sábado, novembro 23, 2013

Um dia, saberemos - RUY CASTRO

FOLHADE SP - 23/11

RIO DE JANEIRO - John Kennedy, cujos 50 anos de morte aconteceram ontem, só perde, em número de livros a seu respeito, para Jesus Cristo, Napoleão, Hitler e, talvez, Marilyn Monroe e os Beatles. Fala-se em mais de 40 mil títulos sobre sua vida, seu governo (1961-1963) e sua época. Mesmo que tenham errado nos zeros e a verdade esteja em torno de 4.000, ainda é muito livro sobre uma só pessoa.

Se Kennedy tivesse sobrevivido e se reelegesse, sairia da Casa Branca em 1968 e logo publicaria suas memórias da Presidência --o que não o livraria de ter sua vida pessoal e política esquadrinhada por biógrafos, jornalistas e ensaístas. Foi assim com Roosevelt, Truman, Eisenhower, Johnson, Nixon, Carter, Reagan, Clinton e os Bush pai e filho. Entre na Amazon e morra de inveja: há dezenas de livros em inglês sobre cada um.

No Brasil, estamos longe dessa tradição de escrever sobre presidentes. Há uma considerável bibliografia sobre Getúlio e Juscelino, uma ou duas biografias de Jango e Castello Branco e livros bobos, de "causos", sobre Jânio. Mas onde estão as biografias de Dutra, Café Filho, Costa e Silva, Médici, Geisel, Figueiredo, Tancredo?

Grande parte da história moderna do Brasil permanece em arquivos, gavetas ou memórias, estas em processo de apagamento parcial ou definitivo. Apenas na área das ciências, Oswaldo Cruz, Rondon e Anísio Teixeira já podem ter merecido biografias, mas, e as de Carlos Chagas, Roquette-Pinto, Vital Brazil, Josué de Castro e Mario Schenberg?

O mesmo na literatura. Conhecemos a obra, mas como foi a vida de Bandeira, Drummond, José Lins do Rego, Cecília Meireles ou Guimarães Rosa? Um dia, saberemos se, afinal, Mário de Andrade era gay ou não, e se não era só a Pauliceia que era desvairada. E se isso tinha qualquer importância. Nesse dia, teremos, quem sabe, chegado à maioridade.

A competição entre fêmeas e a origem da fofoca - FERNANDO REINACH

O ESTADÃO - 23/11

A cauda colorida dos pavões é resultado da competição entre pavões pelo acesso às fêmeas. Darwin descobriu e explicou essa relação. Desde então, os cientistas descobriram diversas modalidades de competição entre machos de uma mesma espécie. Por décadas a competição entre fêmeas foi ignorada pelos cientistas. Mas isso está mudando. Os cientistas estão descobrindo que as fêmeas de uma mesma espécie também competem entre si, mas de maneira mais sutil.

A revista da Royal Society de Londres publicou recentemente um volume dedicado aos diversos aspectos da competição entre as fêmeas, sejam elas de ratos, macacos ou humanos. Seja você macho ou fêmea, vale a pena ler. Aqui vão dois exemplos pinçados entre as dezenas descritas na coletânea.

Os machos geralmente competem pelo acesso às fêmeas e as fêmeas competem pelo acesso aos bens necessários para garantir a sobrevivência da prole. No caso dos Mosuo, uma tribo que vive no sudoeste da China, essa competição entre as fêmeas é muito acentuada e facilmente observada. Ao contrário de outras sociedades humanas em que, após o casamento, a mulher vai viver na tribo do marido ou o marido vai viver na tribo da mulher, entre os Mosuo nada disso acontece. Em cada casa vivem três gerações. A avó, todos seus filhos e filhas e todos os netos e netas.

Quando uma das fêmeas se casa, o marido continua vivendo com sua mãe e somente visita a esposa à noite, faz sexo e volta para casa. Dessa maneira, em cada casa vive uma única linhagem matriarcal. No cair da noite, os machos vão visitar suas esposas e voltam para dormir com a mamãe. Ou seja, os machos não ajudam em nada a criação dos filhos, que fica a cargo dos habitantes da casa da fêmea.

Estudando essa tribo, os cientistas descobriram que a competição entre irmãs é ferrenha. Apesar de todas as mulheres que vivem em uma casa serem casadas e receberem visitas dos maridos, foi observado que as filhas mais velhas de uma casa acabam tendo mais sucesso reprodutivo, ou seja, um número maior de seus filhos chega à idade reprodutiva.

O que os cientistas descobriram é que, no caso dos Mosuo, as fêmeas mais velhas conspiram contra as mais novas para atrair os homens que visitam a casa toda noite, engravidam mais frequentemente e mais cedo, e também trabalham mais na lavoura, garantindo assim uma fração maior do alimento para seus filhos. As caçulas, coitadas, têm seus maridos roubados em muitas noites e, quando engravidam, não conseguem produzir o alimento necessário para garantir a sobrevivência dos filhos. O caso dos Mosuo demonstra que a vida em um matriarcado pode ser competitiva e violenta.

Na grande maioria das sociedades humanas, e também nos chipanzés e nos gorilas, o que ocorre após o casamento é que é a mulher que vai morar na casa (ou grupo no caso dos macacos) da família do marido. Chegando ao novo lar, a recém-casada, em vez de competir com as irmãs, compete com as outras fêmeas do grupo. Mas quem é essa outra fêmea, se todas as filhas casadas foram morar com seus maridos? Adivinhou? A sogra. A sogra e suas filhas solteiras.

Mas não pense que, nas sociedades ocidentais modernas, onde após o casamento o casal vai morar sozinho em uma nova habitação, a competição entre as fêmeas esmoreceu. Em um experimento curioso, os cientistas chamaram pares de mulheres recém-casadas (que não se conheciam) para discutir com um cientista do sexo masculino a relação delas com seus maridos. O que elas não sabiam é que o verdadeiro experimento ocorreria no intervalo da discussão. No início do intervalo, o cientista saía da sala, enquanto as voluntárias tomavam um lanche. Durante o lanche, entrava na sala uma outra cientista, agora do sexo feminino, perguntando onde estava o cientista que havia saído da sala. Obtida a resposta, a cientista saía da sala. A discussão entre as duas voluntárias após a saída da cientista fêmea era gravada e filmada. Mas falta explicar um detalhe. Em metade das entrevistas, a cientista fêmea que entrava na sala vestia somente uma calça comprida e uma camiseta. Na outra metade das entrevistas, a mesma cientista vestia uma provocante minissaia, blusa decotada e botas. De resto, a interação entre a visitante e as voluntárias era idêntica.

O que os cientistas observaram é que a fêmea de calça e camiseta não provocava uma mudança na conversa e nunca despertava reações agressivas. Já a mesma mulher, de minissaia, causava quase sempre uma mudança na conversa entre as voluntárias que geralmente passavam a falar mal da visitante, muitas vezes insinuando suas más intenções com o entrevistador, comentando o mau gosto de suas roupas, enfim, denegrindo sua imagem. Os cientistas concluíram (você concorda?) que o diálogo agressivo e crítico entre as voluntárias após a visita da "vamp" é uma manifestação do espírito competitivo e agressivo das mulheres. Elas estariam tentando "proteger e não perder a posse" do macho que estava conduzindo a entrevista. A "vamp" era vista como uma ameaça, e a mesma mulher, vestida discretamente, não era identificada como potencial competidora. Observe que essas mulheres não se conheciam, eram casadas, e o macho em questão só havia passado uma hora na companhia das duas voluntárias.

Esses dois exemplos demonstram como ocorre a competição entre as fêmeas, muito mais sutil e indireta que a violência física, direta ou disfarçada, que observamos na competição entre os machos.

Essa coletânea de artigos mostra que o estudo da competição entre fêmeas ainda está na sua infância, mas já nos ajuda a entender o cisma com a sogra e a origem da fofoca.

O bolso do público - ARNALDO BLOCH

O GLOBO - 23/11

A prática da boa parceria entre os fornecedores e consumidores de serviços no Rio só faria bem


Sempre que um texto mexe com o bolso do público, a coisa se reflete nos instrumentos de medição de leitura dos sites e das redes sociais. Foi assim com a última crônica, “Ganância”, publicada aqui, cujo assunto é o abismo entre os preços cobrados e o respeito devido ao cliente nos restaurantes do Rio, principalmente os da Zona Sul, que tantas vezes se querem mais nobres, sem sê-lo. Acostumado a cifras de audiência dentro da média dos que tentam caminhar contra o vento do senso comum, fiquei pasmo ao constatar que 9,7 mil pessoas clicaram no botão “curtir” do site do GLOBO, multiplicando o texto pela malha do Facebook. Além disso, foi o mais lido de Cultura por três dias.

Os e-mails e comentários são o capítulo seguinte. Senti um certo medo ao ser saudado, pela maioria esmagadora de leitores, como um super-herói, representante dos comensais humilhados e dos bebedores ofendidos. Fiquei muito agradecido, mas a sombra da unanimidade pesou: sem levar porrada, o que restará de minhas opiniões?

Respirei aliviado quando um indivíduo cujo nome não vou citar (para preservar sua, digamos, biografia) publicou, numa saraivada, quatro comentários em minha página no Face. O homem declarava-se meu leitor e admirador de meu livro para, em seguida, destilar sua decepção com o “papelão” que eu estava fazendo.

