terça-feira, agosto 10, 2010

RODRIGO CONSTANTINO

A bajulação corrompe

Rodrigo Constantino
O Globo - 10/08/2010
 
A grande vaia é mil vezes mais forte, mais poderosa, mais nobre do que a grande apoteose; os admiradores corrompem. (Nelson Rodrigues)
Os principais observadores da natureza humana sempre tiveram receio do estrago que a vaidade excessiva pode causar. Gostamos de elogios, enquanto criamos mecanismos de defesa contra as críticas. O autoengano pode ser uma estratégia útil para a sobrevivência, como diz Eduardo Giannetti em seu livro sobre o tema: O enganador autoenganado, convencido sinceramente do seu próprio engano, é uma máquina de enganar mais habilidosa e competente em sua arte do que o enganador frio e calculista. O enganador embarca em suas próprias mentiras, e passa a acreditar nelas com veemência. Fica mais fácil convencer os demais assim.
Justamente por isso a adulação popular ajuda a criar monstros perigosos.
As piores tiranias foram aquelas com amplo apoio do povo, como Hitler e Mussolini atestam. Aqueles que passam a se cercar somente de bajuladores, enquanto concentram poder e conquistam as massas, acabam blindados contra todo tipo de crítica. Os conselheiros mais sábios ficam impotentes diante da reverência das massas e fazem alertas em vão. De tanto escutar que é uma espécie de messias salvador, o demagogo pode acabar acreditando. Aí reside o maior risco para a sociedade.
Em Teoria dos sentimentos morais, Adam Smith alertou que nas cortes de príncipes, onde sucesso e privilégios dependem não da estima de inteligentes e bem informados, mas do favor de superiores presunçosos e arrogantes, a adulação e a falsidade prevalecem sobre mérito e habilidades. Em tais círculos sociais, conclui ele, as habilidades em agradar são mais consideradas do que as habilidades em servir.
Quando o mais importante é agradar o poderoso governante, a primeira coisa a ser sacrificada será a sinceridade.
Infelizmente, esta é a realidade brasileira. A popularidade do presidente Lula está nas alturas. Boa parte da imprensa com honrosas exceções parece filtrar todas as notícias através de uma lente benigna em prol dele, os intelectuais o tratam com incrível condescendência, e até mesmo um filme foi feito para o filho do Brasil. Há uma espécie de salvo-conduto que lhe permite abusar das contradições e arroubos demagógicos.
O presidente adquiriu uma imunidade que nenhum cidadão teria em seu lugar. Qualquer outro seria julgado de forma severa por aquilo que o presidente Lula diz sorrindo. Um efeito Teflon protege o presidente, já que nenhuma sujeira gruda em sua pessoa.
O problema é que essa bajulação ajuda a despertar a megalomania do presidente, alimentando sua vaidade de forma incrível. O poder corrompe, e o excesso de poder concentrado em alguém vaidoso e sem escrúpulos corrompe ainda mais. Nunca antes na história deste país um presidente contou com tanta indulgência dos críticos.
Lula está perdoado por qualquer pecado antes mesmo de ele ocorrer.
Ele pode se aliar aos mais antigos caciques da política nacional, beijar a mão deles, e tudo é perdoado pelo povo. Ele pode aderir às piores práticas políticas, passar a mão na cabeça dos réus de formação de quadrilha do seu partido, que poucos terão coragem de subir o tom das críticas. Ele pode abraçar os piores ditadores, chamá-los de camaradas, que poucos ousarão atacá-lo com firmeza. Quando se trata do presidente Lula, então tudo faz parte do jogo democrático. Até Jesus Cristo teria que se aliar a Judas para governar o Brasil, não é mesmo? O mal de quase todos nós é que preferimos ser arruinados pelo elogio a ser salvos pela crítica, disse Norman Vincent. Quando um povo perde sua capacidade de indignação, o caminho da servidão está aberto. A postura mais crítica é fundamental para se evitar abusos do poder.
Quando as pessoas se deixam levar pelas emoções ou pelo bolso , a decadência moral da sociedade está iminente.
Se os brasileiros desejam construir uma nação mais próspera, justa e livre, então se faz necessário respeitar princípios éticos básicos. O país precisa de um governo de leis isonômicas, incompatível com a carta branca concedida aos governantes carismáticos. A má conduta deve ser punida, independentemente de seu autor. Ninguém está acima da lei, e os fins não justificam os meios. O cinismo não é uma virtude. A ética não pode ser jogada no lixo, em troca de migalhas.
Precisamos resgatar certos valores que parecem cada vez mais abandonados, antes que seja tarde demais. Devemos enaltecer o espírito crítico. Quem tem boca vaia Roma e Brasília também.

GOSTOSA

SERRA PRESIDENTE

SERRA PRESIDENTE

ARNALDO JABOR

As bombas desejam explodir
ARNALDO JABOR
O GLOBO - 10/08/10

Há 65 anos, em 6 e 9 de agosto de 1945, os americanos destruíram Hiroshima e Nagasaki. Todo ano me repito e escrevo artigos parecidos sobre a bomba nessas datas, não para condenar um dos maiores crimes da humanidade, não, mas para lembrar que o impensável pode acontecer a qualquer momento.
Agora, não temos mais a Guerra Fria; ficamos com a guerra quente do deserto - a mais perigosa combinação: fanatismo religioso e poder atômico. Vivemos dois campos de batalha sem chão; de um lado, a cruzada errada do Ocidente, apesar e além de Obama. Do outro, temos os homens-bomba multiplicados por mil. E eles amam a morte.
Hoje, já há uma máquina de guerra se programando sozinha e nos preparando para um confronto inevitável no Oriente Médio. Estamos num momento histórico, em que já se ouvem os trovões de uma tempestade que virá. Os mecanismos de controle pela "razão", sensatez, pelas "soft powers" da diplomacia perdem a eficácia. Instala-se um progressivo irracionalismo num "choque de civilizações", sim (sei do simplismo da análise do Huntington em 93, mas estamos diante do simplismo da realidade), formando uma equação com mil incógnitas impossíveis de solucionar. Como dar conta da alucinação islâmica religiosa com amor à morte, do Paquistão, Índia, Israel, do Irã dominado por ratos nucleares em breve, da invencibilidade do Afeganistão, com a hiperdireita de Israel com Bibi, com o Hamas ou o Hezbollah que querem impedir o "perigo da paz"?
"There is a shit-storm coming" - disse Norman Mailer uma vez.
Tudo leva a crer que algo terrível acontecerá. A crença na razão ocidental foi ferida por dois desastres: o 11 de Setembro e a invasão do Iraque. A caixa de Pandora que Bush abriu nunca mais se fechará.
Estamos às vésperas de uma brutal mudança histórica. Sente-se no ar o desejo inconsciente por tragédias que pareçam uma "revelação". Surge a fome por algo que ponha fim ao "incontrolável", a coisa que o Ocidente mais odeia. Mesmo uma catástrofe sangrenta parecerá uma "verdade" nova.
Vivemos hoje na era inaugurada por Hiroshima. Lá e em Nagasaki, três dias depois, inaugurou-se a "guerra preventina" de hoje. Enquanto o Holocausto dos judeus na Segunda Guerra fecha o século XX, motivado ainda por contradições do século XIX, o espetáculo luminoso de Hiroshima marca o início da guerra do século XXI. O horror se moderniza, mas não acaba.
Auschwitz e Treblinka eram "fornos" da Revolução Industrial, eram massacres "fordistas", mas Hiroshima inventou a guerra tecnológica, virtual, asséptica. A extinção em massa dos japoneses no furacão de fogo fez em um minuto o trabalho de meses e meses do nazismo.
O que mais impressiona na destruição de Hiroshima é a morte "on delivery", "de pronta entrega", sem trens de gado humano, morte "clean", anglo-saxônica. A bomba norte-americana foi considerada uma "vitória da ciência".
Os nazistas matavam em nome do ideal psicótico e "estético" de "reformar" a humanidade para o milênio ariano. As bombas norte-americanas foram lançadas em nome da "razão". Na luta pela democracia, rasparam da face da Terra os "japorongas", seres oblíquos que, como dizia Truman, "são animais cruéis, obstinados, traidores". Seres inferiores de olhinho puxado podiam ser fritos como "shitakes".
A bomba agiu como um detergente, um mata-baratas, a guerra, como "limpeza", o típico viés americano de tudo resolver, rápida e implacável... E continua cozinhando na impaciência dos generais israelenses e dos falcões do Pentágono.
A destruição de Hiroshima foi "desnecessária" militarmente. O Japão estava de joelhos, querendo preservar apenas o imperador e a monarquia. Diziam que Hitler estava perto de conseguir a bomba - o que é mentira.
Uma das razões reais era que o presidente e os falcões da época queriam testar o brinquedo novo. Truman fala dele como um garoto: "Uau! É o mais fantástico aparelho de destruição jamais inventado! Uau! No teste, fez uma torre de aço de 60 metros virar um sorvete quente!..." O clima era lúdico e alucinado... o avião que largou a bomba A em Hiroshima tinha o nome da mãe do piloto - "Enola Gay". Esse gesto de carinho derreteu no fogo 150 mil pessoas. Essa foi a mãe de todas as bombas, parindo um feto do demônio, exterminando 40 mil crianças em 15 segundos.
Os norte-americanos queriam vingar Pearl Harbour, pela surpresa de fogo, exatamente como o ataque japonês três anos antes. Queriam também intimidar a União Soviética, pois começava a Guerra Fria; além, claro, de exibir para o mundo um show "maravilhoso" de som e luz, uma superprodução em cores do novo Império.
O Holocausto sujou o nome da Alemanha, mas Hiroshima soa como uma vitória tecnológica "inevitável". Na época, a bomba explodiu como um alívio e a opinião pública celebrou tontamente. Nesses dias, longe da Ásia e da Europa, só havia os papéis brancos caindo como pombas da paz na Quinta Avenida, sobre os beijos de amor da vitória. Naquele contexto, não havia conceitos disponíveis para condenar esse crime hediondo. A época estava morta para palavras, na vala comum dos detritos humanistas.
Hoje, a época está de novo morta para palavras, insuficientes para deter os fatos. Vale lembrar o poema de William Yeats, "The Second Coming", de 1919, diante do horror da Primeira Guerra...
"Tudo se desmancha no ar. O centro não segura/ a imensa anarquia solta sobre o mundo./ Terrível maré de sangue invade tudo e/ as cerimônias da inocência são afogadas./ Os homens melhores não têm convicção;/ e os piores estão tomados pela intensa paixão do mal.
(...)
Alguma revelação vem por aí;/ sem dúvida, é a Segunda Vinda.
(...)
Voltou a escuridão; e eu vejo que 20 séculos de sono de pedra/ Querem se vingar do pesadelo que lhes trouxe o berço de um presépio./ A hora chegou por fim;/ Que monstruosa fera se arrasta para Belém para renascer?/ É isso aí, bichos... Os grandes poetas são profetas".

EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO

A 'fábrica de dossiês' do PT
EDITORIAL
O Estado de S.Paulo - 10/08/10

Em editorial, nesta página, sobre a revelação de que servidores da Receita violaram o sigilo fiscal do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge Caldas Pereira, presumivelmente para a montagem de um dossiê que poderia ser usado por setores da campanha da candidata Dilma Rousseff contra o opositor tucano José Serra, falou-se do "exército secreto" arregimentado pelo PT na administração federal para fazer o trabalho sujo na disputa pelo Planalto. É mais do que isso. As campanhas eleitorais são apenas uma entre tantas frentes onde atuam essas tropas da treva - e assim também os seus alvos.

Disso não deixa dúvida a confissão de um ex-diretor e ex-assessor da Previ, o colossal fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, Geraldo Xavier Santiago. Em entrevista publicada na edição desta semana da revista Veja, Santiago disse que a entidade é "uma fábrica de dossiês" que funciona como um "bunker" e "braço partidário" a serviço de uma ala petista - comandada pelos poderosos chefões do sindicalismo aboletados na estrutura do poder nacional. Ele citou nominalmente os ex-ministros Ricardo Berzoini e Luiz Gushiken e o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, todos do setor bancário.

O gerente da fábrica, de acordo com a denúncia, era o presidente da Previ até junho, Sérgio Rosa. Santiago era próximo dele até romperem em 2007. No embalo, o então diretor deixou o fundo e saiu do PT. Ele não é um pecador arrependido. Levado a falar do dossiê contra Marina Mantega, filha do ministro da Fazenda, cuja compilação o entrevistado atribui a uma "disputa interna", fez uma especiosa distinção entre o certo e o errado nessas operações: "Uma coisa é fazer com o adversário. É uma involução do PT?"

O sindicalismo selvagem que Lula levou para dentro do governo transpôs para a política a violência característica dos embates entre as máfias sindicais. Parte da premissa de que todo adversário deve ser tratado como inimigo - e, nessa condição, deve ser aniquilado. Santiago, que começou no sindicato dos bancários do Rio, contou que sua estreia na linha de montagem de falsas acusações a terceiros data de 2002, quando as milícias petistas foram incumbidas de investir contra os então gestores da Previ e provar a interferência do governo na instituição.

A cultura da destruição se afirmou em seguida. "Dossiês com conteúdo ofensivo, para atingir e desmoralizar adversários políticos", precisa Santiago, "só no governo Lula mesmo, na gestão do Sérgio Rosa". Foi também quando a cúpula da Previ armou uma teia de conselheiros ligados ao PT em empresas de cujo capital o fundo participava para canalizar em favor da sigla as suas doações partidárias. A central de dossiês trabalhou a todo vapor durante a CPI dos Correios, em 2005, cujo foco incidiu sobre o mensalão, antes que o esquema de compra de votos fosse objeto de um inquérito específico.

A Previ, à época, era a fonte das acusações com que a senadora petista Ideli Salvatti tentava acuar parlamentares oposicionistas. Segundo revelou Santiago, que agora diz que cumpria "ordens superiores", entre os políticos visados estavam os senadores Jorge Bornhausen e Heráclito Fortes e o deputado ACM Neto, todos do DEM. O tucano José Serra também faria parte da lista. Rosa teria ordenado que se juntassem dados sigilosos com " informações sobre investimentos problemáticos da Previ que estivessem ligados a políticos da oposição".

Sintomaticamente, a primeira reação do PT à entrevista foi silenciar. Já o fundo de pensão, hoje dirigido por um ex-vice-presidente do Banco do Brasil, Ricardo Flores, informou que "a atual cúpula desconhece essa prática e está muito tranquila em relação a suas recentes práticas de governança". De notar os termos "atual" e "recentes" - indicando uma dissociação com o que se tenha feito na entidade até há bem pouco tempo. De seu lado, além de assegurar que a sua campanha não tem nenhuma vinculação com a Previ, a candidata Dilma Rousseff instou a imprensa a revolver o caso dos grampos na privatização da Telebrás no governo Fernando Henrique. Como se isso eximisse de culpa os papeleiros da Previ e limpasse a ficha do PT.

GOSTOSA

EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO

Incompetência gerencial
EDITORIAL
O Estado de S.Paulo - 10/08/10

O governo Lula deixará a seu sucessor uma conta de restos a pagar no valor de R$ 90 bilhões, segundo estimativa de técnicos do governo divulgada no Estado de domingo. Essa conta tem crescido ano a ano, de acordo com a candidata petista à Presidência da República, Dilma Rousseff, porque a atual administração aumentou os investimentos públicos. Mas a explicação esconde a verdade. A transferência de pagamentos de um ano para outro tem aumentado seguidamente porque o governo federal tem sido incapaz de investir as verbas autorizadas no Orçamento-Geral da União (OGU).

Neste ano, até 5 de agosto, o governo federal desembolsou R$ 23,4 bilhões para investimentos custeados pelo Tesouro. Isso representa apenas 34,3% da verba de R$ 68,2 bilhões autorizada no orçamento, embora mais de metade do exercício já tenha transcorrido. Mas só R$ 7,5 bilhões foram pagos com recursos previstos para 2010. Os demais R$ 15,9 bilhões correspondem a restos a pagar de exercícios anteriores. Só na rubrica investimentos ainda há restos a pagar de R$ 33,7 bilhões. Para todos os tipos de despesas, a parcela relativa a restos chega a R$ 58,8 bilhões, de acordo com o último balanço divulgado pela ONG Contas Abertas, especializada no acompanhamento e na análise das finanças públicas.

