sábado, junho 15, 2013

A voz da América - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 15/06

A Embaixada dos EUA soltou uma daquelas notas de alerta aos cidadãos americanos que visitam o Brasil durante a Copa das Confederações.
Diz lá que funcionários do governo americano estão proibidos de visitar favelas não pacificadas em Recife, Rio e São Paulo.

Segue...
O texto argumenta que a taxa de homicídios do Brasil é mais de quatro vezes maior que a dos EUA, e os índices de outros crimes “são igualmente elevados”.
A lista de alertas é interminável. É preciso ter cuidado com caixas eletrônicos, praia, aeroportos, ônibus, áreas próximas aos hotéis etc. etc. etc...

Copa que segue...
Dilma e Joseph Blatter tiveram uma hora de conversa, ontem, na base aérea do Aeroporto Santos Dumont, no Rio.

Aliás...
Os dois estarão hoje no super camarote de Vips que a Fifa montou no Estádio Nacional Mané Garrincha, em Brasília.
Terão a companhia de Jérôme Valcke, Aldo Rebelo e Gleisi Hoffmann.

Eu também quero...
Num país cheio de autoridades que adoram uma boca-livre, o governador Cid Gomes está com um pepino.
A Fifa prometeu a ele 300 convites para o jogo Brasil x México, quarta, em Fortaleza. Mas só entregou 45.
Maldade.

Ainda...
Tudo bem. A Copa mesmo é só daqui a um ano. Mas é impressão minha ou o povão ainda não se ligou nesta tal Copa das Confederações?

À la Zózimo
E o Comitê Local da Fifa, hein?! O cenógrafo e carnavalesco Paulo Barros, diretor artístico da abertura da Copa das Confederações, hoje, em Brasília, ficou chateado.
Quinta, no último ensaio, milhares de voluntários ficaram o dia inteiro sem alimentação adequada.
Vidas secas...
No fim do dia, no Mané Garrincha, os voluntários ameaçaram boicotar o evento.
Houve gente desmaiando de fome.

Senhor juiz...
Quem esteve com Felipão ontem, na concentração do Brasil, foi o ministro Gilmar Mendes, do STF.
“Falamos sobre como devíamos mostrar ao mundo a nossa pujança, o que somos, não só como time de futebol, mas como país. Que não somos só o país do futebol, mas um país de futuro, bem administrado”, disse o técnico.

Fala, Galvão...
Galvão Bueno fará dois programas “Bem, amigos” no SporTV, ao vivo das cidades-sede, além do encerramento da Copa, no Rio.

Banho no Cristo
A estátua do Cristo Redentor vai receber uma limpeza especial para a Jornada Mundial da Juventude. A Unilever assinou um acordo com a Arquidiocese do Rio para manutenção do monumento.
A imagem do Cristo será usada no lançamento do limpador Cif.

Tiros em Copa
Um ônibus da viação Premium (A41818) parou bruscamente, por volta das 21h de quinta, na esquina das ruas Barata Ribeiro e Xavier da Silveira, em Copacabana. De repente, os passageiros começam a correr. 
Era um assalto.
Um passageiro imobilizou o bandido, mas ele acabou fugindo dando tiros para o alto.

Eleição 2014
Ontem, na visita à Rocinha, Dilma mandou beijinho para um fã que usava a máscara da presidente no rosto. Ele retribuiu com um grito de “minha presidente vai ganhar no primeiro turno”.

Isto pode?
Passageiros da linha 409 (Saens Pefia-Horto) reclamam que motoristas têm feito caminhos alternativos, descendo pela Rua Visconde de Itaúna, no Jardim Botânico.
É para fugir do trânsito no bairro.

Gruta da imprensa
O “Financial Times” diz que os protestos de rua no Brasil refletem o descontentamento com a inflação.
É. Pode ser.

No mais
Um brasileiro que sabe das coisas lembra que a regra é reajustar o preço das passagens de ônibus em janeiro. Como é um mês sem aulas e com muita gente viajando é menos propício a protestos contra aumentos.
Mas Dilma, por causa da inflação, pediu aos governantes para adiar o aumento para maio. Deu no que deu.

Próximo Ponto - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 15/06

As manifestações contra o aumento da tarifa de ônibus em São Paulo começam a alterar a agenda de eventos da cidade. O Itaú Cultural cancelou o debate Comandos do AfroReggae, que ocorreria na segunda-feira. O encontro discutiria justamente a violência, reunindo policiais civis, militares e ex-integrantes do crime organizado.

AGENDA
O Itaú Cultural trabalha com a possibilidade de que novas manifestações possam desembocar na avenida Paulista, onde está instalado. Os organizadores das passeatas já divulgaram que farão novo protesto na segunda, na avenida Faria Lima.

QUE FOME
E na quinta restaurantes como a Hamburgueria Sujinho, na esquina da rua da Consolação com a Maceió, cancelaram as entregas de pedidos. Os motoqueiros não podiam se deslocar na cidade por causa do tumulto entre polícia e manifestantes.

PERTO DE CASA
As inserções publicitárias estaduais que o PSDB começa a levar ao ar na próxima sexta terão conteúdo adaptado para cada região de São Paulo. Elas vão destacar as ações do governo Geraldo Alckmin específicas para áreas como a capital, Baixada Santista e Vale do Paraíba. Além do governador, o senador tucano Aécio Neves aparece na campanha.

