O GLOBO - 07/06
Por que ser contra a Copa agora, quando de nada mais adianta, pois os gastos já foram feitos, os ingressos vendidos e os times estão chegando?
Estamos a menos de uma semana — este é o último sábado — da 20ª Copa do Mundo, a segunda realizada no Brasil, mais de meio século após a primeira, em 1950. Tomara que daqui até o dia 12 prevaleça a vontade da maioria, não a desconfiança e o medo estimulados por ameaças da minoria, numa total inversão do princípio democrático. Estou com os 71% que disseram ao Ibope que vão torcer para que tudo dê certo (só 11% de espíritos de porco querem que o Mundial fracasse). Concordo que a Copa não é prioridade, que saúde e educação deveriam vir antes, que houve desperdício de recursos, atraso nas obras, inépcia e provável superfaturamento, entre outras críticas dos que se opõem. É tanta coisa dando errado, e ainda querem privar o povo de uma fonte de alegria. Além do mais, em que o cancelamento do evento esportivo nessa altura do campeonato ajudaria a resolver as mazelas do país? E por que não houve protestos quando o governo se empenhou tanto para sediá-la, nos sujeitando às imposições tirânicas da Fifa? Houve comemoração.
Em vez de palavras de ordem, gostaria de assistir a um amplo debate em que fossem contestadas as vantagens anunciadas pelo governo de que, por exemplo, os turistas vão gastar R$ 25 bilhões, de que o nosso PIB vai receber um reforço de R$ 30 bilhões, três vezes mais do que na Copa das Confederações, e de que, ao contrário do que se diz, a reforma dos estádios não está drenando recursos que deveriam ir para a educação. A presidente declarou que no início da administração Lula o orçamento dessa pasta era de R$ 18 bilhões e hoje é de R$ 112 bilhões. As despesas com os estádios vão ficar, segundo ela, em R$ 8 bilhões.
Por que ser contra a Copa agora, quando de nada mais adianta, pois os gastos já foram feitos, os ingressos vendidos e os times estão chegando? Não se trata evidentemente de proibir as manifestações, mas de impedir seus abusos e excessos, de dar um basta a uma rotina em que grupos organizados, sob qualquer pretexto e muitas vezes com violência, tumultuam as cidades, impedindo o trânsito, bloqueando ruas e cerceando a prerrogativa de ir e vir da população. Por isso, foi muito oportuno o manifesto recém-lançado por sociólogos, antropólogos, pesquisadores universitários, exigindo respeito aos direitos constitucionais que estão sendo “usurpados”.
Em suma, por que não seguir o exemplo dos servidores de Goiânia em greve? Eles aproveitaram a oportunidade do jogo amistoso lá e realizaram protesto pacífico contra o governador do estado, sem atrapalhar a alegria de milhares de torcedores que foram vibrar com a vitória do Brasil.
sábado, junho 07, 2014
Não atendo emergência - RUTH DE AQUINO
REVISTA ÉPOCA
A morte do fotógrafo Marigo na frente de um hospital em greve é uma história do "padrão Brasil"
É possível que se conte nos dedos de uma mão o número de países em que um paciente morre do coração em frente a um Instituto Nacional de Cardiologia (INC), sem receber socorro de nenhum médico ou enfermeiro do hospital. O INC está em greve, como muita gente nesta fase de amistosos pré-Copa das Copas.
A omissão de atendimento imediato a Luiz Cláudio Marigo, de 63 anos, é falta para cartão vermelho. Marigo, fotógrafo premiado de Natureza, embarcou num ônibus, no Rio de Janeiro. Começou a passar mal pouco depois. O motorista, Amarildo Gomes, desviou seu percurso por estar perto do INC, em Laranjeiras, único hospital público no Rio que faz transplantes de coração em crianças e adultos, referência em ensino e pesquisa.
O ônibus foi estacionado em frente ao hospital, e Marigo, deitado no chão do veículo, com dores no peito. Amarildo e passageiros estavam solidários com o drama do anônimo. Ele não levava documentos, apenas uma bolsa com chaves, moedas e R$ 42. Não sabiam que era um homem das florestas. Naquele momento, o povo do ônibus acreditava que poderia salvá-lo. Qualquer um sabe que os primeiros minutos após um infarto são cruciais.
Começava ali uma história padrão Brasil. Seguranças do hospital disseram que o INC não atende emergência e que seria melhor chamar os bombeiros ou uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Assim agiu o motorista Amarildo, mas a contragosto: “Achei um absurdo, um pouco-caso com a vida humana”. Quando uma ambulância chegou ao hospital levando outro paciente, o paramédico prestou os primeiros socorros. Mais tarde, chegaram os bombeiros.
Mesmo em greve, havia no hospital um leito, alguns médicos e plantonistas na Unidade Coronariana. O sargento dos bombeiros Alves afirmou: “Se viesse um médico na hora, já era muita coisa. Isso aí é omissão de socorro”.
Dá dor no coração. Nem falo do Juramento de Hipócrates. Nele, um médico formando jura, por todos os deuses e deusas, aliviar o sofrimento humano. Quantas vezes ouvimos num avião o comandante pedir ajuda: “Se houver um médico neste voo, favor atender um passageiro que está passando mal”. Já pensou o médico se omitir por achar que ganha pouco, ou que não é função dele trabalhar de graça? Já pensou ele dizer: “Não atendo emergência”?
O hospital tem sua versão. A nota do INC diz, e é verdade, que o hospital não tem emergência aberta ao público geral. E daí? A direção diz que o INC nunca fez primeiro atendimento e que sua especialidade são procedimentos de alta complexidade. Sim, e quando se trata de um caso de vida ou morte na frente do hospital?
A diretora do INC, Cynthia Magalhães, afirmou: “Não houve omissão de socorro e não houve erro (...). Nenhum membro da equipe médica foi notificado de que havia um paciente passando mal dentro de um ônibus (...), e sim um paciente passando mal na rua”. Então, médico não sai para socorrer na rua? Cynthia disse que os seguranças do hospital não entenderam a gravidade do caso. Como poderiam? Quem entende de gravidade é médico.
“O que houve foi uma omissão de socorro generalizada, uma falta de integração na rede”, disse Lúcia Pádua, diretora do Sindsprev, ao elogiar o INC como uma “ilha de excelência”. O que não pode, afirmou Lúcia, é “o paciente chegar a um hospital e ser recepcionado por seguranças”. Apela-se a quem? Ao Bom-Senso Medicina Clube?
Então, quem faz a triagem na porta de hospitais, públicos e privados, não são profissionais de Saúde. São seguranças, vigilantes. Na semana passada, um vídeo na recepção de um hospital mostrou seguranças arrastando pelo chão, para fora do hospital, um paciente em cadeira de rodas. Acompanhantes levaram socos e gravatas. O paciente estava sem documentos e “agressivo”, disse Geraldo Medeiros, diretor do Hospital de Trauma de Campina Grande, na Paraíba. Entendi. O hospital deixa os pacientes com trauma.
A morte do fotógrafo Luiz Cláudio Marigo, que trabalhou diversas vezes para ÉPOCA, expõe nossa vulnerabilidade à humilhação, à frieza e à incompetência das recepções hospitalares. Entre no site http://www.lcmarigo.com.br e perceba como era talentoso: “A conservação da biodiversidade depende do conhecimento e do amor. O papel dos fotógrafos de Natureza é despertar a consciência do homem para a incrível riqueza da vida na Terra, sua beleza e valor espiritual. (…) Espero que meu trabalho transmita a mesma alegria e emoção que sinto nos ambientes selvagens e que minhas fotografias não se transformem apenas em mais um documento do passado”.
Se depender do filho dele, Vítor Marigo, que processa União e hospital, sua vontade será respeitada: “Queremos conseguir uma indenização para abrir uma fundação. O importante é manter viva a obra de meu pai”. Porque “selvagem” é a vida aqui fora.
A morte do fotógrafo Marigo na frente de um hospital em greve é uma história do "padrão Brasil"
É possível que se conte nos dedos de uma mão o número de países em que um paciente morre do coração em frente a um Instituto Nacional de Cardiologia (INC), sem receber socorro de nenhum médico ou enfermeiro do hospital. O INC está em greve, como muita gente nesta fase de amistosos pré-Copa das Copas.
A omissão de atendimento imediato a Luiz Cláudio Marigo, de 63 anos, é falta para cartão vermelho. Marigo, fotógrafo premiado de Natureza, embarcou num ônibus, no Rio de Janeiro. Começou a passar mal pouco depois. O motorista, Amarildo Gomes, desviou seu percurso por estar perto do INC, em Laranjeiras, único hospital público no Rio que faz transplantes de coração em crianças e adultos, referência em ensino e pesquisa.
O ônibus foi estacionado em frente ao hospital, e Marigo, deitado no chão do veículo, com dores no peito. Amarildo e passageiros estavam solidários com o drama do anônimo. Ele não levava documentos, apenas uma bolsa com chaves, moedas e R$ 42. Não sabiam que era um homem das florestas. Naquele momento, o povo do ônibus acreditava que poderia salvá-lo. Qualquer um sabe que os primeiros minutos após um infarto são cruciais.
Começava ali uma história padrão Brasil. Seguranças do hospital disseram que o INC não atende emergência e que seria melhor chamar os bombeiros ou uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Assim agiu o motorista Amarildo, mas a contragosto: “Achei um absurdo, um pouco-caso com a vida humana”. Quando uma ambulância chegou ao hospital levando outro paciente, o paramédico prestou os primeiros socorros. Mais tarde, chegaram os bombeiros.
Mesmo em greve, havia no hospital um leito, alguns médicos e plantonistas na Unidade Coronariana. O sargento dos bombeiros Alves afirmou: “Se viesse um médico na hora, já era muita coisa. Isso aí é omissão de socorro”.
Dá dor no coração. Nem falo do Juramento de Hipócrates. Nele, um médico formando jura, por todos os deuses e deusas, aliviar o sofrimento humano. Quantas vezes ouvimos num avião o comandante pedir ajuda: “Se houver um médico neste voo, favor atender um passageiro que está passando mal”. Já pensou o médico se omitir por achar que ganha pouco, ou que não é função dele trabalhar de graça? Já pensou ele dizer: “Não atendo emergência”?
O hospital tem sua versão. A nota do INC diz, e é verdade, que o hospital não tem emergência aberta ao público geral. E daí? A direção diz que o INC nunca fez primeiro atendimento e que sua especialidade são procedimentos de alta complexidade. Sim, e quando se trata de um caso de vida ou morte na frente do hospital?
A diretora do INC, Cynthia Magalhães, afirmou: “Não houve omissão de socorro e não houve erro (...). Nenhum membro da equipe médica foi notificado de que havia um paciente passando mal dentro de um ônibus (...), e sim um paciente passando mal na rua”. Então, médico não sai para socorrer na rua? Cynthia disse que os seguranças do hospital não entenderam a gravidade do caso. Como poderiam? Quem entende de gravidade é médico.
“O que houve foi uma omissão de socorro generalizada, uma falta de integração na rede”, disse Lúcia Pádua, diretora do Sindsprev, ao elogiar o INC como uma “ilha de excelência”. O que não pode, afirmou Lúcia, é “o paciente chegar a um hospital e ser recepcionado por seguranças”. Apela-se a quem? Ao Bom-Senso Medicina Clube?
Então, quem faz a triagem na porta de hospitais, públicos e privados, não são profissionais de Saúde. São seguranças, vigilantes. Na semana passada, um vídeo na recepção de um hospital mostrou seguranças arrastando pelo chão, para fora do hospital, um paciente em cadeira de rodas. Acompanhantes levaram socos e gravatas. O paciente estava sem documentos e “agressivo”, disse Geraldo Medeiros, diretor do Hospital de Trauma de Campina Grande, na Paraíba. Entendi. O hospital deixa os pacientes com trauma.
A morte do fotógrafo Luiz Cláudio Marigo, que trabalhou diversas vezes para ÉPOCA, expõe nossa vulnerabilidade à humilhação, à frieza e à incompetência das recepções hospitalares. Entre no site http://www.lcmarigo.com.br e perceba como era talentoso: “A conservação da biodiversidade depende do conhecimento e do amor. O papel dos fotógrafos de Natureza é despertar a consciência do homem para a incrível riqueza da vida na Terra, sua beleza e valor espiritual. (…) Espero que meu trabalho transmita a mesma alegria e emoção que sinto nos ambientes selvagens e que minhas fotografias não se transformem apenas em mais um documento do passado”.
Se depender do filho dele, Vítor Marigo, que processa União e hospital, sua vontade será respeitada: “Queremos conseguir uma indenização para abrir uma fundação. O importante é manter viva a obra de meu pai”. Porque “selvagem” é a vida aqui fora.
Pronunciamento da discórdia - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 07/06
Não há consenso sobre a necessidade de a presidente Dilma fazer pronunciamento à nação na véspera da abertura da Copa do Mundo. Seus articuladores estão divididos. Um grupo acha que convocar cadeia de rádio e TV é politizar os jogos no momento em que o governo atua para baixar a pressão. Outro acha que Dilma deve fazer chamamento aos brasileiros para que dê tudo certo.
A armadilha do legado
O pronunciamento é o último dos ingredientes no caldo de insatisfações dentro do governo com a estratégia de defesa da Copa do Mundo adotada desde o ano passado. Ministros avaliam que o governo "caiu na armadilha" de ficar respondendo às críticas, em vez de empolgar e emocionar os brasileiros. A presidente Dilma demorou para entrar no clima do futebol, e tratou por muito tempo do assunto pelo viés das obras de infraestrutura. As propagandas oficiais receberam críticas recorrentes dentro do governo. O comercial protagonizado pela jogadora Marta, por exemplo, foi visto como formal demais, nos moldes de um anúncio de um banco público.
"Alguém estava em 2002 melhor do que está hoje? Se a gente não souber o que o Brasil era, não valorizamos o que temos hoje"
Luiz Inácio Lula da Silva Ex-presidente.
Boa ação
A empresa Anglo American anunciou ontem ao Ministério do Meio Ambiente a doação de US$ 5 milhões para o programa Arpa. Lançado em 2002, tem o objetivo de preservar unidades de conservação da Floresta Amazônica.
Com quem será?
Está nas mãos do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), a definição sobre seu vice à reeleição: Márcio França (PSB) ou Gilberto Kassab (PSD). Pessedistas garantiam ontem que Alckmin e Kassab selaram a aliança na noite de quinta-feira. O diretório do PSB indicou França por unanimidade. Tucanos dizem preferir o PSB.
Ofensiva no Nordeste
O ex-presidente Lula vai entrar nas campanhas em Pernambuco e no Piauí. Receberá título de cidadão honorário de Teresina, sexta-feira. Depois, vai se encontrar com a presidente Dilma em Recife para eventos locais no fim de semana.
Vista para o mar
O governo quer aproveitar a terceira edição do Minha Casa Minha Vida para construir empreendimentos em cidades turísticas que ainda enfrentam problemas de habitação e de casas degradadas que interferem na paisagem. Barra de São Miguel (AL) e Parati (RJ) estão entre os municípios que podem ser beneficiados.
Produção independente
Documentário da TV Câmara criticando a construção do Estádio Mané Garrincha causou desconforto no PT. Mas deputados não intervieram para não parecer censura. A presidência da Câmara agiu e tirou da grade.
Raízes
A chapa Luiz Fernando Pezão (PMDB) à reeleição ao governo e Felipe Peixoto (PDT) a vice entusiasmou a presidente Dilma, que gostou de ver seu ex-partido aliado a Pezão. O PDT ensaiou apoio ao candidato petista Lindbergh Farias.
A CHAPA QUE APOIARÁ A REELEIÇÃO do tucano Geraldo Alckmin em São Paulo poderá ter mais de um candidato ao Senado.
Não há consenso sobre a necessidade de a presidente Dilma fazer pronunciamento à nação na véspera da abertura da Copa do Mundo. Seus articuladores estão divididos. Um grupo acha que convocar cadeia de rádio e TV é politizar os jogos no momento em que o governo atua para baixar a pressão. Outro acha que Dilma deve fazer chamamento aos brasileiros para que dê tudo certo.
A armadilha do legado
O pronunciamento é o último dos ingredientes no caldo de insatisfações dentro do governo com a estratégia de defesa da Copa do Mundo adotada desde o ano passado. Ministros avaliam que o governo "caiu na armadilha" de ficar respondendo às críticas, em vez de empolgar e emocionar os brasileiros. A presidente Dilma demorou para entrar no clima do futebol, e tratou por muito tempo do assunto pelo viés das obras de infraestrutura. As propagandas oficiais receberam críticas recorrentes dentro do governo. O comercial protagonizado pela jogadora Marta, por exemplo, foi visto como formal demais, nos moldes de um anúncio de um banco público.
"Alguém estava em 2002 melhor do que está hoje? Se a gente não souber o que o Brasil era, não valorizamos o que temos hoje"
Luiz Inácio Lula da Silva Ex-presidente.
Boa ação
A empresa Anglo American anunciou ontem ao Ministério do Meio Ambiente a doação de US$ 5 milhões para o programa Arpa. Lançado em 2002, tem o objetivo de preservar unidades de conservação da Floresta Amazônica.
Com quem será?
Está nas mãos do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), a definição sobre seu vice à reeleição: Márcio França (PSB) ou Gilberto Kassab (PSD). Pessedistas garantiam ontem que Alckmin e Kassab selaram a aliança na noite de quinta-feira. O diretório do PSB indicou França por unanimidade. Tucanos dizem preferir o PSB.
