quarta-feira, dezembro 15, 2010

MÔNICA BERGAMO

RESORT POPULAR
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SÃO PAULO - 15/12/10

 O empresário Guilherme Paulus, presidente da CVC que está expandindo seus negócios para o ramo da hotelaria, vai entrar no mercado das classes C e D. Ele vai investir no primeiro "resort popular" em área nobre: a praia do Mosqueiro, em Aracaju (SE).

TUDO INCLUÍDO
Até pouco tempo atrás, Paulus planejava construir uma dezena de bangalôs de alto luxo no meio do mar de Mosqueiro. Os planos mudaram -e agora serão centenas de apartamentos que, por R$ 200 por dia, poderão abrigar até quatro pessoas no sistema "all inclusive", com café da manhã, almoço e janta já incluídos no preço.

TODO OUVIDOS
José Serra foi informado -mas não consultado por Geraldo Alckmin sobre a nomeação de Andrea Calabi para a secretaria da Fazenda. O governador eleito é antigo admirador do trabalho e da habilidade do economista.

TECNOLOGIA
Clifford Sobel, o ex-embaixador americano em Brasília e autor dos telegramas enviados daqui para os EUA divulgados pelo site WikiLeaks, jantava anteontem com amigos no restaurante Fasano. Além de comprar um apartamento em SP, ele quer fazer negócios por aqui. Sobel fez fortuna como CEO de empresas de tecnologia em Nova Jersey, entre elas a Net2Phone, que fornece programa para ligações telefônicas via internet, as chamadas VoIP.

CORINTHIANS AL MARE
O presidente Lula é um dos corintianos ilustres que foram convidados para integrar o navio do Corinthians, que zarpa do porto de Santos no dia 23 de fevereiro rumo à ilha de São Francisco do Sul, em Santa Catarina. O passeio contará com jogadores e ex-atletas do clube.

Lula ainda não respondeu.

O BAR DA AMY
Os camarins dos shows de Amy Winehouse no Brasil, em janeiro, devem ser "equipados" com quatro garrafas de vinho tinto francês grand cru classé Pomerol, cervejas mexicanas, vodca russa, champanhe francês, água tônica, sucos de laranja e cranberry, refrigerantes, leite semidesnatado. E também batatas chips, iogurtes orgânicos e tortillas mexicanas.

NA PALMA DA MÃO
Acessibilidade: o Mercado Municipal de SP ganhará um mapa tátil, com suas atrações destacadas em relevo.

MAQUIAGEM
A São Paulo Fashion Week vai trocar a Seda pelo Boticário como patrocinador master. A empresa de cosméticos assinou para as próximas quatro edições da semana de moda, até junho de 2012.

CAMISA DE CHICO VALE MAIS QUE FARDA DO CAPITÃO NASCIMENTO
Quando um familiar da coreógrafa Deborah Colker precisou de um transplante de medula óssea, ela entrou em desespero. "Foi a primeira vez que me deparei com um problema que não podia resolver. Fiquei dois meses chorando, bebendo e emagrecendo", disse ela no leilão que organizou, no Rio, em prol da Huma - Desenvolvimento Tecnológico para a Humanidade.

Um show de Toni Platão e Dado Villa-Lobos foi vendido por R$ 100 mil para uma empresa de planos de saúde. A frisa no Theatro Municipal para um espetáculo da Cia. Deborah Colker foi arrematado por R$ 13 mil pela primeira-dama, Cristine Paes. O prefeito, Eduardo Paes, disputou com Marieta Severo as sapatilhas da bailarina Ana Botafogo. Compradas por R$ 20 mil, elas enfeitarão a Cidade da Música. O prefeito levou também, por R$ 31 mil, uma camisa do Politheama, time de Chico Buarque, autografada pelo próprio. A peça será exposta no Museu da Imagem e do Som do Rio.

Já o figurino usado por Wagner Moura para encarnar o coronel Nascimento em "Tropa de Elite 2", deixado para o final, saiu por R$ 17 mil. "Pensei que seria a coqueluche da noite", disse a atriz Marisa Orth, lamentando o resultado. (FELIPE CARUSO, do Rio)
CURTO-CIRCUITO

Arnaldo Hossepian, secretário-adjunto da Segurança Pública de São Paulo, e o promotor Roberto Porto recebem hoje a medalha Brigadeiro Tobias, maior condecoração da Polícia Militar.

A arquiteta Sueli Adorni lança livro hoje, às 19h, no Museu da Casa Brasileira.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

VINICIUS TORRES FREIRE

Teoria da inflação no varejo
VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SÃO PAULO - 15/12/10

IBGE registra febre de venda de carros, o que explica as medidas "prudenciais" tomadas pelo Banco Central
AS VENDAS no comércio varejista continuam em ritmo "chinês", como diz hoje o clichê. A medida mais ampla das vendas no varejo, que inclui veículos e material de construção, registrou incremento de 11,2%.
O principal vetor da animação nas caixas registradoras foi a venda de automóveis. Entende-se ainda mais, pois, as medidas tomadas pelo Banco Central faz quase duas semanas, decisões que têm como objetivo reduzir os prazos de financiamento e encarecer o custo do dinheiro. As medidas já começaram a surtir efeito na praça. Era bem sabido que havia uma febre de consumo de carros, mas os dados do IBGE a respeito vieram ainda mais gordos do que o estimado por economistas.
Os dados divulgados ontem pelo IBGE dizem respeito a um já longínquo outubro, mas o que há de novo no fronte capaz de ter desanimado o consumidor em novembro e neste mês? Como já mencionado, o único fator maior que pode derrubar um tanto o desempenho do varejo é a restrição de crédito para a compra de automóveis e, bem menos, os efeitos do enxugamento de dinheiro nas demais taxas de juros para o consumidor.
No entanto, nestes dois meses finais do ano, a confiança do consumidor, a vontade de comprar e a esperança de continuar empregado, está em patamar recorde. O crédito continuou a crescer praticamente no mesmo ritmo forte do ano, os aumentos salariais vieram acima da inflação para praticamente todas as categorias organizadas e o desemprego continuava a declinar pelo menos até o mês passado.

DEBATE DE JANEIRO
O grande debate da virada do ano a respeito de taxas de juros e inflação será, primeiro, aquele a respeito da duração e da extensão dos efeitos da política de enxugamento monetário do Banco Central. Segundo, se o Banco Central de fato alterou ou virá alterar sua maneira de encarar o controle de preços, como corre à boca nada pequena entre certos comentaristas e economistas.
Isto é, trata-se de descobrir se o BC acredita que medidas reguladoras (exigência de mais capital para empréstimos, exigência de mais compulsórios) são um instrumento de controle da inflação ou se, quase ao contrário, a autoridade monetária apenas reconhece o bem sabido efeito de tais decisões no crédito, um efeito que pode ser aproveitado a fim de evitar de imediato uma alta maior de juros, mas não muito mais do que isso. Ou seja, as medidas "de prudência", com o objetivo de evitar exageros no crédito e risco de calotes, teriam apenas um efeito colateral nos juros, aceito com satisfação.
Para os adeptos ou torcedores da tese de que o "Banco Central mudou", janeiro é decisivo. Haverá decisão sobre juros. Pode-se começar a medir o efeito das medidas "macroprudenciais" de restrição de crédito: vão redundar apenas num baque na venda de carros ou vão alterar o panorama de crédito e de "vontade de gastar" de modo mais disseminado? O economista-padrão acredita que o efeito "contracionista" das medidas "macroprudenciais" é restrito. Pode servir para "economizar" na alta de juros, da Selic, mas não afeta geralmente os agentes econômicos, até porque não afeta decisões centrais acerca de investir e/ou de poupar. O Banco Central pagaria para ver se a "heterodoxia" funciona? Difícil de acreditar.

GOSTOSA

ILIMAR FRANCO

Segundo escalão 
Ilimar Franco 

O Globo - 15/12/2010

Os ministros que assumem com a posse da presidente eleita, Dilma Rousseff, estão sendo orientados a segurar as mudanças no segundo escalão, nas empresas públicas e nas estatais. As substituições que tiverem de ser feitas serão realizadas após a posse do novo Congresso e depois de serem eleitos os presidentes da Câmara e do Senado. A ordem é obedecer à nova correlação de forças.

A primeira vítima
O líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), é a primeira vítima dos ressentimentos com a reforma ministerial. A bancada petista não queria mais um paulista no poder. Além disso, há o desconforto dos que estão perdendo poder: Arlindo Chinaglia (SP), Ricardo Berzoini (SP) e os 11 deputados da Democracia Socialista. A DS não se conforma em ter perdido o Ministério do Desenvolvimento Agrário. Há ainda os contrariados por Vaccarezza: Jilmar Tatto (SP), Maurício Rands (PE), Henrique Fontana (RS) e Odair Cunha (MG). Por isso, a bancada preferiu escolher Marco Maia (PT-RS) para concorrer à presidência da Casa.

Acertado
Atual ministro de Minas e Energia, Márcio Zimmermann deve voltar para a Secretaria Executiva da pasta, que será assumida de novo por Edison Lobão. Eles almoçaram na semana passada e acertaram que voltariam a trabalhar juntos.

