O GLOBO - 31/01/12
A notícia recente de que empregadas domésticas da Indonésia tinham escapado da pena de morte na Arábia Saudita, depois de ter matado filhos de seus patrões ou por praticar magia negra, me deixou curioso para saber por que havia esse movimento agora.
Os países árabes, especialmente os do Golfo Pérsico, têm sido grandes importadores de empregadas domésticas vindas de Filipinas, Indonésia, Índia e Sri Lanka, desde os anos 80. Elas enfrentam um grande choque cultural, especialmente na Arábia Saudita, longe das famílias delas em um país ultraconservador, com uma língua difícil, e com quase nenhum contato com suas compatriotas.
Elas não são cobertas por leis trabalhistas, pelo fato de trabalhar em casa; trabalham por muitas horas por dia; geralmente não têm um dia de folga; e muitas vezes são vítimas de maus-tratos e agressões físicas. Além disso, muitas vezes recebem os salários com atraso. Tudo isso é uma receita para depressão, doenças mentais e mágoas que, às vezes, são descontadas nas patroas e nas crianças delas.
Infelizmente, a Arábia Saudita parece ser a campeã em problemas com empregadas domésticas, já que ela abriga o maior número de trabalhadores estrangeiros no Golfo. É estimado que seis milhões de estrangeiros moram no reino, com um milhão de indonésios, 1,3 milhão de filipinos, um milhão de egípcios e um milhão de paquistaneses, entre outros. A maioria dos indonésios trabalha como empregados domésticos e motoristas particulares, e 200 mil filipinos trabalham como domésticas.
A imprensa saudita tem documentado o abuso de domésticas no país, especialmente os jornais publicados em inglês voltados para os estrangeiros morando no país. Mas, apesar dessas campanhas de conscientização, a realidade de que domésticas estrangeiras são quase escravas dos seus patrões ainda prevalece entre certas pessoas no país. Oficiais raramente tomam o lado das domésticas em disputas com seus patrões.
Vale lembrar que o mau tratamento de empregadas domésticas não é uma exclusividade de árabes, tendo em vista os vários casos de maus-tratos de filipinos e indonésios trabalhando em Hong Kong e Cingapura.
Nos vinte anos em que atuei como jornalista na Arábia Saudita, o caso mais fantástico de abuso que encontrei foi de uma mulher das Filipinas, Leonora Somera, que foi contratada em 1987 para trabalhar como doméstica na casa de uma família saudita na capital, Riad. Logo depois, em 1988, ela foi levada para tomar conta das cabras que a família tinha numa pequena fazenda nas montanhas no Sul do país. Largada lá sozinha, Leonora enfrentou frio e solidão por 18 anos, sem ser paga regularmente e detida várias vezes pela polícia. O consulado das Filipinas em Jedah finalmente a resgatou de sua penúria, em 2007, e a ajudou a voltar para casa. O seu empregador devia a ela o equivalente a quase R$30 mil em salários não pagos.
A ONG Human Rights Watch tem documentado maus-tratos de domésticas no mundo árabe, e tem feito campanhas para melhorar as condições de trabalho delas. Nisha Varia, uma pesquisadora senior da HRW na área de direitos de mulheres, me disse que o governo da Indonésia foi forçado a fazer apelos fortes junto ao rei Abdullah, da Arábia Saudita, para salvar a vida de domésticas da Indonésia condenadas à morte por matarem ou praticarem magia negra.
"Houve uma campanha orquestrada por grupos de migrantes da Indonésia para aumentar a conscientização sobre a situação dos indonésios na Arábia Saudita. Essas campanhas ganharam força após a execução de Ruyati Binti Sabupi, uma trabalhadora doméstica de 54 anos, em junho de 2011", disse Varia.
Mais cedo, em 2010, uma doméstica indonésia foi brutalmente espancada e torturada pela sua patroa saudita. Sumiati Binti Salan Mustapa, de 23 anos, chegou ao hospital em Madina com queimaduras pelo corpo e ossos quebrados. A polícia indiciou a patroa e o caso foi a julgamento. Em uma decisão histórica, um juiz condenou a patroa a três anos de prisão. Infelizmente, depois de alguns meses, um outro juiz derrubou a decisão, alegando falta de provas, e a patroa foi libertada.
Países como a Indonésia e as Filipinas já tentaram parar de enviar domésticas para a Arábia Saudita por causa desses maus-tratos. As Filipinas até tentaram exigir um salário mínimo de US$400 por mês para suas empregadas (isso num país onde não existe um salário mínimo), que empregadores sauditas deem celulares a suas empregadas e forneçam mapas de suas residências, mas tudo em vão.
A realidade é que as economias desses dois países dependem excessivamente das remessas dos seus trabalhadores no estrangeiro. Filipinos trabalhando no estrangeiro mandaram um recorde de US$18,3 bilhões para as Filipinas em 2011, com US$1,7 bilhão enviado somente da Arábia Saudita. Indonésios no reino mandaram US$759 milhões para casa em 2010, ou 44% de todas as remessas dos indonésios no mundo.
Apesar dos muitos problemas que enfrentam no reino, indonésios e filipinos vão continuar a procurar emprego lá como empregados domésticos. O que nos resta fazer é torcer que sejam incluídos nas leis trabalhistas e que os abusos das famílias árabes sejam punidos de verdade pelos tribunais do país.
FOLHA DE SP - 31/01/12
O BANCO CENTRAL Europeu parece ter conseguido anestesiar a crise europeia. Em dezembro, emprestou quase meio trilhão de euros aos bancos da eurozona, muitos com desidratação financeira terminal.
Se a temperatura da crise baixou um pouco, o deboche, porém, continua a aumentar.
No fim de semana, o jornal britânico "Financial Times" descobriu um termo de rendição incondicional da Grécia. Ou melhor, as novas exigências que Alemanha e cia. queriam impor aos gregos em troca de empréstimos adicionais.
Os termos: haveria um comissário europeu para controlar o Orçamento do governo da Grécia (o protetorado informal não basta); a lei grega deveria estipular que os credores do governo terão prioridade sobre outras despesas.
Faltou dizer apenas que navios de guerra tomariam o Pireu (o porto perto de Atenas) e controlariam as rendas da alfândega, como era costume dos imperialismos do século 19 e começo do 20.
O vazamento constrangedor ocorreu na antevéspera da cúpula europeia de ontem, que discutia, claro, crise, a lei europeia para punir países deficitários, a criação do "mini-FMI" europeu (o novo fundo para socorrer governos) e "crescimento com empregos" (rir, rir, rir).
Crescimento com arrocho? Quando e onde será possível?
Mesmo que a eurolândia volte a crescer uns 1,5% no ano que vem, a renda (PIB) per capita da região ainda estará ABAIXO da registrada em 2007. A situação da média dos salários é ainda pior.
No caso de Irlanda, Grécia, Portugal, Espanha e mesmo do Reino Unido (fora do euro), o ponto de estagnação talvez seja ultrapassado apenas entre 2016 e 2018.
O escárnio continuava ontem. A lei linha-dura contra o endividamento pode exigir que países inscrevam em suas constituições a proibição de deficit públicos.
Um servidor britânico debochou, segundo relatos de quem cobre a cúpula: "Querem criminalizar o keynesianismo" (grosso modo, a política que prevê gastos maiores do governo quando um país vive recessão em que consumo e investimento não dão pinta de ressuscitar).
"Keynesianismo", ou coisa que o valha, não pode. Emprestar meio trilhão de euros a 1% ao ano para os bancos pode.
Claro, sem os "empréstimos de última instância" do BCE, poderia haver desastre horrendo na Europa (quebra de bancos em série).
Se der certo, o plano do BCE pode induzir a banca a emprestar um pouco mais para empresas e consumidores (por ora, empresta menos).
Enfim, melhor que o presidente do BCE seja o sensato Mario Draghi, que substituiu o fundamentalista Jean-Claude Trichet, que elevou juros na Europa ainda no ano passado, talvez alucinando ao confundir as almas penadas do desemprego com o espectro da inflação.
Mas, tudo considerado, o empréstimo do BCE ainda é um presente.
Enquanto isso, a Grécia negocia o seu calote, e Alemanha e cia. pensam onde vão arrumar mais dinheiro para tapar o rombo grego. Mesmo deixando de pagar aos bancos, mesmo com "pacotes de socorro", ainda falta algum para fechar a conta da dionisíaca dívida grega. E os tropeços gregos voltam a causar tremores no esquecido Portugal. O mundo gira, os lusitanos rodam.
FOLHA DE SP - 31/01/12
O assunto das investigações no Judiciário ia se esgueirando entre os escombros do desabamento, mas o acaso de uma agenda anterior o traz de volta antes que a tragédia da Cinelândia seja apenas pó de memória. A pauta prevista para o pós-férias do Supremo Tribunal Federal promete, para amanhã, a confrontação que divide os ministros: os favoráveis e os contrários a investigações do Conselho Nacional de Justiça, no Judiciário, sem depender de que as corregedorias estaduais as façam, se fizerem, preliminarmente.
As posições dos ministros aparentam equilíbrio que, se verdadeiro, poderia decidir-se pelo voto da recém-nomeada ministra Rosa Weber. Há previsões para todas as hipóteses, desde a abstenção de Rosa Weber à inconclusão do caso amanhã e mesmo alteração de pauta. Nada disso, porém, fará diferença decisiva. Logo ou pouco adiante, o poder do CNJ terá de ser decidido, para a continuação ou a sustação das ações em curso na sua própria corregedoria, além das futuras.
Na antevéspera da sessão do STF, a realidade sobrepôs-se outra vez, por intermédio da Folha, aos argumentos dos defensores das corregedorias estaduais. A revelação de que a corregedoria do CNJ descobriu o sumiço de equipamentos no valor de R$ 6,4 milhões, doados pelo próprio CNJ a 13 tribunais regionais para se agilizarem, presta um serviço de última hora ao argumento de que as corregedorias estaduais são, na maioria, ineficazes.
Uma certeza independente das decisões doutrinárias: a opinião pública quer resposta também em relação aos casos noticiados do Judiciário, prenúncios de outros possíveis ainda desconhecidos. O Tribunal Regional do Trabalho do RJ, por exemplo, não pode limitar-se à afirmação de que quase R$ 300 milhões, em sua quota de movimentações estranhas, "foram de um doleiro" admitido como servidor. E o que é isso, um doleiro como servidor do tribunal? E como foi o movimento, por intermédio do tribunal? Há outros "doleiros"? Afinal de contas, há mais movimentos financeiros estranhos do que o atribuído, digamos, ao "doleiro oficial".
