CORREIO BRAZILIENSE - 19/06
Novidade na última pesquisa de intenções de voto de São Paulo seria se Haddad continuasse onde estava depois da exposição ao lado de Lula. A tendência é crescer até o teto do PT. Mas, se malufar demais, terá problemas
Os petistas comemoraram como o maior feito eleitoral do mundo a subida de cinco pontos registrada por Fernando Haddad na última pesquisa sobre a intenção de voto em São Paulo. Mas, cá entre nós, leitor, cabe a pergunta: comemorar o quê? O candidato apenas fez aquilo que o partido há tempos esperava dele: apresentar algum fôlego e começar a conquistar pontos na proporção da carteira eleitoral petista em São Paulo, algo entre 25% e 30%. Por enquanto, está em 8%. Sou capaz de apostar que, nas próximas pesquisas, se seguir a ordem natural das coisas, o candidato crescerá mais.
Haddad tem Lula, Dilma Rousseff, o PT, o PSB e o PP de Paulo Maluf. E tempo de tevê para exibi-los (embora haja controvérsias no PT sobre desfiles públicos ao lado de Maluf). Na proporção em que o eleitor identificar o ex-ministro com o PT, o candidato coletará mais votos entre os paulistanos. O problema é essa identificação, que não se dará ao lado de Maluf. Luiza Erundina (PSB), a candidata a vice, está com um pé fora da chapa, para lá de insatisfeita com a "malufada" de seu parceiro. Erundina passou a vida criticando Maluf e seus aliados têm dúvidas da quantidade de votos que ele agrega. Isso porque, da mesma forma que os petistas torcem o nariz para o aliado recém-chegado, os eleitores malufistas fazem cara de enfado para o PT. É ao longo da campanha que veremos se haverá alguma novidade nesse comportamento.
Por falar em comportamento...
Em São Paulo, chama a atenção também a forma como os políticos tradicionais desprezam os demais candidatos, que não o líder nas pesquisas, o ex-governador José Serra, e o ex-ministro Fernando Haddad, que aparece empatado com Soninha Francine (PPS). Fala-se muito pouco, por exemplo, do segundo colocado, o deputado Celso Russomano (PRB-SP), que se mantém meio que... em "carreira solo", digamos assim. Russomano não tem nada do que embala Haddad ou Serra. E corre o risco de viver uma trajetória inversa àquela prevista para o petista.
O PRB não tem um tempo de tevê suficiente para fazer frente aos adversários, tampouco um grande partido. Mantida a lógica de quanto maior o tempo de tevê, maior o número de votos, a tendência é Russomano minguar a partir de agosto, quando começa o horário eleitoral gratuito. E, certamente, esses eleitores de Russomano serão os mais disputados no primeiro turno. E, se a mola desses 21% for a empatia na tevê, é bom os analistas não desprezarem o peemedebista Gabriel Chalita.
Chalita é hoje um ex-tucano espremido entre duas máquinas — a local, fechada com Serra, e a federal, seguidora de Haddad, ao ponto de trocar o secretário de Saneamento do Ministério das Cidades para conquistar Maluf. Mas não dá para deixar de lado que foi o segundo deputado federal mais votado em São Paulo. A campanha dele, por sinal, nem começou, enquanto a de Haddad já está nos programas populares de tevê junto com Lula.
Por falar em começo...
Confirmadas as projeções dos petistas e tucanos que torcem por um segundo turno entre os dois partidos, a eleição paulistana caminhará para o que dá título a esta coluna: um embate de rejeições. A de Serra está na casa dos 30%. Embora a de Fernando Haddad seja baixíssima, é de se supor que crescerá no momento em que o eleitor começar a identificá-lo com o PT. Ou seja, da mesma forma que ele conquistará votos de um grupo, perderá de outro.
Não dá para deixar de lembrar, por exemplo, que o processo do mensalão estará em julgamento no Supremo Tribunal Federal na temporada eleitoral e será mais um ingrediente capaz de mexer com a cabeça dos eleitores paulistanos. Ou seja, mais um fator capaz de puxar o candidato para baixo ao longo da campanha. Nessa batida, se Haddad angariar a rejeição do PT, a disputa será mesmo entre qual dos dois o eleitor paulistano rejeitará menos. Mas esse é um capítulo ainda distante da novela. O novelista, o eleitor paulistano, ainda não escreveu nem os primeiros capítulos. Quanto mais o fim desse enredo. Vamos aguardar.
Por falar em Supremo Tribunal Federal...
Enquanto muitos, inclusive eu, focam suas atenções principais à Rio+20 a partir de hoje, a turma do PSD não tira os olhos das sessões do STF. É que estará em pauta esta semana a ação sobre o tempo de tevê e fundo partidário do partido de Gilberto Kassab. Seu secretário-geral, Saulo Queiroz, de aniversário na próxima sexta-feira, tem dito a amigos que, "é difícil ganhar um presente do STF, mas o que ele mais gostaria era uma decisão favorável ao tempo de tevê do PSD". Esse será um dos assuntos quentes em Brasília. Vamos acompanhar.
terça-feira, junho 19, 2012
Alô? - SONIA RACY
O ESTADÃO - 19/06
O Procon-SP acaba de finalizar ranking das operadoras de telefonia móvel que mais geraram reclamações no Estado entre 1º de janeiro e 14 de junho. A campeã é a Claro; depois vêm TIM, Oi, Vivo e Nextel.
Principais queixas? Cobrança indevida, problemas no contrato e serviço não fornecido.
Reta finalTem gente vendo conspiração no fato de Lily Safra ter entrado na Justiça pedindo mais dinheiro pela venda do Ponto Frio justamente agora - depois de três anos.
Tudo porque o homem de Lily no Brasil, Marcelo Trindade, também é advogado de Jean-Charles Naouri.
Reta final 2Ao que tudo indica, os demais conselheiros do Pão de Açúcar permanecerão em suas cadeiras na reunião de sexta-feira.
Naouri indicou três nomes. Pedro e João Paulo Diniz sairão, e há uma 3ª vaga em aberto.
Mesmo de sempreCondenando o golpe de Estado no Egito, importante egípcio que mora no Brasil lembra que essa “elite” não é só militar, como pensam muitos. Ela é composta também por toda a força econômica do país.
“Agora, é esperar como vão reagir as ruas”, pondera.
ArmadoVoltando anteontem na última ponte aérea Rio-São Paulo da TAM, o time do Santos não parecia animado.
Entretanto, ao ser indagado sobre o jogo de amanhã contra o Corinthians, Muricy Ramalho atirou: vai ser mais agressivo do que o anterior.
Corpo foraO técnico se recusou a falar sobre a polêmica em torno da convocação de Neymar, que gerou bate-boca entre Luis Alvaro e Andrés Sanchez. “Isso não é comigo.”
In dubioFila e indignação, ontem, na Defensoria Pública da União em São Paulo. O atendimento está parcialmente suspenso por falta de servidores.
Só casos em que há risco de danos à vida, saúde ou liberdade estão recebendo senhas.
SegundonaSem CPI e com a Rio+20, tão tranquilo está o Congresso que o ponto alto, ontem, no Senado foi… a comemoração dos 50 anos do Acre.
Bendita insôniaBia Lessa se superou nesta Rio+20. Idealizado pela cenógrafa e construído no Forte de Copacabana, o pavilhão Humanidade 2012 surpreende, informa e exibe beleza plástica para lá de impactante. Como foi a criação? “Olha, não durmo quase nada, e é à noite que as soluções me vêm à cabeça”, explica.
A artista paulistana transformou dados fornecidos pela Firjan e pela Fiesp em poesia.
Fica, vaiFilas gigantes de mais de duas horas, a edificação será desmontada sexta-feira. Possibilidade de prorrogação? “A Tour Eiffel foi construída para ser provisória”, lembrou à coluna, enigmático, o prefeito Eduardo Paes- o Rio é um dos patrocinadores.
Ao que rebate Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, da Firjan, responsável (com a Fiesp) pela ideia. “Tenho aqui mais de cem funcionários da federação. Se não voltarem pra lá, eu fecho.” A torcida para que ela se estenda é grande.
Blowing in RioTeve espectador que não entendeu por que diabos Eduardo Suplicy fez seu discurso em inglês arrastado, sábado, na Rio+20.
Detalhe: todos os painéis têm tradução simultânea.
Até quando?O Esch Café, na Lorena, foi o alvo na sexta. Dois assaltantes armados chegaram de moto e fizeram a limpa - levaram os celulares à vista e três relógios Rolex.
Na frenteMariangela Bordon pilota lançamento de sabonetes da linha Bioliquid, da Eos. Amanhã, em Pinheiros.
É dia 26 que Julio Ribeiro, da Talent, lança livro. No Lounge One do Iguatemi.
Jorge Mattar, Guilherme Schettino, Luiz Francisco Cardoso e Fernando Ganem relançam livro. Hoje, no Instituto Sírio-Libanês de Ensino e Pesquisa.
Marcos Proença inaugura, hoje, sua Barber Shop na Noir, Le Lis.
João Carlos Martins rege a Filarmônica Bachiana. Hoje, no Teatro CIEE.
Tadeu Chiarelli lança livro. Amanhã, na Livraria Martins Fontes.
Acontece, hoje, o debate Existe Amor em SP. Com Danilo Miranda, Criolo e Fernando Luna. Nos Jardins.
Registrado, por um príncipe saudita, pequeno erro na capela do pavilhão da Humanidade 2012 - construído para a Rio+20, no Forte de Copacabana. Os escritos em árabe foram colados… ao contrário.
O Procon-SP acaba de finalizar ranking das operadoras de telefonia móvel que mais geraram reclamações no Estado entre 1º de janeiro e 14 de junho. A campeã é a Claro; depois vêm TIM, Oi, Vivo e Nextel.
Principais queixas? Cobrança indevida, problemas no contrato e serviço não fornecido.
Reta finalTem gente vendo conspiração no fato de Lily Safra ter entrado na Justiça pedindo mais dinheiro pela venda do Ponto Frio justamente agora - depois de três anos.
Tudo porque o homem de Lily no Brasil, Marcelo Trindade, também é advogado de Jean-Charles Naouri.
Reta final 2Ao que tudo indica, os demais conselheiros do Pão de Açúcar permanecerão em suas cadeiras na reunião de sexta-feira.
Naouri indicou três nomes. Pedro e João Paulo Diniz sairão, e há uma 3ª vaga em aberto.
Mesmo de sempreCondenando o golpe de Estado no Egito, importante egípcio que mora no Brasil lembra que essa “elite” não é só militar, como pensam muitos. Ela é composta também por toda a força econômica do país.
“Agora, é esperar como vão reagir as ruas”, pondera.
ArmadoVoltando anteontem na última ponte aérea Rio-São Paulo da TAM, o time do Santos não parecia animado.
Entretanto, ao ser indagado sobre o jogo de amanhã contra o Corinthians, Muricy Ramalho atirou: vai ser mais agressivo do que o anterior.
Corpo foraO técnico se recusou a falar sobre a polêmica em torno da convocação de Neymar, que gerou bate-boca entre Luis Alvaro e Andrés Sanchez. “Isso não é comigo.”
In dubioFila e indignação, ontem, na Defensoria Pública da União em São Paulo. O atendimento está parcialmente suspenso por falta de servidores.
Só casos em que há risco de danos à vida, saúde ou liberdade estão recebendo senhas.
SegundonaSem CPI e com a Rio+20, tão tranquilo está o Congresso que o ponto alto, ontem, no Senado foi… a comemoração dos 50 anos do Acre.
Bendita insôniaBia Lessa se superou nesta Rio+20. Idealizado pela cenógrafa e construído no Forte de Copacabana, o pavilhão Humanidade 2012 surpreende, informa e exibe beleza plástica para lá de impactante. Como foi a criação? “Olha, não durmo quase nada, e é à noite que as soluções me vêm à cabeça”, explica.
A artista paulistana transformou dados fornecidos pela Firjan e pela Fiesp em poesia.
Fica, vaiFilas gigantes de mais de duas horas, a edificação será desmontada sexta-feira. Possibilidade de prorrogação? “A Tour Eiffel foi construída para ser provisória”, lembrou à coluna, enigmático, o prefeito Eduardo Paes- o Rio é um dos patrocinadores.
Ao que rebate Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, da Firjan, responsável (com a Fiesp) pela ideia. “Tenho aqui mais de cem funcionários da federação. Se não voltarem pra lá, eu fecho.” A torcida para que ela se estenda é grande.
Blowing in RioTeve espectador que não entendeu por que diabos Eduardo Suplicy fez seu discurso em inglês arrastado, sábado, na Rio+20.
Detalhe: todos os painéis têm tradução simultânea.
Até quando?O Esch Café, na Lorena, foi o alvo na sexta. Dois assaltantes armados chegaram de moto e fizeram a limpa - levaram os celulares à vista e três relógios Rolex.
Na frenteMariangela Bordon pilota lançamento de sabonetes da linha Bioliquid, da Eos. Amanhã, em Pinheiros.
É dia 26 que Julio Ribeiro, da Talent, lança livro. No Lounge One do Iguatemi.
Jorge Mattar, Guilherme Schettino, Luiz Francisco Cardoso e Fernando Ganem relançam livro. Hoje, no Instituto Sírio-Libanês de Ensino e Pesquisa.
Marcos Proença inaugura, hoje, sua Barber Shop na Noir, Le Lis.
João Carlos Martins rege a Filarmônica Bachiana. Hoje, no Teatro CIEE.
Tadeu Chiarelli lança livro. Amanhã, na Livraria Martins Fontes.
Acontece, hoje, o debate Existe Amor em SP. Com Danilo Miranda, Criolo e Fernando Luna. Nos Jardins.
Registrado, por um príncipe saudita, pequeno erro na capela do pavilhão da Humanidade 2012 - construído para a Rio+20, no Forte de Copacabana. Os escritos em árabe foram colados… ao contrário.
Consumo e investimento - ANTONIO DELFIM NETTO
VALOR ECONÔMICO - 19/06
O Brasil é um país curioso. Frequentemente metemo-nos em discussões ociosas, que obscurecem os problemas em lugar de iluminá-los. É o caso, agora, dessa questão aparentemente transcendental, de saber se o que pode elevar o PIB no curto prazo é o consumo ou o investimento. Consumo e investimento são umbilicalmente ligados quando consideramos como dado o PIB pelo lado da demanda global, como se pode ver numa economia simplificada ao extremo como a exposta abaixo.
Tudo o que foi fisicamente produzido numa unidade de tempo na economia (por hipótese sem governo e sem comércio exterior), só pode ter dois destinos: ser consumido ou não. Chamemos o não consumido de poupança e façamos a hipótese que ela foi "investida" para aumentar o estoque de capital da sociedade sobre o qual age a força de trabalho ativa para produzir o PIB.
Como se reparte a demanda global entre consumo e investimento tem sido tema de discussão na economia desde a origem dos tempos, mas até agora nenhuma teoria resistiu às torturas econométricas. Pelo menos dois fatores parecem determinar empiricamente o nível do consumo: tamanho do próprio PIB e o valor da "riqueza potencial" do consumidor, que podemos assimilar ao crédito de que ele dispõe. A utilização desse crédito, por sua vez, depende da taxa de juros real da economia e do seu prazo. Com relação ao investimento, que aumenta a capacidade produtiva, é a mesma coisa: ele parece depender de muitas variáveis, mas no esqueleto que estamos construindo vamos supo-lo dependente apenas da taxa de juros real.