TRIBUTO À BAHIA
Dori Caymmi e Mario Adnet preparam disco em homenagem a Dorival Caymmi que terá participação de Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Danilo Caymmi. "História de Pescadores", "O Mar" e "Pescaria" estão entre as canções que serão gravadas em estúdio com orquestra.

Os concertos de lançamento, em São Paulo e no Rio, serão em abril de 2014, ano do centenário de nascimento do baiano.

CARNAVAL EM CAMPO
No espetáculo de abertura da Copa das Confederações, hoje, em Brasília, o carnavalesco Paulo Barros deixou de lado a pirotecnia e outros artifícios que o fizeram bicampeão do Carnaval carioca pela Unidos da Tijuca. "Em um estádio, há limitações. Não podemos levar elementos que comprometam a integridade do gramado", diz ele.

CARNAVAL EM CAMPO 2
Há oito meses, o carnavalesco aceitou o convite de José Victor Oliva, do Banco de Eventos, empresa contratada pela Fifa para organizar as cerimônias. A coreografia de hoje dura 20 minutos. Envolve dança, movimentos e elementos manipulados pelos 2.800 voluntários, com referência ao futebol e aos países que participam da competição. Barros diz que ainda não foi escalado para organizar as cerimônias da Copa de 2014. "Estou tentando comprar o ingresso", brinca.

LOIRA, ALTA E BOA DE BOLA
Renata Fan, 35, trocou, há dez anos, trabalhos ligado à beleza pela bola. Ex-miss Brasil, cursou direito e jornalismo e se estabeleceu numa seara dita masculina, à frente da mesa-redonda esportiva "Jogo Aberto" (Band).

Reforço do canal na cobertura da Copa das Confederações, que começa hoje, ela avalia a seleção brasileira: "Será um teste decisivo. Até agora Felipão só teve amistosos. Terá de fazer escolhas, pensando na Copa de 2014".

Torcedora do Internacional, a gaúcha já destruiu almofadas e rói as unhas pelo time. Ela diz não ter sofrido preconceito na carreira. "Mas sei que não era comum uma ex-miss, alta e loira ter opinião sobre futebol."

JORNADA
Frei Betto autografou o livro "O que a Vida me Ensinou - O Desafio É sempre Imprimir Sentido à Existência", anteontem, na Saraiva do Pátio Higienópolis. A artista plástica Heloisa Pessoa, a socióloga Telva Barros e o escritor Marcilio Godoi foram ao lançamento.

PIPOCA SALGADA
A diretora Lúcia Murat lançou seu filme, "A Memória que me Contam", no Reserva Cultural. As atrizes Simone Spoladore e Irene Ravache, com seu marido, o jornalista Edison Paes Melo, estiveram na sessão.

A 'CHICA DE MI VIDA'
À luz de velas, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso celebrou o Dia dos Namorados num jantar romântico no restaurante argentino La Frontera, em Higienópolis, com sua companheira, Patrícia Kundrát, 35. À mesa, com eles, estava o sociólogo espanhol Manuel Castells e uma jovem senhora loira de cabelos longos.

Os dois casais passaram a noite sorrindo e conversando. Alheio aos observadores, FHC recebeu carinhos na nuca e beijinhos no rosto e no canto da boca.

FHC falava em espanhol e, vez ou outra, corrigia falas de sua namorada -ela falava em inglês e arriscava um "portunhol" para interagir com Castells e sua acompanhante.

"Eu e o Fernando vamos viajar. Preciso praticar meu espanhol", brincou Patrícia. Castells sugeriu que fossem a Granada, na Espanha. "Granada! Dizem que é lindo."

FHC e a namorada planejam temporada na Europa em julho. O ex-presidente tem compromissos em Paris, viaja no dia 13. "Eu e Fernando teremos dez dias para viajar. Preciso aproveitar, ele não tem tempo", disse Patrícia. E ele: "Olha onde fui amarrar meu burro! Vocês sabem o que isso quer dizer? Olha onde fui amarrar meu burro?"

FHC traduziu. E explicou: "Tenho filhos, netos...". Descontraído, tentou emendar elogio a Patrícia: "Esta chica aqui"... (algo como: esta menina). Ela o interrompeu. "Esta chica aqui? Fernando! Puta que o pariu. Esta chica aqui." Ele se justifica: "E eu tenho outra?". "Não, mas poxa", ela afirma sorrindo, mas contrariada. "A chica de mi vida. Está bom assim?"

O primeiro brinde foi feito com uma garrafa de Alios, um vinho espanhol, safra de 1997, levada pelos casais para o restaurante. O La Frontera tinha o mesmo vinho, mas de safra 2007, por cerca de

R$ 400 a garrafa. Antes de sair do restaurante, às 23h40, FHC pediu meia garrafa de outro vinho espanhol.

No fim da noite, os dois casais posaram para fotos no celular. Patrícia abraçou e beijou o ex-presidente, que pareceu um pouco tímido com os flashes. Minutos depois, deixaram o restaurante. Já na porta, FHC foi aplaudido por parte dos presentes. (DANIELA LIMA)

CURTO-CIRCUITO
O livro "Os Bastidores do Palácio", de Christine Starr, será lançado hoje, às 10h, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional.

Mario Beni profere palestra sobre inovação no encerramento do 8º Congresso Brasileiro de Turismo, hoje, no Recife.