Em andamento
O futuro ministro da Previdência, Garibaldi Alves (PMDB), está pensando em manter na pasta o atual ministro, Carlos Eduardo Gabas. Um dirigente peemedebista contou que “não é improvável” que Gabas volte à Secretaria-Executiva.

Contra-ataque no Parlasul
O Parlamento do Mercosul aprovou anteontem resolução segundo a qual seus representantes terão que ser escolhidos por eleição direta ou ter mandato parlamentar em seu país de origem. A iniciativa foi do Paraguai, mas o texto foi adaptado pelos brasileiros para barrar articulação, em curso no Congresso, para que derrotados nas eleições deste ano ganhem mandato no Parlasul. Se isso ocorrer, eles não poderão tomar posse.

Como cão e gato
Em um exemplo da má relação do governo norteamericano com o Itamaraty durante o governo Lula, telegrama do então embaixador Clifford Sobel, em 2009, diz que o excelente relacionamento com o Ministério da Justiça, a Polícia Federal e a Presidência da República foi crucial para superar a recusa, em cima da hora, do Ministério das Relações Exteriores a conceder vistos para agentes da DEA, a agência antidrogas, que estavam sendo transferidos da Bolívia para o Brasil.

PEDIDO do deputado Marco Maia (PT-RS) ao saber que o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDBSP), iria à missa de ação de graças de fim de ano do Congresso: “Já que você vai na missa, reze por mim.”

PROTESTO. O Greenpeace entregou em Cancún, no México, na Conferência do Clima da ONU, o troféu Motosserra de Ouro para a presidente da CNA e senadora Kátia Abreu (DEM-TO).

NO PRÓXIMO SÁBADO, a OAB do Rio vai levar atendimento jurídico gratuito aos moradores do Complexo do Alemão.

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA

Junto e misturado 
Renata Lo Prete 

Folha de S.Paulo - 15/12/2010

O desmoronamento da candidatura à presidência da Câmara de Cândido Vaccarezza (SP), que ontem teve de ceder a vaga ao correligionário Marco Maia (RS), resulta de um conjunto de insatisfações dentro do PT. Primeiro, com o ministério de Dilma Rousseff: além do diretório mineiro, várias correntes petistas se ressentem do espaço que (não) lhes foi dado. Depois, com a cúpula: deputados afastados do núcleo decisório, como Ricardo Berzoini (SP), Maurício Rands (PE) e Henrique Fontana (RS), resolveram dar o troco. Por fim, com o próprio Vaccarezza, que, entre outros pecados, defendeu a reforma trabalhista em entrevista.

Tempo... O conjunto da Câmara fará com Maia na eleição o que a bancada do PT fez ontem com Vaccarezza? A reação inicial do PMDB, segunda maior bancada, é a de respaldar o candidato petista para garantir sua "vez" no rodízio da presidência, daqui a dois anos.

...ao tempo De todo modo, a rebelião no PT fez com que os olhos se voltassem para o ex-presidente Aldo Rebelo (PC do B-SP), um dos deputados da base que ameaçam se lançar "por fora".

Conclave A primeira parte da reunião do PT ia terminando quando um cardeal do partido entrou na sala e perguntou: "Habemus Papam?" Então não havia.

Santa ceia Horas antes de jogar a toalha, Vaccarezza almoçou com Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), Paulo Bornhausen (DEM-SC) e João Almeida (PSDB-BA). No cardápio, o espaço que seria dado à oposição na partilha dos cargos da Mesa.

Calma aí 1 Em conversa com Antonio Palocci ontem no QG da transição, Michel Temer disse que, caso Ciro Gomes (PSB) venha a integrar o governo Dilma, seus xingamentos ao PMDB terão de ser coibidos. Resposta do petista: "O senhor é meu chefe. E, se o Ciro for ministro, também será chefe dele".

Calma aí 2 Ainda ontem, Palocci telefonou a Guilherme Cassel (Desenvolvimento Agrário) para dizer que, a despeito dos relatos de que Maria Lúcia Falcón teria sido convidada a substituí-lo, o assunto permanece em aberto. O lobby pelo atual ministro inclui setores da indústria e entidades como a Contag.

Dia seguinte Expoentes do "Centrão" afirmam à bancada do PT, parceira no apoio a Milton Leite (DEM), que não darão sossego a Gilberto Kassab (DEM) caso o prefeito consiga, como se espera, eleger hoje José Police Neto (PSDB) à presidência da Câmara paulistana.

A conferir O histórico dos vereadores do "Centrão", porém, é de negociação concreta e imediata com o chefe do Executivo.

Café com leite Embora Otávio Leite (RJ) tenha entrado na disputa oficialmente, tucanos de SP e de Minas estão próximos de selar um acordo que levará Duarte Nogueira à liderança da bancada na Câmara dos Deputados e Paulo Abi-Ackel para o comando do bloco da minoria.

E mais Pelo partido, Eduardo Gomes (TO) postula cargo na Mesa Diretora. João Campos (GO) corre por fora.

Visitas à Folha Antonio Bonchristiano e Fersen Lamas Lambranho, copresidentes da GP Investimentos, visitaram ontem aApartheid e foram recebidos em almoço.

Paulo Benites, coordenador do consórcio coreano-brasileiro para o trem-bala, visitou ontem a Folha. Estava acompanhado de Mauro Teixeira, assessor de imprensa.

tiroteio

"É compreensível que José Dirceu queira controlar a mídia. Afinal, a livre circulação das informações sobre o mensalão não fez nada bem à sua carreira política."

DO DEPUTADO JOSÉ CARLOS ALELUIA (DEM-BA), comentando discurso feito pelo deputado cassado em defesa de um novo marco regulatório para o setor.

contraponto

Amigo da mulher


Em conversa com o prefeito Luiz Marinho logo depois do segundo turno eleitoral, o presidente Lula lembrou ao correligionário que voltará a morar em São Bernardo do Campo a partir de 2011:
-Você sabe que eu vou te cobrar bastante. Se eu perceber que está faltando alguma coisa nas ruas, vou reclamar para o prefeito...
Marinho imediatamente propôs:
-Tive ideia melhor: vou nomeá-lo representante oficial para buscar recursos federais para o município!

JOSÉ SIMÃO

Ueba! Quero o FGTS da Hebe! 
José Simão
FOLHA DE SÃO PAULO - 15/12/10

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
Começou a alta temporada do Datena: as enchentes. Abriram o Aquassab! São Pedro e São Paulo não se bicam! E, como diz o Eramos6, o WikiLeaks é aqui: vaza o teto do banheiro, vaza o teto do quarto, vaza o teto da sala.
IPTU: Imposto Para Tetos Úmidos! Rarará.
E a Hebe Camargo, que pediu demissão do SBT? Salvou o Silvio Santos. É só ele segurar o FGTS da Hebe! Com o FGTS da Hebe, dá para pagar todo o rombo do banco PanAmericano!
A Hebe quer ir para a Globo! Já sei, ela vai trabalhar em "Malhação"! Rarará! O SBT queria cortar o salário da Hebe. Cortar o salário da Hebe é levar a H.Stern à falência. Rarará!
Semana inteira de fotos da Hebe. Bem peruona e com um tesouro de pirata pendurado no pescoço. Quem nasceu primeiro, a perua ou a Hebe? A Hebe! A Perua Amiga! Perua do Bem! E diz que essa é a trajetória televisiva da Hebe: da válvula ao HD!
E a maior verdade que a Hebe já falou: "Eu não tenho medo de ser sequestrada, porque vão me esconder aonde?".
E a maior mentira: "Eu nunca fui desafinada". Eu vou fazer uma enquete: "Onde a Hebe vai trabalhar agora?".
E o Maluf? "TJ de São Paulo inocenta Maluf". Ueba! Eu queria ser o Maluf: rouba, mas faz, mente, mas não convence e é culpado, mas ninguém prova. E o Maluf disse que nem Deus o tira da vida pública. Acredito piamente. Rarará! E sabe o que o Maluf disse? Minha vida é uma esfirra aberta!
O brasileiro é cordial! Mais um cartaz do Gervásio na empresa de São Bernardo: "Isso aqui é armário de guardar roupa e não uma penteadeira de quenga para ficar pendurando foto. Se eu vir alguma foto de mulher pelada, eu vou jogar óleo fervendo na mão do safado. Conto com todos. Assinado: Gervásio". O Pinochet de São Bernardo. Rarará.
Imagine o Gervásio mandando recado pra Al Qaeda: "Se eu pegar o cabrunco que anda mandando sequestrar avião para jogar em cima dos prédios, vou enfiar tanta porrada que o cabra vai botar dinamite pelas ventas". Rarará.
E olha um Gervásio germânico: "Alemão manda castrar namorado da filha". Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje só amanhã.
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