De acordo com o leitor desiludido, eu reduzira todos os comerciantes da cidade a chupa-sangues. Que violência! Só porque escrevi, na crônica em questão, depois de dar exemplos estarrecedores, que os patrões de restaurantes cariocas, no fim do dia, davam “gargalhadas de Drácula diante do caixa”?

Expliquei ao leitor comerciante o que significa uma hipérbole, exagero retórico com função de apoio figurativo a uma ideia, recurso muitas vezes carregado de humor. O homem, claramente, estava levando ao pé da letra, como informação factual, uma caricatura.

Ele partiu, então, para seu ataque mais frontal: não imaginava que eu fosse “tão fascista”, pois, na Alemanha, tudo começou assim: “os comerciantes eram os culpados e, de repente, os judeus estavam indo para campos de concentração”. Ora, que eu saiba, a palavra “comerciante” designa uma atividade exercida, desde a antiguidade, por gente de todas as tribos, povos, religiões, e, futuramente, nacionalidades, etnias, culturas, crenças ou descrenças. Ainda está para nascer uma etnia do comércio. Ou uma espécie composta só de filósofos. Ou uma nação de advogados ou de políticos.

Ao leitor insultado minhas palavras eram pavio curto para uma insurgência contra o “povo dos que vendem comida e bebida”, esse povo que aparentemente congrega, no Rio, portugueses, árabes, judeus, nordestinos, islamitas, italianos, espanhóis, hindus, gaúchos, argentinos, japoneses e seus respectivos descendentes cariocas de todo o Brasil e do mundo inteiro.

A maioria, tenho certeza, quer trabalhar com esmero e honestidade. Mas predomina, hoje, nos pontos de maior afluência de consumo gastronômico carioca, uma mentalidade de cadeias e marcas que, turbinadas pelo “Milagre Fluminense” (a tríade Copa-Olimpíadas-Petróleo) e pela pouca concorrência de base, perdem a medida em suas práticas e fazem do desleixo uma regra enquanto o caixa continuar a registrar. O mundo já se acostumou com a mais-valia, mas a megavalia é difícil de engolir e não combina com nenhum ideal de evolução. Essas cadeias “monetizam” tudo, esquecendo-se de que o cliente quer uma parceria mais decente com as casas que frequenta. Parceria que se mede em delicadeza e consciência de que o dinheiro que investe ali vale algo.

E que, para vender um serviço de qualidade, é preciso que haja qualidade, e não só sua percepção insuflada pelo marketing. Pois, quando vier a concorrência brava, a percepção cessa e a casa cai. Rezar por essa prática pelo menos a título de exame ético faria bem aos donos de restaurante do Rio, e também à cidade e a seu povo.

Recebi também um e-mail da dona do Bazaar, esclarecendo que o dosador estilo guilhotina para vinhos destina-se a garantir a qualidade da bebida. Perguntei a ela, com toda a candura, que relação poderia ter um dosador com a qualidade do líquido, e ela, depois de pensar bem, admitiu: nenhuma relação. Insistiu, porém, que muitos clientes queriam ter certeza de que estavam bem servidos de acordo com as porções em mililitros normatizadas no cardápio. Perguntei se houve um levante de clientes no restaurante exigindo o dosador, e adicionei as interjeições “rsrsrs” e “kkk” para não ser mal-interpretado. Recebi de volta um simpático “hahaha” e a confissão de que não chegou a haver um panelaço reivindicando dosador. Ah, que bem faz um pouco de humor na crítica.

Ao meu leitor comerciante furioso (que bloqueei no Facebook por me insultar pessoalmente num espaço que é social), peço exatamente isso: que se sirva de uma dose balanceada de humor, autocrítica e cabeça aberta. Com medidor, de preferência, que é para não entornar o caldo.

Churrasco de aorta - ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR

FOLHA DE SP - 23/11

Em um restaurante nipo-coreano de miúdos, o jantar é um exercício de total solidão


Em luta contra o analfabetismo, vislumbro a placa salvadora em caracteres ocidentais: "Yakiniku". Isso eu conheço, é o churrasco coreano adaptado ao paladar japonês, com menos alho e (um pouco menos) pimenta. Perfeito. Até então, perdido entre neons e ideogramas, não sabia onde jantar.

Osaka, terceira cidade do Japão, 2,6 milhões de habitantes, é ainda menos ocidentalizada que Tóquio. Tem a atração turística mais visitada do país, um lindo castelo do século 16, e pouco além disso.

Sua maior atração é a comida. Gente de respeito, como o crítico inglês Michael Booth, a considera a principal cidade gastronômica do mundo. O lema local é "kuidaore": algo como "comer até cair".

No bairro de Namba, um beco chamado Hozen-ji Yokocho, tão estreito que por ele não passam carros, reúne por metro quadrado a maior concentração de restaurantes com estrelas Michelin da Terra (informação do "Wall Street Journal": http://kfc.io/i9).

Uma outra viela, essa ainda mais apertada, a ponto de mal caberem duas pessoas lado a lado, abriga o venerando Nakamura, expoente de uma especialidade local, a cozinha "kappo". A base é o frescor absoluto dos produtos de época, com leves toques ocidentais.

Osaka é uma cidade descontraída, e o desfrute da "kappo" se dá não em mesas com toalhas de linho branco, mas na informalidade de um balcão. Tudo preparado diante do cliente, uma tendência que se espalha pelo mundo.

O único problema é encontrar esses lugares tão especiais. Osaka quase só tem cartazes e letreiros que não facilitam para ninguém. Tudo está nos alfabetos nipônicos.

Daí o alívio ao achar um restaurante anunciado em letras latinas: "Yakiniku".

Como quase sempre no Japão, fica em um prédio onde parecem existir uns cem botecos e lugares de comer. Subo a escada até o primeiro andar, entro no restaurante. Ouço vozes, mas não vejo ninguém.

Demora um pouco, alguém me recebe. Indicador da mão esquerda para cima, aviso que estou sozinho.

A moça me leva por um corredor escuro. Não se ouve mais nada do burburinho das ruas. Só vozes abafadas de dentro do próprio restaurante.

Imagino que o corredor vá terminar em um salão, ou balcão, onde finalmente eu possa encontrar os outros fregueses. De repente, a jovem para. Desliza uma porta, manda que eu entre.

O que surge do outro lado desafia meu poder de descrição. É um híbrido de cubículo e buraco, com as dimensões de um confessionário.

Agora entendo de onde vinham as vozes abafadas. O restaurante não tinha um espaço comum. As pessoas jantavam dentro de salas. E para mim, viajante solitário, o pragmatismo nipo-coreano reservou aquele curioso muquifo: a sala para um.

Não posso dizer que tenha entrado no recinto e me acomodado. Eu, na verdade, mergulhei em pé. Sob a mesa, havia um buraco fundo, onde encaixei as pernas. Sentado, minha cabeça ficava na altura do chão do corredor por onde vim.

A moça fechou a porta e atirou o cardápio, que felizmente, tinha uma versão (mais ou menos) em inglês.

Sozinho no cubículo, com uma parede branca a 30 centímetros do meu nariz, em um espaço total de não mais que um metro quadrado, tive certeza de que seria o jantar mais triste da minha vida --e olhe que a disputa, em se tratando deste colunista, é das mais acirradas.

As surpresas continuam. Vendo o menu, percebo que não é um restaurante de "yakiniku" qualquer. Pertence à variante mais extrema da modalidade, a "horumon-yaki", típica de Osaka. Se o "yakiniku" tradicional é o Fleetwood Mac, o "horumon-yaki" são os Sex Pistols. Aqui não existe lugar para sutilezas, e o esquema é "do it yourself".

Entre as iguarias bovinas, há base da língua, segundo e terceiro estômagos, cortes macios de altíssimo grau de gordura, entranhas de toda sorte e, "last but not least", aorta. Com um detalhe: tudo a ser preparado por mim mesmo, numa grelha embutida na mesa.

Posso garantir: nunca as tradições do "horumon-yaki" foram tão desrespeitadas. Não acertei a intensidade do fogo, deixei tudo passar do ponto e não fazia ideia de como usar as cinco variedades de sal disponíveis na minha frente.

Mas tenho o prazer de informar que aorta tem gosto e consistência de lula. Pelo menos a que preparei. Peço perdão a Osaka.


