É grave a crise
ANCELMO GOIS
Dilma voltou impressionada com a extensão da crise na Europa. Ontem, a presidente conversou com Lula a respeito. Ela acha que o pessimismo atual é maior que o da crise de 2008. Bença, vó Dilma vai aproveitar o lançamento do Programa de Mobilidade Urbana, sexta, em Porto Alegre, para participar, sábado, de uma festinha em torno do neto Gabriel, que completou 1 ano mês passado. Jogando pra torcida Pelé e o ministro Orlando Silva, que jogam juntos para a Copa de 2014, defenderam, em nova dobradinha, sexta, em Porto Alegre, a inclusão da cidade como uma das sedes da Copa das Confederações, em 2013. O problema é que as obras do Estádio Beira-Rio são uma das mais atrasadas até agora. Petist@s O PT nacional aprovou semana passada a criação dos MAVs (Núcleos de Militantes Petistas em Ambientes Virtuais). No mais A Caixa Econômica cumpriu sua penitência junto ao movimento negro e refez aquele anúncio polêmico com um Machado de Assis embranquecido. No novo comercial, que foi ao ar ontem, o escritor voltou a ser mulato. Melhor assim. Fator German Corre na Rádio Petrobras que o empresário German Efromovich, cuja relação com a estatal parece ter sete vidas, abocanhou a encomenda de cinco sondas naquele pacote de 28 navios, orçado em uns US$22 bilhões. Seria o único estaleiro do Rio a entrar na festa. Eike de fora... Nesse caso, ficam de fora o estaleiro erguido em Porto do Açu por Eike Sempre Ele Batista, que pretendia construir três sondas, e também o antigo Verolme (BrasFELS), em Angra. Zona Franca A Secom da Presidência recebe hoje o Stevie 2011, principal prêmio inter-nacional de comunicação corporativa, pela promoção do Brasil no Exterior. |
terça-feira, outubro 11, 2011
ANCELMO GOIS - É grave a crise
MÔNICA BERGAMO - Carência Zero
Carência Zero
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 11/10/11
Teste
A faculdade acha que, com a medida, o MEC está ferindo a autonomia da universidade. E distorcendo seu processo seletivo. O MEC diz que o programa ainda está sendo testado e que não há resistência a ele em outros Estados do país.
De Volta
Ganso deve voltar a treinar nesta semana.
Sem jogar há um mês por causa de uma contusão num jogo amistoso da seleção contra Gana, em Londres, ele pode retornar aos campos com a camisa do Santos nos próximos dez dias.
Beirute
E o presidente do Santos, Luis Alvaro Ribeiro, almoçou no Yellow Giraffe no domingo, antes do clássico entre Santos e Palmeiras.
Diz que foi uma "homenagem" a Arnaldo Tirone, dono do restaurante e presidente do Verdão. O Peixe bateu o time por 1 a 0.
Nova História
A Nextel reagiu às notícias de que Rafinha Bastos, do "CQC", disse durante show em São Caetano que uma operadora oferece serviços a prostitutas e traficantes. E que não seria "à toa" que "tem o Fábio Assunção como garoto-propaganda". A empresa diz que "defende o respeito ao ser humano e repudia manifestações que causem desconfortos em relação a qualquer pessoa".
Nova História 2
A Nextel afirma ainda: "Acreditamos em personalidades como Fábio, que superam limites e que constroem uma nova história de vida. E, principalmente, em todo o ser humano que acredita na transformação e na evolução". Fábio Assunção não quis comentar. Rafinha não respondeu à coluna.
Giro Amado
A exposição sobre o centenário de Jorge Amado, em 2012, já confirmada para o Museu da Língua Portuguesa, em SP, e para o MAM de Salvador, também deverá passar por Rio, Porto Alegre e Brasília. Em 2013, "Jorge, Amado e Universal", organizada pela Nacked & Associados, chegará a Buenos Aires.
Traz troco pra 50
A cantora Sade pediu frango orgânico ou peixe de mar -não quer espécies criadas em cativeiro- no camarim de seu show no Ginásio do Ibirapuera, no dia 20. E quer ter à disposição opções de entrega de comida japonesa, coreana ou vietnamita.
São Paulo, te amo
Fernanda Montenegro agradeceu à plateia de SP, "cidade que há 50 anos não falha, sempre me aplaudindo", na reestreia do monólogo "Viver sem Tempos Mortos", no Teatro Raul Cortez, no sábado. E completou: "Bom estar em SP, onde tudo é organizado. Vocês têm sorte de estar aqui. Pelo menos um Estado onde tudo funciona".
Viva Raul
E ela dedicou a apresentação a Raul Cortez, morto em 2006. "Quero oferecer esse espetáculo a esse amigo, um companheiro que honra nossa profissão, que nunca barateou sua arte. Raul, foi pra você!"
Curto-Circuito
O Instituto Olga Kos realiza hoje, a partir das 15h30, chá beneficente no Terraço Itália.
O WTC promove hoje e amanhã seminário internacional de negócios, no Brooklin.
A DJ Ingrid Diniz vai animar o Réveillon do resort Laguna Escondida, em Punta del Este.
Mario Sérgio Andrade, da Run&Fun, foi a Chicago acompanhar atletas da academia que correram a maratona da cidade.
MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO
Exportações diretas ao Iraque registram alta
MARIA CRISTINA FRIAS
As exportações brasileiras ao Iraque, que vinham em alta nos últimos anos, ganharam novo perfil no primeiro semestre. As vendas diretas de empresas brasileiras ao país cresceram com mais força, enquanto as exportações triangulares, ou seja, as vendas realizadas por intermediários, ficaram menores. Entre janeiro e agosto, as vendas diretas ao Iraque superaram US$ 198 milhões, volume 22% acima de igual período de 2010, segundo o Ministério do Desenvolvimento. O comércio vinha crescendo apoiado nas exportações triangulares. De janeiro a agosto deste ano, no entanto, as empresas brasileiras faturaram US$ 254 milhões vendendo a comerciantes na Turquia, na Síria, na Jordânia e outros países que forneceram ao mercado iraquiano. Em 2010, esse valor era maior, de US$ 283 milhões, segundo a Câmara Brasil Iraque. A alta das vendas diretas aliada à redução das triangulares está ligada à evolução da logística no Iraque, segundo Jalal Chaya, da câmara. "Eles estão ganhando mais infraestrutura de armazenagem para receber o produto brasileiro, além da aproximação entre os países." O comércio bilateral registrava altos volumes nos anos 1980, mas afundou a partir dos nos anos 1990, após a invasão do Kuait. O Iraque voltou a ter embaixador em Brasília há pouco mais de um ano. A embaixada do Brasil em Bagdá tem abertura prevista para o início de 2012, com local definido para funcionar e o nome do embaixador Anuar Nahes. Roubo de caminhão Após três quedas consecutivas, o número de roubos e furtos de carros, motos, caminhões e utilitários volta a subir no Brasil, segundo levantamento da empresa de rastreamento Tracker do Brasil. O volume cresceu 3,04% no último trimestre, ante o período anterior. O aumento foi impulsionado pelas ocorrências com caminhões, que tiveram alta de 39,7% entre julho e setembro. No mesmo período, houve pequena alta nos eventos com automóveis e motos (0,38%) e queda nos utilitários (-3,64%). Alta da criminalidade 3,04% - foi o aumento no número de roubos e furtos de carro no trimestre passado 39,7% - foi o crescimento das ocorrências com caminhões entre julho e setembro de 2011 3,64% - foi a queda nos roubos e furtos de utilitários no mesmo período Mais Um Com aprovação da Anvisa, a brasileira Libbs Farmacêutica começa a vender o Reconter, antidepressivo à base de oxalato de escitalopram. Remédios produzidos a partir do mesmo princípio por outras companhias foram alvo de disputa na Justiça pela Lundbeck, dona do medicamento de referência, para impedir a entrada de concorrentes genéricos e similares no mercado. BNDES paulista A agência de fomento paulista Nossa Caixa Desenvolvimento emprestou mais de R$ 30 milhões para pequenas e médias empresas do Estado em setembro. A entidade superou R$ 400 milhões em financiamentos desde sua criação, em 2009. O setor de serviços, que tinha 7% de participação em 2010, passou a representar 13% neste ano. O percentual relativo à indústria encolheu de 83% em 2010 para 70% no mês passado. Aquisição Hoteleira O grupo francês Accor comprou 24 hotéis que pertenciam ao Jupiter Hotels, no Reino Unido. Com o acordo, as unidades, que somam 2.664 quartos, passarão a utilizar a bandeira Mercure. O diretor de operações da marca Mercure Accor América Latina, Patrick Vaysse, diz que a aquisição pode ter consequências na estratégia do grupo no Brasil. "Quanto mais europeus forem em um dos nossos hotéis no Reino Unido, mais chances temos de repetir a estada no Brasil durante os grandes eventos de 2014 e 2016." Matéria-prima nacional O laboratório Cristália vai investir R$ 60 milhões na expansão da sua unidade farmoquímica e na construção de uma planta-piloto de produção biotecnológica, em Itapira (SP). As duas obras devem ficar prontas no primeiro semestre de 2012, segundo o presidente da companhia, Ogari Pacheco. Com o investimento, o laboratório passará a produzir quase 50% dos insumos necessários para seus medicamentos. Hoje esse índice é de cerca de 30%. "O Brasil produz genéricos com matéria-prima importada. Com o funcionamento dessas plantas, o país adquire independência na produção de substâncias para medicamentos oncológicos, antirretrovirais e para o sistema nervoso central", afirma Pacheco. O governo é o principal comprador desses medicamentos, de acordo com a companhia. "Com a fabricação, aliviaremos a balança de pagamentos", diz o presidente. O excedente da produção de insumos do Cristália é exportada para países da América Latina, Oriente Médio, Ásia e África. Novos Lances A Copa de 2014 irá gerar 554 oportunidades de negócios na região de Curitiba, uma das cidades-sede do evento, segundo o Sebrae/PR. São 98 oportunidades a mais do que o total do Estado de São Paulo (456). O setor da construção civil é o que terá mais espaço para as empresas crescerem -foram detectadas 108 oportunidades no segmento. "A Copa favorecerá as pequenas e médias empresas subcontratadas, que oferecem, por exemplo, serviços de aluguel de máquinas e terraplanagem", diz Julio Cezar Agostini, diretor de operações do Sebrae/PR. "As obras de mobilidade urbana e reformas de restaurantes e hotéis devem ser as maiores responsáveis pelas oportunidades." A área de tecnologia da informação também será uma das que oferecerão mais chances para negócios (81). O Sebrae realiza hoje um encontro em Curitiba para discutir as possibilidades do setor. Produção... A Sandoz lança o anticoncepcional Lizzy, que será fabricado no Brasil, em planta da empresa no Paraná. ...feminina Parte da produção abastecerá o mercado interno. Outra parte será exportada para a Europa. |
ILIMAR FRANCO - Aliança insólita
Aliança insólita
ILIMAR FRANCO