E há outras coisas, nesse tribunal dado como o de maior volume de movimentações financeiras estranhas. A classe dos jornalistas do Rio o sabe por experiência própria. Por sofrê-la no bolso, na família, na mesa, nos filhos. Fechou tal revista, fechou tal jornal, fechou tal TV, fechou tal outro jornal. E as quitações dos seus jornalistas, fotógrafos, técnicos, auxiliares? E o FGTS e o INSS, com dezenas de anos sem pagamento.
Não dezenas, mas centenas de profissionais, postos de repente diante do estreito mercado do jornalismo, ainda hoje entregam-se ao mercado das traduções dia e noite, e a mais alternativas alheias à sua qualificação jornalística. Sem ver as devidas soluções das suas causas de quitação, de FGTS, de INSS.
Isso, porém, é realidade. E o STF pretende que suas decisões são doutrinárias. Às vezes, coincidem. Se não o fizerem desta vez, ganha outra realidade: a dos patrocinadores de movimentações estranhas.
Correio Braziliense - 31/01/12
Se as obras dos aeroportos não ficarem prontas a tempo da Copa, não terá sido a primeira vez em que o país deixou de fazer algo dentro do prazo correto em prol de benefícios eleitorais. Vide o plano Cruzado, no governo Sarney
A semana política será tensa em Brasília. Não, nada a ver com o retorno dos parlamentares ao trabalho. Até porque os congressistas só devem trabalhar de fato na semana que vem, quiçá, como dizia minha avó, depois do carnaval. O motivo de cenhos franzidos, especialmente, no governo, é a expectativa de o plenário do Tribunal de Contas da União (TCU) votar amanhã parecer com sugestões de mudanças no edital de privatização dos aeroportos de Brasília, de Viracopos e de Guarulhos.
Se o tribunal decidir mudar as regras, o leilão poderá ser adiado mais uma vez, comprometendo o apertado calendário de melhoria da infraestrutura aeroportuária para a Copa de 2014. Nada indica que o TCU deixará esse edital intacto. A perspectiva é de que o tribunal proponha a redução do percentual de 49% que a Infraero deseja ter nos consórcios. Se houver proposta de alteração, até que se chegue a um acordo, dá-lhe atraso.
Dentro do governo, entretanto, a saída para esse imbróglio perante o público é a mais simples: se atrasar, põe a culpa no tribunal e ponto. Simples assim. Pelo menos é o que parte do governo tentará vender. O difícil é fazer com que a população acredite que a culpa é do TCU.
O Brasil foi anunciado sede da Copa de 2014 há mais de quatro anos, em outubro de 2007. Ou seja, tempo suficiente para fazer tudo, inclusive privatizar todos os aeroportos, se fosse o caso. Mas, não se fez por questões políticas. Àquela altura, o governo não tinha recursos para jogar tudo nos aeroportos e tampouco seria interessante para o PT se render a concessões desses serviços, dando a mão à palmatória.
O PT passou a vida criticando as privatizações. Até hoje, sempre que pode, o partido busca um dindim eleitoral batendo nessa tecla. Se esquece de que, se o Brasil mantivesse estatal o sistema de telefonia, por exemplo, talvez os celulares fossem privilégio dos mais abastados.
Por falar em abastados...
Não foi por falta de projeto que o governo Lula deixou de promover a concessão dos aeroportos. Em 2008, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), cheio de recursos, tentou deflagrar estudos para privatização desses serviços. Foi contido por ordens expressas do Palácio do Planalto. No ano seguinte, nova tentativa. Tudo em vão.
Lula havia vencido a sua segunda eleição em 2006 contra Geraldo Alckmin anunciando aos quatro ventos os perigos que o Brasil correria, caso entregasse o governos nas mãos do PSDB. Na corrida eleitoral, o PT dizia que, além de acabar com os avanços sociais obtidos no governo Lula, o PSDB estava vendendo as joias da coroa.
Alckmin passou então a desfilar com uniforme da Petrobras e também não fez a defesa das privatizações que deram certo. Tampouco sustentou a necessidade de infraestrutura aeroportuária — tema que os próprios brasileiros só se deram conta de uma maneira mais geral depois de outubro de 2007, quando o país foi anunciado sede da Copa do Mundo. Foi uma festa só. Infelizmente, não tínhamos ali um sujeito de plantão para gritar "vadda bordo, Lula! " a fim de colocar todo o governo engajado em preparar a infraestrutura necessária ao crescimento do país e aos eventos que buscou sediar.
Enquanto todos percorriam palanques, o tempo passou e agora estamos a quase um ano da Copa das Confederações, daqui a pouco estaremos a dois anos da Copa de 2014. Infelizmente, até agora, os leilões não aconteceram e os riscos de atraso são reais.
Se as obras dos aeroportos não ficarem prontas a tempo da Copa, não terá sido a primeira vez em que o país deixou de fazer o necessário dentro do prazo correto em prol de benefícios eleitorais. No governo Sarney, o Plano Cruzado precisava de correções de rumo que não ocorreram à época, 1986, para que o PMDB faturasse nas urnas. O partido ganhou quase tudo e o plano fracassou. A nós, meros observadores da cena, resta torcer para que a história não se repita. E fazer isso da mesma forma que, em 2014, torceremos para a Seleção Brasileira ficar com a taça. Afinal, não custa sonhar.
FOLHA DE SP - 31/01/12
Nos EUA, muitos dos 99% aproveitaram os anos bons para se endividar e agora não querem assumir a sua parcela de culpa pelo próprio fracasso
Ao longo da vida, tomamos decisões que têm efeitos imediatos, passageiros ou pouco importantes, mas também fazemos escolhas muito importantes. A decisão de abandonar o ensino médio, por exemplo, pode ter consequências dramáticas para a renda futura de alguém.
Muitas vezes, porém, as pessoas não têm muitas oportunidades. Filhos nascidos em famílias mais humildes, de renda modesta, muitas vezes dependem de auxílio do governo. Essa é a realidade de muitos americanos nos dias de hoje. A crise econômica fez florescer o debate sobre o recente aumento da desigualdade de renda nos EUA.
Um estudo do Congressional Budget Office mostra que a renda média americana cresceu cerca de 45%, em termos reais, entre 1979 e 2007. Nesse período, a renda dos que estão no topo da distribuição, os 1% de maior renda, cresceu 275%.
O contraste permitiu um debate mais enfático sobre distribuição de renda e a taxação nos Estados Unidos, que deve ser parte importante no processo eleitoral de 2012.
Muitos entendem que as condições dos 99% mais pobres são fruto primordialmente das políticas públicas, que impõem baixos impostos aos mais ricos e não oferecem aos mais pobres serviços considerados importantes, como saúde pública e universidade gratuita.
Esse grupo acredita que os fracassos de muitas pessoas entre os 99% são culpa do governo. Mas essa é uma maneira fácil de transferir o problema.
De acordo com dados do Tesouro americano, cerca de 58% das famílias no menor quintil de renda em 1996 estavam em um quintil mais alto em 2005. É o "sonho americano" em ação.
O movimento no sentido contrário também ocorre. Daquelas famílias que se encontravam entre as 1% de maior renda em 1996, mais de 57% desceram para um grupo de menor renda em 2005. É o chamado "pesadelo americano".
Nesse processo de alta mobilidade de renda em curto espaço de tempo, as escolhas individuais ocupam um papel muito mais importante do que mudanças no sistema de tributação ou nas políticas públicas.
A economia americana é altamente meritocrática. Ou seja, aqueles que trabalharem muito encontrarão oportunidades e terão o seu trabalho recompensado.
A situação atual de muitos americanos está diretamente ligada a escolhas que foram mal feitas.
Muitos jovens americanos acumularam dívidas elevadas para cursar uma faculdade privada e hoje se encontram desempregados.
Muitas famílias americanas compraram casas tomando empréstimos elevados. Hoje, elas não possuem renda para pagar as prestações e estão sendo despejadas.
Muitos idosos americanos não compraram planos de saúde quando jovens e não pouparam para o futuro. Hoje, dependem de programas sociais que não atendem todas as suas necessidades.
As consequências dessas escolhas, muitas feitas sob a crença de que "tudo daria certo" ou sob hipóteses equivocadas sobre o mercado de trabalho, vieram à tona durante a crise de 2008.
Na verdade, essas escolhas foram tanto causa como consequência da chamada Grande Recessão.
As crenças com relação ao futuro são parte fundamental das decisões econômicas das pessoas. Muitos norte-americanos compraram casas e apartamentos com a crença de que eles iriam se valorizar. Muitos fizeram cursos de graduação caríssimos, assumindo que o emprego estaria garantido após a faculdade. Essas hipóteses se provaram erradas, e a crise econômica atingiu em cheio o grupo mais vulnerável a choques econômicos.
A verdade é que, no país da livre escolha, na terra das oportunidades, muitas pessoas não querem admitir que parte da condição em que elas se encontram foi causada por elas mesmas. São consequências de suas escolhas pessoais.
FOLHA DE SP - 31/01/12
RIO DE JANEIRO - É conhecida a história do besouro. Uma comissão de técnicos em aerodinâmica, aviões e foguetes espaciais, examinou, com equipamento sofisticado, de última geração, as possibilidades de um besouro voar. E concluiu pela impossibilidade estrutural e operacional: besouro não pode voar.
No entanto, desde que existem na face da Terra, os besouros voam, aparentemente sem muito esforço.
Dos besouros passo para a democracia como instituição política, econômica e social.
Analisada com isenção e bom conhecimento histórico, é a melhor forma que a humanidade encontrou para se governar e agir, tanto no setor público como na vida particular de cada cidadão.
A democracia é como o besouro, mas às avessas. É perfeita, tem todos os equipamentos necessários para gerir a humanidade, criando condições de liberdade, paz e prosperidade. Devia voar ou funcionar, tornando as nações mais perfeitas e justas.
Ela não é nem pode ser questionada. A alternativa seria a ditadura, a tirania.