A política econômica parece estar no caminho correto
A que nos levam tantas hipóteses? Que deve haver um equilíbrio no tempo entre o consumo e o investimento para que o sistema funcione e cresça continuadamente a capacidade produtiva.
Para entender isso um pouco melhor, continuemos com algumas hipóteses heroicas. Suponhamos que o PIB máximo que pode ser produzido depende apenas do estoque de capital disponível, que essa relação seja direta e estável e que seu uso não reduza sua quantidade (depreciação nula). Por exemplo, três unidades de capital adequadamente utilizadas pela força de trabalho empregada produzem no ano uma unidade do PIB, ou seja a "produtividade" do capital é 1/3.
De que depende o crescimento da capacidade produtiva dessa sociedade quando não há restrição de oferta de mão de obra? Apenas do aumento do estoque de capital (que, por hipótese, não diminui com sua utilização). Em outras palavras, apenas do nível de investimento com relação ao PIB.
Deve ter ficado claro nessa construção extremamente simplificada que: 1) dada a capacidade produtiva da sociedade (no caso o estoque de capital sobre o qual se aplica o trabalho), ela determina o limite superior do PIB que pode ser produzido; 2) o nível do uso dessa capacidade, isto é, o PIB que será produzido, depende da demanda global. Basicamente, do nível de crédito dos consumidores (influenciado pela taxa de juro real e pelo prazo concedido) somado ao nível de investimento (que depende da taxa de juro real); e 3) a taxa de crescimento do PIB (não o seu nível) depende da produtividade do capital e da taxa de investimento com relação ao PIB.
A boa notícia é que, a despeito da sua simplicidade, tal modelo contém a essência do desenvolvimento descarnado de toda complexidade. Podemos modificar todas as "hipóteses heroicas" e, ainda assim, o núcleo do processo é que consumo e investimento têm relações múltiplas entre eles. A elevação da demanda global no curto prazo pode, sim, ser estimulada pelo aumento do crédito ao consumidor e/ou pelo investimento. O efeito adicional do investimento é que, além de ampliar a demanda de consumo no curto prazo, pavimenta o aumento da capacidade produtiva e, assim, aumenta o desenvolvimento futuro.
É claro que tirar recomendações normativas de modelos abstratos como esse é sempre uma temeridade, mas a intuição mostra que a política econômica do governo (fiscal, monetária e cambial) parece estar no caminho correto, aumentando a demanda interna no curto prazo pela redução da taxa de juros real, pela ampliação do nível de crédito e pela redução do déficit do balanço em conta corrente. O problema é que isso eleva o nível do PIB mas, por si só, não aumenta a capacidade produtiva e, logo, inibe o crescimento futuro.
É necessário cooptar o setor privado para a ampliação dos investimentos públicos através de concessões (o recente leilão das telecomunicações, pela ação do competente ministro Paulo Bernardo, foi exemplar), de parcerias público-privadas etc. Mesmo crescendo menos em 2012 do que em 2011, devemos terminar o ano com o PIB rodando em torno de 4% a 4,5% entre o último trimestre deste ano e o seu homólogo do ano passado.
Precisamos preparar o ambiente de negócios para manter esse crescimento ao longo de 2013 e seguintes, insistindo na melhoria do sistema tributário, no aumento da competição interna, na flexibilização do mercado de trabalho e no fortalecimento da segurança jurídica nas relações comerciais, que têm sido seriamente prejudicadas com intervenções desajeitadas do Poder Judiciário.
O Brasil é um país curioso. Frequentemente metemo-nos em discussões ociosas, que obscurecem os problemas em lugar de iluminá-los. É o caso, agora, dessa questão aparentemente transcendental, de saber se o que pode elevar o PIB no curto prazo é o consumo ou o investimento. Consumo e investimento são umbilicalmente ligados quando consideramos como dado o PIB pelo lado da demanda global, como se pode ver numa economia simplificada ao extremo como a exposta abaixo.
Tudo o que foi fisicamente produzido numa unidade de tempo na economia (por hipótese sem governo e sem comércio exterior), só pode ter dois destinos: ser consumido ou não. Chamemos o não consumido de poupança e façamos a hipótese que ela foi "investida" para aumentar o estoque de capital da sociedade sobre o qual age a força de trabalho ativa para produzir o PIB.
Como se reparte a demanda global entre consumo e investimento tem sido tema de discussão na economia desde a origem dos tempos, mas até agora nenhuma teoria resistiu às torturas econométricas. Pelo menos dois fatores parecem determinar empiricamente o nível do consumo: tamanho do próprio PIB e o valor da "riqueza potencial" do consumidor, que podemos assimilar ao crédito de que ele dispõe. A utilização desse crédito, por sua vez, depende da taxa de juros real da economia e do seu prazo. Com relação ao investimento, que aumenta a capacidade produtiva, é a mesma coisa: ele parece depender de muitas variáveis, mas no esqueleto que estamos construindo vamos supo-lo dependente apenas da taxa de juros real.
A política econômica parece estar no caminho correto
A que nos levam tantas hipóteses? Que deve haver um equilíbrio no tempo entre o consumo e o investimento para que o sistema funcione e cresça continuadamente a capacidade produtiva.
Para entender isso um pouco melhor, continuemos com algumas hipóteses heroicas. Suponhamos que o PIB máximo que pode ser produzido depende apenas do estoque de capital disponível, que essa relação seja direta e estável e que seu uso não reduza sua quantidade (depreciação nula). Por exemplo, três unidades de capital adequadamente utilizadas pela força de trabalho empregada produzem no ano uma unidade do PIB, ou seja a "produtividade" do capital é 1/3.
De que depende o crescimento da capacidade produtiva dessa sociedade quando não há restrição de oferta de mão de obra? Apenas do aumento do estoque de capital (que, por hipótese, não diminui com sua utilização). Em outras palavras, apenas do nível de investimento com relação ao PIB.
Deve ter ficado claro nessa construção extremamente simplificada que: 1) dada a capacidade produtiva da sociedade (no caso o estoque de capital sobre o qual se aplica o trabalho), ela determina o limite superior do PIB que pode ser produzido; 2) o nível do uso dessa capacidade, isto é, o PIB que será produzido, depende da demanda global. Basicamente, do nível de crédito dos consumidores (influenciado pela taxa de juro real e pelo prazo concedido) somado ao nível de investimento (que depende da taxa de juro real); e 3) a taxa de crescimento do PIB (não o seu nível) depende da produtividade do capital e da taxa de investimento com relação ao PIB.
A boa notícia é que, a despeito da sua simplicidade, tal modelo contém a essência do desenvolvimento descarnado de toda complexidade. Podemos modificar todas as "hipóteses heroicas" e, ainda assim, o núcleo do processo é que consumo e investimento têm relações múltiplas entre eles. A elevação da demanda global no curto prazo pode, sim, ser estimulada pelo aumento do crédito ao consumidor e/ou pelo investimento. O efeito adicional do investimento é que, além de ampliar a demanda de consumo no curto prazo, pavimenta o aumento da capacidade produtiva e, assim, aumenta o desenvolvimento futuro.
É claro que tirar recomendações normativas de modelos abstratos como esse é sempre uma temeridade, mas a intuição mostra que a política econômica do governo (fiscal, monetária e cambial) parece estar no caminho correto, aumentando a demanda interna no curto prazo pela redução da taxa de juros real, pela ampliação do nível de crédito e pela redução do déficit do balanço em conta corrente. O problema é que isso eleva o nível do PIB mas, por si só, não aumenta a capacidade produtiva e, logo, inibe o crescimento futuro.
É necessário cooptar o setor privado para a ampliação dos investimentos públicos através de concessões (o recente leilão das telecomunicações, pela ação do competente ministro Paulo Bernardo, foi exemplar), de parcerias público-privadas etc. Mesmo crescendo menos em 2012 do que em 2011, devemos terminar o ano com o PIB rodando em torno de 4% a 4,5% entre o último trimestre deste ano e o seu homólogo do ano passado.
Precisamos preparar o ambiente de negócios para manter esse crescimento ao longo de 2013 e seguintes, insistindo na melhoria do sistema tributário, no aumento da competição interna, na flexibilização do mercado de trabalho e no fortalecimento da segurança jurídica nas relações comerciais, que têm sido seriamente prejudicadas com intervenções desajeitadas do Poder Judiciário.
Maluf vem aí! - TUTTY VASQUES
O ESTADÃO - 19/06
A exemplo do que fez na campanha de Celso Pitta nas eleições de 1996, Paulo Maluf deve voltar a empenhar sua palavra de honra na busca de votos, desta vez comprometida com o candidato do PT à Prefeitura de São Paulo:
"Se Fernando Haddad não for um bom prefeito, nunca mais votem no Lula!" - já teria pronto seu discurso de estreia no horário de propaganda do TRE na TV!
Afastado do noticiário político desde que seu nome passou a constar de reportagens sobre a lista de procurados pela Interpol, Maluf vem aí! - como garante pichação nova nos muros de SP - para salvar a sucessão de Gilberto Kassab da mais entediante das disputas entre petistas e tucanos pela hegemonia no poder do executivo municipal na capital do Estado.
Além de diversão garantida, o desconforto que o ex-prefeito provoca com tanto gosto em suas novas amigas de infância Luiza Erundina e Marta Suplicy promete proporcionar momentos mais acalorados do que qualquer debate decisivo entre Fernando Haddad e José Serra.
Não à toa, os dois candidatos disputaram palmo a palmo até a semana passada o apoio de Maluf, ainda que ninguém saiba muito bem quem, afinal, vai se beneficiar com isso!
Façam suas apostas!
Ô, raças! O ideal seria um meio-termo entre o glamour sem limites do mundo fashion que desfilou em São Paulo e a completa falta de charme do planeta alternativo que se instalou na Cúpula dos Povos da Rio+20. Isoladamente, um e outro parecem insustentáveis!
Blusa de madeira, sapatos de acrílico e coroas de crucifixo, por exemplo, formam conjuntos tão esquisitos na passarela quanto a combinação de pataxós, hare krishnas, hippies e sindicalistas na mesma manifestação pela salvação da espécie.
Eu, hein! De Cléber Machado, celebrando a vitória do brasileiro Solonei da Silva na Maratona de São Paulo: "Quem corre atrás conquista!" Como assim? O Rubinho Barrichello corre atrás há um tempão e não conquista nada!
Caminho da roçaO Congresso tem bons motivos para decretar recesso branco até depois das festas de São João. Nessa época do ano, quase todo parlamentar brasileiro tem sua própria quadrilha para cuidar!
RapidinhaFoi tudo muito ligeiro para a expectativa criada a respeito, mas deu tudo certo na primeira acoplagem espacial realizada por uma tripulação chinesa com a participação de uma mulher embarcada entre os astronautas da missão. O encaixe, que é o que importa, foi considerado perfeito!
Suando a camisaDo jeito que está difícil conseguir habeas corpus para Carlinhos Cachoeira, Márcio Thomaz Bastos vai acabar pedindo aumento de seus honorários para continuar atuando como advogado de defesa do bicheiro.
Bom de votoACM Neto mandou espalhar em Salvador que Marcelo Serrado vai viver o papel dele na novela Gabriela. Cismou que, em outra encarnação, foi o mulherengo Tonico Bastos!
A exemplo do que fez na campanha de Celso Pitta nas eleições de 1996, Paulo Maluf deve voltar a empenhar sua palavra de honra na busca de votos, desta vez comprometida com o candidato do PT à Prefeitura de São Paulo:
"Se Fernando Haddad não for um bom prefeito, nunca mais votem no Lula!" - já teria pronto seu discurso de estreia no horário de propaganda do TRE na TV!
Afastado do noticiário político desde que seu nome passou a constar de reportagens sobre a lista de procurados pela Interpol, Maluf vem aí! - como garante pichação nova nos muros de SP - para salvar a sucessão de Gilberto Kassab da mais entediante das disputas entre petistas e tucanos pela hegemonia no poder do executivo municipal na capital do Estado.
Além de diversão garantida, o desconforto que o ex-prefeito provoca com tanto gosto em suas novas amigas de infância Luiza Erundina e Marta Suplicy promete proporcionar momentos mais acalorados do que qualquer debate decisivo entre Fernando Haddad e José Serra.
Não à toa, os dois candidatos disputaram palmo a palmo até a semana passada o apoio de Maluf, ainda que ninguém saiba muito bem quem, afinal, vai se beneficiar com isso!
Façam suas apostas!
Ô, raças! O ideal seria um meio-termo entre o glamour sem limites do mundo fashion que desfilou em São Paulo e a completa falta de charme do planeta alternativo que se instalou na Cúpula dos Povos da Rio+20. Isoladamente, um e outro parecem insustentáveis!
Blusa de madeira, sapatos de acrílico e coroas de crucifixo, por exemplo, formam conjuntos tão esquisitos na passarela quanto a combinação de pataxós, hare krishnas, hippies e sindicalistas na mesma manifestação pela salvação da espécie.
Eu, hein! De Cléber Machado, celebrando a vitória do brasileiro Solonei da Silva na Maratona de São Paulo: "Quem corre atrás conquista!" Como assim? O Rubinho Barrichello corre atrás há um tempão e não conquista nada!
Caminho da roçaO Congresso tem bons motivos para decretar recesso branco até depois das festas de São João. Nessa época do ano, quase todo parlamentar brasileiro tem sua própria quadrilha para cuidar!
RapidinhaFoi tudo muito ligeiro para a expectativa criada a respeito, mas deu tudo certo na primeira acoplagem espacial realizada por uma tripulação chinesa com a participação de uma mulher embarcada entre os astronautas da missão. O encaixe, que é o que importa, foi considerado perfeito!
Suando a camisaDo jeito que está difícil conseguir habeas corpus para Carlinhos Cachoeira, Márcio Thomaz Bastos vai acabar pedindo aumento de seus honorários para continuar atuando como advogado de defesa do bicheiro.
Bom de votoACM Neto mandou espalhar em Salvador que Marcelo Serrado vai viver o papel dele na novela Gabriela. Cismou que, em outra encarnação, foi o mulherengo Tonico Bastos!
Emendas à venda - LUIZ GARCIA
O GLOBO - 19/06
Há mais de 300 anos, um poeta inglês chamado William Congreve ganhou o direito de ser lembrado até hoje ao afirmar que não há fúria no inferno tão forte quanto a de uma mulher desprezada. A sua frase pode ser uma boa epígrafe para o registro do mais recente escândalo político de Brasília.
No nosso caso, há na verdade duas women scorned . São a ex-mulher, Isabela Suarez, do deputado João Carlos Bacelar, do PR baiano, e a sua irmã, Lilian, que está brigando com ele por questões de herança. A primeira contou para a outra que o ex-marido administrava um rendoso negócio de compra de emendas parlamentares ao Orçamento no Congresso. E Lilian imediatamente botou a boca no trombone. Denunciou não só o irmão como dois deputados e um ex-deputado que apresentaram emendas parlamentares beneficiando redutos eleitorais de Bacelar.
A denúncia pode ir longe, de duas maneiras. A primeira será um reforço considerável na investigação iniciada no ano passado pelo Ministério Público Federal e a Controladoria Geral da União sobre as emendas de Bacelar. Reforço, a propósito, aparentemente indispensável, como se percebe por declarações de deputados como o líder do PT, Jilmar Tatto, e o do PMDB, Henrique Eduardo Alves: ambos se declararam tão indignados como surpreendidos pelas denúncias. Não é possível duvidar da surpresa - mas parece evidente que os eleitores podem cobrar de ambos um pouco mais de atenção no serviço.
