O GLOBO - 17/10
Dilma dedicou o último fim de semana ao neto Gabriel e, acredite, a pescar no Lago Paranoá.
Segue...
A presidente contou a Sérgio Cabral que pescou "um baita tambaqui”
E almoçou o peixão.
‘Ça vais bien?’
Nicolas Sarkozy, o ex-presidente francês, desembarca segunda agora em Brasília para visitar Dilma.
Aliás...
Dilma tem se saído bem ao se expressar em francês.
Alexandra in Rio
Segunda, na noite de jazz do Londra, o bar do Hotel Fasano, em Ipanema, no Rio, quem apareceu de surpresa foi... Alexandra Burke, a festejada cantora britânica de 24 anos, vencedora do programa "X Factor UK” da terra da rainha.
Um burburinho se formou, e Alexandra cedeu aos pedidos para uma canja. Cantou "Natural woman” de Aretha Franklin.
E mais...
Muito simpática, Alexandra ainda puxou "parabéns” para uma aniversariante e tirou foto com fãs.
É uma brasa, mora?
O Rei Roberto Carlos tem circulado com seu Lamborghini pelas ruas da Urca, no Rio, acompanhado de uma bela morena.
Lá vai a noiva
Eduardo Modiano, ex-presidente do BNDES, e a estilista Andréa Saletto vão se casar dia 27 agora em cerimônia no Rio para poucos convidados. Que sejam felizes.
SUELEN VAI DEIXAR SAUDADE
Isis Valverde, a linda atriz mineira de 25 anos, faz, nos bastidores do Projac, uma de suas últimas poses como a sapeca Suelen de “Avenida Brasil”. A toda bela já se despede de sua personagem na novela-sensação da TV Globo. Vê-la com este figurino, pena, é só até sábado. Depois, Isis começará a gravar a microssérie “O canto da sereia”, baseada na obra de Nelson Motta, na qual será a protagonista.
Xuxa x Universal
A 6? Vara Cível da Barra, no Rio, condenou a Igreja Universal a indenizar Xuxa em R$ 150 mil por ter publicado na "Folha Universal” que a apresentadora teria "pacto com o demônio”
Além disso, o jornal terá de publicar um desmentido e afirmar que Xuxa "tem profunda fé em Deus e respeita todas as religiões”
O petróleo é nossoA Grande Rio, cujo enredo de 2013 é sobre a polêmica dos royalties do petróleo, foi autorizada pelo MinC a captar R$ 5.202.900 para seu desfile.
Cegonha
É uma menina o bebê de Maria Rita e Davi Moraes. Que sejam felizes.
Samba do avião
Mais uma vez, os países que mais mandaram turistas ao Brasil, em 2011, foram Argentina e EUA. Dos cerca de 5,4 milhões de estrangeiros, 29% vieram do vizinho sul-americano, e 11% da terra de Obama.
O Rio segue como o principal destino (26,7%). Os dados são de pesquisa que o Ministério do Turismo divulga hoje.
Oi, oi, oiEstá aberta a temporada das paradas gays, o casamento homoafetivo é realidade, mas, até no mundo GLBT, só se fala em... "Avenida Brasil’!
A sauna Carioca, só para homens, no Catete, no Rio, vai exibir, sexta, o último capítulo da novela-sensação da TV Globo, numa promoção (veja o cartaz) em que dará aos frequentadores... guaraná e pipoca. Ah, bom!
Aliás...
O Brasil se prepara para o último capítulo da novela.
Para não ficar vazio, o São Gonçalo Shopping, por exemplo, vai pôr telão na praça de alimentação. O bar Beer Soccer Club, em Caxias, além de seis telões, terá o bolão "Quem matou Max?” A mesa que acertar ganhará uma rodada de chope.
Banco de arte
O MNBA, no Rio, em parceria com a Biblioteca Nacional, vai digitalizar seu acervo. A primeira leva inclui a coleção de Grandjean de Montigny, de 1816.
Calma, gente
Mais um capítulo do episódio do carro rebocado no Jardim Pernambuco, no Leblon, motivo de nota aqui ontem.
O morador Cláudio Kligerman diz ter chamado a Guarda Municipal porque "o bico do carro” da empresária Andréa Braga (que registrou queixa na 14? DP) impedia, há três dias, a saída de sua garagem. O reboque foi acionado pelos guardas e não por Kligerman.
Xampu da madame
As lojas vips da Shampoo Cosméticos em Ipanema e na Barra vão fechar.
quarta-feira, outubro 17, 2012
Torcida ou mistificação - ALEXANDRE SCHWARTSMAN
FOLHA DE SP - 17/10
A motivação quase sempre tem caráter geográfico: ou a teoria econômica vira de ponta-cabeça quando cruza a linha do Equador ou deixa de funcionar dentro das fronteiras brasileiras, talvez por conta da malemolência nacional, mas mais provavelmente porque aqui frequentemente se inventa de justificar o injustificável.
Na semana passada, por exemplo, quem se deu ao trabalho de ler a entrevista do secretário-executivo do Ministério da Fazenda há de ter deparado com sua afirmação de que a aceleração do crescimento contribuiria para a redução da inflação, pois a produtividade seria "pró-cíclica", isto é, aumentaria quando a economia cresce e cairia nos períodos de menor expansão.
Tal afirmação é curiosa porque, se verdadeira, significaria que a política monetária adotada por bancos centrais do mundo todo (inclusive o brasileiro, quando ainda se importava em atingir a meta para a inflação) teria sido contraproducente. E mais intrigante ainda porque, mesmo seguindo uma suposta política contraproducente, tais BCs ainda teriam conseguido a proeza de estabilizar a inflação!
De fato, se alguém tivesse que resumir como os BCs que tiveram sucesso ao lidar com o problema inflacionário se comportam, a regra seria simples: eleve a taxa de juros quando a inflação ameaça subir além da meta (um tanto a mais do que o aumento da inflação esperada) e faça o contrário quando a inflação cair abaixo da meta. Em outras palavras, pise no freio quando a inflação sobe e no acelerador quando cai.
O motivo por trás desse comportamento é cristalino: há evidências fortes de que, à medida que o produto (e o emprego) ultrapassa determinados patamares, o crescimento do salário tende a ser maior que o crescimento da produtividade, pressionando os preços.
Em números, se cada trabalhador produz 5% a mais, mas seu salário aumenta 10%, cada unidade produzida ficará cerca de 5% mais cara.
Com a economia aquecida, esses custos são passados para o consumidor, em particular nos segmentos menos sujeitos à concorrência com produtos internacionais, tipicamente os serviços, que, não por acaso, têm sido o principal foco de pressão inflacionária no país.
Dito de outra forma, quando a economia cresce, a menos que saia de uma situação em que o desemprego seja tão elevado que os salários não subam, a inflação se acelera. Não é por outro motivo que BCs bem-sucedidos no quesito inflacionário apresentam o comportamento acima resumido.
Agindo dessa forma, retiram o combustível que alimenta o fogo inflacionário quando a economia se aquece e o injetam de volta quando a temperatura cai abaixo daquela definida como ideal.
No caso brasileiro, em particular, salários vêm crescendo ao ritmo de 8% a 10% ao ano, na comparação ao mesmo período do ano passado, refletindo um mercado de trabalho já apertado, como expresso na menor taxa de desemprego dos últimos anos, em torno de 5,5%, segundo o IBGE.
Como argumentei na minha coluna anterior, contudo, se o crescimento se acelerar, digamos, para os níveis de 4% a 4,5%, como almejado pela equipe econômica, o desemprego deve se reduzir adicionalmente, provavelmente para um patamar da ordem de 3,5% no ano que vem. Não é necessário grande esforço de imaginação para concluir que, em face do aperto adicional do mercado de trabalho, o crescimento dos salários será ainda mais rápido do que hoje.
À luz disso, o crescimento da produtividade teria que ser astronômico para evitar que isso se traduzisse em novas pressões sobre custos e preços. Não há nenhum fiapo de evidência sugerindo que isso seja possível. A historinha do crescimento "pró-cíclico" da produtividade segurando a inflação é, portanto, torcida ou mistificação. Em qualquer caso, não é base para formulação de política econômica.
Na real - SONIA RACY
O ESTADÃO - 17/10
E mais: “Não é só preço, estão atrás de custo-benefício”.
Outro lado
Em pelo menos uma coisa a turma de Abilio Diniz e a de Jean-Charles Naouri concordam. Consideram descabido o pedido da família Klein de rever a relação de troca de ações entre Globex e Casas Bahia.
Consideram isso “justus esperniandis”, reação à saída de Raphael Klein do cargo de diretor presidente da Globex. Seu mandato vence em novembro e não será renovado.
OAB, uai!
No interior de SP, segundo Luiz Flávio D’Urso, Marcos da Costa, candidato da situação à presidência da OAB paulista, domina. Das 224 subseções, recebeu apoio de 220.
Pente fino
Serra escalou Aloysio Nunes para mergulhar no programa de governo de Haddad– a fim de desconstruí-lo. “Percorri o calhamaço como quem atravessa um oceano com água pelas canelas. É o suprassumo do lugar comum”, afirmou o senador no lançamento do programa tucano, segunda.
Entre os pontos de embate, Serra desenterrará as escolas de lata, dizendo que o rival investiu em… universidades de lata.
Skindô
Ana Estela Haddad promete conferir a apresentação das fantasias da Nenê de Vila Matilde, dia 20. Depois de ter caído no samba na quadra da Vai-Vai.
A mulher de Haddad também tem feito o ‘tour’ das cantinas.
Ouvidos abertos
Serão 200 minicomícios na campanha de Serra. Cinco carros de som estão percorrendo a capital, com palanqueiros e panfletários – promovendo discursos centrados na ética.
Mãozinha
Além de batalhar pelo eleitorado da periferia de SP que não votou em Haddad no primeiro turno, o PT trabalha para abocanhar os eleitores da região central. Para isso, conta com a ajuda de Chalita.
Repaginada
A Galeria Emma Thomas ganha casa nova. Abre, dia 20, espaço na Rua Estados Unidos, com projeto assinado por Marcelo Alvarenga e Felipe Hess.
E exposição de Nazareno.
Tipo exportação
Sai nova versão – produzida por Richard Branson e narrada por Morgan Freeman– do filme Quebrando o Tabu, cujo mote central é FHC defendendo a descriminalização da maconha. No fim do ano, em NY e Londres.
Eleito
Sebastião Salgado acaba de ganhar o prêmio Personalidade Ambiental, da WWF. A ser entregue em dezembro.