Ofensiva no Nordeste
O ex-presidente Lula vai entrar nas campanhas em Pernambuco e no Piauí. Receberá título de cidadão honorário de Teresina, sexta-feira. Depois, vai se encontrar com a presidente Dilma em Recife para eventos locais no fim de semana.
Vista para o mar
O governo quer aproveitar a terceira edição do Minha Casa Minha Vida para construir empreendimentos em cidades turísticas que ainda enfrentam problemas de habitação e de casas degradadas que interferem na paisagem. Barra de São Miguel (AL) e Parati (RJ) estão entre os municípios que podem ser beneficiados.
Produção independente
Documentário da TV Câmara criticando a construção do Estádio Mané Garrincha causou desconforto no PT. Mas deputados não intervieram para não parecer censura. A presidência da Câmara agiu e tirou da grade.
Raízes
A chapa Luiz Fernando Pezão (PMDB) à reeleição ao governo e Felipe Peixoto (PDT) a vice entusiasmou a presidente Dilma, que gostou de ver seu ex-partido aliado a Pezão. O PDT ensaiou apoio ao candidato petista Lindbergh Farias.
A CHAPA QUE APOIARÁ A REELEIÇÃO do tucano Geraldo Alckmin em São Paulo poderá ter mais de um candidato ao Senado.
Segura o dragão - BERNARDO MELLO FRANCO - PAINEL
FOLHA DE SP - 07/06
Passo em falso A campanha de Dilma não esperava a nova queda de 37% para 34% no Datafolha. Os últimos levantamentos indicavam estabilidade da intenção de votos na presidente, apesar do mau humor com a economia.
Pelo menos Auxiliares da petista dizem que o governo virou a batalha de comunicação sobre a Copa e ainda supera os rivais no debate de temas da área social.
Cegonha O ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência, tem se ocupado de um assunto mais alegre que a análise de pesquisas. Está para nascer sua primeira neta, Helena.
Pegadinha Em ato com Dilma em Porto Alegre, ontem à noite, Lula cumprimentou os jornalistas e avisou: "Hoje não vou falar mal da imprensa". Os petistas reagiram com desânimo: "Ahhhhhhh!". Para alegria da plateia, o ex-presidente não cumpriu a promessa.
Nova fase Com o encolhimento de Eduardo Campos (PSB), a campanha de Aécio Neves (PSDB) entende que é hora de antecipar a polarização com o PT e mirar no eleitorado cativo de Dilma.
Campo inimigo Após a convenção do dia 14, o tucano deve reorientar sua agenda "geograficamente para cima e socialmente para baixo". Isso significa priorizar as regiões Norte e Nordeste e o eleitorado mais pobre, segmentos dominados pelo PT.
Fora do ar Ontem não foi um bom dia para Campos. Além de cair no Datafolha, ele perdeu 10 minutos de uma entrevista a uma rádio do Nordeste por problemas na ligação telefônica. Ficou sem falar de suas propostas para mobilidade na região.
Quero ser grande Pastor Everaldo (PSC) ficou esfuziante com os 4% e o empate técnico com Campos, que caiu para 7%. "Desde 2011, quando o partido me lançou, eu acredito que vou ganhar esse negócio", jura o nanico.
Não basta orar O evangélico diz "acreditar 100%" que um milagre o levará à Presidência. "Mas tem que suar a camisa. Trabalhou? Aí Deus vai e faz o milagre!"
Inferno particular Randolfe Rodrigues, que não pontuou, culpa as divisões do PSOL pelo mau resultado. "Nosso partido tem perdido muito tempo com disputas internas em vez de falar para a sociedade", reclama.
Luta de classes O senador, que esperava liderar o bloco dos nanicos, aproveita para atacar Pastor Everaldo. "Enquanto nós da esquerda brigamos, a candidatura de ultradireita dele está se consolidando...", lamenta.
Engarrafado Zé Maria, o eterno candidato presidencial do PSTU, não se incomodou com o recorde de trânsito em São Paulo. Postou foto nas redes sociais com um cartaz de apoio à greve do metrô.
Visita à Folha Eduardo Campos e Marina Silva, pré-candidatos do PSB a presidente e a vice-presidente, visitaram ontem a Folha, a convite do jornal, onde foram recebidos em almoço. Estavam acompanhados de Alon Feuerwerker, Iris Campos e Nilson de Oliveira, assessores de comunicação.
tiroteio
"O PSDB continua agredindo a inteligência alheia ao insistir na tese insustentável de que as denúncias do cartel são armação política."
DE SIMÃO PEDRO (PT), secretário de Serviços da Prefeitura de São Paulo, sobre ataques do PSDB após ter levado a Brasília papéis sobre o cartel do Metrô.
contraponto
Vamos invadir sua praia
Dezenas de políticos se espremiam ontem no palco do mirrado auditório Leonel Brizola, na sede do PDT paulista, para selar a adesão do partido à pré-candidatura de Paulo Skaf (PMDB) ao governo do Estado.
Anfitrião, o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, disse ao peemedebista Michel Temer que sua presença engrandecia a sala. O vice-presidente lembrou que o auditório da sede estadual do PMDB também era pequeno, mas aproveitou para provocar Geraldo Alckmin (PSDB):
--Nós precisamos é daquele salão de eventos do Palácio dos Bandeirantes. E é para lá que nós vamos!
Efeito reduzido - DENISE ROTHENBURG
CORREIO BRAZILIENSE - 07/06
Há quem diga que, se o PT tivesse jogado a “bomba do medo” a 15 dias das eleições, a oposição ficaria zonza e teria caído na armadilha da mesma forma que Geraldo Alckmin, em 2006, caiu na arapuca do terror contra as privatizações, ficando na defensiva contra Lula. Quando Alckmin recuperou o tom, Lula já estava praticamente reeleito.
Alckmin empareda Kassab
Com a decisão do PSB de apoiar a reeleição do governador Geraldo Alckmin em São Paulo, o PSDB paulista ficou com a faca e o queijo na mão para fazer exigências ao ex-prefeito Gilberto Kassab. Agora, para obter o papel de candidato a vice na chapa tucano-socialista, Kassab terá que abandonar a presidente Dilma Rousseff e apoiar um dos integrantes da base de Alckmin à Presidência da República.
Dilma, a transformação
Integrantes do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o Conselhão, notaram uma sensível diferença no comportamento da presidente Dilma Rousseff durante a reunião da última quinta-feira. Alguns saíram dizendo que está mais humilde, menos dona da verdade. Porém, na avaliação de outros, perdeu uma boa oportunidade de elencar os programas de governo, área por área e seus respectivos resultados. Ali, não é para explicar os projetos no bê-á-bá, uma vez que o público é de altos empresários que detestam perder tempo. É de gente inteligente que está doidinha para ver oportunidades de negócios.
Cara de paisagem I
Faltando menos de uma semana para a convenção em que o vice-presidente Michel Temer espera ser confirmado como parceiro de chapa da presidente Dilma Rousseff, o alto comando do PMDB fez aquele ar de “tô nem aí” para o encontro da base do partido no Rio de Janeiro com o presidenciável Aécio Neves (PSDB-MG). Ninguém será punido pelo Aezão. Afinal, se Aécio derrotar Dilma, é esse o grupo que puxará os hoje dilmistas para o colo dos tucanos.
Cara de paisagem II
Outros que também fizeram pose de “nem tchum” foram os tucanos do Rio. Lá, o partido de Aécio Neves se viu quase que depenado com o ato da última quinta-feira. Afinal, está claro que, no estado, a tendência de Aécio é fazer campanha ao lado dos peemedebistas.
Faro fino do poder/ Os políticos do Rio de Janeiro comentavam ontem que o presidente do PMDB local, Jorge Picciani, está no poder há 30 anos e só vai aonde o governo está. Se hoje apoia Aécio Neves, pode estar certo de que há alguma chance para o tucano.
O plano do Pros/ Recém-criado, o Pros quer tirar a imagem de partido interessado apenas em espaços no governo. Na terça-feira, seus integrantes têm um seminário em Brasília, no Auditório Freitas Nobre, da Câmara, para traçar propostas nas áreas de tecnologia, incentivos fiscais sem perda de receita, água para todos e uma política nacional de combate às drogas. Tudo será levado à presidente Dilma Rousseff até o fim da semana.
Mudança de planos/ No início, foi aquela empolgação da classe política com a Copa do Mundo. Todos querendo correr para os jogos no Brasil. Agora, muitos repensam. Um paulista comentava há dois dias que não irá. “Sou uma figura pública, vou ter que andar até o estádio. Imagine passar no meio de manifestantes e ser submetido a alguma agressão só por ser político?”
O receio do vice/ Que convenção, que nada. O que tira o sono do vice-presidente Michel Temer (foto) é o Brasil repetir a final da Copa de 50. “Precisamos tirar o trauma daquela Copa. Eu era criança, mas me lembro da empolgação e da frustração com o gol do Uruguai no finalzinho”, diz ele, olhando para os céus como quem diz “que Deus nos ajude a exorcizar esse fantasma”.
É ELE OU NÃO É? - MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 07/06
E CADÊ ELA?
Aonde vão, os dois paulistanos ouvem brincadeiras de todo tipo. "Me perguntam: Veio sem a Bruna Marquezine?", diz Victor, citando a atriz que namora o jogador da seleção. "O que mais me pedem é para fazer muito gol", afirma Gabriel.
NÚMERO UM
Cléber Machado, 52, se prepara para ficar dias "morando" em hotéis e aviões: vai percorrer dez das 12 cidades-sede da Copa para narrar jogos para a Globo. O locutor acredita que a seleção brasileira vai chegar à final e que Lionel Messi será a estrela do Mundial. "Ele é o melhor jogador do mundo."
NÚMERO DOIS
Apontado como substituto de Galvão Bueno, Machado diz nunca ter conversado com o colega. "Da mesma maneira que não sei se ele vai se aposentar, não sei o que a Globo pensa sobre o que vai fazer quando o Galvão não quiser mais narrar."
VAI, BÓSNIA!
Marcelo Adnet aceitou convite da Prefeitura de Guarujá (SP) para visitar a cidade, que hospeda a seleção da Bósnia. O humorista é fanático pelo país --aprendeu o idioma, o hino, conhece os jogadores e vai assistir às partidas do time na Copa.
COISA CHATA
Dilma Rousseff reagiu com preocupação à pesquisa Datafolha que mostra que ela mantém o viés de baixa --caiu de 37% em maio para 34% agora. "Bom, não é", afirmou a um de seus interlocutores que tentava animá-la. Nem mesmo a queda de Eduardo Campos (PSB-PE), de 11% para 7%, serviu de consolo. A presidente acha que ele ainda está no jogo.
DOIS EM UM
E entidades que têm bom relacionamento com o PSB devem encomendar para os próximos dias pesquisa a um grande instituto testando as "duplas" eleitorais: Dilma Rousseff apoiada pelo ex-presidente Lula, o tucano Aécio Neves apoiado por Fernando Henrique Cardoso e Eduardo Campos apoiado por Marina Silva.
EMPURRÃO
A expectativa é que, colado a Marina, Eduardo Campos tenha performance bem melhor do que os 7% registrados no Datafolha. Isso daria um alento aos correligionários de sua campanha.
PELADEIRAS
A Daspu, marca ligada à ONG Davida, de apoio aos direitos das prostitutas, lançou uma linha de roupas para a Copa.
Frases como "Mete pra dentro, seleção" e "Eu jogo pelada" estarão nas camisetas da coleção, que também tem lingeries temáticas.
AMOR I LOVE YOU
Marisa Monte dá rara entrevistas hoje a Roberto DAvila, da GloboNews. No programa, no ar à meia-noite, a cantora define o amor como "uma forma superior de inteligência". Ela cantou e tocou bateria na gravação.
ESSE CARA É MEU PAI
Dudu Braga, filho de Roberto Carlos, homenageou o pai com o show "RC na Veia", anteontem, no Na Mata Café. O Rei chegou a subir ao palco durante o evento, que contou com a presença do humorista Tom Cavalcante, acompanhado da mulher, Patricia. As cantoras Wanderléa, aniversariante da noite, e Roberta Miranda também deram palhinhas. O empresário de Roberto, Dody Sirena, também esteve no local.
CURTO-CIRCUITO
Enio Squeff abre a exposição "Futebol É Arte" hoje, às 12h, na galeria PontoArt, na Vila Madalena.
Dexter, Leo Cavalcanti e Max B.O. fazem show no Festival contra a Violência Policial, hoje, a partir das 14h, na praça Roosevelt.
Vander Lee faz show de lançamento do disco "Loa" hoje e amanhã, no Sesc Belenzinho. 12 anos.
O livro "Percorrendo São Paulo", de Sergio Oliveira e Cristiane Cambria, será lançado hoje, às 14h, no Museu de Arte Sacra de SP.
O artista plástico Sérgio Carvalho autografa o livro "Duplo Olhar", hoje, às 19h, no Iguatemi Brasília.
A advogada Michelle Hamuche Costa faz palestra no 1º Seminário Brasileiro Moda & Esporte, na segunda-feira, na FGV-SP.
Cínicos, e daí? - GUILHERME FIUZA
O GLOBO - 07/06
Brasil teve sete anos para consertar caos dos aeroportos. E o governo popular passou sete anos humilhando os passageiros
Durante sete anos, as autoridades federais rebateram os prognósticos de que o Brasil não se prepararia a contento para sediar a Copa do Mundo. Diante do bordão “imagina na Copa”, que apontava flagrantes de desorganização, o governo criticava os pessimistas de plantão. Como a Copa chegou e a bagunça geral não é mais uma questão de pessimismo, os companheiros já têm outra resposta na ponta da língua: “E daí?”
“As obras que não ficarem prontas para a Copa ficarão prontas em agosto, em setembro. E daí?”, argumentou o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho. De fato, não há problema. Até porque, se as obras não ficarem prontas em setembro (para a eleição), ficarão prontas em novembro, em dezembro (para o Natal). E daí? O povo pode votar tranquilo em Dilma, que um dia ela entrega o prometido.
O Brasil teve sete anos para consertar o caos dos aeroportos e da aviação civil. E o governo popular passou sete anos humilhando os passageiros — até com falta de banheiro e ar-condicionado — para enfim, às vésperas da Copa, decidir entregar os aeroportos à iniciativa privada (que infelizmente não tem varinha de condão). Não pôde fazer isso antes, porque a Agência Nacional de Aviação Civil estava alugada à quadrilha de Rosemary Noronha, a protegida de Lula e Dilma. E daí?
São coisas da vida. Numa variação ousada da nova resposta padrão, Dilma Rousseff peitou os críticos: “Estamos atrasados em relação a quê?”
Como se vê, não há como responsabilizar o governo popular por nada. Tudo é relativo. A reforma dos aeroportos está atrasada em relação a quê? Em relação ao Itaquerão, por exemplo, não há atraso nenhum. O estádio que Lula mandou o contribuinte dar de presente ao Corinthians e comparsas associados só será testado, em plena capacidade e com o sistema de comunicação funcionando, na abertura da Copa. Quem considera isso um absurdo e uma temeridade está atrasado em relação ao moderno conceito de governo sereno e despreocupado.
Com isso, Dilma quis dizer também que os atrasos em relação à Copa são um detalhe, porque as obras não são para um torneio, “são para os brasileiros”. Enfim, esqueçam a Copa do Mundo. A vida continua. Um dia você vai entender que valeu a pena esperar Rosemary encher os bolsos para viajar num aeroporto decente.
E nesse exercício de libertar a todos da ansiedade com a Copa, Gilberto Carvalho mostrou que os brasileiros devem lamber os beiços com os presentes que estão ganhando de graça e fora de época: “Eu diria que não há atraso, há na verdade uma antecipação de obras que as cidades não teriam.” Ou seja: deixe de ser ingrato e espere sentado pelas coisas que o governo nem ia lhe dar.
Já que a Copa do Mundo é um pretexto para o governo fazer o que não ia fazer, poderia ter planejado há sete anos a expansão do metrô nas maiores capitais. É o tipo de obra crucial que depende de verba federal. Havia tempo e dinheiro para isso, mas a dinastia Lula-Dilma preferiu enterrar uma fortuna do BNDES em estádios novinhos (2,5 bilhões de reais só para o Mané Garrincha e o Itaquerão). E daí?
Não pergunte por que os negócios com o evento esportivo são mais atraentes. Apenas olhe o prontuário das instituições envolvidas. A Polícia Federal está investigando a relação entre uma consultoria de planejamento da Copa, contratada pelo Ministério dos Esportes, e o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, sempre ele. Está tudo em casa. É um mundo de oportunidades subterrâneas, que passou os últimos sete anos exalando seu cheiro pelos bueiros, sem perturbar o sono dessas almas penadas que agora ficam atrapalhando o trânsito e gritando que não vai ter Copa.
Pobre Neymar. O astro das únicas jogadas limpas nesse lodaçal tem que ver o ônibus em que está ser esmurrado por manifestantes retardatários — ou, como diria Daniel Alves sobre a turma da banana, retardados. Mas também aí se pode recorrer à ponderação da presidente: retardados em relação a quê?
O governo popular se especializou em relativização. Até o déficit público é relativo, dependendo da quantidade de maquiagem utilizada. O IBGE também já estava preparado para relativizar os dados do desemprego, com a decisão de suspender a pesquisa nacional contínua. Mas a manobra vazou, a pesquisa continuou e o aumento do desemprego apareceu. E daí?
Uma cara de pau bem atarraxada vale por mil explicações desonestas. No julgamento do mensalão, o deputado André Vargas — esse mesmo que chegou ao olimpo petista turbinado pelo doleiro da Petrobras — tentou proibir a transmissão ao vivo das sessões no Supremo. A TV atrapalha a relativização das coisas. E, já que a preparação do país para a Copa foi salva pelas palavras palacianas, talvez seja melhor substituir logo a transmissão dos jogos por boletins da Presidência. Aí ninguém nos tira o hexa.