E ganha força, a propósito, uma proposta radical, do deputado Miro Teixeira: acabar com as emendas individuais e de bancada ao orçamento. Considerando-se que existe no Congresso um animado comércio de emendas, comprovado em reportagem recente do GLOBO, pode ser a única forma de dar mais eficiência - para não falar em honestidade - aos recursos públicos.
Mas melhorar o sistema é apenas parte da solução. A Câmara está devendo ao eleitorado, antes de mais nada, uma investigação séria sobre outras iregularidades, como a compra de emendas: deputados financiam as campanhas de candidatos e estes pagam essa generosidade com a apresentação de emendas de interesse dos padrinhos.
É, sem dúvida alguma, um comércio sujo. O Conselho de Ética da Câmara anunciou que vai investigá-lo, assim que um partido fizer um pedido a respeito, o que, parece, deve acontecer esta semana. É curioso que não possa fazê-lo por sua própria iniciativa. Um interessante ponto de partida para a investigação poderia ser a lista de presentes de Natal de Bacelar: em 2010, por exemplo, ela incluia 57 funcionários públicos e autoridades da Esplanada dos Ministérios. É espírito natalino que não acaba mais.
Há mais de 300 anos, um poeta inglês chamado William Congreve ganhou o direito de ser lembrado até hoje ao afirmar que não há fúria no inferno tão forte quanto a de uma mulher desprezada. A sua frase pode ser uma boa epígrafe para o registro do mais recente escândalo político de Brasília.
No nosso caso, há na verdade duas women scorned . São a ex-mulher, Isabela Suarez, do deputado João Carlos Bacelar, do PR baiano, e a sua irmã, Lilian, que está brigando com ele por questões de herança. A primeira contou para a outra que o ex-marido administrava um rendoso negócio de compra de emendas parlamentares ao Orçamento no Congresso. E Lilian imediatamente botou a boca no trombone. Denunciou não só o irmão como dois deputados e um ex-deputado que apresentaram emendas parlamentares beneficiando redutos eleitorais de Bacelar.
A denúncia pode ir longe, de duas maneiras. A primeira será um reforço considerável na investigação iniciada no ano passado pelo Ministério Público Federal e a Controladoria Geral da União sobre as emendas de Bacelar. Reforço, a propósito, aparentemente indispensável, como se percebe por declarações de deputados como o líder do PT, Jilmar Tatto, e o do PMDB, Henrique Eduardo Alves: ambos se declararam tão indignados como surpreendidos pelas denúncias. Não é possível duvidar da surpresa - mas parece evidente que os eleitores podem cobrar de ambos um pouco mais de atenção no serviço.
E ganha força, a propósito, uma proposta radical, do deputado Miro Teixeira: acabar com as emendas individuais e de bancada ao orçamento. Considerando-se que existe no Congresso um animado comércio de emendas, comprovado em reportagem recente do GLOBO, pode ser a única forma de dar mais eficiência - para não falar em honestidade - aos recursos públicos.
Mas melhorar o sistema é apenas parte da solução. A Câmara está devendo ao eleitorado, antes de mais nada, uma investigação séria sobre outras iregularidades, como a compra de emendas: deputados financiam as campanhas de candidatos e estes pagam essa generosidade com a apresentação de emendas de interesse dos padrinhos.
É, sem dúvida alguma, um comércio sujo. O Conselho de Ética da Câmara anunciou que vai investigá-lo, assim que um partido fizer um pedido a respeito, o que, parece, deve acontecer esta semana. É curioso que não possa fazê-lo por sua própria iniciativa. Um interessante ponto de partida para a investigação poderia ser a lista de presentes de Natal de Bacelar: em 2010, por exemplo, ela incluia 57 funcionários públicos e autoridades da Esplanada dos Ministérios. É espírito natalino que não acaba mais.
Caciquismo é igual na direita e na esquerda - RAYMUNDO COSTA
VALOR ECONÔMICO - 19/06
Engana-se quem acredita que José Sarney está contente com a suposta preferência de Dilma Rousseff para suceder o maranhense na presidência do Senado, em 2013. Certo, Lobão, ministro das Minas e Energia de Dilma, integra o grupo político de Sarney no Maranhão. Mas Sarney prefere escolher o nome do sucessor a aceitar uma indicação da presidente da República.
Parece estranho, mas não é. Sarney chefia talvez a mais longeva oligarquia do país, sabe como poucos manejar os cordéis do poder. Deveria diferir muito dos caciques mais modernos, sobretudo aqueles considerados mais à esquerda, mas não é o que ocorre: os caciques de esquerda são iguais aos da direita; os antigos, aos modernos, como parece demonstrar a pré-campanha eleitoral de 2012. O que prevalece é o "dedazo" ou pelo menos a vontade de quem circunstancialmente está no exercício do poder.
Durante anos, os tucanos foram acusados de ser um partido de cúpula, no qual as decisões eram tomadas por quatro ou cinco pessoas - três de São Paulo, uma de Minas e outra do Ceará. Em 2012, devido à necessidade de concorrer com um nome de peso na cidade, o PSDB fez eleição prévia para escolher José Serra candidato. O PT, um partido com histórico de prévias, por seu turno, submeteu-se ao "dedazo" de Lula para indicar Fernando Haddad para o posto.
Imposição de candidatos marca eleição de 2012
A expressão "dedazo" passou a ser usada no México para designar a prática de os presidentes da República indicarem seus sucessores nas fileiras do PRI, que exerceu o poder por mais de 70 anos. Nunca foi de uso muito corrente no Brasil, até José Serra desencavá-la numa declaração sobre a disputa paulistana de 2008. "No PSDB, em São Paulo, não somos partido de coronéis, não pratico "dedazo"", afirmou, após a crise que tomou conta dos tucanos com o apoio do governador (Serra) a Gilberto Kassab, na eleição para a prefeitura do município.
Do Sul ao Norte, as escolhas partidariamente mais abertas estão decididamente em baixa nas eleições municipais. Com maior ou menor dificuldade, os caciques regionais impuseram ou ainda tentam impor suas vontades eleitorais e a hegemonia de seu grupo político.
No Acre, por exemplo, os irmãos Viana (o senador Jorge e o governador Tião) praticamente alijaram da política local uma figura da expressão de Marina Silva, ex-candidata a presidente da República pelo PV, atualmente sem filiação partidária. No Rio Grande do Sul, o presidente regional do partido, Raul Pont, fechou questão com a candidatura própria - posição coerente com o histórico partidário. O governador Tarso Genro preferiria apoiar a deputada Manuela D"Ávila, do PCdoB.
O problema de Tarso Genro é a reeleição. Os nomes até agora apontados pelo PT não sugerem segurança eleitoral, enquanto Manuela, mesmo na hipótese de uma derrota, poderia ser uma aliada contra o prefeito José Fortunati, que é do PDT mas tem trânsito fácil no PT, partido que ajudou a fundar no Rio Grande do Sul, e a simpatia da presidente da República Dilma Rousseff. O Rio Grande do Sul já não parece o mesmo: a aliança do PCdoB para as eleições municipais é com o PP da senadora Ana Amélia. O desenho eleitoral da capital Porto Alegre ainda não pode ser considerado definitivo.
Político da nova geração e - talvez - de renovação do PSDB, Beto Richa dispunha de um acordo para apoiar Gustavo Fruet nas eleições para a prefeitura de Curitiba, este ano. Esqueceu o que prometeu e seu candidato agora é Luciano Ducci, do PSB. Fruet, como em geral costuma acontecer em situações como essas, saiu do PSDB e vai disputar a cadeira municipal pelo PDT. Com o apoio do PT, partido com qual andou às turras em 2005, durante as investigações da CPI do mensalão.
O governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos, já é um cacique bem fornido. Mas bem que tentou emplacar o candidato do PT, seu secretário Maurício Rands. Não deu certo.
O problema do Recife parece ter uma forte conotação local: o ódio visceral entre o ex-prefeito João Paulo e o atual prefeito João Costa. Caso de criatura e criador: à época, Lula e os principais caciques do PT queriam o senador Humberto Costa como candidato; João Paulo, com 83% de aprovação, impôs João Costa, que era seu secretário. Brigaram em questão de meses. O PT agora quer impor o nome do senador Humberto Costa. Pode ser um flanco aberto para Campos entrar com um nome próprio. Afinal, o governador de Pernambuco tem razão quando diz que, se o PT local é incapaz de se unir internamente, imagine-se no comando de uma frente partidária.
Em Belo Horizonte (MG), aparentemente a cúpula do PT conseguiu contornar a crise interna que ameaçava a candidatura à reeleição do prefeito Márcio Lacerda. Mas ainda podem ocorrer surpresas. Principalmente quando se sabe que o cacique local não é do PT nem do PSB, é do PSDB. E mais ainda: é o principal nome dos tucanos para a discuta presidencial com Dilma Rousseff, em 2014.
Apesar do extraordinário desempenho de Luiz Inácio Lula da Silva em 2010, quando tirou Dilma Rousseff do anonimato ministerial diretamente para a cadeira de presidente da República, o "dedazo" não significa necessariamente sucesso, como demonstram as dificuldades que o candidato do ex-presidente da República encontra para descolar do bloco de candidatos nanicos em São Paulo. O próprio Lula, aliás, é personagem de um "antidedazo" histórico.
Em 2004, o PT decidiu apoiar a candidatura do hoje senador do PCdoB, Inácio Arruda, para prefeito de Fortaleza. Uma jovem insolente resolveu desafiar todos os poderes constituídos do PT: Lula, José Genoino (à época presidente nacional do PT) e o então chamado campo majoritário do partido. Ganhou por um voto as eleições zonais de Fortaleza. O PT decidiu baixar o centralismo democrático e intervir no diretório, mas não foi adiante. Luizianne Lins foi eleita. Hoje, é vítima do próprio veneno e tenta impor o nome de sua vontade a candidato a prefeito da cidade.
Engana-se quem acredita que José Sarney está contente com a suposta preferência de Dilma Rousseff para suceder o maranhense na presidência do Senado, em 2013. Certo, Lobão, ministro das Minas e Energia de Dilma, integra o grupo político de Sarney no Maranhão. Mas Sarney prefere escolher o nome do sucessor a aceitar uma indicação da presidente da República.
Parece estranho, mas não é. Sarney chefia talvez a mais longeva oligarquia do país, sabe como poucos manejar os cordéis do poder. Deveria diferir muito dos caciques mais modernos, sobretudo aqueles considerados mais à esquerda, mas não é o que ocorre: os caciques de esquerda são iguais aos da direita; os antigos, aos modernos, como parece demonstrar a pré-campanha eleitoral de 2012. O que prevalece é o "dedazo" ou pelo menos a vontade de quem circunstancialmente está no exercício do poder.
Durante anos, os tucanos foram acusados de ser um partido de cúpula, no qual as decisões eram tomadas por quatro ou cinco pessoas - três de São Paulo, uma de Minas e outra do Ceará. Em 2012, devido à necessidade de concorrer com um nome de peso na cidade, o PSDB fez eleição prévia para escolher José Serra candidato. O PT, um partido com histórico de prévias, por seu turno, submeteu-se ao "dedazo" de Lula para indicar Fernando Haddad para o posto.
Imposição de candidatos marca eleição de 2012
A expressão "dedazo" passou a ser usada no México para designar a prática de os presidentes da República indicarem seus sucessores nas fileiras do PRI, que exerceu o poder por mais de 70 anos. Nunca foi de uso muito corrente no Brasil, até José Serra desencavá-la numa declaração sobre a disputa paulistana de 2008. "No PSDB, em São Paulo, não somos partido de coronéis, não pratico "dedazo"", afirmou, após a crise que tomou conta dos tucanos com o apoio do governador (Serra) a Gilberto Kassab, na eleição para a prefeitura do município.
Do Sul ao Norte, as escolhas partidariamente mais abertas estão decididamente em baixa nas eleições municipais. Com maior ou menor dificuldade, os caciques regionais impuseram ou ainda tentam impor suas vontades eleitorais e a hegemonia de seu grupo político.
No Acre, por exemplo, os irmãos Viana (o senador Jorge e o governador Tião) praticamente alijaram da política local uma figura da expressão de Marina Silva, ex-candidata a presidente da República pelo PV, atualmente sem filiação partidária. No Rio Grande do Sul, o presidente regional do partido, Raul Pont, fechou questão com a candidatura própria - posição coerente com o histórico partidário. O governador Tarso Genro preferiria apoiar a deputada Manuela D"Ávila, do PCdoB.
O problema de Tarso Genro é a reeleição. Os nomes até agora apontados pelo PT não sugerem segurança eleitoral, enquanto Manuela, mesmo na hipótese de uma derrota, poderia ser uma aliada contra o prefeito José Fortunati, que é do PDT mas tem trânsito fácil no PT, partido que ajudou a fundar no Rio Grande do Sul, e a simpatia da presidente da República Dilma Rousseff. O Rio Grande do Sul já não parece o mesmo: a aliança do PCdoB para as eleições municipais é com o PP da senadora Ana Amélia. O desenho eleitoral da capital Porto Alegre ainda não pode ser considerado definitivo.
Político da nova geração e - talvez - de renovação do PSDB, Beto Richa dispunha de um acordo para apoiar Gustavo Fruet nas eleições para a prefeitura de Curitiba, este ano. Esqueceu o que prometeu e seu candidato agora é Luciano Ducci, do PSB. Fruet, como em geral costuma acontecer em situações como essas, saiu do PSDB e vai disputar a cadeira municipal pelo PDT. Com o apoio do PT, partido com qual andou às turras em 2005, durante as investigações da CPI do mensalão.
O governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos, já é um cacique bem fornido. Mas bem que tentou emplacar o candidato do PT, seu secretário Maurício Rands. Não deu certo.
O problema do Recife parece ter uma forte conotação local: o ódio visceral entre o ex-prefeito João Paulo e o atual prefeito João Costa. Caso de criatura e criador: à época, Lula e os principais caciques do PT queriam o senador Humberto Costa como candidato; João Paulo, com 83% de aprovação, impôs João Costa, que era seu secretário. Brigaram em questão de meses. O PT agora quer impor o nome do senador Humberto Costa. Pode ser um flanco aberto para Campos entrar com um nome próprio. Afinal, o governador de Pernambuco tem razão quando diz que, se o PT local é incapaz de se unir internamente, imagine-se no comando de uma frente partidária.
Em Belo Horizonte (MG), aparentemente a cúpula do PT conseguiu contornar a crise interna que ameaçava a candidatura à reeleição do prefeito Márcio Lacerda. Mas ainda podem ocorrer surpresas. Principalmente quando se sabe que o cacique local não é do PT nem do PSB, é do PSDB. E mais ainda: é o principal nome dos tucanos para a discuta presidencial com Dilma Rousseff, em 2014.
Apesar do extraordinário desempenho de Luiz Inácio Lula da Silva em 2010, quando tirou Dilma Rousseff do anonimato ministerial diretamente para a cadeira de presidente da República, o "dedazo" não significa necessariamente sucesso, como demonstram as dificuldades que o candidato do ex-presidente da República encontra para descolar do bloco de candidatos nanicos em São Paulo. O próprio Lula, aliás, é personagem de um "antidedazo" histórico.