Amanhã, a 2ª edição da Rua Verde ocupa a rua Amauri, no Jardim Europa, com atrações de lazer, cultura e gastronomia, das 12h às 20h.

Deviam proibir os carros - MARCELO RUBENS PAIVA

O Estado de S.Paulo - 15/06

Uma sobrinha de 20 anos não está à toa na vida. Pertencer a uma geração sem bandeiras, que os mais velhos, grupo social e etário que antigamente chamávamos de coroas, desdenham? Que nada.

Participou da Parada Gay, Marcha da Maconha, Marcha das Vadias, Veta Dilma, Existe Amor Em SP, apoia o Femen e Fora Pastor Feliciano. Seu sobrenome nas redes sociais virou Guarany Kayowá, fato que demorou para ser digerido pelos mais velhos da família. Musa da juventude socialista e constantemente assediada para se filiar ao PSOL, PCO e PSTU, é contra o capitalismo. E contra o jogo viciado de alianças escusas do PT com a burguesia. Mas desconfia que alguns garotos da juventude socialista só querem ir pra cama com ela. Dão indícios de um comportamento pequeno-burguês que vê a mulher como objeto. Só de birra, ficou com uma mina do MST na última festa da Caros Amigos. O Movimento Passe Livre é sua atual prioridade.

Já foi careca, já usou dreadlocks. Já namorou um skatista que levava três horas para vê-la, pois atravessava a cidade num trem, dois bumbas, um metrô e uma van clandestina. Namorou uma menina diretora de teatro da Praça Roosevelt, um puxador de samba, o dono de um sebo, de bar da Vila Madalena e um chefe de cozinha de um restaurante catalão.

Hoje em dia, ela veste a mesma roupa que a mãe e as tias vestiam décadas atrás. Você assistiu ao filme Depois de Maio (Olivier Assayas)? Se passa, mais precisamente, em 1971. O figurino dela é o mesmo. A sobrinha se veste como nos vestíamos quando combatíamos a ditadura, a censura, a caretice, Flávio Cavalcanti, a galera "disco", o tabu da virgindade e a ressaca de bebidas paraguaias. Os sapatos, colares, adornos, pulseiras, são os mesmos. A touca, o poncho e a bolsa, aquela de alça, confeccionados por nossos irmãos camponeses do Peru, sufocados por cinco séculos de dominação imperialista, como nós, são os mesmos.

A riquinha da atual novela das 9 teve um surto hipster e também passou a usar as mesmas roupas, depois de conhecer Machu Picchu, no primeiro capítulo. A sobrinha ficou curiosa. Aparecerão milhares de mulheres pelas ruas se vestindo como ela, depois que a TV fosse inundada por anúncios de batas e pantalonas a R$ 19,99? Não. A patricinha da novela voltou ao Brasil no segundo capítulo e deixou seu lapso, dilemas sociais e o namorado mezzo-peruano para trás, para assumir os negócios da família. Especialmente depois do papai bloquear seu cartão de crédito, enquanto ela e o hiporonga vagavam livremente pelos Andes.

Quando deixamos de usar bolsas de alças largas, que desciam até o quadril, que prendíamos com a mão ao correr da polícia, por mochilas de nylon de marcas esportivas imperialistas que escravizam trabalhadores orientais, danificam a lombar e transformam o andar de uma geração semelhante ao esforço de um garimpeiro de Serra Pelada com o suingue de um estivador?

A sobrinha estava exaltada no encontro familiar de ontem. Porque todos os protestos de que ela participa são tachados de badernas, seus colegas, de vândalos, porque os manifestantes são processados por formação de quadrilha e tratados como marginais, quando deveriam ter o status de preso político. A imprensa burguesa, disse ela, apontando para o tio jornalista esportivo, nem debate nossa reivindicação, apenas reclama que atrapalhamos o trânsito! O trânsito só acaba com transporte público! Agora que a polícia se excedeu, vocês nos levam a sério.

O que causou alvoroço na sobremesa, pois minha prima ficou terça-feira presa duas horas na Marginal, trazendo minha tia da hidroginástica, onde foi cuidar da atrite, enquanto 200 manifestantes queimaram cones e travaram a pista expressa, para reivindicar a redução de 20 centavos na tarifa de ônibus: "Se a tarifa não baixar, a cidade vai parar!". Querem transporte público, mas depredam estações de metrô?, reclamou a prima.

"Ela se casou com um índio?", perguntou a tia com problemas de vista e audição.

"Não. É um protesto", respondeu outra.

"Contra o aumento da passagem?"

"Outro."

O debate se estendeu. Meu movimento é Por Uma Vida Sem Catracas, quero a tarifa zero. Ônibus grátis para toda a população? Mas isso não existe! Em Tallinn existe. Mas Tallinn é menor do que a Mooca, disse o jornalista esportivo da imprensa burguesa. Em Sydney existe. Em Agudos, Porto Real, Ivaiporã. Até Paulínia já teve tarifa zero. Isso custaria seis bilhões aos cofres públicos, calculou o tio ligado em finanças públicas.

"Transporte é um direito fundamental, como educação e saúde. Tarifa zero é a maneira de assegurar o direito de ir e vir da população e pode ser feita por um Fundo de Transportes. Quem pode mais, paga mais, quem pode menos, paga menos, e quem não pode, não paga. Aumentem o IPTU de bancos, mansões, hotéis, shoppings. Que setores mais ricos das cidades contribuam para existência de um sistema de transportes verdadeiramente público, gratuito e de qualidade, acessível a toda população, sem exclusão social", disse, como se estivesse no vão livre do Masp.