#oioioi
Zélia Duncan postou no Twitter reprodução do flyer de seu espetáculo Totatiando, em Belo Horizonte: “Deixem Carminha pro dia seguinte… Ou eu!”
#oioioi 2
A cantora acompanhou atentamente a trama. “A partir de um certo ponto, virou uma paranoia para mim”, contou Zélia à coluna. “As pessoas terão de criar grupos e arranjar outras coisas para fazer nesse horário, senão vai haver uma depressão coletiva”, brinca.
#oioioi 3
E quem está com tudo no Facebook é Zezé. Página inspirada na empregada da mansão do Divino, com pegada humorística, já tem mais de… 260 mil curtidas.
Na frente
Michel Temer desembarca hoje em Corumbá, Mato Grosso do Sul, para lançar a sexta etapa da Operação Ágata. Já foram apreendidas 227 toneladas de drogas – 23 caminhões cheios.
Ana Diniz, do Anacã, lança companhia de dança própria. Buscando também patronos que queiram “adotar” novos bailarinos. Hoje, com coquetel em sua sede.
Alberto Toron lança sua candidatura à presidência da OAB-SP. Amanhã, na Casa de Portugal.
A Casa, de Renatinha Mellão, abre hoje exposição dos finalistas do Prêmio do Objeto Brasileiro.
Tedd Albuquerque lança autobiografia. Hoje, na Praça Benedito Calixto.
Kérastase e Wanderley Nunes fazem almoço, dia 22, para apresentar novidades.
A T4F está concorrendo ao Billboard Touring Awards, prêmio de showbusiness. Em duas categorias: Top Promoter e Top Independent Promoter.
Ufa! Luis Fabiano, um dos artilheiros do Brasileirão, assistiu, pela primeira vez, ao parto de uma filha sua. Giulie passa bem, obrigado.
Irresistivelmente péssimo - MARCELO COELHO
FOLHA DE SP - 17/10
Na linha do quanto pior melhor, faz sucesso na internet uma série de vídeos com o humorista Marcos Castro. Chama-se “Cantadas Ruins”, e há muitos capítulos disponíveis no YouTube.
O rapaz, encardidinho e incansável, se aproxima da atriz, que não é estonteante.
“Vem cá”, começa, num sotaque radiosamente carioca. “Teu pai é mecânico?” A moça estranha; ele continua: “Porque você é uma graxinha”.
Péssima? Espere a seguinte. “Tu é uma egoísta, hein?” Sempre a postos, Luciana Daulizio quer saber por que ele diz isso. “Tu acabou com o estoque de beleza do céu.”
Bem, digamos que não justifica um tapa na cara. Vou para a seguinte. “E aí, tu não é feita de terra. Mas o minhocão quer te comer.” Sai um bofetão.
Há uma divisão básica entre as cantadas do Marcos. De um lado, as melosas, românticas, infantiloides. De outro, as que são puro insulto. Umas provocam vontade de vomitar; outras, o clássico tabefe.
Muitas coisas, de qualquer modo, hipnotizam o espectador. Quanto a mim, move-me a expectativa infantil de que surja uma cantada razoavelmente boa; talvez a definitiva, a infalível, aquela que, um dia, dará certo…
Nem todas são desastrosas; conforme a situação, quem sabe depois de umas três caipirinhas, a moça haverá de se render ao garanhão que está teclando num celular imaginário (é o começo da cantada).
“Alô? Deus? Não está notando a falta de nada aí em cima?” Um silêncio intrigado por parte da vítima. “É que caiu um anjo do céu…”
Ou: “Vem cá, tu tem irmã gêmea? Não? Então com certeza você é a mulher mais bonita do mundo…” Imagino, silenciosa, a risada calhorda: “he, he, he”.
Argh! Mas que delícia! Evidentemente, o aspirante a conquistador que assistir a esses vídeos estará fazendo um curso de boas maneiras, e aprendendo a eliminar todas as possíveis cretinices que diria diante de uma bela mulher.
Cheguei tarde a esses vídeos, mas em todo caso observo que o contrário também pode ser verdadeiro.
Ou seja: as atividades incontroláveis de Marcos Castro estariam encenando, na verdade, a nostalgia do velho e bom cafajestão de bar. O homem que se acha lindo com sua corrente de ouro no pescoço e a fita de Agnaldo Timóteo no Opala rebaixado.
Não, nenhuma mulher civilizada sente falta de tipos assim. Mas vai saber. Antigas práticas sexuais tidas como perversas vão rapidamente passando para o “mainstream”, e o livro “Cinquenta Tons de Cinza” se vende aos baldes por aí.
Pode ser mais chocante e perverso, hoje em dia, excitar-se com Waldick Soriano do que com o marquês de Sade.
Mesmo sem chegar a tais extremos, o pateta das “Cantadas Ruins” tem seus méritos.
O primeiro é que, indubitavelmente, demonstra mais interesse na mulher do que nele mesmo. Sabe-se feioso, com seu nariz adunco, olhos demasiado próximos, o rosto inteiro convergindo para seu objeto de desejo.
Não é do tipo que se admira no espelho depois de malhar na academia. Não tem —e este é um pressuposto do conquistador— nenhum tipo de amor próprio; vai em frente, até o abismo da inconveniência, da burrice.
É um otimista, não porque espere sucesso em sua cantada, mas porque sabe que seu desejo é o que tem de melhor. Tudo não passa de pretexto: a metáfora cachorra, o beicinho manhoso, o disparate angélico.
Um apostador compulsivo pode ou não se importar com os números que escolhe na cartela. Talvez os mesmos, aqueles que sempre lhe dão sorte; talvez meia dúzia de números quaisquer. O que importa é apostar.
Sem dúvida, quanto mais bizarra e sem propósito a cantada, mais a mulher imaginará, por sua vez, que ela própria está apenas no lugar de outra qualquer.
A sem-cerimônia pode ser, ainda assim, uma promessa de autêntico interesse sexual masculino, coisa que, segundo alguns testemunhos, anda fazendo falta hoje em dia.
Certamente, o tipo clássico da histérica está atrás de quem a deseje, mas não de um relacionamento real. O problema é que, atualmente, a histeria (e a vaidade) também se tornaram atributos predominantemente masculinos.
O herói das cantadas ruins não padece de tais defeitos.
As personagens menos vaidosas do julgamento do mensalão são as ministras. Quanto à contraparte masculina, não perde a chance de irradiar sua presença em longos apartes para as câmeras. Dizem até que já estão recebendo cantadas de mulheres quando andam pela rua.
Na linha do quanto pior melhor, faz sucesso na internet uma série de vídeos com o humorista Marcos Castro. Chama-se “Cantadas Ruins”, e há muitos capítulos disponíveis no YouTube.
O rapaz, encardidinho e incansável, se aproxima da atriz, que não é estonteante.
“Vem cá”, começa, num sotaque radiosamente carioca. “Teu pai é mecânico?” A moça estranha; ele continua: “Porque você é uma graxinha”.
Péssima? Espere a seguinte. “Tu é uma egoísta, hein?” Sempre a postos, Luciana Daulizio quer saber por que ele diz isso. “Tu acabou com o estoque de beleza do céu.”
Bem, digamos que não justifica um tapa na cara. Vou para a seguinte. “E aí, tu não é feita de terra. Mas o minhocão quer te comer.” Sai um bofetão.
Há uma divisão básica entre as cantadas do Marcos. De um lado, as melosas, românticas, infantiloides. De outro, as que são puro insulto. Umas provocam vontade de vomitar; outras, o clássico tabefe.
Muitas coisas, de qualquer modo, hipnotizam o espectador. Quanto a mim, move-me a expectativa infantil de que surja uma cantada razoavelmente boa; talvez a definitiva, a infalível, aquela que, um dia, dará certo…
Nem todas são desastrosas; conforme a situação, quem sabe depois de umas três caipirinhas, a moça haverá de se render ao garanhão que está teclando num celular imaginário (é o começo da cantada).
“Alô? Deus? Não está notando a falta de nada aí em cima?” Um silêncio intrigado por parte da vítima. “É que caiu um anjo do céu…”
Ou: “Vem cá, tu tem irmã gêmea? Não? Então com certeza você é a mulher mais bonita do mundo…” Imagino, silenciosa, a risada calhorda: “he, he, he”.
Argh! Mas que delícia! Evidentemente, o aspirante a conquistador que assistir a esses vídeos estará fazendo um curso de boas maneiras, e aprendendo a eliminar todas as possíveis cretinices que diria diante de uma bela mulher.
Cheguei tarde a esses vídeos, mas em todo caso observo que o contrário também pode ser verdadeiro.
Ou seja: as atividades incontroláveis de Marcos Castro estariam encenando, na verdade, a nostalgia do velho e bom cafajestão de bar. O homem que se acha lindo com sua corrente de ouro no pescoço e a fita de Agnaldo Timóteo no Opala rebaixado.
Não, nenhuma mulher civilizada sente falta de tipos assim. Mas vai saber. Antigas práticas sexuais tidas como perversas vão rapidamente passando para o “mainstream”, e o livro “Cinquenta Tons de Cinza” se vende aos baldes por aí.
Pode ser mais chocante e perverso, hoje em dia, excitar-se com Waldick Soriano do que com o marquês de Sade.
Mesmo sem chegar a tais extremos, o pateta das “Cantadas Ruins” tem seus méritos.
O primeiro é que, indubitavelmente, demonstra mais interesse na mulher do que nele mesmo. Sabe-se feioso, com seu nariz adunco, olhos demasiado próximos, o rosto inteiro convergindo para seu objeto de desejo.
Não é do tipo que se admira no espelho depois de malhar na academia. Não tem —e este é um pressuposto do conquistador— nenhum tipo de amor próprio; vai em frente, até o abismo da inconveniência, da burrice.
É um otimista, não porque espere sucesso em sua cantada, mas porque sabe que seu desejo é o que tem de melhor. Tudo não passa de pretexto: a metáfora cachorra, o beicinho manhoso, o disparate angélico.
Um apostador compulsivo pode ou não se importar com os números que escolhe na cartela. Talvez os mesmos, aqueles que sempre lhe dão sorte; talvez meia dúzia de números quaisquer. O que importa é apostar.
Sem dúvida, quanto mais bizarra e sem propósito a cantada, mais a mulher imaginará, por sua vez, que ela própria está apenas no lugar de outra qualquer.
A sem-cerimônia pode ser, ainda assim, uma promessa de autêntico interesse sexual masculino, coisa que, segundo alguns testemunhos, anda fazendo falta hoje em dia.
Certamente, o tipo clássico da histérica está atrás de quem a deseje, mas não de um relacionamento real. O problema é que, atualmente, a histeria (e a vaidade) também se tornaram atributos predominantemente masculinos.