Em 2004, o PT decidiu apoiar a candidatura do hoje senador do PCdoB, Inácio Arruda, para prefeito de Fortaleza. Uma jovem insolente resolveu desafiar todos os poderes constituídos do PT: Lula, José Genoino (à época presidente nacional do PT) e o então chamado campo majoritário do partido. Ganhou por um voto as eleições zonais de Fortaleza. O PT decidiu baixar o centralismo democrático e intervir no diretório, mas não foi adiante. Luizianne Lins foi eleita. Hoje, é vítima do próprio veneno e tenta impor o nome de sua vontade a candidato a prefeito da cidade.
Manobra desesperada - CAROLINA BAHIA
ZERO HORA - 19/06
Despachante de bicheiro, Demóstenes Torres ganhou tempo graças a uma mãozinha do STF. O ministro Antonio Dias Toffoli aceitou o argumento de que o Senador precisava ter acesso a ampla defesa e esticou por três dias úteis o prazo da votação no Conselho de Ética. Irritados, alguns Senadores do chamado grupo independente resmungavam pelos corredores, lembrando que Toffoli era amigo de Demóstenes antes de todo o escândalo estourar. Conjecturas à parte, o Senador já teve todo o tempo para se justificar. Essa ação da defesa não passa de uma manobra, típica de quem conhece a fundo uma Casa que nunca primou pela agilidade na análise dos processos. A previsão, agora, é de que a votação ocorra na próxima segunda-feira. Isso, se houver quórum durante a semana das festas juninas.
Que medo
Enquanto o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS, foto), não decide como será a divulgação dos contracheques, aumenta a pressão dos funcionários com supersalários. Dia desses, um dos privilegiados tentou sensibilizar a Mesa Diretora, argumentando que as três ex-mulheres não podiam descobrir quanto ele realmente ganha.
Toma lá...
O Planalto prometeu a liberação de R$ 358,7 milhões de restos a pagar de 2010, mas só se os deputados votarem o texto preliminar da Lei de Diretrizes Orçamentárias na Comissão do Orçamento. Se esse pagamento não for realizado até 30 de junho, os repasses perdem a validade.
Companhias
Nem os petistas mais pragmáticos negavam o constrangimento com a aliança entre Fernando Haddad e Paulo Maluf, em São Paulo.
- O tempo de TV é tudo, mas não precisava aquela foto do Maluf com o Lula - lamentava-se um deputado.
Missão cumprida
Depois de meses de acirrado combate à corrupção, a ministra Eliana Calmon prepara-se para deixar a corregedoria do CNJ em setembro. Apesar dos boatos de que se dedicaria à política, ela adianta à coluna que já tem planos para o futuro: vai retomar a cadeira no STJ e se afastar das polêmicas.
- Vou ficar bem quietinha - avisa, dando risada.
RECORTE E COBRE - Cama e mesa
Lideranças do setor moveleiro do Estado se reúnem hoje com técnicos do Ministério da Fazenda para insistir na prorrogação da isenção do IPI, que vence no final deste mês. A equipe do secretário executivo da pasta, Nelson Barbosa, porém, adianta que ainda estuda as vantagens de esticar o incentivo.
Sintonia
A Câmara realiza sessão solene hoje para homenagear os 90 anos do rádio no Brasil e os 50 anos da Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão (Abert)
Despachante de bicheiro, Demóstenes Torres ganhou tempo graças a uma mãozinha do STF. O ministro Antonio Dias Toffoli aceitou o argumento de que o Senador precisava ter acesso a ampla defesa e esticou por três dias úteis o prazo da votação no Conselho de Ética. Irritados, alguns Senadores do chamado grupo independente resmungavam pelos corredores, lembrando que Toffoli era amigo de Demóstenes antes de todo o escândalo estourar. Conjecturas à parte, o Senador já teve todo o tempo para se justificar. Essa ação da defesa não passa de uma manobra, típica de quem conhece a fundo uma Casa que nunca primou pela agilidade na análise dos processos. A previsão, agora, é de que a votação ocorra na próxima segunda-feira. Isso, se houver quórum durante a semana das festas juninas.
Que medo
Enquanto o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS, foto), não decide como será a divulgação dos contracheques, aumenta a pressão dos funcionários com supersalários. Dia desses, um dos privilegiados tentou sensibilizar a Mesa Diretora, argumentando que as três ex-mulheres não podiam descobrir quanto ele realmente ganha.
Toma lá...
O Planalto prometeu a liberação de R$ 358,7 milhões de restos a pagar de 2010, mas só se os deputados votarem o texto preliminar da Lei de Diretrizes Orçamentárias na Comissão do Orçamento. Se esse pagamento não for realizado até 30 de junho, os repasses perdem a validade.
Companhias
Nem os petistas mais pragmáticos negavam o constrangimento com a aliança entre Fernando Haddad e Paulo Maluf, em São Paulo.
- O tempo de TV é tudo, mas não precisava aquela foto do Maluf com o Lula - lamentava-se um deputado.
Missão cumprida
Depois de meses de acirrado combate à corrupção, a ministra Eliana Calmon prepara-se para deixar a corregedoria do CNJ em setembro. Apesar dos boatos de que se dedicaria à política, ela adianta à coluna que já tem planos para o futuro: vai retomar a cadeira no STJ e se afastar das polêmicas.
- Vou ficar bem quietinha - avisa, dando risada.
RECORTE E COBRE - Cama e mesa
Lideranças do setor moveleiro do Estado se reúnem hoje com técnicos do Ministério da Fazenda para insistir na prorrogação da isenção do IPI, que vence no final deste mês. A equipe do secretário executivo da pasta, Nelson Barbosa, porém, adianta que ainda estuda as vantagens de esticar o incentivo.
Sintonia
A Câmara realiza sessão solene hoje para homenagear os 90 anos do rádio no Brasil e os 50 anos da Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão (Abert)
MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO
FOLHA DE SP - 19/06
Empresa de infraestrutura construirá shopping no RS
A empresa Brasília Guaíba, que trabalha principalmente com obras de infraestrutura, vai construir seu primeiro shopping center.
Com aporte de R$ 120 milhões, a companhia instalará o empreendimento na cidade de São Leopoldo (RS), próximo a Novo Hamburgo.
"Já estamos analisando um segundo projeto de shopping. Também para o Rio Grande do Sul", diz o presidente da empresa, André Loiferman.
O projeto de entrar nesse novo mercado surgiu para aproveitar um terreno, adquirido há dez anos, de 15 hectares, no qual funcionava o aeroclube da cidade.
Parte da área foi vendida para uma construtora, que ergueu no local prédios com cerca de 1.500 apartamentos, e outra parte, para um supermercado atacadista.
"Agora fizemos uma pesquisa de mercado para ver o que melhor se adaptaria ao local", diz o diretor de operações, Sérgio Coelho da Silva.
O shopping, voltado para as classes B e C, terá 399 lojas e começará a ser construído em setembro. Ao lado dele, a empresa vai instalar um "power center" -um centro de compras com estabelecimentos maiores.
Nele, serão mais 33 lojas em espaços que variam de 200 m2 até 1.500 m2 cada um.
A empresa, que continua trabalhando com infraestrutura, contratará uma administradora para gerir o empreendimento.
números
5 é o número de obras do PAC em que a empresa está trabalhando, entre elas a BR-448 -projeto para Porto Alegre semelhante ao Rodoanel
R$ 120 MILHÕES serão investidos no primeiro shopping da companhia; serão 399 lojas e 33 megalojas, com até 1.500 metros quadrados cada uma
ACORDO PELA TERRA
A fabricante de celulose Fibria e o MST fecharam parceria para o desenvolvimento de assentamentos sustentáveis no sul da Bahia.
A iniciativa, que tem o apoio do governo estadual e da Esalq (Escola Superior de Agronomia Luiz de Queiroz), é a formação técnica e educacional de mais de mil famílias.
O projeto, que será realizado nas cidades de Teixeira de Freitas, Prado e Alcobaça, abrangerá uma área de cerca de 12 mil hectares.
SEGREDOS OCEÂNICOS
A companhia de óleo e gás BG Brasil e a Coppe/UFRJ vão lançar durante a Rio+20 um sistema de observação oceânica para a Bacia de Santos.
O projeto vai coletar, a até 2.000 metros de profundidade, dados como dinâmica das correntes, temperatura, salinidade e oxigênio dissolvido.
Serão utilizados robôs mergulhadores, imagens de satélite e outros aparelhos de medição. As informações contribuirão para a segurança e a eficiência das operações no setor de óleo e gás, de acordo com a empresa.
O programa, com duração de três anos, prevê investimento de cerca de R$ 20 milhões da BG Brasil.
PEDIDO INDUSTRIAL
A CNI (Confederação Nacional da Indústria) lança hoje uma campanha por mudanças tributárias e trabalhistas no país. A entidade também sugere mais investimentos em inovação e infraestrutura e redução da burocracia.
"Nossas empresas estão sujeitas a custos altíssimos decorrentes da carga tributária, do precário sistema de logística de transporte e da qualidade da educação. A falta de soluções nos coloca em desvantagem diante dos estrangeiros", diz o presidente da CNI, Robson Andrade.
GEOGRAFIA TECNOLÓGICA
A multinacional brasileira Stefanini, do mercado de tecnologia da informação, planeja expandir sua atuação no continente africano, após abrir uma operação na África do Sul.
Os primeiros escritórios serão localizados em Port Elizabeth e Pretória.
Esta será a segunda filial da empresa no continente, onde a Stefanini já atua desde 2004, em Angola.
A decisão de abertura da nova operação, que foi originada pela necessidade de atender um cliente global, vai impulsionar novos projetos à medida que o mercado africano ganhar maturidade e demanda por serviços, segundo Marco Stefanini, fundador e presidente da companhia.
"Vamos investir mais. Enxergamos potencial de crescimento", afirma.
Vice do barulho - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 19/06
A hipótese de Luiza Erundina desistir da candidatura a vice após a aliança do PT com Paulo Maluf causou perplexidade no QG de Fernando Haddad. O pré-candidato comunicara a cúpula do PSB e a ex-prefeita na sexta-feira sobre o acordo. O petista também consultou o PC do B, provável aliado, sobre a aliança com o PP. De ambos ouviu que, a despeito do desgaste, não haveria deserções. A direção nacional do PSB entrou em campo ontem para convencer Erundina a ficar na chapa.
Censura livre Paulo Maluf afirma que o ex-presidente Lula não impôs nenhuma restrição a que ele apareça na propaganda de TV no encontro de ontem. "O tempo é meu e sou proibido de aparecer?"
Você amanhã Sobre a polêmica com Erundina, Maluf afirma que costuma se sentar ao lado da ex-prefeita na Câmara e conversam sempre. "Já disse umas cinco vezes: se ela for prefeita novamente, precisa me escolher para ser seu sucessor." Ele a sucedeu em 1993, após gestão que acabou mal avaliada.
Valeu No encontro, Lula pediu o telefone de Maluf emprestado para ligar para o ministro Aguinaldo Ribeiro (Cidades) e agradecer a articulação que levou ao acordo.
Tarefa Para fechar com Haddad, o PSB cobrou do PT paulista alianças em Ferraz de Vasconcelos, Itanhaém, Bertioga, Sorocaba, Bragança Paulista, Franca e Taboão da Serra. Caberá agora aos dirigentes petistas desarmar candidaturas próprias ou acordos nas sete cidades.
Versão axé Assim como em São Paulo, Nelson Pellegrino (PT) quer o tempo de TV do PP em Salvador, mas teme o desgaste do prefeito João Henrique. Jaques Wagner e o candidato se reuniram ontem com líderes da sigla.
Pipoca Em outra frente, Wagner também opera para selar a adesão do PR do ex-governador carlista César Borges, recém-instalado em uma das vice-presidências do BB, à aliança de Pellegrino.
Cronômetro Com a dúvida sobre se obterá o tempo de TV que reivindica para o seu PSD, Gilberto Kassab defende rateio igualitário das inserções entre partidos do desejado "chapão" de candidatos a vereador.
Trabalho manual Dilma Rousseff presenteará chefes de Estado e de governo na Rio+20 com peças de artesanato. Encomendou renda (Pernambuco), capim dourado do Jalapão (Tocantins) e cerâmica Marajoara (Pará).
Esplanada móvel Ao desembarcar no aeroporto de Cascavel para incursão pelo oeste do Paraná no fim de semana, Gleisi Hoffmann (Casa Civil), foi recepcionada por uma van alugada por prefeitos. No trajeto de 15 minutos foi bombardeada por pedidos de obras e verbas federais.
Toga... A presidente do TSE, ministra Carmen Lúcia, fez discurso duro pela punição a corruptos do Judiciário em visita ontem a Roraima. Na mesa estava o corregedor do TRE, Alcir Gursen de Miranda, investigado pelo CNJ.
... justa Alheio ao recado, Miranda tentou constranger a ministra ao pedir uma audiência reservada para tratar de orçamento do TRE. Carmen Lúcia respondeu que o assunto deveria ser tratado pela presidente do tribunal.
Em casa A Delta, no centro das investigações da CPI do Cachoeira, doou R$ 50 mil para a deputada Nilda Gondim (PMDB-PB) em 2010. Ela é mãe do presidente da CPI, senador Vital do Rêgo.
Visita à Folha Baleia Rossi, deputado estadual e presidente do PMDB-SP, visitou ontem a Folha. Estava acompanhado de Carlos Magno, assessor de imprensa.
com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI
tiroteio
"PT e Maluf têm algo em comum em termos de desconforto. Petistas foram perseguidos pela ditadura; o ex-governador, pela Interpol."
DO CIENTISTA POLÍTICO RUBENS FIGUEIREDO, sobre a aliança de Fernando Haddad com o PP, avalizada ontem pelo ex-presidente Lula na casa de Maluf.
contraponto
Tudo vai ser diferente
Durante ato em que foi oficializada candidata a vice na chapa de Fernando Haddad à prefeitura paulistana, sexta-feira passada, Luiza Erundina (PSB) cumprimentou Eduardo Suplicy (PT-SP), sentado à mesa de dirigentes:
-Queria saudar o companheiro Suplicy, de quem tive a satisfação de ser vice na eleição em 1985.
Terceiro colocado naquela disputa, o petista levantou-se e abraçou a ex-prefeita. Na plateia, um militante disse, referindo-se à ausência da ex-mulher do senador, Marta:
-Espero que o senador tenha desejado melhor sorte desta vez. A família Suplicy não tem colaborado muito...
Testemunhas de um crime - JOÃO PEREIRA COUTINHO
FOLHA DE SP - 19/06
A vida só nos pertence até certo ponto. Ela é também o resultado da teia de afetos e ligações que estabelecemos
Emma (nome fictício) tem 32 anos. Foi estudante de medicina, e os colegas dizem que era uma pessoa inteligente e agradável.
O que os colegas não sabiam é que, desde a adolescência, Emma sofria de distúrbios alimentares graves, que a conduziram a uma anorexia severa.
Agora, aos 32, Emma deixou de se alimentar e expressou seu desejo de morrer. Acabar com o tormento é para ela mais importante do que continuar com uma vida que, aos seus olhos, perdeu o valor.
E os pais de Emma? Os pais concordam. Sim, eles gostariam que a filha tivesse uma vida normal, uma família, uma profissão, que morresse um dia, na velhice, rodeada por netos ou bisnetos.
Mas a realidade é outra: a filha sofre há vários anos. De forma atroz. Respeitar seu desejo de morte é, talvez, o gesto mais caridoso daqueles que a amam.