Aristóteles garantiu que a afirmação de uma coisa não significa a negação de outra. Cara e coroa são faces da mesma moeda.
Para citar Nelson Rodrigues, até as cotias do Campo de Santana conhecem os crimes e aberrações dos regimes totalitários.
A Primavera Árabe tem sido saudada como a nova idade de ouro para a humanidade.
Tanques e canhões do mundo livre formam a corte celestial de justiça e liberdade.
Ouvi um discurso de Obama, já em campanha para a reeleição. Tudo o que disse sobre os problemas que enfrenta e as soluções que propõe poderia ser dito pelos sobas, ditadores e líderes de povos subdesenvolvidos: corrupção, violência e injustiça social no país que é considerado o mais democrático do mundo.
FOLHA DE SP - 31/01/12
BRASÍLIA - Com o fim do recesso e recomeço dos trabalhos do Judiciário e do Legislativo, nesta semana, vai piorar o festival de balas perdidas entre juízes e entre partidos.
No Judiciário, sempre tão (auto) protegido, os que queriam calar o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) conseguiram uma gritaria nunca vista. Em vez de apenas fiscalizar o sistema e investigar os juízes, o órgão tem sido excelente motivo para quebrar a caixa-preta, justamente quando vem aí o julgamento do mensalão.
No Legislativo, o verbo que menos se conjuga é legislar. Os senadores e principalmente os deputados ou são candidatos ou participam avidamente das articulações para as eleições de outubro às prefeituras -onde tudo começa. Mas o tiroteio da base aliada é mesmo pelos ministérios e estatais -onde tudo acaba.
Depois da queda de sete ministros, Dilma desistiu da brincadeira quando o amigo Fernando Pimentel entrou na roda. Em vez de Pimentel (Desenvolvimento), que parece firme, e de Fernando Bezerra (Integração) e Mário Negromonte (Cidades), que estão cai não cai, só tinham sido "faxinados" até ontem o diretor do Dnocs, o chefe de gabinete de Cidades e o chefão da Casa da Moeda.
Ou seja: se 2011 foi o ano dos ministros, 2012 começou como o ano só do segundo escalão. Sem esquecer da Petrobras, de onde José Sérgio Gabrielli saiu para concorrer a alguma coisa não se sabe bem onde nem daqui a quantos anos.
Tudo isso deixa os partidos aliados assanhados, ainda mais diante da sinalização, ou sensação, de que Dilma está trocando políticos por técnicos. Abrem-se as vagas, mas os apadrinhados não entram?!
Todas essas dúvidas, questões e pressões tendem a ser amplificadas a partir desta semana, com a reabertura do Judiciário e do Congresso. Se, evidentemente, a turma não der uma esticadinha até depois do Carnaval, quem sabe da Semana Santa. Afinal, ninguém é de ferro...
O GLOBO - 31/01/12
O governo federal vai entrar firme hoje no debate sobre o processo de desocupação de Pinheirinho, em São José dos Campos (SP). Depois de ter passado o final de semana fazendo entrevistas e investigando o episódio, os Conselhos dos Idosos, da Criança e do Adolescente, e da Defesa dos Direitos da Pessoa Humana divulgam hoje um relatório listando as supostas violações dos direitos humanos na remoção dos moradores e na concessão de abrigos provisórios para os desalojados.
Jaques Wagner abandona Negromonte
Em estratégia oposta à do líder do PMDB, deputado Henrique Alves (RN), o governador Jaques Wagner (BA) decidiu não pressionar a presidente Dilma para manter o ministro Mário Negromonte (Cidades). "A caneta não é minha, então respeito a decisão que for tomada", afirmou Wagner para Dilma. A briga no PP agora é pela escolha do novo ministro. Os 43 deputados querem um deles na pasta. O líder Aguinaldo Ribeiro (PB) é candidatíssimo, mas Márcio Reinaldo (MG), também. Há ainda uma ala importante que trabalha pela nomeação de um senador. Os nomes citados são: Ciro Nogueira (PI) e Benedito de Lira (AL).
"O Fernando Henrique falou o que o partido pensa. Não há essa dúvida entre nós. O nosso candidato é o Aécio Neves” — Sérgio Guerra, presidente do PSDB e deputado federal (PE), sobre a sucessão de 2014
TRIBUNA. De volta à presidência do PDT, Carlos Lupi será a estrela da propaganda nacional de rádio e TV do partido, que vai ao ar quinta-feira. Ele também vai reativar suas contas no Twitter e no Facebook. Disse a correligionários que usará o programa na TV e as redes sociais como tribuna para tentar reabilitar sua imagem. Ele ficou chamuscado depois que teve de deixar o Ministério do Trabalho por causa de denúncias de corrupção.
Guerra de mídia
Vice-presidente do PSDB e ex-governador de São Paulo, Alberto Goldman sugeriu a Geraldo Alckmin a elaboração de um "Dossiê Pinheirinho", para rebater críticas à operação de reintegração de posse, principalmente do PT.
Surpresa
Depois de tanto pressionar pela saída do presidente da Casa da Moeda, que era mantido pelo ministro Guido Mantega (Fazenda), o PTB ficou sabendo ontem da exoneração de Luiz Felipe Denucci Martins pelo Diário Oficial da União.
Por um governo mais transparente
Mobilizados pela CGU, mais de uma centena de representantes da Conferência Nacional de Transparência e Controle Social se reúnem amanhã, em Brasília. Vão debater propostas para ampliar a participação da sociedade na gestão pública, tornar o governo mais transparente e para a prevenção e combate à corrupção. Em maio, após encontros estaduais, a CGU vai reunir 1.200 delegados para aprovar uma proposta que será entregue à presidente Dilma.
Transição
O governador Renato Casagrande (ES) quer uma transição de oito anos para apoiar a proposta do governo que muda a cobrança do ICMS na importação. A mudança dessa regra é uma das propostas da Fazenda que está no Congresso.
Investimento
A orientação da presidente Dilma é que este ano o eixo do governo é o investimento em infraestrutura. As prioridades são o PAC, as obras da Copa, a concessão de aeroportos, o Minha Casa Minha Vida e os investimentos da Petrobras.
DISPUTA. Os deputados Paulo Rubem Santiago (PE) e André Figueiredo (CE) disputam a liderança do PDT na Câmara. Havia um acordo, feito no ano passado, para que Figueiredo assumisse a função agora.
PRECONCEITO. Setores do trabalhismo fazem campanha contra André Figueiredo afirmando que não fica bem para um partido trabalhista ser liderado por um empresário.
A PRESIDENTE Dilma pediu para registrar que "gosta muito" do ex-deputado Rocha Loures, assessor do vice-presidente Michel Temer. Está feito.
O GLOBO - 31/01/12
Agora é Portugal que está no olho do furacão. O país foi contaminado pela longa agonia grega. Os credores, que não conseguem chegar a um acordo com Atenas, olharam para o segundo da fila. Ontem, os juros cobrados de Portugal foram os mais altos desde que o país entrou no euro. Fracassa a tentativa da Zona do Euro de permitir o calote grego, desde que fosse um caso único.
Portugal tem uma dívida de 93% do PIB e o déficit público oscila entre 10% e 9%. Em 2012, tem que rolar C 25 bilhões. Enquanto a cúpula da Europa discutia parâmetros fiscais, a Grécia continuava sem ter um acordo com os bancos credores sobre o tamanho do calote e Portugal começava a sangrar.
A Zona do Euro pediu à Grécia o impensável. Que aceite a nomeação de um comissário para controlar as finanças do país. Ao contrário do que se pensa, não é o mesmo que o FMI pede a endividados. É muito pior. Quem diz é a economista Monica de Bolle, que trabalhou no FMI:
- O Fundo nunca pediu para aprovar orçamento de algum governo. Estabelece uma lista de obrigações. Nem a Lei de Responsabilidade Fiscal dá o direito à União de aprovar ou reprovar orçamentos estaduais. Apenas define metas.
O impasse grego está dificultando a vida de Portugal. A pergunta dos investidores é: se a Grécia vai dar o calote, ainda que organizado, o que impedirá os portugueses de seguirem o mesmo caminho?
Os juros pagos pelo governo português dispararam, e o temido contágio está acontecendo. Para títulos com vencimento de três anos, os juros chegaram a 23%, enquanto os com vencimento de dez anos pagaram 16,8%. Os investidores estão cobrando mais caro pela dívida de curto prazo porque consideram que a probabilidade de calote é maior. O seguro contra o risco de calote (Credit Default Swap) do governo português subiu muito desde o início do ano (vejam no gráfico).
A dívida portuguesa já é classificada como junk (lixo) pelas três agências de classificação de risco, Standard & Poor´s, Fitch e Moody´s. O economista Eduardo Oliveira, da equipe de cenários da Um Investimentos, disse que tanto a Grécia quanto Portugal são duas economias pequenas, com baixa capacidade de competição, estão muito endividadas e ligadas.
- A forma como será definido o calote da Grécia será crucial para Portugal. Se a perda para o mercado for muito grande, os juros de Portugal vão subir ainda mais. Mas se as condições forem boas para o mercado, então os títulos portugueses podem cair - disse.
O economista Antenor Gomes Fernandes, sócio-fundador da gestora STK Capital, registra que os juros portugueses estão subindo, mesmo com toda a liquidez que está sendo promovida pelo Banco Central Europeu (BCE). Desde a entrada de Mario Draghi, o BCE passou a financiar os bancos, para eles comprarem títulos dos países com problemas. Isso não está ajudando Portugal.
- O mercado se antecipa e já olha para o próximo problema. O CDS do governo grego está em 1400 pontos, subiu muito nas últimas semanas. Isso já é preço de calote. É receio do famoso "também quero". Se os gregos vão ter perdão da dívida, por que os portugueses não vão querer também? - questiona.
Os líderes europeus continuaram reunidos ontem à noite tentando acertar esse acordo que dê uma ordem fiscal para todo o bloco, noves fora o Reino Unido e dois outros países que o seguiram. A Grécia continuava com as negociações com a Troica (FMI, BCE e Comissão Europeia) e os bancos. Enquanto isso, os credores passaram a rodar o torniquete sobre Portugal.