"Então avise quando tiver outro protesto, que não quero ficar presa num congestionamento monstro!", gritou a prima.

A sobrinha Guarany Kayowá, que é contra a construção da Usina Belo Monte, anda tensa. Ninguém a entende. Nem esperou o café. Pegou a bolsa peruana comprada de um ambulante boliviano do Brás, onde nasceram as tias e avó, ao lado da Mooca, e foi pro quarto, para encontrar aliados nas redes sociais.

Não ouviu a avó sugerir, com um picolé na mão: "Deviam proibir os carros!".

Método confuso - ZUENIR VENTURA

O GLOBO - 15/06
Quando minha neta Alice desiste de explicar alguma coisa ao interlocutor, ela não perde tempo e diz, resignada: "(não adianta) Você não entende." Esta semana me senti assim, quando minha empregada pediu ajuda para um dever de casa. Ela tem 48 anos, trabalha conosco há 20, mora na Baixada Fluminense e estuda à noite, mesmo acordando de madrugada para viajar quase três horas em ônibus e trem. Cursa o primeiro ano do Segundo Grau num colégio particular de Belford Roxo e a tarefa que tinha de realizar na disciplina de Filosofia era "Nietzsche: vontade de poder". Como único subsídio, o professor escreveu no quadro:

"O racionalismo ético não é a única concepção filosófica da moral. A moral racionalista foi erguida com finalidade repressora e não para garantir o exercício da liberdade. Não existem fenômenos morais, mas apenas uma interpretação moral dos fenômenos." Paro por aqui porque o texto continuava igualmente hermético. E também porque ouvi os ecos de Alice martelando na minha cabeça: "Você não entende." Realmente tira-ria zero com o que entendi.

Lembrei-me então do Veríssimo agradecendo ao Google por ter-lhe ensinado a escrever Nietzsche. Corri para o novo "pai dos burros" na esperança de que, além da ortografia certa, eu aprenderia tudo o que o professor queria. O primeiro choque foi esbarrar com a definição: "A vontade de poder não é um ser, nem um devir, é um pathos." Entendeu? Havia, porém, um consolo: "O legado da obra de Nietzsche foi e continua sendo ainda hoje de difícil e contraditória compreensão. Ele se apresenta como alvo de muitas críticas na história da filosofia moderna, pelas dificuldades de entendimento na forma de apresentação das figuras e/ou categorias ao leitor ou estudioso, causando confusões devido principalmente aos paradoxos dos conceitos de realidade ou verdade."

Se até onde há resposta para tudo é difícil explicar o pensamento do filósofo alemão, quem sou eu para ajudar no trabalho de minha amiga? Ali-ce tinha razão: "Você não entende." E entendo menos ainda esse método confuso de ensino. Seria uma orientação oficial ou uma opção do professor? De qualquer maneira, uma forma sofisticada de castigo intelectual capaz de afastar qualquer um de Nietzsche e da filosofia.

Entrega de prêmios costuma não ter graça, a não ser para os premiados. Mas o 24º Prêmio da Música Brasileira foi um espetáculo à altura do homenageado, Tom Jobim, esse gênio que o Brasil exportou para o mundo. Ouvir suas obras-primas na voz (e instrumentos) de vários de nossos melhores intérpretes foi uma bênção. Entendi tudo, Alice.

Big Brother está de ouvido em você - SÉRGIO AUGUSTO

O Estado de S.Paulo - 15/06

Reconforta saber que em momentos de crise as pessoas também se consolam e ilustram com literatura. Assim como o furacão financeiro de cinco anos atrás reaninhou entre os best sellers o clássico da distopia conservadora de Ayn Rand A Revolta de Atlas, os recentes acontecimentos envolvendo o aparato de segurança dos Estados Unidos e o administrador de sistemas Edward Snowden trouxeram outra distopia de volta ao noticiário e às livrarias. No início da semana, em apenas 24 horas, as vendas de 1984, de George Orwell, aumentaram 6.021% na Amazon.

Usurpada e degenerada pela cretinice televisiva, a expressão Big Brother recuperou finalmente seu sentido original.

Fazia tempo que, na mídia, não se falava tanto no pesadelo orwelliano, na ditadura panóptica do Grande Irmão. O próprio Obama, enfiando mas esconjurando a carapuça, referiu-se ao invisível e onipresente soba de Oceânia quando há dias veio a público tentar justificar os abusos cometidos pelos arapongas digitais da Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês). Nem ao ganhar uma reedição comemorativa, em 1984, o romance gerou tão pervasiva discussão sobre os perigos de uma sociedade estritamente vigiada como agora.

Embora a NSA já existisse em 1984 (foi criada em 1952), suas atividades sub-reptícias eram infinitamente menos intensas, tentaculares e sofisticadas do ponto de vista tecnológico. Mas a preocupação com a tendência ao totalitarismo de todos os sistemas políticos e com a invasão da privacidade pelos órgãos de segurança do Estado já era grande.