O governador Sérgio Cabral quer adiar um ato público, marcado para dia 17, em defesa do Rio na questão dos royalties. O tema será debatido hoje na bancada. Ele teme que o ato prejudique o Rio na reta final dos entendimentos. Em conversa prévia ontem na bancada do Rio deu empate. A favor do dia 17, formou-se uma aliança entre os deputados Garotinho (PR), Eduardo Cunha (PMDB), Chico Alencar (PSOL) e Alfredo Sirkis (PV). O dinheiro do petróleo será carimbado Estados e municípios não poderão gastar como quiserem as receitas de royalties do petróleo. O relator da proposta no Senado, Vital do Rego (PMDB-PB), vai incluir artigo no projeto pelo qual governadores e prefeitos serão obrigados a investir 40% das receitas em Educação; 30% em Saúde, Segurança, Erradicação da Pobreza, Cultura, Esporte, Meio Ambiente e Ciência e Tecnologia; e 30% em obras para o desenvolvimento. Estados e municípios também terão que apresentar e aprovar nas Assembleias e Câmaras de Vereadores um plano de aplicação da renda do petróleo. O objetivo é evitar o desperdício. A União tem condições de ceder um pouco mais. Espero que a União ceda um pouco mais" - Renan Calheiros, líder do PMDB no Senado (AL) sobre a divisão dos recursos do petróleo PSDB na TV Depois da reclamação do senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), desta vez José Serra estará presente na propaganda nacional de TV do partido, que vai ao ar na quinta-feira. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o senador Aécio Neves (PSDB-MG) também gravaram depoimentos. Na peça, o presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), alertará para o risco de volta da inflação. Vapt-vupt Os parlamentares envolvidos na montagem da proposta de redistribuição dos royalties do petróleo querem votar o relatório Vital do Rego no dia 19, no Senado, e no dia 20, na Câmara. Querem evitar surpresas, como foi a emenda Ibsen. Papéis invertidos Os senadores governistas estão uma arara com os deputados aliados da Câmara. O motivo é o texto aprovado do Estatuto da Juventude. Reclamam que ficarão com o ônus de tirar o direito à meia-entrada dos jogos da Copa, como quer a Fifa. Bloco na rua A luta sucessória já começou no PSDB. Mas, desta vez, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) resolveu entrar em campo na largada. O mineiro não quer ser mais uma vez atropelado pelo paulista José Serra. Aécio resolveu assumir abertamente sua pré-candidatura à Presidência também para dar uma injeção de ânimo na oposição. Ela passa por um momento difícil e perdeu substância com a criação do PSD do prefeito Gilberto Kassab. Solto Preocupação na base aliada com a falta de mobilização do governo para votar a prorrogação da DRU. Além de precisar de três quintos da Câmara e do Senado, o calendário até o final do ano está apertado devido aos feriados. Afunilando A presidente Dilma tem audiência hoje com os ministros José Eduardo Cardozo (Justiça) e Luís Adams (AGU). Vão tratar da vaga para o STF. Os nomes com maior apoio são as ministras Rosa Weber (TST) e Maria Rocha (STM). A PRESIDENTE Dilma evitou tratar da questão dos royalties ontem na reunião da coordenação de governo. Não quis pôr no colo matéria que não será votada esta semana. A ELEIÇÃO municipal em Vitória e Vila Velha está arranhando a relação do governador Renato Casagrande (PSB) com o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES) e o ex-governador Paulo Hartung. OS SENADORES Delcídio Amaral (PT-MS) e Antonio Russo (PR-MS) fizeram discursos ontem sobre a importância para o desenvolvimento daquela região da divisão entre Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. |
LUIZ GARCIA - Imperfeitos prefeitos
Imperfeitos prefeitos
LUIZ GARCIA
O GLOBO - 11/10/11
O triste campeão da lista é o pobre Piauí, com 50 casos, seguido por Minas, com 38. O nosso Rio tem nove cassados. Nenhum estado escapa ileso.
Especialistas atribuem esses números a dois fatores, um animador e outro lamentável. No primeiro caso está um aumento na fiscalização dos prefeitos pela opinião pública - em parte graças à vigilância da mídia. O dado triste seria a má qualidade dos políticos municipais, e isso vai para a conta dos partidos.
Quem entende do assunto faz previsões pessimistas. Entre outros fatores, a situação tende a piorar, principalmente porque a revelação dos casos de corrupção e incompetência afasta da vida política cidadãos honestos e bem preparados, que - até com boas razões para isso - não querem ser confundidos com os desonestos e trapalhões que, pelo menos aparentemente, são maioria no picadeiro.
Os 274 cassados de hoje não são exceção. Entre 2005 e 2008, perderam seus mandatos 296 prefeitos. O problema da corrupção na política local atinge todas as legendas e todos os estados. Promotores e juízes, obviamente, estão sendo eficientes no seu trabalho. Não se pode dizer o mesmo - também obviamente - dos partidos políticos, pelo menos no plano municipal, e isso, é preciso repetir, no país inteiro.
Entende-se, até certo ponto, os 12 mandatos cassados no vasto e distante Amazonas. Mas é difícil, para a opinião pública do país inteiro, engolir os 38 casos em Minas, os nove no Estado do Rio, os dez em São Paulo.
Tem razão o cientista político João Paulo Peixoto quando prevê que a situação tende a piorar, porque a má imagem da classe política afasta da vida pública cidadãos honestos e competentes que temem ser confundidos com os desonestos e incompetentes que - pelo menos na visão da sociedade - são numerosos, talvez a maioria, na carreira política, pelo menos no nível municipal.
CARLOS HEITOR CONY - O mundo não acabou
O mundo não acabou
CARLOS HEITOR CONY
FOLHA DE SP - 11/10/11
RIO DE JANEIRO - "Verdi è morto!" -a saga de Bertolucci "1900" começa com os italianos, apavorados, gritando pelas ruas que o autor de "Aida" tinha morrido. O que seria da Itália sem o seu grande compositor?
Quando Stálin morreu, a cúpula do Kremlin demorou dois dias para que o povo soubesse da morte do "pápuska". Anos depois, interrogado sobre o assunto, o sucessor Khruschov explicou que a cúpula do poder soviético acreditava num suicídio em massa, o sol não nasceria no dia seguinte.
Estava eu na minha mesa de trabalho na Redação da "Manchete" quando o fotógrafo Frederico Mendes se aproximou, contrito, voz patibular, e me declarou: "Chagall morreu. O que vai ser de nós?".
Steve Jobs também morreu. Sua importância para a história dos tempos modernos é evidente, indiscutível. Poucos homens na crônica da humanidade criaram equipamentos sem os quais não podemos mais viver.
Contudo os necrológios que estão sendo feitos na imprensa mundial dão a impressão de que, em termos de informática, de era digital, chegamos ao fim da linha, nunca mais haverá alguém como o criador da Apple.
Ninguém poderá (ou ousará) contestar a importância de Steve Jobs, não somente pelo que ele criou, mas pelo que deixou em processo, um processo tecnológico que alguém de alguma forma continuará e levará adiante. Daqui a dez anos, teremos tais e tantas novidades, aparecerão novos Steve Jobs, que ficaremos sem saber o nome do inventor da roda -como, de fato, não sabemos, embora a roda, atribuída aos sumérios, seja ainda considerada a maior invenção da humanidade.
Lamentamos a morte de Jobs, a sua luta contra a doença. Continuaremos admirando o seu espírito jovial e louvando a sua obstinação de ir cada vez mais à frente no campo eletrônico.
HÉLIO SCHWARTSMAN - Direito de greve
Direito de greve
HÉLIO SCHWARTSMAN
FOLHA DE SP - 11/10/11
SÃO PAULO - Numa sociedade aberta, o direito de greve é assegurado. Pelo menos desde a abolição da escravatura, nenhuma lei ou juiz pode legitimamente obrigar uma pessoa a comparecer ao trabalho se ela não estiver disposta a fazê-lo.
Relativizar o direito de greve é difícil do ponto de vista institucional, pois exige bater de uma vez só contra três garantias fundamentais, que são as liberdades de ir e vir, de se associar e de trocar ideias e opiniões.
É claro que, dependendo do serviço paralisado, pode haver sérios inconvenientes para a população. Saber suportá-los, porém, é parte do preço de viver numa democracia.
Reconhecer essa obviedade não implica que o poder público (ou qualquer outro patrão) não tenha também o direito de tentar minorar o impacto das greves. Descontar dias parados, improvisar trabalhadores substitutos ou recorrer a empresas prestadoras de serviço são alternativas racional e moralmente válidas.
Parte das dificuldades que experimentamos com as paralisações se deve ao fato de que uma combinação de tutelas jurídicas em excesso com os usos e costumes da política conspirou para banalizar e esvaziar as greves. Do lado dos trabalhadores, ficou confortável lançar-se num movimento paredista. Sem maiores consequências sobre os empregos ou contracheques, paralisações prolongadas se tornaram uma extensão das férias. A comparação tem origem insuspeita: Luiz Inácio Lula da Silva.
Do lado do governo, a situação também é capciosa. Se uma parte dos serviços essenciais é mantida, o poder público já não tem necessidade de tratar as negociações com tanta urgência. Assim, não precisa jogar tão duro, evitando uma guerra sem tréguas com os sindicalistas, tradicional base de apoio do PT.
A democracia tem virtudes, mas elas não incluem o dom de eliminar o conflito da sociedade. E, às vezes, a melhor forma de superar um impasse é explicitar esse conflito.
SONIA RACY - DIRETO DA FONTE
Quatro rodas
SONIA RACY
Representantes da VW alemã e brasileira estiveram ontem à noite no Palácio da Princesa, em Recife, conversando com Eduardo Campos. Será que Pernambuco vai ganhar mais uma montadora, além da Fiat (conquistadaem agosto),e se tornar polo automotivo do Norte e Nordeste?
Curto-circuito
Vai ter briga entre tucanos e petistas na privatização das portuguesas Rede Eléctrica Nacional e EDP. Tanto Cemig quanto Eletrobras estão no páreo.
In loco
Dilma e comitiva pessoal jantaram, sábado,no Ulus29,melhor restaurante de Istambul.
In loco 2
Em razão da viagem, Dilma era esperada, ontem, apenas à tarde no Palácio do Planalto. Que nada. A presidente bateu oponto às 10h14 e pegou muito funcionário ainda em casa.
Garimpagem
A cena se repete todos os meses em SP: recrutados por mineradoras, desempregados ficam acampados por até 30 dias na calçada do Departamento Nacional de Produção Mineral. À espera da liberação de processos para áreas de prospecção. Consultadas, as assessorias do órgão e do Ministério de Minas e Energia não se posicionaram sobre o problema.