Para a consultoria inglesa Capital Economics existe o cenário de que Portugal dê um calote e até o cenário extremo de que o país saia do bloco. Os jornais portugueses refletiam esse agravamento da crise. O pacote que tinha sido dado ao país foi arquitetado para refinanciá-lo até o fim do ano, mas como os juros cobrados do país subiram, Portugal pode precisar de mais ajuda. A alta dos juros cobrados de Portugal reflete, segundo a consultoria inglesa, "o aumento do ceticismo de que a participação do setor privado na reestruturação das dívidas da Zona do Euro ficará restrita à Grécia". Ou seja, os credores sabem que vão perder também em Portugal.
FOLHA DE SP - 31/01/11
Foco de tensão na base de Dilma Rousseff e objeto de denúncias de fraudes em licitações, o Dnocs passará por nova mudança em sua direção. Depois da demissão do diretor-geral, Elias Fernandes, também o diretor de produção, Rennys Frota, perderá o cargo. Da cota do PSB cearense, Frota deve ser substituído por Cláudio Nelson, avalizado pelo governador Cid Gomes.
A crise no comando da autarquia está longe de um desfecho: embora o líder do PMDB, Henrique Alves (RN), reivindique indicar o diretor-geral, Ramon Rodrigues, interinamente no posto, conta com a simpatia do ministro Fernando Bezerra (Integração Nacional).
Tão longe... Enquanto o governo paulista tenta reduzir o desgaste político causado pela operação Pinheirinho, em São José dos Campos a reintegração de posse resultou positiva para o PSDB. Pesquisas à disposição da prefeitura indicam amplo respaldo popular à medida, às vésperas da campanha em que o tucano Eduardo Cury tentará eleger seu sucessor.
...tão perto Embora o PT, em âmbito nacional, abrace a causa dos sem-teto de São José, os líderes do partido na cidade mantiveram prudente distância da ocupação, controlada pelo PSTU, durante oito anos. Pré-candidato a prefeito, o deputado petista Carlinhos Almeida foi vaiado quando acompanhava a ação da PM no bairro.
Panelaço 1 Separados, ao menos por ora, na eleição paulistana, Geraldo Alckmin e Gilberto Kassab enfrentarão adversário comum até outubro: as manifestações organizadas por movimentos de sem-teto e estudantes, que empunham bandeiras como acesso à moradia popular e redução da tarifa de ônibus.
Panelaço 2 Governador e prefeito deverão dosar as aparições públicas. Ainda descartam interferência direta do PT, mas temem que os atos, patrocinados por PSOL, PCO e PSTU, seja inflamados pelo embate eleitoral.
#prontofalei Ausente da comitiva de Dilma em Cuba, Maria do Rosário (Direitos Humanos) explica que já tinha viagem marcada para o Haiti. E completa: "A marca de Cuba não é a violação de direitos humanos, e sim ter sofrido uma violação histórica, o embargo americano".
Javanês Segundo observadores dos humores do Supremo, a retomada do julgamento sobre os limites da atuação investigativa do Conselho Nacional de Justiça, prevista para amanhã, tem tudo para se transformar numa sessão de votos longuíssimos, ao fim da qual muitos terão dificuldade em compreender o que exatamente decidiram os ministros.
Viola no saco 1 Políticos que esperavam obter dividendos eleitorais com a suspensão no fornecimento de sacolinhas plásticas pelos supermercados de São Paulo entraram na muda. Um dos motivos é a expressiva rejeição da população, inconformada por ter de pagar sozinha a conta do eventual benefício ao meio ambiente.
Viola no saco 2 O outro é o fato de que a principal fabricante das sacolinhas vem a ser a Braskem. A empresa faz parte do grupo Odebrecht -mais vital para a sustentabilidade dos políticos do que as redes de supermercados.
Pedala! Um anel cicloviário de 90 km unirá sete cidades da Grande SP. O projeto, da Dersa, prevê uma passagem sobre o rio Tietê e outra sobre o Pinheiros. Pré-candidato à prefeitura, o secretário Bruno Covas (Meio Ambiente) estuda usar na obra recursos de compensações de licenciamento ambiental.
com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI
tiroteio
"Agora fica mais fácil entender o que quis dizer Geraldo Alckmin quando recomendou uma aula de democracia aos estudantes que ocupavam a reitoria da USP."
DE RAIMUNDO BONFIM, COORDENADOR DA CENTRAL DE MOVIMENTOS POPULARES, sobre o fato de o site da Secretaria da Segurança Pública de São Paulo ter chamado o golpe militar de 1964 de "revolução de março".
Contraponto
Todos dizem 'eu te amo'
O presidente do PDT, Carlos Lupi, encerrava entrevista coletiva realizada ontem após reunião do Diretório Nacional do partido, em Brasília, quando um jornalista lhe perguntou se continuava a amar Dilma Rousseff mesmo depois de ter perdido a cadeira de ministro do Trabalho.
Sem demonstrar qualquer arrependimento por sua célebre declaração, ele ainda acrescentou:
-Olha, até hoje eu encontro gente na rua que me diz: "Lupi, eu te amo também!".
Valor Econômico - 31/01/12
A eleição de 2012 é uma etapa no que é central no projeto do PT: assegurar a reeleição da presidente Dilma Rousseff em 2014 e assim garantir a permanência do partido no poder durante 16 anos. Seriam quatro mandatos consecutivos e a segurança de deixar assentadas as bases de um país nos moldes petistas. Em 2018, é provável que o partido não tenha um candidato natural à sucessão, mas a alternativa de poder pode sair de dentro do campo que apoiou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e atualmente apoia a presidente da República.
Há dois obstáculos no percurso rumo a 2014, etapa fundamental para o PT concluir o projeto dos 16 anos. Um deles é a dificuldade de relacionamento da atual presidente com os políticos e os partidos; o segundo, nem por isso menos importante, é a renovação dos quadros petistas, estimulada por Lula e outros fundadores que julgam ter chegado a hora de começar a troca de guarda: por causa da idade; porque foram alvejados no processo político (e também no mensalão) e porque é normal em qualquer partido.
Há uma ambiguidade na atual política brasileira. Vários setores da sociedade estimulam a demanda da presidente com os partidos. Isso equivale a dizer que os partidos só atrapalham e que a presidente não deve se relacionar com o Congresso, de que depende o governo federal para aprovar os projetos de seu interesse. Uma bobagem. A negociação com o Congresso é o que permite a Dilma governar por meio de uma maioria representativa. A opção seria o modelo do venezuelano Hugo Chávez denominado de "democracia direta e participativa", do qual sem dúvida há adeptos também no PT.
O que Dilma e o PT precisam para assegurar os 16 anos é estabilizar a relação com a base aliada, especialmente com o PMDB, o maior partido da coligação governista. Estabilizar significa dizer, desde já, que o partido vai manter a aliança e a parceria preferencial com os pemedebistas na eleição de 2014.
Até agora aliado fiel, o PMDB pode virar um grande problema para o governo de Dilma. No próximo ano, o partido terá a presidência das duas Casas do Congresso, a menos que o PT resolva romper o acordo que fez na Câmara, o que não é decididamente aconselhável: o fim do governo Fernando Henrique Cardoso começou a acabar no racha do PSDB com o PFL para a eleição de Aécio Neves para a Mesa da Câmara. Os tucanos queriam ficar 20 anos no poder; ficaram oito. Os maldosos dizem que foram apenas quatro, pois FHC teria governado o segundo sem o apetite com que Lula governou, após reeleito.
Evidente que a distribuição dos cargos e as eleições municipais contribuem para a atual desestabilização da relação do PMDB com o governo federal, mas em boa medida ela é resultado da movimentação do governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos, que joga para ser vice de Dilma em 2014, no lugar de Michel Temer (PMDB), e o nome do governo nas eleições de 2018. O governo acompanha os passos de Campos e usa a ação do governador para cobrar mais e mais fidelidade do PMDB.
Por outro lado, uma nova geração começa a ascender no PT Uma geração que tem pressa. Muita. Até porque está no governo e precisa lutar dentro dele pela sobrevivência. Todos jogam suas fichas, sem o "timing" que teve a geração anterior, que aprendeu na oposição a administrar o tempo: começou com uma bancada de seis deputados, depois 16, depois 32. Como diz um dos fundadores: "O timing era imposto pela circunstância histórica".
Os mais velhos preconizam que os mais novos precisam ter uma visão de médio e longo prazo. O cenário está bom para o PT, mas o partido precisa ter muito cuidado com a eleição municipal. Como todo partido, tem que ganhar algumas cidades importantes. Mas não pode ganhar escorraçando os aliados. Mas a ansiedade contamina a legenda.
No Rio Grande do Sul, os veteranos acham que o PT deveria apoiar a reeleição do prefeito José Fortunati, num jogo vinculado com 2014 e 2016: o PT daria o candidato a vice do PDT agora, para sucedê-lo em 2016, e apoiaria a candidatura de Manuela D"Ávila ao Senado daqui a dois anos, em troca - claro - do apoio de todos à reeleição do governador Tarso Genro.
Mas o curso que está sendo traçado no Sul é outro, para o horror de um dos "fundadores", que já viu esse filme repetidas vezes: "O PT não pode ganhar todas, porque se quiser ganhar todas os aliados espanam." No Ceará, o governador Cid Gomes quer fazer o irmão Ciro senador. Uma oportunidade para a prefeita Luizianne Lins propor um acordo pelo qual o PT indicaria o candidato à sua reeleição e ela apoiaria Ciro em 2014, em troca do direito de se candidatar ao governo no lugar de Cid. Mas se a intenção do PSB for se manter no governo, abriria então mão da vaga do Senado para Luizianne. Difícil, muito difícil até pelas personalidades envolvidas na negociação.
Tem o Rio de Janeiro, onde Lindbergh Farias deveria recuar e apoiar a aliança para 2014 com o atual vice-governador Luiz Fernando de Souza, o Pezão, o candidato do governador Sérgio Cabral, na cabeça de chapa. Aposta-se no PT que Pezão não terá fôlego para sustentar uma candidatura competitiva e que Cabral não terá dificuldades para recuar quando vir o nome do aliado empacado nas pesquisas de opinião.
Em Belo Horizonte, apesar da rasteira sofrida de Aécio Neves, que determinou o expurgo petista da prefeitura, os antigos acham que o PT deve manter aliança com Marcio Lacerda. Mesmo que o PMDB lance um candidato próprio. "Nós não podemos dar nenhum pretexto para o pernambucano. O pernambucano é muito inteligente e gosta do poder. Não devemos brigar para não correr riscos".