De janeiro até o começo de agosto, portanto, a liquidação de restos a pagar foi pouco mais que o dobro dos pagamentos custeados com dinheiro previsto na programação de 2010.

Despesas são inscritas como restos a pagar quando são empenhadas num exercício e não liquidadas até 31 de dezembro. Alguma transferência desse tipo é normal, porque nem todos os gastos contratados num ano são pagáveis até dezembro. Mas esse tipo de operação contábil aumentou nos últimos sete anos, especialmente depois de lançado o primeiro Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Isso não torna verdadeira a explicação da ex-ministra e candidata Dilma Rousseff. As verbas inscritas no OGU para cada exercício devem corresponder - é razoável supor - ao andamento estimado das obras e compras de equipamentos. Mas a experiência tem desmentido repetidamente essa suposição.

O investimento esperado simplesmente não se realiza porque o governo está despreparado para elaborar projetos e para administrar sua execução. Muitos projetos empacam na avaliação de seus efeitos ambientais, seja por defeito de elaboração, seja porque os órgãos de licenciamento cumprem mal a sua tarefa. Alguns são brecados pelo Tribunal de Contas da União (TCU), por defeitos técnicos na parte financeira ou por falhas em licitações.

Em muitos casos, tudo se passa como se os projetos fossem preparados por funcionários desinformados das normas financeiras aplicáveis à administração pública. Em vez de cobrar maior cuidado no desenho de projetos e nas licitações, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva protestou mais de uma vez contra o TCU, como se esse órgão fosse um entrave à realização dos investimentos públicos.

A incapacidade do governo para elaborar e executar projetos foi agravada pelo aparelhamento da administração federal, em todos os seus níveis. Exemplos de gestão deficiente ocorrem tanto na administração direta como na indireta.

O chamado PAC orçamentário é um fracasso bem conhecido. O PAC das estatais só avançou parcialmente - o Grupo Petrobrás tem sido responsável por cerca de 90% do valor investido. Nos demais setores os projetos foram tocados com muito menos eficiência. No conjunto só foram investidos, em três anos, 63% dos R$ 638 bilhões programados para 2008-2010.

Isso não impediu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de lançar o PAC 2, com um total previsto de R$ 1,6 trilhão de investimentos a partir de 2011. Para avançar nessa direção, o governo precisará, antes de mais nada, tirar o atraso do primeiro PAC.

No caso da administração direta, a herança para o próximo governo é facilmente previsível: restos a pagar estimados em R$ 90 bilhões - na maior parte por causa de investimentos em atraso - e um orçamento cada vez mais inflexível e sobrecarregado de gastos de custeio. A moldura desse quadro é uma notável incapacidade gerencial.

MÔNICA BERGAMO

Sobre rodas 
Mônica Bergamo 

Folha de S.Paulo - 10/08/2010

Tania Bulhões, cujo grupo, que comercializa artigos de luxo, é investigado por sonegação, evasão de divisas, falsidade ideológica e importação fraudulenta, voltou a circular com sua Mercedes Benz, que iria a leilão por determinação da Justiça. O TRF (Tribunal Regional Federal) da 3ª Região devolveu a ela a posse do carro depois que a empresária fez um depósito judicial de R$ 340 mil para garantir o pagamento de eventuais dívidas tributárias.
Bateria Pifada
Para retirar o carro, Tania Bulhões precisou contratar um guincho. Apreendida há um ano, a Mercedes, guardada num depósito da Justiça, estava com a bateria pifada, além de cheia de poeira.
Devo e Não Nego
Os advogados da empresária afirmam que vão pedir também a devolução do dinheiro, já que Bulhões não teria mais contas a acertar com a Receita Federal. Segundo eles, ela parcelou dívidas de R$ 1,2 milhão e está honrando os pagamentos.
Verdinhas
Custam R$ 5.000 os convites para jantar de arrecadação da campanha de Marina Silva, presidenciável do PV, que acontecerá em São Paulo no dia 24, no restaurante Antiquarius. O advogado Pierre Moreau, sócio da Casa do Saber, é o anfitrião do evento.
No Meu Tempo...
Geraldo Alckmin (PSDB), candidato ao governo de SP, elogiou o desempenho de José Serra (PSDB), que teria sido "muito melhor" do que o de Dilma Rousseff (PT) no debate da Band. Também pudera, ponderaram repórteres: era a primeira vez que a candidata participava de um confronto na TV. "Já eu, né? Peguei o Lula...", completou o ex-governador, que em 2006 concorreu à Presidência contra o petista.
De Marilena a Hebe 
Enquanto o marido, Ivo Rosset, organiza jantar de empresários em torno de Dilma, a psicanalista Eleonora Rosset promove um encontro em torno da amiga Marta Suplicy (PT), candidata ao Senado por SP, marcado para setembro. "Vou reunir a intelligentsia: de Marilena Chauí a Hebe Camargo", diz ela.
Dança das Cadeiras
O procurador Sergio Mendonça pediu demissão dos cargos de secretário-adjunto de Serviços de São Paulo e de diretor do Departamento de Limpeza Urbana (Limpurb) da cidade. A exoneração foi publicada pelo "Diário Oficial". O secretário de Serviços, Dráusio Barreto, passa a responder pelo Limpurb e Fernando de Barros Guerra é o novo adjunto.
Volta Ao Mundo
A cantora Mallu Magalhães vai lançar, no dia 17, as músicas de seu disco para venda nos EUA pelo iTunes, a loja virtual da Apple. Na Europa, as canções já estão disponíveis em 17 países que têm versões do site.
Luz na Passarela 
As tops Isabeli Fontana, Carol Tretini, Izabel Goulart e Fernanda Tavares foram destaques do evento Monange Dream Fashion Tour, no sábado, no Via Funchal. A banda Jota Quest se apresentou durante o desfile, que contou com roupas assinadas por Carlos Miele.
À Mesa com um Nobel 
O médico alemão Harald zur Hausen, Prêmio Nobel de Medicina em 2008, e Ricardo Brentani, presidente da Fundação Antônio Prudente, foram homenageados com um jantar na casa de Liana de Moraes, no Morumbi.
Mar Revolto
A Asibama, associação dos servidores do Ibama, vai processar o órgão para pedir o retorno de dois fiscais afastados da função. O chefe da fiscalização em SP, Antonio Ganme, e o agente Carlos Daniel Toni foram excluídos depois de uma ação que embargou o porto de Santos, no dia 8 de julho, por falta de licença ambiental. A autuação foi considerada irregular e derrubada em três horas, após interferência do presidente do Ibama, Abelardo Bayma.
Na Balança
Antonio Ganme e Carlos Toni afirmam que seu afastamento foi ilegal, porque ocorreu sem que a operação no porto de Santos fosse investigada. E afirmam que os servidores estão sofrendo assédio moral na Superintendência de SP. O Ibama não comenta.
Ensaio Na Web
O instrumentista Toumani Diabaté, de Mali, está ensaiando com o cantor Arnaldo Antunes pela internet para a apresentação que os dois farão juntos no festival Back2Black. O evento está marcado para o próximo dia 27, no Rio de Janeiro.
Ópera Popular
A ópera "A Criada Patroa" fará temporada itinerante em escolas estaduais de São Paulo a partir do dia 28. As diretoras Livia Sabag e Cléia Mangueira, idealizadoras do projeto, vão substituir a orquestra por um piano elétrico, para baratear os custos.
Curto-circuito
A AACD comemora 60 anos com festa hoje, às 20h, com a apresentação da Orquestra Filarmônica Bachiana do Sesi, na Sala São Paulo.

A fotógrafa Adriana Lafer Rosset inaugura hoje a exposição individual "Ao Vento", às 19h, no espaço de arte Trio.

A estilista Cris Barros faz pré-lançamento de sua coleção de verão, hoje, a partir das 10h, na loja dos Jardins.

A exposição de esculturas do mineiro Jadir João Egídio será inaugurada hoje, às 19h, na galeria Brasiliana.

