertura da morte do cinegrafista Santiago Andrade ajudou a manter o tema em evidência, mas a preocupação com a própria segurança cresceu na cabeça dos brasileiros muito antes de o jornalista ter sido atingido mortalmente por um rojão durante uma manifestação.

A pesquisa Latinobarômetro, feita logo que os protestos explodiram em 2013, já mostrava o agravamento da percepção de violência. Indagados a respeito da situação da segurança pública, a maioria absoluta dos brasileiros respondeu "ruim" ou "muito ruim". Essa taxa cresceu de 40% em 2010, para 48% em 2011 e chegou a 54% em 2013. É uma tendência que afeta profundamente o panorama eleitoral, em especial para os governadores.

Em 2010, uma das cenas mais marcantes na época da eleição foi a imagem de um bando de traficantes em fuga, após a ocupação policial de um complexo de favelas cariocas, com auxílio do Exército. Faturaram os governos estadual e federal. Quatro anos depois, não só o modelo das UPPs está em xeque. Todo o sistema de repressão está sendo testado e contestado. Caiu a aprovação.

Em 2013, só 14% disseram que a segurança pública era "boa" ou "muito boa". Se o Ibope replicasse hoje as mesmas questões, é provável que encontrasse ainda mais pessoas alarmadas.

Não só pelas violências associadas às manifestações de rua, mas por causa dos ônibus queimados diariamente nas grandes cidades, das decapitações nos presídios, dos mortos e desaparecidos pela polícia, do narcotráfico ostensivo e das repetidas notícias de arrastões, assassinatos e ataques indiscriminados. Se até bombeiro é assaltado enquanto apaga incêndio, por que não você?

A pergunta "por que não eu?" é cada vez mais frequente na cabeça dos brasileiros, como também mostra o Latinobarômetro. Até 2010, 43% diziam que se preocupavam "sempre" em ser vítima de algum delito violento. A proporção dos permanentemente preocupados subiu para 47% em 2011 e chegou a incríveis 61% em 2013.

Não que o resto esteja tranquilo. Outros 24% dizem que "quase sempre" estão preocupados. Ou seja, 85 em cada 100 brasileiros têm constantemente na cabeça o medo de sofrer uma violência. Os 8% que nunca se preocupam com isso moram, na maioria, em cidades com menos de 20 mil habitantes. O medo tem endereço: é um terço maior nas grandes cidades, principalmente nas periferias.

A sensação generalizada de insegurança é a incubadora de mil e um aproveitadores. De justiceiros a milicianos, passando por matadores de aluguel e seus proxenetas, até políticos e comunicadores que os defendem. Quem explora o medo e cultiva a vingança perpetua o círculo vicioso enquanto se alimenta dele.

E de onde veio esse pavor todo? Será uma ilusão coletiva? Afinal, as secretarias da segurança pública sempre têm uma estatística para mostrar que a criminalidade está em queda, e as prisões, cada vez mais cheias. Será a mídia, sempre acusada de sensacionalista, a culpada? Se for, tem grande ajuda dos fatos.

Em 2010, um em cada quatro brasileiros dizia ter experimentando a violência de perto. O próprio entrevistado ou um parente dele havia sido assaltado, agredido ou vítima de um delito nos 12 meses anteriores. Já era uma taxa de vitimização alta, e nos últimos quatro anos ela cresceu 56%. Os brasileiros com uma história de crime para contar passaram de 25% para 39% da população. A violência chegou mais perto, ficou mais pessoal e, por consequência, muito mais amedrontadora.

A exploração do medo é um clássico das campanha eleitorais em toda parte. Nos EUA, os republicanos transformaram isso numa arte para se segurarem na Casa Branca. No Brasil, esta será uma campanha que explorará vários medos - de mudança, de violência e de retrocesso. Coragem, eleitor!

O carisma de Lula - FERNANDO FLORA

O GLOBO - 17/02

A liderança carismática depende da crença na existência de capacidades extraordinárias ou sobrenaturais. Max Weber define carisma como certa qualidade de um indivíduo (personalidade), em virtude da qual é diferenciado das pessoas comuns e tratado como dotado de qualidades sobrenaturais, sobre-humanas ou, pelo menos, excepcionais . Destaca que é essencial que o indivíduo carismático seja reconhecido ou percebido como detentor destes atributos: Este reconhecimento é objeto de completa devoção pessoal, decorrente do entusiasmo ou do desespero e da esperança.

Descrevamos o contexto de nossa análise do carisma de Lula. O Estado brasileiro conserva características patrimonialistas, a sociedade está em processo de ruptura com o tradicionalismo (pelo efeito do caráter revolucionário do carisma) e o povo é naturalmente religioso.

Procuremos discernir as condições que tornaram possível a aparição deste chefe político divinizado brasileiro e os sentimentos religiosos e políticos que o impulsionaram ao poder (e o mantêm, embora como sujeito oculto). Um líder sindical, dotado de carisma político, conduziu greves operárias contra o regime militar, tendo sido preso na época. Nasceu, assim, o herói Lula. Até aqui, nossa narrativa descreve um sindicalista que, em seguida, se transforma em líder de um partido político socialdemocrata.

Neste ponto de nossa análise, intervém uma mutação simbólica de grande relevância histórica. O povo, em seu modo de pensar, experimentou uma conversão interna e investiu (projetou) o líder com atributos messiânicos. Na fé popular começou a encarnar o salvador, o homem enviado por Deus - mito que existiu desde sempre.

Como isto foi possível? A explicação é que o herói proletário se apropriou da opção preferencial pelos pobres e passou a interpretar um carisma semelhante ao profético. Deus não elege um pernambucano de Caetés todo ano para presidente da República. Não elege um metalúrgico todo ano para presidente (discurso de Lula, 25/01/05). ...Antes era tudo do jeito que o diabo gostava. Agora é tudo do jeito que Deus gosta (20/03/08). Favoreceu-se de uma herança cultural arcaica, submersa no inconsciente.

E qual foi a dádiva principal para assegurar o bem-estar daqueles que se entregaram com uma fé cega ao herói doravante divinizado? Foi o auxílio do governo através do programa Bolsa Família. As estatísticas oficiais contabilizam que aproximadamente 50 milhões de pessoas - ou seja, 25% da população brasileira - são beneficiadas pelo Bolsa Família.

A pergunta, inevitável, é a seguinte: se o líder carismático pedir o voto a estes beneficiários do Bolsa Família para um(a) político(a) indicado(a) por ele, não é lógico supor que estarão na obrigação de corresponder? Chegamos, assim, à inescapável conclusão que a estratégia de Lula está no centro do jogo político brasileiro. Trata-se da principal variável a influir no desfecho das lutas políticas eleitorais e possui forte componente irracional, porque alicerçado em crenças afetivas de fundo messiânico.