Por fim tem São Paulo, o símbolo da mudança de geração. A aliança com o prefeito Gilberto Kassab é inviável, mas o PT deveria evitar dizer isso (o que não está acontecendo). O risco de Fernando Haddad não dar certo é a eleição ir para o segundo turno, sobretudo com Gabriel Chalita, do PMDB, que teria a capacidade de reunir a maioria dos outros partidos contra o PT. A derrota de Haddad não será uma derrota do ex-ministro ou do PT. Será a derrota de Lula.
O GLOBO - 31/01/12
A chanceler alemã, Angela Merkel, até muito recentemente não escondia sua insatisfação com a maneira descontraída com que o presidente francês, Nicolas Sarkozy, a beijava, e chegou a mandar um recado oficial, por meios diplomáticos, para que o francês evitasse tais mostras de intimidade inexistentes. Chegou a compará-lo com o personagem cômico inglês Mr. Bean.
A última chance Mas a crise europeia serviu para aproximar os dois, e antes mesmo que Sarkozy anuncie oficialmente sua candidatura à reeleição em maio, ela comunicou que está disposta a ajudá-lo na campanha.
No mesmo dia, aliás, em que o presidente francês apareceu na televisão em horário nobre para anunciar medidas impopulares, mas, segundo frisou, necessárias para a recuperação da competitividade da economia francesa.
Sarkozy, que, cinco anos atrás prometia criar uma França onde quem trabalhasse mais ganharia mais, a menos de três meses da eleição propôs aumentar impostos com o objetivo de financiar o sistema de proteção social — que já está sendo chamado de IVA social — e flexibilizar as leis trabalhistas para combater o desemprego.
Ele não conseguiu aprovar durante esses quase cinco anos de mandato mudanças na legislação trabalhista, por conta da reação dos sindicatos, e aproveita a crise econômica para mais uma vez tentar fazer essas alterações, especialmente a mais polêmica delas, que era seu carro-chefe na eleição passada: aumentar a carga horária de trabalho, que hoje é de 35 horas, desde que patrões e empregados concordem.
Uma taxação de 0,1% sobre as transações financeiras, a começar em agosto, pode retirar da França muitos negócios e já foi considerada pelo primeiro-ministro inglês, David Cameron, como "uma bobagem".
Embora tenha em Merkel um suporte de peso, pois a aproximação da França com a Alemanha é fundamental para a União Europeia, é em outro líder político alemão que ele se espelha.
Gerhard Schörder foi chanceler da Alemanha até 2005, quando foi derrotado pela própria Merkel, depois de tomar atitudes corajosas, mas impopulares, que no longo prazo incentivaram a economia e levaram o desemprego a suas taxas mais baixas.
A aparição de Sarkozy na televisão no domingo à noite, se não serviu para oficializar sua candidatura à reeleição, mostrou que ele está disposto a deixar o cargo, se as pesquisas se confirmarem, com a fama de ter tomado atitudes duras em detrimento da própria carreira política.
Sarkozy tenta, na reta final de uma eleição que parece estar perdida, se colocar como um chefe de Estado experiente e ponderado, contra uma suposta arrogância do candidato socialista, François Hollande, o favorito das pesquisas, que já anunciou que vai rever o acordo que está sendo negociado pela União Europeia a partir de hoje em Bruxelas, antes mesmo que ele tenha sido aprovado.
Na televisão, o presidente francês assumiu um ar de político sábio ao dizer que ele também, quando jovem, já fora muito arrogante, mas aprendeu com a experiência e encontra-se mais disposto ao diálogo hoje.
Isso apesar de ambos serem praticamente da mesma idade: Sarkozy fez 57 anos em janeiro, e Hollande fará 58 em agosto.
O candidato socialista deu uma "mancada" recentemente que está servindo de mote para que os apoiadores de Sarkozy ressaltem sua inexperiência.
Num discurso, ele atribuiu a frase "eles fracassaram porque não começaram pelo sonho" a Shakespeare, mas errou por muitos séculos.
Na verdade, o autor da frase é outro Shakespeare, o Nicholas, nascido em 1957. Foi o que bastou para que o primeiro-ministro François Fillon citasse uma frase "do verdadeiro Shakespeare", tirada da peça Macbeth — "Tenham coragem até o ponto do heroísmo e nós venceremos" —, para tentar animar a campanha de Sarkozy.
A relutância de Nicolas Sarkozy em anunciar sua candidatura à reeleição faz com que muitos de seus correligionários temam até mesmo que ele desista de competir.
Na semana passada, o jornal "Le Monde" publicou um desabafo particular do presidente no qual ele garantia que abandonará a política em caso de derrota em maio, o que provocou uma debandada de suas hostes.
Nos últimos dias, vários servidores saíram de ministérios ou repartições públicas, voltando às funções originais para esperar o novo governo que se formará.
O mesmo "Le Monde" revelou ontem uma reunião do chefe de gabinete de Alain Juppé, ministro das Relações Exteriores da França, com diplomatas que trabalham no Quai d"Orsay (o Itamaraty francês) pedindo lealdade profissional até o fim do governo, mesmo aos que têm posições políticas diferentes.
A última cartada dos apoiadores do presidente francês é justamente contrapor sua liderança na comunidade europeia à inexperiência administrativa de François Hollande, que deveria ter sido seu adversário há cinco anos, mas foi superado dentro do Partido Socialista pela então sua mulher Ségolène Royal.
Separados, agora é a vez de François Hollande concorrer à Presidência da França, e em um ambiente político bastante mais favorável aos socialistas.
O Estado de S. Paulo - 31/01/12
Partindo do princípio de que manda quem pode e obedece quem tem juízo, antes de pensar em formar uma chapa única para disputar a Prefeitura de São Paulo, é indispensável que Gilberto Kassab e o PT combinem com o eleitorado, o dono do voto.
Nessa perspectiva, de duas cenas vistas no dia do aniversário de São Paulo, semana passada, vale mais o exame do protesto de rua contra o prefeito que a busca de significados sobre os elogios dirigidos a Kassab pela presidente Dilma Rousseff.
Tanto faz se a manifestação seria ou não dirigida originalmente ao governador Geraldo Alckmin nem cabe considerar se havia orientação partidária no cerco a Kassab.
Para efeito de análise o importante é a constatação resultante: o clima político na capital paulista é tenso, as forças são polarizadas e o eleitorado, portanto, tem lado. E se isso se expressa no cotidiano, vai se expressar mais fortemente na campanha eleitoral.
Reside aí a dificuldade de certos arranjos partidários muito certinhos na teoria referida nos interesses das cúpulas, mas que na prática não são necessariamente aceitos pelo eleitor.
Principalmente o eleitor do PT. Por mais descaracterizado que esteja seu modelo original, o partido ainda é dos poucos (talvez o único) com forte dependência do discurso.
Diferentemente do PMDB - do PSD, então, nem se fala -, precisa dele para se manter agregado, para unificar a militância e mobilizá-la em busca da vitória com uma referência nítida.
Nitidez em geral sugere simplificação. Em São Paulo não tem muito jeito: ou o PT diz que é contra "tudo isso que está aí" ou não terá nada a dizer.
É a razão da resistência da seção paulista do partido e da cautela do candidato Fernando Haddad na abordagem do tema. Nas entrevistas ele tem preferido transparecer completa falta de entusiasmo em relação à hipótese da aliança.
Significa que está tudo resolvido, afastada a hipótese da aliança? Nem de longe, pois nesse reino há outras implicações, dilemas a serem resolvidos. Tudo bem, se casar com Kassab o PT perde o discurso, mas se não casar perde também: as benesses da máquina da Prefeitura, o trabalho da base de vereadores do prefeito e ainda se arrisca a se confrontar com um candidato de Kassab que eventualmente dê trabalho ao PT.
Por todas as dificuldades, o panorama mais provável hoje é que PT e PSD namorem muito, mas deixem compromissos mais firmes para o segundo turno.
Ainda assim não é uma jogada de fácil solução. Os termos do acordo precisam ter contrapartida e Gilberto Kassab, cujo objetivo é ser governador de São Paulo, certamente vai querer alguma compensação que futuramente o aproxime do Palácio dos Bandeirantes.
O problema é que essa também é a meta do PT, e aí a conta fica quase impossível de ser paga em termos vantajosos para ambos.
Risca de giz. Por enquanto, a resistência da senadora Marta Suplicy em participar das homenagens pré-campanha a Fernando Haddad é vista com naturalidade pela cúpula do PT nacional.
Afinal, argumenta-se, ela dispõe de cacife político significativo, é peça importante na eleição de São Paulo, pode perder a vice-presidência do Senado e não tem garantias de que assumirá um ministério. Portanto, natural que estique a corda em busca de uma compensação.
Mas tudo tem um limite. Já ultrapassado por Marta uma vez quando, ainda lutando pela candidatura a prefeita, confrontou-se com Lula e foi deixada de lado até por seu grupo no PT paulista.
O que se diz no partido é que cabe à senadora estabelecer o ponto de equilíbrio e saber reconhecer a fronteira entre o jogo normal da política e o exercício da impertinência partidária.
Correção. O sumiço de um travessão, em nota no artigo da edição de domingo, retirou do deputado Miro Teixeira a autoria da frase "até os Dez Mandamentos seriam vistos com desconfiança se saíssem de qualquer parlamento do planeta", agora devidamente restabelecida.
FOLHA DE SP - 31/01/12
Governo acredita que possa ajudar Cuba a transitar para uma economia mais aberta
Não se realizará a visita da presidente Dilma Rousseff a Cuba que está na cabeça de todas as entidades de direitos humanos. Gostariam que a presidente justificasse sua afirmação de que os direitos humanos estariam no centro de sua política externa e, portanto, fizesse pelo menos uma menção à situação na ilha caribenha.
Não fará. O chanceler Antonio Patriota, na sua passagem por Davos, na semana passada, afirmou que Dilma não falaria para os ouvidos dos jornalistas, no que é uma insinuação de que falará aos ouvidos dos dirigentes cubanos.
Duvido. Não combina com o estilo Dilma, ainda mais que Cuba faz parte do museu da memória sentimental da esquerda latino-americana, e Dilma cultiva essa memória, mesmo sendo uma democrata.
