O ESTADÃO - 07/06
Quem olha só para os primeiros números diz que a inflação está caindo. De 0,67%, em abril, foi para 0,46%, em maio. Quem focar mais do que isso, vai ver que essa inflação está mais para o ruim do que para o bom. Os alimentos, vilões dos meses anteriores, estão pressionando menos. Mas, considerando-se que o IBGE deduziu em 7 pontos porcentuais a tarifa da água e do esgoto em São Paulo, em atendimento aos descontos proporcionados à redução do consumo, a inflação de maio é indicador preocupante.
Em 12 meses, está em ascensão e será inevitável que ultrapasse o teto da meta, de 6,5% ao ano. Basta que em junho atinja 0,38%. E nesse novo patamar tende a ficar, pelo menos até outubro. A alta dos preços segue espalhada. Atingiu dois terços dos itens que compõem o cestão do custo de vida.
São três os principais fatores que mantêm a inflação lá em cima. O primeiro é o represamento dos preços administrados, que correspondem a um quarto do consumo. Entre eles estão as tarifas de energia elétrica, combustíveis e transportes urbanos. É inevitável o realinhamento desses valores. Cada vez mais analistas preveem, para o início de 2015, uma inflação de mais de 7% em 12 meses. Com base nessa expectativa, os empresários também tendem a elevar seus preços para não serem surpreendidos com a disparada dos custos.
O segundo fator é a concessão de reajustes salariais muito acima da inflação e do avanço da produtividade, como as greves e seus resultados vêm demonstrando. O terceiro fator de persistência da alta é o registro de uma inflação acima dos 6,5% nos próximos três ou quatro meses, o que deve acirrar os mecanismos de indexação (reajustes automáticos de valores e salários).
Os tempos são de desalento, o que ajuda a segurar a inflação, como o Banco Central (BC) acentuou na última Ata do Copom, embora esse desânimo não atinja as causas, que continuam aí. O governo não faz o suficiente para reduzir as despesas públicas e joga contra o controle da inflação, na medida em que aciona políticas que sabotam a atuação do BC.
O ministro Guido Mantega, por exemplo, faz de tudo para que o crédito se expanda mais, tanto ao consumidor quanto às empresas. A Caixa Econômica e o BNDES continuam recebendo aportes do Tesouro. Mantega parece não entender que a desaceleração do crédito ao consumo não é consequência da má vontade dos banqueiros, mas é efeito desejado e induzido pela política monetária contracionista (política de juros altos) definida pela própria equipe econômica.
É alta a probabilidade de que a presidente Dilma chegue às vésperas das eleições de outubro ostentando um quadro de prostração que os economistas denominam estagflação. É quando a recessão do setor produtivo (queda do PIB) e a inflação acima do teto da meta aparecem na mesma foto. Este não é o resultado da crise mundial ou de eventuais contrariedades climáticas, mas das escolhas que o governo Dilma fez ao longo dos últimos quatro anos.
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