A história descrita não é invenção minha. Foi levada perante a Justiça inglesa recentemente -e o juiz responsável pelo caso, Peter Jackson, decidiu: Emma será alimentada à força, mesmo que isso signifique imobilização física e sedação.
Hoje, Emma pode olhar para a sua vida e não encontrar qualquer valor ou propósito. Mas um dia, recuperada psicologicamente, a perspectiva de Emma pode ser outra.
Claro que o juiz sabe que, mesmo com alimentação forçada, as hipóteses de sobrevivência de Emma são reduzidas: meses seguidos de quase jejum completo deixaram o seu organismo em estado deplorável.
Mas é preciso não desistir, diz o juiz. Mesmo contra a vontade da própria moça, pois só a morte é irreversível.
Eis a história que tem comovido e dividido a sociedade inglesa. Os argumentos de ambos os lados são conhecidos: há quem aplauda o juiz pela "decisão mais difícil de uma carreira" (palavras do próprio).
E há quem condene a sua sentença abusiva: a autonomia do sujeito, em matéria médica, é soberana. Eu devo poder recusar os tratamentos que bem entender mesmo que isso resulte em minha morte.
Entendo todos os argumentos. Teoricamente, e de acordo com as circunstâncias, sou capaz de simpatizar com ambos. Mas existe um terceiro elemento que paira sobre o caso e que, a meu ver, praticamente o decide.
Esse terceiro elemento somos nós. Nós, testemunhas potenciais da autodestruição de um ser humano. Nós, testemunhas silenciosas dessa autodestruição.
Anos atrás, o ensaísta e psiquiatra Anthony Daniels, nome verdadeiro do autor britânico Theodore Dalrymple, publicou na revista "The New Criterion" texto sobre as implicações éticas das diferentes formas de "morte assistida" ("Do We Own Our Lives?", fevereiro de 2009).
Por diversas vezes já me referi a esse texto aqui. Retorno a ele sem hesitar. É um texto primoroso porque oferece uma comparação primorosa: se alguém decide saltar de uma ponte, o gesto é autônomo, pessoal -e, palavra decisiva, solitário. Nada a fazer, tudo a lamentar.
Mas nenhuma pessoa saltará de uma ponte se eu estiver passando por ela e puder evitar o ato. Nesse momento agônico, a infeliz criatura pode espumar e espernear. Ou, inversamente, pode até dissertar com propriedade e inteligência sobre sua vida miserável, desprovida de rumo ou sentido. Nada disso me convence a largá-la.
Qualquer um pode cometer violência sobre si próprio. Não existe qualquer legitimidade para que a violência de terceiros sobre eles próprios me seja imposta também.
Como conclui Anthony Daniels no ensaio, a vida só nos pertence até certo ponto. Mas ela é também o resultado da teia de afetos, ligações e obrigações que estabelecemos uns com os outros.
Emma, 32 anos, ex-estudante de medicina, podia ter seguido outro caminho. Podia ter procurado uma cabana no fim do mundo para se despedir do seu calvário. Longe dos nossos olhos -e, tristemente, com o conhecimento e a compreensão de seus pais.
A partir do momento em que o seu caso é trazido perante a comunidade, ele deixa de ser apenas um caso pessoal e isolado. Passa a ser também a medida do que somos enquanto civilização.
Se a Justiça inglesa tivesse permitido que um doente psiquiátrico morresse em seus braços, desconfio que seria a sociedade do país a precisar de tratamento intensivo.
A vida só nos pertence até certo ponto. Ela é também o resultado da teia de afetos e ligações que estabelecemos
Emma (nome fictício) tem 32 anos. Foi estudante de medicina, e os colegas dizem que era uma pessoa inteligente e agradável.
O que os colegas não sabiam é que, desde a adolescência, Emma sofria de distúrbios alimentares graves, que a conduziram a uma anorexia severa.
Agora, aos 32, Emma deixou de se alimentar e expressou seu desejo de morrer. Acabar com o tormento é para ela mais importante do que continuar com uma vida que, aos seus olhos, perdeu o valor.
E os pais de Emma? Os pais concordam. Sim, eles gostariam que a filha tivesse uma vida normal, uma família, uma profissão, que morresse um dia, na velhice, rodeada por netos ou bisnetos.
Mas a realidade é outra: a filha sofre há vários anos. De forma atroz. Respeitar seu desejo de morte é, talvez, o gesto mais caridoso daqueles que a amam.
A história descrita não é invenção minha. Foi levada perante a Justiça inglesa recentemente -e o juiz responsável pelo caso, Peter Jackson, decidiu: Emma será alimentada à força, mesmo que isso signifique imobilização física e sedação.
Hoje, Emma pode olhar para a sua vida e não encontrar qualquer valor ou propósito. Mas um dia, recuperada psicologicamente, a perspectiva de Emma pode ser outra.
Claro que o juiz sabe que, mesmo com alimentação forçada, as hipóteses de sobrevivência de Emma são reduzidas: meses seguidos de quase jejum completo deixaram o seu organismo em estado deplorável.
Mas é preciso não desistir, diz o juiz. Mesmo contra a vontade da própria moça, pois só a morte é irreversível.
Eis a história que tem comovido e dividido a sociedade inglesa. Os argumentos de ambos os lados são conhecidos: há quem aplauda o juiz pela "decisão mais difícil de uma carreira" (palavras do próprio).
E há quem condene a sua sentença abusiva: a autonomia do sujeito, em matéria médica, é soberana. Eu devo poder recusar os tratamentos que bem entender mesmo que isso resulte em minha morte.
Entendo todos os argumentos. Teoricamente, e de acordo com as circunstâncias, sou capaz de simpatizar com ambos. Mas existe um terceiro elemento que paira sobre o caso e que, a meu ver, praticamente o decide.
Esse terceiro elemento somos nós. Nós, testemunhas potenciais da autodestruição de um ser humano. Nós, testemunhas silenciosas dessa autodestruição.
Anos atrás, o ensaísta e psiquiatra Anthony Daniels, nome verdadeiro do autor britânico Theodore Dalrymple, publicou na revista "The New Criterion" texto sobre as implicações éticas das diferentes formas de "morte assistida" ("Do We Own Our Lives?", fevereiro de 2009).
Por diversas vezes já me referi a esse texto aqui. Retorno a ele sem hesitar. É um texto primoroso porque oferece uma comparação primorosa: se alguém decide saltar de uma ponte, o gesto é autônomo, pessoal -e, palavra decisiva, solitário. Nada a fazer, tudo a lamentar.
Mas nenhuma pessoa saltará de uma ponte se eu estiver passando por ela e puder evitar o ato. Nesse momento agônico, a infeliz criatura pode espumar e espernear. Ou, inversamente, pode até dissertar com propriedade e inteligência sobre sua vida miserável, desprovida de rumo ou sentido. Nada disso me convence a largá-la.
Qualquer um pode cometer violência sobre si próprio. Não existe qualquer legitimidade para que a violência de terceiros sobre eles próprios me seja imposta também.
Como conclui Anthony Daniels no ensaio, a vida só nos pertence até certo ponto. Mas ela é também o resultado da teia de afetos, ligações e obrigações que estabelecemos uns com os outros.
Emma, 32 anos, ex-estudante de medicina, podia ter seguido outro caminho. Podia ter procurado uma cabana no fim do mundo para se despedir do seu calvário. Longe dos nossos olhos -e, tristemente, com o conhecimento e a compreensão de seus pais.
A partir do momento em que o seu caso é trazido perante a comunidade, ele deixa de ser apenas um caso pessoal e isolado. Passa a ser também a medida do que somos enquanto civilização.
Se a Justiça inglesa tivesse permitido que um doente psiquiátrico morresse em seus braços, desconfio que seria a sociedade do país a precisar de tratamento intensivo.
A era dos acordos específicos - JOSÉ PASTORE
O Estado de S.Paulo - 19/06
Duas importantes iniciativas mostram a necessidade de se expandir a pouca liberdade fixada pela CLT. Uma diz respeito à sugestão do senhor Sérgio Nobre, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que propõe a negociação de acordos coletivos específicos entre as empresas e os sindicatos laborais. A outra se refere à proposta do deputado Júlio Delgado (PSB-MG) para se criar um Simples Trabalhista também com base em acordos coletivos específicos. A primeira se dirige, primordialmente, às grandes empresas, e a segunda, às pequenas e às microempresas.
Para o leitor de outras áreas, resumo aqui as duas ideias. O projeto do Sindicato do ABC busca uma base legal para negociar, por exemplo, o gozo de férias em mais de dois períodos, o pagamento da Participação nos Lucros e Resultados (PLR) em várias parcelas, a redução do horário de almoço para 30 minutos (com saída antecipada no final do expediente) e outros direitos que hoje são inegociáveis. O Simples Trabalhista pretende a mesma coisa.
Para a garantia de negociações representativas, a primeira proposta prevê a criação de comissões sindicais nas empresas e o credenciamento das partes no Ministério do Trabalho. No Simples Trabalhista, como é inviável organizar comissões de dois ou três empregados, o Projeto de Lei 951/2011 prevê o monitoramento do programa pelo mesmo ministério.
Nos dois casos, a adesão é voluntária. No Simples Trabalhista, as empresas interessadas teriam de negociar um acordo coletivo específico com os sindicatos laborais para estabelecer um piso salarial diferenciado, a periodicidade do pagamento da PLR, a prática do banco de horas e outros direitos. A inscrição no programa seria feita mediante o preenchimento de requisitos constantes do modelo controlado por aquele ministério. Assuntos como definição do período de gozo de férias, formas de utilização do aviso prévio e parcelamento do 13.º salário, que normalmente são acertados entre empregados e empregadores, assim continuariam, agora com base legal.
O Simples Trabalhista prevê a simplificação da burocracia que cerca a contratação do trabalho. O objetivo central é o de estimular a formalização de empregados de pequenas e microempresas, estimados em cerca de 20 milhões.
Além de voluntário, o programa teria começo, meio e fim. Ao se credenciarem, as empresas passariam a recolher 2% do FGTS no primeiro ano, aumentando 2 pontos porcentuais a cada ano até chegar aos atuais 8%, e aí o programa se extinguiria.
Já tive oportunidades de estudar a ideia do Sindicato do ABC e manifestar a minha franca simpatia por ela. O Brasil precisa de regras que respeitem o que é negociado entre as partes. Não há razão para a lei ou a sentença querer dar a última palavra sobre o que julgam ser bom ou ruim para empregados e empregadores.
Na última quarta-feira, participei da primeira audiência pública que examinou a proposta do Simples Trabalhista na Câmara dos Deputados. A maioria dos participantes foi contra o projeto de lei. Os dirigentes sindicais e os profissionais de Direito que ali compareceram repetiram à exaustão que não desejam mexer na CLT - apesar da sua reconhecida desatualização. A reação foi tão forte que o relator do projeto, deputado Guilherme Campos (PSD/SP), deixou escapar o seu espanto diante de pessoas tão inteligentes e que estavam ali tratando as propostas de melhoria da CLT como verdadeiros sacrilégios. Mas essa é a nossa realidade. Enquanto nossos concorrentes modernizam as instituições para se manterem competitivos, nós, no Brasil, temos de conviver com amarras que mantêm milhões de trabalhadores no emprego informal e dificultam a vida dos empresários. Com a limitação das minhas forças e dentro de regras democráticas, lutarei para que essas duas inovações prosperem.
Homenagem à 'herança maldita' - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S.Paulo - 19/06
Na última sexta-feira a presidente Dilma Rousseff reuniu no Palácio do Planalto governadores e vice-governadores, anunciou ampla distribuição de recursos para projetos de infraestrutura, manifestou otimismo com as perspectivas da economia brasileira no contexto da crise global, foi muito aplaudida, tirou fotos, sorridente, ao lado do ministro Guido Mantega e certamente curtiu a agradável sensação de que a maior parte dos convidados saiu do encontro convencida de que nunca antes na história deste país o governo federal foi tão compreensivo e generoso com os Estados. Só faltou alguém lembrar que tudo aquilo só estava sendo possível graças à "herança maldita" deixada pelo governo Fernando Henrique.
Senão, vejamos. No final dos anos 90 era simplesmente caótica a situação financeira da maior parte dos Estados e municípios. Como observou em artigo publicado no Estado, no domingo passado, a jornalista Suely Caldas, "quase todos estavam falidos, não conseguiam investir um centavo porque a receita tributária inteira era comprometida com o pagamento de salários. Em alguns casos não dava nem para isso". E relembrou o episódio em que o chefe do Poder Judiciário de Alagoas "foi a Brasília entregar a chave do tribunal porque os juízes não recebiam salários há meses", para concluir: "Era o desfecho de anos a fio de gestões desastradas, irresponsáveis, governadores desviando dinheiro de investimento para financiar campanhas eleitorais. E quando o cofre esvaziava, corriam a Brasília para pedir mais".
De fato, até então imperava no País a mentalidade demagógica e irresponsável de que os governos podem gastar o que for necessário para cumprir promessas e atender a demandas - e também, é claro, para garantir o "por fora" que sustenta legendas partidárias e políticos corruptos - sem levar em conta sua capacidade de endividamento. Os orçamentos públicos eram peças da mais delirante ficção. O próximo governo que se virasse! Em seu segundo mandato, entre as medidas de austeridade adotadas para garantir a estabilidade econômica, o presidente Fernando Henrique enviou ao Congresso Nacional o projeto de Lei Complementar 101, a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), destinada a disciplinar os gastos de Estados e municípios, que passaram a ser limitados pela capacidade de geração de receitas de cada um deles. Além disso, a reforma então implantada estabeleceu regras rigorosas para a renegociação das dívidas dos Estados com a União e novas práticas de gestão destinadas a organizar as finanças e recuperar a governabilidade nos três níveis da administração pública. Quinze anos depois, a realidade fiscal do País, apesar de ainda longe do ideal, não mais se compara ao verdadeiro descalabro que imperava na maior parte das administrações estaduais e municipais na virada do século. Estados e municípios recuperaram o crédito.
A aprovação da LRF pelo Congresso, no entanto, foi uma batalha árdua que exigiu toda a capacidade de articulação política do governo contra a feroz oposição liderada pelo PT. A exemplo do que vinham fazendo sistematicamente desde a eleição de Tancredo Neves em 1985 - e disso são exemplos a votação do texto da nova Constituição Federal, em 1988, a votação da Medida Provisória que instituiu o Plano Real em 1994 e todos os projetos destinados, já no governo FHC, a estabilizar a economia -, Lula e seus liderados se posicionaram sempre contra, jamais levando em consideração o interesse nacional, mas apenas sua obsessão pela conquista do poder, que inspirava o discurso demagógico, baseado no confronto com as "elites".
Quando chegou ao poder em 2003, o lulopetismo deixou cair a máscara e passou a zelar pelos fundamentos econômicos "neoliberais", até hoje vigentes, que combatera até a véspera. Em 2010, num seminário comemorativo dos 10 anos da LRF, o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci teve o elogiável bom senso de afirmar que o PT errara ao combater a LRF em 2001. É difícil imaginar outro petista fazendo a mesma autocrítica. Mas o fato é que a festiva solenidade de sexta-feira no Planalto acabou sendo uma homenagem à "herança maldita" de FHC.