Até entendo a posição histórica do Itamaraty, neste como em governos anteriores, de respeitar sempre a soberania de cada país. Mas discordo: direitos humanos são (ou deveriam ser) patrimônio da humanidade e, portanto, devem ser defendidos acima de qualquer fronteira.
Passemos à segunda -e real- visita da presidente. Neste ponto, é preciso desbastar a linguagem diplomática do chanceler Patriota, para quem o objetivo prioritário da viagem é conversar "sobre a atualização do modelo econômico cubano, em busca de maior eficiência".
Na verdade, o governo brasileiro acredita, desde a administração anterior, que está em condições de ensinar algo de capitalismo a Cuba, privada dele nos últimos 50 e poucos anos. Não é uma vã pretensão. Cuba está dando os primeiros -e tímidos- passos rumo a uma versão caribenha do modelo chinês. Ou seja, economia parcialmente de mercado com ditadura.
Essa transição para o capitalismo, parcial ou não, foi sempre acompanhada de alta da desigualdade, na Rússia pós-soviética, nos países da Europa Oriental e até na China, apesar do formidável crescimento.
O que o chanceler Patriota considera, com grande exagero, "modelo brasileiro" não precisou transitar para o capitalismo, que nunca abandonou, mas conseguiu, com sucesso, sair da ditadura para a democracia, estabilizar a economia e, ao menos, não aumentar a desigualdade, embora não a tenha reduzido (só reduziu a diferença entre salários, mas não entre a renda do capital e a do trabalho, a verdadeira obscenidade).
A mais relevante contribuição brasileira para a transição cubana não será, entretanto, uma eventual aula teórica, mas algo bem mais concreto: o financiamento para a modernização do porto de Mariel, a 40 quilômetros de Havana.
Marco Aurélio Garcia, o assessor diplomático tanto de Lula como de Dilma, acredita que ampliar Mariel só faz sentido se for para o comércio com os Estados Unidos. Hoje, não existe, pelo embargo imposto pelos norte-americanos à ilha.
Logo, ao financiar o porto, o governo brasileiro acredita estar contribuindo para uma aproximação com os EUA (não, como é óbvio, em um ano eleitoral como 2012). Essa hipótese só se tornará possível se Cuba abrir sua economia sem grande tumulto. Se o fizer, mas continuar uma ditadura, não é um problema insolúvel para Washington (vide as relações com a China).
O Globo - 31/01/12
Vamos reconhecer, com uma pitada de generosidade - ou, quem sabe, com um montão de boa vontade - que dá um trabalho danado governar o Brasil inteiro, do Oiapoque ao Chuí, como se dizia antigamente.
Hoje, talvez seja adequado trocar a referência geográfica por outra, mais associada à natureza do problema. É complicado à beça tomar conta deste país tão grande quando para isso é necessário manter felizes e bem alimentados (no sentido figurado que a gente conhece muito bem: não estamos falando de barrigas cheias e sim de ambições atendidas) todos os partidos que garantem à presidente Dilma maioria no Congresso.
Em tese e em princípio, cargos no Executivo são ocupados por pessoas tão honestas quanto eficientes. Na prática, não é bem assim ou não é só assim: o leque de ministérios, diretorias e outras posições com algum peso político é montado tendo em vista principalmente o objetivo de garantir ao governo o apoio legislativo que lhe permita administrar o país como achar melhor. Parece uma explicação razoável, mas o que parece estar ficando visível é uma fragilidade preocupante do Executivo. Boas relações com o Legislativo são obviamente indispensáveis, mas não quando o preço do apoio é visivelmente alto demais.
Um episódio da semana passada ilustra isso com absoluta clareza - embora alguns cidadãos da plateia prefiram trocar "absoluta" por "vergonhosa". A presidente há poucos dias demitiu do Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (Dnocs) um protegido do deputado Henrique Alves (PMDB). Logo depois, ela teve a ousadia de anunciar que também seria mandado embora de uma subsidiária da Petrobras o ex-senador Sérgio Machado, outro afilhado do PMDB. O partido reagiu com indignação e Dilma recuou.
Aqui fora, a opinião pública tem direito a se declarar perplexa, para não dizer indignada. De duas, uma: ou existiam boas razões para mandar o ex-senador para o chuveiro, ou a sua demissão era injusta e não atendia ao interesse público. Seja qual for a verdade, a presidente sai do episódio com sua imagem dolorosamente arranhada.
Além disso, o apetite voraz dos partidos aliados por cargos no Executivo deixa no ar a desagradável impressão de que eles têm muito a ganhar com isso - talvez algo mais do que o aplauso da opinião pública por gestões honestas e eficientes.
FOLHA DE SP - 31/01/12
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O Esculhambador-geral da República!
E a manchete do Sensacionalista: "Polêmica: participante do 'Big Brother' teria lido um livro e pode ser expulso da casa". Foi flagrado folheando "O Ursinho Chorão"! E o ursinho foi estuprado? Rarará!
E olha esta numa vitrine de produtos chineses na Liberdade: "VENTIRADOR USB luminoso, R$ 12".
E já imaginou a Rita Lee e a Heloisa Helena juntas na delegacia em Aracaju? Rita: "Eu bato no delegado". E a Heloisa Helena: "Não, EEUUUU bato no delegado". Rarará!
E a Dilma? A Dilma Rouchefe? A Dilma tá em Cuba! Vai se encontrar com o Fidel, El Coma Andante! E diz que a saúde do Fidel tá impecável. Não dá mais nem pra pecar! Mas já enterrou cinco presidentes americanos! E novidades em Cuba: "Cargos políticos terão mandato máximo de dez anos". O Sarney ia chegar em Cuba devendo. Umas doze encarnações! Rarará!
E diz que a Dilma chegou cantando aquela marchinha dos anos 50! Da escadinha do avião: "O Brasil vai lançar foguete/ Quero ver Cuba lançar? Lança Cuba, lança!". Acho que não era uma marchinha, era uma ameaça: "Ou Cuba lança ou eu trago minhas amigas".
E o site Kibeloco diz que a nova presidente da Petrobras é clone do Ozzy Osbourne! Ela come morcego!
E tenho certeza que o Fidel vai aparecer vestindo aquele agasalho da Adidas! Que mudou o nome pra Fadigas. E Cuba é sensacional em saúde e educação. E FUNILARIA! Os cubanos são os melhores mecânicos do mundo! Aqueles carros americanos estão rodando há 50 anos! Cubano é bom de gambiarra!
E aí diz que chegaram pro Fidel: "A economia em Cuba é tão ruim que até as universitárias estão virando prostitutas". E o Fidel: "Ao contrário, Cuba tá tão bem que até as prostitutas são universitárias". E é verdade. Os primeiros empresários que chegarem a Cuba vão se dar bem. A melhor mão de obra qualificada das Américas!
E a Dilma vai pedir pro Obama acabar com o bloqueio de Cuba. As meninas do vôlei agradecem.
E atenção! Placa na cracolândia! "Para melhor atender sua seleta clientela, a cracolândia optou por fechar sua matriz em Campos Elíseos, ao mesmo tempo em que abriu 27 filiais em bairros vizinhos". Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza.
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
O Estado de S.Paulo - 31/01/11
O Brasil fez a festa em Davos - literalmente. Uma cintilante amostra da elite empresarial, dirigente e acadêmica do globo varou a madrugada de domingo sambando no Centro de Congressos do resort alpino, a convite da Apex, uma agência brasileira de promoção comercial, no encerramento do 42.º Fórum Econômico Mundial. Enquanto um telão reproduzia os melhores momentos da seleção na Copa de 1970, a do tri, bailarinos do renomado Grupo Corpo se revezavam com um grupo de bossa-nova para entreter o distinto público, energizado pelos quitutes da nova cozinha nacional, entre um sorvo e outro de caipirinha. Quando a cachaça acabou, reinou a vodca russa.
A noitada brasileira foi imaginada para exibir o alto-astral da economia brasileira, em contraste com o soturno panorama das ainda chamadas economias centrais. Se os executivos e autoridades que as representavam conhecessem a expressão, o pessimismo poderia tentar um ou outro a comparar a festança, no que lhes dissesse respeito, ao Baile da Ilha Fiscal, no Rio de Janeiro, em 9 de novembro de 1889, pelas bodas de prata da princesa Isabel e do conde d'Eu. O termo se tornou sinônimo de fim de um tempo porque seis dias depois a monarquia caiu no Brasil. Não que o Homem de Davos, como se designam os condutores e pensadores do capitalismo global, esteja à beira da extinção.
Mas nunca antes nos seus encontros anuais há de se ter visto tanta perplexidade - no caso, diante da persistência, se não o ressurgimento agravado da crise surgida com a quebra financeira de 2008. "Ninguém está imune", advertiu numa sessão a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI). Em um paradoxo que não escapou a ninguém, a número um da agência que resgatava países em apuros, deles exigindo em contrapartida férrea disciplina fiscal, ergueu a sua bolsa, enquanto enunciava uma versão mais elegante do brasileiríssimo "Me dá um dinheiro aí". Nesse clima, Davos terminou com uma certeza e uma interrogação - as mesmas que dominam o debate público na Europa inteira.
A certeza é de que o capitalismo, tal qual ele se constituiu nos últimos 30 anos, sob a hegemonia do sistema financeiro globalizado, precisa de conserto - para ontem. A interrogação é como fazê-lo. As formidáveis mudanças dessas últimas décadas na esfera econômica, sendo a aceleração do seu tempo histórico a não menos crucial entre elas, desencadearam choques estruturais que parecem refratários às ousadas reformas que salvaram o capitalismo da Grande Depressão dos anos 1930. Elas promoveram, já sobre os escombros sem paralelo da 2.ª Segunda Guerra Mundial, uma era também inédita de prosperidade e redução das diferenças sociais. A questão, no entanto, é como reproduzir hoje aquelas bem-sucedidas políticas keynesianas, que pressupõem e demandam o fortalecimento do Estado para estimular a economia.
De um lado, os próprios Estados nacionais do Primeiro Mundo, em situação falimentar, perderam muito dos meios de bancar a retomada do crescimento. De outro, a internacionalização do processo produtivo e a instantaneidade dos movimentos desabridos do capital privam os governos do poder efetivo de intervir de que dispunham decênios atrás. À falta de melhor, a maioria deles se inclina a cortar gastos, na expectativa de recuperar a capacidade perdida de atuação. Isso atinge o Estado do Bem-Estar Social, agravando as desigualdades já decorrentes da versão contemporânea da economia de mercado. Um marciano diria que estão dadas as condições objetivas para pôr em xeque o sistema de propriedade privada dos meios de produção.