O herói das cantadas ruins não padece de tais defeitos.
As personagens menos vaidosas do julgamento do mensalão são as ministras. Quanto à contraparte masculina, não perde a chance de irradiar sua presença em longos apartes para as câmeras. Dizem até que já estão recebendo cantadas de mulheres quando andam pela rua.
Simples - MARTHA MEDEIROS
ZERO HORA - 17/10
“Afugento qualquer pretensão filosófica que dificulte o trato com as coisas simples.” Quando li essa frase de Nélida Piñon, tive vontade de ampliá-la, imprimi-la e pendurá-la na parede, só não o fiz porque não seria preciso: trago esse conceito já aderido na pele e na alma.
Talvez por isso tenha gostado tanto do novo livro do David Coimbra, Uma História do Mundo, que poderia ser considerado um projeto ambicioso, não fosse o David um homem consciente do tempo em que vive: quem, hoje, consegue dedicar-se a calhamaços com milhares de páginas? A vida exige dinamismo. David conseguiu apresentar um panorama histórico desde o neandertal até o início da civilização moderna em 260 páginas.
E, nessas 260 páginas, além de traduzir informações sérias para uma linguagem divertida, ele conecta passado e presente utilizando trechos de Marcel Proust, Charles Bukowski e Mario Quintana, e ainda faz graça ao explicar de onde veio o nome da banda Jethro Tull. David é pop. A história do mundo também pode ser. Como?
Simples.
A simplicidade é a principal porta de entrada para a sabedoria. Dois, três degraus, e a pessoa está dentro. Uma vez seduzida, ela então irá decidir se deseja se aprofundar no assunto, e aí, lógico, irá buscar novos acessos que a façam imergir no que lhe interessa, e a viagem se tornará ainda mais excitante e talvez ininterrupta, mas o que a faz iniciar esse percurso rumo ao conhecimento é a curiosidade, a atração e a identificação com um linguajar que estabelece uma agradável comunicação.
O professor Cláudio Moreno faz o mesmo com suas crônicas sobre a Grécia Antiga. Alain de Botton elimina ao menos seis cabeças do monstro de sete que sempre foi a filosofia. Paulo Leminsky e demais poetas da geração anos 80 demonstraram que poesia não precisava ser necessariamente chata e incompreensível. A simplicidade sempre foi um dom, apesar de levantar suspeitas.
Os impressionistas (Van Gogh, Monet, Cézanne, entre outros) foram inicialmente desprezados pelos críticos da época. As primeiras exposições desses artistas que hoje são considerados gênios se deram no “Salão dos Recusados”. Os impressionistas eram assim denominados porque pintavam a impressão em detrimento do detalhe. E toda impressão pode ser rapidamente confundida com impostura.
A simplicidade concentra a verdade das coisas – não toda a verdade, mas o seu núcleo, um ponto de partida universal, de onde tudo poderá se tornar mais abrangente, grandiloquente e complexo, à escolha do freguês.
Segundo o filósofo e escritor Eduardo Gianetti, muita gente só se impressiona com o que não entende bem. Já a simplicidade é direta, translúcida e estabelece rápida conexão. Para desconsolo dos herméticos.
“Afugento qualquer pretensão filosófica que dificulte o trato com as coisas simples.” Quando li essa frase de Nélida Piñon, tive vontade de ampliá-la, imprimi-la e pendurá-la na parede, só não o fiz porque não seria preciso: trago esse conceito já aderido na pele e na alma.
Talvez por isso tenha gostado tanto do novo livro do David Coimbra, Uma História do Mundo, que poderia ser considerado um projeto ambicioso, não fosse o David um homem consciente do tempo em que vive: quem, hoje, consegue dedicar-se a calhamaços com milhares de páginas? A vida exige dinamismo. David conseguiu apresentar um panorama histórico desde o neandertal até o início da civilização moderna em 260 páginas.
E, nessas 260 páginas, além de traduzir informações sérias para uma linguagem divertida, ele conecta passado e presente utilizando trechos de Marcel Proust, Charles Bukowski e Mario Quintana, e ainda faz graça ao explicar de onde veio o nome da banda Jethro Tull. David é pop. A história do mundo também pode ser. Como?
Simples.
A simplicidade é a principal porta de entrada para a sabedoria. Dois, três degraus, e a pessoa está dentro. Uma vez seduzida, ela então irá decidir se deseja se aprofundar no assunto, e aí, lógico, irá buscar novos acessos que a façam imergir no que lhe interessa, e a viagem se tornará ainda mais excitante e talvez ininterrupta, mas o que a faz iniciar esse percurso rumo ao conhecimento é a curiosidade, a atração e a identificação com um linguajar que estabelece uma agradável comunicação.
O professor Cláudio Moreno faz o mesmo com suas crônicas sobre a Grécia Antiga. Alain de Botton elimina ao menos seis cabeças do monstro de sete que sempre foi a filosofia. Paulo Leminsky e demais poetas da geração anos 80 demonstraram que poesia não precisava ser necessariamente chata e incompreensível. A simplicidade sempre foi um dom, apesar de levantar suspeitas.
Os impressionistas (Van Gogh, Monet, Cézanne, entre outros) foram inicialmente desprezados pelos críticos da época. As primeiras exposições desses artistas que hoje são considerados gênios se deram no “Salão dos Recusados”. Os impressionistas eram assim denominados porque pintavam a impressão em detrimento do detalhe. E toda impressão pode ser rapidamente confundida com impostura.
A simplicidade concentra a verdade das coisas – não toda a verdade, mas o seu núcleo, um ponto de partida universal, de onde tudo poderá se tornar mais abrangente, grandiloquente e complexo, à escolha do freguês.
Segundo o filósofo e escritor Eduardo Gianetti, muita gente só se impressiona com o que não entende bem. Já a simplicidade é direta, translúcida e estabelece rápida conexão. Para desconsolo dos herméticos.
Perguntar não ofende na sabatina a ministro no Senado - JOAQUIM FALCÃO
FOLHA DE SP - 17/10
Como saber se o candidato indicado pela Presidência da República é um bom nome para o Supremo Tribunal Federal ou não? É a pergunta que se faz hoje aos senadores diante de Teori Zavascki.
Para respondê-la, é necessária muita informação sobre o candidato. De sua vida pessoal à sua vida profissional.
Alguns países tornam públicas, com antecedência, todas as informações sobre o candidato para que possam ser verificadas e avaliadas. Aqui, não. As informações são dirigidas aos senadores.
Em outros países, associações profissionais jurídicas têm função ativa. Em nossa tradição, a OAB tem sido ausente nesta coleta de dados.
Não precisaria ter mandato oficial para avaliar as candidaturas, dizem muitos advogados. Citam a Constituição, que diz que o advogado é essencial à administração da justiça. Não se trata da OAB opinar, mas de trabalho maior e mais sistemático de informar a opinião pública.
Quais as informações relevantes? Todas que digam respeito à imparcialidade do candidato. É comum no Senado dos EUA se perguntar: em que situações o senhor se julgaria suspeito de participar de um julgamento? Perguntas nessa linha em sabatinas anteriores foram tomadas quase como ofensa pessoal, ou suspeita indevida.
Ocorre que há situações em que o ministro se sente constrangido a votar, sem que o reconhecimento desta possibilidade seja uma acusação.
Exemplo: diante de uma das partes com a qual pudesse ter alguma ligação mais profissional ou emocional. Ou diante de julgamentos envolvendo questões que já analisou de alguma forma, como nos casos sobre planos econômicos que vêm por aí.
Trata-se de algo muito maior do que adivinhar a posição do ministro. Trata-se de avaliar como o candidato entende a imparcialidade do julgar. A imparcialidade do ministro fundamenta a independência do Judiciário.
A sabatina é o momento de o Senado afastar o fantasma de que a lealdade do ministro para com uma causa, uma política pública, uma corporação ou um partido seja maior do que para com a independência do Judiciário.
Como o Senado pode assegurar a todos que o candidato é adequado?
Emergente, mas muito caro - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S.Paulo - 17/10
A economia é grande, o país é emergente, mas os custos são de país desenvolvido, parecidos com os europeus e muito próximos dos americanos. Essa combinação, desastrosa quando é preciso enfrentar exportadores dinâmicos em mercados cada vez mais disputados, caracteriza o Brasil e é hoje reconhecida até pelo governo. Ainda assim, há novidades importantes num relatório recém-publicado pela empresa de consultoria KPMG e destinado a orientar decisões de investimento internacional. O estudo apresenta comparações de custos de 14 países, confrontando as condições de produção de 12 indústrias e 7 tipos de operações (como pesquisa, desenho de software e serviços de apoio). A análise chega até o nível de cidades, porque os custos podem variar de forma relevante dentro de um mesmo país.
Os EUA são o ponto de referência de todas as comparações. No resultado geral, os custos brasileiros são 7% menores que os americanos. A posição é pouco mais vantajosa que as de outros países desenvolvidos e muito menos favorável que as dos outros emergentes incluídos na mostra. Na Rússia, o conjunto dos custos é 19,7% menor que nos EUA; no México, 21%; na Índia, 25,3%; e na China, 25,8%.
O câmbio pode ter alguma influência, mas os principais fatores são outros. O texto destaca, de início, o peso dos salários e dos tributos diretos e indiretos. A desvantagem brasileira é especialmente notável no caso da tributação, 42,6% mais pesada que a dos EUA.
Três países desenvolvidos têm uma carga inferior à americana, com vantagem de 22,8% para a Holanda, 26,7% para o Reino Unido e 40,9% para o Canadá. Os demais emergentes estão bem nesse quesito. A Rússia aparece com impostos 28,3% mais leves que os dos EUA. A tributação é 36,4% menor no México, 40,3% na China e 50,3% na Índia.
A presidente Dilma Rousseff e o ministro da Fazenda já admitem a importância de redução da carga, mas ainda rejeitam a ideia de uma reforma ampla. Preferem concessões setoriais, em alguns casos transitórias, insuficientes, em todo caso, para tornar mais racional o sistema.
Há, no entanto, um avanço. O presidente Lula mandou ao Congresso um projeto de reforma, no começo do primeiro mandato. A proposta nunca foi integralmente aprovada e, além disso, o presidente nunca se esforçou de fato para aliviar a tributação. Foi quase sempre um defensor aberto da carga de impostos, complemento de sua concepção de Estado. Esse Estado, por ele descrito como forte, é na realidade apenas balofo e ineficiente, mas como sustentar o empreguismo e o populismo sem escorchar a parte produtiva da sociedade?
