Hoje é dia de decisão na Copa do Brasil, de a onça beber água, de não deixar nada para amanhã, de suspirar de emoção e de ter receio de fracassar, o que é bom, pois, ao contrário do lugar-comum, o medo de perder, em vez de diminuir, aumenta a vontade de vencer.
O medo gera ansiedade, que estimula a produção de substâncias químicas no organismo, que aumentam a concentração, a disposição e a ousadia. É o doping natural, psicológico. Por outro lado, quando a ansiedade é excessiva e ultrapassa certo nível, que é diferente para cada atleta, a mente perde o controle sobre o corpo, os neurônios batem cabeça, o jogador comete erros bisonhos e perde a lucidez para tomar decisões.
Quando eu jogava, dormia mal na véspera de jogos decisivos. Pensava no jogo, no adversário, no que deveria ou não fazer. Isso me ajudava a atuar melhor.
Hoje é dia de o Mineirão ficar enfeitiçado, lotado, e de os torcedores, antes de o jogo começar, festejarem bastante, principalmente os do Cruzeiro, que estarão em muito maior número. Semanas atrás, estive no estádio, onde deixei meus pés imortalizados na Calçada da Fama, junto com vários outros jogadores. Conheci também o Museu do Mineirão, que me trouxe boas lembranças.
Hoje é dia de os treinadores pensarem em todos os detalhes. O colombiano Rueda quer conquistar o primeiro título no Brasil, e Mano Menezes quer melhorar o currículo e diminuir as críticas de que possui mais prestígio do que títulos. São dois técnicos pragmáticos, utilitaristas, organizados, que costumam fazer bons trabalhos e que seguem um modelo atual e moderno, de marcar com duas linhas de quatro, sem deixar espaços na defesa, para, em seguida, atacar com muitos jogadores.
Hoje é dia de os treinadores torcerem para que aconteça, em campo, tudo o que foi planejado e ensaiado. É a glória para os técnicos. Porém, o imponderável e as improvisações estão quase sempre presentes. O acaso não torce para ninguém. Por isso, os treinadores precisam também tomar outras condutas rápidas, durante o jogo, e improvisar, de acordo com as observações.
Hoje é dia de os atletas sonharem com o título e em serem heróis, especialmente Muralha, bastante criticado, algumas vezes, merecidamente, e, em outras, com exagero. Se Muralha brilhar e o Flamengo for campeão, ele se tornará um personagem da história do clube, um exemplo de quem saiu de vilão a herói. Se ocorrer o contrário, será execrado e terá de mudar de time. No outro gol, estará Fábio, em grande forma física e técnica, cada dia melhor. É o jogador que mais atuou na história do Cruzeiro. Mas é perigoso elogiar goleiros e árbitros, antes das partidas.
Hoje é dia de os torcedores, nas arquibancadas, e de os jogadores, nos vestiários, antes de a bola rolar, repetirem os rituais, como beijar a medalhinha o mesmo número de vezes, usar as mesmas roupas, entrar no gramado com o pé direito e vários outros. Cada um tem o seu. Eles acreditam que, se tudo for repetido, conquistarão o título. É o pensamento mágico.
Hoje é dia de tristezas e alegrias, de sonhos realizados e frustrados. Assim como ocorre no fim de uma vida, quando a partida terminar, treinadores e jogadores não terão outra chance de fazer diferente, de corrigir os erros. Acabou. Apenas lamentarão não terem sido mais ousados, mais sonhadores.