"Por amor a São Paulo" - ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SP - 19/06
BRASÍLIA - Acabo de voltar de uma semana a Curaçao e leio, ouço, vejo as fotos de Maluf e Lula, com Fernando Haddad no meio, e me sinto como o personagem Sebá, o último exilado político, que ouvia pelo telefone as piores notícias sobre o Brasil e tascava para a mulher: "Tu não queres que eu volte!".
O petista Haddad abraçado ao PSB, que, de socialista, cada dia tem menos, e, do outro lado, ao PP de Maluf, que foi o inimigo nº 1 da sociedade e tem uma folha corrida internacional. O tucano José Serra de braços dados com o PV, de discurso bonito e de prática nem tanto, e, do outro lado, com o PR de Alfredo Nascimento, que saiu escorraçado dos Transportes na tal "faxina ética".
Onde o PSDB e o PT foram parar? Será que 1min35 a mais na TV e no rádio justifica que se engalfinhem por Maluf? Será que vale um cargo federal seja lá em que ministério for? Será que vale as décadas de lutas dos petistas e a história da cúpula tucana?
Lula passou por cima de Marta Suplicy e do PT para impor Haddad, tentou a jogada com Gilberto Kassab e levou uma rasteira fenomenal, entregou a cabeça de petistas pelo Brasil afora para atrair o PSB e, agora, vende a alma ao diabo por Maluf.
Bem, depois de anistiar Fernando Collor e convencer os antigos caras-pintadas de que as rixas eram só oportunismo político, Lula usa seu peso, sua história, seu carisma e o seu partido para reduzir tudo o que Maluf representa a algo banal, sem importância. O importante, ensina Lula do alto de seus 80% de popularidade, é vencer.
Coitado de Haddad, o novo que já entra velho. Sorte de Marta, que escapou dessa. E juízo de Erundina, para quem, segundo a "Veja", "não é preciso ser vice para fazer política".
Mas a melhor frase é a do próprio Maluf, que exigiu que Lula e Haddad fossem à casa dele e disse que selava a aliança "por amor a São Paulo". O único ganhador de toda essa história é ele. Quem ri por último ri melhor.
BRASÍLIA - Acabo de voltar de uma semana a Curaçao e leio, ouço, vejo as fotos de Maluf e Lula, com Fernando Haddad no meio, e me sinto como o personagem Sebá, o último exilado político, que ouvia pelo telefone as piores notícias sobre o Brasil e tascava para a mulher: "Tu não queres que eu volte!".
O petista Haddad abraçado ao PSB, que, de socialista, cada dia tem menos, e, do outro lado, ao PP de Maluf, que foi o inimigo nº 1 da sociedade e tem uma folha corrida internacional. O tucano José Serra de braços dados com o PV, de discurso bonito e de prática nem tanto, e, do outro lado, com o PR de Alfredo Nascimento, que saiu escorraçado dos Transportes na tal "faxina ética".
Onde o PSDB e o PT foram parar? Será que 1min35 a mais na TV e no rádio justifica que se engalfinhem por Maluf? Será que vale um cargo federal seja lá em que ministério for? Será que vale as décadas de lutas dos petistas e a história da cúpula tucana?
Lula passou por cima de Marta Suplicy e do PT para impor Haddad, tentou a jogada com Gilberto Kassab e levou uma rasteira fenomenal, entregou a cabeça de petistas pelo Brasil afora para atrair o PSB e, agora, vende a alma ao diabo por Maluf.
Bem, depois de anistiar Fernando Collor e convencer os antigos caras-pintadas de que as rixas eram só oportunismo político, Lula usa seu peso, sua história, seu carisma e o seu partido para reduzir tudo o que Maluf representa a algo banal, sem importância. O importante, ensina Lula do alto de seus 80% de popularidade, é vencer.
Coitado de Haddad, o novo que já entra velho. Sorte de Marta, que escapou dessa. E juízo de Erundina, para quem, segundo a "Veja", "não é preciso ser vice para fazer política".
Mas a melhor frase é a do próprio Maluf, que exigiu que Lula e Haddad fossem à casa dele e disse que selava a aliança "por amor a São Paulo". O único ganhador de toda essa história é ele. Quem ri por último ri melhor.
Os santos da aliança - JANIO DE FREITAS
FOLHA DE SP - 19/06
Lula, Erundina e Maluf, e, em meio a eles, Haddad -a quem PT, PSB e PP incumbem da tarefa de renovação
A COMPOSIÇÃO é fascinante, na eloquência com que sintetiza tanto dos nossos tempos: Lula, Luíza Erundina e Paulo Maluf entrelaçados. Uma nova santa aliança em versão brasileira e atualizada.
Erundina, que nunca se entendeu bem com Lula no PT, rompeu com ele e abandonou o partido por não aceitar que petismo fosse lulismo. Lula, que dirigiu a Maluf, por anos e anos, as acusações mais graves e os piores insultos. Maluf, que atacou o PT, montou uma estrutura eleitoral em São Paulo para bloqueá-lo (com várias vitórias) e combateu Lula ao melhor estilo malufista.
Lula, que jamais apreciou Erundina, e em certa medida foi por ela derrotado quando a viu escolhida no PT e eleita para a prefeitura paulistana. Erundina, que lançou sobre Maluf uma carga pesada de acusações sobre a realidade encontrada na prefeitura e na própria cidade. Maluf, que em suas respostas não poupou Erundina nem como pessoa.
Lula, Erundina e Maluf, e, em meio a eles, Fernando Haddad -a quem o PT e o PSB, e por extensão Maluf e o PP, incumbem da tarefa de renovação, por suas muitas qualidades, da política tão fosca que perdura em São Paulo.
Na outra calçada, a frustração: iam tão bem os negócios, digo, as negociações para a aliança Serra, Kassab e Maluf, e de repente ficam aqueles dois outra vez recolhidos ao seu enlace de contorcionistas. Porque o DEM, é claro, não dá para consolar ninguém. Mas sempre há um Paulinho desejoso de crescer da condição diminutiva para o lugar de um Paulo disputado.
SEM RESPOSTA
As provas valem, até prova em contrário. Ou até que um recurso ao Supremo ponha em suspenso a derrota, por dois a um, da tese de invalidade da autorização judicial para "grampear" Carlos Cachoeira e seu círculo. A decisão, porém, até por sua margem mínima, deixa em aberto questões muito acima do processo de Cachoeira.
Os comentários exibiram muita confusão a propósito da tese derrotada. A Polícia Federal vai continuar baseando em interceptações telefônicas muitas de suas investigações. E quais são, afinal, os critérios para que juízes as autorizem?
A denúncia anônima, sem investigações comprovadoras, é suficiente para a PF pedir e obter a autorização, como até agora foi próprio só das ditaduras? O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, diz que a investigação "foi legítima", mas não explica o essencial no caso, que são os "grampos" baseados em denúncia anônima, ou não.
Para obter as respostas devidas à opinião pública, talvez seja preciso grampear a PF. Com base em denúncia anônima.
Lula, Erundina e Maluf, e, em meio a eles, Haddad -a quem PT, PSB e PP incumbem da tarefa de renovação
A COMPOSIÇÃO é fascinante, na eloquência com que sintetiza tanto dos nossos tempos: Lula, Luíza Erundina e Paulo Maluf entrelaçados. Uma nova santa aliança em versão brasileira e atualizada.
Erundina, que nunca se entendeu bem com Lula no PT, rompeu com ele e abandonou o partido por não aceitar que petismo fosse lulismo. Lula, que dirigiu a Maluf, por anos e anos, as acusações mais graves e os piores insultos. Maluf, que atacou o PT, montou uma estrutura eleitoral em São Paulo para bloqueá-lo (com várias vitórias) e combateu Lula ao melhor estilo malufista.
Lula, que jamais apreciou Erundina, e em certa medida foi por ela derrotado quando a viu escolhida no PT e eleita para a prefeitura paulistana. Erundina, que lançou sobre Maluf uma carga pesada de acusações sobre a realidade encontrada na prefeitura e na própria cidade. Maluf, que em suas respostas não poupou Erundina nem como pessoa.
Lula, Erundina e Maluf, e, em meio a eles, Fernando Haddad -a quem o PT e o PSB, e por extensão Maluf e o PP, incumbem da tarefa de renovação, por suas muitas qualidades, da política tão fosca que perdura em São Paulo.
Na outra calçada, a frustração: iam tão bem os negócios, digo, as negociações para a aliança Serra, Kassab e Maluf, e de repente ficam aqueles dois outra vez recolhidos ao seu enlace de contorcionistas. Porque o DEM, é claro, não dá para consolar ninguém. Mas sempre há um Paulinho desejoso de crescer da condição diminutiva para o lugar de um Paulo disputado.
SEM RESPOSTA
As provas valem, até prova em contrário. Ou até que um recurso ao Supremo ponha em suspenso a derrota, por dois a um, da tese de invalidade da autorização judicial para "grampear" Carlos Cachoeira e seu círculo. A decisão, porém, até por sua margem mínima, deixa em aberto questões muito acima do processo de Cachoeira.
Os comentários exibiram muita confusão a propósito da tese derrotada. A Polícia Federal vai continuar baseando em interceptações telefônicas muitas de suas investigações. E quais são, afinal, os critérios para que juízes as autorizem?
A denúncia anônima, sem investigações comprovadoras, é suficiente para a PF pedir e obter a autorização, como até agora foi próprio só das ditaduras? O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, diz que a investigação "foi legítima", mas não explica o essencial no caso, que são os "grampos" baseados em denúncia anônima, ou não.
Para obter as respostas devidas à opinião pública, talvez seja preciso grampear a PF. Com base em denúncia anônima.
Requintes de crueldade - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 19/06
Fazer com que Lula fosse visitá-lo em sua casa para selar publicamente o acordo político de apoio à candidatura de Fernando Haddad à prefeitura de São Paulo é o ponto de destaque, com requintes de crueldade, dessa aliança, que de inusitada não tem nada, a não ser a marcha batida do PT para escancarar seu pragmatismo à medida que Lula se sente acima do bem e do mal, podendo fazer qualquer coisa para vencer eleições.
Em 2004, Maluf já apoiara Marta Suplicy no segundo turno contra Serra, mas naquela ocasião ele disse que o fazia sem ter tido contato nem com Lula nem com Marta, reafirmando suas divergências com o PT.
Desta vez foi diferente. Além de ganhar para um indicado seu uma secretaria do Ministério das Cidades, um Maluf radiante recebeu Lula e Haddad em sua casa, destacando o "sacrifício" que o ex-presidente fizera indo até lá, apesar das cautelas médicas devido à sua recuperação da cirurgia de câncer.
Pelo menos o conselho de evitar falar em público ajudou Lula a sair de cena sem ter que justificar tal aliança.
A senadora Marta Suplicy, que aceitara de bom grado o apoio envergonhado de Maluf em 2004, hoje, rejeitada por ser uma alternativa política "velha", de acordo com Lula, diz que a aliança com Maluf é "pesadelo" maior do que a com o prefeito Gilberto Kassab, que ela também rejeitara.
O maior problema, porém, para a candidatura petista é a reação da candidata a vice Luiza Erundina, que de incomodada com o pragmatismo petista, mas engolindo a seco a aliança, passou a rejeitá-la publicamente, convencida de que ela não será apenas uma união política "para constar", diante da pose de Lula carrancudo com Maluf sorridente, tendo o "rapaz esforçado" Fernando Haddad no centro.
O acordo político com Maluf conseguiu ofuscar a boa notícia que a nova pesquisa Datafolha trouxe para a campanha petista.
Ter quase triplicado o apoio depois de algumas aparições ao lado de Lula e da presidente Dilma na televisão indicava que Haddad pode ter a esperança de vir a ser adotado pelo eleitorado petista conforme a campanha progredir, o que lhe daria um patamar mínimo de 30% dos votos para competir com o tucano José Serra.
Mas aliança tão formal e explícita com o grupo de Maluf está reforçando as críticas do grupo de Marta Suplicy dentro do PT e abriu uma divergência séria no PSB, que pelo visto terá que buscar outro candidato a vice para Haddad.
A ex-prefeita Luiza Erundina não parece ser do tipo que abre mão de suas convicções, mesmo que sejam ultrapassadas como o socialismo que ainda prega.
Sua presença na chapa petista levava a candidatura Haddad mais para a esquerda do que seria desejável numa capital que tem a tradição de votar ao centro, quando não à direita.
O próximo ataque especulativo de Lula será em cima do PMDB se a candidatura do deputado federal Gabriel Chalita permanecer estacionada abaixo dos dois dígitos e menor do que a de Haddad.
O PMDB queria usar a disputa paulistana para vender caro seu apoio ao PT num segundo turno, ou até mesmo ter Chalita como o candidato oficial num segundo turno contra Serra.
Tudo para neutralizar o ataque que o PSB vem orquestrando, com o objetivo de tomar o seu lugar como principal partido da base aliada, abrindo caminho para o governador Eduardo Campos ser o vice de Dilma em 2014.
Ou, conforme os ventos da economia, surgir como uma alternativa ao próprio PT.
O maior receio do PMDB é que, após a eleição, o PSB se una ao PSD de Kassab para formar o maior partido no Congresso.
Isso só não acontecerá, aliás, se o tucano José Serra vencer a eleição paulistana, o que coloca mais um pouco de incoerência nessa armação partidária onde ninguém é de ninguém e todo mundo é de todo mundo, dependendo da ocasião.
O PSD de Kassab iria para a aliança de Haddad se Serra não fosse o candidato tucano, e Maluf iria para a base serrista se o PSDB aceitasse pagar o alto preço que o PT pagou.
Esse imbróglio paulistano não é, no entanto, o único empecilho à aliança do PT com o PSB, que está se organizando nacionalmente para se colocar como protagonista na cena política em 2014.
Assim como a disputa pela prefeitura em São Paulo está intimamente ligada à sucessão presidencial de 2014, com os dois partidos querendo fortalecer suas posições no maior colégio eleitoral do país, algumas outras capitais também definem agora disputas políticas que serão fundamentais para a campanha à reeleição da presidente Dilma e para o PSDB.
Em Fortaleza e Recife, PT e PSB não conseguiram se entender até o momento, e tudo indica que sairão separados na disputa regional.
Em Salvador, ACM Neto, do DEM, com o apoio do PSDB, pode fazer ressurgir a força carlista na capital baiana.
Em Manaus, uma aliança entre Amazonino Mendes e Arthur Virgílio pode dar ao ex-senador tucano as condições políticas para disputar a prefeitura de Manaus, o que está preocupando a base aliada governista, à frente o ex-governador Eduardo Braga.
Líder do governo no Senado em substituição ao eterno líder de qualquer governo Romero Jucá, Braga vem sofrendo ataques do grupo de senadores como Sarney, Calheiros e o próprio Jucá, que aparentemente a presidente Dilma quer ver fora do centro de decisões.
Se tiver que concorrer a prefeito para unir a base governista contra a oposição, Braga corre o risco de perder o cargo no Senado, embora considere que pode acumular a candidatura com a liderança do governo.
Além do jogo de poder visando à eleição presidencial, há ainda em disputa as presidências da Câmara e do Senado.
O grupo do senador Sarney quer manter o controle do Senado mesmo depois que ele sair, e dois nomes aparecem na disputa no PMDB, a maior bancada: Edison Lobão e Renan Calheiros, o que aparentemente não agrada a Dilma, que gostaria de um nome novo de sua confiança.
Na Câmara, a vez seria do PMDB, mas o candidato preferencial do partido, o líder Henrique Eduardo Alves, desgastou-se com a presidente Dilma.