Sem medo de ser você mesmo - FLAVIO JOSÉ KANTER

ZERO HORA - 23/11

Com frequência encontramos alguém querendo ser o que não é, tentando não ser quem é



Ainda estudante, ouvi de Jamil Abuchaim, psicanalista radicado em Buenos Aires: “Trabalho não cansa, conflito cansa. Recupera-se de uma jornada longa ou pesada com algumas horas de repouso. Fadiga persistente é outra coisa. Quem não gosta do que faz cansa antes de iniciar”.
No trabalho clínico, vejo que o conflito desgasta, torna pessoas vulneráveis a doenças. Ele se espalha nos relacionamentos, na família, no trabalho, na escola, no lazer, em tudo! Mas que conflito é esse? Com frequência encontramos alguém querendo ser o que não é, tentando não ser quem é. Não é raro nem sabermos quem somos, o que queremos!
A Bíblia conta que Jacob engana o pai cego dizendo ser Esaú, seu irmão mais velho, para receber a bênção que o pai reserva ao primogênito. Vive 22 anos com a bênção que não lhe pertence. Ameaçado de ser morto por Esaú, angustiado por manter uma bênção que não é sua, devolve-a. Em sonho, luta contra um desconhecido e vence (o que ele quis ser e não era?), muda de nome, aceita-se. Pena que Freud só surgiu e fez suas descobertas muito mais tarde. Suas técnicas ajudariam Jacob a aceitar quem era e a primogenitura do irmão, com menos dor e risco.
Se já vemos esse sofrimento desde os tempos bíblicos, também hoje, na modernidade, instituições podem passar por conflitos de identidade. Isso não ocorre só com pessoas.
O livro Lições de Gestão da Clínica Mayo revela o que fez uma empresa de saúde manter-se viva e qualificada. A Mayo tem mais de cem anos. É a marca mais forte em assistência nos Estados Unidos. Sempre combinou fidelidade às raízes com busca de qualidade. Jamais abandonou os princípios dos fundadores. Para manter sua máxima, “as necessidades dos pacientes em primeiro lugar”, procura entender as mudanças no cenário da saúde e dos negócios e incorpora o que há de melhor. Um dos primeiros saltos de qualidade foi a queda na mortalidade cirúrgica, quando adotou a lavagem das mãos entre um procedimento e outro. Houve fase em que buscou consultorias da Boeing e da Toyota para aprimorar processos no atendimento. Não quis se transformar em Boeing ou Toyota. Buscou soluções para ser uma Mayo melhor.
Pessoas se beneficiam de saber o que são e preservar a identidade. Psicoterapia pode ajudar a se conhecer e aceitar, integrar-se, resolver conflitos. A fórmula da sabedoria, de Sidarta, também pode: meditar, jejuar, esperar. Isso não significa acomodar-se. É natural mudar para melhor, adaptar-se a novas realidades. Não querer ser quem se é faz mal à saúde. Ser fiel às próprias raízes proporciona vida melhor, mais longa e harmoniosa.

Cidades descartáveis - LUIZ FERNANDO JANOT

O GLOBO - 23/11

Diante das inúmeras transformações urbanas que o Rio vem passando, pergunta-se: qual o legado que efetivamente se deseja para as próximas gerações?



Acada dia se torna mais evidente a influência do modelo neoliberal na gestão das cidades brasileiras. Até bem pouco tempo ainda se percebia a fronteira que separava as motivações políticas dos interesses de ordem econômica e financeira. Atualmente, essa delimitação foi deixada de lado, e as decisões políticas passaram a ser tomadas, quase que exclusivamente, pelo viés do mercado. Infelizmente ainda não se conseguiu formular uma alternativa capaz de se contrapor, na prática, a essa tendência que se consolida pelo mundo afora.

Coerente com esse pensamento mercadológico, as cidades passaram a ser tratadas como empresas destinadas a atrair para si capitais e investimentos de diversas naturezas. No afã de fazer cumprir esse desígnio ideológico, o poder público, em parceria com a iniciativa privada, concentrou suas atenções em promover obras espetaculosas destinadas a conquistar espaço na mídia e, consequentemente, dividendos eleitorais.

Na maioria das parcerias público-privadas, percebe-se que o financiamento costuma ficar por conta do poder público e o lucro para a iniciativa privada. Pouco importa se o montante dos recursos alocados irá comprometer as finanças do município ou do estado. Caso o negócio seja malsucedido, os órgãos financiadores — BNDES e Caixa — estarão a postos para bancar os reajustamentos necessários e os eventuais prejuízos com recursos do Tesouro Nacional. As arenas esportivas — apelido marqueteiro dos novos estádios de futebol — estão aí para comprovar a veracidade dessa afirmação.

Nessa perspectiva de desenvolvimento urbano, os aspectos de ordem social vão sendo relegados a um plano secundário e os contrastes sociais se tornam, a cada dia, mais evidentes. É preciso ter em mente que existe uma estreita relação entre segregação espacial e violência urbana. Cidades com espaços segregados tendem a ampliar progressivamente os seus índices de violência. Os quebra-quebras de equipamentos públicos e os arrastões nas praias cariocas são sintomas perversos dessa triste realidade. Por ser a cidade um espaço agregador das diversidades sociais e culturais, é inaceitável qualquer espécie de segregação espacial.

É preocupante, portanto, constatar a crescente disseminação de megaempreendimentos imobiliários — com dimensões superiores a muitos bairros tradicionais — projetados e construídos sem nenhum vínculo de relacionamento com o ambiente no seu entorno. O menosprezo pelo planejamento urbano e a falta de transparência na tomada de decisões vêm contribuindo, cada vez mais, para a criação de projetos inconsistentes, obras de má qualidade e ambientes favoráveis à prática da corrupção.

Diante das inúmeras transformações urbanas que o Rio vem passando, pergunta-se: qual o legado que efetivamente se deseja para as próximas gerações? Seria esse modelo de cidade construído como um bem de consumo descartável ou uma cidade mais humana onde o convívio nos espaços públicos possa expressar uma efetiva condição de cidadania?

É importante deixar claro que, não obstante o atual desenvolvimento econômico e a prosperidade que permeia a vida na cidade, o Rio registra altos índices de desigualdade social, de miséria e de violência urbana. Isso não pode ser ignorado. Basta observar as condições precárias do conjunto de favelas e loteamentos irregulares onde vive, sem infraestrutura e serviços públicos de primeira necessidade, mais de um quarto da população carioca. Enquanto isso, bilhões são destinados a gastos supérfluos e obras desnecessárias.

É desejável, portanto, que os novos empreendimentos imobiliários, ao contrário dos modelos exclusivistas divulgados nas recentes e luxuosas campanhas publicitárias, priorizem a sua inserção no tecido urbano como forma de assegurar a efetiva democratização da cidade e a preservação da cultura que determinou o espírito espontâneo e agregador do carioca. Afinal, uma cidade como o Rio não pode ser tratada como um bem de consumo descartável.

Ueba! A Papuda é um roubo! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 23/11

E o Alckmin Picolé de Chuchu devia processar duas coisas: a turma do Serra e o xampu antiqueda!


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Fim de semana animado: Interlagos, Maracanã e Papuda! Esse presídio da Papuda é uma exploração! Vocês viram os preços da cantina do semiaberto? Cigarro: R$ 10. Copo de Coca-Cola: R$ 3. Copo d'água: R$ 2! Mais caro que o frigobar do Park Hyatt de Tóquio!

A Papuda tem que ser presa. Prática de preços extorsivos. A PAPUDA É UM ROUBO! Precisa ser milionário pra ficar preso! Tem que ter mensalão pros mensaleiros! Bolsa-Papuda!

E a visita-bullying do Suplicy? O Redator Bipolar diz que quando o Suplicy começou a cantar, houve suicídio em massa na Papuda. Era só preso enforcado. Rarará!

E o chargista Fausto diz que no Brasil tá tendo tanto mensalão (mensalão petista, mensalão tucano) que virou um IMENSALÃO! Rarará!

E um leitor me disse que Genoino e Dirceu, ambos têm problema de saúde: o Genoino é cardiopata e o Dirceu é psicopata. Ops, psicocisne! Rarará!

Amanhã, Interlagos! Sabe o que o Felipe Amassa devia fazer em Interlagos? VENDER BATIDA! Rarará.

E a Fórmula 1 devia mudar de nome pra Fórmula do UM: Vettel!

E os pilotos gringos só querem saber de duas coisas em São Paulo: churrascaria e casa de entretenimento. Ou seja, churrasco e quenga. Ou seja, vieram pra comer!

E amanhã o Galvão entra em erupção! Ele vai transmitir? Não, ele vai gritar! Aliás, tentar gritar. Porque tá mais rouco que a foca da Disney. Os "Rs" acabaram com a garganta do Galvão! E eu sempre digo que a melhor profissão do mundo é piloto: trabalha deitado, roda até ficar tonto e quando perde, bota a culpa no carro! Rarará!

E depois Maracanã: Flamengo x Corinthians. Urubu x Gambá! Vixe, só bicho que fede! O jogo devia ser no lixão. No lixão da Mãe Lucinda! Rarará!

E é claro que todos estão falando que os arrastões no Rio eram pra comprar ingresso pro Flamengo! Rarará! É mole? É mole, mas sobe!

E uma pergunta inconveniente: por que corrupção de tucano se chama cartel? Supostos tucanos praticam suposto roubo chamado suposto cartel. Isso posto, Papuda neles! Rarará! Não tem virgem na zona!

E o Alckmin Picolé de Chuchu quer processar todo mundo! O Alckmin devia processar duas coisas: a turma do Serra e o xampu antiqueda! Processa a turma do Serra! Rarará.

Nóis sofre, mas nóis goza.

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

A economia do sexo - ALEXANDRE VIDAL PORTO

FOLHA DE SP - 23/11

Os japoneses parecem querer sexo autossuficiente, que dê prazer sem impor as dificuldades de uma relação


Acho os meandros do sexo um dos grandes mistérios da sociedade japonesa. Nunca compreendi os caminhos que um casal japonês percorre da formalidade do primeiro contato à espontaneidade da intimidade física.

No Japão, as relações interpessoais obedecem a códigos tão rígidos que parecem não ter nenhuma possibilidade de acabar em sexo. Claro que muitas acabam. Eu é que não fico sabendo.

A vida sexual dos japoneses tem sido objeto da curiosidade internacional. O jornal inglês "The Guardian" publicou texto sobre o desinteresse erótico da população local, e a BBC exibiu um documentário cujo título se autoexplica: "No sex please, we're japanese" ("Sem sexo, por favor; somos japoneses").

Para consubstanciar suas alegações, citam estatísticas segundo as quais, por exemplo, cerca de 45% das mulheres e 25% dos homens entre 16 e 24 anos de idade se declaram desinteressados em sexo.

Parece simplista atribuir aos japoneses, de forma genérica, falta de interesse sexual. Afinal, a indústria da pornografia no Japão movimenta bilhões de dólares, e a arte erótica japonesa remonta, pelo menos, ao século 14. Ou seja, interesse por sexo há.

Mas o que os japoneses parecem querer é sexo autossuficiente, que dê prazer sem impor as dificuldades de um relacionamento amoroso. Algo com hora para começar e acabar. Casar para quê? Para perder a liberdade e a autonomia?

Para muitas mulheres japonesas, casar e ter filhos equivale a reduzir-se à dependência econômica do marido. Cerca de 70% deixam o trabalho ao se tornarem mães. Para os homens, por sua vez, casar e ter filhos representa a obrigação de sustentar, sozinho, toda uma família. Na ponta do lápis, tais opções não parecem vantajosas para ninguém.

O vazio emocional é preenchido por hobbies, mundo virtual, animais domésticos. Não é à toa que o país é um dos grandes mercados mundiais de produtos para pets.

O vazio demográfico, no entanto, é mais difícil de compensar.

Desde o último censo, em 2010, a população japonesa reduziu-se em mais de um milhão. Nesse ritmo, até 2060, o Japão perderá um terço de seus habitantes. A relação entre a diminuição no número de casamentos e redução populacional é mais visível no Japão porque, tradicionalmente, os japoneses se casam para ter filhos. Enquanto na Inglaterra 50% das crianças nascem fora do casamento, no Japão são 3%.

As consequências desse fenômeno demográfico podem ser catastróficas para a economia. O governo japonês está atento. No entanto, influenciar por meio de políticas públicas uma decisão tão pessoal quanto ter um filho não é fácil, sobretudo diante dos potenciais custos econômicos e sociais envolvidos.

Esse problema não é exclusivo do Japão. Acontece o mesmo no Brasil, só que em ritmo mais lento. Parece óbvio que, se a maternidade e a paternidade impõem um ônus muito alto, uma parcela da população para de se reproduzir. Portanto, a sociedade tem de incentivar quem se dispõe a dar-lhe essa contribuição. Toda vez que encontrar uma grávida, agradeça o esforço!

Desta vez, parece que funcionou - PAULO FERNANDO FLEURY

O ESTADÃO - 23/11

Após uma serie de frustrações e resultados questionáveis nos leilões de concessão de rodovias, aeroportos e exploração de petróleo, pode-se afirmar que este segundo leilão de aeroportos foi um sucesso. O número de propostas, o porte dos concorrentes, o ágio oferecido e participação de investidores com experiência acumulada, nos levam a esta conclusão.

Vários fatores contribuíram para o sucesso deste leilão. O primeiro tem a ver com as características operacionais do setor aeroportuário. Dado que os aeroportos estão confinados em um determinado município e seu entorno, os riscos de interferência política ao longo dos contratos tendem a ser menores que em outros modais como, por exemplo, o rodoviário e o ferroviário.

Os casos do Paraná, durante um dos governos do atual senador Roberto Requião (fechamento de praças de pedágio) e a recente ameaça de parlamentares do Espírito Santo (de não permitir a cobrança de pedágio no seu território) são exemplos marcantes desse tipo de risco.

Um segundo fator que contribuiu, em muito, para aumentar a atratividade dos investimentos em aeroportos, é o enorme crescimento da demanda por viagens aéreas, tanto no Brasil quanto no exterior. Um terceiro fator que merece ser destacado é a enorme oportunidade para reduzir custos, aumentar a produtividade, e expandir a receita. Uma melhor capacitação gerencial, a existências de claros incentivos relacionados ao desempenho, e uma melhor exploração comercial de espaços dos terminais de passageiros geram grandes oportunidades para aumento da receita, sem necessariamente ter de aumentar as tarifas dos passageiros e das empresas de aviação.

Um aspecto que não podemos ignorar é o aprendizado obtido pelo governo e pelos potenciais investidores nos outros leilões de concessão. Apesar dos vários aspectos positivos observados no último certame, não podemos nos acomodar e achar que encontramos a solução ideal para novas concessões. Como informado anteriormente, sob o ponto de vista de potenciais investidores, o setor aeroportuário é o que oferece os menores riscos técnicos e políticos, quando comparado com os setores rodoviários e ferroviários.

Basta lembrar que até hoje, quase dois anos depois do início das conversações sobre o novo marco regulatório das ferrovias, ainda não existe um edital na rua. A principal razão para o atraso é o novo modelo de concessão, bastante complexo na sua implementação e pouco conhecido no Brasil e no exterior. Além disso, não podemos ignorar o importante fator "falta de confiança"no governo, por parte dos potenciais investidores. Organizar "road show" no exterior em nada vai contribuir para a recuperação da confiança dos investidores, se na volta ao Brasil continuar prefixando a taxa de retorno e reclamando publicamente destes mesmos empresários, rotulados de ganancioso e gulosos.

Modelo falido e subnotificado - LEONARDO CAVALCANTI


CORREIO BRAZILIENSE - 23/11

Se os políticos brasileiros utilizassem os serviços públicos, as escolas, os hospitais e os ônibus seriam mais eficientes. A máxima deveria valer também para as cadeias brasileiras, agora que caciques petistas e de partidos da base aliada de Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma Rousseff estão no xadrez, vivendo na própria pele a realidade de 550 mil pessoas no país. Aqui, esqueça qualquer traço de revanchismo. Em matéria de desenvolvimento social deveríamos nos pautar pela Suécia, que, no último ano, foi obrigada a fechar quatro prisões por causa da redução no número de detentos – e, assim, por tabela, também poderíamos nos manter afastados do modelo norte-americano com os 2,2 milhões de encarcerados, segundo dados da organização não governamental Centro Internacional para Estudos Prisionais.

Por ora, com autoridades no xilindró, seria razoável supor a melhora no sistema, seguindo a lógica do uso de serviços públicos pelos políticos. Mas nada é tão simples, por mais que as cadeias brasileiras tenham voltado ao centro do debate nacional com o mensalão. A partir da complexidade do tema e da sanha de setores mais conservadores em apoiar a indústria das prisões, é provável que, passada a novidade dos mensaleiros, tudo volte ao normal. E o normal será deixar o sistema penitenciário em último plano, por mais que as condições precárias tenham sido novamente expostas agora. Um levantamento do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) sobre as unidades prisionais do país mostra uma realidade distante dos gabinetes e salões da Esplanada, para deputados e autoridades.

A partir de estimativas, é possível chegar a um deficit de 170 mil vagas em todo o sistema, o que, na prática, significa prisões lotadas. Mas trata-se de uma simples estimativa, por conta das subnotificações. Na Bahia, por exemplo, o mutirão do Ministério Público contou 5.800 presos a mais nas delegacias, todos fora dos dados oficiais. Se o número de presidiários for analisado a partir dos estados, chegaremos próximos aos encarcerados de países onde a indústria penitenciária é agressiva. Segundo o CNMP, a taxa de presos no Brasil chega a 245 presos para 100 mil habitantes, enquanto os EUA e a Rússia, por exemplo, apresentam 756 e 629, respectivamente. Tais taxas estão em 567 em Mato Grosso do Sul, em 431 no Acre e em 383 em São Paulo. Nessa competição, bem que poderíamos perder com louvor.


Defensores
Mais do que números, a questão é que o sistema prisional no país não recupera e continuará injusto. Uma das recomendações da ONU para as prisões brasileiras é a presença permanente de defensores públicos nas penitenciárias. Aqui talvez esteja a maior diferença entre os políticos e empresários condenados pelo STF e o preso comum: a falta de assistência jurídica. Sim, mesmo presos, os ilustres políticos e empresários têm dinheiro para pagar os melhores advogados do país. A massa da população carcerária, entretanto, precisa de defensores para apurar abusos de direitos humanos — casos infindáveis de tortura —, conseguirem progressão do regime (do semi-aberto para o aberto, por exemplo) ou mesmo sair da cadeia ao terminar o cumprimento da pena. Algo que, no fim, serviria a todo o sistema.

Um dos casos mais emblemáticos está em São Paulo. Lá, das 300 comarcas, somente 29 têm defensoria. Dos cerca de 500 defensores no estado, apenas 50 estão ocupados com a atenção aos encarcerados. Há tempos a Pastoral Carcerária denuncia que as prisões brasileiras estão ocupadas por gente com baixa escolaridade e, na maioria, negros e pardos. Logo depois da condenação de José Dirceu pelo STF, em novembro do ano passado, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, classificou o sistema prisional do Brasil como medieval e afirmou que “preferia morrer a cumprir pena por longo tempo em uma prisão do país”. Depois da polêmica instalada, Cardozo reafirmou — escorregadio que só ele —, a meta de criar 42 mil vagas nas penitenciárias brasileiras.

Em carta aberta, os representantes da Pastoral Carcerária criticaram de forma dura o ministro. Depois de apresentar os números da superlotação, a ONG foi direta: “Surpreende-nos que, diante deste cenário, o governo federal ainda fale em construir mais presídios. Ora, mais presídios para quê? Para quem? Enquanto o senhor fala em construir novos presídios, centenas de jovens, quase sempre pobres, quase sempre negros, são mortos ou presos de forma abusiva cotidianamente”. Pediu para levar.

O DNA dos mais de 80 - ZUENIR VENTURA

O GLOBO - 23/11

Já têm posição garantida nesse time Cleonice Berardinelli, Adib Jatene, Hélio Bicudo, Beatriz Segall, Boris Fausto, Delfim Netto



Num país onde os velhos são considerados um estorvo, alguém está procurando mostrar que eles podem ser muito úteis, fornecendo seu DNA para um estudo que pretende ajudar as futuras gerações a viver mais e melhor. Estou me referindo ao projeto chamado 80+, que a premiada geneticista e bióloga molecular Mayana Zatz, nascida em Israel e criada em SP, vem desenvolvendo com pessoas que estão envelhecendo de forma saudável, particularmente do ponto de vista cognitivo. Especialista em doenças neuromusculares, sobre as quais tem trabalhos pioneiros, ela batalhou muito pela aprovação das pesquisas com células-tronco no Brasil. O estudo de agora, com apoio do CNPq, Fapesp e Hospital Albert Einstein, tem como objetivo formar um banco de dados e imagens funcionais do cérebro para fornecer à medicina elementos que possibilitem entender melhor distúrbios neurológicos como o Alzheimer e a esclerose que atingiu o físico britânico Stephen Hawking.

“O banco de dados dos 80+”, explica Mayana, “é formado por pessoas que têm chances mínimas de desenvolver essas doenças, pois gozam de boa saúde em idade já avançada. Se um jovem fizer o seqüenciamento do genoma, poderemos verificar se as mutações que ele tem são semelhantes às dos idosos saudáveis.” Depois de catalogar o código genético de mais de 400 oitentões, o projeto vai ter agora um desdobramento: um livro com 20 desses personagens, escolhidos por continuarem trabalhando e produzindo ativamente, contará um pouco de suas histórias, filosofia de vida, ambiente de trabalho.

Já têm posição garantida nesse time Cleonice Berardinelli, Adib Jatene, Hélio Bicudo, Beatriz Segall, Boris Fausto, Delfim Netto. Já Fernando Henrique Cardoso não quis participar e Fernanda Montenegro precisa conciliar sua agenda. Como também fui convidado, me vejo agora no Albert Einstein para os exames de admissão, que incluem ressonância magnética, teste de memória e coleta de sangue para a obtenção do DNA genômico, além de uma entrevista. Estou morrendo de medo de ser desconvocado por falta de requisitos. Posto que cada vez mais me esqueço das coisas, temo repetir aqui a piada do idoso que se queixa ao médico: “Doutor, acho que estou perdendo a memória.” “Desde quando?” “Desde quando o quê?”

Felizmente não dei vexame. Passei na avaliação mnemômica com louvor. Entre outros itens, disse meu nome certo, o endereço, a cidade em que me encontrava e até o bairro em que moro. Brilhante! Um elefante não faria melhor. Só errei o dia do mês, fazendo confusão com a véspera. Mas, em compensação, as três palavras que o dr. Michel pediu para eu memorizar — camisa, marrom e honestidade — pude repeti-las sem hesitação uns 40 minutos depois. Agora só falta o resultado da ressonância, que esquadrinhou minha cabeça.

A esperança é que, quando Alice e Eric tiverem a minha idade, quase no ano 3000, livres de alguns dos males que afetam a velhice hoje, eles saibam que o avô, de saudosa memória, teve alguma utilidade. Pelo menos como cobaia.

A terra treme - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 23/11

Nada menos que 12 ex-ministros da Fazenda e nove ex-presidentes do Banco Central vão entregar ao STF uma carta alertando "para os riscos devastadores sobre a economia brasileira" de uma eventual decisão, quarta que vem, a favor de aplicação da correção monetária das cadernetas de poupança dos planos Brasser, Verão, Collor I e Collor II.
Segundo o "Valor", a decisão pode custar R$ 150 bilhões aos bancos.
Trans-JK 
Eduardo Paes acatou a ideia de seu adversário político Cesar Maia e vai batizar a Transcarioca com o nome de Juscelino Kubitschek.
É uma maneira de a cidade continuar homenageando o presidente bossa-nova, já que a única grande via com seu nome, o Elevado da Perimetral, vai ser demolida.
Em casa 
A Odebrecht, que venceu o leilão de privatização do Galeão-Tom Jobim, foi quem construiu o aeroporto, a partir de 1970.
Na época, a Odebrecht era uma empresa regional baiana. Aliás, foi a segunda obra da empresa no Rio. A primeira foi a sede da Petrobras.
Cotas tucanas 
O governador Geraldo Alckmin, em reunião ontem com Frei David, o homem das cotas, e outros dirigentes da Educafro, colocou a meta de 35% de vagas para negros nos concursos públicos do Estado de São Paulo.
Dilma, como se sabe, propõe 20% das vagas em concursos públicos para negros no âmbito federal.
Alô, alô 
O prisioneiro Zé Dirceu reclama o tempo todo da falta que um celular lhe faz.
Land Rover será no Rio 
Agora é oficial. A Land Rover terá sua fábrica no Rio de Janeiro. Será em Itatiaia, na divisa com Minas Gerais e pertinho de São Paulo. O anúncio será feito no Palácio Guanabara, dia 3 agora.
Será a segunda fábrica da Jaguar Land Rover fora da Inglaterra. O investimento será entre R$ 600 milhões e R$ 1 bilhão.
Vinte anos de sucesso 
Ivete Sangalo vai fazer a direção de seu próprio show em comemoração aos seus 20 anos de carreira. A gravação acontecerá na Arena Fonte Nova, na Bahia, dia 14 de dezembro.
É sua estreia na direção de espetáculos. O gramado será protegido, ufa!, para receber as 40 mil pessoas que vão assistir ao show.
Homenagem a Emílio 
Emílio Santiago será homenageado em nova edição da série "Tons", que reeditará, em CD e venda digital, três LPs fora de catálogo do cantor.
São eles  "Comigo é assim" (1977), "O canto crescente de Emílio Santiago" (1979) e "Guerreiro coração" (1980).
Jovem poeta 
"Arquivinho Vinicius de Moraes" vai ganhar uma nova edição da Bem-Te-Vi em comemoração ao centenário do nosso poeta. O lançamento é quarta agora, na Argumento do Leblon.
A caixa traz, além de um CD com músicas de Vinicius, um caderno manuscrito com 14 poemas. E, veja que bacana, 13 são inéditos.
Paixão adolescente...
O mais antigo poema é de 1927, quando o Poetinha tinha 13 anos.
Chama-se "Crômo".
Aos 15 anos, Vinicius já descrevia beijos apaixonados em "Confissão". Em vários outros poemas, já destilava sensualidade.
Negra, gordinha e gata 
O Renascença Clube, no Andaraí, está de volta ao circuito das misses.
Recebe, amanhã, uma etapa do Gata Preta Plus Size Carioca, que elege a mais bela entre as negras gordinhas.
A vencedora vai representar o clube na etapa estadual do concurso.
Cena carioca 
Assim que terminou o musical "Cazuza, pro dia nascer feliz", quinta passada no Theatro Net Rio, uma senhorinha de uns 60 e poucos anos, usando uma camiseta com uma estampa de um cigarro de maconha, foi até a porta do camarim pedindo para falar com Cazuza.
Não era com o ator Emílio Dantas, mas com Cazuza, que morreu em 1990.
Segue...
A senhorinha nem queria ouvir a explicação de que aquilo era apenas uma peça: - Preciso encontrar minha turma.
Sou muita amiga do Cazuza, do Dé.
Sou da turminha dele, me deixa entrar.
Há testemunhas.

Parece implicância da coluna. E é.
Mas esta turma de analistas e consultores erra muito. Veja só: ontem, na privatização do Galeão, ao contrário do que eles diziam, venceu uma proposta de quase três bilhões de reais a mais do que se pagou por Guarulhos (R$ 19 bi contra R$ 16,2 bi), em fevereiro de 2012. Aliás, os acionistas da Invepar, que compraram Guarulhos, fizeram um bom negócio, pois pagaram menos por um aeroporto que contabiliza 33 milhões de passageiros por ano, quase o dobro (17,5 milhões) do que o Galeão.

A HERDEIRA DE BENGELL - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 23/11

Norma Bengell fez de Luciene Marques, 31, sua cuidadora nos últimos cinco anos, sua única herdeira. Pelo testamento, a funcionária será dona dos direitos de imagem e do acervo da atriz e deverá receber a indenização de ex-anistiada política que ainda não havia sido paga em vida. O valor é de R$ 300 mil.

A HERDEIRA 2
O inventário foi aberto há duas semanas. O advogado Jorge Bloise diz que a atriz, morta em outubro, não deixou patrimônio. Uma casa na Gávea teria sido negociada há anos para quitar dívidas. Entre elas, R$ 30 mil com farmácia. "Ela enfrentava problemas financeiros e sobreviveu com o dinheiro apurado com o imóvel e com a ajuda dos amigos", afirma o advogado.

A HERDEIRA 3
O espólio da atriz responderá pela ação que pede a devolução aos cofres públicos de R$ 2,4 milhões, pelo fato de "O Guarani" (1996), dirigido e produzido por Norma, ter tido a prestação de contas recusada. Segundo Bloise, não há como pagar a dívida. "A inicial era de R$ 234 mil e virou bola de neve."

MAU EXEMPLO
Fotos expostas do lado de fora do Sesc Bom Retiro, parte da exposição "Bom Retiro e Luz: Um Roteiro", foram rasgadas na semana passada. As câmeras de segurança mostram que o vandalismo foi praticado por uma família de classe média --o pai e o filho mais velho destruíram as fotos, enquanto a mãe empurrava um carrinho de bebê.

BISCOITO FINO
Um dos sinais da concorrência pesada que SP enfrenta na eleição para escolher a sede da Expo 2020 é o investimento dos adversários. Os delegados que visitaram Dubai (Emirados Árabes) foram presenteados com canetas Montblanc e celulares Samsung. Os que vieram à capital paulista ganharam suvenires como saquinho de pó de café e livro de fotos de Sebastião Salgado.

SEM APOSTAS
Para a comitiva paulistana que viaja para Paris, local da votação na quarta, Dubai é forte adversária por ter dinheiro de sobra para bancar a megafeira, que só perde em importância para a Copa e a Olimpíada. Turquia e Rússia também estão no páreo. "É atípico. A disputa costuma ser entre duas candidatas", diz a vice-prefeita Nádia Campeão. O Brasil acredita ter o voto da maioria dos países da América do Sul e da África, em um total de 161.

HOJE É UM NOVO DIA...
A equipe do grupo Barbatuques responsável pela coreografia da vinheta de fim de ano da Globo foi orientada a "pegar leve" com os astros do jornalismo. Na hora de fazer as batidas no corpo, eles podiam ser mais contidos. A gravação reuniu 300 estrelas da emissora há duas semanas. Alguns atores se sentiram constrangidos pela forma como os grupos foram selecionados pela produção. A campanha vai ao ar a partir de amanhã.

VELOZES E FURIOSOS
Os pilotos Luciano Burti, Felipe Massa e Lorenzo Carvalho --famoso pelas baladas que frequenta em Portugal--, estiveram em festa da Ferrari, anteontem, no Leopolldo Jardins. As apresentadoras Patrícia Dejesus e Sabrina Sato, com o namorado, João Vicente de Castro, e o ator André Bankoff estiveram no evento da marca TNT, patrocinadora da escuderia.

MELHOR NO FUTURO
Os Prêmios Empreendedor Social e Empreendedor Social de Futuro, promovidos pela Folha, foram entregues anteontem no Masp. Kenneth Turner, gerente para a América Latina e África da Fundação Schwab, e os empreendedores sociais David Hertz e Fernando Botelho, com a mulher, Flávia de Paula, participaram do evento. O economista José Dias Campos foi um dos homenageados.

CURTO-CIRCUITO
Luiz Fernando Emediato e os filhos Antonio Anselmo e Fernanda fazem lançamento conjunto de seus livros na segunda. A partir das 18h30, na Saraiva Megastore do shopping Pátio Higienópolis.

Marcelo Rubens Paiva apresenta hoje, às 15h, estampas de camisetas que criou para a Livraria Cultura. No shopping Iguatemi.

Juca Chaves faz o show de comédia "Finalmente em Pé... Quase!", hoje, às 23h, na Hebraica, nos Jardins. Classificação livre.

Se arrependimento matasse - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 23/11

Com as prisões de José Dirceu e José Genoino, o ex-presidente Lula não esconde mais sua irritação com o presidente do STF, Joaquim Barbosa. A amigos que estiveram com Lula nos últimos dias, as críticas deixaram de ser veladas, e ele passou a ser categórico. Disse que o maior equívoco que cometeu na Presidência foi o de indicar Barbosa para ministro do Supremo.

Risco zero 
No Planalto, a avaliação é que não há hipótese de o presidente do STF, Joaquim Barbosa, filiar-se a algum partido para concorrer à Presidência ou a algum cargo majoritário nas eleições do ano que vem. O núcleo político do governo acha que todos os bônus obtidos por Barbosa no Supremo cairão por terra. “Ele terá que responder sobre todas as suas escolhas e por todos os erros e problemas enfrentados pelo partido a que ele se filiar”, diz um interlocutor palaciano. Ministros do STF fazem a mesma aposta e ainda contam que ele deverá se aposentar tão logo deixe a presidência, em 2014, para evitar ser comandado por Ricardo Lewandowski, o próximo presidente do STF. 

“A aliança de Eduardo Campos e Marina Silva coloca o PDT no palanque de Dilma. Marina está levando Eduardo para o isolamento” .
André Figueiredo 
Deputado (CE), líder do PDT na Câmara 

Um caminhão de ideias 
Levantamento do TSE identificou nada menos do que 1.370 projetos na Câmara e no Senado para alterar a legislação eleitoral. As propostas vão desde o fim do voto obrigatório à mudança das datas de posse de presidente e governadores. 

De volta
Maria Christina Caldeira, ex-mulher do deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP), tem enviado mensagens a amigos do PT avisando que ainda tem munição contra o ex-marido. “Na hora certa dou uma ajuda para o Zé (José Dirceu), presenciei almoço onde PR, PP e PTB combinaram como colocá-lo em situação frágil”, escreveu. 

PT tipo exportação 
Núcleos do PT em Londres, Genebra, Havana, Boston, Madri, Áustria e Portugal preparam nota em apoio aos “presos políticos” do partido. Pedem que a militância os defenda de forma “criativa, inovadora, espontânea e determinada”.

O vice de Lindbergh 
O presidente do PT, Rui Falcão, quer emplacar como candidato a vice do senador Lindbergh Farias (PT-RJ) o ministro da Pesca, Marcelo Crivella (PRB), que aparece em segundo lugar em todas as pesquisas ao governo do Rio, sempre na frente do candidato petista. Mas há restrições à ideia porque avalia-se que Crivella envelhece a chapa, num momento em que se quer renovação. 

Corrida para o Laranjeiras 
Pesquisa do Instituto Informa ao governo na cidade do Rio mostra Marcelo Crivella com 21%; Anthony Garotinho, 14%; Lindbergh Farias, 13%; Luiz Fernando Pezão, 9%; Bernardinho, 6%; e Miro Teixeira, 4%. Foi contratada pelo PMDB. 

Sem noção 
O deputado Weliton Prado (PT-MG) constrangeu o secretário do Ministério da Saúde Helvécio Miranda na Câmara. Gritando em um corredor da Casa, queixou-se de não ter suas emendas atendidas pelo ministro Alexandre Padilha. 

A COMISSÃO DE ANISTIA e a FGV lançam “Advocacia em tempos difíceis”, sobre a atuação dos advogados na defesa de presos políticos na ditadura. 

À prova de balas - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 23/11

O Palácio do Planalto avalia que, ao admitir ter repassado à Polícia Federal documento com acusações contra o PSDB e outros partidos, o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) agiu para blindar o Cade, ligado à sua pasta. O órgão negou ter recebido texto em que um ex-executivo da Siemens acusa tucanos e aliados de receber propina do cartel que agia em São Paulo. O governo paulista também vê ação do ministro para proteger o presidente do órgão, Vinícius Carvalho, ligado ao PT.

Raspando... O Palácio do Planalto credita a avidez das empresas no leilão dos aeroportos do Galeão (RJ) e de Confins (MG) ao fato de Odebrecht e CCR, que lideram os consórcios vencedores, terem perdido as licitações anteriores de terminais.

... o tacho Para o governo, as gigantes agiram para não ser excluídas do mercado. "Quem não entrasse agora ficaria fora dos top' de linha", diz o ministro Moreira Franco (Aviação Civil).

Modo avião Dilma Rousseff estava no avião presidencial, em voo para Fortaleza, quando o leilão foi encerrado. Ao pousar, telefonou para Gleisi Hoffmann (Casa Civil).

Gás Animado com o resultado dos aeroportos, o Planalto pretende realizar ainda este ano leilões de rodovias, após fracassos anteriores. Para isso, o Tribunal de Contas da União ainda precisará liberar os lotes a serem concedidos.

Dois pesos Chico Alencar (PSOL-RJ) requereu que o Ministério da Justiça informe quantos agentes da PF foram escalados para investigar violência em protestos e quantos para apurar crimes como extermínio em favelas.

Medidas O deputado quer saber ainda se o governo federal agiu em conjunto com as polícias estaduais para apurar esse tipo de crime.

Visitas à Folha Alexandre Amorim, administrador, e Diego Moreira e Luiz Ribas, economistas, vencedores do Prêmio Empreendedor Social de Futuro e do Prêmio Escolha do Leitor 2013, e as finalistas Regina Vidigal Guarita, arte-educadora, e Sylvia Guimarães, historiadora, visitaram ontem a Folha, a convite do jornal, onde foram recebidos em almoço.

Wally Causou estranheza no Palácio dos Bandeirantes o fato de o secretário Rodrigo Garcia (Desenvolvimento Econômico) não ter falado pessoalmente sobre o documento que cita "estreito relacionamento" entre ele e um lobista. A ordem para os citados era reagir energicamente.

Eu não Também incomodou o governo a declaração de Jurandir Fernandes (Transportes), que se esquivou da denúncia dizendo que "no seu caso" não havia menção a pagamento de propina, sem defender os colegas.

Grafotécnico Secretários de Alckmin citados no documento vão interpelar judicialmente o ex-executivo da Siemens Everton Rheinheimer para que confirme se é o autor da carta com acusações a tucanos e aliados.

Caixa preta A Corregedoria paulista faz desde o início do mês análise da evolução patrimonial de 21 funcionários e 11 ex-funcionários do Metrô e da CPTM citados nas apurações de cartel. Deles, ao menos 25 já prestaram depoimento. A previsão é que essa parte da investigação seja concluída em dezembro.

Vizinhos Joaquim Barbosa ligou quinta-feira para o presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN), para justificar a demora em enviar um comunicado formal sobre a prisão do deputado José Genoino (PT-SP). O presidente do STF disse que estava fora de Brasília e mandou o documento quando voltou.

TIROTEIO

"O porquinho' Cardozo quer jogar a lama do PT em nós, sem provas. Terá de dizer quem lhe passou esse papel, ou se ele mesmo forjou."

DE JOSÉ ANIBAL, secretário estadual de Energia de São Paulo, sobre o ministro da Justiça ter passado à PF documento que aponta propina a tucanos paulistas.

CONTRAPONTO


Pepinos viários

Ao cumprimentar o vice-governador da Bahia, Otto Alencar, em evento do PSD anteontem, Dilma Rousseff lembrou da ocasião em que conheceu um trecho viário de Salvador conhecido como "rótula do abacaxi".

--Eu achava que era "rótula do abacaxi" porque a fruta era vendida ali. Mas não! É porque aquele trecho era um problema mesmo.

A presidente afirmou que os governos estadual e federal estavam investindo em obras de mobilidade.

--Agora vai mudar para "rótula do quiabo", porque flui bem --disse, provocando risos dos pessedistas.

PMDB na encruzilhada - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 23/11

Na política, 2014 já chegou e o PMDB, embora diga que tem três opções, na verdade, adotou uma: fechar com a presidente Dilma Rousseff e liberar seu pessoal nos estados. Isso porque, passados 10 dias das eleições internas do PT, os peemedebistas não receberam uma sinalização em relação aos palanques que desejam. Ok, foi uma semana atípica em função das prisões do mensalão, com o PT dedicado a reagir. Mas a vida segue e é preciso cuidar de acertar os palanques, sob pena de comprometer a aliança pela reeleição de Dilma.

Os estados mais complicados são mesmo Rio de Janeiro, Ceará e Bahia. Isso sem contar aqueles nos quais os dois partidos são adversários tradicionais, por exemplo, Pernambuco e Rio Grande do Sul. Por falar na Bahia, o ex-deputado Geddel Vieira Lima telefonou. Queria dizer que não jantou com Aécio, mas confirmou que conversaram. “Conversei com Aécio, com Eduardo Campos, só não conversei com Dilma porque ela não me chamou”, contou. Os tucanos garantem que a conversa entre Aécio e Geddel foi pra lá de boa. Anúncios no PMDB da Bahia, entretanto, só mesmo no ano que vem. Depois do trio elétrico. Até lá, ele segue com vários caminhos. A propósito, as outras duas opções são o partido fechar 100% com Dilma ou abandoná-la de vez. Essas hipóteses estão descartadas hoje.

Missão política
Dilma aproveitou a viagem ao Ceará ontem para tentar unir o PMDB, do senador e líder da bancada, Eunício Oliveira, e o Pros, dos irmãos Cid e Ciro Gomes. O problema é que o governador não abre mão de indicar alguém da sua lavra para a sucessão estadual. Ou seja, nessa viagem de ontem, essa obra continuou inacabada.

Prazo fatal
Enquanto o governador do Ceará, Cid Gomes, adia ao máximo as definições sobre 2014, o comando nacional do PSDB promete esperar até 30 de janeiro por Eunício no papel de candidato a governador e anfitrião do candidato a presidente da República Aécio Neves no estado. Se não houver decisão até lá, o PSDB fará um palanque em parceria com o PSB, do empresário Nicole Barbosa. Tasso Jereissati concorrerá ao Senado.

Peça importante
O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, passou os últimos dias telefonando aos congressistas para saber a quantas anda o Plano Nacional de Educação (PNE). O projeto dele é ver essa lei aprovada antes de deixar o cargo. Assim, seus aliados acreditam que ele terá duas marcas: a alfabetização na idade certa e o novo PNE.

Diferenças sutis
A prisão dos réus do mensalão é comentada por Aécio Neves, com destaque para o fato de três quartos dos ministros do Supremo Tribunal Federal serem indicados por Dilma e Lula. É o contraponto ao discurso do PT, que tenta transformar a condenação em perseguição política. O socialista Eduardo Campos deu apenas uma declaração no início e, depois, tirou essa história de foco.

Público interno/ Ao chamar o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, de “Enrolando Cardozo”, a presidente da Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), senadora Kátia Abreu (foto), fazia, na verdade, um gesto interno. Na Frente Parlamentar da Agricultura, há quem diga que a senadora fala, mas sempre termina votando com o governo.

O jeitoso/ Mal o deputado estadual paulista Barros Munhoz pisou em Minas Gerais, recebeu um telefonema de Aécio Neves. O senador queria saber se ele precisava de algum apoio nas Alterosas. Munhoz, conhecido como serrista, voltou para seu estado e comentou com amigos: “Ele terá meu voto, se tiver disputa”.

Nas internas…/ O ex-ministro e ex-presidente do PT José Dirceu cumpre pena com a certeza de que, se seu partido tivesse reagido antes, a história seria outra.

Voto togado/ Ferve a campanha para escolha do presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), a mais importante entidade de representação da categoria, com cerca de 14 mil associados. A disputa entre o candidato da situação, o paranaense Roberto Bacellar, e a oposição, liderada pelo gaúcho João Ricardo Costa, chega à reta final com os dois lados cantando vitória. Hoje, teremos o vencedor.

O condenado e o "ex-enfermeiro" - JORGE BASTOS MORENO

O GLOBO - 23/11

O país inteiro discute a prisão de Genoino. Nestas horas, surgem discussões apaixonadas. Vamos ao fato, Sua Excelência, o fato. O fato é que o deputado foi denunciado, processado, julgado e condenado. Ponto! Outro fato é que Genoino sofre de cardiopatia grave e necessita de atendimento e controle médicos diários e de alimentação especial. Não há, no Brasil, nenhuma penitenciária capacitada a dar esse tipo de assistência. O juiz da Vara de Execução Penal Ademar Vasconcelos, alegando já ter, em algum momento da sua vida, exercido as funções de enfermeiro, “examinou” Genoino e foi a Joaquim: “Ele está simulando”. Joaquim acreditou e manteve Genoino na prisão, até ele passar mal e ser removido às pressas a um hospital. Agora, até o “ex- enfermeiro” sabe que Genoino não pode voltar para a Papuda. Ou cumpre pena em casa ou no hospital, onde o regime, forçosamente, é fechado.

Queda da Bastilha
É impactante, e decepcionante, a chegada do poder do “Coisa-Ruim” ao Palácio do Planalto, via logo quem? Gleisi Hoffmann, minha ministra preferida. Tomara que seja tudo apenas mais uma intriga do PMDB governista.

Contraponto
Eliseu Padilha, chamado injustamente de “o Eduardo Cunha dos pampas", virou dilmista roxo.

Caixeiro-viajante
Moreira Franco está em estado de graça, por conseguir vender o Galeão a um preço maior que o pré-sal.

Perdeu a graça
Esse propalado aumento da gasolina, quando sair, vai derrubar alguém, não resta a menor dúvida. Parece uma novela de intrigas e de adiamentos.

Números
Conta meu homem em Brasília: “Existe um termômetro no Planalto sobre como andam as coisas. Funciona mais ou menos assim: quanto mais ligações para o Guido Mantega, maior a preocupação de Dilma com a economia e, portanto, maior a tensão entre seus assessores".
Pois bem, nesta semana Dilma falou com Guido três vezes, às vezes até quatro vezes por dia. Com Mercadante, não foram nem três vezes na semana.

Sucesso
Aliás, a presidente Dilma mandou o ministro Mercadante inaugurar 450 casas do Minha Casa Minha Vida em Boa Vista, Roraima. Juntou gente de todo o estado e região vizinha para ver o que o ministro da Educação tem a ver com habitação popular. Foi uma coisa!

Nota dez
A quem interessar possa: se um dia estiveram arranhadas, as relações de Dilma e Lula voltaram ao que sempre foram depois de uma longa conversa, logo após a cerimônia de homenagem aos restos mortais do ex-presidente João Goulart.

Nota zero
Mas aí vem Lula e diz: “Nossa resposta a eles será reeleger Dilma’
A eles quem, “pele vermelha”? Ao Supremo, aos mensaleiros ou ao povo? Pergunto isso porque, em termos de escândalos, a oposição não deve nada ao PT e aliados.

Data
Dilma não lê horóscopos, mas, por precaução, decidiu que só fala da reforma ministerial depois de 15 de dezembro, um dia após completar 66 anos.

Cuba
Eu não queria estar na pele do Padilhão. Candidato quase que consensual ao governo de São Paulo, o pobre do ministro, por determinação da Dilma, está percorrendo o país, alojando médicos cubanos.
Se em Cuba houvesse eleições democráticas, e ele fosse candidato a prefeito de Havana, já estava eleito.

Atenção, por favor!
Estava eu fechando esta edição com uma boa notícia sobre o mundo da moda, da beleza e das artes, envolvendo a atriz ( quase) mirim Laura Neiva, quando me vem a bomba: Joaquim vai mesmo, dentro de alguns dias, decretar a prisão domiciliar definitiva de Genoino.

