FOLHA DE SP - 17/02
O saldo de três mortos a tiros e dezenas de feridos durante protestos estudantis na semana passada são mais uma evidência de que o governo Nicolás Maduro aposta na repressão para debelar a crescente insatisfação na Venezuela, imersa no desabastecimento crônico, na inflação galopante e na insegurança generalizada.
A passeata reuniu milhares de universitários no centro de Caracas e em outras cidades do país, no maior ato oposicionista desde a eleição de Maduro, há dez meses.
Estudantes pretendiam ser recebidos pela procuradora-geral, Luisa Ortega Díaz. Reivindicavam a liberação de três colegas que, durante protestos anteriores, haviam sido presos, levados a um quartel e depois transferidos a um presídio a 500 km de distância.
Irritados com a chefe do Ministério Público, que se recusava a recebê-los, manifestantes atacaram policiais e o prédio da instituição.
A reação à condenável violência estudantil foi desproporcional. Imagens mostram que agentes do Sebin (Serviço Bolivariano de Inteligência) utilizaram armas de fogo e que os estudantes foram atacados também por "coletivos", organizações civis que apoiam a defesa armada da "revolução bolivariana".
Fora das ruas, a atuação de Nicolás Maduro foi lamentável. O presidente justificou a truculência como resposta a um fantasioso "golpe de Estado planejado".
O embate serviu ainda para tirar do ar o canal a cabo NTN24, que transmitia os confrontos ao vivo. Com isso, aumentou ainda mais o controle estatal sobre os meios de comunicação críticos ao governo, hoje praticamente reduzidos a um punhado de jornais impressos --entre os quais se destacam "El Universal" e "El Nacional".
Eleito na esteira da morte de Hugo Chávez e tendo superado seu adversário por apenas 1,6 ponto percentual, Maduro se mostra incapaz de enfrentar a situação econômica extremamente delicada. A inflação do ano passado chegou a 56%, estimulada pelo desabastecimento de produtos básicos.
Sem coragem para enfrentar os gargalos da Venezuela, Maduro aprofunda os erros de Chávez, com uma política econômica suicida e uma dependência cada vez maior das Forças Armadas.
Protestos oposicionistas, intolerância política e dificuldades econômicas empurram a Venezuela para o fundo de um abismo que ela própria criou --e do qual não sabe como escapar.
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