Brasil teve sete anos para consertar caos dos aeroportos. E o governo popular passou sete anos humilhando os passageiros
Durante sete anos, as autoridades federais rebateram os prognósticos de que o Brasil não se prepararia a contento para sediar a Copa do Mundo. Diante do bordão “imagina na Copa”, que apontava flagrantes de desorganização, o governo criticava os pessimistas de plantão. Como a Copa chegou e a bagunça geral não é mais uma questão de pessimismo, os companheiros já têm outra resposta na ponta da língua: “E daí?”
“As obras que não ficarem prontas para a Copa ficarão prontas em agosto, em setembro. E daí?”, argumentou o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho. De fato, não há problema. Até porque, se as obras não ficarem prontas em setembro (para a eleição), ficarão prontas em novembro, em dezembro (para o Natal). E daí? O povo pode votar tranquilo em Dilma, que um dia ela entrega o prometido.
O Brasil teve sete anos para consertar o caos dos aeroportos e da aviação civil. E o governo popular passou sete anos humilhando os passageiros — até com falta de banheiro e ar-condicionado — para enfim, às vésperas da Copa, decidir entregar os aeroportos à iniciativa privada (que infelizmente não tem varinha de condão). Não pôde fazer isso antes, porque a Agência Nacional de Aviação Civil estava alugada à quadrilha de Rosemary Noronha, a protegida de Lula e Dilma. E daí?
São coisas da vida. Numa variação ousada da nova resposta padrão, Dilma Rousseff peitou os críticos: “Estamos atrasados em relação a quê?”
Como se vê, não há como responsabilizar o governo popular por nada. Tudo é relativo. A reforma dos aeroportos está atrasada em relação a quê? Em relação ao Itaquerão, por exemplo, não há atraso nenhum. O estádio que Lula mandou o contribuinte dar de presente ao Corinthians e comparsas associados só será testado, em plena capacidade e com o sistema de comunicação funcionando, na abertura da Copa. Quem considera isso um absurdo e uma temeridade está atrasado em relação ao moderno conceito de governo sereno e despreocupado.
Com isso, Dilma quis dizer também que os atrasos em relação à Copa são um detalhe, porque as obras não são para um torneio, “são para os brasileiros”. Enfim, esqueçam a Copa do Mundo. A vida continua. Um dia você vai entender que valeu a pena esperar Rosemary encher os bolsos para viajar num aeroporto decente.
E nesse exercício de libertar a todos da ansiedade com a Copa, Gilberto Carvalho mostrou que os brasileiros devem lamber os beiços com os presentes que estão ganhando de graça e fora de época: “Eu diria que não há atraso, há na verdade uma antecipação de obras que as cidades não teriam.” Ou seja: deixe de ser ingrato e espere sentado pelas coisas que o governo nem ia lhe dar.
Já que a Copa do Mundo é um pretexto para o governo fazer o que não ia fazer, poderia ter planejado há sete anos a expansão do metrô nas maiores capitais. É o tipo de obra crucial que depende de verba federal. Havia tempo e dinheiro para isso, mas a dinastia Lula-Dilma preferiu enterrar uma fortuna do BNDES em estádios novinhos (2,5 bilhões de reais só para o Mané Garrincha e o Itaquerão). E daí?
Não pergunte por que os negócios com o evento esportivo são mais atraentes. Apenas olhe o prontuário das instituições envolvidas. A Polícia Federal está investigando a relação entre uma consultoria de planejamento da Copa, contratada pelo Ministério dos Esportes, e o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, sempre ele. Está tudo em casa. É um mundo de oportunidades subterrâneas, que passou os últimos sete anos exalando seu cheiro pelos bueiros, sem perturbar o sono dessas almas penadas que agora ficam atrapalhando o trânsito e gritando que não vai ter Copa.
Pobre Neymar. O astro das únicas jogadas limpas nesse lodaçal tem que ver o ônibus em que está ser esmurrado por manifestantes retardatários — ou, como diria Daniel Alves sobre a turma da banana, retardados. Mas também aí se pode recorrer à ponderação da presidente: retardados em relação a quê?
O governo popular se especializou em relativização. Até o déficit público é relativo, dependendo da quantidade de maquiagem utilizada. O IBGE também já estava preparado para relativizar os dados do desemprego, com a decisão de suspender a pesquisa nacional contínua. Mas a manobra vazou, a pesquisa continuou e o aumento do desemprego apareceu. E daí?
Uma cara de pau bem atarraxada vale por mil explicações desonestas. No julgamento do mensalão, o deputado André Vargas — esse mesmo que chegou ao olimpo petista turbinado pelo doleiro da Petrobras — tentou proibir a transmissão ao vivo das sessões no Supremo. A TV atrapalha a relativização das coisas. E, já que a preparação do país para a Copa foi salva pelas palavras palacianas, talvez seja melhor substituir logo a transmissão dos jogos por boletins da Presidência. Aí ninguém nos tira o hexa.
A política da estagflação e do atraso industrial - ROLF KUNTZ
O ESTADO DE S.PAULO - 07/06
A emperrada economia brasileira está sujeita a dois dos governos mais desastrosos do mundo, o da presidente Dilma Rousseff, gerente da estagflação, e o de sua colega Cristina Kirchner, chefe da diplomacia comercial do Mercosul e dona, portanto, da palavra final em qualquer negociação relevante. Isso vale para as discussões com parceiros de fora, como a União Europeia, ou para os arranjos internos, como o acordo bilateral para o setor automotivo - revisto mais uma vez segundo os critérios da Casa Rosada. De janeiro a maio deste ano o Brasil exportou para os Estados Unidos produtos no valor de US$ 10,51 bilhões, pouco mais do que o vendido para o Mercosul, US$ 10,13 bilhões, e muito mais do que o embarcado para a Argentina, US$ 6,19 bilhões. As exportações para o mercado argentino foram 18,6% menores que as de um ano antes, pelas médias diárias, enquanto as vendas para os Estados Unidos ficaram 13,2% acima das contabilizadas no mesmo período de 2013.
Nenhum outro mercado aumentou tanto a absorção de produtos brasileiros, segundo registros do Ministério do Desenvolvimento. Indústria e Comércio Exterior. Mas o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ao explicar o pífio crescimento econômico do Brasil no primeiro trimestre, 0,2%, apontou de novo as condições do mercado internacional, incluída a desaceleração americana, como principais entraves à expansão brasileira. Como de costume, ele descreveu um mundo bem diferente daquele reconhecido por qualquer observador razoavelmente atento e informado.
De janeiro a abril, 50,36% das exportações brasileiras para os Estados Unidos foram de manufaturados. Esse é o último período com informações detalhadas sobre a composição do comércio com cada parceiro. Nesses quatro meses, as vendas de manufaturados corresponderam a apenas 35,6% da receita geral. A dos básicos, a 48,9%. Somados os semimanufaturados, a parcela das commodities correspondeu a 61,6% do total (outros 2,8% ficaram na categoria de operações especiais).
A participação dos manufaturados continuou em queda. De janeiro a maio, esses produtos proporcionaram 34,8% do total faturado. O resto - quase dois terços - veio das commodities, principalmente dos básicos, 50,3% das vendas totais.
O Brasil assume, cada vez mais claramente, o papel de fornecedor de matérias-primas, principalmente no comércio com a China e outros países da Ásia. Até abril, os manufaturados foram só 3,09% das exportações para o mercado chinês. Em contrapartida, a China exporta principalmente manufaturados para o mercado brasileiro e, de quebra, toma do Brasil fatias crescentes do comércio com os latino-americanos.
Mas há nessa história um aspecto paradoxal, pelo menos à primeira vista. Cerca de metade das vendas brasileiras para os Estados Unidos ainda é formada por manufaturados. O peso desses produtos nas vendas à União Europeia é bem menor, 34,96% de janeiro a abril, mas, ainda assim, muito maior que no comércio com os parceiros da Ásia. No entanto, a indústria brasileira perde espaço no mercado externo, incluída a vizinhança latino-americana, e até no mercado interno. Aqui, a participação de fornecedores estrangeiros tem crescido há vários anos e passou de 20,4% no primeiro trimestre de 2012 para 22,5% dois anos depois, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Em resumo: algumas indústrias conseguem manter presença no mercado americano e também - com dificuldade crescente - no europeu, enquanto a maior parte do setor manufatureiro perde espaço em quase todos os mercados. Montar uma história clara e coerente com esses pedaços é uma boa tarefa para pesquisadores, mas pelo menos alguns detalhes parecem evidentes. Um deles é a acomodação da maior parte do setor industrial no comércio com economias em desenvolvimento, quase todas menos industrializadas que a brasileira. Hoje até esse papel é inseguro, por causa da presença crescente de fortes competidores, especialmente asiáticos, na América Latina e até no Mercosul. Essa acomodação é denunciada também pelo baixo grau de inovação, discutido quarta-feira no Fórum Estadão - Inovação, Infraestrutura e Produtividade. O protecionismo, outro detalhe importante, é obviamente parte dessa história.
O estímulo à modernização e à busca de competitividade teria sido, com certeza, maior se o Brasil houvesse buscado acordos comerciais com os países mais avançados, como os da América do Norte e da Europa, mas a diplomacia econômica brasileira preferiu outro caminho a partir de 2003. O governo recusou o projeto da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), no começo da primeira gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e fixou como prioridade a integração Sul-Sul.
O acordo com a União Europeia poderia ter aberto uma porta no mundo mais avançado, mas a aliança com o protecionismo argentino, depois convertida em sujeição, entravou as negociações. Enquanto isso, outros emergentes com facilidade de acesso ao mercado europeu, como a Turquia, consolidavam suas posições. Os demais Brics - Rússia, Índia, China e África do Sul - jamais se juntaram ao delirante e anacrônico projeto terceiro-mundista do governo brasileiro.
Alguns capítulos dessa história são temas do dia a dia: a tributação sobre o investimento e a exportação, a infraestrutura insuficiente e ruim, o atraso educacional, agravado pelas prioridades mal escolhidas, o excesso de gastos e o desperdício do dinheiro público, a tolerância à inflação elevada e o intervencionismo desastrado. As tentativas de maquiar as contas públicas e a inflação ilustram de maneira pitoresca a baixa disposição do governo de reconhecer e de resolver problemas.
O investimento reduzido a apenas 17,7% do produto interno bruto (PIB) no primeiro trimestre, 0,5 ponto abaixo do nível já ridículo de um ano antes, 18,2%, resume boa parte do quadro: incompetência governamental somada à crescente e muito compreensível insegurança do setor privado. É o Brasil em rápido processo de subdesenvolvimento.
A emperrada economia brasileira está sujeita a dois dos governos mais desastrosos do mundo, o da presidente Dilma Rousseff, gerente da estagflação, e o de sua colega Cristina Kirchner, chefe da diplomacia comercial do Mercosul e dona, portanto, da palavra final em qualquer negociação relevante. Isso vale para as discussões com parceiros de fora, como a União Europeia, ou para os arranjos internos, como o acordo bilateral para o setor automotivo - revisto mais uma vez segundo os critérios da Casa Rosada. De janeiro a maio deste ano o Brasil exportou para os Estados Unidos produtos no valor de US$ 10,51 bilhões, pouco mais do que o vendido para o Mercosul, US$ 10,13 bilhões, e muito mais do que o embarcado para a Argentina, US$ 6,19 bilhões. As exportações para o mercado argentino foram 18,6% menores que as de um ano antes, pelas médias diárias, enquanto as vendas para os Estados Unidos ficaram 13,2% acima das contabilizadas no mesmo período de 2013.
Nenhum outro mercado aumentou tanto a absorção de produtos brasileiros, segundo registros do Ministério do Desenvolvimento. Indústria e Comércio Exterior. Mas o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ao explicar o pífio crescimento econômico do Brasil no primeiro trimestre, 0,2%, apontou de novo as condições do mercado internacional, incluída a desaceleração americana, como principais entraves à expansão brasileira. Como de costume, ele descreveu um mundo bem diferente daquele reconhecido por qualquer observador razoavelmente atento e informado.
De janeiro a abril, 50,36% das exportações brasileiras para os Estados Unidos foram de manufaturados. Esse é o último período com informações detalhadas sobre a composição do comércio com cada parceiro. Nesses quatro meses, as vendas de manufaturados corresponderam a apenas 35,6% da receita geral. A dos básicos, a 48,9%. Somados os semimanufaturados, a parcela das commodities correspondeu a 61,6% do total (outros 2,8% ficaram na categoria de operações especiais).
A participação dos manufaturados continuou em queda. De janeiro a maio, esses produtos proporcionaram 34,8% do total faturado. O resto - quase dois terços - veio das commodities, principalmente dos básicos, 50,3% das vendas totais.
O Brasil assume, cada vez mais claramente, o papel de fornecedor de matérias-primas, principalmente no comércio com a China e outros países da Ásia. Até abril, os manufaturados foram só 3,09% das exportações para o mercado chinês. Em contrapartida, a China exporta principalmente manufaturados para o mercado brasileiro e, de quebra, toma do Brasil fatias crescentes do comércio com os latino-americanos.
Mas há nessa história um aspecto paradoxal, pelo menos à primeira vista. Cerca de metade das vendas brasileiras para os Estados Unidos ainda é formada por manufaturados. O peso desses produtos nas vendas à União Europeia é bem menor, 34,96% de janeiro a abril, mas, ainda assim, muito maior que no comércio com os parceiros da Ásia. No entanto, a indústria brasileira perde espaço no mercado externo, incluída a vizinhança latino-americana, e até no mercado interno. Aqui, a participação de fornecedores estrangeiros tem crescido há vários anos e passou de 20,4% no primeiro trimestre de 2012 para 22,5% dois anos depois, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Em resumo: algumas indústrias conseguem manter presença no mercado americano e também - com dificuldade crescente - no europeu, enquanto a maior parte do setor manufatureiro perde espaço em quase todos os mercados. Montar uma história clara e coerente com esses pedaços é uma boa tarefa para pesquisadores, mas pelo menos alguns detalhes parecem evidentes. Um deles é a acomodação da maior parte do setor industrial no comércio com economias em desenvolvimento, quase todas menos industrializadas que a brasileira. Hoje até esse papel é inseguro, por causa da presença crescente de fortes competidores, especialmente asiáticos, na América Latina e até no Mercosul. Essa acomodação é denunciada também pelo baixo grau de inovação, discutido quarta-feira no Fórum Estadão - Inovação, Infraestrutura e Produtividade. O protecionismo, outro detalhe importante, é obviamente parte dessa história.
O estímulo à modernização e à busca de competitividade teria sido, com certeza, maior se o Brasil houvesse buscado acordos comerciais com os países mais avançados, como os da América do Norte e da Europa, mas a diplomacia econômica brasileira preferiu outro caminho a partir de 2003. O governo recusou o projeto da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), no começo da primeira gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e fixou como prioridade a integração Sul-Sul.
O acordo com a União Europeia poderia ter aberto uma porta no mundo mais avançado, mas a aliança com o protecionismo argentino, depois convertida em sujeição, entravou as negociações. Enquanto isso, outros emergentes com facilidade de acesso ao mercado europeu, como a Turquia, consolidavam suas posições. Os demais Brics - Rússia, Índia, China e África do Sul - jamais se juntaram ao delirante e anacrônico projeto terceiro-mundista do governo brasileiro.
Alguns capítulos dessa história são temas do dia a dia: a tributação sobre o investimento e a exportação, a infraestrutura insuficiente e ruim, o atraso educacional, agravado pelas prioridades mal escolhidas, o excesso de gastos e o desperdício do dinheiro público, a tolerância à inflação elevada e o intervencionismo desastrado. As tentativas de maquiar as contas públicas e a inflação ilustram de maneira pitoresca a baixa disposição do governo de reconhecer e de resolver problemas.
O investimento reduzido a apenas 17,7% do produto interno bruto (PIB) no primeiro trimestre, 0,5 ponto abaixo do nível já ridículo de um ano antes, 18,2%, resume boa parte do quadro: incompetência governamental somada à crescente e muito compreensível insegurança do setor privado. É o Brasil em rápido processo de subdesenvolvimento.
Supercorporativismo - DEMÉTRIO MAGNOLI
FOLHA DE SP - 07/06
Por decreto, o lulopetismo pretende subordinar os cidadãos ao império das corporações estatizadas
No septuagésimo aniversário da proclamação do Estado Novo, em 2007, Lula celebrou a Consolidação das Leis do Trabalho e, num português claudicante, definiu Getúlio Vargas como o presidente "que tirou toda uma nação de um estágio de semiescravidão para tornar os cidadãos com direito a terem um emprego com carteira assinada". Vargas usinou o Estado brasileiro no torno mecânico do corporativismo. Por meio do Decreto 8.243, o lulopetismo pretende reinventá-lo no torno do supercorporativismo. Como no Estado Novo, a meta é degradar a democracia representativa, subordinando os cidadãos ao império das corporações estatizadas.
O varguismo fez da carteira de trabalho a prova da cidadania, e dos sindicatos, a representação da sociedade. Depois de reiterar o corporativismo tradicional, incorporando as centrais sindicais às estruturas do Estado, o lulismo dá um passo adiante, criando uma segunda prova de cidadania, que é a militância organizada num "movimento social". No fundo, o supercorporativismo cinde a sociedade em duas categorias de cidadãos, conferindo uma cidadania de segunda classe aos indivíduos que não militam em "movimentos sociais".