Silêncio
Se Dilma e Alckmin estão em clima de troca de gentilezas, o mesmo não se pode dizer de Ana de Hollanda e Andrea Matarazzo. O secretário de Cultura já convidou a ministra duas vezes para conversar... e não obteve nem sequer retorno.
Tela fria
A TV Câmara deu um jeito de disfarçar bate-boca com empurrões ao vivo entre os vereadores Adilson Amadeu e Claudio Fonseca, semana passada. Quando o clima esquentou, música tomou lugar dos xingamentos, e as câmeras ficaram voltadas para o vazio.
Solidéu
Henry Sobel está de malas prontas para Doha, no Qatar. De24 a 26deste mês, orabino vai proferir série de palestras sobre as relações entre muçulmanos e judeus.
Arte para todos
Carlos Alberto Riccelli gravou versão para cegos de seu filme Onde Está a Felicidade?. Além da sonoplastia original, um narrador descreverá cena por cena do longa. Sai ainda este ano.
Karamazov
Roberto Carlos deve renovar como Anzhi Makhachkala, da Rússia. Negocia ficar no clube até 2014.
Patada
Como proibir rodeios e vaquejadas em São Paulo é muito difícil, projeto de lei que acaba de ser apresentado à Assembleia paulista entra pelas beiradas. O texto, que segue para a CCJ, pede o fim, nas arenas de todo o Estado, da modalidade de perseguição, laçada e derrubada, além de choques elétricos e aplicação de substâncias químicas nos bichos– práticas fundamentais para o sucesso dos eventos.
Pódio
Lewis Hamilton participa, dia 2, de homenagem pelos 20 anos do tricampeonato de Ayrton Senna na F-1.Opiloto inglês vai responder perguntas de internautas pelo site www.sennatri.com.br.
De bronze
A estátua de Spirit, personagem de Will Eisner, será apresentada ao mundo no Rio Comicon, que começa dia 20. O molde de cera ficou guardado por 20 anos.
JOÃO PEREIRA COUTINHO - Humores perfeitos
Humores perfeitos
JOÃO PEREIRA COUTINHO
FOLHA DE SP - 11/10/11
Quando a Al Qaeda aparece como um exemplo de equilíbrio, eu começo a ver sinais do Apocalipse
"HUMOR" E "Irã" não costumam jogar na mesma frase. Mas a vida é uma surpresa. Nos últimos tempos, os únicos momentos de genuína gargalhada vieram por causa dos persas.
Começou com o discurso do presidente iraniano na ONU.Sobre o 11 de Setembro. Melhor: sobre os autores materiais dos atentados que mataram 3.000 pessoas. Terão sido obra da Al Qaeda? Ou, como defendem vários lunáticos dentro e fora dos asilos, foram antes os Estados Unidos que prepararam e executaram o golpe em solo próprio?
Mahmoud Ahmadinejad tem poucas dúvidas: o 11 de Setembro não pode ter sido obra da Al Qaeda. Melhor suspeitar de dedo americano. Foi o que bastou para que os protestos começassem a chover sobre Ahmadinejad. Não os protestos dos Estados Unidos. Ou da ONU, esse famoso antro de racionalidade diplomática.
Falo dos protestos da própria Al Qaeda, que se mostrou revoltada com as "crenças ridículas" de Ahmadinejad, que vão contra toda a "lógica".
Não pretendo ser alarmista. Mas quando a Al Qaeda aparece como um exemplo de equilíbrio, mesmo que seja para defender a sua dama, eu começo a ver sinais do Apocalipse.
Que não se resumem à Al Qaeda. Ainda do Irã, tivemos as palavras, sempre sábias, do aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do país. Disse ele que promete votar contra resolução palestina na ONU para a criação de um Estado respectivo. Repito: contra.
A lógica de Khamenei é impoluta: reconhecer um Estado palestino junto a Israel é, "ipso facto", reconhecer Israel. Ou, nas palavras elegantes do cavalheiro, é permitir a presença de "um tumor cancerígeno" no Oriente Médio. Isso é ir longe demais.
É, no fundo, uma traição à única causa que interessa: um Estado independente palestino, que se estenda do Mar Mediterrâneo ao rio Jordão, sem concessões de qualquer espécie. Tradução: sem nenhum judeu lá pelo meio. Ou é isso, ou é nada.
Infelizmente, tem sido nada. E o que espanta na retórica dos líderes ocidentais, Dilma Rousseff inclusa, é a absoluta incapacidade deles para formularem a única questão relevante sobre o conflito palestino-israelense: e se os palestinos, ou uma parte importante deles, não estão dispostos a reconhecer o Estado de Israel? Por que motivo obtuso deve Israel negociar com quem lhes nega esse reconhecimento?
A pergunta não é meramente acadêmica. Começa por ser histórica: em todas as propostas de partição da Palestina, foram os árabes que sucessivamente recusaram o Estado independente que agora reclamam.
Assim foi com as recomendações da Comissão Peel em 1937. Assim foi quando as próprias Nações Unidas propuseram a partição, em 47. Assim seria em 2000, quando Ehud Barak ofereceu a Arafat o que Mahmoud Abbas agora parece reclamar (um Estado palestino independente; Jerusalém partilhada; o retorno dos refugiados ao novo país).
E assim foi em 2008, três míseros anos atrás, quando o premiê israelense Ehud Olmert repetiu o cardápio do antecessor para obter a mesma resposta do outro lado: não, não e não. As recusas palestinas selaram o destino intratável desse conflito.
Mas a pergunta não é só histórica; é prática e bem prática. Hoje, não existe uma Palestina unida -e mesmo o "acordo" entre o Hamas, que domina Gaza, e a Autoridade Palestina da Cisjordânia não deve iludir um fato desconfortável: o Hamas não reconhece a existência do Estado judaico.
A sua carta fundamental é explícita sobre esse ponto. E também é explícita sobre um outro ponto, que o aiatolá Khamenei deixou claro: um Estado palestino não existirá ao lado de um Estado judaico. Fim de conversa. Os atos de terrorismo do Hamas são apenas a conclusão lógica da sua proclamação de "princípios" (digamos assim).
O mundo pensante pede a Israel para reconhecer um Estado palestino, coisa que Israel se propôs fazer várias vezes.
Mas o mesmo mundo não levanta a voz para obter dos palestinos, a começar pelos palestinos do Hamas, uma frase muito simples: aceitamos a existência de Israel e estamos dispostos a partilhar fronteiras soberanas e seguras com os judeus. Isso é que nunca aconteceu.
Falar dos assentamentos, dos votos na ONU e do veto dos EUA é tudo fumaça. E a fumaça só serve para esconder o essencial.
FABRÍCIO CARPINEJAR - Não reclame do homem roncando
Não reclame do homem roncando
FABRÍCIO CARPINEJAR
ZERO HORA - 11/10/11
A esposa reclamava do meu ronco. Dizia que desrespeitava a lei de silêncio do prédio. Ainda mais quando estava absolutamente cansado, naquele estado vegetativo de quem não dorme, porém desmaia.
Capotava de barriga para cima, as pernas esparramadas pela cama inteira.
Ao fechar os olhos, abria a matraca. Não respirava, e sim uivava. Meu inconsciente brincava de língua de sogra. Sorte que adormecia fundo, o necessário para não ouvir minha respiração galopante. Ruim é ter sono leve e ser acordado pelo próprio barulho cavernoso.
Reservava toda a audição da sinfonia para Cínthya. Minha mulher odiava a cortesia e recorria a métodos diversos para me calar.
Inicialmente, ela me ajeitava e massageava o rosto com carinhos. Como não desligava a britadeira, a ternura logo desandou em tortura. Optou pelas ações drásticas: sacudia os braços, comprimia o queixo, apertava o nariz. Em seguida, comprou tapador de ouvidos, touca térmica, fita isolante de sequestrador.
Exausta das tentativas inúteis, veio protestar de manhã:
– Não consigo dormir. Para piorar, seu ronco é ida e volta, lança o ar e engole de novo.
Ensaiei resistência, só que me envergonhei do defeito e fui procurar ajuda. Eu me internei durante três dias no campanário do mosteiro de Três Coroas, conversei por Skype com Dalai Lama, parei de fumar, iniciei ioga, retornei à natação.
Depois de dois meses, não regurgitava mais com o nariz, surdina enfim consertada. Livrei-me do escapamento e das ameaças. Já era um travesseiro de penas de ganso, macio e confiável.
Mas Cínthya continuou a me cutucar de madrugada.
– Ei, ei, ei?
– Que foi amor?
– Tô com insônia, sinto falta de seu ronco, fico com medo de que tenha morrido ao meu lado.
Por obrigação matrimonial, voltei a roncar. Não sou cemitério para descansar em paz. E faço defesa do criativo chiado musical, cheio de tambores e trovões.
Um homem roncando é sinal de saúde. Todos em casa sabem que ele está vivo. Um homem roncando traz segurança ao lar. É ter um cão dentro do quarto. Ninguém assaltará sua casa. Não necessitará pagar alarme ou serviço de vigilância.
Um homem roncando serve como crucifixo. Afasta vampiros, bruxaria, mau olhado, demônios e fantasmas.
Um homem roncando revela satisfação sexual. O ronco é o casamento escondido da risada com o gemido.
Por favor, não seja precipitada, não critique mais seu marido, antes que você se torne sonâmbula da saudade.
Homem é como chimarrão: se não roncar, é falta de respeito.
PAULO SANT’ANA - A greve dos Correios
A greve dos Correios
PAULO SANT’ANA
ZERO HORA - 11/10/11
Tempos atrás, eu andava muito depressivo.
Fui a um psiquiatra e ele parecia ter descoberto um sexto continente quando me aconselhou, para combater minha depressão, que eu fizesse uma grande viagem pelo Exterior.
Pensei comigo que era um conselho absurdo do meu psiquiatra, se eu fosse viajar, minha depressão iria junto comigo, ora bolas!
Mesmo assim, resolvi fazer a grande viagem, pensando que ela pudesse me salvar, caso desse certo um plano que tinha.
Segui para o aeroporto. Eu e, junto comigo, é óbvio, a minha depressão.
Agora, no aeroporto, resolvi desfechar o meu plano: quando passei pela Alfândega, o funcionário me perguntou: “Algo a declarar?”.
Eu respondi que sim.Tinha a declarar a minha depressão. E pedi ao funcionário da Alfândega que taxasse a minha depressão em US$ 200 mil. Eu não poderia pagar esse imposto e a depressão seria obrigada a não embarcar.
Genial, mas as nossas autoridades alfandegárias engatinham, elas não bolaram ainda uma forma de taxar a depressão.