GOSTOSA

EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO

O Gabinete das cotas

EDITORIAL
O Estado de S.Paulo
Diferentemente do que pretendia, é improvável que Dilma Rousseff consiga formar o seu Gabinete até depois de amanhã, quando receberá da Justiça Eleitoral o diploma de presidente eleita da República. Quando fixou essa data para terminar a montagem do Ministério, decerto ela subestimou as peculiares dificuldades da operação de preencher os nada menos de 37 cargos que compõem a cúpula do governo, entre ministros e secretários com o mesmo status. Mas o gigantismo do primeiro escalão federal - para o qual a própria Dilma talvez venha a contribuir, abrindo algumas vagas adicionais de ocasião - é apenas uma parte do problema que a tem mantido ocupada mais do que qualquer outra coisa desde o desfecho da disputa pelo Planalto.
Já não bastasse a servidão que o sistema político e o regime federativo do País impõem ao seu primeiro mandatário - escalar uma equipe o quanto possível representativa das diversas regiões brasileiras e dos partidos (com as respectivas facções e caciquias) que compuseram a coligação eleitoral vitoriosa -, Dilma adicionou a esse desafio aparentado ao da proverbial quadratura do círculo um fardo de livre escolha: o de incluir no Gabinete uma cota de ministras, da ordem de 30% do total. É absolutamente normal que a primeira presidente do Brasil, para quem as chamadas questões de gênero têm importância central na formulação das políticas públicas, queira trazer para o Planalto e a Esplanada um número expressivo de mulheres que a ajudem a governar, arejar mentalidades e enviar uma mensagem à população em geral. Foi, por exemplo, o que procurou fazer no seu país tradicionalista a chilena Michelle Bachelet.
Mas o fatiamento extrafino do comando da administração federal é muito mais do que uma dor de cabeça para a sua titular. É preocupante para o País. Pela simples razão de que, com tantas demandas a atender - sem esquecer as do supremo demandante, Luiz Inácio Lula da Silva -, a competência dos ministeriáveis para exercer os cargos a serem preenchidos acaba sendo fator secundário. Isso não depende da vontade da presidente. Mesmo que ela quisesse compor um Gabinete de craques, o que, de resto, ela nunca deu sinais de querer, quando o cotismo impera, a meritocracia tem pouca ou nenhuma vez. Ou, dito ainda de outro modo, com tantas bocas a alimentar, a qualidade do alimento não é prioridade. E a ironia da história é que há mais apetites do que pratos.
Apenas para citar o caso mais recente de insatisfação, a facção do PT intitulada Democracia Socialista se considera injuriada com a anunciada substituição do seu ministro no governo Lula, Guilherme Cassel, titular do Desenvolvimento Agrário, pela atual secretária de Planejamento de Sergipe, Maria Lúcia Falcon, apadrinhada pelo governador Marcelo Déda e por seu colega da Bahia, Jaques Wagner. Mas o PT nordestino não esconde o seu descontentamento com a provável indicação da gaúcha Tereza Campelo, atual coordenadora de projetos estratégicos da Casa Civil e mulher do ex-tesoureiro petista Paulo Ferreira, para o Ministério do Desenvolvimento Social, o do Bolsa-Família. Sobre a aptidão de uma e de outra para as citadas funções, nenhuma palavra. E está se falando do PT, que pelo menos trata de aparentar que tem mais compromissos com a gestão pública do que o PMDB.
Talvez para não ser interrogada sobre as suas escolhas, ou para não competir com o seu patrono pelos holofotes, Dilma tem evitado se expor, mantendo um perfil discreto. Contam-se literalmente nos dedos da mão as suas manifestações desde a eleição. Além do discurso de vitória, foram duas entrevistas (uma coletiva com Lula, outra exclusiva para o Washington Post). O recolhimento da presidente que entra chama ainda mais a atenção pelo contraste com a exacerbação da loquacidade do presidente que sai - a contragosto. Além de não passar um dia quieto, ele avisa pela enésima vez que vem mais por aí. "Não vou ficar dentro de uma redoma de vidro", anunciou anteontem. "Vamos nos encontrar em algum lugar, em alguma assembleia, passeata, ato público ou protesto", disse a uma de suas audiências cativas. A ver como Dilma conviverá com isso. 

ROLF KUNTZ

E se não fossem fantasmas?
Rolf Kuntz
O Estado de S. Paulo - 15/12/2010
Dar dinheiro público a entidade fantasma é contra a lei; financiar festa ou show municipal com recursos federais não é. Mas o dinheiro do contribuinte vai sempre para o ralo, seja ou não realizado o evento, porque no fundo a lambança é uma só: a transformação do Orçamento numa pizza para ser estraçalhada em benefício de interesses particulares. A bandalheira é realizável dentro ou fora da lei, segundo a vocação de cada parlamentar, porque a espoliação do Tesouro é aceita como fato normal da política. De acordo com um pisadíssimo lugar comum, o Orçamento brasileiro é peça de ficção. Mas a maior das ficções é a concepção do processo orçamentário, no Brasil, como parte do governo democrático.
Em democracias mais avançadas, a submissão da proposta orçamentária ao Parlamento tem pelo menos duas funções políticas importantes. Uma delas é facilitar a participação democrática na definição dos gastos públicos. A outra é permitir o controle das ações do governo, incluída a alocação de recursos para a guerra. Houve quem vinculasse as possibilidades da paz à difusão da ideia republicana, isto é, à multiplicação de sistemas políticos fortemente orientados pela noção do público - da coisa pública, do interesse público - e governados com transparência. O objetivo continua distante, mas a tese ainda parece defensável.
No Brasil, as noções da função parlamentar e do uso de recursos públicos permanecem longe da ideia tradicional de republicanismo. A maioria dos parlamentares pouco ou nada se envolve na formulação de objetivos nacionais. Sua participação no processo orçamentário raramente vai além do esforço de inclusão de emendas paroquiais e clientelísticas, sem a mínima vinculação com qualquer ideia de prioridades para o País. Nem mesmo a ideia de país parece ter sentido para esses vereadores federais.
As emendas são aprovadas quase sempre sem discussão, graças a um acordo - tácito ou explícito, segundo a circunstância - de cooperação no ataque ao Tesouro. Cada um respeita as manobras do outro e todos podem viver em paz. Que as emendas sejam quase sempre de interesse particular é fora de dúvida. As prioridades não são definidas de acordo com objetivos nacionais, mas, na melhor hipótese, com base na conveniência político-eleitoral de cada um. Nesse jogo, o congressista reduz drasticamente a escala de suas funções e transforma o Parlamento em bolsa de transações privadas.
O ambiente e as normas da vida parlamentar contribuem para essa distorção. O leitor menos conformista poderá perguntar por que seu dinheiro deve ser destinado a festas ou shows municipais ou mesmo a obras de responsabilidade do poder local ou, no máximo, estadual. Que uma parte desse dinheiro vá para entidades fantasmas não surpreende. Tudo é muito fácil, quando os controles são precários. No fim do ano passado, segundo relatório recente do Tribunal de Contas da União, havia 50 mil prestações de contas entregues aos ministérios e não analisadas. Outras 6 mil eram devidas e não haviam sido encaminhadas. Os dois bolos, somados, envolviam transferências de R$ 24 bilhões.
Isso é privatização, com ou sem fraude. Privatização é também o uso das famosas verbas indenizatórias para manutenção de escritórios políticos, para contato com as bases e para distribuição de favores a companheiros e eleitores. Discute-se muito se as tais verbas são ou não excessivas, mas quase nunca se pergunta se é obrigação do contribuinte financiar o escritório político do parlamentar e outros itens de seu exclusivo interesse. Como legislador ele é um agente público. Mas, como político interessado numa carreira, é uma figura privada, assim como são privados o partido e as coligações.
Fraudes podem ocorrer em qualquer sistema orçamentário. Políticos podem furtar dinheiro em qualquer Parlamento e em qualquer nicho governamental. Sempre é possível ampliar o repertório da malandragem. Mas a comilança pode ser feita dentro da lei, ou quase, quando a interpretação das normas é feita com alguma elasticidade. Nem sempre é fácil provar, por exemplo, a ilegalidade do aparelhamento e do loteamento da administração pública. Também é difícil contestar legalmente a transferência de benefícios pelo Tesouro ou por bancos estatais. O requisito da impessoalidade na gestão pública é um dos itens modernos da Constituição, mas é raramente respeitado. Se essa regra não pegou, é porque os componentes arcaicos da política brasileira são dominantes. No Brasil, a chamada esquerda é tão eficiente quanto as velhas oligarquias na confusão entre o público e o privado.