Um eventual acordo em São Paulo pode colocar em discussão a sucessão na Câmara, e o vice-presidente Michel Temer deverá ser o fiador.
Como se vê, há muito mais do que política municipal em disputa nas próximas eleições.
Crime quente ou crime frio? - ARNALDO JABOR
O ESTADÃO - 19/06
"Cara, matar o homem eu entendo, até eu podia matar, mas esquartejar!... Ah, isso é demais!" Ouvi essa frase várias vezes desde o nefando crime. "Matou a mãe sem motivo" - assim eram as famosas manchetes dos jornais policiais d'antanho. Assassinos comuns nos confortam com seus motivos bárbaros (miséria, ignorância), mas o esquartejador tira-nos o sossego da alma, pois há entre nós e a loucura um limite que é quase nada. Lembram daquele cirurgião que desmembrou a namorada, alegando "legítima defesa"? E aquele garoto que matou pai e mãe nos Jardins de São Paulo e que a rica família conseguiu esconder? E o caso Isabela, e a Suzanne? Fica um buraco vazio em nossa memória. Não aguentamos viver sem clareza entre o bem e o mal.
Entendemos até as quentes paixões assassinas, mas o horror é gelado. A Elize disse que matou por ciúmes, por amor, para realizar ao avesso um pavoroso amor/ódio que lhe devorava a alma.
Agora, surgiu um legista barbudo que nos trouxe uma nova versão e (talvez) alívio de entendimento: "Foi muito difícil fazer a necropsia de muitos pedaços em saquinhos de plástico" - reclamou -, "mas, creio que ele ainda estava vivo quando foi degolado". E aí?
Isso nos conforta ou apavora? Essa versão de crime 'quente' torna a mulher mais monstro ou menos monstro?
A cena: o Matsunaga caído vê, num flash, sua amada, com a faca que cortara a pizza, rasgando sua garganta - um raio antes da escuridão total. Por um segundo, houve a testemunha do gesto. Por um instante, houve um fotograma de filme de horror, um fotograma de cinema realista mais crível que a fria cirurgia da vingança. Como no cinema, a verossimilhança é exigência das plateias. O crime seco faz menos sucesso. Se ela o degolou vivo, é bom para a defesa ou para a acusação? Ela, impulsionada pelo ódio, aumenta ou diminui a gravidade do homicídio? O que é mais desumano - o sangue quente ou sangue frio?
No crime quente haveria ao menos uma espécie de 'confissão' à vítima, quase um diálogo. Ele veria a própria morte e não seria apagado como um abajur e transformado em pacotinhos nas bolsas Vuitton. Vejo nas revistas que fica mais fácil classificá-la de 'monstro', se ele foi degolado vivo. Ela seria mais cruel, mais violenta, porém mais compreensível. "Presa de desatino, arrancou à faca o coração do amante" - dizia outra antiga manchete. (Este texto vai meio 'esquartejado' também, porque é impossível fechar tudo numa síntese, exatamente como é impossível para o legista juntar as partes e alcançar um sentido único.)
E se o crime foi gelado? No caso da morte fria, o japonês não saberia nem que morrera. E teríamos não apenas a crueldade, mas a burocrática cirurgia da vingança. Ela poderia ter chamado a polícia, entregar o corpo intacto, confessar o crime por autodefesa e ser inocentada em julgamento. Mas, ela era, como os jornais sempre repetem, uma "garota de programa", uma puta, claro, essa palavra tão odiosa quanto desejada. Nós pagamos a prostituta para ela não existir. E subjaz no freguês, em muitos putanheiros, além do medo de amar, uma vontade secreta de ser bom, de merecer a gratidão da mulher. Por medo e desejo, o Matsunaga gostava de se sentir 'salvador', protegido pela gratidão das 'decaídas'.
Mas, hoje as prostitutas se respeitam, são profissionais sem culpa. Antes, o freguês era o "sujeito" dos bordeis. Hoje, ele é o objeto. Há um vento gelado nos lupanares atuais, limpos, rápidos como uma lanchonete. Há algo de McDonald's nos puteiros contemporâneos.
Nos noticiários há uma sutil analogia entre putaria e crime, entre a mulher que se dá em pedaços a qualquer um e depois esquarteja. Ela deve ter pensado: "Vou perder tudo que tenho; logo, tenho de esconder o corpo".
O desmembramento desperta em nós uma curiosidade macabra, semelhante à fantasia primitiva de assistirmos à própria fecundação, a chamada 'cena primária' dos pais se amando: os dois corpos juntos com uma faca entre eles.
A cena: A moça deu o tiro. Instalou-se na casa um grande silêncio. O clima é outro; não um violento melodrama, mas um seco documentário.
A filha dormia, a babá tinha ido embora, os quadros estavam nas paredes, os restos de pizza esfriavam e os dois ficaram sozinhos.
Sentou no sofá para pensar no que fazer, foi buscar a faca de cortar a pizza, esperou o sangue coagular e dedicou-se à metódica tarefa de corte.
Eu acho mais terrível a solidão dos dois: ela viva e ele virado em coisa. Enfim, sós - quase um "tête-à-tête". O que aterroriza é a naturalidade do trabalho da assassina, como se trincha uma galinha. No Holocausto, o mais espantoso era a zelosa banalidade do extermínio - quantos dentes de ouro, quantos óculos, quantos anéis.
O esquartejamento é uma segunda morte. É o contrário da tortura em que o desesperado desejo da vítima é morrer. No caso, o que houve foi uma tortura post-mortem, em que a vítima não sentia mais nada, mas era preciso que fosse desumanizada, impedida para sempre de subir aos céus, de reencarnar. É isso que o esquartejador almeja: privar o morto até da morte, impedir uma identidade para o corpo.
O que me fascina nas prostitutas não é a falta de uma 'moralidade', não é o 'pecado' atribuído a suas vidas; o que impressiona é a espantosa mutação existencial provocada por centenas de pedaços de seu corpo dado a fregueses, anos a fio. Como fica a cabeça de uma prostituta, mistura de heroína com desgraçada, com uma experiência de humilhações que ninguém tem?
A marca da prostituição é muito profunda. Mesmo assim, na maioria delas mora um desejo de amor para além do "michê". Tentam, mas são humilhadas na gratidão. O cara tira a mulher da 'vida fácil' e isso nunca é esquecido pelos dois. Um dia virá a frase: "Vai voltar para o lixo, sua puta!" Ou seja, não adianta procurarmos uma explicação que sintetize o crime, como se a vida social fosse um contrato de bom senso. Como se fôssemos animais racionais e a loucura, um desvio. É o contrário, irmãos...
Estabilidade no caos - VLADIMIR SAFATLE
FOLHA DE SP - 19/06
A Europa pode respirar aliviada. Tudo continuará do mesmo jeito. Com a derrota "in extremis" dos esquerdistas do Syriza nas eleições gregas do último domingo, a União Europeia poderá continuar sua bem-sucedida farsa visando levar a opinião pública mundial a crer que os gregos são os únicos responsáveis por uma crise que eles não inventaram.
A diretora-geral do FMI poderá continuar afirmando que tem mais dor no coração pelo sofrimento dos filhos dos nigerianos do que pelos filhos dos gregos, mesmo que não faça absolutamente nada para salvar um ou outro.
Por fim, os economistas, preocupados em continuar a trabalhar e fazer consultorias para bancos e fundos de investimento, continuarão a creditar toda a destruição pela qual passa a Grécia à "gastança" excessiva do Estado e à "preguiça" dos povos do Sul.
Durante toda a campanha, a imprensa mundial criou uma dicotomia sintomática entre os partidos "pró-europeus" (no caso, a direita da Nova Democracia e a social-democracia do Pasok) e os "antieuropeus", Syriza à frente.
Mas a boa pergunta é: o que significa, nesse contexto, "ser europeu"? Uma associação entre os que partilham esperanças de cosmopolitismo, igualdade social e segurança para os mais vulneráveis? Ou um clube daqueles que permitem a condução da economia de seus países pelos imperativos de salvação do sistema financeiro internacional?
Como se não bastasse a destruição da Europa após a espoliação de recursos públicos para salvar bancos falidos, vemos agora o sequestro de seu significante. Daqui para a frente, "Europa" significa: "aqueles que aceitam jogar, até a morte, as regras de um jogo econômico no qual a destruição social é compensada pela xenofobia".
Nas eleições gregas, os verdadeiros europeus eram do Syriza, pois eles representavam o histórico de lutas sociais que marcaram o continente. Suas propostas sobre a dívida grega consistiam, em larga medida, na aplicação das mesmas condições das quais a
Alemanha se beneficiou após a Segunda Guerra Mundial: prazo distendido de pagamento, possibilidade de usar o dinheiro emprestado para investimentos públicos, cláusulas de salvaguarda para políticas sociais, entre outras. Mas isso era pedir demais.
Enquanto isso, a única nação que conseguiu recuperar-se da crise econômica foi a Islândia: um país que se recusou a usar dinheiro público para pagar a dívida de seu sistema bancário, que impôs controle de capital e estatizou todas as operações domésticas de seus bancos. Uma nação que, simplesmente, não existe no mapa da maioria dos analistas econômicos.
A Europa pode respirar aliviada. Tudo continuará do mesmo jeito. Com a derrota "in extremis" dos esquerdistas do Syriza nas eleições gregas do último domingo, a União Europeia poderá continuar sua bem-sucedida farsa visando levar a opinião pública mundial a crer que os gregos são os únicos responsáveis por uma crise que eles não inventaram.
A diretora-geral do FMI poderá continuar afirmando que tem mais dor no coração pelo sofrimento dos filhos dos nigerianos do que pelos filhos dos gregos, mesmo que não faça absolutamente nada para salvar um ou outro.
Por fim, os economistas, preocupados em continuar a trabalhar e fazer consultorias para bancos e fundos de investimento, continuarão a creditar toda a destruição pela qual passa a Grécia à "gastança" excessiva do Estado e à "preguiça" dos povos do Sul.
Durante toda a campanha, a imprensa mundial criou uma dicotomia sintomática entre os partidos "pró-europeus" (no caso, a direita da Nova Democracia e a social-democracia do Pasok) e os "antieuropeus", Syriza à frente.
Mas a boa pergunta é: o que significa, nesse contexto, "ser europeu"? Uma associação entre os que partilham esperanças de cosmopolitismo, igualdade social e segurança para os mais vulneráveis? Ou um clube daqueles que permitem a condução da economia de seus países pelos imperativos de salvação do sistema financeiro internacional?
Como se não bastasse a destruição da Europa após a espoliação de recursos públicos para salvar bancos falidos, vemos agora o sequestro de seu significante. Daqui para a frente, "Europa" significa: "aqueles que aceitam jogar, até a morte, as regras de um jogo econômico no qual a destruição social é compensada pela xenofobia".
Nas eleições gregas, os verdadeiros europeus eram do Syriza, pois eles representavam o histórico de lutas sociais que marcaram o continente. Suas propostas sobre a dívida grega consistiam, em larga medida, na aplicação das mesmas condições das quais a
Alemanha se beneficiou após a Segunda Guerra Mundial: prazo distendido de pagamento, possibilidade de usar o dinheiro emprestado para investimentos públicos, cláusulas de salvaguarda para políticas sociais, entre outras. Mas isso era pedir demais.
Enquanto isso, a única nação que conseguiu recuperar-se da crise econômica foi a Islândia: um país que se recusou a usar dinheiro público para pagar a dívida de seu sistema bancário, que impôs controle de capital e estatizou todas as operações domésticas de seus bancos. Uma nação que, simplesmente, não existe no mapa da maioria dos analistas econômicos.
Contra a retranca - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 19/06
Governo dobra sindicalistas
O governo Dilma fez um apelo aos sindicatos que representam delegados e agentes da Polícia Federal para que não façam manifestações durante a Rio+20. Os policiais pretendiam promover panfletagens no Galeão, onde chegam as delegações estrangeiras, e no Riocentro, onde as autoridades vão se reunir, reclamando das condições salariais. Depois de conversarem com o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) e ouvirem que o governo fará uma proposta de reajuste, com mudanças no plano de carreiras e aprovação do adicional nas fronteiras, os sindicalistas optaram por "um voto de confiança" e abdicaram do protesto.
FORA DA CPI. O senador Humberto Costa (PT-PE), na foto, saiu da CPI do Caso Cachoeira. Ele será substituído por Jorge Viana (PT-AC). Costa, que ontem leu a primeira parte de seu relatório sobre Demóstenes Torres (GO), vai passar a se dedicar às eleições para a prefeitura de Recife. Ele relata ter o apoio do ex-prefeito João Paulo, reclama do atual prefeito, João da Costa, que não quer conversa, e diz que vai lutar pelo apoio do PSB.
Conduzido
Apesar da campanha contra petista, a presidente Dilma e o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) nomearam Emmanoel Campelo de Souza Pereira para o Conselho Nacional de Justiça. Indicado pelo PMDB, ele foi aprovado na Câmara.
No holofote
O senador Pedro Simon (PMDB-RS) considera inviável a realização de uma CPI paralela para investigar o Caso Cachoeira. Sobre o depoimento de Luiz Antônio Pagot, o senador pretende realizá-lo na semana que vem, após a Rio+20.
Todos contra a política alemã
Nos contatos bilaterais que promoveu ontem, a presidente Dilma virou uma espécie de porta-voz dos dirigentes mundiais contra a política alemã de combater a crise com austeridade. A presidente Dilma, que se reúne hoje com a primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel, vai insistir na defesa de que é preciso estimular a economia e apostar no crescimento para manter o nível do comércio internacional e aliviar a crise mundial.
Não foi surpresa
Integrantes da CPI do Caso Cachoeira não ficaram surpresos com o prazo de três sessões que o STF deu para a defesa do senador Demóstenes Torres (GO). Senadores que já foram deputados argumentam que esse é o rito da Câmara.
Crack
O Ministério da Justiça vai desembolsar R$ 37 milhões, até 2014, em programa piloto de combate ao crack em Alagoas. O dinheiro será destinado para o tratamento aos usuários e para enfrentar traficantes e organizações criminosas.
O PRESIDENTE da Anatel, João Rezende, comprou uma dor de cabeça com os servidores da autarquia. Ele anulou portaria que instituiu o horário flexível, que reduzia em uma hora a jornada de trabalho. As entidades já perderam três mandados de segurança.
O ACORDO PT-PP em São Paulo não prevê a presença do deputado Paulo Maluf no programa de TV.
A CHAPA PSB-PMDB para a prefeitura de Fortaleza está pronta. Ela terá o socialista Roberto Cláudio (presidente da Assembleia) e Gaudêncio Lucena, sócio do senador Eunício Oliveira (PMDB-CE), na vice.
Quanto vale o show - DORA KRAMER
O Estado de S.Paulo - 19/06
Na geleia geral vigente no cenário político sobram pouquíssimas vozes moralmente abalizadas para condenar a aliança do PT com Paulo Maluf na eleição municipal de São Paulo.
Dizer o quê, se apoios são pagos com cargos de maneira explícita, variando apenas se a quitação ocorre à vista e com pronta entrega de cargos - como no caso de uma secretaria no Ministério das Cidades entregue ao PP de Maluf - ou a prazo na forma de promessa de ocupação de espaços na máquina pública?
Espantar-se com mais o quê, se não há resquício de preocupação com identidades, nem falemos ideológicas, mas minimamente programáticas, e se a referência única é o tempo de televisão a ser acumulado pelo carro-chefe da coalizão e beneficiário principal da negociata?