Luciana Faria e Stella Jacintho lançam hoje a coleção de verão da Thelure, na loja da marca, no Itaim Bibi.

ORIGEM

JUÁREZ DIETRICH

Um país, dois sistemas
Juárez Dietrich 
O Estado de S.Paulo - 10/08/10 

"Sistemas (novos) de Estados devem levar em conta as limitações da nossa imaginação e a capacidade de transcender experiências passadas"
Hedley Bull 



O capitalismo e a social-democracia "de manual" na Europa não tiveram tão melhor sorte que o socialismo. Pensando assim, sir Ralf Dahrendorf, professor da London School of Economics, falecido em 2009, passou seus últimos 20 anos estimulando modelos de Estado "novos, criativos, não necessariamente únicos nem originais".
Nesse período os sistemas econômicos tradicionais declinaram, como resultado de pelo menos quatro eventos tão aleatórios quanto inexoráveis: 1) Na Europa, em 1989, o fim do sistema comunista; 2) no mundo todo, o exponencial avanço da tecnologia e, com ela, 3) a globalização acelerada; e 4) nos Estados Unidos, desde 2001, a crise do sistema capitalista, disseminada também na Europa.
Esses fatos relativizaram ideologias e fronteiras, alteraram conceitos de tempo e espaço e trouxeram o renascimento, incipiente no Brasil, de uma sociedade aberta e universal - origem primitiva do homem em sociedade, agora com mais vantagens e perigos.
Em 1989 Dahrendorf já propunha "acabar também com o capitalismo", defendendo as mudanças em curso com o fim do comunismo. Vislumbrava que este seria "um grande tempo para se viver".

Para viver este tempo também no Brasil precisamos agir com estratégia, coragem e alguma convergência. É inadiável separar o que sempre foi naturalmente separado - economia e política. Fazendo isso a Alemanha obteve grande sucesso em sua reunificação. Essa é também a origem dos atuais padrões de desenvolvimento dos tigres asiáticos.

Liberdade econômica é a chave que abre a porta de uma realidade e um desenvolvimento que o brasileiro anseia. Precisamos ser rápidos para sair do incômodo 113.º lugar no Índice de Liberdade Econômica (Fundação Heritage), mais próximo de Cuba, 177.º, e da Venezuela, 174.º, do que do Chile, 11.º, e do México, 41.º.

Na monografia Brasil, Sistema 2 - Um País, Um Governo, Dois Sistemas, aprovada no curso LL.M Master of Law do Insper, em São Paulo, foi proposta a tese adotada por China e Reino Unido em Hong Kong - One Country, Two Systems Treaty -, considerada por todos a mais criativa e sábia solução institucional contemporânea, para ser adaptada aqui.

Não há mais tempo a perder sobre a urgência do País em disponibilizar domesticamente liberdades econômicas, nos padrões mundiais, para negócios, investimentos, trabalho, tributos, burocracia e segurança jurídica do sistema privado.

Não deixou de haver resistência e discussão legalista naqueles países. Sempre haverá minorias conservadoras em descompasso com os tempos, interesses corporativos sem sincronia com o interesse da maioria e até traços de xenofobia. Mas essas experiências das inovações institucionais têm tido êxito porque sua genialidade estratégica e sua simplicidade (um país, dois sistemas) prevaleceram sobre princípios tecnicistas e ficções "pétreas" comuns a todos os sistemas.

Não devemos ter muitas dúvidas de que no Brasil uma revisão constitucional será interminável na questão econômica. Corporativismos estatais e paraestatais, cartórios e sindicatos, estruturas sem utilidade para os negócios, erigidas em torno do alto tributo, da burocracia e das (in)atividades acessórias, resistirão muito à revisão constitucional. Menos, porém, a esta proposta, porque ela os preserva funcionando no sistema atual.

Não é idiossincrasia pretender que um link na raiz da Constituição possa criar o "Sistema Brasileiro de Liberdade Econômica", uma espécie de Sistema 2, simultâneo ao atual sistema, a ser definido num "Apêndice Constitucional". Restrito e autorregulamentado, com extrema transparência e baixa burocracia, esse ambiente de negócios e trabalho atrairá os investimentos de longo prazo para as demandas de infraestrutura, às quais estará especificamente dirigido. E o Brasil fará uma experiência com a simplicidade da vida no trabalho e nos negócios nos moldes dos países desenvolvidos.

Sob o mesmo governo, funcionará como um facho de luz pelo qual fluirão grandes investimentos e negócios, muito trabalho e emprego nos setores rodoviário, ferroviário, aeroviário, portuário, elétrico, de turismo, entertainment, por exemplo. Essa foi, aliás, a meta prometida para que o País pudesse receber a Copa do Mundo e a Olimpíada nos próximos anos.

Ideia-começo, como qualquer sistema beta, não propõe a adoção do Estado mínimo, mas de um projeto-piloto, benchmarking para tratar apenas dessa infraestrutura. E só então, como todo sistema beta, encubar e cultivar eventuais mudanças estruturais importantes, como de resto já ocorreu em quase todos os continentes.

Sobre países que insistem na conservação do Estado obeso de normas econômicas, Dahrendorf lembrava que "as invariâncias estruturais, os corporativismos e coisas semelhantes não levaram apenas à corrupção, mas, sobretudo, à imobilidade e, naturalmente, a uma competitividade em rápido declínio". Não há chance de ganhar neste jogo competitivo dos investimentos externos de longo prazo com um Estado tão dirigente e pesado. Mesmo competindo com os enormes Bric-dinossauros Rússia, Índia e China, todos a caminho da ginástica.

O Brasil precisa não apenas preparar as arenas para nos próximos anos abrigar os eventos desportivos mundiais, e atuar bem. Precisa ainda preparar a infraestrutura do País, porque se comprometeu com isso. Antes, por causa da urgência, precisa preparar sua arena institucional para ser um player deste outro jogo, num ambiente global já estabelecido - o da liberdade econômica. Nele prevalecem as liberdades, a estratégia, a lei e os negócios. O Brasil precisa jogar bem.

"A imaginação é mais importante que o conhecimento", dizia Einstein.

ADVOGADO, LL.M MASTER OF LAWS NO INSPER, SÃO PAULO

PAINEL DA FOLHA

Onde falta pão 
Renata Lo Prete 

Folha de S.Paulo - 10/08/2010

Embora a direção tucana sustente que não há escassez de recursos para a campanha de José Serra, mesmo com a adversária Dilma Rousseff arrecadando o triplo, integrantes do partido admitem dificuldades para atrair financiadores nos Estados onde a disputa se dá contra quem está no poder.

