FOLHADE SP - 23/11
RIO DE JANEIRO - John Kennedy, cujos 50 anos de morte aconteceram ontem, só perde, em número de livros a seu respeito, para Jesus Cristo, Napoleão, Hitler e, talvez, Marilyn Monroe e os Beatles. Fala-se em mais de 40 mil títulos sobre sua vida, seu governo (1961-1963) e sua época. Mesmo que tenham errado nos zeros e a verdade esteja em torno de 4.000, ainda é muito livro sobre uma só pessoa.
Se Kennedy tivesse sobrevivido e se reelegesse, sairia da Casa Branca em 1968 e logo publicaria suas memórias da Presidência --o que não o livraria de ter sua vida pessoal e política esquadrinhada por biógrafos, jornalistas e ensaístas. Foi assim com Roosevelt, Truman, Eisenhower, Johnson, Nixon, Carter, Reagan, Clinton e os Bush pai e filho. Entre na Amazon e morra de inveja: há dezenas de livros em inglês sobre cada um.
No Brasil, estamos longe dessa tradição de escrever sobre presidentes. Há uma considerável bibliografia sobre Getúlio e Juscelino, uma ou duas biografias de Jango e Castello Branco e livros bobos, de "causos", sobre Jânio. Mas onde estão as biografias de Dutra, Café Filho, Costa e Silva, Médici, Geisel, Figueiredo, Tancredo?
Grande parte da história moderna do Brasil permanece em arquivos, gavetas ou memórias, estas em processo de apagamento parcial ou definitivo. Apenas na área das ciências, Oswaldo Cruz, Rondon e Anísio Teixeira já podem ter merecido biografias, mas, e as de Carlos Chagas, Roquette-Pinto, Vital Brazil, Josué de Castro e Mario Schenberg?
O mesmo na literatura. Conhecemos a obra, mas como foi a vida de Bandeira, Drummond, José Lins do Rego, Cecília Meireles ou Guimarães Rosa? Um dia, saberemos se, afinal, Mário de Andrade era gay ou não, e se não era só a Pauliceia que era desvairada. E se isso tinha qualquer importância. Nesse dia, teremos, quem sabe, chegado à maioridade.
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