No rastro das comemorações, Irving Howe convidou uma dúzia de ensaístas a revisitar o romance e refletir sobre o totalitarismo no século 20 (1984 Revisited, Harpercollins, 1983) e a revista Harper's dedicou-lhe uma capa, chamando para um artigo do arquiconservador Norman Podhoretz sobre o que Orwell estaria pensando da situação mundial naquele momento. Em seu delírio especulativo, Podhoretz imaginou Orwell de braço dado com a direita americana e apoiando Reagan, congraçamento que nem o marxista britânico Raymond Williams, a despeito de suas restrições ideológicas ao livro, ousaria maldosamente conceber.

O conservadorismo sempre interpretou 1984 pro domo sua. Oceânia foi, sem dúvida, inspirada na União Soviética, Big Brother em Stalin e Emmanuel Goldstein em Trotski, mas outros elementos, frutos da convivência de Orwell com o colonialismo britânico na Ásia e o modus operandi do serviço secreto inglês, entraram na composição do romance. A revista Life pôs o livro nos cornos da lua, quando do seu lançamento, em 1950, e nele viu algo que nem Podhoretz ousaria entrever: uma denúncia do "totalitarismo intrínseco" do New Deal de Roosevelt. Putzgrila! Com mais duas doses de uísque, Henry Luce, dono da Life, teria mandado desenhar Eleanor Roosevelt (FDR vivia numa cadeira de rodas) pisoteando um rosto humano, numa referência sem a menor sutileza à tenebrosa profecia que O'Brien, o braço torturador de Big Brother, joga na cara do torturado Winston Smith: "Se você quer formar uma imagem do futuro, imagine uma bota pisoteando um rosto humano - para sempre".

As esquerdas agiram com mais compostura. Os comunistas linha justa, menos. Chegaram a acusá-lo de guerreiro frio prematuro, de concentrar sua crítica no regime soviético, bête noire de outra obra do autor, A Revolução dos Bichos, apesar dos também evidentes traços em comum entre a ditadura do Grande Irmão e a recém-derrotada Alemanha nazista. Orwell imaginou o inferno totalitário de Oceânia em 1947, mal refeito da guerra, da morte da mulher (em 1945) e da irmã mais velha (em 1946) e às voltas com uma tuberculose que o mataria três anos mais tarde. Não surpreende que suspirasse pela democracia capitalista do início do século, ainda que se declarasse um socialista democrático.

Raymond Williams implicou com o desencanto político e social e o desespero do escritor, e em particular com o tratamento dispensado aos proles (proletas), a massa panúrgica de Oceânia que um autor comunista presumivelmente transformaria na vanguarda de uma revolução contra a ditadura do Grande Irmão. Seu maior equívoco, porém, foi atribuir as ideias de Winston Smith, o anti-herói do romance, ao próprio Orwell. Devo essa sagaz observação a Christopher Hitchens (A Vitória de Orwell, Cia. das Letras, 2010).

Orwell de fato venceu, no sentido de que estava certo. Chamaram-no de paranoico, mas quase 60 anos depois de sua morte descobriu-se que a agência de espionagem britânica M15 lhe seguira os passos de 1929 até o último suspiro. 1984 não é uma obra profética, mas uma fantasia hiper-realista, uma advertência, um protesto contra o autoritarismo em seu mais alto grau de crueldade e eficácia, um embate polêmico contra toda ortodoxia, um retrato da impotência do indivíduo em face dos gigantescos sistemas de organização que regem o mundo moderno. Poderia nos oferecer uma visão menos psicológica e mais materialista, por assim dizer, do totalitarismo-tese, de resto, compartilhada por Paulo Francis -, mas o que logrou foi o bastante para consagrá-la como um marco da ficção futurista, pelo visto, sem prazo de validade.

Há 34 anos, a New Left Review vaticinou que em 1984 o livro de Orwell seria uma curiosidade literária e nada mais. Não foi um caso isolado de prognose furada, diga-se a favor da NLR. Passados exatos 64 anos e sete dias de sua publicação, 1984 continua sendo uma referência sem par sempre que Leviatã mostra suas garras afiadas e nos descobrimos espionados de forma implacável por um avatar do Grande Irmão.

É hoje! Neymar x National Kid! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 15/06

E o orelhão do Obama? O Obama está escutando tudo! "Yes, eu escuto! Yes, eu sou abelhudo!"


Buemba! Buemba! Macaco Simão urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do país da piada pronta: "Polícia fecha a Paulista para manifestantes não fecharem a Paulista".

E o Movimento Passe Livre tem que mudar de nome pra Luta Livre. Vão ter que aprender!

E PM é Pau nos Manifestantes!

E como disse um amigo meu: "Eu não entendo esse fetiche pela Paulista". A Paulista virou fetiche! Rarará!

E quem toma conta do Twitter do Alckmin, hein? Quinta, às 23h, o pau comendo e o @geraldoalckmin: "boa noite para todos".

E a Copa das Confederações? É hoje! Brasil X Zapão! Neymar X National Kid!

E a seleção do Japão parece um catálogo da L'Oréal. Tem japonês, loiro, ruivo, acaju!

E em São Paulo tem japonesa loira bunduda. E time japonês é bom porque pode trocar de time no intervalo que ninguém percebe!

E o Neymar continua com seu novo estilo: "Não me empurra que agora eu sou do Barcelona".

E a Espanha começou bombando: Espanha 2 X Irlanda 0! Gols de Soldado e Mata. Pedro Soldado e Juan Mata. Eles jogam na PM de São Paulo? Rarará!