Para o conjunto das manufaturas, os custos brasileiros são em média 6,6% menores que os americanos. Austrália e Japão têm custos maiores, 3,2% e 6,7%, respectivamente. Os da Alemanha empatam com os dos EUA. Itália, Canadá, França, Holanda e Reino Unido têm produção mais barata, com vantagens na faixa de 2,8% a 5,1%. A posição brasileira, portanto, é pouco melhor que as desses países. Os custos do Brasil são muito próximos, na indústria manufatureira, dos de países desenvolvidos. Mas são muito mais altos que os dos emergentes. Na comparação com o padrão americano, a vantagem é de 15,4% para a Rússia, 15,6% para o México, 18,7% para a Índia e 21,1% para a China.
Os números variam em torno dessas médias, quando se examinam separadamente os vários setores (automobilístico, aeroespacial, agroalimentar, eletrônico, metalúrgico e químico, entre outros), mas, de modo geral, a posição brasileira é muito menos favorável que as dos demais emergentes. Mesmo no caso da indústria agroalimentar, a posição do Brasil só é melhor que as dos desenvolvidos da amostra.
Atraso sem fim - FERNANDO RODRIGUES
FOLHA DE SP - 17/10
O governo do PT está há dez anos no poder. Nesse período, quem viajou de avião algumas vezes sabe muito bem: a situação só piora.
Não vale o governo dizer que tudo se deve à emocionante ascensão de milhões de brasileiros à classe média. O diagnóstico é conhecido. O problema tem sido a incapacidade de ministrar o remédio necessário.
Viracopos ficou fechado por quase dois dias. Cerca de 25 mil passageiros sofreram com o cancelamento de 500 voos no aeroporto de Campinas.
Outra grande prejudicada é a companhia aérea Azul, que opera sobretudo a partir de Viracopos. Terá de dar assistência aos passageiros prejudicados, ressarcir prejuízos, ajudar com hotéis e refeições. Sem contar o dano à imagem, pois quem pensar duas vezes agora tentará evitar a Azul -que não teve a menor responsabilidade no ocorrido.
Há dois culpados principais. Primeiro, a Centurion Cargo, cujo avião de pneu furado ficou no meio da pista. Segundo, o governo federal, que regula e comanda os aeroportos.
Viracopos só tem uma pista. Em emergências, precisaria de acesso rápido a equipamentos para remoção de obstáculos. Foram os casos dos colchões infláveis e dos caminhões com carrocerias em forma de pranchas usados para rebocar o avião nesta semana. Nada disso estava disponível no aeroporto campineiro.
Outro aspecto intrigante: como é possível um dos principais aeroportos do país operar com apenas uma pista? Haverá uma pista extra só em 2017, já sob a administração privada.
O Brasil é uma das maiores economias do planeta. Por que não se pode construir a pista nova em seis meses? Ou em um ano? Por que Lula (durante oito anos) e Dilma (já há quase dois anos no Planalto) não determinaram esse investimento de maneira emergencial para o país?
Não conheço respostas aceitáveis.
O teste de Dilma - DENISE ROTHENBURG
CORREIO BRAZILIENSE - 17/10
É fato que a briga municipal chegará quente em Brasília dentro de duas semanas, quando terminarem as eleições. Dos partidos da base, à exceção do PT que segue uníssono, os demais estão rachados. Além do PMDB, em litígio pelo direito à vaga de vice no mercado eleitoral futuro, e o PSB ensaiando uma carreira solo, vem agora o PDT evidenciando suas divergências. Com um certo atraso, o partido anunciou o apoio a Fernando Haddad em São Paulo seis dias depois de o ex-candidato a prefeito do partido Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força, fazer uma festa para se juntar ao candidato do PSDB, José Serra.
O desafio de Dilma será contornar essas divergências sem afetar seu governo ou o seu partido. A decisão de ontem do PDT foi recebida dentro do governo como um “preventivo” para que o partido não perca o Ministério do Trabalho, hoje sob o comando do deputado Brizola Neto (PDT-RJ), adversário do deputado Paulinho da Força. Este é o único ponto prático da medida. Afinal, o tempo de tevê dos finalistas no segundo turno é igual. Ou seja, a distribuição dos minutos concedidos a cada candidato não está vinculada à quantidade de partidos dentro da aliança. A decisão do diretório também não influencia no fato de a Força Sindical se dedicar à campanha do tucano, uma vez que a central já está nas ruas paulistanas fazendo campanha pró-Serra.
Por falar em influência…
Com a decisão de ontem, o PDT deixa claro que fez pelo menos o gesto. São Paulo é considerado um dos municípios emblemáticos para o Partido dos Trabalhadores. Não por acaso, Marta Suplicy virou ministra da Cultura. Portanto, no raciocínio de alguns políticos, assim como houve cessão de vaga na Esplanada para ajudar Haddad, pode haver a retirada de postos, se houver algum movimento em sentido contrário.
Dentro do Planalto, há a certeza de que os pedetistas aliados ao governo não têm motivos para se preocupar. Afinal, a ordem da reforma será evitar atritos e facilitar a conciliação da base, considerado o grande teste da presidente Dilma Rousseff. Afinal, o que ela deseja de verdade é paz para trabalhar.
Para isso, a reforma ministerial não será tão grande como pensam alguns. A principal tarefa nessa seara será acomodar o PSD do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, que, embora aliado de Serra em São Paulo, tem jogado ao lado do governo federal. Além disso, é esperado ainda um espaço para Gabriel Chalita (PMDB), considerado importantíssimo para a atual situação de Haddad nas pesquisas de intenção de voto. Não há outros grandes arranjos a serem feitos. O PSB de Eduardo Campos, por exemplo, tem duas pastas de peso, os ministérios da Integração Nacional e de Portos. E, até que se saiba o que deseja de verdade da vida, ficará por aí.
Por falar em PMDB…
Ministros palacianos não vão tirar espaço do PMDB de Michel Temer, considerado orgânico, para dar um lugar ao sol ao grupo do governador do Rio, Sérgio Cabral. Pelo menos, não assim, de bate pronto. Dentro do governo, sabe-se que quem tem o controle do diretório nacional do partido são o vice-presidente da República, Michel Temer; o presidente do Senado, José Sarney; e os líderes no Senado, Renan Calheiros, e na Câmara, Henrique Eduardo Alves. Não constam nesse grupo nem Cabral nem o prefeito do Rio, Eduardo Paes. O recado sobre quem é PMDB de fato foi dado com a solenidade para lembrar os 20 anos da morte de Ulysses Guimarães na última segunda-feira. Em várias oportunidades, foi repetida a frase “o verdadeiro PMDB está aqui para homenagear Ulysses”. Eduardo Paes e Sérgio Cabral não compareceram.
E na sala da presidente…
Dilma está ciente do grande desafio político que será acomodar a base aliada no pós-eleitoral. Mas, apesar de todos os problemas, ela também sabe que o segredo da sua recandidatura não está nessa seara e continua onde sempre esteve: na economia. Se a população estiver satisfeita com o seu governo, todas as confusões pós-eleição vão passar como uma chuva de verão. Portanto, a avaliação no Planalto é a de que enquanto os partidos estiverem interessados em cargos em seu governo, é sinal de que ela e Lula continuam bem na fita.
Sutileza - ANTONIO DELFIM NETTO
FOLHA DE SP - 17/10
Condorcet, nas "Cinq Mémoires sur l"Instruction" (de 1791), reconhece a diferença natural dos homens e assegura que são direitos naturais de todos a liberdade, a segurança, a propriedade e a igualdade.
Na primeira metade do século 18, não havia um sistema de instrução pública organizado e a educação era, geralmente, feita por meio de preceptores privados aos quais só podiam ter acesso as famílias mais abastadas. Aliás, Smith era de uma delas.
O sistema de instrução pública (pago para Smith e gratuito para Condorcet) seria o caminho para o gozo dos direitos naturais, aperfeiçoaria a humanidade e aumentaria a solidariedade social.
Há uma divergência entre o papel da educação para Smith e para Condorcet. Para este, "a instrução pública destina-se a aperfeiçoar a espécie humana". Não se trata de promover a igualdade absoluta, mas de dar a todos a oportunidade de participar do progresso da humanidade e da ampliação do conhecimento.
É curioso ele já advertir para os riscos de uma educação pública gratuita, ao dizer claramente que "é preciso proteger o saber e seus agentes de possíveis controles do poder, seja ele civil, político, religioso ou econômico".
Para Smith, que postula a igualdade dos cidadãos ao nascer, os hábitos, os costumes e a educação são fundamentais na explicação das desigualdades dos talentos e no comportamento moral dos indivíduos.
Ele chega a dar um exemplo: a diferença entre um "filósofo" e um trabalhador comum. "Quando eles vieram ao mundo e durante os primeiros sete ou oito anos de suas vidas, deveriam ser muito parecidos. Depois, incorporaram-se ao mundo de formas diversas. Isso ampliou, pouco a pouco, a diferença de talentos, até que ao final a semelhança entre eles é irreconhecível".
Notemos que, para Smith, a coisa é mais sutil. Potencialmente, a simples ampliação da instrução não é, necessariamente, uma condição do progresso da humanidade, porque o aprendizado do conhecimento e do saber fazer corresponde ao papel desempenhado pelo indivíduo na divisão do trabalho, que gera o crescimento da riqueza.
Para Smith, um papel importante da educação é o de anular os males sobre os humanos produzidos pela condição do progresso material que é a divisão do trabalho.
Um lustro de baixo crescimento - PAULO R. HADDAD
O ESTADÃO - 17/10
Geralmente, no último trimestre de cada ano, a opinião pública fica atenta ao que os diferentes meios de comunicação destacam como as perspectivas econômicas mais prováveis para o ano seguinte. Instituições e agentes econômicos apresentam os seus prognósticos sobre as principais variáveis macroeconômicas: a taxa de crescimento, a taxa de inflação, o nível de desemprego, o balanço de pagamentos, etc. No atual contexto da economia brasileira, trata-se de antecipar o futuro da crise que está nos envolvendo de maneira inequívoca e inexorável.
Dispõe-se, atualmente, de um amplo conjunto de roteiros metodológicos alternativos para a análise dos estados futuros de uma economia. Esses roteiros vão desde o tratamento do futuro como extrapolação do comportamento recente das variáveis econômicas até o tratamento do futuro como algo desconhecido ("cisnes negros") que estaria além dos atuais níveis de conhecimento e da experiência de analistas. Contudo, muito se aprendeu com as inúmeras crises econômicas que se seguiram no pós-2.ª Guerra Mundial, desde a depressão econômica de 1929.