O Estado Novo organizava-se num Conselho da Economia Nacional, dividido em seções da indústria, da agricultura, do comércio, dos transportes e do crédito, formadas pelo governo e pelos sindicatos patronais e de trabalhadores. O supercorporativismo projeta erguer um Estado Novíssimo constituído por "conselhos de políticas públicas" formados pelo governo e pelos "movimentos sociais". Segundo o Decreto, os "conselhos" setoriais têm a prerrogativa de participar da gestão das políticas públicas. No Estado Novo, Parlamento e partidos foram abolidos. No Estado Novíssimo do lulismo, eles seguem existindo, mas apenas como registros fósseis da democracia representativa.
O Decreto que institui o Sistema Nacional de Participação Social (SNPS) tem como alvo verdadeiro a pluralidade política. Na democracia representativa, o foro institucional de debate político é o Congresso, constituído por representantes eleitos pelos cidadãos. Na "democracia participativa" inaugurada pelo SNPS, o povo passa a ser "representado" por líderes de "movimentos sociais" selecionados pelo governo. Os "conselhos" resultantes serão majoritariamente integrados por militantes que gravitam na órbita do PT. A natureza consultiva dos "conselhos" é quase um detalhe, pois sua característica forte é a permanência: a nova "representação" da "sociedade civil" não está sujeita ao crivo das eleições.
A ordem corporativa varguista repousava, diretamente, sobre o princípio da harmonia social. Arquitetado na moldura democrática, o supercorporativismo lulista almeja produzir a harmonia por meio da administração partidária do conflito. O Decreto institui "mesas de diálogo" destinadas a "prevenir, mediar e solucionar conflitos sociais". De um lado, as tais "mesas" procuram abolir a negociação direta, sem mediação governamental, entre atores sociais. De outro, concluem o processo de estatização dos "movimentos sociais" aliados ao PT, que já são financiados pelo poder público.
O SNPS não pode ser comparado às audiências públicas eventuais convocadas pelos governos ou pelo Congresso. Nos termos do Decreto, ele se configura como uma vasta estrutura burocrática, de "conselhos", "mesas", "fóruns interconselhos" e "conferências", comandada por um "secretário-geral". Em termos práticos, isso significa que Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência e imagem holográfica de Lula, converte-se no Lorde Protetor da "democracia participativa".
Vargas precisou de um golpe de Estado para instituir o Estado Novo. O lulopetismo instituiu o Estado Novíssimo por um mero decreto, na expectativa de que um Congresso desmoralizado curve-se à vontade soberana do Executivo.
Por decreto, o lulopetismo pretende subordinar os cidadãos ao império das corporações estatizadas
No septuagésimo aniversário da proclamação do Estado Novo, em 2007, Lula celebrou a Consolidação das Leis do Trabalho e, num português claudicante, definiu Getúlio Vargas como o presidente "que tirou toda uma nação de um estágio de semiescravidão para tornar os cidadãos com direito a terem um emprego com carteira assinada". Vargas usinou o Estado brasileiro no torno mecânico do corporativismo. Por meio do Decreto 8.243, o lulopetismo pretende reinventá-lo no torno do supercorporativismo. Como no Estado Novo, a meta é degradar a democracia representativa, subordinando os cidadãos ao império das corporações estatizadas.
O varguismo fez da carteira de trabalho a prova da cidadania, e dos sindicatos, a representação da sociedade. Depois de reiterar o corporativismo tradicional, incorporando as centrais sindicais às estruturas do Estado, o lulismo dá um passo adiante, criando uma segunda prova de cidadania, que é a militância organizada num "movimento social". No fundo, o supercorporativismo cinde a sociedade em duas categorias de cidadãos, conferindo uma cidadania de segunda classe aos indivíduos que não militam em "movimentos sociais".
O Estado Novo organizava-se num Conselho da Economia Nacional, dividido em seções da indústria, da agricultura, do comércio, dos transportes e do crédito, formadas pelo governo e pelos sindicatos patronais e de trabalhadores. O supercorporativismo projeta erguer um Estado Novíssimo constituído por "conselhos de políticas públicas" formados pelo governo e pelos "movimentos sociais". Segundo o Decreto, os "conselhos" setoriais têm a prerrogativa de participar da gestão das políticas públicas. No Estado Novo, Parlamento e partidos foram abolidos. No Estado Novíssimo do lulismo, eles seguem existindo, mas apenas como registros fósseis da democracia representativa.
O Decreto que institui o Sistema Nacional de Participação Social (SNPS) tem como alvo verdadeiro a pluralidade política. Na democracia representativa, o foro institucional de debate político é o Congresso, constituído por representantes eleitos pelos cidadãos. Na "democracia participativa" inaugurada pelo SNPS, o povo passa a ser "representado" por líderes de "movimentos sociais" selecionados pelo governo. Os "conselhos" resultantes serão majoritariamente integrados por militantes que gravitam na órbita do PT. A natureza consultiva dos "conselhos" é quase um detalhe, pois sua característica forte é a permanência: a nova "representação" da "sociedade civil" não está sujeita ao crivo das eleições.
A ordem corporativa varguista repousava, diretamente, sobre o princípio da harmonia social. Arquitetado na moldura democrática, o supercorporativismo lulista almeja produzir a harmonia por meio da administração partidária do conflito. O Decreto institui "mesas de diálogo" destinadas a "prevenir, mediar e solucionar conflitos sociais". De um lado, as tais "mesas" procuram abolir a negociação direta, sem mediação governamental, entre atores sociais. De outro, concluem o processo de estatização dos "movimentos sociais" aliados ao PT, que já são financiados pelo poder público.
O SNPS não pode ser comparado às audiências públicas eventuais convocadas pelos governos ou pelo Congresso. Nos termos do Decreto, ele se configura como uma vasta estrutura burocrática, de "conselhos", "mesas", "fóruns interconselhos" e "conferências", comandada por um "secretário-geral". Em termos práticos, isso significa que Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência e imagem holográfica de Lula, converte-se no Lorde Protetor da "democracia participativa".
Vargas precisou de um golpe de Estado para instituir o Estado Novo. O lulopetismo instituiu o Estado Novíssimo por um mero decreto, na expectativa de que um Congresso desmoralizado curve-se à vontade soberana do Executivo.
Polarização mantida - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 07/06
O candidato do PSDB à Presidência, senador Aécio Neves, tem razão de estar alegre e animado com a pesquisa Datafolha divulgada ontem, mesmo tendo ficado no mesmo lugar: descolou-se de Eduardo Campos, do PSB, e a presidente Dilma manteve uma trajetória de queda. Ele trabalhava com a hipótese de os novos números repetirem os das últimas pesquisas, mas o resultado foi melhor do seu ponto de vista, pois seus concorrentes caíram além da margem de erro.
Há outra leitura importante na pesquisa divulgada, que demonstra que é apenas aparente a estagnação da candidatura do tucano. No segundo turno, cuja realização essa pesquisa confirma, a diferença de Aécio para Dilma está sendo reduzida a cada rodada. Ela já foi de 27 pontos percentuais a favor da presidente, e agora caiu para apenas 8, com Dilma perdendo 8 pontos e Aécio Neves subindo 11.
Uma análise no detalhe da pesquisa do segundo turno mostra que a presidente Dilma vence apenas entre os eleitores de até 2 salários mínimos, onde faz 56% a 28%. É esse o eleitor que o PSDB vai ter que buscar, sobretudo no Nordeste, onde Dilma mantém uma forte dianteira. Entre os eleitores de 2 a 5 salários mínimos, Aécio vence de 44% a 41%, e, na faixa de cinco a dez mínimos, Aécio faz 51% a 35%.
A confirmação da contínua queda de popularidade da presidente Dilma é especialmente grave se levarmos em conta que ela vem de uma ofensiva midiática e política. Eduardo Campos fica ferido gravemente, 12 pontos atrás de Aécio Neves e em virtual empate técnico com o Pastor Everaldo, do PSC, que aparece com 4%.
Os candidatos evangélicos somam, assim, 6% na pesquisa, com 2% para Magno Malta, do PR, o que mostra que o voto evangélico, importante na eleição de 2010 para Marina, está indo para os candidatos declaradamente evangélicos, e não para Eduardo Campos por meio dela.
Nesse momento, com as convenções de PMDB, PP e PR, e com o PSD tendo que se definir, a pesquisa é muito ruim para Dilma. O Aezão no Rio foi o maior movimento de rebelião aberta feito até agora, no principal partido da coalizão governamental, o PMDB, além de pegar franjas dos demais partidos da aliança, numa clara erosão da base.
Lula ainda é o grande eleitor, mas a trajetória dele de queda está mais acentuada que a de Dilma, pois perdeu 5 pontos percentuais de uma pesquisa para outra. Mesmo continuando em primeiro na hipótese de se candidatar, a pesquisa mostra que Lula não tem condição de se expor, pois, mesmo só falando para plateias simpáticas e blogueiros governistas, está caindo nas pesquisas. Passou a ficar contaminado por Dilma, sua criatura.
Dilma continua forte no Norte e no Nordeste, onde os principais candidatos oposicionistas são menos conhecidos. No Nordeste, Eduardo Campos tem apenas 9% de eleitores que dizem conhecê-lo bem, e o seu nível de rejeição é de 36%, o que mostra que ele é o candidato de Pernambuco, não da região.
A maior rejeição a Aécio Neves é também no Nordeste, de 44%, índice que cai para 29% em nível nacional. A pesquisa mostra também que caiu a rejeição a Aécio Neves e Eduardo Campos: o tucano tinha 31%, e o peessebista, 33%, e ambos têm agora 29%. Dilma manteve os 35% e é a candidata mais rejeitada.
Por fim, a do Datafolha é mais uma pesquisa que coloca o nível de aprovação do governo Dilma num patamar que indica a dificuldade, quase impossibilidade, de reeleição, segundo pesquisas do cientista político Alberto Carlos Almeida: os que consideram o seu governo ótimo ou bom caíram de 37% para 33%.
Dos 74% que responderam que querem mudanças no próximo governo, fora Lula, que é o mais lembrado, Aécio superou Dilma como o mais capaz de realizá-las.
Há outra leitura importante na pesquisa divulgada, que demonstra que é apenas aparente a estagnação da candidatura do tucano. No segundo turno, cuja realização essa pesquisa confirma, a diferença de Aécio para Dilma está sendo reduzida a cada rodada. Ela já foi de 27 pontos percentuais a favor da presidente, e agora caiu para apenas 8, com Dilma perdendo 8 pontos e Aécio Neves subindo 11.
Uma análise no detalhe da pesquisa do segundo turno mostra que a presidente Dilma vence apenas entre os eleitores de até 2 salários mínimos, onde faz 56% a 28%. É esse o eleitor que o PSDB vai ter que buscar, sobretudo no Nordeste, onde Dilma mantém uma forte dianteira. Entre os eleitores de 2 a 5 salários mínimos, Aécio vence de 44% a 41%, e, na faixa de cinco a dez mínimos, Aécio faz 51% a 35%.
A confirmação da contínua queda de popularidade da presidente Dilma é especialmente grave se levarmos em conta que ela vem de uma ofensiva midiática e política. Eduardo Campos fica ferido gravemente, 12 pontos atrás de Aécio Neves e em virtual empate técnico com o Pastor Everaldo, do PSC, que aparece com 4%.
Os candidatos evangélicos somam, assim, 6% na pesquisa, com 2% para Magno Malta, do PR, o que mostra que o voto evangélico, importante na eleição de 2010 para Marina, está indo para os candidatos declaradamente evangélicos, e não para Eduardo Campos por meio dela.
Nesse momento, com as convenções de PMDB, PP e PR, e com o PSD tendo que se definir, a pesquisa é muito ruim para Dilma. O Aezão no Rio foi o maior movimento de rebelião aberta feito até agora, no principal partido da coalizão governamental, o PMDB, além de pegar franjas dos demais partidos da aliança, numa clara erosão da base.
Lula ainda é o grande eleitor, mas a trajetória dele de queda está mais acentuada que a de Dilma, pois perdeu 5 pontos percentuais de uma pesquisa para outra. Mesmo continuando em primeiro na hipótese de se candidatar, a pesquisa mostra que Lula não tem condição de se expor, pois, mesmo só falando para plateias simpáticas e blogueiros governistas, está caindo nas pesquisas. Passou a ficar contaminado por Dilma, sua criatura.
Dilma continua forte no Norte e no Nordeste, onde os principais candidatos oposicionistas são menos conhecidos. No Nordeste, Eduardo Campos tem apenas 9% de eleitores que dizem conhecê-lo bem, e o seu nível de rejeição é de 36%, o que mostra que ele é o candidato de Pernambuco, não da região.
A maior rejeição a Aécio Neves é também no Nordeste, de 44%, índice que cai para 29% em nível nacional. A pesquisa mostra também que caiu a rejeição a Aécio Neves e Eduardo Campos: o tucano tinha 31%, e o peessebista, 33%, e ambos têm agora 29%. Dilma manteve os 35% e é a candidata mais rejeitada.
Por fim, a do Datafolha é mais uma pesquisa que coloca o nível de aprovação do governo Dilma num patamar que indica a dificuldade, quase impossibilidade, de reeleição, segundo pesquisas do cientista político Alberto Carlos Almeida: os que consideram o seu governo ótimo ou bom caíram de 37% para 33%.
Dos 74% que responderam que querem mudanças no próximo governo, fora Lula, que é o mais lembrado, Aécio superou Dilma como o mais capaz de realizá-las.
A alta continua - CELSO MING
O ESTADÃO - 07/06
Quem olha só para os primeiros números diz que a inflação está caindo. De 0,67%, em abril, foi para 0,46%, em maio. Quem focar mais do que isso, vai ver que essa inflação está mais para o ruim do que para o bom. Os alimentos, vilões dos meses anteriores, estão pressionando menos. Mas, considerando-se que o IBGE deduziu em 7 pontos porcentuais a tarifa da água e do esgoto em São Paulo, em atendimento aos descontos proporcionados à redução do consumo, a inflação de maio é indicador preocupante.
Em 12 meses, está em ascensão e será inevitável que ultrapasse o teto da meta, de 6,5% ao ano. Basta que em junho atinja 0,38%. E nesse novo patamar tende a ficar, pelo menos até outubro. A alta dos preços segue espalhada. Atingiu dois terços dos itens que compõem o cestão do custo de vida.
São três os principais fatores que mantêm a inflação lá em cima. O primeiro é o represamento dos preços administrados, que correspondem a um quarto do consumo. Entre eles estão as tarifas de energia elétrica, combustíveis e transportes urbanos. É inevitável o realinhamento desses valores. Cada vez mais analistas preveem, para o início de 2015, uma inflação de mais de 7% em 12 meses. Com base nessa expectativa, os empresários também tendem a elevar seus preços para não serem surpreendidos com a disparada dos custos.
O segundo fator é a concessão de reajustes salariais muito acima da inflação e do avanço da produtividade, como as greves e seus resultados vêm demonstrando. O terceiro fator de persistência da alta é o registro de uma inflação acima dos 6,5% nos próximos três ou quatro meses, o que deve acirrar os mecanismos de indexação (reajustes automáticos de valores e salários).
Os tempos são de desalento, o que ajuda a segurar a inflação, como o Banco Central (BC) acentuou na última Ata do Copom, embora esse desânimo não atinja as causas, que continuam aí. O governo não faz o suficiente para reduzir as despesas públicas e joga contra o controle da inflação, na medida em que aciona políticas que sabotam a atuação do BC.
O ministro Guido Mantega, por exemplo, faz de tudo para que o crédito se expanda mais, tanto ao consumidor quanto às empresas. A Caixa Econômica e o BNDES continuam recebendo aportes do Tesouro. Mantega parece não entender que a desaceleração do crédito ao consumo não é consequência da má vontade dos banqueiros, mas é efeito desejado e induzido pela política monetária contracionista (política de juros altos) definida pela própria equipe econômica.
É alta a probabilidade de que a presidente Dilma chegue às vésperas das eleições de outubro ostentando um quadro de prostração que os economistas denominam estagflação. É quando a recessão do setor produtivo (queda do PIB) e a inflação acima do teto da meta aparecem na mesma foto. Este não é o resultado da crise mundial ou de eventuais contrariedades climáticas, mas das escolhas que o governo Dilma fez ao longo dos últimos quatro anos.
Quem olha só para os primeiros números diz que a inflação está caindo. De 0,67%, em abril, foi para 0,46%, em maio. Quem focar mais do que isso, vai ver que essa inflação está mais para o ruim do que para o bom. Os alimentos, vilões dos meses anteriores, estão pressionando menos. Mas, considerando-se que o IBGE deduziu em 7 pontos porcentuais a tarifa da água e do esgoto em São Paulo, em atendimento aos descontos proporcionados à redução do consumo, a inflação de maio é indicador preocupante.
Em 12 meses, está em ascensão e será inevitável que ultrapasse o teto da meta, de 6,5% ao ano. Basta que em junho atinja 0,38%. E nesse novo patamar tende a ficar, pelo menos até outubro. A alta dos preços segue espalhada. Atingiu dois terços dos itens que compõem o cestão do custo de vida.
São três os principais fatores que mantêm a inflação lá em cima. O primeiro é o represamento dos preços administrados, que correspondem a um quarto do consumo. Entre eles estão as tarifas de energia elétrica, combustíveis e transportes urbanos. É inevitável o realinhamento desses valores. Cada vez mais analistas preveem, para o início de 2015, uma inflação de mais de 7% em 12 meses. Com base nessa expectativa, os empresários também tendem a elevar seus preços para não serem surpreendidos com a disparada dos custos.