A demanda por recursos vindos da campanha nacional está por trás de boa parte das queixas de "falta de atenção" formuladas por candidatos de siglas aliadas e do próprio PSDB. Mais do que divergências políticas, seria essa a explicação para a artilharia do presidente do DEM, Rodrigo Maia (RJ), sobre Serra.
Eu nãoDe Rodrigo Maia: "Nunca tratei desse assunto [recursos] com eles. Não dá para fazer interpretação sobre coisas que não pedi".
Ação!A equipe de Serra grava hoje cenas do programa eleitoral no Porto de Paranaguá (PR), onde há filas de caminhões. No debate da Band, o tucano apontou falta de investimento no setor.
3DDiante da empolgação de João Santana com a série de gravações para o horário gratuito, no ar a partir da próxima terça, petistas agora chamam o marqueteiro de "João Cameron", em alusão ao diretor de "Avatar".
O retornoMarina Silva (PV) agendou para domingo e segunda-feira os primeiros compromissos no Acre desde o início da fase oficial da campanha. Pesquisa Ibope recente apontou a candidata atrás de Serra no Estado, base eleitoral dela.
AvalancheA própria oposição admite que o ex-vice-presidente Marco Maciel (DEM), embora ainda um pouco à frente de Armando Monteiro Neto (PTB) nas pesquisas para o Senado por Pernambuco, corre sério risco de não se reeleger, dada a força do campo adversário no Estado. A outra vaga está praticamente assegurada para Humberto Costa (PT).
Eu garantoSabatinado ontem por alunos do curso de direito da USP, Michel Temer afirmou que, se eleita, Dilma fará uma reforma da Previdência no primeiro ano de governo. O formato, segundo o vice, será o proposto pelo PMDB: atingir apenas os novos beneficiários. Dilma tem evitado o tema.
Estado de alertaO retorno da Previ ao noticiário político ameaça comprometer a ida de seu ex-presidente Sérgio Rosa para o comando da Brasilprev, uma das maiores empresas de previdência privada do país. A Principal, sócia americana da Brasilprev, se preocupa com a repercussão do episódio.
Agenda 1Gerardo Santiago, ex-diretor que acusa o PT de ter transformado a Previ numa fábrica de dossiês contra adversários do partido e do governo, foi o primeiro funcionário do BB a registrar seu companheiro como dependente no fundo de previdência dos funcionários.
Agenda 2Advogado, Santiago foi o autor do pedido de habeas corpus que garantiu, em maio passado, a realização da Marcha da Maconha, no Rio de Janeiro.
ApagadorO prefeito Gilberto Kassab (DEM) decidiu revogar decreto da gestão de Marta Suplicy (PT) que liberou a realização de reuniões e convenções partidárias nas escolas da rede paulistana.
ExamesSerá Roberto Kalil, cardiologista de Lula, o responsável pelo check-up a que o presidente do Paraguai, Fernando Lugo, se submeterá hoje em São Paulo, como preparação para o tratamento de um linfoma.
Tiroteio
Agora está explicado de onde vem tanto dinheiro para fazer campanha. Com os fundos de pensão na mão fica fácil.
Contraponto
Agenda comum 
Depois de dizer, em entrevista uma rádio de Pernambuco, que São Paulo é "feia", o ministro Alexandre Padilha (PT) foi cutucado no Twitter pelo secretário municipal da Educação, Alexandre Schneider:

-Turismo cresceu 30% em São Paulo. Bom as pessoas gostarem de vir pra cá, não?

-Excelente. Tem a ver com dinamismo da economia, F-1, Parada Gay e vibrante noite de Sampa!

-Verdade. SP cresceu mais que o Brasil. Mas voltemos ao Timão, que nos aproxima. Abs e bom domingo!

GOSTOSA

MERVAL PEREIRA

Saltando barreiras 
Merval Pereira 

O Globo - 10/08/2010

Os partidos que apoiam a candidatura da exministra Dilma Rousseff respiraram aliviados depois do debate da TV Bandeirantes. Na análise interna, a candidata inventada pelo presidente Lula havia passado por todos os testes na pré-campanha eleitoral: contato com o eleitor nas ruas, negociações políticas com os aliados nos estados, e erros corrigidos nos primeiros momentos da propaganda pela internet.

Faltava saber como se sairia num debate ao vivo com os demais candidatos, mesmo que a audiência fosse pequena.

A avaliação entre eles foi de que Dilma passou também nesse teste, não por ter ido bem no primeiro debate, mas por não ter sido o desastre que alguns temiam. “O empate foi bom para ela”, avaliou o deputado Henrique Eduardo Alves, um dos principais líderes do PMDB.

Mesmo quando confrontado com a opinião generalizada de que o candidato da oposição, José Serra, vencera o debate na verdade, Henrique Eduardo Alves comentou: “Mas não foi uma derrota por nocaute, longe disso”.

A mesma coisa pode-se dizer da participação da candidata oficial na bancada do Jornal Nacional ontem à noite, abrindo a série de entrevistas com os principais candidatos à Presidência da República.

Ao contrário do debate da Bandeirantes, Dilma Rousseff não gaguejou e foi bastante assertiva nas suas respostas, e só errou uma vez, quando colocou a Baixada Santista no Rio de Janeiro.

O problema é que disse uma série de inverdades, que passaram como fatos para os telespectadores.

Por exemplo, quando afirmou que os investimentos em saneamento na favela da Rocinha, dentro do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) representam uma mudança de comportamento do governo federal.

Simplesmente, na Rocinha, não há nenhum investimento do PAC relativo a saneamento.

A candidata oficial também distorceu os fatos quando disse que o presidente Lula, ao assumir o governo, encontrou a inflação descontrolada.

Pura verdade, só que a explosão da inflação deveuse ao “efeito Lula”, isto é, ao temor dos mercados de que Lula vitorioso aplicasse tudo o que defendia e não mantivesse o rumo da economia.

Como ele fez justamente o contrário do que prometia, tudo voltou aos lugares.

A admissão de que o PT amadureceu no governo é uma maneira de fugir da acusação de incoerência, ao manter hoje alianças políticas com seus antigos adversários políticos.

E a metáfora da mãe cuidando da família ministerial, sendo dura quando é preciso para fazer as coisas andarem, é recorrente na candidata, e embora revele uma pobreza de visão política, pode ser eficiente em termos eleitorais.

As críticas que fiz à participação do candidato do PSOL à Presidência da República, Plínio de Arruda Sampaio, no debate da Bandeirantes, provocaram considerações do deputado Chico Alencar, especialmente ao fato de ter dito que Plínio pareceu estar à esquerda do PSTU.

O deputado federal do PSOL admite que seu partido tem “um ethos revolucionário”, razão pela qual é considerado “um moderado” ali.

Chico Alencar diz que há muito o PSOL debate “como ressignificar o socialismo”, mas garante que o partido assume a questão institucional, democrática, como básica.

“Tanto que somos a legenda com maior número de candidato(a)s aos governos estaduais (24) e mobilizamo-nos muito, dentro da nossa evidente debilidade, nas disputas eleitorais”.

Para fixar a idéia de que não é correto dizer que o PSOL está mais radical que o PSTU, Chico Alencar diz que “o PSTU considera o PSOL ‘reformista’, ‘eleitoralista’, em marcha batida para a adaptação à ordem”.

Segundo ele, “se o PSOL não existisse no plano da ‘ordem burguesa’ — que o PSTU não valoriza como nós —, Roriz não estaria impugnado, Renan não teria saído da Presidência do Senado e Sarney seria de fato o ‘cidadão acima de qualquer suspeita’ de Lula”.

Nossa vocação, diz ele, na correlação de forças atual, “é mesmo ser pedra no sapato, incômodo, látego, acicate. Como Plínio foi no debate”.

Em vez de ser um “macaco em casa de louças”, como define, Chico Alencar viu seu candidato como “o que mais polemizou, divergiu, questionou, e isso é da essência do debate e da própria democracia. Não concordar com ideias e até com perguntas não pode levar a qualificá-las como desastradas”.

O deputado do PSOL também rebateu minha afirmação de que “paradoxalmente, depois do debate Plínio aderiu ao twitter”.

Segundo ele, Plínio está no twitter há 5 meses, “é um entusiasta do instrumento há tempos e não um moderninho de ocasião”.

Chico Alencar ressaltou também que as propostas “radicais anacrônicas”, criticadas por mim, têm o apoio de diversas instâncias da sociedade: O plebiscito popular pelo limite da propriedade territorial (apoiado, entre outra sentidades, pela CNBB), a redução da jornada de trabalho para 40 horas (apoiada por todas as centrais sindicais) e a manutenção do atual Código Florestal Brasileiro (defendido por todos os ambientalistas e pessoas de bom senso).

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Justiça derruba liminar de patente de farmacêutica 
Maria Cristina Frias

Folha de S.Paulo - 10/08/2010

A Justiça brasileira começa a dificultar as estratégias de farmacêuticas para estender patentes de medicamentos e atrasar a produção de genéricos, de acordo com a Pró-Genéricos.
Na última sexta-feira, foi derrubada uma liminar da farmacêutica AstraZeneca para a extensão até 2012 da patente do Seroquel no Brasil, medicamento usado no tratamento de distúrbios de comportamento como depressão e esquizofrenia.
A empresa possuía, originalmente, direito à patente do medicamento até 2006.
A decisão é do desembargador André Fontes, do Tribunal Regional Federal, da 2ª Região. Ainda cabe recurso.
"É um caso inédito que acontece agora no Brasil e que mostra que a Justiça está revendo seu entendimento em favor de abrir o caminho para os genéricos", diz Odnir Finotti, presidente da Pró-Genéricos (Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos).
Segundo ele, o mercado estima que existam outros 30 casos semelhantes com ações pendentes na Justiça.
O medicamento movimentou cerca de R$ 150 milhões no ano passado, sendo que R$ 73 milhões foram relativos a gasto privado, o restante, público, segundo a entidade. O tratamento diário custa em média mais de R$ 30.
Já havia ontem cinco pedidos de registros do remédio por outras farmacêuticas para serem analisados na Anvisa, de acordo com Finotti. A agência não confirmou.
A AstraZeneca afirmou que irá recorrer da decisão. "O processo continua aguardando decisão de mérito no Judiciário", informou.