Os roteiros metodológicos mais confiáveis apresentam os futuros a partir de cenários. Cenários não são projeções, mas mapas de possibilidades e opções particularmente úteis para contextos de rápidas mudanças e inflexões. Mal elaborados, podem levar a sérios erros de planejamento e a graves consequências sociais.
Muitas vezes, ao construir o cenário futuro de uma economia, as restrições e condicionalidades, internas e externas, que a ela se impõem acabam por se constituir num imperativo determinante de suas perspectivas imediatas e mediatas. Os graus de liberdade para formular e implementar políticas públicas se reduzem e "o que fazer" fica limitado apenas pelo "como fazer".
Esta parece ser a situação atual dos ventos dominantes sobre a economia brasileira: os limites do possível se encolheram. O governo federal dispõe de limitado nível de controle sobre uma política fiscal anticíclica de defesa dos níveis de emprego e de renda, por diversos motivos.
O seu nível de endividamento bruto cresceu muito, quando nele se incorpora o endividamento público indireto por meio dos repasses do Tesouro ao BNDES e às outras instituições financeiras federais. O grau de comprometimento e de vinculação das receitas do governo federal é muito acentuado com as despesas de pessoal e de custeio, com as políticas sociais compensatórias, com os serviços da dívida, etc. Daí os investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) estarem quase todos empacados em seus cronogramas físicos e financeiros.
Finalmente, a capacidade de gestão e de implementação da máquina administrativa do governo federal é precária, sitiada por processos de corrupção administrativa e por interesses velados. Mesmo quando a queda na taxa de juros dá um alívio nas despesas com os serviços da dívida, a avalanche das despesas correntes ocupa de prontidão os espaços de novos investimentos em infraestrutura econômica indiretamente produtivos.
Por outro lado, as restrições e condicionalidades do setor externo de nossa economia têm assumido um caráter dramático nos últimos meses. A crise internacional deixou de ser espacialmente localizada, para se tornar interdependente e consanguínea, levando ao desalento a maioria das economias nacionais, sem respeitar o seu padrão de estabilidade ou suas potencialidades de crescimento. Crises globais são mais dramáticas em termos de duração, amplitude e volatilidade do que os ciclos de negócios típicos do período pós-2.ª Guerra Mundial, tanto nas economias avançadas quanto nas economias emergentes. E crises bancárias internacionais muitas vezes resultam em ondas de moratórias nacionais poucos anos mais tarde.
Neste contexto, não seria exagero sugerir que o lustro que se estende até 2015 poderá ser de traumático baixo crescimento para a economia brasileira, contendo espasmos ocasionais de expansão de curta duração seguidos de instabilidades regressivas.
Sem começo ou meio - RUY CASTRO
FOLHA DE SP - 17/10
RIO DE JANEIRO - Há décadas tenho privado com alcoólatras em vários estágios de dependência. Todos resistentes a tratamento. Um deles nem admitia o assunto, mesmo quando os vômitos matinais de sangue já tornavam sua situação desesperadora. A eventualidade de uma internação, com a interrupção do fornecimento de bebida, lhe era intolerável. A alternativa podia ser a morte, mas ele não parecia com medo. A dependência é mais forte do que o medo da morte.
Quando se trata de álcool, a dependência leva anos para se instalar, durante os quais o bebedor tem tempo para constituir família, aprender um ofício e afirmar-se profissionalmente -até que a progressão da doença acabe com tudo. Às vezes, uma última centelha de consciência o faz procurar ajuda. Se esta vier a tempo, e o processo destrutivo for interrompido e controlado, a pessoa, com esforço e sorte, pode retomar sua vida e tentar devolvê-la ao que era antes de a dependência ter se instalado.
Anteontem, vi pela TV os dependentes de crack da favela do Jacarezinho, no Rio, ocupada pelos militares, sendo levados pelos assistentes sociais. A maioria, inconformada, pedalava o ar com as poucas forças que lhe restavam -ninguém queria sair do lixão onde morava.
No fim do dia, todos (exceto, por algum tempo, os menores) estavam de volta à cracolândia.
A ideia da internação compulsória para os dependentes de crack não deveria se confundir com as normas de internação para outros tipos de dependência. Ao fim e ao cabo, todas as dependências são iguais, mas a do crack não tem começo ou meio. Já começa pelo fim.
Não pode haver internação "consentida" de um dependente de crack, pelo simples fato de que esse dependente não tem mais o que consentir ou negar. Para ele, a morte não é nada diante da ideia de ficar sem o produto.
Fiasco em Viracopos - EDITORIAL FOLHA DE SP
FOLHA DE SP - 17/10
Um avião cargueiro de 130 toneladas derrapou ao pousar, teve o pneu estourado e tombou na única pista do aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP).
Até ser retirada, a aeronave provocou o fechamento do aeroporto, que permaneceu interditado durante quase 46 horas, de sábado a segunda-feira. Nesse período, cerca de 500 voos foram cancelados e pelo menos 25 mil passageiros ficaram prejudicados.
Ocorrências dessa natureza são comuns no mundo inteiro -até aí, pouco há de realmente excepcional. Por esse motivo, a Organização Internacional da Aviação Civil recomenda que os aeroportos tenham um plano de remoção rápida para desobstruir a pista e minimizar os transtornos a passageiros.
O que chamou a atenção em Viracopos não foi, portanto, o bloqueio da pista, mas a demora para remover o cargueiro e reabrir o local para pousos e decolagens. Estima-se que a falta de experiência possa ter atrasado a operação em pelo menos 15 horas.
Sem dúvida não ajudou o fato de não haver em Viracopos um "recovery kit" -conjunto de equipamentos capaz de remover aeronaves-, mas as empresas aéreas não são obrigadas a possuir tais itens. Isso não as isenta, entretanto, de providenciar o maquinário.
Foi o que fez a Centurion Cargo, operadora do avião. O kit foi alugado da TAM e precisou ser deslocado de uma distância de 140 km até Campinas. Após uma primeira tentativa fracassada no domingo, a empresa conseguiu retirar a aeronave só na segunda-feira.
Que a demora tenha ocorrido em um dos dez aeroportos mais importantes do Brasil é motivo de preocupação. Em 2011, 7,5 milhões de passageiros utilizaram Viracopos, cujo movimento tem crescido de forma acelerada nos últimos anos.
Assim como outros aeroportos brasileiros, Viracopos tem apenas uma pista (a segunda estava prevista há quase uma década, mas só deverá sair em 2017). Isso torna ainda mais essencial ter agilidade para executar o plano de remoção.
A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) abriu um procedimento administrativo para investigar a atuação da empresa aérea e do aeroporto nesse acidente. É imprescindível descobrir os motivos da demora e apontar providências para evitar sua repetição.
Um país que vai sediar dois dos maiores eventos esportivos do mundo não pode tolerar fiascos como esse na área de infraestrutura. Acidentes acontecem, mas é preciso estar preparado para eles.
Um debate sem sentido - MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 17/10
Discussão sem sentido é a que mobilizou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, de um lado, e o presidente do Fed, Ben Bernanke, do outro. É evidente que todos têm razão. Tanto as políticas monetárias expansionistas dos EUA têm impacto no mercado de moedas quanto a recuperação norte-americana será melhor para mundo.
Se o Fed nada fizesse para resolver a crise de crédito americana é que o mundo estaria realmente encrencado. Os Estados Unidos ainda são a maior economia do planeta e a que tem o maior déficit comercial, encomenda bens e serviços de países do mundo inteiro. A dosagem das emissões monetárias do banco central americano parece às vezes exagerada, sem dúvida, mas imagine se nada tivesse sido feito pelo Fed desde o começo desta crise?
O que preocupa Ben Bernanke sempre foi o fantasma da depressão, e ele assumiu disposto a entrar para a história como o presidente do Fed que evitou a repetição do evento econômico que assombrou os EUA nos anos 30. Acabou desatento aos riscos de outros desequilíbrios que cobrarão a conta mais tarde.
O ministro Mantega criticou no FMI a política monetária norte-americana. Recentemente, como se sabe, o Fed decidiu pela terceira injeção de recursos na economia através da compra de títulos lastreados em hipotecas, em US$ 40 bilhões por mês. Nas hipotecas está o caroço inicial da crise que desde 2008 tem produzido a desordem que o mundo tem enfrentado.
Bernanke reagiu, dizendo que tudo tem sido feito para elevar o ritmo da economia americana, o que tem reflexo positivo na economia mundial. Para ele não é claro que a política monetária de estímulo da instituição prejudique os países emergentes. Mas a desvalorização do dólar, de fato, aumentou a competitividade dos produtos americanos prejudicando o comércio com outros países.
O Brasil sentiu mais o impacto. O que era superávit virou déficit com os Estados Unidos. No ano passado, chegou a US$ 8 bilhões, e neste ano está em US$ 3 bilhões até setembro. Mas o comércio bilateral sofreu também pela falta de iniciativa brasileira para buscar o mercado americano. A proporção das exportações brasileiras que vão para os Estados Unidos despencou. Nem tudo é câmbio. Empresários ouvidos pelo Valor dizem que é preciso ter uma política de mais facilidade de negócios e mais acordos entre os dois países. E são presidentes de empresas grandes, como a Embraer e Coteminas.
Tombini rebateu Bernanke dizendo que a política monetária prejudica, sim, as políticas macroeconômicas brasileiras. Segundo ele, a entrada excessiva de capital “dificulta o controle da inflação”. Bom, aí fica difícil concordar. Se há um efeito positivo da valorização da moeda local é tornar mais fácil controlar a inflação. Desequilibra o comércio, mas derruba preços de produtos afetados pela cotação do dólar. Ele poderia dizer que essa não é a melhor forma de combater a inflação já que desorganiza a produção, mas o país só não estourou a meta em 2011 porque houve a “ajuda” do dólar baixo. Em alguns setores, chegou a haver deflação, atenuando o impacto da elevação de outros preços.
Segundo Tombini, o impacto inflacionário do fluxo de capitais ocorre porque ele produz “crescimento do crédito”. Ora, quem tem feito um enorme esforço para manter alta a oferta de crédito é o próprio governo brasileiro. O BC chegou a liberar compulsório para se criar crédito para compra de automóveis. O Banco Central deveria ver onde tem errado, já que do Ministério da Fazenda não se tem muita esperança de uma autocrítica.
Os vários tons - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 17/10
O julgamento do mensalão caminha para seu término sem que existam itens ainda por julgar que possam interferir no resultado final, que já foi dado com a definição pela maioria do STF de que houve desvio de dinheiro público para a compra de apoio político no Congresso e a identificação e condenação dos atores dos crimes, tanto ativos quanto passivos.