GOSTOSA

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Com lei de mídia argentina, Brasil perde R$ 450 mi 
 Maria Cristina Frias 

Folha de S.Paulo - 15/12/2010

O mercado brasileiro de comunicação audiovisual pode perder R$ 450 milhões em faturamento em um ano por conta da nova lei argentina que regula o setor.
A estimativa é da Apro (associação de produtoras), que procurou a Ancine na última semana para tentar dialogar com o país vizinho.
A Argentina restringiu em sua TV a veiculação de vídeos filmados em países estrangeiros. A partir da nova lei, passam a ser permitidos apenas comerciais gravados lá e com pelo menos 60% de atores argentinos no elenco.
A determinação afugenta do Brasil anunciantes multinacionais, segundo empresários do setor, e prejudica as agências de publicidade e produtoras brasileiras.
"O cliente vai preferir concentrar a produção lá. Em menos de um mês, alguns anunciantes já abandonaram trabalhos no Brasil", afirma Sônia Piassa, diretora-executiva da Apro.
"É ruim isso ocorrer justo agora que o consumo está crescendo aqui e deveria atrair a atenção de clientes internacionais", diz Luiz Lara, da Abap (de agências).
O setor levantou o tamanho do prejuízo que pode sofrer. Os dados serão entregues à Ancine, que nesta semana deve apresentá-los em reunião com os ministérios do Desenvolvimento, Relações Exteriores e Casa Civil.
"Calculamos que em um ano o Brasil deve deixar de produzir 900 títulos e perder 75 mil postos de trabalho temporário", diz Piassa.
"Já manifestamos o incômodo à autoridade de audiovisual argentina. Dissemos que pelo Mercosul não é permitido barrar circulação de obras publicitárias. Nesta semana falaremos com os ministérios", diz Manoel Rangel, presidente da Ancine.

Culpa dos banqueiros Em seu novo livro, "O Mundo em Queda Livre" (Companhia das Letras, 574 págs.), o economista americano Joseph Stiglitz, vencedor do Prêmio Nobel de Economia em 2001, critica o comportamento dos banqueiros e diz que eles foram os principais responsáveis pela crise mundial deflagrada em setembro de 2008.

O MUNDO EM QUEDA LIVRE
de Joseph Stiglitz
EDITORA Companhia das Letras
QUANTO R$ 66,00
NÚMERO DE PÁGINAS 574
GÊNERO Economia

Inflação hospitalar se desacelera, mas ainda está acima do IPCA

O custo das operadoras de planos e seguros de saúde na modalidade individual teve neste ano a maior desaceleração desde 2007, segundo o IESS (Instituto de Estudos de Saúde Suplementar).
Apesar da redução, os custos continuam crescendo acima do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo).
A maior responsável pela alta de 9,4% em relação ao período entre junho de 2009 e o mesmo mês deste ano foi a despesa com terapias.
Os gastos com atendimentos, como de fonoaudiologia e de fisioterapia, aumentaram 13,1%.
O custo das internações vem em segundo lugar. Ele subiu 11% no período.
Apesar da desaceleração do aumento dos custos em junho, a diferença entre a inflação hospitalar e a de preços em geral ainda está alta, de 4,7 pontos percentuais.
Resultado bem distante do período de maio de 2008, quando era de apenas 1,5 ponto percentual.

MAIOR ALCANCE

O HSBC vai lançar um sistema que permite fazer pelo celular consultas e transações financeiras, além de saques nos caixas eletrônicos.
O banco afirma ter investido R$ 275 milhões em tecnologia, o que inclui o projeto "Meu HSBC Celular".
O sistema, que possibilita pagamento de contas, como de água, telefone, gás, luz e títulos bancários, é diferente do de outras instituições, segundo o argentino Sebastian Arcuri, novo diretor-executivo de pessoa física do HSBC no país.
"Permite saques no caixa eletrônico e tem a segurança da tecnologia de "token'", afirma. "Queremos ser o banco com a maior aproximação com nossos clientes e com tecnologia avançada. Não se pode estar mais próximo do que com o celular", diz.
Pela mesma razão, o banco vai dobrar o número de gerentes de relacionamento, para 3.000, até 2012. As diretorias regionais, que eram quatro, passarão a sete. As gerências regionais, por sua vez, aumentaram de 27 para 42.

FÁBRICA À VISTA

A alemã Still, uma das maiores fabricantes de empilhadeiras do mundo, adquiriu terreno em Indaiatuba, município a cem quilômetros de São Paulo. A aquisição é o passo inicial para a construção de uma fábrica na cidade, a segunda sede do grupo no país. A informação já foi dada ao prefeito de Indaiatuba, Reinaldo Nogueira (PDT), mas a Still só se pronunciará a partir de março de 2011.

Quantidade de pescado importado tem queda em 2010

A quantidade de toneladas de pescado importado caiu em 2010 após sete anos de tendência de alta.
Em 2009, a diferença entre o que o Brasil exportava e importava chegou a seu maior nível, 200 mil toneladas.
Apesar da queda no peso do pescado, a balança em dólares continua com deficits comerciais cada vez maiores.
Em 2003, o superavit era de US$ 225 milhões. Até outubro deste ano, o deficit foi a US$ 566 milhões, segundo Itamar Rocha, da associação de criadores de camarão.
Rocha prevê que as importações cheguem a R$ 1 bilhão até o fim do ano. Segundo ele, o declínio das exportações é reflexo da falta de incentivos associada ao aumento da demanda interna.
"O país tem se destacado como quinto maior importador de pescado mundial e primeiro da América Latina."

JUROS MENORES

O Banco do Brasil vai oferecer linhas de crédito com juros menores para os clientes que utilizam o limite de cheque especial e o rotativo do cartão. A partir de amanhã, ao acessar o site, o cliente com saldo devedor vai visualizar a melhor alternativa de crédito disponível, considerando taxas e prazos.

Inflação pós-eleição Governos seguram o preço dos produtos para agradar aos consumidores antes das eleições, e a inflação dos alimentos nas últimas semanas pode ser um reflexo desse fenômeno no Brasil. Essa é a opinião do economista Rodrigo Moita, que participa na tarde de hoje de seminário sobre economia e política no Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa).

Paladar feminino O aumento do consumo de cervejas artesanais no Brasil trouxe um novo cliente, segundo a rede Mr. Beer Cervejas. As mulheres representam 40% do consumo total da rede, seja com a compra para presente ou consumo próprio. A empresa planeja expansão para o interior de São Paulo, interior do Paraná, Distrito Federal e Rio de Janeiro.

Papo financeiro A Escola de Pós-Graduação em Economia da FGV promoverá, entre amanhã e sábado, no Rio de Janeiro, a Financial Economics in Rio, conferência que reunirá mais de dez especialistas internacionais. Entre os temas que serão debatidos estão o risco de contágio entre diferentes economias e como regras para distribuição de dividendos afetam as empresas.

MERVAL PEREIRA

Expectativa de poder 
Merval Pereira 

O Globo - 15/12/2010

O presidente Lula é um mestre na manipulação política e está conseguindo manter-se em evidência mesmo a poucos dias do fim de seu mandato. Por enquanto, ainda é Lula quem manipula os cordéis, tendo indicado grande parte do Ministério, mas a presidente eleita já deu alguns sinais de que pode vir a ter autonomia na sua ação de governo.

Na sua obsessão por não perder a primazia, Lula faz o que sabe melhor, transmitir uma expectativa de poder futuro, para tentar se contrapor à sua criatura, que está prestes a assumir o proscênio, com todas as condições objetivas de se tornar a figura central de seu próprio governo, pelas características do presidencialismo brasileiro, que confere ao chefe do Executivo poderes muito amplos.

Transmitir expectativa de poder é uma coisa que Lula sabe fazer muito bem, e por isso ele surpreendeu o mundo político ao antecipar a campanha da sua própria sucessão, invertendo os termos da equação política tradicional que ensina que a sucessão só deve ser discutida quando não for mais possível conter a demanda, sob o risco de ser abandonado ainda no exercício do cargo.

Lula conseguiu o que parecia impossível: convenceu o PT, e depois seus aliados, de que com sua popularidade elegeria qualquer um, e escolheu a mais improvável das candidatas, a chefe do Gabinete Civil Dilma Rousseff, que não tinha respaldo partidário nem história política para ser alçada a candidata à Presidência da República.

Justamente o que Lula queria, deixar claro que quem elegeria o futuro presidente seria ele. Ou mais ainda: que ele seria o presidente de fato por interposta pessoa.

Para completar o serviço, ele utilizou sua força eleitoral para transferir aos estados a mesma expectativa de poder que conseguiu no plano nacional, no qual, antes mesmo de sua candidata oficial aparecer na frente das pesquisas, já havia uma percepção generalizada entre os eleitores de que ela acabaria sendo a vencedora.

A estratégia eleitoral do presidente Lula, que foi vitoriosa em relação à campanha presidencial, desdobrou-se na fase regional, onde o objetivo não era fazer a maioria dos governadores, mas, sim, garantir uma maioria sólida no Congresso, especialmente no Senado, o que conseguiu, pelo menos numericamente.

A base aliada governista controla cerca de 70% das duas Casas, embora seja muito heterogênea e tenha interesses próprios que surgirão certamente em meio às negociações.

Conseguiu a façanha e, embora seja tecnicamente um “pato manco” (lame duck), expressão americana que define o político que continua no cargo, mas por algum motivo não pode disputar a reeleição, não perdeu o poder e dá sinais de que não quer perdê-lo. A expressão “pato manco” nasceu na Bolsa de Valores de Londres, no século XVIII, em referência a um investidor que não pagou suas dívidas, e foi transferida mais tarde para a política.

A ave (e o político) com problemas torna-se presa fácil dos predadores. Mas tudo o que Lula não quer, e parece temer, é justamente ser identificado como um “pato manco”, e por isso permanece até o final de seus dias no cargo exercendo o poder e, mais que isso, transmitindo sinais de expectativa de poder futuro.