Vão ter de criar lei ou regulamentação que impeça as greves dos Correios de causarem danos financeiros aos usuários.
Sei que uma greve de serviço essencial só tem eficácia quando causa transtornos aos usuários.
No entanto, não pode causar transtornos financeiros específicos. Dou como exemplo um DOC que tenha de ser pago com vencimento em uma data qualquer. Os Correios não entregam o referido DOC até a data do vencimento. E, muitas vezes, não entregam inúmeros DOCs para um só usuário.
Então, o usuário fica obrigado a multa com juros para pagar esse compromisso fora da data. Isso é de um inominável absurdo e um atentado à bolsa popular.
Não pode mais continuar assim. E é assim.
Não adianta virem me dizer que o usuário, nesse caso, pode recorrer à Justiça para não pagar juros pelo compromisso vencido. Não pode. Não tem como fazê-lo. Uma demanda na Justiça leva muito tempo e o usuário tem de manter o serviço ativo, não tem como esperar o resultado da Justiça.
Então, essa greve dos Correios, assim como está posta, causa uma esculhambação na sociedade, com danos altos às comunidades.
Vão ter de pôr ordem nessa bagunça
Já.
JOSÉ SIMÃO - Ueba! Adriano parece Godzilla!
Ueba! Adriano parece Godzilla!
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 11/10/11
BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
E, contrariando a lenda, as piadas e o mundo do humor, olha este restaurante em São Carlos: O ESPETÃO DO JAPONÊS! Rarará!
E o Britto Jr. que perguntou pra Valesca Popozuda: "Você teve oportunidade de mostrar o seu outro lado?". Rarará!
E em Rosário, na Argentina, abriram um bordel chamado Pallazo Berlusconi! Isso que é homenagem! Bunga Bunga em ritmo de tango!
E esta: "Encontrados no Maranhão fósseis da cobra mais antiga do país". Adivinha quem é? Rarará!
E o site manourbano acaba de lançar o iPobre! Com os aplicativos: vídeos piratas, Bilhete Único - carregar, Bolsa Família - sacar e Mapa da Bocada!
Roube os sinais de internet do seu vizinho e fique atualizado com as notícias da quebrada. De R$ 999,99 por R$ 11,27! É o iGato! Rarará!
E o Sensacionalista: "Falso Steve Jobs é visto nas lojas da Apple da China". Rarará! E o Justin Biba? As fãs gritam, ele distribui rosas, é um Wando teen. Ops, Uivando Teen!
E agora vai o Corinthians? A vaca voltou pra cima da árvore! O Timão na liderança é como uma vaca em cima da árvore: ninguém sabe como foi parar lá, mas todo mundo sabe que vai cair. Rarará!
A vaca voltou pra árvore! E o Adriano? Precisa emagrecer uns seis quilos. Pra chegar ao peso normal de um hipopótamo. Rarará! O Adriano em campo parece Godzilla invadindo Nova York. A mesma leveza!
Rarará! E o apelido dele é Caminhão de Usina: grandão, mal conservado e cheira a garapão!
E a ex-namorada do Adriano lá na "Fazenda", que quer bater até na lhama? "Como te lhamas?" "Lhama." PAF!
Os Predestinados! Mais duas predestinadas. Hoje é dia das Rosemarys! É que em Jundiaí tem uma professora de educação física que se chama Rosemary DALEMOLE! E, direto do Paraná, desembargadora Rosemary PIMPÃO! Adorei! Eu quero! Agora eu só quero ser julgado pela doutora Pimpão!
Copa 2014! Agora vai: vão colocar as empreiteiras que fazem os pedágios para construir os estádios. Se for com a rapidez com que eles fazem os pedágios, o Itaquerão fica pronto amanhã. Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
CELSO MING - Trégua na Europa
Trégua na Europa
CELSO MING
O ESTADÃO - 11/10/11
Mas tantas foram as promessas e decepções com esses e outros dirigentes da Europa que, também desta vez, é preciso ver ao menos uma pontinha do projeto para começar a acreditar.
Ninguém viu o plano inteiro, provavelmente nem Merkel nem Sarkozy - que o anunciaram apenas no atacado. Os técnicos tratam agora de montá-lo.
A pronta solução para o banco Dexia, 12.º colocado entre 91 bancos avaliados, em julho, nos testes de estresse, nos dá notícia de que os líderes europeus entenderam que, após a catástrofe subsequente ao naufrágio do Lehman Brothers, em 2008, não se pode brincar com colapsos de instituições financeiras.
Nas suas primeiras contas, o Fundo Monetário Internacional estimou em 200 bilhões de euros a recapitalização dos bancos. Há razões para crer que essa magnitude esteja subestimada. Não é somente a exposição às dívidas impagáveis e/ou sujeitas a calotes que tem de ser considerada. Tem também de entrar no cálculo as centenas de bilhões de euros em Credit Default Swaps (CDS), seguros contra calotes que terão de ser honrados, se vierem. E não se conhece seu tamanho.
A pergunta da hora consiste em saber de onde sairão os recursos para capitalizar os bancos. Os dirigentes do bloco avisam ser necessário, primeiro, buscá-los no mercado. Mas será difícil encontrar investidores interessados em arriscar dinheiro em novas ações de bancos. Basta acompanhar o mergulho dos papéis nas bolsas internacionais para ter certeza disso. Bem, se a situação se confirmar, os Tesouros serão chamados a subscrever - o que também é incerto e não sabido. Um dos nomes da atual encrenca é crise do endividamento excessivo dos Estados soberanos.
Há muito olho gordo no tal Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (EFSF, na sigla em inglês). Foi criado com um cacife de 440 bilhões de euros (ainda não integralizados) para socorrer os Tesouros. No entanto, só para isso faltarão 2 trilhões de euros, se Itália e Espanha começarem a emborcar. Na semana passada e nesta segunda, agências de classificação de risco rebaixaram as dívidas dos dois países. Em geral, isso basta para que a marca de Caim seja carimbada sobre um título.
Diante da insuficiência de recursos, os analistas já montam engenharias financeiras para melhorar o alcance das baixas disponibilidades. Quase todas preveem aportes que implicam emissão de moeda pelo Banco Central Europeu (BCE).
O sigilo sobre o conteúdo do pacote parece apontar para saídas pouco ortodoxas. A substituição de Jean-Claude Trichet por Mario Draghi na presidência do BCE, em novembro, pode facilitar um arranjo entendido hoje como séria violação dos tratados do euro. Mas não seria novidade. O BCE já carrega mais de 2 bilhões de euros em títulos de qualidade duvidosa, comprados também com emissões. Não foram os romanos que ensinaram que a salvação da coisa pública é a lei maior?
No mais, não deixa de provocar risos o apelo do presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, para os mercados não alimentarem o pânico.
CONFIRA
E os fundos de pensão? Boa questão diz respeito a quanto os fundos de pensão e as seguradoras estão carregados de títulos de dívida da área do euro. Durante todos esses anos, essas intuições financeiras foram grandes compradoras desses ativos. E provavelmente não tiveram tempo de desová-los ou, simplesmente, não quiseram, porque teriam de contabilizar perdas.
E as grandes seguradoras? Uma das instituições que mais sofreram com a quebra do Lehman Brothers e com o que aconteceu depois foi a maior seguradora do mundo, a americana AIG, que vendeu proteção para títulos que, depois, se viu que eram podres. O socorro para a AIG, do Federal Reserve (o banco central dos Estados Unidos) e do Tesouro americano, passou dos US$ 60 bilhões. É provável que as grandes seguradoras europeias também tenham investido suas reservas técnicas em títulos soberanos da Europa. Sim, o momento é de atenção com os bancos. Mas alguém terá de fazer as contas sobre a exposição das grandes seguradoras.
ANNA VERONICA MAUTNER - Brincadeiras
Brincadeiras
ANNA VERONICA MAUTNER
FOLHA DE SP - 11/10/11
"Qualquer avô é capaz de enumerar os jogos infantis de sua preferência quando criança. Eram outros tempos aqueles em que vizinhança garantia espaço e amigos.
Ninguém tinha medo de brincar na calçada. As crianças do vizinho eram nossas companheiras de brinquedo. Alguns felizardos tinham quintal em casa. Quem morava num beco, numa vila, tinha espaço garantido. Existiam brinquedos para dia de sol e de chuva. Alguns exigiam espaços grandes: soltar pipa, pegador; outros, chão de terra, como bolinha de gude. O mundo mudou. Mesmo onde há espaço e chão de terra, o perigo ronda. Não há semana que não se ouça falar de violência contra crianças ou perpetrada por elas.
Não se brinca em área pública, é perigoso. Não há criança brincando na rua nem na periferia nem em bairros de classe média. Isso nos obriga a reescalonar os jogos, adaptá-los às circunstâncias.
Não é possível condenar as crianças a brincar de corpo e força só nas férias. E, mesmo aí, sempre monitorados. O corpo e a mente precisam ser exercitados. Hoje, o espaço para as crianças inventarem, improvisarem, sumiu: elas estão sempre monitoradas. Em festas, se contrata monitor, partindo do pressuposto de que criança não sabe mais inventar. Criança, hoje, não tem espaço para desenvolver sociabilidade, solidariedade, competitividade, alegria na vitória e tolerância à perda, sem a supervisão de um adulto devidamente treinado para ensinar sem frustrar.
Brincar livremente é o laboratório de estruturação do conhecimento corporal e da imagem corporal. É pela repetição dos movimentos que acumulamos dados sobre quem somos, quanto podemos, no que somos melhores e quanto aguentamos. Se não há oportunidade de testar meu corpo próprio e tomar consciência de seu potencial e limitações, ocorre um processo de aleijamento.
Quando a criança não é supervisionada, cria condições de se testar enquanto alvo e agressora. Reconhece seu limite (o quanto aguenta) e sua força (a intensidade com que pode atingir o outro). Em resumo: mapeia quem é quem no seu mundo de troca de pancada e carinho. O que resta sem monitor são os jogos eletrônicos. Felizes são as crianças cujos pais oferecem clubes, esse amplo espaço público/privado protegido, onde, por hipótese, se encontram pessoas de mesma "tribo".
Gostaria que existisse uma plataforma livre para que as crianças pudessem brincar usando os próprios corpos -e não só os dedos das mãos, como nas novas tecnologias.
MERVAL PEREIRA - Democracia digital
Democracia digital
MERVAL PEREIRA
O Globo - 11/10/2011
A democracia digital entrou definitivamente no foco da sociedade brasileira, e nos últimos dias tenho participado de diversos debates sobre o tema, seja pelo lado da transparência e acesso a documentos públicos como parte fundamental desse processo, seja pela utilização das novas tecnologias na difusão de informações e pelas consequências dessa ampliação do debate como geradora de fatos políticos como a Primavera Árabe ou mobilizações populares nos Estados Unidos e no Brasil.