A acusação de formação de quadrilha, da qual o ex-ministro José Dirceu seria "o chefe", que parecia ser a base para a acusação, acabou sendo relegada a plano secundário. Ainda é mais provável que o núcleo político do PT - Dirceu, Genoino e Delúbio, mais Silvinho Pereira, que está fora do julgamento por ter feito acordo - seja condenado por quadrilha também, mas, mesmo que tal não venha a ocorrer, por desentendimento entre os ministros sobre a definição do crime, nada mudará a essência do esquema criminoso, cuja acusação passará a ser de coautoria criminosa.
A definição de "formação de quadrilha" está sendo debatida no plenário do Supremo em vários outros itens, e há divergências de conceituação. Elas foram suficientes, até agora, para absolver uns poucos da acusação, mas a condenação de alguns chegou a ter quatro votos pela absolvição. Mesmo que não veja confirmada no STF sua condição de chefe de quadrilha, Dirceu já foi identificado como aquele que detinha "o domínio do fato", isto é, quem comandava a ação considerada criminosa pelo Supremo. Também a absolvição do marqueteiro Duda Mendonça das acusações de evasão de divisas e lavagem de dinheiro não muda a essência da denúncia, embora afaste da campanha presidencial de 2002, na qual Duda Mendonça ajudou a eleger Lula pela primeira vez, a pecha de ter sido financiada com dinheiro do mensalão.
Mas a parte importante do julgamento vem depois de seu término, na definição da dosimetria das penas. Essas questões, que incluem agravantes e atenuantes e até mesmo a definição legal dos crimes, já estão sendo negociadas nos bastidores, através da ação dos advogados que buscam razões para convencer os juízes de que os réus não merecem penas muito graves. O caso politicamente mais delicado é o de Dirceu, condenado por enquanto por corrupção ativa nove vezes: na página 103, (item a) da denúncia está dito que "José Dirceu, Delúbio Soares, José Genoino, Silvio Pereira, Marcos Valério etc, em concurso material, estão incursos 3 vezes nas penas do artigo 333 do Código Penal; Na página 112, (item a), a denúncia diz que o crime foi praticado 2 vezes em concurso material; na página 117, (item a), diz que o crime foi praticado três vezes em concurso material; e na página 120, (item a) imputa o crime mais uma vez, sempre em concurso material.
O que isso quer dizer? O "concurso material" definido no artigo 69 do Código Penal é quando "o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não". Nesse caso, diz o CP, "aplicam-se cumulativamente as penas privativas de liberdade em que haja incorrido". Pela denúncia, portanto, o ex-chefe da Casa Civil poderá responder a um mínimo de 18 anos e a um máximo de 108 anos de cadeia. Se pegar a pena mínima de dois anos (a máxima é de 12), terá que cumprir três anos em regime fechado (1/6 da pena) para ter direito à progressão da pena.
Mas o STF não precisa concordar com a denúncia. Na hora da aplicação da pena, a tal da dosimetria, os ministros terão de decidir se entendem que os crimes foram praticados em concurso material, formal ou se é caso de crime continuado.
O Código Penal define, em seu artigo 71, o crime continuado como aquele em que "o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como continuação do primeiro, aplicasse-lhe a pena de um só crime, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços". Se incluído nessa categoria, Dirceu poderá pegar condenação de menos de 8 anos, em regime semiaberto, só dormindo na cadeia. Talvez mais por isso do que pela eleição paulistana, Dirceu decidiu desistir, pelo menos por enquanto, de convocar as massas em sua defesa contra o STF.
Leite condensado e formicida? - ROBERTO DaMATTA
O Estado de S.Paulo - 17/10
Alguns leitores generosos responderam ao meu apelo e escreveram soluções para o dilema do meu personagem que, na semana passada, livra-se de um câncer no pulmão direito e esquerdo, somente para enfrentar os elos sinistros entre o formicida (o veneno que extermina) e o leite condensado (remédio que mata se ingerido em grandes doses).
Começo com o Luiz Pinto de Carvalho, cujo otimismo imagina que eu tenha recebido "dezenas, talvez centenas de mensagens". Ele começa esperando que o meu personagem não cometa suicídio mas, vivendo, pague a dívida contraída de má-fé. A "moral" de sua primeira versão é simples: "foi desonesto, paga sofrendo". Mas a par dessa sentença mensalônica, essa novidade no cenário social brasileiro: a condenação pelo Supremo dos mentores de um esquema de permanência no poder, mesmo quando tramado por altos figurantes intimamente ligados ao partido que nos governa, ele inventa outras soluções. Excluindo a fuga e a esquizofrenia da clandestinidade, Luiz muda o tempo da narrativa e faz o herói virar um pirata. Levado à época das caravelas, ele vive várias aventuras e morre numa batalha sangrenta. Isso para fazer o personagem reviver para contar suas aventuras aos netos "que surgiram não sei bem como". Depois de todos esses finais, segue uma variante final. Com os credores à porta, o herói amplia sua vingança. Processado, ri da Justiça e morre num acesso de tosse.
Madalena Diégues Moreira Alves, minha estimada amiga, revela igualmente uma intensa vocação criativa naquilo que ela chama de uma "versão Pollyana" para o personagem. Entre a vida e a morte, vem-lhe a lembrança de uma caixinha de chocolate em pó que sua mãe guardava ao lado do leite condensado. Resolve misturar leite condensado e chocolate e faz um brigadeiro seguindo a receita que sua mãe lhe passara antes de morrer de um câncer. Em seguida, toma um avião e revisita o médico para, paradoxalmente, lhe oferecer o doce. Lá, ele faz uma dupla descoberta: seu exame fora trocado - ele jamais teve câncer; e a enfermeira, especialista em brigadeiro, percebeu como a receita da mãe do nosso herói era especial. Associam-se nos negócios e na vida e abrem uma loja de chocolates com total sucesso. Com os extraordinários lucros, pagam as dívidas, compram uma fazenda e o formicida é usado para matar, como manda o figurino, "as formigas que cercavam a linda casa da fazenda".
Outro leitor, o Paulo Henrique Nonato escreve a amigos e distingue o cronista incluindo-o na lista. Diz de modo comovente: "Desejei muito que o Lulu ainda estivesse aqui (...) e tivesse aproveitado, da mesma forma (que o personagem), o produto da venda do apartamento assim que recebeu a notícia. Afinal" - termina o Paulo Henrique - "é claro que ele escolheria o doce".
* * * *
Essas reações levam a pensar no "quem conta um conto inventa um ponto". E na história de Machado de Assis Quem Conta Um Conto..." (publicado no Jornal das Famílias, em 1873), cujo título e enredo falam diretamente dessa atividade que nos torna humanos: "o gosto de dar notícias".
Há necessidade de criar pontos de vista, pois as narrativas só viram histórias porque não dizem tudo. Todas são sempre reativadas por receptores que estão em outros lugares e nelas podem enxergar alternativas.
Outro pensamento que me ocorreu foi verificar como os meus leitores abandonaram a realidade da história original. Nela, o personagem vive no presente; ele é um professor universitário e jamais pensaria em fazer um brigadeiro; seu câncer foi real, bem como sua dívida. Eu pedi socorro para o dilema, não para o conto porque, como disse João Guimarães Rosa, a minha história, sendo minha, era verdadeira. A mentira vem da generosidade dos leitores que a modificam a seu gosto. Uma equação matemática não pode ser modificada para ser resolvida. Romancear é fazer equações humanas.
* * * *
Finalmente, vale acrescentar que estamos vivendo num Brasil que faz a virada do acerto dos contos. Tribunais existem precisamente porque vivemos em busca do "direito". Do mais correto, do mais justo, do mais verdadeiro; numa palavra: do melhor enredo ou história. Mas quem define o verdadeiro ou o "real", cuja existência os seus inventores - os filósofos - discordam? Serão as doutrinas religiosas e políticas? Será uma palavra de ordem ou a polícia política? Serão os que estão no poder?
Se o arbitrário é o dilema e se o dilema de estar sempre entre formicida (veneno) e leite condensado (remédio) é parte da nossa condição, então não há como fugir de que o melhor é a versão que leva à liberdade, ao direito de defesa e, a partir dela, à inocência ou à condenação. Como num jogo, estabelecemos regras somente para descobrir como elas fabricam incertezas e novas versões.
O fascismo formicida diz que só há uma voz e uma resposta. O leite condensado liberal assenta-se na presença de muitas vozes e respostas. Uma democracia repousa num contínuo refazer-se. Ninguém pode se arvorar a ser dono da democracia ou do sistema político brasileiro. O passado não isenta o presente e nenhum dos dois garante um futuro.
O que, então, resta ao personagem? Sobra acatar aquilo que a coletividade considera como razoável em termos dos seus valores. O que não é fácil, neste mundo magicamente ilimitado, no qual até mesmo uma crônica corriqueira - para muitos um bom exemplo da minha subliteratura - acende várias soluções...
Sem contraindicação - ZUENIR VENTURA
O GLOBO - 17/10
Um dos ensinamentos do "Guia para uma vida saudável" que o dr. Cláudio Domênico está lançando esta semana é que em matéria de cuidados com a saúde o ser humano é muito pouco racional: sabe o que lhe faz mal, mas nem sempre sabe como evitar. Há exemplos inclusive entre os médicos: "Pneumologistas que fumam, cardiologistas sedentários ou endocrinologistas obesos." Daí a importância da medicina comportamental, que se interessa pelas motivações, ou seja, pelo que leva uma pessoa a agir dessa ou de outra maneira. O autor conta que nas consultas - "A parte mais nobre de meu trabalho" - ele pergunta até sobre o que parece não ter nada a ver com as queixas do paciente: se gosta de ler, se tem saído com os amigos, qual o seu hobby, como usa o lazer, como gasta o tempo. A alguém que precisa se exercitar, o seu conselho é escolher o exercício que lhe dá mais prazer. "Não importa se andar de bicicleta, jogar tênis, vôlei, dançar ou remar; o fundamental é que a atividade lhe faça feliz." De outro que chega desmotivado, Domênico se informa para ver se há algum indício de depressão. "Na verdade, quero entender mais sobre o seu tesão pela vida." Segundo ele, o caminho para melhorar a qualidade de vida é a mudança de hábitos e de comportamento.
O Guia é o resultado de 30 anos de clínica transmitido como se o leitor fosse um paciente. Tudo em linguagem palatável de quem está mais preocupado com o doente do que com a doença, que aposta no organismo mais do que nos remédios, enfim, quem prefere prevenir do que remediar. O livro mostra como levar uma vida saudável sem morrer de tédio; como perder peso sem perder a alegria; como estabelecer o equilíbrio entre corpo e mente. "Tento transmitir que o grande aprendizado é a busca do equilíbrio", explica Domenico. Excesso faz mal à saúde. Em demasia, até o bem pode fazer mal, como o vinho.