Mesmo negando que pretenda se candidatar novamente em 2014, Lula no momento é a maior aposta petista para continuar no governo.

E só se tornará um “pato manco” de fato quando (e se) a presidente Dilma Rousseff assumir integralmente suas prerrogativas presidenciais e, sobretudo, se ela tiver êxito na empreitada.

Também na oposição o que mais se persegue é a tal da expectativa de poder.

O candidato tucano derrotado pela segunda vez à Presidência da República, José Serra, reapareceu no cenário político transmitindo a seus interlocutores a disposição de transformar em realidade o “até logo” com que brindou os eleitores no discurso de aceitação da derrota.

A partir de São Paulo, ele montou sua barricada para barrar as pretensões da ala amplamente majoritária do PSDB que vê hoje no ex-governador de Minas e senador eleito Aécio Neves a encarnação da expectativa de poder dos tucanos para 2014.

Serra pretende, pelo menos no momento, insistir pela terceira vez na sua candidatura à Presidência da República e tem como exemplo o próprio Lula, que só venceu na quarta tentativa.

Mas Serra não tem o controle do PSDB como Lula tinha do PT, e o PT nunca teve candidatos viáveis à Presidência, o que o PSDB tem.

O senador Tasso Jereissati, uma das vítimas da campanha de Lula que não conseguiu se reeleger, vê em Aécio Neves a expectativa de poder do partido e acha que ele será sua liderança natural.

O próprio Aécio trata da questão com desembaraço, defendendo a “refundação” do PSDB a partir da defesa de seus êxitos, citando o Plano Real e as privatizações.

“Temos ao invés de esconder as nossas bandeiras, nossas trajetórias, que brigar por elas. Eu quero ir para os debates dizendo que sou a favor das privatizações porque os resultados estão aí, na telefonia, na siderurgia, vamos falar na própria Vale. Não temos que ter receio do legado que nós deixamos”, defende ele.

Com essa disposição, ele se aproxima do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que não teve nem em Alckmin nem em Serra defensores de seu governo.

O ex-governador mineiro transita com desembaraço por diversas alas governistas e vende a imagem de ser um potencial candidato à Presidência da República sem, no entanto, assumir tal posição.

Mas tem uma boa tese: “Não existe nada que agregue mais na política do que a expectativa de poder. Agrega mais que o poder presente. O presente é finito.”

CASO

DORA KRAMER

Câmara de comércio 
Dora Kramer 

O Estado de S.Paulo - 15/12/2010 

Na semana passada a Câmara dos Deputados aprovou regime de urgência para o projeto de legalização dos bingos com apoio da base do governo, o patrocínio do notório deputado Paulinho da Força e a defesa explícita do líder do Planalto na Casa, Cândido Vaccarezza.

De mansinho, enquanto o País, distraído de tudo o mais, prestava atenção à formação do novo ministério.

A votação do mérito do projeto foi marcada para esta semana sob protestos do Ministério da Justiça, do Ministério Público, da Receita Federal, da Caixa Econômica e com forte oposição do futuro ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.

É de se perguntar: uma proposta com tais e tantos opositores pode ser aprovada apressadamente, sem um exame mais detido e um debate público bem detalhado?

A rigor, só o fato de o Ministério Público e órgãos técnicos de governo adotarem posição contrária já deveria ser suficiente para que a sociedade lançasse um olhar desconfiado sobre o projeto.

Cardozo e Antonio Carlos Biscaia foram os dois deputados do PT que mais se bateram contra o projeto, indispondo-se até com a bancada do partido.

Argumentavam que a proposta, baseada num texto preparado originalmente para a legalização dos cassinos, além de embutir todos os riscos conhecidos nesse tipo de atividade - lavagem de dinheiro, corrupção, tráfico de drogas, aliciamento de menores, sonegação fiscal etc. -, ainda tornava inexequível a fiscalização por parte da Receita e escondia outros malefícios.

Um deles, a forma de cálculo dos repasses para o poder público, que, na prática, serão muito abaixo do propagandeado pelo lobby da jogatina. Outro: a permissão para a instalação de bingos a 500 metros de distância de escolas, sendo que os antigos donos de bingos não precisariam respeitar esse limite.

Contra-argumentam os defensores do projeto que é preciso trazer "à luz" o mundo do jogo e tirar dele os benefícios, como empregos e impostos, além de submetê-lo a controle do Estado.

Uma nota de técnicos dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário diz que o projeto tal como está "não permite ao Estado construir sistemas de regulamentação e fiscalização capazes de evitar que a atividade dos bingos se mantenha livre da sanha lucrativa" do crime organizado.

Empregos o tráfico também assegura, assim como qualquer máfia.

Junte-se a todos os fatores negativos a evidência de que cerca de 40% dos atuais deputados não estarão na Câmara a partir de fevereiro e temos um cenário de ausência de compromisso público que a sociedade não pode avalizar.

Pela boca. Se o deputado Ciro Gomes vier de fato a ser ministro no governo Dilma Rousseff será interessante observar seu comportamento como subordinado de alguém que, na campanha eleitoral, considerou publicamente estar muito menos preparada para o cargo que o adversário.

Reação emocional em função da mágoa por ter sido tirado da disputa presidencial por uma manobra do presidente Luiz Inácio da Silva? Pode ser.

Mas bem antes disso, ainda na posse da crença de que seria candidato pelo PSB e também com o apoio de Lula, Ciro qualificou Michel Temer de presidente de um "ajuntamento de assaltantes", qualificativo referente ao PMDB.

Temer com quem, na qualidade de presidente em exercício, Ciro poderá vir a ter de despachar em eventual ausência de Dilma do País.

Unidos vencerão. José Gomes Temporão pode não ser o melhor ministro da Saúde do mundo, mas fato é que deixará o ministério não por seus defeitos, mas por suas qualidades.

O PMDB não o patrocina porque não é tido como um "partidário" segundo a concepção em vigor de que o cargo deve servir, antes de qualquer coisa, aos interesses do partido.

A corporação do setor de Saúde, onde o PT tem muita influência, tampouco gosta do que pensa Temporão sobre a necessidade de se modernizar a área.

Na união do fisiologismo com corporativismo Temporão fica sem padrinho e morre pagão.

CELSO MING

É o mundo das compras 
Celso Ming 

O Estado de S.Paulo - 15/12/2010

Os comerciantes estão rindo à toa. É o melhor Natal do século. Mas, sob o ponto de vista do desempenho do varejo, foi Natal o ano inteiro.

Ontem, o IBGE divulgou os números das vendas do varejo até outubro. O importante aí não é tomar a variação sobre setembro, que foi de 0,4% e pareceu baixa. O importante é ver o que aconteceu em 2010. Foi um aumento de 11,1% no acumulado do ano em relação ao mesmo período de 2009. A alegria dos vendedores denuncia que fecharão o ano com chave de ouro.

Essa exuberância tem lá suas explicações e, também, seu preço. Dois foram os principais fatores que impulsionaram o aumento da procura por parte do consumidor. O primeiro foi o crescimento das despesas públicas. O governo decidiu não brincar em serviço neste ano eleitoral. Gastou o que pôde e o que não pôde, 15,7% a mais do que em 2009, e isso criou renda e consumo, em boa parte, artificiais. O governo Lula é o campeão do custeio da máquina, como você pode conferir no noticiário de hoje. O segundo fator que empurrou as vendas foi a forte expansão do crédito, de 20,3% em 12 meses.

E o povão se esbaldou pelo mundo maravilhoso das compras, no supermercado, no shopping center, nas viagens aéreas e nos salões de beleza. O esticão do consumo trouxe três desequilíbrios, felizmente nenhum deles irreversível, desde que, obviamente, sejam revistos.

O primeiro deles foi nas contas externas ou, mais particularmente, no avanço impressionante das importações, de nada menos que 44,3% no acumulado até novembro. O déficit nas contas correntes deverá ser ampliado de US$ 24,3 bilhões em 2009 para US$ 49 bilhões em 2010.

O segundo desequilíbrio foi a persistência de baixo índice de poupança, de apenas 18,5% da renda, insuficiente para alavancar o investimento de pelo menos 25% do PIB para garantir crescimento econômico sustentável nos próximos anos.

O terceiro desequilíbrio começa a aparecer. É o salto da inadimplência (calote) nas relações financeiras, conforme foi mostrado anteontem pelas estatísticas da Serasa. Aumentou 3,5% em novembro em relação a outubro e 5,0% no acumulado do ano até novembro. É sinal de que o consumidor foi além de suas pernas e agora está com cãibra e dores musculares.

Esses problemas foram detectados pelo governo federal antes mesmo das eleições, embora até lá não tenha feito nada e as autoridades da Fazenda insistissem em tapar o sol com a peneira. Sob o descrédito geral, continuam afirmando que as despesas públicas não cresceram demais e que a meta do superávit primário (3,1% do PIB), o saldo de arrecadação destinado ao pagamento da dívida, está assegurada.