E eu descobri a cor do cabelo do Marin: uma mistura de Silvio Santos com Nelson Rubens!

E a seleção da Itália parece que tá num Congresso, só passeia!

E o orelhão do Obama? O Obama tá escutando tudo! "Yes, eu escuto! Yes, eu sou abelhudo!"

Adorei a charge do Nani com um cidadão ligando pra CIA: "Alô, é da CIA? Vocês poderiam me dizer onde eu botei a chave do meu carro?". Rarará!

Obama invade até conversas íntimas. "Meu, o que você tá usando?" "Tenta adivinhar, amor." "Ah, fala, gostosa." E o Obama entra na linha: "Ah, fala logo, danada!". Rarará!

É mole? É mole, mas sobe!

Peladeiros! Eu insisto pro Felipão escalar os peladeiros do Brasil. Olha essa seleção: Cara de Kombi, Cidinha Cu de Apito, Bebê Monstro e Short na Testa! Filé de Borboleta, Chico Dentadura de Cinzeiro e Revés do Sertão!

E no banco, os de sempre e eternos: Paçoca e Comi o Paçoca. E o grande atacante do time de Jericoacara: Francês que Trocou de Menina. Rarará.

Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Energia - debate necessário - SHIGEAKI UEKI

O Estado de S.Paulo - 15/06

O setor de energia, além de representar cerca de 10% básicos da economia, é o item mais importante da geopolítica mundial, apresentando constantes mutações.

A produção crescente de petróleo e gás não convencional do xisto e da areia betuminosa, as recentes descobertas de grandes campos de gás e petróleo no continente africano, a crescente produção de biocombustíveis, além da decisão da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) de limitar a produção em 30 milhões de barris diários para sustentar o preço atual, são indicações de que o preço tem mais tendência de baixa do que de alta. Diante desse cenário, é fundamental manter o equilíbrio financeiro da Petrobrás/Eletrobrás, para o bem do Brasil.

Considero preocupantes três aspectos da atual política nacional do setor, que merecem intenso e desapaixonado debate.

Primeiro, a atual política de modicidade de preços e tarifas de energia deve merecer todo o nosso apoio, desde que não sacrifique as empresas do setor. A Petrobrás, a Eletrobrás e outras captam recursos no mercado financeiro nacional e internacional e precisam gerar recursos para pagar os compromissos financeiros já assumidos, além de remunerar os seus acionistas. Lamentavelmente, estamos seguindo claramente a equivocada política adotada pela Venezuela e pela Argentina. O modelo que devemos seguir é o da Noruega e o de outros países bem-sucedidos no campo social, político e econômico.

Se as autoridades do setor julgam que as duas empresas devem aumentar a produtividade, diminuir o empreguismo e reduzir os desperdícios e gastos supérfluos, há muitos outros instrumentos que poderiam ser implementados, em vez da política atual de criar altos encargos financeiros e, ao mesmo tempo, reduzir drasticamente a rentabilidade, obrigando-as até a registrar prejuízos.

Segundo: é quase impossível que a Petrobrás possa fazer face aos seus investimentos programados. Em 2012, com a geração de caixa da ordem de US$ 20 bilhões, ela investiu quase US$ 40 bilhões. A dívida líquida passou de 1,7 para 2,7 vezes o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) em apenas um ano e a projeção de investimentos de US$ 45 bilhões para este ano vai piorar ainda mais esse índice. Em 2012, todas as empresas petrolíferas do mundo investiram cerca de US$ 500 bilhões e a Petrobrás, sozinha, que tem um peso da ordem de 3%, investiu 8% desse total.

É claro que um dia vamos produzir plenamente nos campos do pré-sal, mas investir agora com tanto ímpeto é uma decisão temerária. O preço futuro do petróleo irá remunerar o investimento? A italiana ENI, no Cazaquistão, viu seu projeto saltar de US$ 16 bilhões para quase US$ 40 bilhões por causa de dificuldades não previstas. As últimas notícias de que a Petrobrás vai vender campos de petróleo produtivos e lucrativos para gerar caixa e investir no pré-sal e implementar alguns outros projetos bilionários são altamente discutíveis.

Terceiro: entre os países produtores, inequivocamente a pior política adotada é a da Venezuela, seguida pela da Argentina. O subsídio aos derivados de petróleo e da tarifa de energia elétrica estão causando o caos naqueles dois países. A demagogia e o populismo, que andam juntos, fazem com que a Venezuela tenha o preço da gasolina mais baixo do mundo e ainda subsidie os "pobres" de Nova York. Vende 130 mil barris por dia para Cuba a um preço reduzido e, em pagamento, contrata médicos e policiais daquele país.

Algumas decisões puramente políticas - como foram a aceitação da elevação do preço do gás natural da Bolívia e a elevação da tarifa de energia elétrica excedente do Paraguai, não prevista nos contratos vigentes e antes da amortização dos investimentos feitos pelo Brasil para construir o gasoduto e a Usina de Itaipu - vão custar muito caro para todos nós, brasileiros, e particularmente para os acionistas privados da Petrobrás e da Eletrobrás.