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Os tintos - de uva tannat, merlot e cabernet sauvignon - elevam o colesterol bom, rejuvenescem as artérias, protegem o coração, desde que ingeridos em baixas doses: 150ml para mulheres e 225ml para homens por dia. O perigo é achar que, se uma taça faz bem, uma garrafa fará muito mais. "Moderação é a palavra de ordem." Em resumo: "Te cuida" é uma leitura saudável que não tem contraindicação.
A última de Alice, a rebelde, que ontem fez três anos. O pai lhe diz: "Não adianta, você tem duas opções: 1ª, você veste o uniforme do colégio; 2ª, você veste o uniforme do colégio. Qual das duas você prefere?"
Resposta: "A terceira."
UMA DAMA ENTRE CAVALHEIROS - MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 17/10
A modelo e apresentadora Fernanda Tavares, 32, está no oitavo mês de sua segunda gravidez. Ela, que já tem um filho com o ator Murilo Rosa, dará à luz mais um garoto. "Serão três homens lá em casa. Das duas uma: ou serei a rainha, ou eles farão complô contra mim."
Murilo, que está na próxima novela global das oito, "Salve Jorge", só terá direito a dois dias de licença-maternidade, diz a modelo. "Sacanagem isso, né? As mulheres podem ficar seis meses em casa", diz Tavares em entrevista à revista "Contigo" que chega hoje às bancas.
ATRÁS DAS GRADES
Levantamento da Defensoria Pública de SP revela que, de 11 mil mulheres atendidas pelo órgão em 90 unidades prisionais do Estado em 2011, 68% não tinham advogado. Os defensores fizeram 991 pedidos de progressão de regime, 378 pedidos de liberdade provisória, 123 de relaxamento de prisão, 265 de transferência e 836 de remições de penas.
ATRÁS DAS GRADES 2
Em um dos casos atendidos no projeto "Mulheres Encarceradas", a Defensoria obteve habeas corpus favorável para mãe e filha que estavam presas havia seis anos sem julgamento. "O número de atendimentos e de pleitos demonstram a carência de assistência jurídica na área prisional", diz o primeiro subdefensor-geral de SP, Davi Eduardo Depiné.
ALERTA
De todas as cidades em que o PT ou candidatos da base do governo disputam a eleição, Salvador é a que mais preocupa a presidente Dilma Rousseff. É lá que ela deve centrar boa parte de suas baterias. Na mira, ACM Neto, candidato a prefeito pelo DEM contra o PT.
FORA DA IGREJA
Um dos itens do kit anti-homofobia (que os evangélicos chamam de "kit gay") distribuído por José Serra (PSDB-SP) a escolas de SP quando era governador é frontalmente contrário ao que pregam líderes evangélicos que o apoiam. "Não se cura a homossexualidade em consultórios psiquiátricos ou cultos religiosos", afirma a cartilha tucana.
ABC
E a secretaria estadual de Educação de SP trocou ontem o endereço eletrônico do kit anti-homofobia. É que a palavra "prevenção", incluída no link, estava grafada de forma errada -com S. Ou seja, "prevensão". O erro foi corrigido.
NEM LÁ NEM CÁ
O presidente do PRB, Marcos Pereira, está lançando "uma campanha nacional em favor de candidaturas limpas, sem baixaria". A sigla viu a candidatura de Celso Russomanno (PRB-SP) a prefeito naufragar na reta final do primeiro turno depois de sofrer duras críticas, especialmente do PT.
CINEMA NOVO
A diretora Laís Bodanzky e o produtor Luiz Bolognesi estão procurando no Facebook pessoas que nunca foram ao cinema.
O casal faz concurso na rede social para levar cinco duplas para uma sessão de gala do Projeto Cine Tela Brasil, que comemora um milhão de espectadores, em novembro.
PONTO CEGO
Os dois cineastas mantêm o programa há quase dez anos. Eles levam uma tela itinerante e exibem filmes em localidades em que não existem cinemas.
De acordo com levantamento do IBGE, 92% das cidades brasileiras não têm salas de exibição.
ELETRO
Condenado por corrupção ativa e ainda sem saber se será ou não encarcerado, José Dirceu fará um check-up preventivo nos próximos dias, diz interlocutor que conversou recentemente com o ex-ministro da Casa Civil. Antes em Vinhedo, ele agora aguarda o fim do julgamento em SP.
JANTANDO JUNTOS
Mallu Magalhães, que abre os shows do palco principal no festival Planeta Terra, no sábado, em SP, está em Berlim.
Foi acompanhar o marido, Marcelo Camelo, no show que ele fez na cidade alemã. E, sem programar, fez participação especial cantando "Janta" com ele. Amanhã, ela retorna ao Brasil.
CARA PRETA
A galeria Logo fez no fim de semana a Tarde Abstrata, com performance da Cão, banda do artista Maurício Ianês. A restauradora Sami Carmagnani conferiu.
SÓ NOTA AZUL
O ator Dan Stulbach apresentou o Prêmio Victor Civita Educador Nota 10 na Sala São Paulo. Entre os professores homenageados, anteontem, estavam Débora del Bianco Barbosa Sacilotto, Valkiria Grun Karnopp e Jorge Cesar Barbosa Coelho.
CURTO-CIRCUITO
A Associação Santo Agostinho completa 70 anos e realiza bazar beneficente entre os dias 22 e 26 no Espaço Gardens.
O restaurante Amadeus serve até amanhã pratos elaborados para comemorar seus 25 anos.
Michel Teló faz show hoje, no Villa Mix SP. 18 anos.
A Biblioteca Walcyr Carrasco será inaugurada hoje, no teatro Renaissance, nos Jardins, às 19h.
A PUC-SP faz debate sobre a religião segundo o censo. Hoje, às 9h.
A República e a Ação Penal 470 - LUIZ WERNECK VIANNA
O ESTADÃO - 17/10
O Rubicão foi atravessado à vista de todos e, na nova margem em que nos encontramos, não há mais caminho de volta. Estamos, agora, em pleno território da República - não mais a de fachada, velha conhecida -, compelidos a devassar uma terra ignota, ainda envoltos na névoa deixada por décadas de surtos de modernização, cada qual em estilo adequado às conjunturas que os viram nascer, mas sempre sob a lógica afeita aos principados a exercitar verticalmente sua vontade sobre uma sociedade como base passiva.
O julgamento da Ação Penal 470 no Supremo Tribunal Federal (STF) - que se investiu da pesada toga de um Senado romano desde a leitura em plenário do introito à denúncia do procurador-geral da República - pretendeu ser um julgamento político da História de uma sociedade submetida à discrição do poder político da administração, em nome dos valores e das instituições consagradas na Carta Magna de 1988, que tardam em se fazer reconhecer.
O passado, tal qual o conhecemos, não deve mais iluminar o futuro, pois, a esta altura do século, por maiores que tenham sido os seus méritos na construção da identidade nacional, de uma cultura pluralista e de um enérgico sistema produtivo, a hipoteca que nos deixou é a de uma sociedade rebaixada diante do Estado e enredada em suas malhas. Se ele, sem dúvida, foi eficaz em nos trazer a modernização, somente o foi ao alto preço de ter sacrificado em favor dela o moderno e os seus valores.
O nome próprio do moderno é o da autonomia que se exprime no exercício da livre manifestação de vontade da cidadania, a partir de uma vida associativa e de partidos políticos que extraiam sua seiva de um mundo da vida descontaminado do poder administrativo e do poder sistêmico da economia, para usar a linguagem, incontornável na cena contemporânea, de Jürgen Habermas.
O Supremo Tribunal Federal, nesse sentido, sem se limitar à avaliação de comportamentos ilícitos na esfera da vida privada - os personagens dos bancos e das empresas envolvidas -, privilegiou a perspectiva da esfera pública, os atentados ao sistema de representação política e aos procedimentos democráticos, identificando a necessidade de limpeza dos filtros que levam a essa esfera a manifestação de vontade do cidadão. Vale dizer, delitos cometidos contra a República e suas instituições.
Em alguns votos contundentes, em que personagens clássicos da Roma republicana foram evocados, ministros da Suprema Corte demonstravam estar conscientes de que anunciavam um novo começo para a democracia brasileira sob a égide de uma ética republicana. E não poucos mencionaram a Lei da Ficha Limpa - na origem, uma lei de iniciativa popular - como instrumento de proteção ao sistema da representação política, considerada como bem maior a ser defendido. Provavelmente, ecoaram nesse tribunal os argumentos de maior alcance pedagógico já registrado entre nós em favor da democracia representativa.
A fixação dos votos dos ministros do STF no tema dos procedimentos, tendo em vista guarnecer a todos com um direito igual em suas manifestações de vontade - "núcleo dogmático" de validade universal nos sistemas jurídicos das modernas democracias ocidentais -, execrando a tentativa de colonização da representação popular por parte da administração e do poder do dinheiro, deixa no vazio as insinuações de que essa Ação Penal 470 seria mais um episódio da judicialização da política entre nós, que, por definição, gravita em torno de matéria substantiva.
A democracia de massas, que se amplifica com as poderosas mudanças sociais de que o País é hoje um laboratório aberto, não pode desconhecer a República e as suas instituições, sob pena de se ver dominada pelos interesses políticos e sistêmicos estabelecidos. No mais, não há uma Muralha da China a separar a democracia social da democracia política, desde que essa esteja aberta a uma competição que não crie obstáculos às legítimas pretensões dos agentes, partidos, sindicatos e organizações sociais que nela atuem, visando a realizar seus interesses e valores.
O seminário com público de massas em que se converteu o julgamento da Ação Penal 470, por sua vez, expôs a nu as fragilidades do sistema político vigente, em particular a modalidade sui generis com que aqui se pratica o presidencialismo de coalizão, indiferente a programas políticos e cruamente orientado para ações estratégicas com vista à conquista do voto e à reprodução eleitoral das legendas coligadas. Nesse processo, os partidos migram da órbita da sociedade civil para a do Estado, quando passam a ser criaturas dele.
Por causa da natureza fragmentária do quadro partidário e da dispersão dos votos dela resultante, o governante vê-se tangido, em nome da governabilidade, a reter insulado o cerne do programa com que foi eleito - que nunca sai ileso dessa operação - e a facultar o acesso à máquina estatal e às suas agências a aliados de ocasião com o objetivo de obter maioria parlamentar. O cimento notório dessas coligações deriva do loteamento entre elas de posições no interior da administração pública, tornando-a vulnerável às pressões privatistas exercidas em favor de financiadores de campanhas e de apoiadores políticos.
