FOLHA DE SP - 17/02
SÃO PAULO - Para quem gosta de alimentar a competição entre brasileiros e argentinos, vai uma dica. Foi-se o tempo em que a renda per capita brasileira, medida em dólares, era uma pequena fração comparada à argentina.
Em 1983, quando o vizinho do sul saiu da ditadura, o PIB por habitante no Brasil não chegava a um terço do argentino. Três décadas depois, estamos a cinco pontos percentuais da igualdade. Por uma cabeça, como diz o tango de Carlos Gardel.
Se cotejamos o volume total das duas economias, o cavalo lusófono dispara na pista. Para cada US$ 100 produzidos no Brasil hoje, a Argentina faz apenas US$ 22 ""contra US$ 71 há 30 anos.
O desempenho do Brasil no período foi apenas razoável. Foi a Argentina que afundou, e as explicações sobre esse desastre nacional convergem para a política.
A redemocratização argentina passou ao largo da necessidade de regularizar, aprofundar e estabilizar as instituições de mercado. A moeda nacional foi rifada na gestão Menem (1989-1999), no plano para erradicar a inflação com dólares alheios.
O modelo ruiu quando os dólares globais buscaram abrigo nos EUA no final da década de 1990. Na Argentina, isso produziu uma das mais severas recessões de que há registro. A deterioração financeira logo se tornou catarse política, que derrubou o presidente Fernando de la Rúa em 2001.
O ciclo seguinte em nada inovou. Reascendeu a velha cepa populista argentina, que distribuiu fartos recursos públicos sob a forma de subsídios, controlou preços e afugentou investimentos.
Esse grupo gozou de conforto no poder enquanto durou a exuberante arrancada chinesa da primeira década do século 21.
A bonança chega ao fim sem que a Argentina tenha se modernizado. O peso afunda em descrédito, e a crise financeira está perto, a uma cabeça, de desaguar em convulsão política.
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