O segundo fator é a concessão de reajustes salariais muito acima da inflação e do avanço da produtividade, como as greves e seus resultados vêm demonstrando. O terceiro fator de persistência da alta é o registro de uma inflação acima dos 6,5% nos próximos três ou quatro meses, o que deve acirrar os mecanismos de indexação (reajustes automáticos de valores e salários).
Os tempos são de desalento, o que ajuda a segurar a inflação, como o Banco Central (BC) acentuou na última Ata do Copom, embora esse desânimo não atinja as causas, que continuam aí. O governo não faz o suficiente para reduzir as despesas públicas e joga contra o controle da inflação, na medida em que aciona políticas que sabotam a atuação do BC.
O ministro Guido Mantega, por exemplo, faz de tudo para que o crédito se expanda mais, tanto ao consumidor quanto às empresas. A Caixa Econômica e o BNDES continuam recebendo aportes do Tesouro. Mantega parece não entender que a desaceleração do crédito ao consumo não é consequência da má vontade dos banqueiros, mas é efeito desejado e induzido pela política monetária contracionista (política de juros altos) definida pela própria equipe econômica.
É alta a probabilidade de que a presidente Dilma chegue às vésperas das eleições de outubro ostentando um quadro de prostração que os economistas denominam estagflação. É quando a recessão do setor produtivo (queda do PIB) e a inflação acima do teto da meta aparecem na mesma foto. Este não é o resultado da crise mundial ou de eventuais contrariedades climáticas, mas das escolhas que o governo Dilma fez ao longo dos últimos quatro anos.
O túnel - ANDRÉ GUSTAVO STUMPF
CORREIO BRAZILIENSE - 07/06
É muita coisa ao mesmo tempo. Políticos presos, diretor da Petrobras atrás das grades, renúncia do ministro Joaquim Barbosa, Copa do Mundo, inflação, queda da atividade industrial e eleição. A mistura de tantos ingredientes está produzindo tremores de intensidade variável na sociedade nacional. Ninguém está distante ou infenso ao que ocorre no Brasil de agora. A presidente Dilma, que teve a reeleição garantida, agora faz com que seus marqueteiros corram atrás do enorme prejuízo.
A Copa do Mundo coloca os nervos à flor da pele. O pessoal fica tenso dentro e fora do gramado. Os brasileiros são ciclotímicos. Ou o time é uma maravilha, ou tudo está perdido. Os comentaristas de futebol faziam acrobacias verbais, escorregando nas concordâncias, para alcançar platitudes histriônicas e nacionalistas.
Mas é a Copa do Brasil. O mundo inteiro está com os olhos voltados para este canto de mundo, do qual muitos ouvem falar, mas ninguém sabe direito como funciona. E se funciona. É o momento ideal para fazer greves, protestar, colocar a cara na televisão e defender qualquer ideia, por mais esdrúxula que seja. Os aeroviários no Peru anunciaram a decisão de parar poucos dias antes do início dos jogos. A perspectiva de greve na aviação se alastrou por toda a América do Sul. A Copa, portanto, é sul-americana.
A Copa vai passar. Terminará em julho. O problema maior é a economia. Os índices de atividade industrial estão caindo. A inflação está subindo. O comércio exterior está murchando. Os antigos e maravilhosos superavits estão se tornando minguados. Isso não muda no curto prazo. Tanto assim é que o estado-maior da campanha da presidente Dilma já acendeu todos os sinais de alarme e partiu para o contra-ataque. Ela e o ex-presidente Lula vão aparecer em público, juntos, nos próximos encontros com potenciais eleitores.
Os políticos caminham segundo o calendário do futebol. Durante os intensos dias de Copa do Mundo, o Congresso não vai funcionar, na prática. Esforço concentrado aqui, outro acolá, mas, na realidade, Suas Excelências vão aproveitar os dias de festas juninas misturadas ao futebol para buscar votos no eleitorado. Quando os jogos terminarem, as convenções partidárias já terão escolhido os candidatos e restarão apenas a campanha e as mazelas nacionais. É impossível esconder com tapumes os números da economia.
Os aeroportos, que estão longe de serem concluídos, vão esconder seus problemas com placas de sinalização ou coisa parecida. É solução de engenheiro. Mas, na política, dois mais dois nem sempre é igual a quatro. Do governo será cobrada a promessa de eficiência, boa gestão e compromisso com o crescimento econômico. Nada disso foi conseguido nos últimos quatro anos. Ao contrário, a administração, medida pelo crescimento do PIB, só fica na frente dos governos de Floriano Peixoto e Collor de Mello. Mas a oposição terá a responsabilidade de se apresentar como alternativa real de poder.
A Copa do Mundo começa na próxima quinta-feira. Depois dessa data, o debate político estará temporariamente suspenso. Gols do time de Felipão serão muito mais importantes que eventuais declarações de candidatos. Após esse período, tudo deverá se modificar. Se o Brasil vencer, o mau humor atual tende a arrefecer. Se não, é possível que a atmosfera fique ainda mais carregada. Política e futebol não se misturam. São elementos diferentes. Mas a proximidade de um evento como a Copa do Mundo e a eleição presidencial será um teste formidável de sabedoria e compreensão para todos os brasileiros.
As agências de risco e outras instituições econômicas andaram brincando com seus computadores e chegaram à conclusão de que o Brasil tem mais chances de ser campeão. Em segundo lugar, aparece a Alemanha. Essas entidades são perigosas. Costumam errar muito. O futebol é aleatório e, exatamente por isso, desperta paixões e provoca grandes euforias e maiores depressões.
A sensação, nestes dias que antecedem o início da Copa, é que o país vai entrar em um túnel escuro, tanto no futebol quanto na política. Ninguém sabe o que o espera no outro lado. A campanha oficialmente começa em julho, mas, na prática, aqui, ali e na internet ela já se manifesta. As paixões do futebol não terminam de um dia para o outro. Elas prolongam. Esse sentimento pode chegar até outubro. A verdade é que, neste momento, ninguém, nem videntes nem as instituições econômicas, é capaz de predizer o que espera o Brasil após o término da Copa do Mundo.
Um mau momento - FERNANDO RODRIGUES
FOLHA DE SP - 07/06
BRASÍLIA - Durante meses em 1989 ouvi de marqueteiros de Ulysses Guimarães que sua candidatura a presidente decolaria após o horário eleitoral. Ele era honesto. Havia comandado a elaboração da nova Constituição. Seu apelido, "senhor Diretas". Tudo verdade. Sem contar o principal: Ulysses teria o maior tempo de TV disponível.
O resto é história. Ulysses amargou o sexto lugar na eleição presidencial de 1989. Teve meros 4,7% dos votos válidos. Não empolgou os brasileiros. O PMDB o abandonou. Havia um desejo de mudança no ar. Dois novatos foram ao segundo turno --Fernando Collor e Lula.
Dilma Rousseff não é Ulysses Guimarães. O Brasil de 2014 não é o de 1989. O PT não é o PMDB. Mas o fato é que as coisas começam a andar mal para a petista. As análises ouvidas são as de sempre: ela é honesta, o país melhorou e após o horário eleitoral vai deslanchar.
Na política vale a mesma explicação usada sobre tragédias aeronáuticas. Um avião nunca cai apenas por um motivo isolado, mas por causa de um conjunto de erros. O desastre decorre de uma sucessão de equívocos, desídia e falta de atenção.
É assim numa campanha eleitoral. A presidente da República negligenciou durante seus três primeiros anos de mandato certos protocolos básicos. Não recebeu políticos de maneira regular e orgânica. Evitou o quanto pode entrevistas nas quais poderia ter sido submetida ao contraditório. Há inúmeros exemplos. A pesquisa Datafolha de ontem é a consequência disso tudo. Dilma recuou para 34% das intenções de voto.
Em junho de 2002, Lula tinha 40% no Datafolha. Em 2006, tinha 46% nesta época. Dilma, em 2010, registrava 38%. Além dos percentuais, qual é a diferença da eleição atual em relação a esses três pleitos anteriores? Nas últimas vezes, a curva petista era nitidamente ascendente. Agora, está embicando para baixo. É um mau momento para o governo.
BRASÍLIA - Durante meses em 1989 ouvi de marqueteiros de Ulysses Guimarães que sua candidatura a presidente decolaria após o horário eleitoral. Ele era honesto. Havia comandado a elaboração da nova Constituição. Seu apelido, "senhor Diretas". Tudo verdade. Sem contar o principal: Ulysses teria o maior tempo de TV disponível.
O resto é história. Ulysses amargou o sexto lugar na eleição presidencial de 1989. Teve meros 4,7% dos votos válidos. Não empolgou os brasileiros. O PMDB o abandonou. Havia um desejo de mudança no ar. Dois novatos foram ao segundo turno --Fernando Collor e Lula.
Dilma Rousseff não é Ulysses Guimarães. O Brasil de 2014 não é o de 1989. O PT não é o PMDB. Mas o fato é que as coisas começam a andar mal para a petista. As análises ouvidas são as de sempre: ela é honesta, o país melhorou e após o horário eleitoral vai deslanchar.
Na política vale a mesma explicação usada sobre tragédias aeronáuticas. Um avião nunca cai apenas por um motivo isolado, mas por causa de um conjunto de erros. O desastre decorre de uma sucessão de equívocos, desídia e falta de atenção.
É assim numa campanha eleitoral. A presidente da República negligenciou durante seus três primeiros anos de mandato certos protocolos básicos. Não recebeu políticos de maneira regular e orgânica. Evitou o quanto pode entrevistas nas quais poderia ter sido submetida ao contraditório. Há inúmeros exemplos. A pesquisa Datafolha de ontem é a consequência disso tudo. Dilma recuou para 34% das intenções de voto.
Em junho de 2002, Lula tinha 40% no Datafolha. Em 2006, tinha 46% nesta época. Dilma, em 2010, registrava 38%. Além dos percentuais, qual é a diferença da eleição atual em relação a esses três pleitos anteriores? Nas últimas vezes, a curva petista era nitidamente ascendente. Agora, está embicando para baixo. É um mau momento para o governo.
Copa e desalento - MIGUEL REALE JÚNIOR
O ESTADO DE S.PAULO - 07/06
Recordo-me do entusiasmo vivido, quando cursava o terceiro ano ginasial, durante a Copa de 1958, na Suécia. Já havia álbuns de jogadores, eu e meus colegas colecionávamos figurinhas com avidez. Mas o jogo era acompanhado apenas pelo rádio, com possibilidade de se verem com atraso na televisão algumas cenas do confronto de dias antes.
Idêntico entusiasmo foi vivenciado na Copa de 1962, no Chile, com a preocupação diante da contusão de Pelé, substituído por Amarildo. Decepções aconteceram, especialmente diante das intensas expectativas com a seleção treinada por Telê Santana, que tinha Sócrates como sua principal atração, na Copa de 1982, na Espanha.
Assim se seguiram as Copas, mas sempre com o envolvimento positivo da população brasileira em favor do escrete canarinho. O que se destacava era a identificação de nosso povo com sua seleção, numa torcida que refletia o orgulho de nosso país sentido por todos, homens, mulheres e crianças.
Esse espírito contrasta, contudo, com o desalento que se vem observando às vésperas do grande torneio. O que está a suceder e por quê? Irá, no decorrer da competição, modificar-se o clima de desânimo que hoje predomina, longe das expectativas de alegria imagináveis pelo fato de estarmos a recepcionar em nossa terra o grande evento futebolístico?
Há, sem dúvida, uma atmosfera global de insegurança que conduz à angústia. Mas esta é agravada no Brasil. Na era digital universal, como diz Zygmunt Bauman, a paúra dissemina-se, espalha-se horizontalmente, e se comunicam as desgraças rapidamente na sociedade dita líquida, pois sem alicerces, sem terreno sólido, sem formas, numa fluidez geradora da sensação desagradável de impotência diante do futuro. Como diz Marc Augé, antes tinha-se medo da morte, agora se tem da vida, por se reconhecer não haver controle sobre o que quer que seja. Viver passou a constituir a adoção de modos de ser efêmeros difundidos por celebridades vazias, com o que cada qual se despersonaliza.
Fragiliza-se não só o Estado-nação no mundo globalizado, mas principalmente os órgãos intermediários, como a família, a escola, a igreja, o clube, nos quais se vivia a solidariedade, com o preço de estar sob o olhar dos demais, porém com o benefício da troca de experiências, do compartilhamento de dúvidas e angústias a viva voz, olho no olho.
Há também, por consequência, uma crise da democracia representativa nos países centrais, com o surgimento de forças decisivas e determinantes dos grandes conglomerados do comércio internacional lícito, em especial com redes como Facebook ou enciclopédias do tipo Google, além das potentes organizações ilícitas, que traficam drogas e armas.
As redes sociais, todavia, instalam uma comunicação que, curiosamente, isola, pois a sinceridade é camuflada pela exposição prevalecente do Mundo das Maravilhas, transformando-se o universo numa grande Academia do Elogio Mútuo. Passa-se, nessa solidão digital, a ser dependente dos meios eletrônicos - outro dia, após maravilhoso casamento em jardins de casa secular em Verona, uma moça brasileira ao meu lado, finda a cerimônia, abriu a bolsa e suspirou fundo, dizendo: "Que saudades do meu iPhone".
A esse quadro de angústia difusa por coisa nenhuma se soma a indicação de males distantes, mas identificáveis: a possibilidade do desastre ecológico, o terrorismo, que nos faz concordar sem pestanejar em ter nossa bagagem visualizada no raio X dos aeroportos, os desatinos que matam jovens a tiros nos EUA ou na Noruega, noticiados como se ocorressem na casa vizinha.
Mas o quadro brasileiro acentua ainda mais a desesperança: a violência urbana, que nos faz temer o assalto a cada semáforo vermelho, certos da impotência policial que descobre apenas 2% dos roubos à mão armada e garante a impunidade; a ausência de políticas sociais de inclusão cultural e de socialidade. E nossa descrença se aprofunda ao verificarmos terem os donos do poder se assenhoreado da administração pública, como sucedeu na Petrobrás, instituindo a corrupção como forma de governar, para depois montarem investigações de "faz de conta", tratando os compatriotas como tolos.
De outro lado, com vista às eleições, unem-se os populistas ocupantes do governo federal com os mesmos "coronéis" de sempre: José Sarney, Renan Calheiros, Romero Jucá, Jader Barbalho, Fernando Collor, Paulo Maluf, cujas seriedade e visão de interesse público foram já tão firmemente questionadas, mas são vistos como se nada tivesse acontecido, em despudor gritante, no qual o que menos importa é a coerência.
No Brasil, a crise do Parlamento ganha contornos mais prosaicos: o vice-presidente da Câmara descobre-se ser sócio e amigo íntimo do doleiro para o qual convergem ilicitudes de toda ordem; deputado do PT, amigo de ministros e potentados do seu partido, reúne-se com líderes do crime organizado que promovem incêndios de ônibus. Aos saltos e sobressaltos, na busca frenética de poder político ou econômico, sem escrúpulos, ficam esquecidos quaisquer limites éticos: vale tudo. Adicione-se ainda o sombrio panorama econômico brasileiro, com significativa redução de investimentos, retração no campo da indústria, crescimento pífio do PIB e queda do consumo das famílias.
Por tais razões não se vive com alegria a hospedagem do grande acontecimento da Copa do Mundo. Em 58 ou 62 éramos mais pobres, subdesenvolvidos, mas tínhamos esperança e crenças positivas. Hoje, doentes, ao menos respondemos com indiferença à Copa, a indicar um corpo social que ainda reage às bactérias da corrupção, da desabrida ambição de poder, da mentira e da empulhação.
Espero, otimistamente, que a sensação de desalento se modifique no correr do evento, para se imbuir de espírito esportivo, do calor da competição, fazendo-se valioso e breve hiato na tristeza que recobre a Nação. O brasileiro merece viver uma festa saudável.
Recordo-me do entusiasmo vivido, quando cursava o terceiro ano ginasial, durante a Copa de 1958, na Suécia. Já havia álbuns de jogadores, eu e meus colegas colecionávamos figurinhas com avidez. Mas o jogo era acompanhado apenas pelo rádio, com possibilidade de se verem com atraso na televisão algumas cenas do confronto de dias antes.
Idêntico entusiasmo foi vivenciado na Copa de 1962, no Chile, com a preocupação diante da contusão de Pelé, substituído por Amarildo. Decepções aconteceram, especialmente diante das intensas expectativas com a seleção treinada por Telê Santana, que tinha Sócrates como sua principal atração, na Copa de 1982, na Espanha.
Assim se seguiram as Copas, mas sempre com o envolvimento positivo da população brasileira em favor do escrete canarinho. O que se destacava era a identificação de nosso povo com sua seleção, numa torcida que refletia o orgulho de nosso país sentido por todos, homens, mulheres e crianças.
Esse espírito contrasta, contudo, com o desalento que se vem observando às vésperas do grande torneio. O que está a suceder e por quê? Irá, no decorrer da competição, modificar-se o clima de desânimo que hoje predomina, longe das expectativas de alegria imagináveis pelo fato de estarmos a recepcionar em nossa terra o grande evento futebolístico?
Há, sem dúvida, uma atmosfera global de insegurança que conduz à angústia. Mas esta é agravada no Brasil. Na era digital universal, como diz Zygmunt Bauman, a paúra dissemina-se, espalha-se horizontalmente, e se comunicam as desgraças rapidamente na sociedade dita líquida, pois sem alicerces, sem terreno sólido, sem formas, numa fluidez geradora da sensação desagradável de impotência diante do futuro. Como diz Marc Augé, antes tinha-se medo da morte, agora se tem da vida, por se reconhecer não haver controle sobre o que quer que seja. Viver passou a constituir a adoção de modos de ser efêmeros difundidos por celebridades vazias, com o que cada qual se despersonaliza.