Nada de novo no diagnóstico, para cujos males há remédios conhecidos em vários bons projetos em andamento no Parlamento, entre os quais o que prevê financiamento público das campanhas eleitorais e a extinção das coalizões partidárias nas eleições proporcionais. O laissez-faire em política não é menos deletério do que em economia, e desde Maquiavel se sabe que as Repúblicas que fizeram História começaram com a ação virtuosa de um legislador.
Inimigos íntimos - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 17/10
Com a inesperada ida a Campinas, sábado, Dilma Rousseff repetirá gesto do primeiro turno em Belo Horizonte, onde desembarcou para se contrapor à coalizão PSB-PSDB. O empenho dos governadores Geraldo Alckmin e Eduardo Campos pró-Jonas Donizette estimulou o Planalto a abraçar Márcio Pochmann na cidade que testa, seguindo MG e PR, um consórcio tucano-socialista. Para petistas, o PSB é hoje o único aliado que trava palanques da presidente para 2014 no Estado.
Dança... Chefe da Casa Civil de Alckmin, Sidney Beraldo deve deixar o governo. Ele pretende se candidatar ao TCE. O secretário, que presidiu a Assembleia e cumpriu quatro mandatos na Casa, obteve o aval da bancada governista para postular a vaga de Cláudio Alvarenga, que se aposenta semana que vem.
... das cadeiras A iminente saída de Beraldo dará início à minirreforma que o tucano, pré-candidato à reeleição, deve fazer em seu secretariado após o segundo turno da eleição municipal.
Melhor idade Fernando Haddad irá na sexta-feira ao Sindicato Nacional dos Aposentados, filiado à Força Sindical, cujo presidente é Paulinho (PDT), apoiador de José Serra. A entidade pedirá ao candidato a criação da Secretaria Municipal do Idoso, a implantação de centros de integração e acessibilidade em equipamentos públicos.
Espeto... Encorajados pelo deputado Vicente Cândido, cinco vereadores eleitos ou reeleitos do PT almoçaram ontem em tradicional restaurante do centro de São Paulo.
... misto O grupo, que se diz escanteado pelo QG haddadista, quer influenciar na composição de eventual governo petista. O bloco em gestação é composto por Juliana Cardoso, Paulo Fiorilo, Nabil Bonduk, Alfredinho Cavalcante e Paulo Reis.
Em família Passada a eleição, o governador Antonio Anastasia (PSDB) nomeou Tiago Lacerda para a Secretaria Especial da Copa de Minas. Ele é filho de Márcio Lacerda (PSB), prefeito reeleito de Belo Horizonte, e havia se afastado da secretaria congênere da capital mineira após questionamento de nepotismo na prefeitura, feito pelo Ministério Público.
Crista De um ministro do STF, sobre a absolvição de Duda Mendonça e de sua sócia, Zilmar Fernandes: "Hoje o Duda vai colocar os galos para brigar!" O publicitário é conhecido por ser um apreciador de rinhas, proibidas pela legislação brasileira.
Devagar... Apesar da condenação de quatro anos para José Genoino e Delúbio Soares pela Justiça Federal de Minas, advogados do mensalão afirmam que as penas determinadas em primeira instância não poderão ser usadas na dosimetria que será definida pelo Supremo no final do julgamento.
... com o andor Condenação anterior só pode ser levada em conta para eventual aumento de pena quando os casos estiverem transitados em julgado. Os advogados de Genoino e Delúbio vão recorrer da decisão ao Tribunal Regional Federal.
Visita à Folha Arthur Sulzberger Jr., publisher e presidente do jornal "The New York Times", visitou ontem a Folha, a convite do jornal, onde foi recebido em almoço. Estava acompanhado de Robert Christie, vice-presidente de Comunicação Corporativa, Philippe Hertzberg, diretor internacional da Divisão de Serviço Noticioso, Isabel Amorim Sicherle, diretora para América Latina, México e Caribe de Serviço Noticioso, Michael Greenspon, gerente geral da Divisão de Serviço Noticioso, e Simon Romero, correspondente no Brasil.
com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI
tiroteio
"Prorrogar por 30 dias uma CPI que já ficou parada durante 60 dias é uma conta de saldo negativo. É abortar as investigações."
DO LÍDER DO PSOL NO SENADO, RANDOLFE RODRIGUES (AP), sobre a decisão de prolongar os trabalhos da comissão que investiga Carlinhos Cachoeira.
contraponto
Kit da discórdia
Ao discursar ontem no plenário da Câmara, o deputado Paulo Maluf (PP-SP) fazia elogios ao candidato do PT à prefeitura paulistana, Fernando Haddad. O deputado, que integra a aliança petista, usou seu pronunciamento para dizer que Haddad fará "grande governo", se eleito.
Tendo em mãos despacho do ex-ministro da Educação criando grupo de trabalho para discutir o chamado "kit gay", Jairo Bolsonaro (PP-RJ) pediu a palavra e retrucou:
-Ele vai fazer um grande governo? Assim como fez o Pitta... E tem o agravante do "kit gay".
A disputa do anjinho e do diabinho - ANDRÉ MELONI NASSAR
O ESTADÃO - 17/10
Em quem devo acreditar? No anjinho que sussurra no meu ouvido direito ou no diabinho que me provoca do lado esquerdo?
O anjinho abana-me com suas asas e diz que o Brasil é um país que já deu certo e está no caminho de se tornar uma liderança mundial. O diabinho espeta-me com seu tridente e tenta convencer-me de que estamos negligenciando, como sempre fizemos, os nossos problemas estruturais.
O anjinho cantarola que o mensalão está sendo julgado pelo STF com plena independência, o que comprova que o Brasil tem instituições que são maiores e mais perenes que os governos e os partidos no poder. O diabinho argumenta que vivenciamos uma perda de qualidade institucional e o elevado número de votos nulos, em branco e abstenções nas eleições municipais comprova que grande parte da população credita pouca confiança às instituições políticas.
O anjinho exalta as ações do Estado no combate ao crime organizado e ao tráfico de drogas, que se estão tornando mais sofisticadas e complexas. O diabinho faz pouco caso das ações de controle nas fronteiras e lembra que comprar armas de fogo no mercado negro é mais fácil e barato que comprar antibiótico na farmácia.
O anjinho orgulha-se dizendo que foram tomadas medidas decisivas para estimular o crescimento da indústria no País, com elevação de tarifas, exigências de conteúdo nacional e desoneração tributária. O diabinho, embora consciente da importância da indústria em qualquer economia, lembra que no Brasil ela é protegida desde os tempos de Juscelino Kubitschek e o consumidor paga essa conta com produtos mais caros e obsoletos, e que esse não é o setor da economia mais dinâmico na geração de empregos.
O sangue sobe à cabeça do anjinho, que se enfurece e argumenta que a inovação tecnológica nasce na indústria e se espalha pelas demais áreas. Por isso é necessário que existam políticas de estímulo ao setor industrial. O diabinho, plácido, lembra que inovação depende de educação e nesse quesito o País não tem muito o que falar.
O anjinho, mais revoltado que nunca, diz que jamais se investiu tanto em universidades federais e que o Programa Ciência sem Fronteiras vai revolucionar a ciência brasileira. O diabinho, mais calmo que nunca, lembra que no Brasil prevalece o modelo em que a ciência (universidades) e a inovação (setor privado) são separadas, não estimulando multinacionais a investir em inovação aqui e levando as universidades a gerar ciência de retorno de longo prazo duvidoso.
O anjinho procura se acalmar e lembra que o Brasil é um dos poucos países do mundo que está crescendo, segue em ritmo de pleno emprego e, ao mesmo tempo, tem saúde e previdência universal para sua população. O diabinho exalta a geração de empregos no País e ri da ingenuidade do anjinho: qual o sentido de um sistema de saúde universal em que os recursos dos contribuintes se perdem numa longa cadeia de desvios e corrupção? E de que vale a universalidade da previdência hoje, sabendo que o sistema precisa ser reformado, dados o envelhecimento da população e a queda da taxa de natalidade? Não estaríamos, pergunta o diabinho, garantindo bem-estar acima do necessário às gerações atuais e extraindo-o das futuras?
O anjinho volta a ficar empolgado com o diálogo e saltita de alegria ao dizer que o País pôs em prática um dos mais bem-sucedidos programas de distribuição de renda do mundo, o Bolsa-Família. O diabinho, sem pestanejar, concorda com a importância do programa, mas retruca que de nada adianta distribuir renda sem reformar uma estrutura tributária que pune as pessoas de menor renda, pois são elas que poupam menos e gastam maior parcela da sua renda com consumo.
O anjinho regozija-se com o ciclo virtuoso por que passa a economia brasileira, com redução da taxa de juros, controle da inflação e grande crescimento do mercado de crédito. O diabinho diverte-se com o otimismo do anjinho e lembra que o Brasil não é um país pró-negócios e que boa parte do setor privado quer manter o emaranhado de leis e exigências existentes porque o custo Brasil o mantém protegido e livre de competição.
O anjinho, ainda maravilhado com o sucesso econômico que é o Brasil, discursa sobre os grandes avanços em infraestrutura que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) está promovendo e defende a política do governo de permitir concessões privadas de longo prazo em setores controlados por empresas estatais. O diabinho praticamente perde as estribeiras porque, assim como ele reconhece que há avanços, o anjinho precisa concordar que a eficácia do PAC é muito baixa e as concessões privadas nos aeroportos são uma prova de que o modelo defendido não vai promover os investimentos necessários nem melhorar os serviços para a população.
O anjinho, que já havia entendido que o diabinho estava devotado a irritá-lo, lembra que o País é uma liderança mundial em ascensão e está exercendo seu poder por meio de cooperação internacional, transferência de tecnologia e internacionalização das empresas nacionais, sem uso de poder militar, como fazem os EUA, nem do modelo colonizador, como fizeram os países europeus. O diabinho diverte-se com a inocência do anjinho e argumenta que o destino de qualquer potência de recursos naturais, como é o caso do Brasil, mesmo que não queira, é ser catapultado ao posto de liderança mundial.
Anjinho e diabinho já estavam cansados do debate e minha cabeça, cheia de ouvir argumentos opostos. Ambos estavam certos. Mas se é verdade que o Brasil está avançando muito, e também é verdade que o País ainda tem diversos problemas para enfrentar, é o diabinho que tem mais razão. Apontar os desafios, portanto, é mais importante que ovacionar cegamente as conquistas. É o diabinho que opto por escutar.
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