Duelo... A Camargo Corrêa, que cresceu no mercado interno, e a Odebrecht, que há 13 anos lidera com negócios internacionais, disputam o pódio das 500 Grandes da Construção. As dez empresas brasileiras de engenharia com maior faturamento no ano passado acumularam R$ 30 bilhões, valor 23% maior que o do ano anterior.

...de titãs O grupo é formado por oito construtoras, além de uma empresa de consultoria e projetos e de outra, da área de mecânica e elétrica. Ao todo, são cinco companhias de São Paulo, três do Rio de Janeiro e duas de Minas Gerais. Mendes Júnior, Gafisa e Construcap entraram para o clube das bilionárias. O ranking é da Lithos Editora.

OURO NEGRO
A Petrocenter, escola de capacitação em petróleo e gás no Rio de Janeiro, acaba de se transformar em franquia. A instituição ganhou quatro novas unidades na cidade e possui mais três em negociações avançadas.
Somada a matriz, a meta da empresa é fechar o ano com dez unidades no Rio.
A expansão chega a São Paulo em 2011, onde a expectativa é abrir o mesmo número de filiais até o final do ano. As primeiras cidades serão Caraguatatuba, Santos e a capital.
"O objetivo é atender a demanda, inclusive de outros Estados. É um segmento muito forte", afirma Samuel Pinheiro, 24, proprietário da escola.
Criada em 2008, a instituição já formou cerca de 250 alunos. Os cursos têm duração de um ano e meio.

Classe C prefere investir em poupança e em imóveis

A classe C segue o padrão brasileiro de preferência pela segurança da poupança e por garantia de futuro, com investimento em imóvel, segundo pesquisa feita pela Quorum Brasil, que será divulgada nesta semana.
Uma grande parcela (40%), entretanto, está sem qualquer tipo de investimento, possível consequência do nível de endividamento desse grupo, segundo Cláudio Silveira, sócio da Quorum.
"Esse é o grupo de consumidores que está comprando TV de LCD e a primeira viagem de férias para Salvador. Uma classe abaixo, a classe D, não é tão endividada."
Os consórcios, especialmente de imóveis, começam a fazer parte de modo mais significativo da lista de opções das pessoas dessa faixa de renda, tendência mais presente entre os homens.
"Em 2008 fizemos o mesmo estudo. O consórcio de imóvel aparecia com só 5% de interesse. Hoje, ele está com 14%. Embora o investimento no consórcio ainda continue baixo, o interesse por ele quase triplicou", diz.
As mulheres, provavelmente por conta da desigualdade salarial, demonstram uma menor possibilidade de guardar dinheiro, de acordo com Silveira.
Investimentos em ações ainda são distantes desse público, segundo o estudo.

Turbina O mercado mundial de jatos executivos está em alta. Nos próximos 20 anos, a indústria mundial deve entregar 26 mil aeronaves, um total de US$ 661 bilhões. Os dados são de relatório da Bombardier Aerospace, que será apresentado nesta semana, durante a feira de aviação executiva Labace.

Positivo O segmento de eletrodomésticos e eletroeletrônicos teve desempenho positivo no primeiro semestre, com alta de 17,7%, segundo Pesquisa Conjuntural do Comércio Varejista da Fecomercio. Já o setor de material de construção apresentou queda de 2,1%. A pesquisa completa será divulgada hoje.

Visita Myron Scholes, economista canadense ganhador do Nobel de Economia de 1997, participa hoje, em São Paulo, de evento sobre inovações no gerenciamento de risco, a convite da SAS, de soluções de inteligência analítica. Scholes é autor da equação Black-Scholes, usada para estimar o valor futuro dos derivativos no mercado acionário.

RISCO NA AUDITORIA
Os departamentos de auditoria interna no Brasil precisam priorizar a gestão de risco nos negócios a fim de atender às necessidades das partes interessadas.
A conclusão é da pesquisa anual "Tendências da Auditoria Interna", da PricewaterhouseCoopers, realizada no final de 2009 com 2.000 executivos em 50 países.
O estudo também identificou como áreas críticas para o setor no país a relação custo-benefício do trabalho realizado e o alinhamento da agregação de valor no atendimento às expectativas das partes interessadas.
No Brasil, 56% das 70 empresas que participaram da pesquisa são dos setores de energia, óleo e gás, mineração, varejo, manufaturas e instituições financeiras.

Novas bases Há cerca de um mês de inauguração da quinta unidade da Crowe Horwath RCS no Brasil, a empresa de auditoria e consultoria abre dois novos escritórios. Neste mês, será inaugurada filial em Curitiba. Em setembro, Recife.

Peça de museu A brasileira St. James, de peças de metais prateados, que forneceu para a posse de Obama, irá representar o MoMA no Brasil. A empresa escolherá que lojas venderão produtos do museu.

Copa A Prefeitura de Guarulhos (SP) vai criar um curso de capacitação em turismo para os 676 oficiais da Guarda Civil Municipal. A ideia é preparar os profissionais para receber melhor os turistas que chegam à cidade. Mais de 500 motoristas de táxi já participaram de curso semelhante.

Verde A Alcoa vai cadastrar fornecedores que pretendem atuar de maneira sustentável. A empresa pretende listar cerca de 300 parceiros.

BANDIDOS

DORA KRAMER

Agenda interditada 
Dora Kramer 

O Estado de S.Paulo - 10/08/2010

Saúde, educação, segurança pública, emprego, tudo isso é da maior importância, assuntos sem sombra de solução à vista e, portanto, com presença garantida nas agendas de todos os candidatos a presidente, governador, deputado ou senador.
Fala-se também do meio ambiente, dos transportes, dos juros, da reforma agrária, fala-se até das forças revolucionárias da Colômbia, de Hugo Chávez e do carinho que nosso presidente da República nutre pelo ensandecido tirano do Irã.
Só não se falou até agora nessa campanha de corrupção, de mau uso de recursos públicos, da insuficiência de decoro no exercício do mandato delegado pelo voto.
É como se fossem dois mundos: no real há desconforto com os desvios de conduta e um rebuliço legal que pode alterar os modos da política por causa de um tema que a sociedade impôs ao Congresso; no ideal dos marqueteiros não existe roubalheira, fichas sujas nem parece que o Ministério Público pediu a impugnação de milhares de candidatos e que parte delas foi aceita pelos tribunais regionais eleitorais.


Outra parte foi rejeitada, há contestações a serem resolvidas no Tribunal Superior Eleitoral e mais adiante o Supremo Tribunal Federal será chamado a se pronunciar a respeito.

Muita gente notória (no bom e no mau sentido) caiu na malha fina, muita gente ainda pode cair. Ou não. Dependendo da decisão do STF _ que dificilmente ocorrerá antes da eleição _, pode mudar muita coisa na cena política brasileira ou pode haver uma profunda frustração.

Seja como for, a Lei da Ficha Limpa tirada a fórceps de um Congresso reticente mexeu e mexe com pessoas e estruturas. O debate não terminou e sob nenhum aspecto pode ser considerado trivial.

Mesmo assim os candidatos, de um modo geral, por alguma razão resolveram não incluir na agenda eleitoral nem a tão falada corrupção que rendeu tantas CPIs, nem a lei que provocou inesperada e radical mudança na posição do Parlamento e terminou aprovada por unanimidade.

Qual será a razão da hesitação, constrangimento? Os partidos estariam com vergonha de si? Não se sentiriam em condições morais de abrir os debates a respeito? Teriam receio de morrer do mesmo veneno no contra-ataque do adversário?

Pode ser que seja conselho dos marqueteiros. Do mesmo jeito como são fidalgos entre si na combinação das regras mais restritivas possíveis nos debates de televisão para proteger seus contratantes de imprevistos, pasteurizam a pauta de assuntos.