O III Seminário de Comunicação dos Tribunais de Contas do Brasil, que tinha como tema central a divulgação das sessões plenárias, foi marcado pelo apelo dos próprios membros dos Tribunais de Contas dos estados para que a legislação que cria o controle externo dos tribunais seja aprovada pelo Congresso, num momento em que a função do Conselho Nacional de Justiça é questionada pela Associação dos Magistrados do Brasil.
Pressionados pelas dificuldades políticas que traz a fiscalização das obras para a Copa do Mundo e as Olimpíadas do Rio, e certamente prevendo que elas aumentarão à medida que se aproximarem as datas fatais dos eventos, os membros dos tribunais querem o apoio da sociedade para exercer essa fiscalização.
O presidente do Tribunal de Contas do Estado do Rio, Jonas Lopes, disse: "Como órgãos orientadores e fiscalizadores da boa governança, devemos lançar mão das novas tecnologias para tornar mais claro o nosso trabalho e permitir que a população compreenda nosso papel e possa participar conosco dessa tarefa."
O seminário mostrou ainda experiências em vários estados, com destaque para o Mato Grosso, cujo Tribunal de Contas transmite desde 2006, uma vez por semana, suas sessões plenárias, por meio da TV da Assembleia Legislativa.
O conselheiro Antonio Joaquim destacou que a transmissão ao vivo, também pela internet, é uma documentação: como as notas taquigráficas são eletrônicas, os advogados entram na internet e na TV e pegam as informações.
Em São Paulo, foi a vez de debater acesso a documentos públicos na Câmara de Vereadores sob o sugestivo nome de "A era dos dados abertos". O mediador do debate, jornalista Carlos Marchi, chamou a atenção para a importância da abertura dos dados, com informações completas de gastos, salários - este ainda é um ponto delicado nesse processo de transparência - expostas no portal da Câmara de Vereadores, à disposição não apenas dos jornalistas, como também do cidadão comum.
A partir dessas informações, o presidente da Câmara, vereador José Police Neto, afirmou que o objetivo é "produzir conhecimento" e planejar "políticas públicas para beneficiar a sociedade".
Os vereadores Floriano Pesaro e Tião Farias, ambos do PSDB, idealizadores do projeto, veem o uso das novas tecnologias para dar transparência às ações dos vereadores como "uma forma de consolidar a democracia".
Ontem, participei de um almoço no Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), que se define como um think tank independente e apartidário, criado por um grupo de intelectuais, empresários, autoridades governamentais e acadêmicos, com o objetivo de promover estudos e debates sobre temas prioritários da política externa brasileira e das relações internacionais em geral, presidido atualmente pelo ex-embaixador do Brasil na China Luiz Augusto Castro Neves.
A moderna democracia digital e a mudança de parâmetros que ela trouxe tanto para o cidadão quanto para os governantes foram o centro dos debates no Cebri, tendo destaque o papel dessas ferramentas em episódios como a "Primavera Árabe" e suas implicações políticas.
Sobretudo agora, diante do enfrentamento da polícia no Egito com os cristãos coptas, que traz à tona de novo receios de que grupos radicais possam ganhar espaço na transição democrática. E a possibilidade de que manifestações espontâneas pelo Facebook e pelo Twitter possam ser manipuladas por radicais.
Ela permite que a sociedade acompanhe passo a passo a atuação dos funcionários públicos e, por conseguinte, dos governos como um todo, mas precisa de uma legislação de acesso à informação que defina regras e procedimentos.
Assunto que mobiliza todos os governos, a legislação de acesso à informação pública que deve ser um marco no desenvolvimento da democracia brasileira pode permitir que passemos de uma situação secundária em termos de governos eletrônicos e transparência de dados para uma situação de vanguarda.
O projeto, que já foi aprovado na Câmara e está neste momento preso na Comissão de Relações Exteriores do Senado, é muito avançado.
Apesar de ter iniciativas importantes na área, o Brasil ainda está atrasado. Levantamento feito pela consultoria Macroplan, em parceria com pesquisadores do Instituto Universitário Europeu, mostra o país na 55ª posição no ranking mundial dos governos eletrônicos, com Índia e China.
Publicado pelo Centro Global de Tecnologia da Informação e Comunicação em Parlamentos, das Nações Unidas, o estudo identifica que o Brasil ainda tem um longo caminho pela frente na construção da democracia eletrônica.
O livre acesso à informação pública pressupõe que os sites tenham informações sobre as despesas da instituição apresentadas da maneira mais detalhada e acessível possível.
Os jornalistas são os que menos usam essas informações nos Estados Unidos, porque o que interessa mesmo é o dia a dia dos cidadãos, que começam a se utilizar da legislação para defender seus direitos, os advogados começam a usar, os lobistas começam a usar, enfim, "uma questão de exercício de cidadania".
Essa definição é do professor brasileiro Rosental Calmon Alves, da Universidade do Texas, em Austin, um dos maiores especialistas nas novas tecnologias digitais.
Ele me mandou um recado, a propósito das novas ferramentas tecnológicas e da interação dos cidadãos, a nova sociedade civil global, na definição de outro especialista, Manuel Castells: vai ficar tão fácil votar através dessas novas tecnologias que a pressão pela democracia direta será muito forte nos próximos anos, talvez irresistível.
FÁBIO ZAMBELI (interino) - Painel
A redação atual exige que o fundo em gestação seja administrado por uma empresa privada. A ideia é retirar essa obrigatoriedade do texto. As regras de aposentadorias em carreiras especiais que envolvem risco também podem ser aperfeiçoadas.
Muita calma O líder do PT, Paulo Teixeira (SP), quer mais tempo para tentar um acordo. "A bancada pediu um debate com o governo sobre este projeto. Não há razão para votá-lo antes", diz.
Fadiga 1Ministros que estiveram com Dilma nas viagens internacionais recentes reclamam, em privado, da maratona de compromissos. Além do ritmo intenso de reuniões, a presidente convocava a comitiva para acompanhá-la em visitas a museus nas horas de folga.
Fadiga 2Dilma também se queixa do excesso de atividades agendadas pelo Itamaraty. Em Nova York, num só dia ela teve seis reuniões bilaterais com chefes de Estado.
Culpado Sobrou para o líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT): Dilma não gostou da aprovação, na Câmara, da meia-entrada para estudantes de 15 a 29 anos. A petista não quer assumir o desgaste do veto, caso o benefício sobreviva ao Senado.
Mais valiaCUT e CTB preparam documento em defesa do projeto de Vicentinho (PT-SP) que regula terceirizações e, na visão das centrais, resguarda o trabalhador. O texto é uma resposta à articulação da Força Sindical com empresários em favor de proposta que tramita em comissão especial da Câmara.
No papelConvidado pelo Conselho de Ética da Assembleia paulista a explicar entrevista na qual admite a venda de emendas parlamentares, o secretário Bruno Covas (Meio Ambiente) deve repetir o colega Roque Barbiere (PTB) e apresentar hoje, por escrito, suas considerações.
AmplificadorO tucano, pré-candidato à prefeitura paulistana, teme que o PT veicule, durante a sessão, a gravação na qual ele relata oferta feita por um prefeito. O presidente do colegiado, Hélio Nishimoto (PSDB), considera "desnecessário" o uso do recurso sonoro. "Esperamos que ele compareça."
Oremos Geraldo Alckmin (PSDB) e Gabriel Chalita (PMDB) dividirão os holofotes na festa da Padroeira do Brasil, amanhã, no Santuário de Nacional de Aparecida. O governador fará uma das leituras na missa solene, às 10h. O peemedebista participará da novena, à tarde.
Dote Dirigente do DEM paulistano, Alexandre de Moraes fez chegar a Alckmin que não haverá "alinhamento automático" com o PSDB em 2012. O partido, dono de fatia generosa do tempo de TV, espera mais espaço no governo paulista e avança nas tratativas com Chalita.
BancadaMarco Aurélio Cunha será anunciado hoje líder do PSD na Câmara paulistana. O partido de Gilberto Kassab nasce com 10 vereadores na capital.
Visita à Folha Sergio Renault, diretor vice-presidente do Instituto Innovare, visitou ontem a Folha. Estava acompanhado de Antonio Claudio Ferreira Netto, diretor.
com LETÍCIA SANDER e DANIELA LIMA
Tiroteio"Ao adotar o corte do ponto dos funcionários parados, o governo Dilma utiliza um expediente patronal e se coloca no mesmo patamar dos banqueiros. É um retrocesso."DO PRESIDENTE DA UGT, RICARDO PATTAH, sobre a conduta do governo federal diante de movimentos de greve em curso no país, como o dos Correios, que deteriorou a relação do Planalto com as centrais sindicais.
Contraponto
Apito amigoDurante reunião em Porto Alegre na semana passada, Pelé ouvia relato de Carlos Eugênio Simon, ex-árbitro de futebol, sobre suas participações em Copas do Mundo. O ex-juiz brincou com o tricampeão mundial:
-Eu participei de três. Eu e o Pelé somos os que mais participamos de Copa nesta mesa!
Manuela DÁvila (PCdoB-RS) provocou Simon, que colecionava atuações polêmicas nos gramados:
-Pode até ser, mas tenho certeza que neste quesito as torcidas preferem, de longe, o Pelé.
ARNALDO JABOR - Steve Jobs criou uma 'ciência alegre'
Steve Jobs criou uma 'ciência alegre'
ARNALDO JABOR
O Estado de S.Paulo - 11/10/11
Steve Jobs me lembra aquela célebre foto de Einstein fazendo careta com a língua de fora. Einstein virou um 'cult' instantâneo. 'Cool', com suéter rasgado, cabelo de hippie velho, Einstein nos tranquilizou, como se dissesse: "Para além do incompreensível - não se preocupem - há o riso, o humano". Steve Jobs também diminuiu nosso medo diante da espantosa evolução científica que nos atordoa. A ciência parece marchar sozinha sem o rosto humano de autores, se reproduzindo em incessante ebulição a caminho de um futuro 'distópico', como dizem os filósofos, apavorados pela falência de seus 'universais'.
Jobs nos restituiu a ideia de que nós, humanos, é que fazemos a ciência e que ela não aponta necessariamente para um futuro terrível e negro, como nos livros de ficção científica. A tecnologia pode ser lúdica, compreensível, de fácil acesso, mesmo que não saibamos que porra é um gigabyte ou como se monta uma placa-mãe. Jobs humanizou a criação técnica, deu um rosto à máquina. Ansiávamos por um autor, por alguém que criasse tecnologia e não foi apenas 'criado' por ela.
Outro dia, no New York Times, o professor Neal Gabler escreveu sobre o assunto.