O ímpeto dos nossos políticos para discutir os "royalties" e onde os vamos "gastar" é frustrante. Será que ignoram que temos de pagar as dívidas em primeiro lugar e, depois, poupar para as gerações futuras, como fez a Noruega? Bem diferente da Venezuela e da Argentina, a Noruega resolveu criar com os recursos do petróleo um fundo de investimento. A reserva de petróleo da Noruega é bem mais modesta do que a da Venezuela, mas o lucro do fundo norueguês em 2012 foi de quase US$ 80 bilhões, superior a toda a receita da Venezuela com a sua exportação de petróleo. Esse fundo, de janeiro a março de 2013, apresentou resultado de US$ 38 bilhões, que corresponde aproximadamente ao valor de 4 milhões de barris de petróleo por dia.

Gostaria de sugerir aos nossos políticos que aprofundem os seus conhecimentos, visitando estes três países: a Venezuela, a Argentina e a Noruega.

Concluindo, devemos, primeiro, recuperar urgentemente a credibilidade da Petrobrás e da Eletrobrás perante investidores; segundo, rever o orçamento plurianual da Petrobrás / Eletrobrás; e, finalmente, terceiro, deixar de ser mais Venezuela e Argentina para ser mais Noruega.

Das ações da Petrobrás e da Eletrobrás que estão fora do governo/BNDES hoje, 2/3 pertencem a estrangeiros e 1/3 a brasileiros. Essa situação faz com que tenhamos mais estrangeiros procurando explicar que são necessários mais equilíbrio, bom senso e visão estratégica para o setor do que nós, brasileiros.

Os atuais gestores da Petrobrás/Eletrobrás são profissionais competentes e reconhecidos internacionalmente. São formados no setor e estão realizando excelente trabalho, mas, se faltar apoio e compreensão de Brasília, eles não terão condições de apresentar resultados positivos.

Estreia no Elefantão - TOSTÃO

FOLHA DE SP - 15/06

Por atuar em casa, querer recuperar o prestígio do futebol brasileiro e promover a Copa do Mundo de 2014, o Brasil vai jogar a Copa das Confederações com muito mais gana, como se fosse um Mundial. Por tudo isso, e porque pode evoluir, é um forte candidato ao título.

Na Europa, os grandes times são melhores que as seleções. No Brasil e na América do Sul, é o contrário. Com isso, a diferença técnica entre as principais seleções da Europa e as da América do Sul é menor do que a entre os mais fortes times europeus e sul-americanos.

Hoje, o Brasil estreia no Elefantão, futuro elefante branco de Brasília. Na goleada por 4 a 0, quando o técnico era Mano Menezes, os japoneses foram ofensivos e deixaram muitos espaços na defesa. O time brasileiro, sem um centroavante fixo, com Kaká, Oscar e Neymar, criou inúmeras chances de gols. Hoje, o técnico italiano Zaccheroni, o mesmo da goleada, deve mudar a atitude.

O Japão tem um ótimo conjunto e troca muitos passes com velocidade. Parece que vai ganhar de uma forte seleção, mas, geralmente, perde, apesar de ter vencido, recentemente, a França, completa, por 1 a 0, em Paris. A equipe, por deficiências nos fundamentos técnicos, costuma errar onde não pode, na finalização e no desarme do zagueiro mais recuado.

Felipão deve manter a escalação. Dependendo do jogo, Hernanes pode entrar no lugar de Paulinho ou ser um terceiro no meio-campo, o que é mais provável. Nesta formação, protegidos por um volante mais recuado, Hernanes e Paulinho podem chegar mais à frente, o que fazem melhor.

Existe uma preocupação do governo, da CBF e da comissão técnica, de criar fortes laços afetivos com o torcedor. Querem fazer, na Copa das Confederações, um ambiente de Mundial. Milhares de propagandas patrióticas estão em todos os lugares.

Porém existe uma resistência ao poder da Fifa, a Marin e à CBF. Escuto também, todos os dias, que há dinheiro para a Copa, mas não há para resolver os problemas sociais. O atual torcedor da seleção é parecido com o que vai frequentar os novos estádios, após a Copa. Pagou caro pelos ingressos. Ele vai ao jogo para se distrair e ver um espetáculo, como no teatro. Se for bom, aplaude. Se for ruim, protesta.

Existe até um manual de conduta, feito pela Fifa. Resumindo, querem um torcedor tranquilo, respeitador, racional, altruísta, patriota, politicamente correto, ou seja, um santo. Será que pedem também aplausos para Marin e para a CBF?

FLÁVIA OLIVEIRA - NEGÓCIOS & CIA

O GLOBO - 15/06

MP-RIO NAO ABRIRA AÇAO CONTRA REAJUSTE DE ONIBUS

Promotor de Defesa do Consumidor espera resultados de processos anteriores, para entrar em planilhas de empresas
Um par de motivos fez Rodrigo Terra, da Promotoria de Defesa do Consumidor do Ministério Público do Rio, não recorrer à Justiça, até agora, para tentar revogar o reajuste das passagens de 6nibus, de R$ 2,75 para R$ 2,95, desde 1º de junho. “Ao contrário de anos anteriores, em 2013, o aumento da tarifa não feriu o princípio da anualidade”, diz. Foram 17 meses sem correção. Além disso, o percentual de 7,27% deste ano, próximo da inflação acumulada, não seria considerado abusivo. “O MP-Rio tem uma dezena de ações em tramitação contra empresas de 6nibus, desde 2003. Até agora, não conseguimos entrar nas planilhas de custos das empresas. É esse o problema do modelo de reajuste”, completa o promotor. Segundo ele, as tarifas de 6nibus são reajustadas pela variação dos custos declarados. Em outros contratos de concessão, segundo Terra, vale um índice de inflação (IGP-M, por exemplo) combinado a cláusulas de produtividade. Desde 2011, as passagens de 6nibus no Rio subiram 22,9%. De janeiro de 2011 a maio deste ano, o IPCA subiu 15,97% no país e 17,24% no Rio. O grupo transportes é o 2º que mais pesa na inflação (19,29%). Perde para alimentos e bebidas (24,71%).