No entanto, agora avisam que é preciso pisar nos freios. Mais do que avisar, já começaram a trabalhar nessa direção. Há duas semanas, por exemplo, o Conselho Monetário Nacional e o Banco Central tomaram decisões que restringem o crédito, porque identificaram o risco de formação de bolhas financeiras. E o recado que provém do gabinete da presidente eleita, Dilma Rousseff, é o de que virá um arrocho vigoroso nas contas públicas - mesmo que, para isso, seja preciso retardar obras do PAC, como já disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega.

CONFIRA

Continua ruim
O Fed (banco central dos Estados Unidos) não mexeu nos juros. Mas o comunicado foi um desfile de problemas: o emprego não reage, os investimentos estão em queda, o setor de moradia segue deprimido, a recuperação decepciona...

Chuva de dólares
Tudo isso continua justificando juros baixos e recompra de títulos pelo Fed para canalizar mais dinheiro para o mercado (US$ 600 bi até junho).

GOSTOSA

MÍRIAM LEITÃO

Sinal de alerta 
Miriam Leitão 

O Globo - 15/12/2010

O crescimento da inadimplência será uma das complicações com as quais o Banco Central terá de lidar no ano que vem. Ao mesmo tempo em que terá que lutar para reduzir a inflação — que está se distanciando do centro da meta — o BC não poderá encarecer demais o crédito. Os juros em alta podem desatar uma onda de atrasos nos pagamentos. A inadimplência está subindo há sete meses.

O Brasil não está diante de uma crise de crédito, mas dado que outros países passaram recentemente por fortes colapsos da capacidade de pagamento, todo o cuidado é pouco. Até porque os juros aqui são os mais altos do mundo.

Especialistas ouvidos pela coluna concordam que já há sinais de perigo em alguns indicadores de crédito. A decisão tomada recentemente pelo BC de reduzir o dinheiro em circulação está encarecendo o crédito. Novas altas da Selic, como as esperadas para o ano que vem, tornarão o dinheiro ainda mais caro, com prazos menores.

Dados da Serasa Experian mostram que a inadimplência teve a maior alta para o mês de novembro dos últimos cinco anos.

O analista de instituições financeiras da Austin Rating Luis Miguel Santacreu explica que estamos entrando num momento oposto ao que foi visto nos últimos dois anos, com o crescimento expressivo do crédito mascarando problemas na inadimplência. É um efeito basicamente estatístico: se há mais crédito circulando, proporcionalmente a inadimplência cai.

— Se há um aumento na carteira de crédito dos bancos, a inadimplência diminui percentualmente, porque há uma diluição. Mas agora o crédito vai crescer menos e o efeito estatístico não vai ajudar — explicou.

A Serasa Experian divulgou na segunda-feira que a inadimplência dos consumidores cresceu 3,5% em novembro, na comparação com outubro, e 23,2% em relação ao mesmo mês de 2009. Como este ano o país está crescendo, a renda aumentando, e o mercado de trabalho num bom momento, o normal seria a queda e não a elevação dos atrasos no pagamento. O aumento maior foi no crédito concedido por financeiras, empresas de cartão de crédito e empresas não financeiras, como lojas de varejo de eletroeletrônicos e empresas de telefonia. O assessor econômico da Serasa, Carlos Henrique de Almeida, diz que a tendência é de aumento na inadimplência no início do ano, período em que normalmente crescem as despesas das famílias com educação, impostos e seguros.

— Não temos sinais de q u e a s f a m í l i a s e s t ã o usando o 13º salário para o pagamento de dívidas — explicou.

A Serasa mede o volume de atrasos de pagamentos total, inclusive em financeiras e empresas de varejo. O BC registra o que acontece somente no sistema bancário, e em relação ao crédito total da economia.

O gerente de indicadores da Serasa, Luiz Rabi, explica um fato tranquilizador:

— Medimos todos os atrasos que entram no sistema. Então se há mais crédito concedido, haverá também maior inadimplência em comparação com períodos anteriores. Em 12 meses, a inadimplência está na faixa de 5%, bem abaixo do crescimento real do crédito, de 15%. Então não há sinais de bolhas, por enquanto.

Em 2011, o crescimento do PIB será menor, os juros devem subir, e o ritmo do aumento do crédito será menor. A conjuntura ficará um pouco mais difícil.

— Há muito emprego de prestação de serviços, autônomos, áreas que sentem mais rapidamente qualquer desaceleração da economia — disse Luis Miguel.

O economista José Alfredo Lamy, da Cenário Investimentos, acha que tudo depende da situação internacional. Uma piora na Europa, desaceleração na China, ou até mesmo uma melhora rápida nos Estados Unidos, que leve a aumento de juros, podem ter efeito sobre nossa taxa de crescimento ou sobre o fluxo de capitais para o Brasil.

— Nesse cenário, o crédito mundial ficará mais escasso e caro para os próprios bancos. Isso quer dizer que eles vão depender mais do retorno dos empréstimos já concedidos — afirmou.

Enfim, um país que vive uma rápida expansão do crédito tem que se proteger dos riscos. A economia mundial acaba de nos ensinar que com o endividamento das famílias não se brinca.

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Avanço na saúde 
Sonia Racy 

O Estado de S.Paulo - 15/12/2010

André Esteves não esconde de ninguém que quer aprofundar seus investimentos no setor hospitalar. Perdeu a disputa pelo Hospital Samaritano do Rio, mas está em tratativas com o Grupo Fleury. A ideia, segundo se apurou, seria a de comprar os pontos de exames clínicos em troca de participação.

Os hospitais não entrariam por problemas de legislação relacionados à participação de estrangeiros no setor.

Estranha, a vida

Correu pelo mercado a notícia de que a Secretaria de Cultura do Estado teria proposto um convênio ao Masp, incluindo ajuda de R$ 6 milhões por ano.

Indagado a respeito, Andrea Matarazzo confirma que a proposta foi feita há 30 dias tendo como contrapartida exigência de um plano de trabalho, criação de uma comissão de gestão do convênio e manutenção do professor Teixeira Coelho na curadoria do museu. "Não tivemos resposta e agora ficou tarde para incluí-la no Orçamento", lamenta.

A calhar

Dias depois da turbulência no Rio, sai do forno um pacote de medidas que pretende garantir direitos humanos a policiais. Dentre eles, uso frequente de coletes à prova de balas e manutenção na ativa de profissionais que ficaram deficientes em confrontos de rua.

A portaria será assinada hoje pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência e Ministério da Justiça.

Além do jardim

Uma das missões da comunicação de Dilma é não confundir a imagem de chefe de Estado com atribuições de primeira-dama.

Portanto, ninguém a verá circulando nos jardins do Alvorada discorrendo sobre mudas ou flores.

Tipo exportação

Carlos Saldanha, de A Era do Gelo, convidou e Carlinhos Brown disse sim. Está montando a trilha sonora de Rio, nova produção do animador.

Brown foi aos estúdios da Fox, em Los Angeles, e compôs com Sérgio Mendes e Will.I.Am (do Black Eyed Peas).

Papai Noel santista

O Santos começa a vender ingressos para a Libertadores de 2011 até dia 31. Assim como acontece na Europa, sócios do clube poderão escolher lugares e jogos pela internet. E, claro, presentear no Natal.


Sem partidarização?

O Ministério da Cultura acaba de aprovar a liberação de R$ 600 mil, via renúncia fiscal, para a produção do documentário Anos FHC - Uma Abordagem Econômica, que estreia em agosto.

E o PT será vai reclamar com Juca Ferreira?

A confirmar

Alckmin pode criar nova secretaria: a de Gestão.

O tempo não para

Não foi surpresa para a família, a decisão de Hebe em deixar o SBT. A apresentadora amadurecia a ideia há seis meses. Sobre o futuro, uma definição: não pretende parar.

Surgiu até convite para participar de filme autobiográfico. A opção foi descartada ante o desgaste envolvendo a produção de longa.

Agora, a prioridade da também cantora é sua turnê de shows.

O tempo não para 2

Oscar Niemeyer, que acabou de se lançar como letrista aos 103 anos, também ilustrou a capa do single virtual Tranquilo com a Vida, de Edu Krieger. Este é o nome da canção que os dois dividiram.

O resultado da parceria será conferido segunda, no show do músico no Teatro Rival, Rio.

Velinhas

Para comemorar os 60 anos da Bienal, sua Fundação pretende editar catálogos das duas primeiras edições do evento, em 1951 e 1953.


Na frente


A Galeria Fortes Vilaça aquece tambores para 2011. Programa megaexposição de Franz Ackermann.

Izabel Jaguaribe e Ernesto Baldan estreiam o documentário Elza, sobre a sambista Elza Soares, no auditório do MIS. Amanhã. [17 E 18/12]

Começa hoje a temporada do quinteto Cinco a Seco na Sala Crisantempo.

Neno Ramos e Marcelo Neves lideram delegação brasileira que expõe no Salon National de Beaux-Arts do Louvre, em Paris. Amanhã.

Acontece, sexta-feira, show do dueto Cohen & Marcela. No Tapas Bar.

Em homenagem aos 179 anos da PM paulista, a Motorola organiza mostra que retrata a corporação. Hoje, na Academia do Barro Branco.

