sexta-feira, maio 07, 2010

NELSON MOTTA

Licença para roubar

NELSON MOTTA
O Globo - 07/05/2010

Não é preciso criar nenhuma lei nem fazer qualquer debate ou votação. É mais prático e direto do que uma reforma eleitoral, sem financiamento público e voto em listas, nem riscos para o estado de direito e a democracia.

Muito pelo contrário.

Basta fazer como democracias civilizadas e definir, julgar e punir o “caixa 2” pelo que ele é: um crime mais grave do que o roubo para uso próprio. Porque lesa não só uma pessoa física ou jurídica, mas toda a sociedade, para fraudar o processo eleitoral e corromper a vontade dos cidadãos, desmoralizando as instituições democráticas e afrontando a lei e a Justiça.

O “caixa 2” é um delito mais grave do que um simples roubo público ou privado como os que enchem os noticiários.

Alguns desses ladrões são presos e o produto dos crimes pode ser recuperado. Mas os que roubam para fraudar o processo eleitoral, alegando que não é para uso próprio (embora às vezes seja), mas pela “causa”, não são presos, não devolvem o dinheiro, nem pagam os irreparáveis prejuízos à democracia, são heróis da impunidade em seus partidos.

“Ah, é só caixa 2”. Alguém imagina o Obama dizendo isto? Nem Berlusconi ousaria. Aqui, presidentes de partidos e até da República dizem, considerando como atenuante o que é agravante. Seu corolário “todo mundo faz” minimiza e absolve o delito, e pereniza o atraso político.

Por que Estados Unidos, Inglaterra, França e Itália julgam crimes políticos como mais graves do que os comuns, com cadeia e multas pesadas por conspiração contra o estado democrático e suas instituições? Talvez porque eles não têm esse jeitinho brasileiro de ser democrata, esse hábito de nivelar por baixo e de se contentar com pouco. Construíram democracias em que a lei é para todos, onde não há causa, por melhor que seja, que justifique a sua transgressão. Em ditaduras, leis espúrias podem e devem ser transgredidas na luta pela democracia, mas, quando finalmente a conquistamos, isto só a corrompe e avilta.

Enquanto formos escravos desse passado, não há esperança de vencermos o medo de viver em uma democracia que seja realmente de todos.

RUY CASTRO

Em horas mortas

Ruy Castro
Folha de S. Paulo - 07/05/2010
 
RIO DE JANEIRO - Os rapazes que picharam o Cristo Redentor há duas semanas, ao perceber que seriam presos, preferiram apresentar-se à polícia carioca. E, talvez para não levar uns cascudos, ofereceram-se para uma punição: vestiram uniforme, avental e luvas fornecidos pela prefeitura e dedicaram-se a limpar a nojeira deixada durante anos por seus colegas de vandalismo, na entrada do túnel Novo, em Botafogo.
Os pichadores tiveram de dar duro nos solventes e escovas para remover a tinta dos garranchos e garatujas. "Não sabia que era tão difícil de limpar", disse um deles. É provável que, enquanto admitia isto, pensasse na irresponsável facilidade com que já "escrevera" em fachadas, sem dizer nada de original, profundo ou compreensível.
Foi-se o tempo em que pichadores tinham algo a declarar, como "Abaixo a ditadura" ou "FMI: Fome e Miséria Internacional". Eu próprio, em 1966, rabisquei esta última com um bastão num muro da Tijuca, em horas mortas, embora estivesse mais interessado na colega que me acompanhava e com quem deveria simular um namoro até que o olheiro, plantado numa esquina, desse o sinal de tudo bem.
O bastão provocava uma lambança nas mãos, o que nos obrigava a levar querosene e estopa para a tarefa, a fim de apagar suspeitas. Tivéssemos spray na época, e as paredes do Rio receberiam tratados de Althusser, Débray e Marcuse. Vida que segue e, nos anos 70, a cidade seria palco de pichações crípticas, como "Lerfá Mu" e "Celacanto Provoca Maremoto", cujo sentido nunca ficou claro.
Desde então, o nível dos pichadores caiu para abaixo de zero. O que não os impede de ter seus defensores. Chamá-los de cretinos, por exemplo, como faço agora, é certeza de um enxame de cartas a favor do seu direito de sujar a propriedade pública ou particular.

GOSTOSA

BRASIL S/A

Poesia eleitoral
Antonio Machado

CORREIO BRAZILIENSE - 07/05/10

Da volta da Telebrás ao apoio ao exportador, governo rima ambição com encenação e limitação


O anúncio do programa de acesso à internet em banda larga através da Telebrás, esqueleto da velha estatal de telefonia não enterrado por razões legais, e o do pacote de apoio às exportações são rimas do momento político. Ele combina ambição, encenação e limitação.

A ambição que move o presidente Lula é eleger a ex-ministra Dilma Rousseff para sucedê-lo em 2011. Ele teve oito anos para implantar o que agora quer fazer a toque de caixa. Faltaram-lhe as condições — políticas, financeiras, agilidade gerencial, um pouco de cada.

A maior parte desses percalços não foi superada, ainda que exista na sociedade demanda pelas iniciativas não realizadas, coisas como a expansão da oferta de energia, a universalização da internet, os incentivos ao exportador para compensar a perda de competitividade das exportações resultante do real apreciado, do mercado doméstico aquecido e da economia global ainda lambendo a ferida da recessão.

É quando se exercita a encenação. O governo anuncia um projeto de impacto para tais demandas, com metas superlativas e a promessa de recursos fartos para a sua realização. Mas no médio a longo prazo.

O aqui e agora, nos sete meses e pouco que restam ao governo, é modesto, meio trailer do que poderá ser, dependendo do que sair da eleição. Qualquer semelhança com os antigos currais eleitorais, em que o coronel seduzia o eleitor com um pé de sapato e esperava a contagem dos votos para, eventualmente, dar o outro, é implicância da oposição. A ambição pressupõe a encenação porque ambas esbarram no final da rima: limitação, hoje, de caixa e de prioridades.

Tome-se o exemplo do plano de banda larga da internet. Garantido, nele, só o emprego de um dos principais entusiastas do modelo que Lula aprovou: o secretário de Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do Planejamento, Rogério Santanna, promovido a novo presidente da velha-nova Telebrás. A meta, diz ele, é elevar para 35 milhões em 2014 o número de domicílios com internet, que hoje é de 13,5 milhões. Ou seja: até o fim do próximo governo, que não se sabe qual será — se de Dilma, de José Serra ou de Marina Silva.

Com a administração atual já perto do fim, talvez fosse racional que o programa da ex-ministra Dilma incorporasse a iniciativa, a expusesse ao eleitor e aguardasse o resultado das urnas. Mas Lula aí não seria o autor. Então, ficou assim: neste ano, garante-se o renascimento da Telebrás para gerir a rede de fibra ótica estatal, criar o fato consumado para 2011, manchetes e Lula dizer que fez.

Banda larga fininha
E o acesso universal em banda larga em todas as cidades? Depois se vê. Cesar Alvarez, assessor de Lula e coordenador do programa, afirmou que primeiro virá um projeto-piloto, cobrindo 100 cidades e entre elas 15 capitais. Ao todo, a rede pública de fibra ótica é da ordem de 20 mil quilômetros, parte sem condições operacionais.

A rede das operadoras privadas passa de 200 mil. Seria mais fácil fazer com elas, por meio de regulação e os incentivos anunciados para despertar a Telebrás. Sem subsídios a banda larga popular não funciona. Mas para Santanna, da Telebrás, “o pequeno número de cidades em que há concorrência na banda larga mostra que, sozinho, o mercado não irá resolver esse problema”. Tal análise é parcial.

Larga é a tributação
A universalização do celular indica que regras adequadas garantem a oferta. E regra, como sinônimo de regulação, não necessariamente tem a ver com concorrência. A distribuição de energia elétrica, um serviço bem mais essencial que a internet, é operada em regime de monopólio privado, com oferta contínua e modicidade tarifária.

Ainda é cara, mas eletricidade, como telefonia, é fácil cobrar, o que a faz ser uma das vacas leiteiras do Fisco. Impostos explicam mais de 40% da fatura do telefone, 65% da conta de luz. E tem mais para a internet: tráfego crescente e conteúdos cada vez mais ricos exigem upgrade frequente da rede e quem pague por isso. Estranho é o Estado preocupar-se com a velocidade de download para games.

Troco ao exportador
Ainda assim, Santanna falou em reduzir em cerca de 70% o preço do acesso em banda larga em relação à tarifa das operadoras. Combinou com a Receita Federal, Fazendas estaduais e o Tesouro Nacional? As injunções fiscais desinflaram a ambição do apoio às exportações. É o que explica o silêncio do governo quanto à devolução de créditos tributários acumulados pelo exportador, coisa de R$ 15 bilhões.

Se for para apoiá-los, que comece pelos atrasados. O governo só bancou devolver 50% dos créditos futuros em 30 dias. A dívida está como a banda larga: que outro maestro a faça tocar. Agora é ruído.

Do tempo das carroças
Programas ambiciosos na forma e ralos no conteúdo são típicos de fim de governo. Por isso, a maioria os evita. Mas alguns não podem esperar, como o apoio à exportação. Melhor o plano desidratado que plano nenhum, o que foi ignorado pelos exportadores que ameaçam ir à Justiça questionar partes do pacote, como a omissão dos créditos atrasados e as restrições para dificultar o acesso aos incentivos.

Foi o meio de racioná-los vis-à-vis o que o Tesouro aguenta. Fez-se igual no caso da internet: a velocidade de conexão será de 512 kilobits/segundo no plano mais barato. Isso é banda larga puxada a mula. A diferença é que receita de exportação é tema de segurança nacional. Já a internet transportada em carroça é só vexame.

JOSÉ SIMÃO

Ueba! É o Centenada do Corinthians!
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 07/05/10

Só falta mais uma pizza para o Ronaldo poder comemorar o centenário: cem quilos!

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta! "Casal gay carioca quer adotar um surfista de 22 anos." É verdade. Isso não é adoção! É PEGAÇÃO! Rarará! E atenção corintianos. Agora só resta torcer pro Marcelinho Carioca ganhar a "Dança dos Famosos"! E sabe o que um corintiano faz quando ganha a Libertadores? Desliga o videogame e vai dormir! Só no Playstation-xon! Rarará! E o Ronalducho? O Gordômeno?
O Kibeloco revela: "Mais uma pizza e o Ronaldo vai comemorar o centenário!". Cem quilos! Falta uma pizza para o Ronaldo comemorar o centenário! E adorei a charge do Amarildo com a torcida flamenguista gritando "Traveco! Traveco! Traveco!" e, a corintiana, "Chifrudo! Chifrudo! Chifrudo!". E o Ronaldo pro Adriano: "E a gente reclamava quando chamavam a gente de gordo!". Rarará! Libertadores? Fica pro próximo século! Rarará! O CENTENADA DO TIMÃO! Rarará!
E o Serra tá elogiando tanto o Lula que só falta pedir para o povo votar na Dilma. Rarará! E a quebra da patente do Viagra tá rendendo! Acabam de sair mais dois genéricos do Viagra. O Viagrol: viagra com fosfosol. Para você se lembrar do que faz quando o Viagra começar a fazer efeito. O que eu faço com isso mesmo? Viagrol!
E na Bahia lançaram o Canaviagra, o tesão do Nordeste: extrato de guaraná, gengibre, pimenta jamaica, cravo e canela. E um amigo meu tomou Viagra e teve um ataque do coração. Ficou emocionado quando viu o espetáculo do crescimento! Num guentou. BUF!
E o que consola a torcida é que o Corinthians no ranking da Fifa está entre os 15: 15 de Jaú e 15 de Piracicaba! Rarará! E olha essa pichação: "Robson, eu te amo, mas perdi o tesão! Adeus, Renata". Ueba! É mole? É mole, mas sobe! Ou, como disse aquele outro: é mole, mas trisca pra ver o que acontece!
Antitucanês Reloaded, a Missão. Continuo com a minha heroica e mesopotâmica campanha Morte ao Tucanês. É que em Lençóis, na Bahia, tem um lupanar (gostaram do lupanar?) chamado Belisca Bunda!
Ueba! Parece Dias Gomes. Viva o antitucanês. Viva o Brasil! E atenção! Cartilha do Lula. O Orélio do Lula. Mais um verbete pro óbvio lulante. Hoje não tem. Tá com a bandeira a meio pau! Rarará! O lulês é mais fácil que o ingrêis. Nóis sofre mas nóis goza. Hoje só amanhã!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno! E vai indo que eu não vou!

MENGÃO

ANCELMO GÓIS

Estrela de cinema 
Ancelmo Góis 

O Globo - 07/05/2010 

“On the road”, o filme de Walter Salles sobre o lendário ícone beat Jack Kerouac, terá no elenco Kristen Stewart (foto), musa adolescente de Hollywood, estrela da série “Crepúsculo”. As filmagens começam em agosto.

Airbus na ponte A Avianca Brasil (antiga OceanAir) recebeu ontem seu segundo Airbus A319. Até o fim do ano, chegarão mais dois.

Com isso, a ponte aérea RioSão Paulo, já a partir do fim de junho, será feita só com Airbus.

Chapa quente Pessoas ligadas a Sthefany Brito se surpreenderam com a atitude de Alexandre Pato, que optou pela separação litigiosa e não amigável do casal.

É que, na Itália, era costurado um acordo em que a atriz abriria mão de qualquer pleito em troca de receber, por um ano, R$ 50 mil mensais

É que...

O advogado do jogador, João Paulo Lins e Silva, ingressou, dia 29, com um processo na 9ª Vara de Família, no Rio.

Viva Sônia! Sônia Braga faz as malas para ir a Cannes, onde “O beijo da mulher-aranha”, de Hector Babenco, filme que estrelou em 1985, será exibido dia 15 de maio na sessão Clássicos do Festival.

Perto de fazer 60 anos, a atriz festeja: “Já sou um clássico!”

Pet & Flamengo O jogador Petkovic entrou novamente na Justiça contra o Flamengo.

Cobra, na 31ª Vara Cível, o cumprimento do último acordo feito com o clube para o recebimento de atrasados. São cerca de R$ 10 milhões.

Alvo é a internet Representantes das maiores editoras de música do país, filiadas à Associação Brasileira dos Editores de Música e à Associação Brasileira de Editoras Reunidas, decidiram, quarta, no Rio, fundir as duas instituições.

Nasceu a União Brasileira dos Editores de Música, cuja prioridade será arrecadar direitos sobre músicas na internet.

Com ou sem Neymar A turma do “Casseta & Planeta” gravou dois programas para a próxima terça, na TV Globo.

Um, caso Neymar (eu apoio) seja convocado (a lista sai na própria terça); outro, se Dunga deixar o craque de fora.

Cine Brasil “À margem do lixo”, do brasileiro Evaldo Mocarzel, ganhou o prêmio de Melhor Longa do XII Festival de Cinema de Direitos Humanos, em Buenos Aires.

Na Argentina, o filme virou “Al margen de la basura”.

Rio no cinema Eduardo Paes negocia com o Salgueiro o enredo “Rio no cinema” para o carnaval de 2011.

Paes se reuniu ontem com a presidente da escola, Regina Celi.

A ideia, na verdade, surgiu em março, numa conversa do prefeito em Nova York com o carioca Carlos Saldanha, diretor da série “A era do gelo”.

Segue...

Saldanha, que está rodando o filme “Rio”, sobre um papagaio que viaja dos EUA para cá, pode ajudar a escola da Tijuca.

Boletim médico Recebeu alta ontem do Hospital Cardiotrauma, em Ipanema, depois de 65 dias de internação, Ana Sheila, 21 anos, uma das vítimas do ataque ao ônibus na Cidade de Deus, dia 3 de março.

Ana teve queimaduras de 1º e 2º graus em mais de 50% do corpo e precisará de fisioterapia para recuperar movimentos das mãos e dos pés.

Coisa feia da Oi A Oi fixo (ex-Telemar) liderou a lista de empresas mais acionadas nos juizados especiais cíveis do Estado do Rio em abril.

Foram 2.517 ações contra a concessionária. Depois vieram Light, Ampla, Itaú e Ponto frio.

Efeito Flamengo Quarta à noite, enquanto o Flamengo triunfava contra o Corinthians, no Pacaembu, uma carioca pediu comida pelo telefone ao restaurante Le Coin, no Leblon, e ouviu do atendente: — A senhora pode esperar meia hora? É que todos os entregadores estão... vendo o jogo do Flamengo.

Faz sentido.

ELIANE CANTANHÊDE

Tabelinha

 Eliane Cantanhede
Folha de S. Paulo - 07/05/2010
 
BRASÍLIA - No primeiro debate da campanha, ontem, no Congresso Mineiro de Municípios, Marina, Dilma e Serra defenderam a reforma tributária e despejaram elogios nos municípios e nos prefeitos.
Um script óbvio e em que eles se igualaram. Mas o que foi mais estridente foi Serra abrindo, fechando e marcando sua participação com cascatas de simpatia para Marina.
Ele citou-a duas vezes na sua primeira intervenção, aplaudiu-a duas vezes enquanto ela falava, trocou figurinhas com ela enquanto Dilma discursava e explicou, ao voltar ao microfone, que estava receitando um remediozinho para a adversária do PV: "Eu e a Marina temos um problema comum: a garganta".
Serra representou o personagem bom moço, simpaticão, apesar de ter sido cercado e até ameaçado à entrada por professores mineiros em greve, aos gritos de "Aécio, Anastasia, tudo a mesma porcaria".
Diante do microfone e das câmeras, ele citou Fla-Flu, Palmeiras e Corinthians, Cruzeiro e Atlético, abriu duas vezes as portas de seu eventual governo ao PT, fez elogio para Lula e mais de uma gracinha para Dilma. Deixou também no ar uma referência elogiosa a Francisco Dornelles, "anfíbio de mineiro com carioca" e o mais novo cotado para vice na sua chapa.
Dilma parecia nervosa no início, controlando mal a voz, sugerindo desconforto. Depois, pegou o ritmo e batucou todo o tempo nos feitos do governo Lula. Citou o PAC, elencou os projetos para Minas, falou do combate ao desequilíbrio regional e da geração de empregos. Defendeu um "debate de projetos, de ideias" e procurou sorrir e ser também simpática, mas contida.
Para Marina, aplicada e discreta, é importante uma "disputa política, não plebiscitária". Não por acaso, esse foi um dos momentos em que foi aplaudida por Serra, que deixou no ar uma nítida impressão: ele e Marina se articulam para o segundo turno, mas, no fundo, temem o fim da eleição já no primeiro.

GOSTOSA

DORA KRAMER

Virada de opinião
Dora Kramer 
O Estado de S.Paulo 07/05/10

O Congresso Nacional pode até não conseguir aprovar o projeto que veta candidaturas de gente condenada por crimes dolosos graves a tempo de a lei entrar em vigor já para a eleição deste ano.

Mas, se na próxima terça-feira a Câmara mantiver a disposição exibida pela maioria do plenário na noite da última quarta-feira, se o Senado corroborar a posição e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionar sem vetos, ainda que a regra só se aplique daqui a dois anos, na próxima eleição municipal, terá valido a pena o esforço.

Mesmo sendo um caso específico com efeitos passageiros, a pressão social pela aprovação do projeto Ficha Limpa propiciou algo que há muito tempo não se via no Legislativo: o fortalecimento do papel de parlamentares mais qualificados, em geral eleitos pelo chamado voto de opinião, e que nas últimas legislaturas foram sendo gradativamente substituídos por políticos cujos atos não se curvam a pressões da sociedade, pois seus mandatos guardam pouca ou nenhuma relação de causa e efeito com o interesse público.

Uma série de fatores, sendo o eleitoral o mais forte deles, permitiu que uma conjunção pluripartidária conseguisse vencer a força a pior inércia que toma conta do Parlamento.

O deputado Índio da Costa, do DEM, o primeiro relator do projeto, reconhece que a proposta só andou porque a relatoria passou para as mãos do petista José Eduardo Martins Cardozo na Comissão de Constituição e Justiça. Ele modificou o texto e deu à redação uma versão possível, mas que ao mesmo tempo preservou o espírito da depuração na triagem de candidaturas.

É claro que o Congresso Nacional poderia ter tratado do assunto antes e dado atenção devida à proposta que foi entregue à Câmara no ano passado com 1 milhão e 700 mil assinaturas.

Na verdade, poderia tê-lo feito bem antes, pois o assunto há muito é objeto de debate e já foi tema tratado pelo 
Supremo Tribunal Federal: sem mudança na lei das inelegibilidades, o tribunal não tinha como se conduzir a não ser pelo preceito geral da presunção de inocência até o completo trânsito em julgado das ações judiciais.

A cobrança sobre o que poderia ter sido melhor ou mais perfeito se justificava enquanto tudo indicava que mais uma vez o Parlamento embromaria a nação.

Bem verdade que era essa mesmo a intenção da maioria. Mas, quando parecia que os pequenos, o PSOL, PV, os bem intencionados de sempre continuariam a falar sozinhos, o movimento de fora cresceu, os partidos de oposição aderiram, na última hora PT e PMDB perceberam que seria contraproducente ficar de fora, no plenário a minoria acabou virando unanimidade.

Votou-se a urgência e o mérito do projeto na mesma quase madrugada. Na noite seguinte, as mãos ladinas bem conhecidas de todos e nesses tempos acostumadas a vencer e a ter a maioria como companheira, tentaram desfigurar o projeto por meio de emendas.

Surpreendentemente, fracassaram vitimadas pela contra pressão da nova - embora transitória, é preciso ser realista - correlação de forças. Como não houve quorum suficiente, ainda podem conseguir na próxima terça-feira, pois faltam 12 destaques a serem derrubados para manter o texto do projeto tal como foi aprovado.

Difícil, nessa altura, que se perca tudo, embora nada seja impossível. Mas a persistência de fora e o esforço de dentro - com destaque para os que não desanimaram quando tudo parecia definitivamente perdido - mostra, no mínimo, como estão equivocados os ativistas da omissão na política.

Aqueles para quem a melhor maneira de protestar é insultar os políticos e deixar para lá.

Baixa intensidade. No afã de tentar agradar a todos ao dizer que não é "de oposição nem de situação", o tucano José Serra flerta com o risco de desagradar ao eleitorado que prefere gente de perfil bem nítido; seja carne ou peixe, mas de contornos bem definidos.

Pode até não ser o jeito mais cosmopolita de ser, mas face à maneira brasileira, a declaração de Serra soa artificial, ensaiada demais e apaixonada de menos.

WASHINGTON NOVAES

Por onde andará nossa simpatia?

Washington Novaes
O Estado de S. Paulo - 07/05/2010
 
Ao participar, há poucos dias, de um simpósio promovido no Rio de Janeiro pela Federação Brasileira de Psicanálise, reunindo membros de quatro associações dessa área do conhecimento, o autor destas linhas pôde verificar o alto nível de preocupação dos psicanalistas com as chamadas questões ambientais, seja pelos dramas e ameaças em escala global que estão diante de seus olhos, seja pelas repercussões que as inadequações nos nossos modos de viver têm na psicologia das pessoas que com eles buscam tratamento.
Nos dias em que se desenvolviam essas discussões, o noticiário mundial dava forte ênfase ao mais recente megadesastre, o derrame de petróleo numa plataforma submarina no Golfo do México, que formava gigantesca mancha com centenas de quilômetros de extensão e largura - com gravíssimos efeitos sobre a biodiversidade marinha, a pesca e atividades costeiras. Vieram à memória grandes desastres precedentes na área do petróleo e em outras, como o derrame de petróleo pelo navio Exxon Valdez no Alasca, em 1989; outro derramamento gigantesco na costa da Galícia espanhola, que até hoje tem graves consequências na pesca naquela região; ou ainda o vazamento de 40 toneladas de gases letais numa fábrica de pesticidas da Union Carbide em Bhopal, na Índia, que matou 20 mil pessoas e deixou 150 mil com doenças crônicas. Não faltou quem mencionasse artigo recente de George Monbiot, no jornal The Guardian, defendendo a tese de que a crise financeira e as erupções do vulcão islandês Eyjafjallajökull mostraram que "o mundo precisa de sociedades mais simples", menos megaprojetos. O que fez lembrar a frase do antropólogo basco Julio Baroja, já citado aqui, segundo quem "a grande cidade começa por nos roubar o essencial - a visão da nossa própria sombra e o ruído dos nossos passos". Além de privar as pessoas do contato físico com o meio em que vivem.
O vazamento no Golfo do México, porém, já ameaçava ter efeitos dramáticos fora dos danos imediatos - ameaçava a própria possibilidade de ser aprovada pelo Congresso norte-americano a lei sobre mudanças climáticas proposta pelo presidente Barack Obama. Porque, ao anunciar que enquanto não se esclarecerem as causas do acidente não suspenderá a moratória sobre a exploração de petróleo em alto-mar, o presidente perderia o apoio daqueles parlamentares, imprescindível para a aprovação da lei do clima no Congresso. E aí a complicação torna-se global, porque sem ela os Estados Unidos não poderão participar de nenhum acordo na Convenção do Clima, que tem sua próxima reunião marcada para dezembro, em Cancún. Convenções da ONU, como se sabe, exigem consenso. E basta a divergência de um país - ainda mais os Estados Unidos - para inviabilizar um acordo global sobre o clima.
E tudo isso acontece no momento em que a ONU divulga estudo que aponta prejuízos econômicos de quase US$ 1 trilhão em dez anos por causa de desastres "naturais" (tsunamis, terremotos, etc.) e climáticos (ciclones, furacões, secas, inundações, etc.), conforme relatou o correspondente deste jornal em Genebra, Jamil Chade (30/4), acrescentando as mortes de mais de 200 mil pessoas por um tsunami em 2004 na Ásia, outras tantas no terremoto do Haiti, o estrago gigantesco do terremoto no Chile. Por essas e outras, a ONU está criando o primeiro plano internacional de redução de riscos de desastres, esperando que "todos os governos signatários adotem até 2015 as diretrizes, uma espécie de guia sobre o que cada cidade, governo estadual e nacional precisam fazer para proteger as populações e alertar países vizinhos dos riscos". Para cada dólar investido em prevenção de desastres e planejamento urbano se podem economizar até 7 dólares em resgate e reparo de danos, diz a notícia.
É um tema discutido muitas vezes neste espaço, sempre lembrando que as políticas brasileiras de mitigação (redução de emissões) são ainda insuficientes, enquanto as de adaptação às mudanças do clima praticamente inexistem - embora já estejamos muito atrasados. A proposta da ONU é de instituir padrões de construção mais rigorosos nas cidades, nas rodovias, em todos os lugares. Garantir o funcionamento de usinas de energia, dos sistemas de abastecimento de água, dos hospitais, das escolas. Porque entre 2000 e 2010 aconteceram mais de 385 desastres "naturais" por ano, com 2,4 bilhões de pessoas afetadas, 780 mil mortes. E a previsão da ONG Oxfam é de que até 2015 o número de vítimas dos problemas climáticos poderá crescer 50%.
Diante de números tão dramáticos, é inacreditável o panorama na área política. Na mais recente reunião preparatória para Cancún, realizada na Alemanha, a primeira-ministra Angela Merkel lembrou que os cientistas têm advertido sobre a necessidade absoluta de conter o aumento da temperatura da Terra em, no máximo, 2 graus Celsius (já subiu 0,8 grau) até 2050 - de modo a evitar catástrofes ainda mais graves. Mas, no panorama atual - disse ela -, caminha-se para um aumento de 3 a 4 graus. Ainda assim, os países "emergentes", inclusive o Brasil, numa reunião em Nova Délhi nos mesmos dias, mantiveram a posição de atribuir aos países industrializados a responsabilidade de reduzir emissões, sem assumirem eles, "emergentes", compromissos obrigatórios de redução, que poderiam "comprometer o desenvolvimento econômico". Curioso, porque o próprio Ipea afirma que "a redução das emissões de gases de efeito estufa não deverá comprometer o desenvolvimento econômico do Brasil" (Agência Estado, 23/4). Será interessante ver como prosseguirá essa discussão na próxima reunião desses países, que será no Brasil, em julho.
No simpósio dos psicanalistas, no Rio de Janeiro, lembrou-se uma frase de Einstein, depois de haver formulado suas complexas teorias no campo da Física: "Nossa melhor possibilidade é uma compreensão simpática da natureza."
Quando se prestará atenção?

O ABILOLADO E A MENTIROSA

PAINEL DA FOLHA

Homem do caixa

Renata Lo Prete
Folha de S. Paulo - 07/05/2010
 

José de Filippi Júnior, tesoureiro de Lula na reeleição de 2006, assumirá a mesma função na campanha de Dilma Rousseff. Ex-prefeito de Diadema pelo PT, ele bateu martelo em encontro com a candidata em Brasília no final de abril. Filippi, que encerra em junho uma temporada de estudos em Harvard (EUA), fez rápida passagem pelo Brasil na qual, além de conversar com Dilma, participou do lançamento de Aloizio Mercadante ao governo de São Paulo.
Desde a reativação no noticiário do escândalo da Bancoop, que envolve o tesoureiro do PT, João Vaccari, o Planalto procurou frisar que as contas da campanha terão outra administração e intensificou a busca por um nome. Filippi sempre foi o favorito de Lula.


Dupla jornada. Considerado um dos nomes mais fortes da chapa do PT de São Paulo para a Câmara, José de Filippi estuda a possibilidade de manter a candidatura mesmo encarregado da tesouraria da campanha de Dilma.
Fala... O seminário da PF que termina hoje em Brasília e visa preparar delegados para um inédito papel fiscalizador nas eleições fez a oposição lembrar de episódio da campanha presidencial de 2006.
...que eu te escuto. Naquele ano, um grande grupo empresarial que resolveu contribuir (também) para o tucano Geraldo Alckmin foi chamado ao Palácio do Planalto para se explicar um dia depois de efetuada a doação.
Farmácia popular. José Serra, que havia trocado impressões sobre dor de garganta com Marina Silva durante debate no 27º Congresso Mineiro de Municípios, em Belo Horizonte, foi mais específico ao descer do palco: o tucano "receitou" à candidata do PV, que evita antibióticos, um remédio para pingar no nariz e um spray para a garganta.
Controle de risco. O evento a que Serra, Dilma e Marina comparecerão no próximo dia 25, na CNI (Confederação Nacional da Indústria), terá formato similar ao de ontem em BH: perguntas para os candidatos, mas sem confronto direto entre eles.
Superquadra. Elogiado por Serra em BH, o senador Francisco Dornelles (PP-RJ), cotado para ser seu vice, foi visto anteontem no maior papo com o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, e com o deputado tucano Jutahy Júnior, um dos coordenadores da campanha. O trio estava em frente ao edifício onde Guerra mora em Brasília. A cena se deu um dia após Dornelles ter almoçado com Dilma.
Superdosagem. Na participação que gravou para o programa de TV do PT, com exibição marcada para o dia 13, Lula capricha nos elogios a Dilma. O presidente praticamente atribui à ex-ministra o sucesso de seu governo.
Barata voa. A passagem de Serra pelo Rio Grande do Sul, o tempo todo ciceroneado pelo PMDB, não contrariou apenas o comando da campanha petista, mas também o PDT. "Estamos alarmados", desabafa o ex-governador Alceu Collares. O encontro do tucano com o peemedebista José Fogaça, cujo vice é do PDT, acirrou ainda mais os ânimos.
Cacos. A Paulo Octávio Investimentos Imobiliários, do ex-vice de José Roberto Arruda, pede à Justiça indenização de R$ 10 mil por dois vasos que teriam sido quebrados em fevereiro, durante protesto contra a corrupção em frente ao escritório da empresa. O alvo da ação é um estudante de filosofia que integrou o Movimento Fora Arruda. A empresa quer ainda um pedido de desculpas a ser publicado em jornal com circulação no Distrito Federal. Paulo Octávio, hoje afastado da política, afirma desconhecer a ação.
Lotação. Dos 205 prefeitos tucanos do Estado de São Paulo, 150 confirmaram presença no lançamento da candidatura de Geraldo Alckmin, amanhã no Expo Center Norte, na capital. São esperados também mais de 600 vereadores do partido. Entre as siglas aliadas, apenas o PMDB já enviou 800 confirmações.
Visita à Folha. Geraldo Alckmin (PSDB), ex-governador de São Paulo e pré-candidato ao Palácio dos Bandeirantes, visitou ontem aFolha, a convite do jornal, onde foi recebido em almoço.

com LETÍCIA SANDER e GABRIELA GUERREIRO
Tiroteio 
Assistimos ao risco de institucionalização de um Watergate brasileiro, no qual a PF terá o poder de constranger candidaturas. Isso é uma ofensa ao poder político.

Do senador TASSO JEREISSATI (PSDB-CE), sobre iniciativas que visam dar à PF papel inédito de fiscalização em tempo real das campanhas.
Contraponto 
Cabeça feita
Diálogo registrado ontem no Twitter entre os ministros do Planejamento, Paulo Bernardo, e das Relações Institucionais, Alexandre Padilha:
-Dei entrevista usando boné do IBGE para divulgar o Censo 2010, mas só divulguei o boné. Pessoas perguntam: que boné é aquele?- protestou o primeiro.
-Da próxima vez, pinte "Censo IBGE" na sua área capilar contingenciada... Ninguém falara de boné- tuitou de volta Padilha.
Desaforo!- encerrou Paulo Bernardo.

JOÃO MELLÃO NETO

Como vai dona Dilma

João Mellão Neto
O Estado de S. Paulo - 07/05/2010
 

No final de 2001 Duda Mendonça, o agora anjo decaído do marketing político, escreveu um livro onde, com rara franqueza, expôs todas as suas impressões sobre o PT. Ele acabara de ser contratado pelo partido para cuidar das eleições seguintes, as de 2002. A anedota maldosa da época dizia que Lula não era candidato a presidente, mas sim a persistente. Aquela seria a sua quarta eleição. Naquela época ninguém acreditava que ele teria alguma chance.
Vale a pena ler agora o livro de Duda. Chama-se Casos e Coisas. As suas ideias deram certo. E hoje em dia, com o PT no poder, ele não republicaria mais esse seu ensaio. O texto é bastante constrangedor para Lula e companhia.
Dentre suas observações se destaca a constatação de que o PT, pela sua organização e pelo fervor da militância, algum dia haveria de chegar ao poder. Se não naquele próximo pleito, ao menos nos seguintes.
Mas para tanto seriam necessárias algumas correções de imagem. O partido e seu candidato teimavam em se valer de algumas atitudes próprias do seu passado sindical. Isso afugentava a opinião pública e resultava em malogro eleitoral. Uma delas era a recorrente saudação: "A luta continua, companheiro!" Segundo Duda, tal frase causava constrangimento nas pessoas.
Os brasileiros têm horror a confusão, a briga. A nossa cultura é a da conciliação. E a palavra "luta" remetia a confronto. Era preciso convencer a militância de que esse termo deveria ser abolido. Naquela campanha e dali em diante, nunca mais tal saudação "de guerra" foi utilizada. Ao menos em público...
Outra observação de Duda se refere à imagem do candidato. Lula, até então, adotava o figurino típico dos intelectuais das nossas esquerdas: indumentária descuidada, olhar agressivo, barba desgrenhada e ausência total de senso de humor. Segundo aquela gente, tudo isso era necessário para demonstrar total ruptura com os ditos "valores burgueses". Acontece que o grande público sempre prestigiou tais valores. Pior: ninguém, no povo, sequer sabia o que era "burguês".
Para tornar o candidato mais palatável urgia fazer-se um "extreme makeover" em sua imagem. Lula, devidamente repaginado, passou a trajar ternos bem cortados e gravatas da moda. Eliminou de seu discurso qualquer ideia de confrontação. Sua barba foi cuidadosamente aparada e foi adotada a postura cordial do "Lulinha paz e amor".
Não havia nada de artificial nisso. O Lula original, dos tempos sindicais, não era esquerdista. Ao contrário. Chegou a declarar, publicamente, que não queria o apoio de estudantes e professores, com o argumento de que "intelectuais só atrapalham!"
Ele acabou por se retratar, quando, ao fundar o Partido dos Trabalhadores, constatou que boa parte dos filiados provinha justamente daquele extrato social. E por isso, intuitivo, Lula adotou o figurino e o discurso das esquerdas.
Duda nada mais fez do que resgatar o autêntico Lula de outrora. Tanto é verdade que o presidente Lula, após tantos anos de poder, ainda se sente à vontade no seu figurino de bonachão e conciliador.
Duda Mendonça caiu em desgraça em 2005, durante o "mensalão". Mas seu talento e seu poder de interpretar a alma brasileira continuam existindo.
Eis que ele veio a público, na semana passada, para declarar que a imagem artificial criada para a candidata do PT, dona Dilma Rousseff, não vai pegar. Segundo ele, seria melhor deixá-la exibir em público a sua verdadeira personalidade.
Já se sabe que a ex-braço direito de Lula é uma mulher brava, impaciente, centralizadora e autoritária. Por que não deixá-la mostrar-se como realmente é e criar uma propaganda que valorize tais atributos?
Personagens com tais características também são bem aceitas no imaginário popular. Jânio Quadros venceu numerosas eleições exibindo exatamente esses traços de personalidade: era irascível, nada dado a conchavos, não dividia o poder com ninguém e se revelava muito cioso de sua autoridade.
O caso de Margaret Thatcher, na Inglaterra, também é emblemático. Ela foi eleita e reeleita primeira-ministra várias vezes por causa de sua imagem de dura na queda. Era conhecida pelo povo como Dama de Ferro.
Essas atitudes não são necessariamente negativas, desde que autênticas. Basta que se alimente na opinião pública a predisposição para valorizá-las. A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, é assim. E, no passado, Jânio Quadros era assim. Margaret Thatcher era assim. Até mesmo o incensado Winston Churchill chegou ao centro do palco, no Reino Unido, por ser assim. E isso numa época em que ainda não existia o marketing político.
É mais producente deixar a dona Dilma à vontade do que obrigá-la a exercer, em público, um papel que não condiz com ela: o de mulher boazinha, sorridente, tolerante, humilde e conciliadora. Tudo isso soa, ao público, muito artificial.
E já está comprovado que nós, brasileiros, abominamos a falsidade. Vejam-se os critérios de que se valem as pessoas nas eliminações do Big Brother. Basta observar o comportamento que é atribuído aos vilões nas telenovelas.
Tudo se tolera nos personagens públicos: a maldade, a crueldade e até mesmo, em alguns casos, a malandragem. Mas ninguém perdoa a hipocrisia.
Deixem a dona Dilma ser o que é. Falsificá-la não funciona.
Não, não estou torcendo pelo PT. O que quero dizer é que a candidatura de dona Dilma está mal na fita.
Até dois meses atrás, quase todo mundo acreditava que ela, com o apoio da máquina pública, venceria facilmente. Agora, não! Ninguém mais arrisca palpites.
José Serra, na sua sexta eleição majoritária, já está calejado. Ele, assim, jamais se atreveria a tentar mostrar-se como não é.

GOSTOSA

MERVAL PEREIRA

Testando os limites
Merval Pereira
O GLOBO - 07/05/10

A “judicialização” da campanha presidencial, como acusa o PT, tem razões imediatas ligadas à execução da legislação eleitoral, mas sobretudo representa um esforço da oposição de criar constrangimentos para o governo, especialmente para o presidente Lula, para quando realmente a campanha começar, depois das convenções de junho.

Essa guerrilha judicial, além de um sintoma de que a legislação está errada, criando situações indefinidas que os partidos tentam explorar ao máximo, ampliando os limites da lei, é também reflexo da participação ativa de um presidente extremamente popular que não gosta de ser contestado.

O que o PSDB teme é a força do presidente Lula na campanha eleitoral, e essas ações atuais representam uma tentativa de dar limites à sua atuação.

Mas também a oposição é acusada pelo PT de infringir a lei, embora em escala menor, no mínimo pela falta de condições objetivas.

O presidente Lula tem sido multado pela Justiça Eleitoral por campanha antecipada, e agora mesmo o programa partidário do PT entrou na mira do Ministério Público Eleitoral, no que parece ser um novo patamar da guerra.

Muito dificilmente ele não irá ao ar no próximo dia 13, como propôs a viceprocuradorageral eleitoral, Sandra Cureau ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

A punição seria consequência de uma representação do PSDB e do DEM contra o PT, que, em dezembro do ano passado, teria usado o espaço reservado para a propaganda partidária para promover a pré-candidatura de Dilma.

Esse esforço do presidente e do PT para colocar a candidatura oficial em condições de competir com Serra, que aparece como líder das pesquisas consistentemente nos últimos anos, tem feito com que a lei eleitoral seja frequentemente burlada nesta campanha.

Por isso, a oposição vai à Justiça se proteger do abuso de poder do presidente.

O que ela quer, na verdade, é inibir a atuação de Lula, que é a grande incógnita da propaganda oficial no rádio e na televisão.

Ninguém sabe se a presença de Lula no programa do PT vai alavancar a candidatura de Dilma, como acreditam os petistas e temem os oposicionistas, ou se o empenho do presidente pode causar incômodos em parcela do eleitorado, que já começa a ver nesse exagerado empenho de Lula uma tentativa de impingir sua vontade ao eleitorado.

Na verdade, o que vem funcionando muito bem na democracia brasileira é o sistema de pesos e contrapesos entre os Poderes, com destaque para a atuação do Judiciário.

Também a sociedade tem reagido com firmeza diante de tentativas de excessos por parte do Executivo.

Luis Gushiken, quando ainda era um assessor graduado da Presidência da República, diagnosticou essa situação dizendo que “a sociedade brasileira já deu os limites ao PT”.

Ele se referia a medidas polêmicas do governo, como o Conselho Federal de Jornalismo, a Ancinav e até mesmo a uma cartilha do “politicamente correto”, que, segundo ele, não tinham qualquer intenção autoritária mas geraram reações da sociedade: “A cada tentativa dessas, vai e volta, a sociedade reage.

Está dado claramente o limite”, disse-me Gushiken certa ocasião.

De lá para cá, outras ocasiões surgiram para confirmar que setores do governo petista testam os limites de suas ações, sempre tentando ampliá-los, e são rechaçados pela reação firme da sociedade.

O fato mais recente foi a tentativa de aprovação do Programa Nacional de Direitos Humanos, que provocou uma reação de diversos setores da sociedade que se sentiram atingidos por várias medidas propostas no documento, desde a implícita revisão da Lei de Anistia – questão agora definitivamente resolvida pela decisão do Supremo Tribunal Federal – até questões como o aborto ou o direito de propriedade.

Uma a uma essas questões foram sendo revistas pelo governo, diante da reação em cadeia.

Atribui-se ao presidente Lula uma irritação com a atuação do Tribunal Superior Eleitoral, que já o multou duas vezes por campanha antecipada.

O presidente consideraria que o TSE está usando essas multas, que seriam rigorosas demais, para mostrar imparcialidade e marcar posição.

O presidente já deixou claro em diversas ocasiões sua inconformidade com as ações da Justiça Eleitoral, e não foram uma nem duas vezes em que debochou publicamente das punições que recebeu.

Mas o fato é que, se o TSE não impuser limites, corremos o risco de termos uma campanha em que os candidatos a presidente serão eleitos depois de desrespeitarem seguidamente a legislação eleitoral em vigor.

Essa situação, além de ser um péssimo exemplo, poderia criar brechas para que o resultado da eleição fosse contestado pelo perdedor na própria 
Justiça Eleitoral.

Três governadores perderam seus mandatos justamente porque exorbitaram do poder político ou econômico nas campanhas em que se elegeram, estabelecendo uma competição injusta com o adversário derrotado.

Fora o fato de que o TSE adotou uma tese estranha, dando o governo ao segundo colocado, na suposição de que ele venceria a eleição se não fossem os abusos do governador eleito, fica demonstrado que é possível perderse o mandato caso o abuso de poder econômico e político fique comprovado.

É claro que seria uma questão política delicadíssima anular a vitória de um presidente da República, e dificilmente essa decisão extrema será adotada.

Mas a simples lembrança dessa possibilidade deve servir de freio às tentativas de avançar limites na legislação.

O próprio presidente Lula já se preveniu contratando seu ex-ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, para ser seu conselheiro legal durante a campanha presidencial, justamente porque quer participar ativamente dela em favor de sua candidata, Dilma Rousseff, mas não pretende ser alvo de impugnações legais.

CLÁUDIO HUMBERTO

“O MP é a instituição cada vez mais odiada no Legislativo”
PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA, ROBERTO GURGEL, SOBRE O ‘ÓDIO’ DOS PARLAMENTARES

LULA É RECORDISTA EM MEDIDAS PROVISÓRIAS
Nos últimos 88 meses, o presidente Lula se transformou no recordista absoluto na edição de medidas provisórias: até agora foram 385. Mesmo considerando a reedição ilimitada de MPs, banida pela emenda nº 32, de 2001, o presidente Lula ainda vence o ex-campeão Itamar Franco, que se utilizou do instrumento 363 vezes. A MP é exclusiva do presidente e só poderia ser usada em situações de emergência.

A LEI PROÍBE 
As MPs do presidente Lula já trataram da exportação de diamantes e da criação de estatais e cargos. Temas que nada têm de urgentes.

COMPARAÇÃO
Os ex-presidentes José Sarney e Fernando Collor editaram 125 e 89 medidas provisórias cada, segundo levantamento do Diap.

ALIANÇA FECHADA 
O PR anuncia neste sábado, oficialmente, seu apoio a Joaquim Roriz para o governo do DF. O deputado Jofran Frejat será o vice.

FICA FRIO
Depois de tirar foto com Lula, o Corinthians, time do presidente, perdeu para o Flamengo. Quem anda com pé-frio, só entra em fria. 

DF: GOVERNADOR CRITICADO POR USAR HELICÓPTEROS
Vizinhos da residência particular do governador do DF, Rogério Rosso, reclamam do barulho e da utilização deslumbrada de helicópteros, inclusive da PM. Mas isso não decorre da vontade da família Rosso, mas do estímulo da segurança, a cargo da Polícia Militar, que sempre “desaconselha” o uso de carros. É um velho truque: ganhar poder tornando o chefe uma espécie de refém dessa deliciosa mordomia. 

MENOS, MENOS
A assessoria do governador do DF desdenhou: “helicóptero é como carro oficial”. Ainda assim, Rogério Rosso decidiu restringir seu uso.

RUI, 100
O Senado vai celebrar nesta sexta, às 9 horas, o centenário de nascimento do alagoano Rui Palmeira, ex-senador, jornalista, advogado e escritor. 

SALVE GERAL
Os presos na Bahia vão poder votar em outubro. Certos candidatos que os cortejarão devem atentar contra o sumiço da chave. 

À FRANCESA
A campanha quer mudar a imagem de Dilma Rousseff mudando seus modelitos. Melhor seria atentar para a definição do ícone de elegância, Coco Chanel: “Disfarçar-se é encantador, parecer disfarçada, é triste.”

TUCANOS COM RORIZ 
O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), foi à casa de Joaquim Roriz oferecer-lhe o apoio, em troca de palanque para José Serra no DF. Maria de Lourdes Abadia deve comandar o diretório local.

VAI QUE É MOLE
Comercial na TV informa aos candidatos a bandido que, para o Conselho Nacional de Justiça, crime de falsificação ou fraude não dá cadeia, mas apenas prestação de serviços comunitários.

NÃO ME ESQUEÇAM
Estava mortinho ontem de novo o Twitter de Dilma. Sua última mensagem, sobre o aumento dos aposentados, dizia: “O presidente tem um forte compromisso social”. Não há apenas tucanos no “muro”.

ARTE DE BRASÍLIA
Começa nesta sexta a exposição “Art Made in Brasília”, apresentando trabalhos de oito grandes artistas plásticos da cidade. A curadoria da vernissage, na Casa Thomas Jefferson, é de Celina Leite Ribeiro.

IGNORÂNCIA CORRIGIDA 
O governo federal consertou rapidinho o erro no site do Programa de Aceleração do Crescimento (o PAC de Dilma), apontado nesta coluna, que localizava o Tocantins no Centro-Oeste e não na região Norte.

INCOMPETÊNCIA
Insumos das indústrias no polo de Manaus acumulam-se no aeroporto local, por incompetência e desorganização da Infraero. O presidente da Federação das Indústrias, Antônio Silva, pediu ajuda ao governador Omar Aziz para pressionar o governo Lula a encontrar a
solução.

A “BATALHA” DO RIO
Os aviões da Red Bull Air Race infernizam os ouvidos dos moradores da orla do Centro a Copacabana, para os shows de sábado e domingo, Dia das Mães, no Rio. Parece “ataque”, a qualquer momento. 

PENSANDO BEM... 
Para Lula, a nova crise que enlouquece a Europa é grego... 

PODER SEM PUDOR
POLÍTICA LITERÁRIA 
Candidato ao governo do Rio, Darcy Ribeiro atendeu ao convite do deputado Rockfeller de Lima e visitou a fazenda de um rico usineiro de Campos. No auge da reunião, cadê o candidato? Atracado a um livro na biblioteca, o professor afungentou os assessores:
– Podem continuar sem mim. Essa coisa de eleição é com vocês. Este livro é um original medieval, só existem dois no mundo. Deixem-me com ele!