Ele diz: "Não acreditamos mais em 'grandes ideias', como antes. Não temos mais celebridades culturais que sejam pensadores, gente como Reinhold Niebuhr, Daniel Bell, Betty Friedan, Carl Sagan e Stephen Jay Gould, só para mencionar alguns, mesmo menores. As ideias em si mesmas já ficavam famosas, como 'o fim da ideologia', 'o meio é a mensagem', 'a mística feminina', 'a teoria do big-bang' ou o 'fim da história'. Vivemos em um mundo pós-ideias, um mundo onde grandes ideias iluministas que não sejam imediatamente 'monetizadas' são cada vez mais raras. Marx mostrou a relação entre os meios de produção e nossos sistemas políticos, Freud revelou-nos o inconsciente, Einstein reescreveu a Física. Procurávamos não apenas apreender o mundo, mas compreendê-lo. É claro, especialmente na América, que vivemos numa época pós-iluminista, na qual racionalidade, evidência, argumentos lógicos e debate perderam a batalha para superstição, fé, opinião e ortodoxia. Hoje o que o futuro nos aponta é mais e mais informação. Saberemos tudo, mas não haverá ninguém pensando nisso".
Steve Jobs restaurou a ideia de 'sujeito' para nós, 'objetos' de uma marcha insensata de incompreensões. De certa forma, ele nos devolveu uma utopia, sim, através da visão de uma tecnociência dominável, fácil, brincalhona. Como queriam os arquitetos do século 20, forma e função foram palavras idênticas na cabeça de Jobs, que claramente não era um 'pós-moderno', mas um 'modernista' renascido. Ele provou que, na mutação digital, instrumentos podem ser ideias concretas, impregnadas nos aparelhos, conteúdos na forma. Chips são conceitos. E é verdade, pois estão mudando o mundo até politicamente, como nas manifestações por democracia como vemos no mundo árabe e nas recentes marchas nos EUA, onde há um (ainda leve) 'revival' dos movimentos dos anos 60. Os instrumentos-ideias da Web já nos alertam para a decadente política tradicional, excludente, autocentrada, que está sendo desmoralizada no mundo todo. Há uma busca de transparência e de luta acima dos partidos.
A ideologia que se desenha no ar é a de uma informação democratizada. Muitas revoluções derivam para o totalitarismo, mas o que Jobs fez é uma mutação sem rumo, misteriosa como a vida, sempre se reinventando. O século 21 começou com decepções e tragédias. O futuro era negro. Pode até continuar assim, mas Jobs foi um dos que nos fizeram acreditar que não seremos mais robôs sem alma ou desejo, mas que podemos agir no mundo, que o humano se revigora, se 'vira', renasce para além das 'distopias' que os metafísicos predizem para nos amedrontar. Marx tem uma frase genial: "O capital não cria apenas objetos para os 'sujeitos' consumirem, mas cria também 'sujeitos' para os objetos de consumo". A frase tem um som de agouro trágico, pois seríamos sujeitos 'programados' pelo consumo. Até acho que já somos e seremos, mas, e daí? Jobs nos dá o 'toque' de que esses tais 'sujeitos' não serão necessariamente tortos 'objetos' de um capital tenebroso. Podemos ser sujeitos-objetos mais livres.
Meu filho tem um iPod do tamanho de um relógio de pulso, que custou 100 dólares e que armazena 10 mil músicas e não está nem um pouco preocupado com o futuro terrível, nem tem medo de ser 'fetichizado' como mercadoria. Quem tem medo do futuro são os coroas como eu ou tristes 'hegelianos' sem assunto. Steve Jobs, filho da contracultura, da arte crítica, de Dylan e Picasso, do LSD que o 'descaretizou', criou uma espécie de filosofia prática, 'de mercado', indutiva, para além de explicações genéricas, de grandes narrativas universais. Desqualificou a busca de explicações finais, criou instrumentos para acessarmos o mistério que sempre haverá e sugere até que, por caminhos indutivos, podemos chegar a generalizações discretas.
Claro que ele não está sozinho entre outros craques, como o careta Gates e o espertíssimo Zuckerberg - mas ele sintetizou e humanizou esta nova era.
Ele tirou o computador dos laboratórios e fez a ciência cair na mão das pessoas. O indivíduo se sentiu importante de novo e não apenas um asno batendo cabeça para invenções incompreensíveis. Ele nos ensinou a transgressão contra uma sociedade conformista e obediente, quando disse (seja por marketing ou não): "Pense diferente! Meus computadores são para os rebeldes, loucos e desajustados". Hoje já podemos ter esperança por alguma coisa, seja a morte urgente (e humilhante, se possível) dos assassinos Kadafi e Assad ou, no mínimo, o lançamento do iPhone 5...
Não me esqueço de 1998, quando ele lançou o genial slogan cartesiano: "I think, therefore, Imac!". Não é lindo?
Só entendi a importância profunda da 'ciência alegre' de Steve Jobs agora que ele se foi.
REGINA ALVAREZ - Entraves no caminho
Entraves no caminho
REGINA ALVAREZ
O GLOBO - 11/10/11
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, em entrevista à Folha de S.Paulo no domingo, voltou a reafirmar a sua convicção de que a inflação entrará brevemente em trajetória de queda, retornando ao centro da meta, 4,5%, em dezembro de 2012. Nos últimos meses, Tombini tem repetido como um mantra que a alta de preços tem data para acabar, embora esse prazo venha sendo adiado a cada mês. Agora é outubro.
Ele disse que o BC está acompanhando diariamente o comportamento dos preços e todos os indicadores apontam para a reversão da curva ainda este mês. O boletim Focus divulgado ontem de fato reviu para baixo a estimativa de inflação para outubro, de 0,48% para 0,45%, mas também puxou para cima a estimativa do IPCA médio para para 2012, de 5,53% para 5,59%. As declarações têm o claro objetivo de enfatizar que a decisão do Copom de reduzir a taxa básica de juros neste momento é correta. Embora Tombini não goste da palavra, o BC aposta que a desaceleração da economia mundial e da economia local criarão as condições para o controle da inflação em 2012.
O problema são os entraves no meio do caminho que podem complicar o fechamento dessa equação. Analistas e o governo concordam que a política fiscal tem importante papel nos planos de redução dos juros. Este ano, o aumento espetacular da arrecadação, combinado com um corte nas despesas de custeio e investimentos, permitiu reforçar o superávit primário em R$ 40 bilhões, mas as despesas obrigatórias, que deveriam cair R$ 8,5 bilhões, já estão R$ 11,5 bilhões acima do Orçamento aprovado pelo Congresso, o que pode ser interpretado de duas formas: ou o corte de R$ 50 bilhões anunciado em março era um faz-de-conta ou o governo errou feito nas suas previsões.
São essas despesas que vão pressionar a política fiscal em 2012, no sentido oposto do que seria adequado para manter os juros em queda sem risco inflacionário. O Orçamento do ano que vem prevê um aumento de R$ 100 bilhões nas despesas do governo, em relação à última reavaliação de 2011, e mais de 50% desse valor reflete o impacto do reajuste do salário mínimo nas contas públicas.
"Para ter uma política monetária mais ativa, é preciso ter uma política fiscal mais contracionista. O governo não tem alternativa. Terá que segurar os gastos, cortando as despesas correntes", afirma Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do Banco Central e economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC).
Ele concorda que a crise externa pode ajudar no combate à inflação, mas destaca que isso não está garantido. "Se os preços das commodities caírem, vão ajudar na queda da inflação, mas se isso não acontecer temos um problema. A atividade não cairá tanto e a demanda por serviços continuará aquecida", avalia Carlos Thadeu.
Roberto Padovani, economista-chefe da Votorantim Corretora, lembra que existem muitas dúvidas no mercado sobre a política fiscal e há desconfiança sobre o comprometimento do Banco Central com o centro da meta. "O desafio do BC é convencer os agentes de que a inflação vai voltar ao centro da meta no fim de 2012. Eu, assim como boa parte do mercado, acho que não."
Blindagem 1
Angela Merkel e Nicolas Sarkozy levantaram as bolsas com a promessa de que vão blindar os bancos. Mas terão trabalho para explicar de onde sairá o dinheiro, caso tenham que resgatar as enormes instituições financeiras dos dois países. Para se ter uma ideia, os três principais bancos franceses - BNP Paribas, Crédit Agricole e Société Générale - concederam empréstimos que chegam a 4,5 trilhões ou 2,3 vezes o PIB da França.
- Se o governo francês tiver que injetar dinheiro nos seus bancos, o déficit público vai aumentar e o país corre risco de perder o rating AAA. Os mercados estão precisando de motivo para subir, mas o que foi anunciado não nos traz entusiasmo. A dificuldade é enorme - disse o economista José Júlio Senna, da MCM Consultores.
Blindagem 2
O Fundo Europeu de Estabilização Financeira (Feef) tem C 440 bilhões, mas já comprometeu C 260 bi com os pacotes de socorro a Grécia, Irlanda e Portugal. Ou seja, não tem recurso para socorrer bancos e comprar títulos de países com problemas. Ainda assim, o economista Roberto Padovani, da Votorantim Corretora, acha que os sinais dos dois líderes foram positivos: "O que foi feito no fim de semana é uma declaração forte de que a Zona do Euro fará o que for necessário para evitar uma crise bancária."
PLÁSTICO VERDE
Dezenove das 21 usinas que fornecem etanol para a Brasken já assinaram o Código de Conduta para Fornecedores de Etanol. As duas que faltam estão em processo de adequação às regras.
VLADIMIR SAFATLE - Adeus, Obama
Adeus, Obama
VLADIMIR SAFATLE
Folha de S. Paulo - 11/10/11
Há alguns anos, o presidente dos EUA, Barack Obama, parecia ser a encarnação de uma nova política. O fato de ser negro em um país que conhecera leis segregacionistas, de ter nome árabe, ser inteligente e ter passado a infância em outros países parecia a coroação perfeita do ideal multicultural e tolerante.
Ele era a representação perfeita desses novos atores que sobem à cena sempre que vemos os momentos de crise das antigas elites atingirem o ápice. Agora que falta um ano para o fim de seu primeiro mandato, percebe-se o quanto essas esperanças passaram ao largo da história real. Em todas as áreas, seu governo tem resultados pífios.
Sua política econômica perdeu, logo na entrada, a coragem de confrontar-se com o sistema financeiro, de arrancar uma nova versão de um "New Deal" à la Franklin Roosevelt. Isto a ponto de o mundo ver a situação patética de uma das maiores fortunas dos EUA (Warren Buffett) lembrar o óbvio: que o sistema tributário norte-americano é completamente distorcido, beneficia só os mais ricos e de que o governo Obama nada fez para combater tal aberração.
Sua política social poderia ser marcada pela criação de um verdadeiro sistema público de saúde capaz de, enfim, livrar os mais vulneráveis da sanha draconiana das grandes seguradoras. No entanto o resultado final de seu projeto foi algo mais próximo de uma declaração de fracasso. Seu sistema conseguiu a proeza de desagradar todo mundo.
Por sua vez, o maior feito de sua política externa foi o assassinato de Bin Laden. Não precisávamos de Obama para este serviço. George W. Bush o faria com o maior prazer.
Fora isso, Obama não ofereceu nada de novo, a não ser uma patética coreografia de idas e vindas. Condenou o golpe militar de Honduras e depois voltou atrás. Defendeu as fronteiras de 1967 para o Estado palestino e depois voltou atrás. Prometeu diálogo com o Irã e depois voltou atrás.
Diz-se normalmente que a política é a arte da negociação e do consenso. Nada mais errado. A política é, em seu fundamento, a decisão a respeito do que será visto como inegociável. Ela é a afirmação taxativa daquilo que não estamos dispostos a colocar na balança. Se Obama tivesse compreendido isso, talvez ele teria ao menos uma importante parcela da população disposta a defender suas conquistas.
Mesmo os jovens que ocupam Wall Street não estão lutando apenas contra os detentores das rédeas do sistema econômico. Eles mostram, com isso, seu profundo desencanto com Barack Obama.
Agora, mesmo que ganhe um segundo mandato no ano que vem, ele nunca mais encarnará a esperança que, em um curto dia, representou.
JOSÉ PASTORE - Os rumos da terceirização
Os rumos da terceirização
JOSÉ PASTORE
O ESTADÃO - 11/10/11
Na audiência pública promovida pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST) foram apresentadas visões contrárias e favoráveis ao processo de terceirização.
Os que são contra enfatizaram a precarização que, apesar de existir,não pode ser generalizada.
Afinal,trabalho precário existe tanto nas atividades terceirizadas quanto nas não terceirizadas. Os que são a favor enfatizaram a necessidade de viabilizar os negócios. Imaginem uma construtora que,em vez de terceirizar a terraplenagem do salicerces de um edifício residencial, fosse obrigada a comprar todo o maquinário-caríssimo -que seria usado uma vez a cada dois ou três anos. Isso é impensável! A terceirização é um processo complexo porque coloca nas mesmas atividades empresas e profissionais em diferentes condições contratuais.
Há contratos que entregam produtos.
Outros entregam serviços. Há os que entregam produtos e serviços.
Existem atividades que são realizadas no local da empresa contratante.
Outras são executadas no local da contratada ou a distância.
Há casos em que uma contratada serve apenas uma contratante. Em outros, a mesma contratada serve várias contratantes.
Há situações em que as tarefas são executadas exclusivamente por funcionários da contratada.Há outras em que elas são realizadas em íntima parceria com os funcionários da contratante.
Há contratos em que a profissão dos funcionários da contratada é diferente da profissão dos empregados da contratante.Há outros em que a profissão é a mesma, mas com nível de qualificação diferente.
Há tarefas que se realizam de uma só vez. Outras são recorrentes, mas de curta duração. Há as que se estendem por longo prazo.
Há contratos realizados entre empresas do mesmo setor e com integrantes das mesmas categorias profissionais.
Outros envolvem setores e categorias diferentes, cada uma com sua convenção coletiva.
Há atividades em que a subordinação técnica da contratada em relação à contratante é mínima. Há outras em que a dependência técnica é tão grande que gera confusão com a subordinação jurídica.
Não há lei capaz de garantir proteções únicas para situações tão diversas.
A lei pode formular as proteções básicas.
As proteções complementares devem ser definidas pelos atores do processo e a justadas aos diferentes tipos de contratos e ramos de atividade.
Entre as proteções básicas está o cumprimento rigoroso da legislação trabalhista e previdenciária, assim como a comprovação da reputação técnica da contratada e a obrigatoriedade da contratante de garantir ambientes adequados e livre acesso dos empregados da contratada às instalações existentes nos campos da higiene, alimentação e atendimento ambulatorial.
Para chegar às proteções complementares por ramo de atividade, sugeri a criação de um Conselho Nacional para a Regulação da Terceirização com base em câmaras setoriais. Isso porque as proteções que servem à construção civil são diferentes das que servem a hospitais, bancos ou à indústria do petróleo.Essas normas seriam negociadas e atualizadas por representantes das partes.
No seu conjunto, as normas básicas e as complementares formariam nichos de proteção para todos os trabalhadores envolvidos no processo.
Isso não implica isonomia de salário, jornada, PLR e outros benefícios que continuariam a ser fixados nos acordos e convenções coletivos.Afinal,eles se referem a profissionais de categorias diferentes.
Para operares se modelo,é imperioso aprovar com urgência o Projeto de Lei n.º 4.330, ora em discussão na Câmara dos Deputados, que, no meu entender, chegou ao limite do que pode ser protegido por lei. Dali para a frente entra a negociação. A urgência decorre do fato de que de nada adiantará discutiras proteções complementares sem garantir as proteções básicas.
DORA KRAMER - A quem de direito
A quem de direito
DORA KRAMER
O Estado de S.Paulo - 11/10/11
O vice-presidente Michel Temer defendeu a ideia na semana passada e o deputado Miro Teixeira, que trabalha nela há alguns meses, começa a recolher hoje na Câmara assinaturas de apoio a um projeto estabelecendo que dois pontos essenciais da reforma política serão decididos em plebiscito: sistema eleitoral e financiamento público de campanhas.
Os dois divergem apenas quanto à data da consulta: Miro acha que tem de ser em 2012 e Temer sugere o plebiscito para 2014. O deputado pretende conversar com o vice-presidente o quanto antes para discutir esse ponto.
Na visão de Miro, a eleição municipal se presta melhor à consulta por se tratar de um pleito mais simples, com dois votos: um para prefeito e outro para vereador.
Na mesma urna, o eleitor seria consultado sobre o sistema que considera o mais adequado: proporcional, proporcional misto, distrital puro, distrital misto ou o chamado "distritão".
Temer chegou ao plebiscito por considerar "muito difícil" que os partidos construam consenso sobre o tema, porque se trata de uma questão "individual, não partidária".
Já Miro vai mais fundo no problema: "É o tipo da coisa que deve ser decidida pelo poder originário. Qualquer sistema que sair do poder delegado, ou seja, o Congresso, será alvo da desconfiança do povo, pois inevitavelmente de alguma forma lhe retira poder".
Um exemplo, na opinião dele, é a proposta de voto em lista, já derrubada pela Câmara na legislatura passada, que mexe no princípio, "inamovível", do voto direto, pois a prerrogativa de escolher os eleitos é transferida para os partidos.
"Não faz sentido os representantes escolherem de que forma votarão os representados. Estes é que devem decidir a maneira mais adequada de se organizar o sistema representativo", argumenta o deputado.
Miro Teixeira fará dois movimentos: nesta semana, começa a recolher as 171 assinaturas necessárias para apresentar o projeto de decreto legislativo diretamente no plenário e, na próxima, apresenta na comissão especial que discute a reforma política na Câmara uma emenda ao relatório do petista Henrique Fontana propondo a consulta popular.
E por que não incluir também no plebiscito outras questões como o voto obrigatório?
Por dois motivos, sendo o primeiro deles tático, para não ampliar demais o universo do debate e aumentar o campo de resistências.
O segundo motivo é que a mudança (ou não) do sistema eleitoral é a base, o ponto de partida, para se estabelecer qual a forma de escolha de representantes parlamentares assegura a melhora do desempenho da política.
"E para isso não há como importar fórmulas. Não há sistema infalível nem regra universal de sucesso. Cada país tem a sua e o povo bem informado sabe perfeitamente decidir. Quando o Collor pediu às pessoas que fossem às ruas de amarelo não precisou de muita explicação nem campanha para que elas saíssem de preto, porque estavam informadas de que o momento era de se manifestar contra a impunidade", diz Miro.
Sobre a outra pergunta do plebiscito (financiamento público ou privado), o deputado vê boa oportunidade de informar o País e levar ao terreno da transparência um aspecto pouquíssimo discutido: a quantidade de dinheiro público já em circulação nos partidos, "um dos melhores negócios da República e que alimenta o surgimento de novas legendas e transações de toda sorte, a maioria escusa".
É na impossibilidade de os políticos explicitarem desconfiança na capacidade popular de resolver essas questões que o deputado aposta para levar adiante o projeto.
Aderir ao plebiscito, Miro não acha que a Câmara aderirá pura e simplesmente, sem boa dose de pressão. Assim como em princípio o Congresso não gostou da Lei da Ficha Limpa, que acabou aprovada por unanimidade.
A solução, na concepção dele, estará na capacidade dos que apoiam a proposta, dentro e fora do Parlamento, de "expor" os políticos a se manifestarem sobre o assunto. "Podem escolher: ou reconhecem a legitimidade do poder originário de decidir ou defendem a ideia de que o cidadão não sabe decidir. Ou seja, não sabe votar".
TAÍS GASPARIAN - Publicidade e infantilização da sociedade
Publicidade e infantilização da sociedade
TAÍS GASPARIAN
FOLHA DE SP - 11/10/11
Não é possível que o controle do politicamente correto tenha um braço no Estado, exercendo sua autoridade até mesmo em aspectos privados
Nas iniciativas que visam controlar a publicidade, vislumbra-se um excessivo desejo de proteger a sociedade, como se esta fosse completamente vulnerável às mensagens publicitárias.
Longe de ser infantil e hipossuficiente, a sociedade não necessita de proteção a esse ponto, sendo mais razoável que, em situações como essas, o Estado se coloque em posição neutra.
O debate gerado pela recente representação contra o anúncio de lingerie demonstra que a sociedade tem informação e destreza suficientes para lidar com situações sutis. Tanto isso é verdade que diversas manifestações deram conta de defender ou criticar o anúncio, muitas vezes de modo contraditório.
Recentemente, nesta Folha, um procurador de Justiça do Distrito Federal defendeu a proibição com um argumento inédito: o de que o anúncio era ofensivo aos homens!
Outros entenderam que era ofensivo às mulheres, por reduzirem-na à condição de objeto. E muitos viram apenas humor e graça na atuação de Gisele.
A imposição de única interpretação ao anúncio revela-se autoritária por não reconhecer a capacidade dos cidadãos de filtrarem o que há de humor e sugestão na mensagem. Se o Estado se imiscui nessas áreas, toma para si o detestável papel de defensor da moralidade pública.Na semana passada, um exemplo de iniciativa desse excesso de zelo foi rechaçado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo.
No julgamento de um recurso, foi afastada uma multa no valor atualizado de mais de R$ 700 mil imposta pelo Procon a um anunciante por ter veiculado uma publicidade em que uma idosa encabeçava uma fila diante de um caixa eletrônico.
No caso, o Procon entendeu que a mensagem era preconceituosa, como se não restasse mais nenhuma alternativa de compreensão do anúncio, até mesmo a que nele visse um incentivo aos idosos que se deslocam para cuidar das próprias finanças. Isso mostra que o preconceito está na cabeça do receptor da mensagem, não na do emissor.
Porque se em vez de retratar a idosa na fila tivesse o anunciante retratado uma loira oxigenada, diriam os moralistas que a ofensa era sexista. Se um homossexual estivesse na fila, então o anúncio seria homofóbico, e assim por diante.
Não é possível que o controle do politicamente correto tenha um braço no Estado, exercendo sua autoridade até mesmo sobre aspectos privados. Nos termos do Código de Defesa do Consumidor, a propaganda abusiva é aquela que veicula mensagem opressiva, inescrupulosa e sem ética.
Para ser retirada de circulação por um caráter discriminatório ou preconceituoso, não basta que sinalize um comportamento. Tem que ser forte e pontual o suficiente para incitar um tipo de agressão ou violência, ainda que moral.
Se não ultrapassar esses limites, a publicidade insere-se no contexto da liberdade de expressão, não podendo ser proibida, sob pena de excesso de controle e infantilização da sociedade.
Tentativas de regular os comportamentos sociais são próprias de uma sociedade fascista. Não há no Brasil, em absoluto, uma sociedade fascista, mas os excessos de regulação e intervenção do Estado na esfera particular justificam o receio de que estejamos avançando pelos terrenos anunciados por Orwell.
TAÍS GASPARIAN, 52, advogada, mestre pela Faculdade de Direito da USP, é sócia do escritório Rodrigues Barbosa, Mac Dowell de Figueiredo, Gasparian - Advogados.
JAIRO MARQUES - Meus queridos professores
Meus queridos professores
JAIRO MARQUES
FOLHA DE SP - 11/10/11
Um mestre que repita o mantra "acredite que vai dar tudo certo, vá em frente" faz toda a diferença
Durante toda a minha trajetória escolar, nunca vi nos professores apenas um caminho para ganhar algum conhecimento em matemática, geografia, literatura. Para mim, eles eram muito mais.
Na menor brecha que abriam, eu sugava de meus mestres formas de compreender os momentos embaçados da vida, formas de fazer a minha realidade melhor. Professor é o mundo todo sintetizado em giz, apagador e tutano.
Na adolescência, uma professora marcou minhas lembranças para sempre ao me emprestar, juro, apenas emprestar, a antologia poética do Drummond, que tinha capa dura verde e páginas em um papel tão fino que parecia que a qualquer momento iria se desintegrar. Li quase inteira, aprendi de um tudo.
"É para você se inspirar para o amor, refletir sobre a dureza da existência, engrossar o couro para o futuro. O poeta foi comedor de arroz com feijão igual a nós todos, mas deixou a alma viajar por grandes banquetes", dizia um bilhete da professora.
Talvez não seja muito pedagógico para os que ensinam estreitar laços com os que devem aprender, pois isso poderia gerar conflitos de autoridade, confusão com as tarefas atribuídas aos pais. Mas as batalhas abertas atualmente no ambiente escolar trazem a mim uma nostalgia danada daquele tempo em que a mesa do professor era coberta de flores do campo -muito mais campo do que flores-, doce caseiro, desenhos, poesias e outros mimos levados pela criançada.
Para mim, o professor foi um bálsamo salvador das pequenas e grandes angústias de ser um menino incomum fisicamente na escola. E, para isso, não era preciso grandes sessões de diálogos lamuriosos.
Bastava um exemplo, algumas palavras seguras, uma recomendação de um livro. Um mestre que repita o mantra "acredite que vai dar tudo certo, vá em frente, que é possível" faz toda a diferença.
Em outra situação estudantil, fui atrevido a ponto de ir à casa de um dos mestres (no interior do país, tem dessas coisas). Eu precisava como em uma emergência sufocante saber até quando eu teria de esperar para viver um grande amor, afinal, eu "já" tinha 16 anos. O professor me recebeu, levou totalmente a sério a minha dúvida e recomendou o melhor remédio de todos para os desesperados: "Tenha paciência. Seu tempo vai chegar".
Professor é para ser admirado enquanto explica a intrigante lógica do teorema de Pitágoras, é para ser fonte de inspiração quando se recebe aquele tema "affmaria" da redação da USP, é para instigar o gosto de descobrir com a própria sola do sapato que a história das civilizações tende a se repetir cada vez que se cometem as mesmas falhas. Professor é para ser querido, pois é ele que ensina que a crase não é um acento, mas, sim, um encontro entre o artigo e a preposição.
Lá no blog, coloquei um punhado de fotos de professores interagindo com alunos de um projeto "maraviwonderful" chamado Guri, da Secretaria da Cultura de São Paulo. Nele, os moleques prejudicada dos movimentos ou dos sentidos aprendem, cada um à sua maneira, a tocar um instrumento musical. Como diria meu amigo Wadê, "aí eu pirei"!
MARIO CESAR FLORES - Meio ambiente, política e soberania
Meio ambiente, política e soberania
MARIO CESAR FLORES
O ESTADÃO - 11/10/11
Meio ambiente, recursos naturais (água doce...) e clima são temas indutores potenciais de contenciosos que perturbarão a tranquilidade internacional (e interna em muitos países) no século 21. Esses contenciosos já se manifestam em duas "frentes", aqui referidas ao Brasil.
Interna: a atuação humana dissonante do conveniente à natureza, pressionada por demandas do homem, inexoravelmente inserido nos ecossistemas - demandas que, ao menos as racionais, não podem ser ignoradas.
E supranacional: as atividades no Brasil vistas, com ou sem razão, como prejudiciais à natureza em escala transnacional; e na mão contrária, os reflexos no Brasil de atividades fora do País danosas à natureza global.
Em ambas as frentes a solução depende da conciliação do interesse humano de curto prazo, quando não das necessidades humanas essenciais, com a sustentabilidade ambiental no longo prazo.Essa conciliação passa pela ciência, pela conscientização do povo e formulação e pelo cumprimento de regulação sensata.
A ciência e a conscientização estão avançando - a conscientização, lentamente. Já a regulação e seu cumprimento andam aos tropeços (no Brasil e no mundo...), num quadro em que demandas infladas pelo crescimento demográfico, associado ao consumismo paranoico, tendem a menos acabar o alerta da ciência e a retardar a conscientização. E tendem também a ameaçar a continuidade do potencial da natureza.
Nesse quadro dúbio,que inclui o Brasil, é natural que a conciliação seja tumultuada por um complicador inerente à democracia: o reflexo político-eleitoral da dinâmica do homem no ecossistema, com seus interesses e/ou necessidades - o que explica, por exemplo, por que o político do Mato Grosso é mais tolerante com o desmatamento na fronteira agropecuária do que o do Rio de Janeiro, que,por sua vez,é complacente com a favelização descontrolada de áreas protegidas. Explica ainda por que o político dos EUA resiste ao Protocolo de Kyoto...
No fundo,a associação do interesse ou da necessidade humana com a lógica eleitoral no curto prazo,hierarquizada acima da natureza e do próprio interesse humano, no longo prazo-uma conduta de risco, se deixada livre.
Estamos a caminho de saber razoavelmente o que pode ou deve ser ou não ser feito. Difícil é estruturar esse "pode ou deve" sem que o dissenso entre o sugerido pela ciência e o desejado pelo homem - ou exigido por sua sobrevivência-provoque turbulência política. Esse dilema esteve refletido na votação do código florestal na Câmara dos Deputados, em maio:a parda baixa política manifesta no escambo" cargos e recursos por votos", a pressão do homem ator econômico e social no ecossistema também foi influente. Foi,sempre será e é natural que seja,mas há que procurar o equilíbrio entre as demandas do homem e a sustentabilidade ambiental, de que aquelas demandas dependerão no futuro.
Enfim,no Brasil - e no mundo em geral,sobretudo no democrático- as dificuldades da conciliação são maiores na política, influenciada pelos interesses do homem, eventualmente até imperativos e comumente modulados por peculiaridades locais, que sugerem soluções distintas, não raro em dissonância com a natureza.O malogro na solução desse desafio acaba desembocando numa destas hipóteses: se prevalecer o fundamentalismo ecológico irrazoável (pouco provável), viveremos entraves ao desenvolvimento e insatisfação socio política; se prevalecer a pressão humana, em desafio à ciência no tocante à natureza, comprometer- se-áo desenvolvimento no longo prazo e se sujeitará o País a embargos,cotas e certificações restritivas, a pretexto de que o Brasil não responde à sua responsabilidade; no extremo, a pressões impudentes sobre a soberania nacional. Mais dia, menos dia, impor-se-ão medidas salvacionistas até radicais.Risco de erosão da democracia em ambas as hipóteses.
Embora nossos vários biomas sejam todos importantes, a Amazônia é hoje objeto de particular atenção interna e internacional.
Por mais que ainda seja preciso estudá-la-oque vem sendo feito no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e em outras instituições -, já existe forte suscetibilidade quanto aos reais ou supostos reflexos supra regionais do que nela ocorre, indutora de manifestações críticas ao exercício da soberania brasileira na região, vista como de singular interesse da humanidade (exemplo insólito, a manifestação do presidente Mitterrand anos atrás). Independentemente do seu grau de correção, em aferição pela ciência, a suscetibilidade alerta para a necessidade de controle adequado da reação às irregularidades antropogênicas e às catástrofes naturais, o qual, sebem exercido, além de seu valor ambiental intrínseco, deslegitimará atitudes prejudiciais ao País e/ou atentatórias ao sentido rigoroso da soberania.
Esta é a realidade: nossa virtude ambiental carece de a de quada moldura legal que concilie homem e natureza e, complementarmente, de rigoroso controle do seu cumprimento. Nessa equação intervêm o Congresso e seus congêneres estaduais,na flexibilidade admitida pela lei federal, naturalmente sujeitos às pressões do processo político com suas peculiaridades regionais, e os Executivos federal e estaduais, em realce o Ministério do Meio Ambiente e órgãos estaduais correlatos. Se à sombra do Tratado de Cooperação Amazônica o tema se estender aos nossos vizinhos - hipótese razoável, já que o ecossistema não respeita fronteira política-,também o Ministério das Relações Exteriores.
Saberemos resolver o desafio da compatibilização das demandas do homem, incidentes nos ecossistemas,com as da sustentabilidade ambiental, ou viveremos décadas tumultuadas por contenciosos nacionais e internacionais? Não será fácil atingir o equilíbrio ideal entre a prudência ecológica e a pressão socioeconômica - ao menos enquanto a conscientização do povo não for capaz de se contrapor ao interesse imediatista, no processo político-eleitoral.
Assinar:
Postagens (Atom)