E os candidatos ficam rodando sobre o mesmo eixo com medo de desobedecer às fórmulas engendradas pelos gênios do horário eleitoral.

Ainda que isso atenue suas diferenças naturais, os tornem escravos de um roteiro elaborado a partir de pesquisas para fazer efeito em outras pesquisas. Ainda que permita que qualquer um seja qualquer coisa, pois ninguém sendo de verdade e com recursos todo mundo podendo ser inventado, ao fim e ao cabo os bons e os ruins parecem mais ou menos iguais.

Não contabilizados. Três vezes prefeito do Rio e agora candidato a senador, Cesar Maia tem uma explicação para a resistência dos partidos em declarar o nome dos financiadores no decorrer da campanha.

"A perseguição. Depois de passada a eleição os nervos se acalmam. Quem está no governo e vence esquece. Se perder desaparece o poder de perseguir."

Isso vale para os partidos na oposição, mas, em tese, não deveria valer para os que estão no governo que igualmente se recusam a revelar os nomes dos doadores a não ser no fim do processo, como manda a lei.

"Vai ver que os financiadores não querem ver seus nomes divulgados para não parecer que discriminam a oposição."

Colegas. Fernando Henrique Cardoso e Plínio de Arruda Sampaio foram colegas de curso primário, na década dos 40, em São Paulo. Frequentavam o colégio Perdizes com medalhas no peito: FH por causa das boas notas e Plínio pelo bom comportamento.

LUIZ GARCIA

Mais Plínio
LUIZ GARCIA
O GLOBO - 10/08/10
Os debates públicos entre candidatos são uma parte importante do processo democrático que leva o eleitor a decidir quem merece o seu voto. Podem mostrar, por exemplo, quem tem sangue-frio e conhecimento dos fatos. Por outro lado, talvez prejudiquem alguém perfeitamente apto a governar um país, mas pouco treinado em bate-bocas.

Convém ao eleitor indeciso, por isso mesmo, não esquecer que o comportamento do debatedor não assegura o seu desempenho como governante. Um candidato bom de bate-boca não será necessariamente um presidente eficiente. Inclusive porque, uma vez eleito, a eloquência, embora tenha óbvia importância em diversos momentos, não será o fator que decidirá êxito ou fracasso de sua administração. Diferentemente do que acontece com a sua fidelidade a compromissos assumidos.

Os debates são obviamente necessários.

Talvez menos por influenciarem a opção do eleitor, e mais por amarrarem o candidato às suas promessas. Mas podem ser enganosos. Na primeira vez que se candidatou a presidente, Lula virou peteca nas mãos de Fernando Collor. Aconteceu em parte porque lhe faltava preparo para discutir problemas nacionais, e em parte porque temia que o rival recorresse a um dossiê que mantinha sobre a bancada, supostamente com revelações desagradáveis sobre sua vida particular. Nunca se soube, de fato, sobre o conteúdo do tal dossiê. Mas Lula nunca achou o caminho de casa durante o debate. E perdeu a eleição.

Nada de tão sinistro aconteceu no primeiro debate deste ano. Ficou a impressão de que Dilma, Serra e Marina jogavam para não perder pontos. Nenhuma promessa nova ou significativa, nenhum ataque mortal ou apenas incômodo. Suas intervenções não foram, quase nunca, diferentes do que dizem na propaganda diária.

Como candidata da situação, Dilma era a mais vulnerável, e Serra se aproveitou disso, em dois ou três momentos. A temperatura do debate nunca foi além do que se poderia esperar de um chá tépido.

Exceto, claro, pelo desempenho do veterano Plínio de Arruda Sampaio, do PSOL, que se comportou com o entusiasmo e a energia de quem nada tem a perder.

Mas ele está, digamos assim, no andar térreo das pesquisas. Nenhum dos dois moradores da cobertura deu-se ao trabalho de contestá-lo. Decidiram que não precisavam. O eleitor talvez tenha outra opinião.

Mais adiante no processo eleitoral, Dilma e Serra vão se enfrentar, cabeça com cabeça. Desconfio que ganhará o que for mais Plínio que o outro.

GOSTOSA

RUBENS BARBOSA

A saga do Mercosul
Rubens Barbosa 
O Estado de S.Paulo - 10/08/10

A 29.ª Reunião do Conselho do Mercosul, realizada em San Juan, na Argentina, no início de agosto, ocorreu num momento particularmente delicado para os países da América do Sul. 


A temperatura entre a Colômbia e a Venezuela, em consequência das acusações do então presidente Álvaro Uribe sobre a presença das Farc em território venezuelano, subiu a um ponto crítico com mobilização de tropas na fronteira. No âmbito da Unasul, os esforços diplomáticos para reduzir a crise fracassaram, pela ausência de uma clara liderança que pudesse produzir pontos de convergência e pela omissão de seu presidente, Néstor Kirchner, que nem sequer compareceu ao encontro.

A Venezuela ameaça suspender o fornecimento de petróleo aos EUA caso seja atacada por forças militares colombianas. Se isso vier a ocorrer, o que não parece provável, em vez de afastar os EUA do centro da controvérsia entre países sul-americanos, como quer o Brasil, Washington passaria a ter papel crucial. Como perto de 13% do petróleo consumido pelos EUA vem da Venezuela, a questão se transformaria em tema de segurança nacional e determinaria a tomada de medidas drásticas por Washington para defender seus interesses.

Chile e México decidiram reconhecer o governo de Honduras, deixando o Brasil isolado com os países bolivarianos contra o reingresso de Tegucigalpa na Organização dos Estados Americanos (OEA). As Farc passaram a ser tema na campanha presidencial brasileira, quando foram lembrados antigos laços do PT e de alguns de seus dirigentes com o movimento guerrilheiro colombiano.

Enquanto os problemas institucionais do Mercosul persistem e a desintegração regional se amplia com a crise Colômbia-Venezuela, o governo brasileiro parece estar mais preocupado com o conflito no Oriente Médio e em encontrar uma fórmula para resolver as divergências entre a comunidade internacional e o Irã, em razão do controvertido programa nuclear de Teerã.

As críticas do candidato da oposição José Serra ao Mercosul e a suas deficiências institucionais ecoaram fortemente na reunião presidencial.

O ministro Celso Amorim, em entrevista ao jornal Clarín, de Buenos Aires, na semana passada, disse que "as críticas ao Mercosul e a possibilidade de seu retorno a uma área de livre-comércio significam um grande retrocesso" e que isso não vai ocorrer "porque representa interesses de curto prazo".

Em resposta indireta a Serra, certamente por inspiração brasileira, os presidentes afirmaram que o Mercosul é um desafio histórico, que compromete a vontade dos seus povos e constitui uma aliança estratégica para enfrentar os desafios do atual contexto internacional. Coincidência ou não, depois de mais de seis anos foram finalmente aprovados o Código Aduaneiro do Mercosul, a eliminação da dupla cobrança da Tarifa Externa Comum e a distribuição da renda aduaneira. Embora com prazos dilatados para entrarem em plena vigência, os acordos foram sinais positivos. Os presidentes reconheceram também a necessidade de avanços institucionais, recomendando retoricamente esforços adicionais para fortalecer o Parlamento, o mecanismo de solução de controvérsias e o sistema normativo, a fim de produzir resultados concretos para a integração regional.

O presidente Lula não perdeu a oportunidade de intrigar Serra com os países do Mercosul. Afirmou que "a elite, alguns empresários e políticos consideram perda de tempo a negociação com o Mercosul. Em vez de países pequenos, eles querem negociar com a Alca", numa distorcida e equivocada simplificação, que esquece os entendimentos com a União Europeia, aliás, sem avanços efetivos até aqui.

Em mais um exemplo da influência da política externa nas negociações comerciais, os países membros assinaram um acordo comercial com o Egito, de pouca relevância do ponto de vista econômico, mas politicamente correto, para fazer contraponto ao já assinado com Israel, e anunciaram a negociação de outros com a Jordânia, a Síria e a Autoridade Palestina. Continuaram as pressões sobre o Paraguai para aprovar a entrada da Venezuela no Mercosul.