Uma rápida visita ao 11.º Fórum Social Mundial de Porto Alegre, terminado domingo, o faria mudar imediatamente de ideia. O evento antítese de Davos teve em comum com aquele a penúria de propostas exequíveis para religar os motores do progresso e da desconcentração da riqueza.
O risco é que os fatos deem razão ao historiador marxista Eric Hobsbawn, de 94 anos. A certa altura de uma recente entrevista à BBC de Londres, quando o repórter se referiu a ele como portador de uma utopia, retrucou de bate-pronto: "Eu não! Sou absolutamente pessimista sobre o que vai acontecer nas próximas décadas".
O GLOBO - 31/01/12
Nunca vimos uma coisa assim. Ao menos, eu nunca vi. A herança maldita da política de sujas alianças que Lula nos deixou criou uma maré vermelha de horrores. Qualquer gaveta que se abra, qualquer tampa de lata de lixo levantada faz saltar um novo escândalo da pesada. Parece não haver mais inocentes em Brasília e nos currais do País todo. As roubalheiras não são mais segredos de gabinetes ou de cafezinhos. As chantagens são abertas, na cara, na marra, chegando ao insulto machista contra a presidente, desafiada em público. Um diz que é forte como uma pirâmide, outro que só sai a tiro, outro diz que ela não tem coragem de demiti-lo, outro que a ama, outro que a odeia. Canalhas se escandalizam se um técnico for indicado para um cargo técnico. Chego a ver nos corruptos um leve sorriso de prazer, a volúpia do mal assumido, uma ponta de orgulho por seus crimes seculares, como se zelassem por uma tradição brasileira.
Temos a impressão de que está em marcha uma clara "revolução dentro da corrupção", um deslavado processo com o fito explícito de nos acostumar ao horror, como um fato inevitável. Parece que querem nos convencer de que nosso destino histórico é a maçaroca informe de um grande maranhão eterno. A mentira virou verdade? Diante dos vídeos e telefonemas gravados, os acusados batem no peito e berram: "É mentira!" Mas, o que é a mentira? A verdade são os crimes evidentes que a PF e a mídia descobrem ou os desmentidos dos que os cometeram? Não há mais respeito, não digo pela verdade; não há respeito nem mesmo pela mentira.
Mas, pensando bem, pode ser que esta grande onda de assaltos à Republica seja o primeiro sinal de saúde, pode ser que esta pletora de vícios seja o início de uma maior consciência critica. E isso é bom. Estamos descobrindo que temos de pensar a partir da insânia brasileira e não de um sonho de razão, de um desejo de harmonia que nunca chega.
Avante, racionalistas em pânico, honestos humilhados, esperançosos ofendidos! Esta depressão pode ser boa para nos despertar da letargia de 400 anos. O que há de bom nesta bosta toda?
Nunca nossos vícios ficaram tão explícitos! Aprendemos a dura verdade neste rio sem foz, onde as fezes se acumulam sem escoamento. Finalmente, nossa crise endêmica está em cima da mesa de dissecação, aberta ao meio como uma galinha. Vemos que o País progride de lado, como um caranguejo mole das praias nordestinas. Meu Deus, que prodigiosa fartura de novidades sórdidas estamos conhecendo, fecundas como um adubo sagrado, tão belas quanto nossas matas, cachoeiras e flores. É um esplendoroso universo de fatos, de gestos, de caras. Como mentem arrogantemente mal! Que ostentações de pureza, candor, para encobrir a impudicícia, o despudor, a mão grande nas cumbucas, os esgotos da alma.
Ai, Jesus, que emocionantes os súbitos aumentos de patrimônio, declarações de renda falsas, carrões, iates, piscinas em forma de vaginas, açougues fantasmas, cheques podres, recibos laranjas de analfabetos desdentados em fazendas imaginárias.
Que delícia, que doutorado sobre nós mesmos!... Assistimos em suspense ao dia a dia dos ladrões na caça. Como é emocionante a vida das quadrilhas políticas, seus altos e baixos - ou o triunfo da grana enfiada nas meias e cuecas ou o medo dos flagrantes que fazem o uísque cair mal no Piantella diante das evidências de crime, o medo que provoca barrigas murmurantes, diarreias secretas, flatulências fétidas no Senado, vômitos nos bigodes, galinhas mortas na encruzilhada, as brochadas em motéis, tudo compondo o panorama das obras públicas: pontes para o nada, viadutos banguelas, estradas leprosas, hospitais cancerosos, orgasmos entre empreiteiras e políticos.
Parece que existem dois Brasis: um Brasil roído por ratos políticos e um outro Brasil povoado de anjos e "puros". E o fascinante é que são os mesmos homens. O povo está diante de um milenar problema fisiológico (ups!) - isto é, filosófico: o que é a verdade?
Se a verdade aparecesse em sua plenitude, nossas instituições cairiam ao chão. Mas, tudo está ficando tão claro, tão insuportável que temos de correr esse risco, temos de contemplar a mecânica da escrotidão, na esperança de mudar o País.
Já sabemos que a corrupção não é um "desvio" da norma, não é um pecado ou crime - é a norma mesmo, entranhada nos códigos, nas línguas, nas almas. Vivemos nossa diplomação na cultura da sacanagem.
Já sabemos muito, já nos entrou na cabeça que o Estado patrimonialista, inchado, burocrático é que nos devora a vida. Durante quatro séculos, fomos carcomidos por capitanias, labirintos, autarquias. Já sabemos que enquanto não desatracarmos os corpos públicos e privados, que enquanto não acabarem as emendas ao orçamento, as regras eleitorais vigentes, nada vai se resolver. Enquanto houver 25 mil cargos de confiança, haverá canalhas, enquanto houver Estatais com caixa-preta, haverá canalhas, enquanto houver subsídios a fundo perdido, haverá canalhas. Com esse Código Penal, com essa estrutura judiciária, nunca haverá progresso.
Já sabemos que mais de R$ 5 bilhões por ano são pilhados das escolas, hospitais, estradas. Não adianta punir meia dúzia. A cada punição, outros nascerão mais fortes, como bactérias resistentes a antigas penicilinas. Temos de desinfetar seus ninhos, suas chocadeiras.
Descobrimos que os canalhas são mais didáticos que os honestos. O canalha ensina mais. Os canalhas são a base da nacionalidade! Eles nos ensinam que a esperança tem de ser extirpada como um furúnculo maligno e que, pelo escracho, entenderemos a beleza do que poderíamos ser!
Temos tido uma psicanálise para o povo, um show de verdades pelo chorrilho de negaças, de "nuncas", de "jamais", de cínicos sorrisos e lágrimas de crocodilo. Nunca aprendemos tanto de cabeça para baixo. Céus, por isso é que sou otimista! Ânimo, meu povo! O Brasil está evoluindo em marcha à ré!
FOLHA DE SP - 31/01/12
O assunto das sacolinhas de supermercado está parecendo plástico: não se degrada. Volto, portanto, a comentá-lo, agora à luz de informações que recebi de leitores. Na verdade, tenho mais dúvidas do que respostas, mas são questões que valeria a pena esclarecer.
Comecemos pela ciência por trás das sacolas ecológicas agora vendidas pelos supermercados paulistas. Elas são feitas com o plástico oxibiodegradável, que são essencialmente polímeros convencionais aos quais se acrescenta um aditivo de amido de milho, que tem a propriedade de enfraquecer algumas das ligações químicas entre as moléculas -conhecidas como forças de Van der Waals.
O que os estudos mostram é que, com o aditivo, os plásticos se fragmentam bem mais rápido do que sem ele. Estamos falando de anos contra séculos. Mas ninguém ainda demonstrou que esses micropedaços se decompõem mais depressa.
Trabalhos como o do engenheiro Guilherme José Macedo Fechine sugerem que não. Nesse caso, teríamos uma poluição invisível que, embora com menor potencial para entupir bueiros, permaneceria por longos períodos no ambiente, onde ainda causaria vários tipos de dano.
Outro ponto problemático é o preço. Como explica o leitor Fritz Johansen, engenheiro que atua no setor de plásticos, as sacolas tradicionais saem, para os supermercados, por R$ 8 o quilo, o que representa um custo unitário de R$ 0,02. De acordo com Johansen, para chegar aos R$ 0,19 agora cobrados ao consumidor -um aumento de quase dez vezes-, seria preciso adicionar filamentos de ouro ou platina, não um pouco de amido.
Devemos mesmo rever nossos hábitos de consumo e evitar excessos que se tornarão um ônus para nossos filhos e netos. Mas é preciso que nossas resoluções ecológicas estejam amparadas em boa ciência e se pautem pela racionalidade, não pelo marketing interessado de lobbies e governantes.
Valor Econômico - 31/01/12
Há algumas semanas tive a oportunidade de afirmar nesta coluna que muitos economistas altamente qualificados manifestaram, no início dos anos 90 do século passado, dúvidas a respeito da possibilidade de uma moeda única poder funcionar na Comunidade Econômica Europeia.
Na antevéspera do lançamento do euro, 150 dos mais renomados e bem apetrechados economistas alemães assinaram um "manifesto" em que condenavam a precipitação de instituir o euro sem antes ter construído uma "área monetária ótima", acompanhada de uma forte coordenação das políticas fiscais entre os países e a construção de um Banco Central autônomo, que pudesse, de fato, exercer a sua função de "emprestador de última instância" nos momentos de crise. Essas, seguramente, pela própria natureza da economia de mercado, viriam a existir. Recebi um e-mail de um gentil leitor perguntando se poderia dar exemplos além dos economistas alemães.
Vou tentar atendê-lo revelando as opiniões de dois brilhantes monetaristas que em 1963 publicaram uma das obras-primas da literatura econômica do século XX, Milton Friedman e Anna Schwartz ("A Monetary History of the United States: 1867-1960"). Em entrevistas independentes, dadas, respectivamente, em junho de 1992 e setembro de 1993 para a magnífica revista do Federal Reserve Bank of Minneapolis, eles falaram sobre o assunto.