Fragiliza-se não só o Estado-nação no mundo globalizado, mas principalmente os órgãos intermediários, como a família, a escola, a igreja, o clube, nos quais se vivia a solidariedade, com o preço de estar sob o olhar dos demais, porém com o benefício da troca de experiências, do compartilhamento de dúvidas e angústias a viva voz, olho no olho.
Há também, por consequência, uma crise da democracia representativa nos países centrais, com o surgimento de forças decisivas e determinantes dos grandes conglomerados do comércio internacional lícito, em especial com redes como Facebook ou enciclopédias do tipo Google, além das potentes organizações ilícitas, que traficam drogas e armas.
As redes sociais, todavia, instalam uma comunicação que, curiosamente, isola, pois a sinceridade é camuflada pela exposição prevalecente do Mundo das Maravilhas, transformando-se o universo numa grande Academia do Elogio Mútuo. Passa-se, nessa solidão digital, a ser dependente dos meios eletrônicos - outro dia, após maravilhoso casamento em jardins de casa secular em Verona, uma moça brasileira ao meu lado, finda a cerimônia, abriu a bolsa e suspirou fundo, dizendo: "Que saudades do meu iPhone".
A esse quadro de angústia difusa por coisa nenhuma se soma a indicação de males distantes, mas identificáveis: a possibilidade do desastre ecológico, o terrorismo, que nos faz concordar sem pestanejar em ter nossa bagagem visualizada no raio X dos aeroportos, os desatinos que matam jovens a tiros nos EUA ou na Noruega, noticiados como se ocorressem na casa vizinha.
Mas o quadro brasileiro acentua ainda mais a desesperança: a violência urbana, que nos faz temer o assalto a cada semáforo vermelho, certos da impotência policial que descobre apenas 2% dos roubos à mão armada e garante a impunidade; a ausência de políticas sociais de inclusão cultural e de socialidade. E nossa descrença se aprofunda ao verificarmos terem os donos do poder se assenhoreado da administração pública, como sucedeu na Petrobrás, instituindo a corrupção como forma de governar, para depois montarem investigações de "faz de conta", tratando os compatriotas como tolos.
De outro lado, com vista às eleições, unem-se os populistas ocupantes do governo federal com os mesmos "coronéis" de sempre: José Sarney, Renan Calheiros, Romero Jucá, Jader Barbalho, Fernando Collor, Paulo Maluf, cujas seriedade e visão de interesse público foram já tão firmemente questionadas, mas são vistos como se nada tivesse acontecido, em despudor gritante, no qual o que menos importa é a coerência.
No Brasil, a crise do Parlamento ganha contornos mais prosaicos: o vice-presidente da Câmara descobre-se ser sócio e amigo íntimo do doleiro para o qual convergem ilicitudes de toda ordem; deputado do PT, amigo de ministros e potentados do seu partido, reúne-se com líderes do crime organizado que promovem incêndios de ônibus. Aos saltos e sobressaltos, na busca frenética de poder político ou econômico, sem escrúpulos, ficam esquecidos quaisquer limites éticos: vale tudo. Adicione-se ainda o sombrio panorama econômico brasileiro, com significativa redução de investimentos, retração no campo da indústria, crescimento pífio do PIB e queda do consumo das famílias.
Por tais razões não se vive com alegria a hospedagem do grande acontecimento da Copa do Mundo. Em 58 ou 62 éramos mais pobres, subdesenvolvidos, mas tínhamos esperança e crenças positivas. Hoje, doentes, ao menos respondemos com indiferença à Copa, a indicar um corpo social que ainda reage às bactérias da corrupção, da desabrida ambição de poder, da mentira e da empulhação.
Espero, otimistamente, que a sensação de desalento se modifique no correr do evento, para se imbuir de espírito esportivo, do calor da competição, fazendo-se valioso e breve hiato na tristeza que recobre a Nação. O brasileiro merece viver uma festa saudável.
Desconhecimento ou má-fé? - KÁTIA ABREU
FOLHA DE SP - 07/05
Dizem que o agronegócio usa água demais, quando quase toda a nossa produção usa apenas a água das chuvas
No começo desta semana, em seminário promovido pela Folha, tive a oportunidade de ouvir, ao vivo, um dirigente de uma ONG ambiental que foi o segundo na hierarquia do Ministério do Meio Ambiente quando Marina Silva era ministra do governo Lula. Ele expôs sua visão --que é também a de seu grupo de fiéis-- sobre os males do agronegócio para o nosso país.
Embora todas as pessoas livres para pensar reconheçam que o agronegócio é o maior feito da nossa economia nos últimos 50 anos, experimentei, por alguns segundos, a sensação de que a moderna agropecuária brasileira foi um erro.
Felizmente, essa sensação durou pouco. Quando ele passou a desenvolver seus argumentos, percebi logo o tamanho de seus equívo- cos e, mais uma vez, perguntei- me, sem ainda encontrar a resposta, por que essas pessoas nos repudiam tanto.
Da longa lista de acusações, só tenho espaço para contradizer algumas. A primeira delas é que a agricultura brasileira é a maior consumidora de agroquímicos do mundo. Dito assim, parece grave. Mas vamos aos fatos.
O Brasil é o terceiro maior produtor agrícola do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e da China. Mas ocorre que a agricultura americana e grande parte da chinesa situam-se nas latitudes temperadas, e a nossa é a maior agricultura tropical do planeta.
Qualquer leigo percebe que, nos trópicos, o calor, a umidade e a menor diferenciação das estações são muito mais propícias aos in- setos e aos diversos agentes pa- togênicos do que as zonas tem- peradas.
Assim, se quisermos produzir aqui, temos que conviver com pragas e doenças, combatendo-as com os agentes criados pela tecnologia e certificados pelos órgãos sanitários do mundo e do Brasil.
O caminho mais eficiente para a redução do uso de defensivos químicos é a utilização de sementes geneticamente modificadas que repelem os agentes patogênicos e dispensam os agroquímicos.
Mas o avanço da transgenia entre nós quase foi paralisado na gestão desse dirigente no Ministério do Meio Ambiente. Para ele, o único caminho parece ser não produzir e importar da Europa, matriz dessa espécie de ambientalismo.
A acusação seguinte é a de que a produção rural brasileira é responsável por 62% das emissões dos gases de efeito estufa em nosso país.
Se isso fosse verdade, a solução seria simples. Bastaria reconverter os campos de milho, soja, arroz e feijão, bem como as pastagens, novamente em cerrado ou mato. E, mais uma vez, importar alimentos do resto do mundo. Era o que fazíamos nas décadas de 1940 a 1970, e a experiência não foi boa.
Quanto às verdadeiras emissões, as provenientes do uso dominante de combustíveis fósseis em nossa matriz energética, nenhuma palavra. Todos os males vêm do agronegócio. Mas não é o que pensa o mundo atualmente.
O sumário para formulação de políticas públicas do IPCC --o painel científico intergovernamental da ONU sobre mudanças climáticas-- diz com todas as letras que, no caminho para mitigação de longo prazo do aquecimento do clima, a alternativa mais eficaz é a descarbonização da energia ou a redução da intensidade de carbono em cada megawatt-hora gerado.
O relatório dos cientistas escla- rece que 80% das emissões de gases-estufa provêm da produção de energia, tornando claro que as emissões derivadas da agricultura e da pecuária não têm relevância objetiva. E é nessa direção que vão caminhar os governos, inclusive o brasileiro.
Eu poderia me estender longamente, mas o espaço é breve. Para essas pessoas, tudo o que fazemos está errado. Dizem que usamos fertilizantes demais, esquecendo-se de que, se não adubamos nossos solos pobres do cerrado, não vamos produzir quase nada.
Usamos água demais, quando quase toda a nossa produção usa apenas a água das chuvas, pois apenas 8% da produção brasileira é irrigada com sistemas artificiais.
Isso tudo pode parecer uma mera discussão política. Mas é mais do que isso porque, durante um certo tempo, essas pessoas estiveram no poder. E provocaram todas as formas de insegurança jurídica e prejuízos à imagem da agropecuária brasileira.
Dizem que o agronegócio usa água demais, quando quase toda a nossa produção usa apenas a água das chuvas
No começo desta semana, em seminário promovido pela Folha, tive a oportunidade de ouvir, ao vivo, um dirigente de uma ONG ambiental que foi o segundo na hierarquia do Ministério do Meio Ambiente quando Marina Silva era ministra do governo Lula. Ele expôs sua visão --que é também a de seu grupo de fiéis-- sobre os males do agronegócio para o nosso país.
Embora todas as pessoas livres para pensar reconheçam que o agronegócio é o maior feito da nossa economia nos últimos 50 anos, experimentei, por alguns segundos, a sensação de que a moderna agropecuária brasileira foi um erro.
Felizmente, essa sensação durou pouco. Quando ele passou a desenvolver seus argumentos, percebi logo o tamanho de seus equívo- cos e, mais uma vez, perguntei- me, sem ainda encontrar a resposta, por que essas pessoas nos repudiam tanto.
Da longa lista de acusações, só tenho espaço para contradizer algumas. A primeira delas é que a agricultura brasileira é a maior consumidora de agroquímicos do mundo. Dito assim, parece grave. Mas vamos aos fatos.
O Brasil é o terceiro maior produtor agrícola do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e da China. Mas ocorre que a agricultura americana e grande parte da chinesa situam-se nas latitudes temperadas, e a nossa é a maior agricultura tropical do planeta.
Qualquer leigo percebe que, nos trópicos, o calor, a umidade e a menor diferenciação das estações são muito mais propícias aos in- setos e aos diversos agentes pa- togênicos do que as zonas tem- peradas.
Assim, se quisermos produzir aqui, temos que conviver com pragas e doenças, combatendo-as com os agentes criados pela tecnologia e certificados pelos órgãos sanitários do mundo e do Brasil.
O caminho mais eficiente para a redução do uso de defensivos químicos é a utilização de sementes geneticamente modificadas que repelem os agentes patogênicos e dispensam os agroquímicos.
Mas o avanço da transgenia entre nós quase foi paralisado na gestão desse dirigente no Ministério do Meio Ambiente. Para ele, o único caminho parece ser não produzir e importar da Europa, matriz dessa espécie de ambientalismo.
A acusação seguinte é a de que a produção rural brasileira é responsável por 62% das emissões dos gases de efeito estufa em nosso país.
Se isso fosse verdade, a solução seria simples. Bastaria reconverter os campos de milho, soja, arroz e feijão, bem como as pastagens, novamente em cerrado ou mato. E, mais uma vez, importar alimentos do resto do mundo. Era o que fazíamos nas décadas de 1940 a 1970, e a experiência não foi boa.
Quanto às verdadeiras emissões, as provenientes do uso dominante de combustíveis fósseis em nossa matriz energética, nenhuma palavra. Todos os males vêm do agronegócio. Mas não é o que pensa o mundo atualmente.
O sumário para formulação de políticas públicas do IPCC --o painel científico intergovernamental da ONU sobre mudanças climáticas-- diz com todas as letras que, no caminho para mitigação de longo prazo do aquecimento do clima, a alternativa mais eficaz é a descarbonização da energia ou a redução da intensidade de carbono em cada megawatt-hora gerado.
O relatório dos cientistas escla- rece que 80% das emissões de gases-estufa provêm da produção de energia, tornando claro que as emissões derivadas da agricultura e da pecuária não têm relevância objetiva. E é nessa direção que vão caminhar os governos, inclusive o brasileiro.
Eu poderia me estender longamente, mas o espaço é breve. Para essas pessoas, tudo o que fazemos está errado. Dizem que usamos fertilizantes demais, esquecendo-se de que, se não adubamos nossos solos pobres do cerrado, não vamos produzir quase nada.
Usamos água demais, quando quase toda a nossa produção usa apenas a água das chuvas, pois apenas 8% da produção brasileira é irrigada com sistemas artificiais.
Isso tudo pode parecer uma mera discussão política. Mas é mais do que isso porque, durante um certo tempo, essas pessoas estiveram no poder. E provocaram todas as formas de insegurança jurídica e prejuízos à imagem da agropecuária brasileira.
O fator Joaquim - PLÁCIDO FERNANDES VIEIRA
CORREIO BRAZILIENSE - 07/06
Era tudo o que o PT mais temia. A Copa do Mundo vai começar - praticamente, um mês perdido para a política - com a presidente Dilma em queda livre nas pesquisas. A mais recente, do Datafolha, mostra que, mesmo sendo, de longe, a candidata com mais exposição e visibilidade na mídia, a petista caiu de 37% para 34% na preferência dos eleitores. A trajetória descendente é clara. Em fevereiro, ela tinha 44%. De lá para cá, perdeu nada menos que 10 pontos.
Outro dado também deixa os partidários da reeleição dela de cabelos em pé: 74% dos eleitores ouvidos dizem querer um governo diferente do atual. Além disso, o pessimismo com a economia é recorde: 36% dos entrevistados acham que a situação vai piorar nos próximo meses. Sem contar que, entre os três candidatos mais bem posicionados na pesquisa, a presidente é quem registra a mais elevada taxa de rejeição: 35%. Aécio (PSDB) e Eduardo (PSB) têm 29% cada um.
Mas há um alento para os petistas na sondagem. Apesar de Dilma despencar rumo ao piso histórico do partido, em torno de 30%, a oposição também perdeu fôlego. No total, o percentual dos que declaram voto nos concorrentes à Presidência da República recuou de 38% para 35%. Ou seja, ninguém está conseguindo capitalizar o sentimento de frustração dos brasileiros com o atual governo.
Surpreendente mesmo é o crescimento do número de indecisos, que passou de 8% para 15%; e o daqueles que se dizem dispostos a anular o voto: 17%. Na pesquisa, o Datafolha perguntou aos eleitores quem mais influencia a decisão deles na escolha do candidato. Lula, com 36%, lidera, como esperado. A novidade é o fator Joaquim Barbosa, que virou uma espécie de herói nacional após a prisão dos mensaleiros. Ele vem em segundo, com 26%. Um cacife invejável para quem, pelo menos até agora, mantém distância regulamentar das querelas políticas.
Outro dado também deixa os partidários da reeleição dela de cabelos em pé: 74% dos eleitores ouvidos dizem querer um governo diferente do atual. Além disso, o pessimismo com a economia é recorde: 36% dos entrevistados acham que a situação vai piorar nos próximo meses. Sem contar que, entre os três candidatos mais bem posicionados na pesquisa, a presidente é quem registra a mais elevada taxa de rejeição: 35%. Aécio (PSDB) e Eduardo (PSB) têm 29% cada um.
Mas há um alento para os petistas na sondagem. Apesar de Dilma despencar rumo ao piso histórico do partido, em torno de 30%, a oposição também perdeu fôlego. No total, o percentual dos que declaram voto nos concorrentes à Presidência da República recuou de 38% para 35%. Ou seja, ninguém está conseguindo capitalizar o sentimento de frustração dos brasileiros com o atual governo.
Surpreendente mesmo é o crescimento do número de indecisos, que passou de 8% para 15%; e o daqueles que se dizem dispostos a anular o voto: 17%. Na pesquisa, o Datafolha perguntou aos eleitores quem mais influencia a decisão deles na escolha do candidato. Lula, com 36%, lidera, como esperado. A novidade é o fator Joaquim Barbosa, que virou uma espécie de herói nacional após a prisão dos mensaleiros. Ele vem em segundo, com 26%. Um cacife invejável para quem, pelo menos até agora, mantém distância regulamentar das querelas políticas.
Infidelidade partidária degrada a democracia - EDITORIAL O GLOBO
O GLOBO - 07/06
A pulverização de legendas com voz no Congresso estimula a prática do fisiologismo e do patrimonialismo, presentes nos mensalões petista e tucano
À medida que o calendário eleitoral avança, os casos de infidelidade ficam mais evidentes. Desta vez, eles se multiplicam, porque, ao contrário de 2006, quando Lula tentava o segundo mandato consecutivo, Dilma busca o mesmo, mas sem uma certeza de vitória, embora continue favorita.
Como a política oscila em função da perspectiva de poder, uma candidatura de risco, e numa conjuntura de problemas econômicos sem possibilidade de alívio próximo, estimula a traição eleitoral. Neste sentido, o evento promovido na quinta-feira, no Rio, pelo presidente regional do PMDB, Jorge Picciani, de apoio à dobradinha “Aezão”, Aécio Neves (PSDB) para presidente da República e Luiz Fernando Pezão (PMDB) para governador fluminense, disse tudo.
Picciani conseguiu atrair para uma churrascaria na Zona Oeste 1.600 lideranças, com representantes de 17 partidos, vários da base parlamentar de Dilma. A começar pelo próprio PMDB, sinal estridente de infidelidade.
Entre a diversificada sopa de letras das siglas partidárias presentes, havia até o PCdoB, formalmente aliado, na disputa fluminense, à candidatura de Lindbergh Farias, do PT, adversário de Pezão em outubro.
O bailado político no Rio de Janeiro beira à desfaçatez: Sérgio Cabral e Pezão fazem juras de fidelidade a Dilma, enquanto o presidente regional do partido e outras lideranças aliadas, agastados pela tentativa do PT de passar um rolo compressor no candidato do PMDB ao Palácio Guanabara, trabalham às claras para o arquiadversário dos petistas, o tucano Aécio.
Não é uma exclusividade fluminense. Em São Paulo, Gilberto Kassab (PSD) ensaia mais uma de suas piruetas políticas ao namorar regionalmente a candidatura à reeleição do tucano Geraldo Alckmin enquanto alardeia o apoio a Dilma. Cópia da coreografia do PMDB fluminense.