Talvez o ato mais significativo assinado no encontro de San Juan tenha sido o Acordo sobre o Sistema Aquífero Guarani, em negociação desde 2004, regulando a conservação e o aproveitamento sustentável pelos países do Mercosul de uma das maiores reservas subterrânea de água doce do mundo, com mais de 1 milhão de km2. Foram igualmente aprovados nove projetos, no valor de US$ 800 milhões, para a construção de estrada no Paraguai e a implantação de linhas de transmissão elétrica na Argentina, no Paraguai e no Uruguai, financiados pelo Fundo para a Convergência Estrutural do Mercosul, em larga medida integralizados com recursos financeiros do Brasil.


Os presidentes dos países membros do Mercosul trataram da crise entre a Venezuela e a Colômbia e concluíram, sintomaticamente, propondo a convocação de nova reunião da Unasul, agora em nível presidencial.


Durante a última presidência do Mercosul no governo Lula, o Brasil quer discutir os próximos 20 anos do processo de integração, quem sabe acreditando que o PT nesse período estará à frente do governo no Brasil. Na impossibilidade de avanços concretos na área institucional, como evidenciado pelo desrespeito à Tarifa Externa Comum, reconhecido pelo próprio titular do Itamaraty, o Brasil quer promover um esforço adicional para aumentar a visibilidade do Mercosul, para apoiar a participação social e para fazer um balanço sobre os rumos futuros da integração regional. A distância entre a retórica dos governos e a realidade dos fatos continuará aumentando.


Com a recuperação das economias dos países membros, o comércio intra-Mercosul vai crescer, independentemente da existência do grupo como uma união aduaneira.

EX-EMBAIXADOR EM WASHINGTON (1999-2004) 

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Clt+alt+del 
Sonia Racy 

O Estado de S.Paulo - 10/08/2010 

Escolas estaduais do interior e do litoral de São Paulo estão com salas de informática ociosas. Depois de reforma de adequação para receber computadores, muitas delas ainda não têm, por exemplo, como ligar os aparelhos. Professores e alunos-monitores, que participaram de atribuição de aula no início do ano, hoje exibem vídeos por falta do que fazer.
A Secretaria Estadual da Educação diz que o sistema ainda está em implantação fora da capital. E que deve ser finalizado até o fim do ano.


Sonho meu?
Desconfia-se que o movimento de Carlos Slim, ao fazer oferta para ter a totalidade das ações sem direito a voto da Net, seja o de tentar fechar o capital da empresa e cancelar seu registro na bolsa.
Antes disso, terá que convencer o Congresso, que estuda mudança na Lei do Cabo. Ela impede que um estrangeiro controle empresa de comunicação.

Armistício
Zé Eduardo Cardozo deixou as diferenças de lado durante o debate semana passada e convidou Zé Gregori: "Vamos almoçar depois da eleição?".
O tesoureiro de Serra aceitou mas não deixou de observar: "Gostei do timing".

A tempo
Essa Danilo Miranda, que assistia à Orkestra Rumpilezz no Sesc Pinheiros sábado, quase teve que levar para casa. O spalla agradeceu várias vezes o patrocínio do... Sesi.
Até que, no burburinho da plateia, alguém gritou: "É Sesc!".

Match Point
Pelo Twitter, Fernando Meligeni deu ontem uma raquetada em Lula que aparece no YouTube classificando o tênis como esporte de burguês. "Deixa eu ir. Vou fazer natação que não é esporte da burguesia."

Na paz
Gilberto Kassab e Andrea Matarazzo almoçaram juntos na terça e repetiram o feito na quinta.
Tudo em prol da dobradinha PSDB-DEM Mara Gabrilli e João Mellão Neto.

MIT no prato
Patrícia e Ricardo Marino, do Itaú Unibanco, pilotam jantar, quinta, em torno do reitor do MIT, Rafael Reif, e de seu adjunto Richard Locke, mais Ben Ross Schneider, codiretor do MIT Brazil Program.
Que estão no País para debate, amanhã, no MAM.

Nova parceria
Dupla de peso. Daniela Thomas e Beto Amaral se uniram para montar um novo projeto. Guardado a sete chaves.

Novos caminhos
O quase centenário restaurante Rodeio abre filial no Shopping Iguatemi, em novembro. Projeto de Isay Weinfeld.

Na frente

Adriana Lafer Rosset inaugura sua primeira individual de fotos hoje. No Trio.

Fernando Cacciatore de Garcia lança livro e abre exposição. Na Monica Filgueiras, também hoje.

Claudia Costin lança o livro Administração Pública na Livraria Cultura do Conjunto Nacional. Amanhã.

Tsuyoshi Murakami e Emmanuel Bassoleil serão as estrelas de jantar do Lide nos dias 17 e 19.

Jadir João Egídio abre hoje exposição na Brasiliana.

A Rio Bravo mais Accenture, Eternit, Sama e Banco Daycoval convidam para concerto da Orquestra Sinfônica de Jerusalém na Sala SP. Dia 24.

Os flipianos reclamaram. A picanha do restô Bartholomeu subiu de R$ 120, ano passado, para R$160.

BANDIDOS

MAURÍCIO SANTORO

América Latina e presos políticos em Cuba
MAURÍCIO SANTORO 
FOLHA DE SÃO PAULO - 10/08/10

Os principais candidatos à Presidência da República, veteranos da luta contra a ditadura militar, podem ser agentes da mudança em Cuba 


A mediação diplomática da Espanha e do Vaticano resultou na libertação de 52 presos políticos em Cuba. O governo Raúl Castro, pressionado após a morte do dissidente Orlando Zapata, em decorrência de greve de fome, percebeu a necessidade de direitos humanos.
A conjuntura cria oportunidade excepcional para os países da América Latina, em sua maioria aliados do regime cubano: um esforço conjunto para convencer Havana a libertar os cerca de cem presos de consciência que continuam detidos nos cárceres da ilha.
O Brasil pode e deve assumir a liderança deste processo. Em 2009, a Revolução Cubana completou 50 anos, e seu estágio atual se parece muito mais com o nacionalismo de suas origens do que com os dogmas marxistas-leninistas adotados durante a vigência da aliança entre Cuba e União Soviética. O fim da Guerra Fria levou o regime cubano a um severo ajuste estrutural econômico, abrindo-se ao capital estrangeiro.
Investimentos espanhóis no turismo, canadenses na mineração e chineses na infraestrutura resultaram em crescimento, apesar da deterioração da qualidade de vida, em particular das habitações.
A guinada econômica foi acompanhada por mudanças na política externa. O apoio a grupos rebeldes e insurreições armadas foi substituído por diplomacia defensiva que visa a preservação do regime cubano. Cuba conseguiu interlocutores na União Europeia, Canadá e Vaticano, mas ao custo de concessões significativas.
A aproximação com a Igreja Católica, que culminou na visita do papa João Paulo 2º à ilha, em 1998, se fez ao preço do retorno das liberdades religiosas ao país, mesmo com a apreensão de Havana quanto aos movimentos sociais cristãos pró-democracia, dos quais o mais expressivo é o Projeto Varela.
A ascensão de governos de esquerda na América Latina, a partir de 1999, deu a Cuba o cenário regional mais favorável desde a Revolução. Embora os partidos progressistas do continente tenham diversas tendências ideológicas, todos consideram Havana símbolo do nacionalismo, da busca por autonomia e por reformas sociais.
Muitos tiveram no regime cubano um aliado durante o enfrentamento às ditaduras militares das décadas anteriores.
Por sua tradição de resolução pacífica de conflitos, peso econômico e diplomático, o Brasil é o candidato natural à liderança do processo. Ótima oportunidade para que o governo brasileiro abandone a constrangedora prática recente de proteger ditadores e retomar a diretriz constitucional de que a política externa deve ser regida pela prevalência dos direitos humanos.
Os principais candidatos à Presidência da República -todos veteranos da luta contra a ditadura militar- podem ser agentes importantes dessa mudança.
Uma anistia ampla, geral e irrestrita aos presos políticos cubanos é excelente avanço rumo à vigência plena dos direitos humanos na ilha e à consolidação da democracia na América Latina.


MAURÍCIO SANTORO, 32, doutor em ciência política, é professor do MBA em Relações Internacionais da Fundação Getulio Vargas.