Dificuldade do euro está no desequilíbrio das taxas
À pergunta (junho de 1992): "Qual é a sua opinião sobre o projeto de uma moeda única na eurolândia?", Friedman respondeu: "Não creio que funcione na minha geração. Talvez na sua, mas não tenho qualquer certeza"... e acrescentou: "Seria altamente desejável que a Europa tivesse uma única moeda, da mesma forma que temos nos EUA. Mas para tê-la você precisa de uma área onde as pessoas e os bens movam-se livremente e na qual exista suficiente homogeneidade de interesses, para que não haja estresse político criado pelo desenvolvimento desigual das diferentes partes da área. Para ilustrar. Temos hoje (1992) uma região dos EUA ("Northeast in general"), em grave dificuldade. Se ela fosse um país separado dos EUA, com outra língua e com um suposto governo nacional próprio, seria fortemente tentada a realizar uma desvalorização cambial, o que não pode fazer... Além do mais, a eurolândia deveria ter um verdadeiro Banco Central com toda autoridade, o que implica fechar a Banque de France, a Banca d"Italia e o Deutsche Bundesbank... Os planos pretendem isso, mas é claro que entre pretender e fazer há uma imensa distância"...
No mesmo diapasão, temos Anna Schwartz. À pergunta (setembro de 1993) "Tem a história alguma lição a dar aos planejadores da união monetária da Europa?", ela respondeu: "Os planejadores da União Europeia deveriam estudar com muito cuidado as razões pelas quais o "gold standard"-, anterior à Primeira Guerra Mundial, foi um regime bem-sucedido; por que a Conferência Econômica de Gênova, de 1922, e a Conferência Econômica de Londres, de 1933, falharam; por que o "gold standard" entre as duas guerras entrou em colapso; por que o acordo de Bretton Woods não sobreviveu à inflação dos EUA; por que o Exchange Rates Mechanism (firmado ente os países europeus para coordenar suas taxas de câmbio) está nas "cordas" desde 1992. A lição do passado é que um regime monetário só é bem-sucedido quando países com os mesmos objetivos sofrem os mesmos choques. Os países-membros devem estar dispostos a ceder sua soberania a uma autoridade monetária transnacional. Num mundo de incertezas e choques não antecipados, os países têm prioridades nacionais, que não podem prescindir do uso de políticas monetárias domésticas e, portanto, resistem a assumir compromisso com um único objetivo: a estabilidade dos preços". E termina afirmando que "a história dos regimes monetários internacionais sugere que a união monetária europeia é a non starter"!
Vemos que Friedman e Schwartz (com alguma teoria e muita história) colocam o dedo na real dificuldade do euro: o desequilíbrio das taxas de câmbio nominalmente fixadas na moeda única, mas "virtualmente" flutuantes dentro da zona do euro, pelo dinamismo diferente da economia de cada um de seus membros.
Esse problema só desaparece quando temos uma federação de fato, como é o caso dos EUA, do Brasil e da Alemanha, onde um poder central redistribui para as regiões, que têm um déficit "virtual" em contas correntes, parte dos recursos tributários recolhidos nas outras, sem que aquelas tenham de reduzir seu crescimento ou endividar-se.
Nada disso é novidade. Aliás, foram as dificuldades cambiais dentro do "gold standard" que levaram à tentativa de mimetizar uma desvalorização cambial sem, de fato realizá-la. Um exemplo é o esquema primitivo de Keynes nos anos 30: uma tarifa "ad-valorem" sobre todas as importações e o uso dos seus recursos para subsidiar as exportações, que recebeu o nome de "desvalorização fiscal".
Quem tiver disposição para ver os "progressos" dessa ideia usando o modelo novo keynesiano de Equilíbrio Dinâmico Geral Estocástico (DSGE), não deve perder o artigo "Fiscal Devaluation", (NBER - Working Paper 17.662, de dezembro/ 2011), onde outros instrumentos para tentar realizá-la (aumento de impostos indiretos e redução das contribuições sociais) são sugeridos. Fé, coragem e bom apetite!
FOLHA DE SP - 31/01/12
Na década de 50, o filósofo alemão Theodor Adorno (1903-1969) uniu-se a um grupo de psicólogos sociais norte-americanos para desenvolver um estudo pioneiro sobre o potencial autoritário inerente a sociedades de democracia liberal, como os Estados Unidos.
O resultado foi, entre outras coisas, um conjunto de testes que permitiam produzir uma escala (conhecida como Escala F, de "fascismo") que visava medir as tendências autoritárias da personalidade individual.
Por mais que certas questões de método possam atualmente ser revistas, o projeto do qual Adorno fazia parte tinha o mérito de mostrar como vários traços do indivíduo liberal tinham profundo potencial autoritário.
O que explicava porque tais sociedades entravam periodicamente em ondas de histeria coletiva xenófoba, securitária e em perseguições contra minorias.
O que Adorno percebeu na sociedade norte-americana vale também para o Brasil. Na semana passada, esta Folha divulgou pesquisa mostrando como a grande maioria dos entrevistados apoia ações truculentas como a internação forçada para dependentes de drogas e intervenções policiais espetaculares como as que vimos na cracolândia.
Se houvesse pesquisa sobre o acolhimento de imigrantes haitianos e sobre a posição da população em relação à ditadura militar, certamente veríamos alguns resultados vergonhosos.
Tais pesquisas demonstram como a idealização da força é uma fantasia fundamental que parece guiar populações marcadas por uma cultura contínua do medo.
É preferível acreditar que há uma força capaz de "colocar tudo em ordem", mesmo que por meio da violência cega, do que admitir que a vida social não comporta paraísos de condomínio fechado.
Sobre qual atitude tomar diante de tais dados, talvez valha a pena lembrar de uma posição do antigo presidente francês François Mitterrand (1916-1996).
Quando foi eleito pela primeira vez, em 1981, Mitterrand prometera abolir a pena de morte na França. Todas as pesquisas de opinião demonstravam, no entanto, que a grande maioria dos franceses era contrária à abolição.
Mitterrand ignorou as pesquisas. Como se dissesse que, muitas vezes, o governo deve levar a sociedade a ir lá aonde ela não quer ir, lá aonde ela ainda não é capaz de ir. Hoje, a pena de morte é rejeitada pela maioria absoluta da população francesa.
Tal exemplo demonstra como o bom governo é aquele capaz de reconhecer a existência de um potencial autoritário nas sociedades de democracia liberal e a necessidade de não se deixar aprisionar por tal potencial.
FOLHA DE SP - 31/01/12
A atriz Bárbara Paz voltou a encenar a peça "Hell", no teatro Eva Herz, ao lado de Paulo Azevedo. A atriz Mariana Hein, entre outros convidados, assistiu ao espetáculo, dirigido por Hector Babenco.
TREM NA LINHA
O trecho da linha 8 - Diamante da CPTM, em Itapevi (SP), onde dois trens bateram na quinta passada está na mira do Ministério Público. A promotora Sandra Reimberg, que atua na cidade, instaurou inquérito para apurar eventuais falhas no sistema. Os trens vinham em sentidos opostos e colidiram quando um deles trocava de trilhos.
ROTA DE COLISÃO
A CPTM também responde a uma ação proposta pela Promotoria para resolver problemas de segurança nas passagens em nível que cruzam a linha férrea na cidade. A companhia não foi notificada do inquérito sobre o choque de trens. Sobre os cruzamentos, diz que prestou as informações em juízo.
LONGE DAS DROGAS
Mais de 70 crianças foram atendidas no Espaço de Convivência Mauá (Tenda Mauá), na cracolândia, em 80 dias de funcionamento. O local, criado pela Secretaria Municipal de Assistência Social para jovens da região, encaminhou 33 menores para o tratamento contra a dependência. Outros 18 aceitaram ir para abrigos e nove pediram para retornar às suas famílias.
LONGE DAS DROGAS 2
A secretária e vice-prefeita Alda Marco Antonio diz que "o objetivo é tornar o local mais atraente que as ruas". No espaço, jovens de oito a 17 anos recebem atendimento social e psicológico, podem tomar banho, comer e fazer aulas de dança.
EU GARANTO
O deputado Paulo Maluf (PP-SP), aliado do governo Geraldo Alckmin (PSDB-SP), cortejou o secretário da Cultura e pré-candidato a prefeito Andrea Matarazzo, na inauguração do MAC-USP, no sábado. "Não vou ofender ninguém [os outros pré-candidatos tucanos] agora, mas não tenho dúvida de que ele seria um grande prefeito."
MENINA DOS OLHOS
O presidente da Federação Paulista de Futebol, Marco Polo del Nero, se empenha pessoalmente na divulgação do programa "Futebol e Criança", que a entidade estreou na Rede Vida. Disparou torpedos pedindo que seus contatos assistam à atração comandada por Carol Galan.
FOME NA MODA
Os visitantes da São Paulo Fashion Week reclamaram principalmente das opções de alimentação ("poucas" e de "alto custo"), da decoração, do estacionamento, dos banheiros e da falta de lugares para sentar nas áreas comuns do evento, encerrado na terça passada. Os dados são de pesquisa feita pela SPTuris com frequentadores da semana de moda.
TURISTA FASHION
Os principais elogios, segundo o relatório, foram à beleza dos desfiles. Os turistas representaram 11,8% do público da SPFW. Ficaram em média cinco dias na cidade, com gasto de R$ 2.622,70 por pessoa.
E O TROFÉU VAI PARA
Os atores Tuca Andrada e Márcia Cabrita serão os mestres de cerimônia da entrega do Prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes) para os melhores do ano na cultura, no dia 13 de março, no Sesc Pinheiros.
DE CASA NOVA
Milú Villela, do Itaú Cultural, e os artistas Alex Flemming, Claudio Tozzi e Emanoel Araujo foram à inauguração do novo MAC.
CURTO-CIRCUITO
A festa Top Night Mercedes-Benz acontece na quinta, para convidados, na Casa Fasano.
Hirosuke Kitamura abre amanhã a mostra "Hidro", na 1500 Gallery, em NY.
Valdir Cimino, da Associação Viva e Deixe Viver, presta consultoria para o Hospital Sabará.
O festival Música em Trancoso oferecerá aulas para alunos de escolas públicas.
com DIÓGENES CAMPANHA (interino), LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY