Entraves no caminho
REGINA ALVAREZ
O GLOBO - 11/10/11
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, em entrevista à Folha de S.Paulo no domingo, voltou a reafirmar a sua convicção de que a inflação entrará brevemente em trajetória de queda, retornando ao centro da meta, 4,5%, em dezembro de 2012. Nos últimos meses, Tombini tem repetido como um mantra que a alta de preços tem data para acabar, embora esse prazo venha sendo adiado a cada mês. Agora é outubro.
Ele disse que o BC está acompanhando diariamente o comportamento dos preços e todos os indicadores apontam para a reversão da curva ainda este mês. O boletim Focus divulgado ontem de fato reviu para baixo a estimativa de inflação para outubro, de 0,48% para 0,45%, mas também puxou para cima a estimativa do IPCA médio para para 2012, de 5,53% para 5,59%. As declarações têm o claro objetivo de enfatizar que a decisão do Copom de reduzir a taxa básica de juros neste momento é correta. Embora Tombini não goste da palavra, o BC aposta que a desaceleração da economia mundial e da economia local criarão as condições para o controle da inflação em 2012.
O problema são os entraves no meio do caminho que podem complicar o fechamento dessa equação. Analistas e o governo concordam que a política fiscal tem importante papel nos planos de redução dos juros. Este ano, o aumento espetacular da arrecadação, combinado com um corte nas despesas de custeio e investimentos, permitiu reforçar o superávit primário em R$ 40 bilhões, mas as despesas obrigatórias, que deveriam cair R$ 8,5 bilhões, já estão R$ 11,5 bilhões acima do Orçamento aprovado pelo Congresso, o que pode ser interpretado de duas formas: ou o corte de R$ 50 bilhões anunciado em março era um faz-de-conta ou o governo errou feito nas suas previsões.
São essas despesas que vão pressionar a política fiscal em 2012, no sentido oposto do que seria adequado para manter os juros em queda sem risco inflacionário. O Orçamento do ano que vem prevê um aumento de R$ 100 bilhões nas despesas do governo, em relação à última reavaliação de 2011, e mais de 50% desse valor reflete o impacto do reajuste do salário mínimo nas contas públicas.
"Para ter uma política monetária mais ativa, é preciso ter uma política fiscal mais contracionista. O governo não tem alternativa. Terá que segurar os gastos, cortando as despesas correntes", afirma Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do Banco Central e economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC).
Ele concorda que a crise externa pode ajudar no combate à inflação, mas destaca que isso não está garantido. "Se os preços das commodities caírem, vão ajudar na queda da inflação, mas se isso não acontecer temos um problema. A atividade não cairá tanto e a demanda por serviços continuará aquecida", avalia Carlos Thadeu.
Roberto Padovani, economista-chefe da Votorantim Corretora, lembra que existem muitas dúvidas no mercado sobre a política fiscal e há desconfiança sobre o comprometimento do Banco Central com o centro da meta. "O desafio do BC é convencer os agentes de que a inflação vai voltar ao centro da meta no fim de 2012. Eu, assim como boa parte do mercado, acho que não."
Blindagem 1
Angela Merkel e Nicolas Sarkozy levantaram as bolsas com a promessa de que vão blindar os bancos. Mas terão trabalho para explicar de onde sairá o dinheiro, caso tenham que resgatar as enormes instituições financeiras dos dois países. Para se ter uma ideia, os três principais bancos franceses - BNP Paribas, Crédit Agricole e Société Générale - concederam empréstimos que chegam a 4,5 trilhões ou 2,3 vezes o PIB da França.
- Se o governo francês tiver que injetar dinheiro nos seus bancos, o déficit público vai aumentar e o país corre risco de perder o rating AAA. Os mercados estão precisando de motivo para subir, mas o que foi anunciado não nos traz entusiasmo. A dificuldade é enorme - disse o economista José Júlio Senna, da MCM Consultores.
Blindagem 2
O Fundo Europeu de Estabilização Financeira (Feef) tem C 440 bilhões, mas já comprometeu C 260 bi com os pacotes de socorro a Grécia, Irlanda e Portugal. Ou seja, não tem recurso para socorrer bancos e comprar títulos de países com problemas. Ainda assim, o economista Roberto Padovani, da Votorantim Corretora, acha que os sinais dos dois líderes foram positivos: "O que foi feito no fim de semana é uma declaração forte de que a Zona do Euro fará o que for necessário para evitar uma crise bancária."
PLÁSTICO VERDE
Dezenove das 21 usinas que fornecem etanol para a Brasken já assinaram o Código de Conduta para Fornecedores de Etanol. As duas que faltam estão em processo de adequação às regras.
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