Estas alianças exóticas em estados vêm de outras eleições. Na reeleição de Lula, por exemplo, em 2006, o PSDB mineiro, a fim de reeleger Aécio Neves governador, produziu nos laboratórios da campanha o voto “Lulécio”: Lula para o Planalto e Aécio para mais um mandato no Palácio da Liberdade. Os dois venceram.
Toda esta confusão não faz bem à democracia, para a qual são necessários partidos fortes e de fato representativos. Mas isto não acontecerá enquanto houver grande pulverização de legendas com assento no Congresso.
Este estilhaçamento partidário estimula, entre outros desvios, o fisiologismo e o patrimonialismo, presentes nos mensalões petista e tucano. Enquanto, por meio de cláusulas de barreira e/ou extinção das coligações em pleitos proporcionais — deputados, vereadores —, não for reduzido o número de partidos com voz ativa nas Casas legislativas, cenas como as que transcorrem nesta fase de aquecimento de campanha se repetirão. Em prejuízo da imagem do Congresso, dos políticos e da própria democracia.
A pulverização de legendas com voz no Congresso estimula a prática do fisiologismo e do patrimonialismo, presentes nos mensalões petista e tucano
À medida que o calendário eleitoral avança, os casos de infidelidade ficam mais evidentes. Desta vez, eles se multiplicam, porque, ao contrário de 2006, quando Lula tentava o segundo mandato consecutivo, Dilma busca o mesmo, mas sem uma certeza de vitória, embora continue favorita.
Como a política oscila em função da perspectiva de poder, uma candidatura de risco, e numa conjuntura de problemas econômicos sem possibilidade de alívio próximo, estimula a traição eleitoral. Neste sentido, o evento promovido na quinta-feira, no Rio, pelo presidente regional do PMDB, Jorge Picciani, de apoio à dobradinha “Aezão”, Aécio Neves (PSDB) para presidente da República e Luiz Fernando Pezão (PMDB) para governador fluminense, disse tudo.
Picciani conseguiu atrair para uma churrascaria na Zona Oeste 1.600 lideranças, com representantes de 17 partidos, vários da base parlamentar de Dilma. A começar pelo próprio PMDB, sinal estridente de infidelidade.
Entre a diversificada sopa de letras das siglas partidárias presentes, havia até o PCdoB, formalmente aliado, na disputa fluminense, à candidatura de Lindbergh Farias, do PT, adversário de Pezão em outubro.
O bailado político no Rio de Janeiro beira à desfaçatez: Sérgio Cabral e Pezão fazem juras de fidelidade a Dilma, enquanto o presidente regional do partido e outras lideranças aliadas, agastados pela tentativa do PT de passar um rolo compressor no candidato do PMDB ao Palácio Guanabara, trabalham às claras para o arquiadversário dos petistas, o tucano Aécio.
Não é uma exclusividade fluminense. Em São Paulo, Gilberto Kassab (PSD) ensaia mais uma de suas piruetas políticas ao namorar regionalmente a candidatura à reeleição do tucano Geraldo Alckmin enquanto alardeia o apoio a Dilma. Cópia da coreografia do PMDB fluminense.
Estas alianças exóticas em estados vêm de outras eleições. Na reeleição de Lula, por exemplo, em 2006, o PSDB mineiro, a fim de reeleger Aécio Neves governador, produziu nos laboratórios da campanha o voto “Lulécio”: Lula para o Planalto e Aécio para mais um mandato no Palácio da Liberdade. Os dois venceram.
Toda esta confusão não faz bem à democracia, para a qual são necessários partidos fortes e de fato representativos. Mas isto não acontecerá enquanto houver grande pulverização de legendas com assento no Congresso.
Este estilhaçamento partidário estimula, entre outros desvios, o fisiologismo e o patrimonialismo, presentes nos mensalões petista e tucano. Enquanto, por meio de cláusulas de barreira e/ou extinção das coligações em pleitos proporcionais — deputados, vereadores —, não for reduzido o número de partidos com voz ativa nas Casas legislativas, cenas como as que transcorrem nesta fase de aquecimento de campanha se repetirão. Em prejuízo da imagem do Congresso, dos políticos e da própria democracia.
Eles sabem o que fazem - EDITORIAL O ESTADÃO
O ESTADO DE S.PAULO - 07/06
Depois de os metroviários terem resolvido manter na sexta-feira a greve no metrô de São Paulo, a empresa acusou o sindicato de "impor mais um dia de sofrimento covarde à população". Mas errou ao chamar a entidade de "irresponsável". Seria, se a paralisação tivesse sido uma decisão de momento, numa assembleia capturada por um punhado de cabeças quentes e vozes ameaçadoras, que acabaria revertida em pouco tempo pelas lideranças sensatas da categoria. A realidade é o oposto disso.
Em primeiro lugar, trata-se de um sindicato presidido por um membro fundador do ultrarradical Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado, o PSTU. Além disso, o operador de trens Altino de Melo Prazeres Júnior é ligado à CSP-Conlutas, o braço sindical da sigla. No primeiro ato do Movimento Passe Livre contra o aumento das tarifas de ônibus, no ano passado, foi detido sob suspeita de vandalismo. É o típico adepto do "quanto pior, melhor". Isso pode fazer dele o que se queira, menos um irresponsável. O termo tampouco se aplica aos seus lugar-tenentes.
Tanto que não escolheram ao acaso o período em que começaram a pressionar a Companhia do Metropolitano para que cumprisse as suas exigências. O seu movimento é um entre tantos que promovem "a chantagem da Copa", como destacou o Estado em editorial de ontem. O intento é prensar contra a parede o poder público nesses dias de tensão diante do que poderão aprontar os black blocs e congêneres quando a bola começar a rolar, na expectativa de dobrá-lo às suas demandas, sem reprimir os seus clamorosos abusos contra os direitos das maiorias que deles dependem. É uma aposta na impotência da autoridade.
Já não bastassem essas evidências de calculado - portanto, responsável - desafio, salta à vista o escândalo das próprias reivindicações. No país em que a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) ficou em 5,82% nos 12 meses encerrados em abril último (a data-base dos metroviários), eles começaram pedindo 16,5% de aumento. Não tendo sido a extravagância levada a sério, baixaram o pleito para 12,2%. E rejeitaram, como se fosse esmola, a oferta da companhia que engordaria os contracheques dos seus funcionários a um patamar entre 10,6% e 13,3%, conforme os benefícios incluídos.
Anunciada a greve, a desembargadora Rilma Hemetério, vice-presidente do Tribunal Regional do Trabalho (TRT), ordenou ao sindicato que mantivesse o metrô funcionando 100% nos horários de pico, no início da manhã e nos fins de tarde, e 70% no resto do tempo. Ela se pautou pelo que estipula a Lei de Greve no caso da paralisação em serviços públicos essenciais. Como fascistas que são, violaram a ordem, sob a alegação de que cumpri-la equivaleria a não fazer greve. "No Brasil, é sabido o déficit de transporte público", argumentou a juíza, em resposta. "Qualquer coisa que diminua isso, no horário de pico, é penalizar a coletividade." Para os grevistas, a coletividade que se lixe.
Por fim, numa cínica tentativa de se mostrar solidários com as suas vítimas, propuseram à companhia, em troca da reabertura das estações, a desativação das catracas. Sabiam perfeitamente bem que nenhum dirigente de empresa, mesmo quando pública, poderia concordar em abrir mão de receita por serviços prestados - que dirá o seu acionista, o Estado. (No caso, a renúncia chegaria a R$ 5 milhões.) A ideia, portanto, era antagonizar o governo paulista com a população, neste ano de Copa e de eleições. Ou, como disse da greve o governador Geraldo Alckmin, é uma "nítida ação política para criar o caos". E para desviar a ira dos paulistanos dos causadores do transtorno para o alvo, afinal, de sua chantagem.
O fato de permanecerem abertas, ontem de manhã, apenas 31 das 61 estações das linhas operadas pelo metrô (ante 37 na quinta-feira) sujeitou a cidade a novo recorde matutino de engarrafamento: 252 km de lentidão. O governo quer a antecipação do julgamento sobre a manifesta ilegalidade da greve. Qualquer que seja a sentença e o desfecho do dissídio, a cidade que se prepare: a central do sindicalista Prazeres já anunciou uma passeata no dia da abertura da Copa, no Itaquerão. O "protesto" sairá da sede dos metroviários, no Tatuapé.
Depois de os metroviários terem resolvido manter na sexta-feira a greve no metrô de São Paulo, a empresa acusou o sindicato de "impor mais um dia de sofrimento covarde à população". Mas errou ao chamar a entidade de "irresponsável". Seria, se a paralisação tivesse sido uma decisão de momento, numa assembleia capturada por um punhado de cabeças quentes e vozes ameaçadoras, que acabaria revertida em pouco tempo pelas lideranças sensatas da categoria. A realidade é o oposto disso.
Em primeiro lugar, trata-se de um sindicato presidido por um membro fundador do ultrarradical Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado, o PSTU. Além disso, o operador de trens Altino de Melo Prazeres Júnior é ligado à CSP-Conlutas, o braço sindical da sigla. No primeiro ato do Movimento Passe Livre contra o aumento das tarifas de ônibus, no ano passado, foi detido sob suspeita de vandalismo. É o típico adepto do "quanto pior, melhor". Isso pode fazer dele o que se queira, menos um irresponsável. O termo tampouco se aplica aos seus lugar-tenentes.
Tanto que não escolheram ao acaso o período em que começaram a pressionar a Companhia do Metropolitano para que cumprisse as suas exigências. O seu movimento é um entre tantos que promovem "a chantagem da Copa", como destacou o Estado em editorial de ontem. O intento é prensar contra a parede o poder público nesses dias de tensão diante do que poderão aprontar os black blocs e congêneres quando a bola começar a rolar, na expectativa de dobrá-lo às suas demandas, sem reprimir os seus clamorosos abusos contra os direitos das maiorias que deles dependem. É uma aposta na impotência da autoridade.
Já não bastassem essas evidências de calculado - portanto, responsável - desafio, salta à vista o escândalo das próprias reivindicações. No país em que a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) ficou em 5,82% nos 12 meses encerrados em abril último (a data-base dos metroviários), eles começaram pedindo 16,5% de aumento. Não tendo sido a extravagância levada a sério, baixaram o pleito para 12,2%. E rejeitaram, como se fosse esmola, a oferta da companhia que engordaria os contracheques dos seus funcionários a um patamar entre 10,6% e 13,3%, conforme os benefícios incluídos.
Anunciada a greve, a desembargadora Rilma Hemetério, vice-presidente do Tribunal Regional do Trabalho (TRT), ordenou ao sindicato que mantivesse o metrô funcionando 100% nos horários de pico, no início da manhã e nos fins de tarde, e 70% no resto do tempo. Ela se pautou pelo que estipula a Lei de Greve no caso da paralisação em serviços públicos essenciais. Como fascistas que são, violaram a ordem, sob a alegação de que cumpri-la equivaleria a não fazer greve. "No Brasil, é sabido o déficit de transporte público", argumentou a juíza, em resposta. "Qualquer coisa que diminua isso, no horário de pico, é penalizar a coletividade." Para os grevistas, a coletividade que se lixe.
Por fim, numa cínica tentativa de se mostrar solidários com as suas vítimas, propuseram à companhia, em troca da reabertura das estações, a desativação das catracas. Sabiam perfeitamente bem que nenhum dirigente de empresa, mesmo quando pública, poderia concordar em abrir mão de receita por serviços prestados - que dirá o seu acionista, o Estado. (No caso, a renúncia chegaria a R$ 5 milhões.) A ideia, portanto, era antagonizar o governo paulista com a população, neste ano de Copa e de eleições. Ou, como disse da greve o governador Geraldo Alckmin, é uma "nítida ação política para criar o caos". E para desviar a ira dos paulistanos dos causadores do transtorno para o alvo, afinal, de sua chantagem.
O fato de permanecerem abertas, ontem de manhã, apenas 31 das 61 estações das linhas operadas pelo metrô (ante 37 na quinta-feira) sujeitou a cidade a novo recorde matutino de engarrafamento: 252 km de lentidão. O governo quer a antecipação do julgamento sobre a manifesta ilegalidade da greve. Qualquer que seja a sentença e o desfecho do dissídio, a cidade que se prepare: a central do sindicalista Prazeres já anunciou uma passeata no dia da abertura da Copa, no Itaquerão. O "protesto" sairá da sede dos metroviários, no Tatuapé.
Protecionismo descabido - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR
GAZETA DO POVO - PR - 07/06
O projeto de lei que proíbe a compra de publicações estrangeiras por órgãos públicos atrasaria o desenvolvimento cultural e tecnocientífico do país; felizmente seu arquivamento já foi solicitado
O líder do PT da Câmara Federal, deputado Vicentinho, apresentou no fim de março deste ano um projeto que impediria a compra de livros e outras publicações estrangeiras por órgãos públicos brasileiros. Pela proposta, universidades e institutos de pesquisa públicos, que sabidamente usam uma vasta produção acadêmica estrangeira, teriam seu trabalho, em grande parte, inviabilizado.
O projeto polêmico veio a público dias atrás, quando especialistas passaram a discutir a conveniência e a oportunidade da proposta, fato que foi levantado pela Gazeta do Povo em reportagem do dia 1.º de junho. O projeto estava apenas em estágio inicial de tramitação – em discussão na Comissão de Serviço Público (CSP). Mas a repercussão negativa foi tão grande que o próprio Vicentinho tomou a iniciativa, na quinta-feira, de solicitar o arquivamento de seu projeto antes mesmo de ele ser votado na CSP.
Embora tivesse sido procurado pela reportagem da Gazeta quando da reportagem sobre o projeto, Vicentinho preferiu não se pronunciar. A assessoria da liderança do PT na Câmara dos Deputados alegou que tinha havido um “mal-entendido” e que o deputado pretendia era proibir a compra de publicações produzidas no Brasil, mas impressas em outros países, como a China, por questões de redução de custo. A proposta, então, serviria como uma forma de proteção e fomento da indústria gráfica nacional. De acordo com a justificativa do projeto, “Objetivando minimizar a constante evasão de divisas, este projeto vem contribuir para que haja o compromisso do poder público para com a economia nacional. Necessitamos de adoção de restrições à importação de livros e demais publicações gráficas comumente adquiridas”.
Ainda segundo a assessoria, o projeto jamais impossibilitaria a assinatura de periódicos acadêmicos. Esse argumento, contudo, não aparecia na justificativa da proposta, nem no texto do projeto de lei. Na verdade, o art. 1.º do PL 7.299 era muito claro: “É vedada aos órgãos públicos federais, estaduais e municipais, a aquisição de publicações gráficas de procedência estrangeira para utilização de qualquer espécie e natureza da administração pública”.
Da forma como estava escrito, havia diversas razões para considerar o projeto absurdo. A primeira delas é que universidades, autarquias, fundações e institutos de pesquisa teriam de cancelar assinaturas de periódicos e bases de dados imprescindíveis para o desenvolvimento tecnológico e científico brasileiro. A segunda é que se tratava meramente de proteção de uma parcela do mercado, em detrimento de todo o resto da economia nacional. Em vez de proteger a economia nacional a única contribuição do projeto seria atrasar o desenvolvimento cultural e tecnocientífico do país.
Menos mal que Vicentinho tenha desistido da proposta; lamentável é que esse recuo tenha sido motivado exclusivamente pela repercussão negativa, e que projetos dessa natureza ainda sejam propostos em pleno século 21, em que a troca, o compartilhamento e a construção de conhecimento ocorrem na velocidade da luz, trafegando por fibras ópticas e cruzando fronteiras nacionais a todo momento. O que o Brasil precisa é de estímulos para ampliar o intercâmbio intelectual e científico, de iniciativas que abram o Estado para a inovação. Não de iniciativas anacrônicas completamente sem qualidades para levar o país a uma condição de país desenvolvido.
O projeto de lei que proíbe a compra de publicações estrangeiras por órgãos públicos atrasaria o desenvolvimento cultural e tecnocientífico do país; felizmente seu arquivamento já foi solicitado
O líder do PT da Câmara Federal, deputado Vicentinho, apresentou no fim de março deste ano um projeto que impediria a compra de livros e outras publicações estrangeiras por órgãos públicos brasileiros. Pela proposta, universidades e institutos de pesquisa públicos, que sabidamente usam uma vasta produção acadêmica estrangeira, teriam seu trabalho, em grande parte, inviabilizado.
O projeto polêmico veio a público dias atrás, quando especialistas passaram a discutir a conveniência e a oportunidade da proposta, fato que foi levantado pela Gazeta do Povo em reportagem do dia 1.º de junho. O projeto estava apenas em estágio inicial de tramitação – em discussão na Comissão de Serviço Público (CSP). Mas a repercussão negativa foi tão grande que o próprio Vicentinho tomou a iniciativa, na quinta-feira, de solicitar o arquivamento de seu projeto antes mesmo de ele ser votado na CSP.
Embora tivesse sido procurado pela reportagem da Gazeta quando da reportagem sobre o projeto, Vicentinho preferiu não se pronunciar. A assessoria da liderança do PT na Câmara dos Deputados alegou que tinha havido um “mal-entendido” e que o deputado pretendia era proibir a compra de publicações produzidas no Brasil, mas impressas em outros países, como a China, por questões de redução de custo. A proposta, então, serviria como uma forma de proteção e fomento da indústria gráfica nacional. De acordo com a justificativa do projeto, “Objetivando minimizar a constante evasão de divisas, este projeto vem contribuir para que haja o compromisso do poder público para com a economia nacional. Necessitamos de adoção de restrições à importação de livros e demais publicações gráficas comumente adquiridas”.
Ainda segundo a assessoria, o projeto jamais impossibilitaria a assinatura de periódicos acadêmicos. Esse argumento, contudo, não aparecia na justificativa da proposta, nem no texto do projeto de lei. Na verdade, o art. 1.º do PL 7.299 era muito claro: “É vedada aos órgãos públicos federais, estaduais e municipais, a aquisição de publicações gráficas de procedência estrangeira para utilização de qualquer espécie e natureza da administração pública”.
Da forma como estava escrito, havia diversas razões para considerar o projeto absurdo. A primeira delas é que universidades, autarquias, fundações e institutos de pesquisa teriam de cancelar assinaturas de periódicos e bases de dados imprescindíveis para o desenvolvimento tecnológico e científico brasileiro. A segunda é que se tratava meramente de proteção de uma parcela do mercado, em detrimento de todo o resto da economia nacional. Em vez de proteger a economia nacional a única contribuição do projeto seria atrasar o desenvolvimento cultural e tecnocientífico do país.
Menos mal que Vicentinho tenha desistido da proposta; lamentável é que esse recuo tenha sido motivado exclusivamente pela repercussão negativa, e que projetos dessa natureza ainda sejam propostos em pleno século 21, em que a troca, o compartilhamento e a construção de conhecimento ocorrem na velocidade da luz, trafegando por fibras ópticas e cruzando fronteiras nacionais a todo momento. O que o Brasil precisa é de estímulos para ampliar o intercâmbio intelectual e científico, de iniciativas que abram o Estado para a inovação. Não de iniciativas anacrônicas completamente sem qualidades para levar o país a uma condição de país desenvolvido.
Espelho eleitoral - EDITORIAL FOLHA DE SP
FOLHA DE SP - 07/06
Atual estágio da campanha presidencial traz recordes de indiferença popular, como evidencia resultado de recente pesquisa Datafolha
Caem todos. Resume-se assim, com certa crueza, o resultado do último levantamento do Datafolha sobre os candidatos a presidente.
Verdade que, numa análise mais detida, a oscilação de Aécio Neves (PSDB), de 20% para 19%, pode não passar de desvio dentro da margem de erro estatística.
Não foi o principal candidato oposicionista, de todo modo, quem se beneficiou do declínio de seus rivais. Este foi significativo no caso de Eduardo Campos (PSB), que interrompe a tímida trajetória positiva que o levara a 11% em maio para aterrissar em 7% na pesquisa publicada nesta sexta-feira (6).
Quanto à presidente Dilma Rousseff (PT), com 34% das intenções de voto (eram 44% em fevereiro), reafirmam-se os prognósticos de que sua eventual reeleição terá de passar pela barreira do segundo turno.
A micrografia dessas variações importa menos, todavia, do que a constatação inicial. Todos caem.
Nunca foi tão alto o percentual dos que, nesse período de eleições anteriores, declaravam não ter candidato. No atual levantamento, 13% dos entrevistados estão indecisos, e 17% falam em anular o voto, ou deixá-lo em branco.
Talvez possa ser atribuído algum peso estatístico ao fato de que, pela primeira vez desde a redemocratização, nenhum político com base eleitoral no Estado de São Paulo dispute a Presidência.
Diminui, sem dúvida, o fenômeno que beneficiou, em outros tempos, os nomes de José Serra, Fernando Henrique Cardoso e Lula no maior colégio de votantes do país --e que mantém, na sucessão estadual, invariável o favoritismo de Geraldo Alckmin (PSDB).
A importância do horário eleitoral gratuito se acentua, portanto, dado o relativo desconhecimento que ainda recobre os candidatos de oposição nesta disputa.
É mais sedutora, entretanto, a hipótese de que nenhum postulante à Presidência tem conseguido, pelo histórico pessoal ou pela intervenção no debate público, refletir as tensões, as esperanças, as demandas políticas da sociedade.
Raras vezes estas aparentaram ser tão divididas, ao menos nos grandes centros urbanos.
Movimentações sociais exacerbadas, à esquerda, contrastam com uma nem sempre silenciosa expectativa conservadora de repressão policial. Que não se limita, ressalte-se, à necessária contenção dos excessos em manifestações de rua, mas extravasa para velhos temas como pena de morte, diminuição da maioridade penal e defesa da truculência pública ou privada.
Enquanto as tensões sociais se acentuam, às vésperas da Copa do Mundo, os candidatos parecem transitar num mundo à parte, entre "selfies", platitudes, ufanismos e jatinhos. Sua aparente indiferença pelo mundo real encontra seu reflexo na pouca atenção que parcela do eleitorado lhes dedica.
Atual estágio da campanha presidencial traz recordes de indiferença popular, como evidencia resultado de recente pesquisa Datafolha
Caem todos. Resume-se assim, com certa crueza, o resultado do último levantamento do Datafolha sobre os candidatos a presidente.
Verdade que, numa análise mais detida, a oscilação de Aécio Neves (PSDB), de 20% para 19%, pode não passar de desvio dentro da margem de erro estatística.
Não foi o principal candidato oposicionista, de todo modo, quem se beneficiou do declínio de seus rivais. Este foi significativo no caso de Eduardo Campos (PSB), que interrompe a tímida trajetória positiva que o levara a 11% em maio para aterrissar em 7% na pesquisa publicada nesta sexta-feira (6).
Quanto à presidente Dilma Rousseff (PT), com 34% das intenções de voto (eram 44% em fevereiro), reafirmam-se os prognósticos de que sua eventual reeleição terá de passar pela barreira do segundo turno.
A micrografia dessas variações importa menos, todavia, do que a constatação inicial. Todos caem.
Nunca foi tão alto o percentual dos que, nesse período de eleições anteriores, declaravam não ter candidato. No atual levantamento, 13% dos entrevistados estão indecisos, e 17% falam em anular o voto, ou deixá-lo em branco.
Talvez possa ser atribuído algum peso estatístico ao fato de que, pela primeira vez desde a redemocratização, nenhum político com base eleitoral no Estado de São Paulo dispute a Presidência.
Diminui, sem dúvida, o fenômeno que beneficiou, em outros tempos, os nomes de José Serra, Fernando Henrique Cardoso e Lula no maior colégio de votantes do país --e que mantém, na sucessão estadual, invariável o favoritismo de Geraldo Alckmin (PSDB).
A importância do horário eleitoral gratuito se acentua, portanto, dado o relativo desconhecimento que ainda recobre os candidatos de oposição nesta disputa.
É mais sedutora, entretanto, a hipótese de que nenhum postulante à Presidência tem conseguido, pelo histórico pessoal ou pela intervenção no debate público, refletir as tensões, as esperanças, as demandas políticas da sociedade.
Raras vezes estas aparentaram ser tão divididas, ao menos nos grandes centros urbanos.
Movimentações sociais exacerbadas, à esquerda, contrastam com uma nem sempre silenciosa expectativa conservadora de repressão policial. Que não se limita, ressalte-se, à necessária contenção dos excessos em manifestações de rua, mas extravasa para velhos temas como pena de morte, diminuição da maioridade penal e defesa da truculência pública ou privada.
Enquanto as tensões sociais se acentuam, às vésperas da Copa do Mundo, os candidatos parecem transitar num mundo à parte, entre "selfies", platitudes, ufanismos e jatinhos. Sua aparente indiferença pelo mundo real encontra seu reflexo na pouca atenção que parcela do eleitorado lhes dedica.
COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO
"É um acinte,é uma vergonha"
Presidenciável Aécio Neves (PSDB) sobre o número de ministérios do governo Dilma
DILMA DESPENCOU DEZ PONTOS DESDE FEVEREIRO
Análise das pesquisas realizadas pelo instituto Datafolha, entre fevereiro e junho, mostram que a direção do PT tem motivos para andar preocupada. Desde os 44% das intenções de voto registrados em fevereiro até a pesquisa realizada entre terça (3) e quinta (5), Dilma caiu dez pontos percentuais. Em abril, registrou uma queda, para 38%, e a tendência seguiu em maio, para 37%, até os 34% de junho.
QUEDA BRUSCA
Estudo do especialista Murilo Hidalgom com base no Datafolha, indica que Dilma caiu 9 pontos na região Norte somente de maio para junho.
TENDÊNCIA NACIONAL
A tendência de queda de Dilma se verificou também nas regiões Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste (4 pontos). No Sul, caiu menos: 2%.
QUEDA LIVRE
A queda acentuada de Eduardo Campos no Datafolha deixou o PSB borocoxô. Com 7%, ele está empatado com Pastor Everaldo (PSC).
SIMPLES ASSIM
Dilma, eterna carrancuda, se diz surpreendida com o “mau humor” contra a Copa. É que as graças prometidas por “São” Lula acabaram.
GRUPO QUER EXPOR PEIXES MENOS GRAÚDOS NA CPI
Um grupo de senadores, deputados e advogados, que negociam a “blindagem” de presidentes de grandes empreiteiras na CPI Mista da Petrobras, combinaram oferecer “carne aos leões”, vazando denúncias contra outros parceiros da estatal. O objetivo é tirar do foco os donos de empresas como Odebrecht, OAS, Queiroz Galvão, Camargo Corrêa etc. e negócios como a refinaria superfaturada de Abreu e Lima (PE).
ESTÁ DIFÍCIL
O grupo, pago a peso de ouro, concorda com a dificuldade de blindar a operação da compra superfaturada da refinaria de Pasadena, nos EUA.
HIPERFATURAMENTO
Estimada em R$ 3 bilhões, a obra da refinaria de Abreu e Lima já custou mais de R$ 20 bilhões e ainda está longe de ser concluída.
AGORA VAI
A estatal EBC, que transmite a TV Brasil “do Lula”, audiência zero, gastou R$ 2,3 milhões com seu próprio centro de transmissão na Copa do Mundo.
VIRANDO SUCO
Petistas passaram o dia mal-humorados, ontem, com nova queda e a alta rejeição de Dilma atestados na pesquisa Datafolha. O desgaste faz a credibilidade da presidente virar suco, dizem seus marqueteiros.
ALIANÇA NO CEARÁ
Estão adiantados os entendimentos para que o senador Eunício Oliveira (PMDB-CE), candidato favorito ao governo do Ceará, disponibilize seu palanque ao presidenciável Eduardo Campos (PSB).
OUVIDOS DE AÇO
Quem duvidava do declínio da popularidade da presidente Dilma Rousseff deve ter ficado impressionado com o coro impublicável da torcida contra ela, ontem, no jogo da seleção.
NA MARCA DO PÊNALTI
É de segunda divisão o time composto por 11 governantes latinos, africanos e do Qatar na abertura da Copa do Mundo com Dilma, liderados pelo “goleiro” Ban Ki-Moon, da ONU, surdo a vaias após bolo de folha de coca boliviana.
QUEDA DE BRAÇO
Impedida pelo próprio partido de disputar a reeleição, a governadora potiguar Rosalba Ciarlini acusa o senador José Agripino, presidente do DEM, de trocar o governo pela reeleição do filho, deputado Felipe Maia.
DESFALQUE
A festa junina da creche Canarinho, na quarta (4), em Brasília, já não conta com sua grande atração: a filha de José Dirceu, hoje com 5 anos. Não vê-la, aliás, é o maior motivo de abatimento do ex-ministro de Lula.
BRIGA TOCANTINENSE
O confronto entre o ex-governador Siqueira Campos e a senadora Katia Abreu (PMDB) agita a política de Tocantins. Ele é acusado de tentar destruí-la, e Katia segue candidata à reeleição, sem temê-lo.
BEM OU MAL, FALEM
Coordenador do núcleo digital do senador Aécio Neves (PSDB-MG) à Presidência, Xico Graziano se reuniu com a bancada tucana para pedir empenho nas citações do nome do presidenciável nas redes sociais.
PENSANDO BEM...
...sexta (6) foi o Dia D da Segunda Guerra na Normandia. Na quinta (12), será o Dia D de Dilma no primeiro turno.
PODER SEM PUDOR
BENGALADA CATARINENSE
A senadora Ideli Salvatti (PT-SC) tentou convencer os catarinenses que é um amor de pessoa, na sua campanha para governadora, em 2010. Não deu certo: ficou em terceiro lugar. Pudera. Certa vez, ela chamou de "Senador da Bengalinha" o tucano Leonel Pavan (SC), que ficou indignado com o desrespeito às sequelas de uma cirurgia em sua perna direita. Ele deu o troco:
- Eu acompanhei a recuperação médica da senadora com a coleira cervical e nem por isso a chamei de "Senadora da Coleira" ou "do Cabresto".
Presidenciável Aécio Neves (PSDB) sobre o número de ministérios do governo Dilma
DILMA DESPENCOU DEZ PONTOS DESDE FEVEREIRO
Análise das pesquisas realizadas pelo instituto Datafolha, entre fevereiro e junho, mostram que a direção do PT tem motivos para andar preocupada. Desde os 44% das intenções de voto registrados em fevereiro até a pesquisa realizada entre terça (3) e quinta (5), Dilma caiu dez pontos percentuais. Em abril, registrou uma queda, para 38%, e a tendência seguiu em maio, para 37%, até os 34% de junho.
QUEDA BRUSCA
Estudo do especialista Murilo Hidalgom com base no Datafolha, indica que Dilma caiu 9 pontos na região Norte somente de maio para junho.
TENDÊNCIA NACIONAL
A tendência de queda de Dilma se verificou também nas regiões Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste (4 pontos). No Sul, caiu menos: 2%.
QUEDA LIVRE
A queda acentuada de Eduardo Campos no Datafolha deixou o PSB borocoxô. Com 7%, ele está empatado com Pastor Everaldo (PSC).
SIMPLES ASSIM
Dilma, eterna carrancuda, se diz surpreendida com o “mau humor” contra a Copa. É que as graças prometidas por “São” Lula acabaram.
GRUPO QUER EXPOR PEIXES MENOS GRAÚDOS NA CPI
Um grupo de senadores, deputados e advogados, que negociam a “blindagem” de presidentes de grandes empreiteiras na CPI Mista da Petrobras, combinaram oferecer “carne aos leões”, vazando denúncias contra outros parceiros da estatal. O objetivo é tirar do foco os donos de empresas como Odebrecht, OAS, Queiroz Galvão, Camargo Corrêa etc. e negócios como a refinaria superfaturada de Abreu e Lima (PE).
ESTÁ DIFÍCIL
O grupo, pago a peso de ouro, concorda com a dificuldade de blindar a operação da compra superfaturada da refinaria de Pasadena, nos EUA.
HIPERFATURAMENTO
Estimada em R$ 3 bilhões, a obra da refinaria de Abreu e Lima já custou mais de R$ 20 bilhões e ainda está longe de ser concluída.
AGORA VAI
A estatal EBC, que transmite a TV Brasil “do Lula”, audiência zero, gastou R$ 2,3 milhões com seu próprio centro de transmissão na Copa do Mundo.
VIRANDO SUCO
Petistas passaram o dia mal-humorados, ontem, com nova queda e a alta rejeição de Dilma atestados na pesquisa Datafolha. O desgaste faz a credibilidade da presidente virar suco, dizem seus marqueteiros.
ALIANÇA NO CEARÁ
Estão adiantados os entendimentos para que o senador Eunício Oliveira (PMDB-CE), candidato favorito ao governo do Ceará, disponibilize seu palanque ao presidenciável Eduardo Campos (PSB).
OUVIDOS DE AÇO
Quem duvidava do declínio da popularidade da presidente Dilma Rousseff deve ter ficado impressionado com o coro impublicável da torcida contra ela, ontem, no jogo da seleção.
NA MARCA DO PÊNALTI
É de segunda divisão o time composto por 11 governantes latinos, africanos e do Qatar na abertura da Copa do Mundo com Dilma, liderados pelo “goleiro” Ban Ki-Moon, da ONU, surdo a vaias após bolo de folha de coca boliviana.
QUEDA DE BRAÇO
Impedida pelo próprio partido de disputar a reeleição, a governadora potiguar Rosalba Ciarlini acusa o senador José Agripino, presidente do DEM, de trocar o governo pela reeleição do filho, deputado Felipe Maia.
DESFALQUE
A festa junina da creche Canarinho, na quarta (4), em Brasília, já não conta com sua grande atração: a filha de José Dirceu, hoje com 5 anos. Não vê-la, aliás, é o maior motivo de abatimento do ex-ministro de Lula.
BRIGA TOCANTINENSE
O confronto entre o ex-governador Siqueira Campos e a senadora Katia Abreu (PMDB) agita a política de Tocantins. Ele é acusado de tentar destruí-la, e Katia segue candidata à reeleição, sem temê-lo.
BEM OU MAL, FALEM
Coordenador do núcleo digital do senador Aécio Neves (PSDB-MG) à Presidência, Xico Graziano se reuniu com a bancada tucana para pedir empenho nas citações do nome do presidenciável nas redes sociais.
PENSANDO BEM...
...sexta (6) foi o Dia D da Segunda Guerra na Normandia. Na quinta (12), será o Dia D de Dilma no primeiro turno.
PODER SEM PUDOR
BENGALADA CATARINENSE
A senadora Ideli Salvatti (PT-SC) tentou convencer os catarinenses que é um amor de pessoa, na sua campanha para governadora, em 2010. Não deu certo: ficou em terceiro lugar. Pudera. Certa vez, ela chamou de "Senador da Bengalinha" o tucano Leonel Pavan (SC), que ficou indignado com o desrespeito às sequelas de uma cirurgia em sua perna direita. Ele deu o troco:
- Eu acompanhei a recuperação médica da senadora com a coleira cervical e nem por isso a chamei de "Senadora da Coleira" ou "do Cabresto".
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