A Ice-Watch lança sua marca de relógios no Brasil. Hoje, na Disco[17 E 18/12].

Leandro HBL vai representar o Brasil na Mipcom, feira internacional de programas de televisão em Cannes. No mês de abril.

Pascal Portanier vem ao Brasil para o curso sobre luxo. Em fevereiro, no ITC. Inscrições até 20 de dezembro.

Lula inaugura, segunda, a pedra fundamental da construção do prédio da UNE.

O Gero é o mais novo point dos políticos em Brasília. Chora, Piantella, chora.

LIVRO

GLAUCO ARBIX E JOÃO A. DE NEGRI

Mais que petróleo, o País precisa de tecnologia
Glauco Arbix e João A. De Negri 


O Estado de S.Paulo - 15/12/10
A palavra inovação frequenta documentos de governo desde 2003. No entanto, a economia apenas lentamente incorpora a inovação em sua dinâmica. Apesar dos novos programas, do aumento do investimento e dos incentivos, o País tem dificuldades para transformar conhecimento em tecnologia, com impacto real na atividade econômica.
Dados recentes da Pesquisa de Inovação Tecnológica (Pintec-IBGE) revelam que também as empresas de médio e grande porte têm dificuldades de inovar. De um total de 71,9% de empresas inovadoras com mais de 500 funcionários, apenas 4,1% são apoiadas por programas públicos de subvenção econômica ou de apoio à contratação de pesquisadores; e 4,2% conseguem apoio direto de algum instrumento público para seus projetos. Entre 2006 e 2008, não chegaram a cem as empresas que geraram inovações e foram apoiadas diretamente por algum programa público. Isso indica que o coração da economia brasileira se apoia pouco nos incentivos atuais. Pode ser que problemas existam nas duas pontas. Mas o setor público tem obrigação de avaliar - e melhorar - rapidamente o sistema de estímulo existente.
Países desenvolvidos e emergentes fazem de tudo para injetar dinamismo em suas economias. Apoiam as pequenas empresas inovadoras, investem em áreas de tecnologias críticas, fortalecem o venture capital e até criam Ministérios da Inovação. O Brasil avançou muito na infraestrutura de apoio à inovação. Porém esse esforço pode mostrar-se em vão se as novas oportunidades não forem aproveitadas.
No passado, basicamente por omissão do poder público, o Brasil não se capacitou para a microeletrônica. Por confusão, fechou-se em copas e ficou na traseira da onda da informática. Por carência de incentivos, não avançou nas telecomunicações. E agora, com o pré-sal, o País novamente tem uma chance, que se arrisca a perder se não der o passo certo. O pré-sal não se refere somente ao petróleo, mas a toda uma malha de tecnologia capaz de tornar viável sua prospecção, extração, exploração e distribuição. Malha que extrapola em muito o próprio setor.
Com o pré-sal o Brasil passou a ser mercado cobiçado. A Petrobrás será uma das maiores contratantes de equipamentos e serviços submarinos no mundo, por décadas. E grande parte do avanço tecnológico estará ligado a um setor de bens e serviços a serem utilizados no mar, conhecido como subsea. Estima-se que as aquisições brasileiras para o subsea chegarão a 25% nos próximos dez anos.
Essa realidade coloca questões estratégicas para a Petrobrás, mas também para o País. Estudos indicam que a demanda potencial da Petrobrás daria para tornar viável a criação de empresas brasileiras de alta tecnologia em várias áreas, e não apenas no setor de petróleo.
As atuais regras que definem níveis de conteúdo local se mostraram positivas para a atração de investimentos. Empresas multinacionais do setor parapetroleiro instalam novas unidades no Brasil ou ampliam as preexistentes. Gigantes como Halliburton, Schlumberger, FMC e Baker Hugues constroem centros de pesquisa e desenvolvimento (P&D) no Brasil, o que é extraordinário.
Mas essas multinacionais precisam capacitar-se para atender à demanda do pré-sal, pois as tecnologias apropriadas ainda estão em fase de criação. Para as empresas que dominam o mercado internacional do petróleo o Brasil será, além de fonte de benefícios, um imenso laboratório, em que a aprendizagem será tão relevante quanto imprescindível.
Cabem aqui perguntas simples: se as estrangeiras podem aprender, por que não as brasileiras? Será que as oportunidades são as mesmas? Não seria de interesse público a capacitação de empresas de base tecnológica de capital nacional?
Poucos sabem que cerca de 40% dos engenheiros e profissionais científicos (e quase 50% dos pesquisadores com carteira assinada) trabalham para fornecedores da Petrobrás. Ainda que nem sempre diretamente, trabalham e interagem em firmas que participam de sua rede de fornecedores. Porém dentre as grandes fornecedoras globais não desponta uma única brasileira.
Não se trata de nacionalismo rasteiro nem de crítica à Constituição, que reconhece como brasileiras as empresas aqui instaladas. Trata-se de uma oportunidade única que a História apenas raramente coloca como opção para os países. Ao preparar-se para o pré-sal, o Brasil pode alterar a qualidade de parte de sua ciência, de uma rede de empresas, de uma legião de pesquisadores, cientistas e técnicos, assim como pode estimular a indústria de bens de capital, software, nanotecnologia, telecomunicações, robótica e ambiental.
É equivocada a visão que acredita ser a tecnologia do pré-sal um assunto só de petroleiros, dado o potencial multiplicador de tecnologia e de aprendizagem envolvido.
O Brasil pode manter as regras de conteúdo local, assim como o cronograma de exploração das novas reservas. Mas pode e deve ampliar a atual estratégia, de modo a trabalhar com os investimentos compulsórios em P&D, já previstos pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), e orientá-los para a diversificação de empresas de capital nacional que atuam no setor. Dessa forma, seriam estimuladas novas competências nas áreas de bens e serviços, com ênfase nas atividades de informação sobre os reservatórios, serviços de perfuração, revestimento de poços e produção e instalação de equipamentos de subsea.
A incorporação de atividades altamente intensivas em conhecimento por empresas nacionais (mesmo que parcial) contribuirá para aproximar o Brasil dos países que atuam na fronteira tecnológica. Se é de inovação que o País precisa, o pré-sal oferece essa oportunidade gigante.
COORDENADORES DO OBSERVATÓRIO DE INOVAÇÃO DO INSTITUTO DE ESTUDOS AVANÇADOS DA USP E MEMBROS DO CONSELHO NACIONAL DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA. JOÃO ALBERTO DE NIGRI É TAMBÉM PROFESSOR DA USP E PESQUISADOR DO IPEA 

ANCELMO GÓIS

Toma que o filho é... 
Ancelmo Góis 

O Globo - 15/12/2010

A Petrobras, como se sabe, pagou US$ 350 milhões para ter de volta os 30% da Refinaria Alberto Pasqualini que estavam em poder da Repsol. O preço é bem inferior aos US$ 600 milhões contabilizados pela espanhola como valor deste ativo em seu balanço.

Na verdade...
Não é de hoje que a Repsol queria saltar fora da refinaria gaúcha, e não só por razões estratégicas globais. É que a empresa ficava refém da política de preços da estatal. Em 2004, por exemplo, a Pasqualini chegou a dar um preju mensal de R$ 100 milhões.

Um, dois... três
Domingo agora, o pessoal do Itamaraty vai fazer um ensaio da cerimônia de posse de Dilma, em Brasília.

Papai Noel, meu
Veja como o dinheiro mora em São Paulo. Na terra de Alckmin e Kassab, uma visita de Papai Noel contratado está custando uns R$ 1.500 nesse Natal. Já no Rio, a contratação de um Bom Velhinho tem saído por um terço disso, segundo a Escola de Papai Noel.

Tudo acaba em sexo
A prefeitura do Rio começou o processo de legalização do comércio no Alemão. O primeiro estabelecimento que recebeu alvará, sábado passado, foi uma... sex shop.

Contagem regressiva
Faltam 16 dias para a primeira mulher eleita pelo voto direto assumir o governo do Brasil.

A flor e o espinho
A Lua Music prepara um CD em homenagem ao centenário do compositor Nelson Cavaquinho, ano que vem. Chico Buarque, Beth Carvalho, Cauby Peixoto, Elza Soares e Arnaldo Antunes são alguns intérpretes.

Falta de respeito
Teresa Cristina, Carlinhos Brown e uma leva de artistas sofreram uma desfeita da Fundação Palmares, do MinC. Foram convidados para cantar num festival de cultura negra no Senegal, cancelaram, para isso, trabalhos aqui, e, na hora do embarque, babau, não havia passagens, contrato, nada.

Segue...
Alguns chegaram a ser desconvidados. Outros iriam ontem e, uma hora antes, souberam que não havia passagens. O Brasil é o homenageado do festival.

Brasília fede
Às vésperas da posse de Dilma, Brasília está abandonada. O mato alto invadiu a cidade (em greve, a Novacap não faz o corte). E o lixo parou de ser recolhido em 47 pontos do DF por causa de disputas jurídicas sobre os contratos de coleta.