Criticar quem poderá, se todos agem segundo a mesma ausência de critério?
O principal adversário do PT em São Paulo, o PSDB, é que não haverá de ser, pois até outro dia estava negociando apoio com o mesmo personagem. Inimigo tradicional dos petistas no plano regional, mas há quase dez anos aliado deles em âmbito federal.
Questão resolvida e do ponto de vista da coerência superada lá atrás, quando Lula atraiu a legenda para a base do governo da qual nunca mais saiu.
Portanto, não há razão para tanto espanto, para tão efusivos ataques à "incoerência" do PT. Ou mesmo para o "desconforto" expresso pela deputada Luiza Erundina indicada para vice de Fernando Haddad em composição com o PSB nem para o "pesadelo" apontado pela senadora Marta Suplicy.
Maluf é diferente, um emblema, nome que já virou verbo e destaque na lista de procurados pela Interpol?
Pois nesses tempos em que réus acusados de integrar organização criminosa ocupam postos de direção partidária, ganham cargos na estrutura federal, presidem comissões importantes no Congresso, apresentam-se como candidatos ao eleitorado que gentilmente lhes dão votos para representação legislativa e executiva, francamente, Paulo Maluf é mera peça de composição do ambiente.
Digam com sinceridade o senhor e a senhora se, na essência, há diferença entre a pose de Lula ao lado de Maluf e Haddad agora e dos atos de defesa que, como presidente, assumiu em prol de protagonistas de escândalos?
Não estamos diante de nenhuma novidade. O que vemos é resultado do acúmulo de abusos cometidos nas barbas de uma sociedade que aceita tudo e ainda bate palmas.
Não reage nas urnas aos exotismos cada vez mais exóticos dos partidos que não se distinguem mais no mérito de suas propostas nem fazem questão de disfarçar a sanha em que se lançam a um vale tudo desmoralizante por um minuto a mais na televisão.
Pior que isso só a falsidade dos indignados de ocasião. Onde estavam nos últimos anos enquanto um presidente da República usava repetidas vezes do argumento do "todo mundo faz" para amenizar efeitos de denúncias que envolvessem qualquer um que pudesse lhe propiciar ganhos políticos?
Onde estavam quando esse mesmo presidente zombava da Justiça, menosprezava as instituições, desqualificava o Congresso com uma ofensiva de cooptação explícita como nunca se viu?
Alguns quietos, outros na linha de frente da defesa da política das "mãos sujas". Ora, uma aliança do PT com Maluf em São Paulo é mais um entre tantos outros atos de pragmatismo exacerbado e mistificação de resultados que fazem as normas da casa.
Está demais? Sem dúvida, mas já faz muito tempo que se passou da conta.
Anonimato. O Tribunal Regional Federal da 1.ª Região livrou a Justiça de um vexame ao decidir pela legalidade das provas obtidas pela Polícia Federal contra Carlos Cachoeira e companhia.
O argumento da defesa, de que denúncia original era anônima e por isso inválida, equivaleria a considerar nulas todas as investigações decorrentes de informações dos disque-denúncia, cujo trabalho (exitoso) se baseia exatamente na preservação da identidade do denunciante.
Na geleia geral vigente no cenário político sobram pouquíssimas vozes moralmente abalizadas para condenar a aliança do PT com Paulo Maluf na eleição municipal de São Paulo.
Dizer o quê, se apoios são pagos com cargos de maneira explícita, variando apenas se a quitação ocorre à vista e com pronta entrega de cargos - como no caso de uma secretaria no Ministério das Cidades entregue ao PP de Maluf - ou a prazo na forma de promessa de ocupação de espaços na máquina pública?
Espantar-se com mais o quê, se não há resquício de preocupação com identidades, nem falemos ideológicas, mas minimamente programáticas, e se a referência única é o tempo de televisão a ser acumulado pelo carro-chefe da coalizão e beneficiário principal da negociata?
Criticar quem poderá, se todos agem segundo a mesma ausência de critério?
O principal adversário do PT em São Paulo, o PSDB, é que não haverá de ser, pois até outro dia estava negociando apoio com o mesmo personagem. Inimigo tradicional dos petistas no plano regional, mas há quase dez anos aliado deles em âmbito federal.
Questão resolvida e do ponto de vista da coerência superada lá atrás, quando Lula atraiu a legenda para a base do governo da qual nunca mais saiu.
Portanto, não há razão para tanto espanto, para tão efusivos ataques à "incoerência" do PT. Ou mesmo para o "desconforto" expresso pela deputada Luiza Erundina indicada para vice de Fernando Haddad em composição com o PSB nem para o "pesadelo" apontado pela senadora Marta Suplicy.
Maluf é diferente, um emblema, nome que já virou verbo e destaque na lista de procurados pela Interpol?
Pois nesses tempos em que réus acusados de integrar organização criminosa ocupam postos de direção partidária, ganham cargos na estrutura federal, presidem comissões importantes no Congresso, apresentam-se como candidatos ao eleitorado que gentilmente lhes dão votos para representação legislativa e executiva, francamente, Paulo Maluf é mera peça de composição do ambiente.
Digam com sinceridade o senhor e a senhora se, na essência, há diferença entre a pose de Lula ao lado de Maluf e Haddad agora e dos atos de defesa que, como presidente, assumiu em prol de protagonistas de escândalos?
Não estamos diante de nenhuma novidade. O que vemos é resultado do acúmulo de abusos cometidos nas barbas de uma sociedade que aceita tudo e ainda bate palmas.
Não reage nas urnas aos exotismos cada vez mais exóticos dos partidos que não se distinguem mais no mérito de suas propostas nem fazem questão de disfarçar a sanha em que se lançam a um vale tudo desmoralizante por um minuto a mais na televisão.
Pior que isso só a falsidade dos indignados de ocasião. Onde estavam nos últimos anos enquanto um presidente da República usava repetidas vezes do argumento do "todo mundo faz" para amenizar efeitos de denúncias que envolvessem qualquer um que pudesse lhe propiciar ganhos políticos?
Onde estavam quando esse mesmo presidente zombava da Justiça, menosprezava as instituições, desqualificava o Congresso com uma ofensiva de cooptação explícita como nunca se viu?
Alguns quietos, outros na linha de frente da defesa da política das "mãos sujas". Ora, uma aliança do PT com Maluf em São Paulo é mais um entre tantos outros atos de pragmatismo exacerbado e mistificação de resultados que fazem as normas da casa.
Está demais? Sem dúvida, mas já faz muito tempo que se passou da conta.
Anonimato. O Tribunal Regional Federal da 1.ª Região livrou a Justiça de um vexame ao decidir pela legalidade das provas obtidas pela Polícia Federal contra Carlos Cachoeira e companhia.
O argumento da defesa, de que denúncia original era anônima e por isso inválida, equivaleria a considerar nulas todas as investigações decorrentes de informações dos disque-denúncia, cujo trabalho (exitoso) se baseia exatamente na preservação da identidade do denunciante.
A Espanha volta ao foco CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 19/06
Na semana passada, os observadores dos quatro cantos do Planeta avisavam que a economia mundial estava à beira do precipício e que tudo ficaria bem se houvesse um desfecho positivo das eleições na Grécia. Porém, a vitória dos conservadores e, com ela, a possibilidade de que os canais de crédito oficial sejam reabertos não mudaram a percepção. O bêbado continua lá no alto, balançando miseravelmente o corpo sobre o vazio.
Ficou, em alguma coisa, reduzida a possibilidade de que a Grécia saia da área do euro e, com isso, lance a economia mundial no pandemônio. Contudo, a agonia continua, agora com o agravamento de outro foco da crise, o da Espanha, duramente ameaçada de não obter financiamento para seu enorme rombo orçamentário.
Apesar do alívio que veio com o anúncio do resultado das eleições na Grécia, o investidor mostrou que não se atreve a canalizar seu dinheiro para a compra de títulos soberanos da Espanha. Ontem, o baixo interesse aumentou o rendimento (yield) desses papéis para acima dos 7% ao ano. Aumenta assim o risco de que a dívida fique insustentável. A esses níveis, o passivo da Espanha dobraria em menos de 10 anos, mesmo se não houvesse novos déficits orçamentários à procura de cobertura. No pregão de ontem, a Bolsa de Madri refletiu o aumento da aflição geral. Fechou com uma baixa de quase 3%.
Na semana passada, o presidente do governo, Mariano Rajoy, anunciou radiante a decisão tomada pelo comando do bloco europeu de repassar um pacote de pelo menos 100 bilhões de euros, destinado a reforçar o capital dos bancos espanhóis, cujos caixas vinham sendo assediados pelos correntistas. No entanto, o que foi vendido como solução definitiva para o rombo patrimonial dos bancos não tranquilizou ninguém. A única vantagem da operação (os juros mais baixos) não desarma a bomba principal. Ao contrário, aumenta seu potencial destrutivo. Se a situação financeira anterior da Espanha já era precária, pior ficará com o aumento da dívida.
Há também razões para acreditar que 100 bilhões de euros não serão suficientes para dar conta do recado. O tom de satisfação passado por Rajoy, por ter arrancado de Bruxelas a nova linha de crédito, parece ter acentuado a desconfiança dos mercados. Passou a impressão de que seu governo não avalia corretamente a gravidade da hora.
O alívio aparente obtido com a formação de um novo governo na Grécia e do respeito aos acordos, por sua vez, tem o lado ruim de apontar para o adiamento indefinido das soluções.
A Europa é uma Kombi velha que só pega no tranco. Mas, desta vez, o emperramento geral não está sendo utilizado para forçar a passagem para a saída política da crise. Os dirigentes se agitam na tarefa de apagar focos esparsos de incêndio, no entanto, não são capazes de estancar o vazamento do oleoduto que está estourado.
Ontem, por exemplo, em Los Cabos, México, onde se realiza mais uma cúpula do Grupo dos 20 (G-20), o presidente do Conselho Europeu, o belga Herman van Rompuy, repetiu que a União Europeia não vacilará em usar seu arsenal para debelar a crise. É o tipo de declaração que piora tudo. Mostra que as autoridades não sabem o que fazer. Se soubessem, por acaso já não teriam agido?
Rio+20! Solta pum pra dentro! - JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 19/06
Salve o planeta! Mande o Ahmadinejad pro planeta dele! Sustentabilidade: usa a lanterna do Corinthians!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Rio Mais ou Menos 20! Que devido ao trânsito virou Rio 2h20! Rio+20 anos para eles resolverem alguma coisa!
E a manchete do Sensacionalista: "Contra emissão de gases, repolho e brócolis foram banidos do menu oficial da Rio+20". Pra não PUMluir o planeta! "Emissão de gases ameaça o planeta." Começou com o Big Bang e terminou num pum?!
É a PUMluição! O homem é um PUMluidor! Agora tem de soltar pum pra dentro. Solte pum pra dentro. Salve o planeta! E adivinha quem vai chegar ao Rio? O Cão, o Coisa-Ruim! O presidente do IRÂNIO! O impronunciável: Ahmadinejad.
Ele é tão pacífico que seu nome começa com ARMA! ARMADINEJAD! Salve o planeta! Mande o Ahmadinejad pro planeta dele! Rarará!
Sustentabilidade: apaga as luzes da casa e usa a lanterna do Corinthians! Rarará! E São Paulo e Atlético Mineiro? Ganhamos do Rabo de Galo! Com o Ronaldinho, o Galo virou Rabo de Galo! Galo assado com churrasco gaúcho. E sabe por que o Ronaldinho Gaúcho não fez nada? Pra não prejudicar o rendimento na balada! Rarará!
E os reservas do Santos não mereciam jogar com aquele uniforme azul-passarinho do Twitter. Eram os SMURFS! Rarará!
E tô adorando a Eurocopa! Os portugueses fizeram dois gols. Mas, em Portugal, comemoraram quatro. É que lá eles comemoram até replay. Lá, replay vale como gol!
E Portugal bateu a Holanda. De virada. Virada do Cristiano Ronaldo. O Cristiano Ronaldo devia jogar na fashion week. Gosta mesmo é de mostrar as pernas. Por isso que ele usa aquele shortinho que bate na testa! Rarará!
E a Holanda? Foi jogar de van: Van Bommel, Van der Vaart, Van Marjwik. Faltou o Vampeta, a Wanderléa, o Van Damme e a van do cachorro-quente. Rarará! E van embora!
E a República Tcheca? Olha o que um cara escreveu no meu Twitter: "É legal saber que as tchecas se organizaram a ponto de possuírem até uma República". Rarará!
E, contra emissão de gases, temos de proibir a Gretchen de soltar pum. Porque, se a Gretchen soltar pum dentro de um saco de confete, é Carnaval o ano inteiro. Rarará!
E eu quero soltar pum embaixo da coberta. Eu quero soltar pum e botar a culpa no cachorro! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
Salve o planeta! Mande o Ahmadinejad pro planeta dele! Sustentabilidade: usa a lanterna do Corinthians!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Rio Mais ou Menos 20! Que devido ao trânsito virou Rio 2h20! Rio+20 anos para eles resolverem alguma coisa!
E a manchete do Sensacionalista: "Contra emissão de gases, repolho e brócolis foram banidos do menu oficial da Rio+20". Pra não PUMluir o planeta! "Emissão de gases ameaça o planeta." Começou com o Big Bang e terminou num pum?!
É a PUMluição! O homem é um PUMluidor! Agora tem de soltar pum pra dentro. Solte pum pra dentro. Salve o planeta! E adivinha quem vai chegar ao Rio? O Cão, o Coisa-Ruim! O presidente do IRÂNIO! O impronunciável: Ahmadinejad.
Ele é tão pacífico que seu nome começa com ARMA! ARMADINEJAD! Salve o planeta! Mande o Ahmadinejad pro planeta dele! Rarará!
Sustentabilidade: apaga as luzes da casa e usa a lanterna do Corinthians! Rarará! E São Paulo e Atlético Mineiro? Ganhamos do Rabo de Galo! Com o Ronaldinho, o Galo virou Rabo de Galo! Galo assado com churrasco gaúcho. E sabe por que o Ronaldinho Gaúcho não fez nada? Pra não prejudicar o rendimento na balada! Rarará!
E os reservas do Santos não mereciam jogar com aquele uniforme azul-passarinho do Twitter. Eram os SMURFS! Rarará!
E tô adorando a Eurocopa! Os portugueses fizeram dois gols. Mas, em Portugal, comemoraram quatro. É que lá eles comemoram até replay. Lá, replay vale como gol!
E Portugal bateu a Holanda. De virada. Virada do Cristiano Ronaldo. O Cristiano Ronaldo devia jogar na fashion week. Gosta mesmo é de mostrar as pernas. Por isso que ele usa aquele shortinho que bate na testa! Rarará!
E a Holanda? Foi jogar de van: Van Bommel, Van der Vaart, Van Marjwik. Faltou o Vampeta, a Wanderléa, o Van Damme e a van do cachorro-quente. Rarará! E van embora!
E a República Tcheca? Olha o que um cara escreveu no meu Twitter: "É legal saber que as tchecas se organizaram a ponto de possuírem até uma República". Rarará!
E, contra emissão de gases, temos de proibir a Gretchen de soltar pum. Porque, se a Gretchen soltar pum dentro de um saco de confete, é Carnaval o ano inteiro. Rarará!
E eu quero soltar pum embaixo da coberta. Eu quero soltar pum e botar a culpa no cachorro! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
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