A candidata em busca da credibilidade perdida - ROLF KUNTZ

O Estado de S.Paulo - 23/11

O alarme tocou e a presidente Dilma Rousseff entrou em campanha para elevar sua credibilidade, encenando mais uma vez o compromisso, jamais cumprido, de boa administração das contas públicas. Não se trata, agora, de persuadir um eleitorado mais ou menos cativo e mais ou menos propenso a engolir as patranhas de uma governante populista. O objetivo, bem menos simples, é reduzir a desconfiança de um público mais informado, menos vulnerável a truques contábeis e muito menos impressionável com jogadas de controle de preços. Não se trata só de economistas independentes e do pessoal do mercado financeiro, mas também - e neste momento principalmente - dos analistas com poder para baixar a nota de crédito do País. O risco de rebaixamento ficou mais evidente nas últimas semanas, foi citado pelo ministro da Fazenda em reunião com líderes aliados e é compatível com as preocupações indicadas por entidades multilaterais, como a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Em seu novo relatório sobre perspectivas globais, economistas da OCDE sugerem, entre outras medidas para tornar mais claras as contas públicas, maior atenção à regra de superávit primário e limitação das operações "quase fiscais". Este é um nome delicado para a relação promíscua entre o Tesouro e os bancos federais. Tais medidas, acrescentam os autores do texto, "consolidariam a reputação duramente adquirida pelo Brasil de boa gestão fiscal".

A referência a essa reputação como ainda existente deve ser mais uma gentileza diplomática. Igualmente gentil é a referência à reputação da política de controle da inflação baseada no regime de metas. "Será importante continuar mostrando determinação diante da emergência de pressões inflacionárias", sustentam os economistas. Em outra passagem, o texto menciona diretamente a necessidade de mais aperto monetário para conduzir a inflação à meta de 4,5%.

Bem antes da presidente da República os dirigentes do Banco Central (BC) decidiram cuidar da própria credibilidade. Ao elevar em abril o juro básico da economia, a taxa Selic, tomaram a primeira medida séria, em 20 meses, para enfrentar a disparada dos preços. Foi também o primeiro lance para restabelecer a imagem de autonomia operacional da instituição.

Já esfrangalhada, essa imagem foi quase destruída quando a presidente Dilma Rousseff, na África do Sul, em março, fez um desastroso pronunciamento sobre como deveria ser o combate à inflação no Brasil. O presidente do BC, Alexandre Tombini, teve de se manifestar, pouco depois, para "esclarecer" as palavras de sua chefe e tentar conter os estragos. No mês seguinte começou a nova série de aumentos da taxa Selic. Analistas do mercado financeiro e consultores privados dão como certa mais uma elevação ainda este ano e um retorno do juro básico dos atuais 9,5% aos dois dígitos. A decisão deverá ser conhecida na próxima quarta-feira, quando terminará a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) prevista para 2013.

A política de juros em vigor a partir de abril deve produzir resultados sensíveis, ou mais sensíveis, nos próximos meses. É cedo para dizer se haverá novos aumentos em 2014, embora o mercado financeiro projete uma Selic de 10% para dezembro de 2013 e uma taxa de 10,25% para o fim do próximo ano. Por enquanto, a inflação continua vigorosa. O IPCA-15, prévia do índice oficial do mês, subiu 0,57% em novembro, 5,06% no ano e 5,78% em doze meses. Em outubro a variação havia chegado a 0,48%. A reaceleração iniciada em agosto continua e, se fosse necessária mais uma prova do desastre, bastaria examinar a contaminação dos preços - 70,7% itens com aumentos.

Se a tendência se mantiver, como tudo parece indicar, as escolhas do Copom serão muito restritas, até porque o governo se mostra disposto a continuar estimulando o consumo e a manter frouxas as suas contas. Com isto se volta ao problema da política fiscal e ao esforço da presidente Dilma Rousseff de encenar de novo um compromisso de seriedade. O espetáculo incluiu na semana a reunião com políticos aliados para convencê-los a abandonar projetos com elevados custos fiscais - uns R$ 60 bilhões por ano, se forem todos aprovados.

Líderes da base assinaram um documento de apoio ao imaginário Pacto de Responsabilidade Fiscal inventado, há alguns meses, como resposta às manifestações de junho. Um dia depois o Congresso aprovou, no entanto, uma lei para desobrigar o governo central de compensar as deficiências de Estados e municípios na produção do superávit primário. Em seguida, a presidente pediu a seus auxiliares a fixação de metas fiscais mais fáceis para o próximo ano. A quem ela espera convencer de sua conversão à austeridade? Além do mais, em 2014 eleições dominarão a política. A campanha da reeleição começou há muito tempo, como sabe qualquer pessoa razoavelmente informada.

A presidente festejará o ano-novo num país com inflação elevada e finanças públicas em mau estado, pressionada para manter estímulos setoriais ao consumo e com as contas externas em visível deterioração. O déficit em conta corrente acumulado nos 12 meses até outubro chegou a US$ 82,21 bilhões, 3,67% do PIB estimado.

A balança comercial, foco dos principais problemas do balanço de pagamentos, pode melhorar neste bimestre. Mas as perspectivas ainda serão ruins, porque a indústria continua com baixo poder de competição. A política do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) atendeu nos últimos anos a prioridades erradas e foi insuficiente para promover a elevação do investimento privado. Quanto ao investimento público, permaneceu emperrado por incompetência gerencial. Se o BC continuar sozinho no combate à inflação, a presidente ainda estará arriscada a enfrentar novas e inoportunas altas de juros. A batalha da credibilidade poderá ser muito complicada.

Uma questão de planejamento - KÁTIA ABREU

FOLHA DE SP - 23/11

O Brasil precisa se preparar para a revolução que será o aumento da demanda por alimentos na China


A China é, no presente, o maior parceiro comercial do Brasil e o principal destino de nossas exportações, quase todas provenientes do agronegócio.

O saldo de nosso intercâmbio comercial nos tem sido favorável desde 2009. Nosso superavit comercial acumulado de janeiro de 2009 a junho de 2013 chegou a US$ 35 bilhões.

Mas nosso intercâmbio com a China, que totalizou US$ 76 bilhões em 2012, não representou mais que 2% do comércio exterior chinês.

Mesmo sem as mudanças recém-anunciadas pelo governo chinês, as oportunidades daquele mercado para o agronegócio brasileiro ainda estão, em grande medida, para serem exploradas.

Em se tratando da demanda por alimentos, o que provavelmente vai ocorrer ali, nos próximos anos, é uma verdadeira revolução. E o Brasil precisa se preparar para ela.

Em primeiro lugar, a atual liderança chinesa se propôs a dobrar a renda per capita do país nesta década, saltando dos atuais US$ 6.000 para cerca de US$ 12 mil em 2020.

Nesse patamar de renda, a elasticidade da demanda por alimentos ainda é muito alta, sobretudo levando em conta que, nessa trajetória, pretende-se, adicionalmente, uma melhoria mais acentuada de renda para as populações rurais e aquelas ainda marginais nas cidades.

Além do aumento quantitativo da renda, algumas mudanças estruturais deverão ocorrer. A primeira se dará nos motores do crescimento: até aqui, as exportações e os investimentos. A partir de agora, o foco estará no aumento do consumo das famílias.

Dados do Banco Mundial mostram que o consumo doméstico representa apenas 36% do PIB chinês, o que é uma proporção anômala. Nos Estados Unidos, esse percentual atinge 72%; no Brasil, 62%, e, na Índia, 59%.

A discrepância deve-se ao alto grau de desigualdade distributiva e à baixa urbanização, fenômenos que serão objeto das novas políticas públicas. A China ainda mantém uma imensa parte de sua população no campo, vivendo em condições muito inferiores às das populações urbanas.

No começo das reformas de mercado, em 1978, 82% da população vivia no campo. Hoje, a população rural soma 49% da total, mas a proporção ainda é muito grande, considerando que a produtividade no campo é muito menor do que na moderna economia urbana. Isso explica parte da desigualdade.

A situação vai mudar rapidamente com as medidas que visam a ampliar a urbanização, em especial o programa de desenvolvimento de 135 cidades de porte médio --entre 1 milhão e 10 milhões de habitantes. Independentemente de qualquer política, nenhum regime conse- gue manter em harmonia um país dividido em dois mundos tão diferentes.

Além da urbanização, virá uma flexibilização da política de registro de domicílios, que hoje mantém na condição de residentes clandestinos 270 milhões de chineses que vivem nas grandes cidades. Sem acesso a nenhum serviço público, eles são forçados a consumir pouco e poupar muito para atender às despesas de saúde, educação e aposentadoria.

Finalmente, cogita-se dar aos produtores rurais a oportunidade de transacionar seus direitos de uso da terra. No regime vigente, os produtores rurais que migram para a cidade deixam para trás, sem nenhuma remuneração, o único ativo de sua vida: a terra de onde tiram o sustento. O mesmo se dá quan- do os governos locais confiscam a terra rural para construir cidades ou fábricas.

Esse conjunto de políticas e reformas terá como consequência a melhoria significativa de renda para grande parte dos 900 milhões de pessoas ainda à margem do progresso chinês. E crescerá muito a demanda por alimentos, que só poderá ser atendida via importações, dadas as restrições impostas à China pela escassez de água e de terras agricultáveis, que não passam de 120 milhões de hectares.

O Brasil é, talvez, o único país do mundo que pode atender a tempo tal aumento de demanda. Temos terras férteis, clima, tecnologia e força de trabalho qualificada para aproveitar essa oportunidade.

O nosso setor deve utilizar a ótima interlocução que tem com o governo para a construção de um minucioso e abrangente planejamento. O improviso pode ser o nosso maior adversário.