Duas rodas
O levantamento mais recente da polícia do Rio, feito sexta à noite, contabiliza 180 motos ainda à espera dos donos, entre cerca de 400 recolhidas nas operações dos complexos da Penha e do Alemão.

Bispa Sônia
A vereadora Lilian Sá apresentou projeto que concede o título de cidadã carioca à líder e fundadora da Igreja Renascer em Cristo, a ex-presidiária Sônia Hernandes.

Furto de raios X
Médicos de hospitais públicos do Rio têm sido alvo de furtos de... chapas de raios X de seus pacientes, acredite.

Calça de milho
Uma pequena confecção do Polo de Moda de São Cristóvão, no Rio, a Indistripe, vai lançar no Rio-À-Porter, salão de negócios do Fashion Rio, dia 13 de janeiro, um jeans feito de... milho.

Momento ‘Caras’
A ex-BBB Fani Pacheco fez uma “lipo de flancos e culote”. Isso quer dizer... nada.

Bom dia, sr. Comte!
Comte Bittencourt, o deputado do PPS, embarcou ontem num voo da Team de Campos para o Rio e, nos procedimentos de decolagem, ouviu do piloto pelo sistema de som: “Bom diaaaa, sr. Comte Bittencourt, seja bem-vindoooo!” Ficou prosa um instante por ser reconhecido, mas... logo olhou em volta e viu que era o único passageiro.

GOSTOSA

ANDRÉ MELONI NASSAR

Acordos bilaterais batem à nossa porta
André Meloni Nassar 


O Estado de S.Paulo - 15/12/10
O final de 2010 é uma boa oportunidade para lembrar temas que deverão continuar em pauta em 2011. Este é o caso das negociações de comércio. Depois de um longo período de hibernação, o Itamaraty tem indicado que as reuniões da Rodada Doha devem voltar a esquentar em Genebra. Além disso, do lado dos pactos bilaterais de livre-comércio, a probabilidade de o Brasil finalmente assinar um acordo de peso, no caso, com os europeus, aumenta a cada dia.
Em Genebra, a novidade seria o fechamento do acordo em si, considerando que a parte de conteúdo das negociações já está bem definida. No campo multilateral, portanto, ganhos e perdas já estão "precificados" e um compromisso terá valor político, neste momento, maior do que econômico.
Já nos acordos de livre-comércio a situação é diferente. É neles que residem os grandes ganhos para a economia brasileira. São eles que evitarão, e não é obviedade esta minha afirmação, as grandes perdas dos setores exportadores brasileiros. É na via bilateral que a liberalização comercial, o estímulo a investimentos e o desenvolvimento de regras de comércio vêm ocorrendo no mundo.
Do lado comercial, acordos bilaterais promovem duas coisas: a "criação de comércio", uma vez que a redução das restrições tarifárias e não tarifárias e, consequentemente, a diminuição nos custos para os compradores levam a um aumento da demanda por produtos importados; e o chamado "desvio de comércio", porque, diante de uma liberalização bilateral, produtos que eram importados de fornecedores não beneficiados pelo acordo tendem a ser substituídos por fornecedores beneficiados pelo acordo. Ou seja, não só as importações totais dos parceiros aumentam - criação de comércio -, como também aumentam as trocas entre os parceiros do bloco - desvio de comércio.
Países e regiões não fazem mais acordos simplesmente visando à criação de comércio. Variáveis como crescimento da economia, taxa de câmbio e políticas expansionistas de demanda, entre outras, afetam muito mais as importações de um país do que suas tarifas nominais. Com o relativo baixo nível de tarifas que predomina no mundo, até porque várias rodadas multilaterais na OMC já ocorreram, promovendo essa redução - salvaguardados os casos dos produtos agrícolas, que ainda são muito protegidos -, a pergunta não é importar quanto, mas importar de quem.
Assim, países que têm interesse em estimular exportações se engajam em acordos bilaterais pensando no desvio de comércio, quer dizer, buscando conquistar uma posição privilegiada em relação aos seus concorrentes no fornecimento de produtos para um mercado específico. Essa posição privilegiada ocorre não apenas porque um acordo bilateral promove liberalização comercial, mas também porque regras e normas de comércio acordadas bilateralmente tornam a relação mais estável e de menor incerteza, estimulando investimentos bilaterais. O desvio, portanto, ocorre também nos investimentos diretos.
Analisando as exportações brasileiras para diversos mercados de 2000 a 2009, e comparando o crescimento destas com a evolução das exportações de outros países em desenvolvimento, observamos que o Brasil já está enfrentando o problema do desvio de comércio. O caso europeu é ilustrativo. A União Europeia (UE) é um mercado importante para os exportadores brasileiros, tanto de produtos industriais como de produtos do agronegócio. Em 2009 o Brasil vendeu cerca de US$ 33 bilhões para a UE.
As importações europeias cresceram consistentemente de 2000 a 2008, a uma taxa de 13% ao ano. De 2008 para 2009, com a crise, houve uma queda de 26%. De 2000 a 2008 as exportações brasileiras para a UE cresceram a uma taxa de 16% ao ano, ou seja, acima da média europeia, indicando que o Brasil veio ganhando participação de mercado como fornecedor para a UE. Concorrentes brasileiros que estão estabelecendo ou já estabeleceram acordos bilaterais com a UE, por sua vez, cresceram, na maioria dos casos, mais do que o Brasil. As taxas de crescimento de 2000 a 2008 foram, ao ano, de 31% para China, 20% para a Índia e 22% para o Chile.
Outro dado interessante é, por força da crise, a queda no valor exportado de 2008 a 2009. As exportações brasileiras caíram 27%, indicando que o Brasil manteve participação de mercado em 2009, ao passo que as da China caíram 19% e as da Índia, 8%, ou seja, ambos ganharam participação de mercado. Apenas o Chile caiu mais que o Brasil (41%).
Outro bloco de países que chama a atenção é o da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean). Analisando os dados de Malásia e Tailândia, observa-se que o crescimento das exportações de 2000 a 2008 ocorreu a uma taxa menor, embora similar, que a do Brasil, mas a queda de 2008 a 2009 foi também inferior à queda enfrentada pelo País.
A UE está avançando nas negociações bilaterais com Índia, países da Asean e Mercosul. A UE já tem um acordo de livre-comércio com o Chile e está estreitando laços de comércio e de investimento com esse país, embora nenhuma negociação de acordo bilateral tenha sido lançada.
A competição entre esses países pelo mercado europeu, portanto, está posta na mesa de negociação. Num mercado pouco dinâmico, mas muito importante, como o europeu - basta ver que as exportações dos principais produtos agrícolas para a UE têm sido constantes nos últimos anos -, serão os acordos de comércio que ditarão o futuro da inserção dos produtos estrangeiros no bloco.
Se o Brasil pretende manter suas posições conquistadas a duras penas no mercado europeu, lembrando que exportar requer esforços adicionais quando a economia é forte e o câmbio é livre, um acordo bilateral com a UE não é uma escolha. É uma obrigação. O Itamaraty parece ter entendido essa lição muito bem. E o setor privado, será que também entendeu?
DIRETOR-GERAL DO ICONE.

FERNANDO RODRIGUES

O PT  sem Lula
FERNANDO RODRIGUES

FOLHA DE SÃO PAULO - 15/12/10
BRASÍLIA - O PT apresentou ontem a "avant-première" de como será sua vida sem Lula. Os deputados da legenda se engalfinharam para escolher o candidato a presidente da Câmara. Racharam. Feridas foram abertas. São grandes. Não cicatrizarão tão cedo.
Esse filme já passou em 2005. Naquele ano, o PT viveu uma cizânia interna. Mais de um petista queria presidir a Câmara. Acabou vencendo Severino Cavalcanti, filiado ao PP e representante do chamado baixo clero, o grupo sem expressão política no Legislativo.
Após 2005, Lula resolveu exercer o comando com mão de ferro. Ordenou aos petistas que fizessem um acordo com o PMDB para haver um rodízio no comando da Câmara. Humilhou seus companheiros impondo à legenda dar apoio a José Sarney quando o senador pelo Amapá era acusado de malfeitos em série. Tudo isso é história.
Sem Lula à frente, várias correntes petistas se movimentam para herdar o maior naco do espólio do já quase ex-presidente.
A lógica agora seria o líder do governo Lula na Câmara, o paulista Cândido Vaccarezza, ser escolhido pelo PT para presidir a Casa. Foi patrolado pelas forças contrárias ao paulicentrismo da sigla.
O nome petista para ocupar o terceiro cargo na hierarquia da República será o de Marco Maia, do Rio Grande do Sul e ainda pouco conhecido do grande público. Teve ao seu lado o governador gaúcho eleito, Tarso Genro -no passado, adversário de Dilma Rousseff.
Os petistas mineiros também deram seu troco. Nunca engoliram a forma como Lula os obrigou a não ter candidato a governador neste ano. Hoje, comemoravam a vitória sobre Vaccarezza.
É cedo para saber como será, de fato, o desempenho do PT sem Lula daqui para a frente. Mas o aperitivo de ontem indica muita discórdia. Mesmo sem ter ainda assumido, Dilma Rousseff sofreu seu primeiro revés no Congresso.