‘Parking’

Uma centena de automóveis a serviço da Fifa ocupa a área que abrigou a academia Estação do Corpo, na Lagoa. A Prefeitura do Rio cedeu temporariamente o espaço à entidade. Os veículos, da Hyundai, servem a seleções, árbitros e ao staff da Copa das Confederações, informa nota do Comitê Organizador da Copa 2014 à coluna.

Em tempo
Na origem, a área da Estação do Corpo pertencia ao governo do estado. Após o fechamento da academia, foi repassada ao município, para abrigar um parque.

Saúde

A Rede D’Or São Luiz criou braço para entrar no ramo da medicina do trabalho. A D’Or Soluções recebeu aporte de R$ 3,8 milhões. Começa a operar mês que vem. Prevê receita de R$ 10 milhões no primeiro ano.

Sem fio

A Oi WiFi, rede de conexão sem fio da operadora, chegou a cem mil pontos de acesso no país. A meta é fechar 2013 com 500 mil. Chega este mês a BH; em julho, a São Paulo.

Quem vem

A francesa Altilum abrirá filial no Rio em 2014. Será a 1ª no exterior. Vai investir
€ 500 mil para instalar uma antena na cidade. Parceira da EDF, a empresa criou tecnologia de análise de iluminação pública que rende economia de 35%.

Liderança

Apenas um em cada dez executivos considera o chefe direto melhor líder que ele próprio. O dado está em pesquisa da LHH|DBM, de desenvolvimento de talentos. Quase 40% se declararam melhores que os superiores hierárquicos. A consultoria entrevistou 373 profissionais.

Mulherada

Pesquisa da Aberje mostra que mulheres são maioria na área de comunicação empresarial. Representam, aproximadamente, 72% dos profissionais. De 1.085 profissionais ouvidos,
76% trabalham no setor de serviços; 48% atuam em agências de comunicação.

Perto ou longe do brejo - WALTER CENEVIVA

FOLHA DE SP - 15/06

Só cegos e irresponsáveis não verão o absurdo aumento dos encargos que recaem sobre de toda população


O centro do noticiário para o cidadão brasileiro se desdobra, hoje, em dois dados principais: aqui, a ameaçadora criminalidade violenta; no exterior, instabilidade universal das condições econômicas. Chegam a nós em uma espécie de gangorra intermitente, dos Estados Unidos à China, espraiando resultados pela velha Europa.

A situação é séria. Gera o aparente absurdo de, em nosso país --onde se exibirão os deuses do futebol--, as manchetes sobre economia, câmbio e crise monetária predominam. Deixam perplexos os contribuintes.

A palavra contribuinte não aparece aqui como exemplo da necessidade do Estado organizado, no arrecadar fundos para operar sua máquina administrativa. Para impor o dever de pessoas físicas ou jurídicas pagarem, a tempo e hora, os valores da arrecadação necessária, definidos em normas redigidas pelo mesmo Estado.

O paradoxo força a distinção de dois substantivos: contribuinte e imposto. Mostram a contradição entre os verbos dos quais decorrem.

Em visão ampla, contribuir é prestar ajuda ou praticar ato voluntário a benefício de outrem. Impor, ao contrário, é exigir encargo ou comportamento não recusável pelo destinatário da ação assim definida.

Na história, imposto é um dos mecanismos pelos quais o Estado impõe a pessoas físicas e jurídicas o dever de alimentar as finanças garantidoras da operação da máquina estatal.

Entre o momento inicial da quantificação do encargo, do valor, do dever de pagar até encher os cofres públicos, se compõe uma peça teatral, cujos atores representam papéis contraditórios por natureza.

Os pagadores obrigatórios tendem a achar excessivo o encargo. Mais ainda: incompatível com sua adequada aplicação para o bem de todos e não de uns poucos. Já os aplicadores públicos tendem a insistir na necessidade de aumentos perpetuamente agravados.

Há desculpas --verdadeiras ou não-- das quais o povo tem a séria desconfiança de estar sendo enganado desde tempos imemoriais. É uma espécie de ópera bufa em que se generaliza a hipocrisia de heróis e bandidos, quase não distinguíveis.

O aumento das violências ou das agressões leva, às vezes, a situações escandalosamente injustas.

Imaginemos uma grande cidade cujo transporte urbano (que atende elevado percentual da população), como dever essencial do município, esteja a enfrentar sérios prejuízos resultantes da ação de pessoas que, sob escusa de reclamarem de aumentos no preço (justa ou injustamente não importa), desatem a destruir veículos e equipamentos, materiais, vidraças, instalações, mercadorias, bens de toda ordem, onerarão gravemente o bolso de todos.

Há um lado pessimista da avaliação, mas é impossível esquecer que ela é confirmada pela estatística, mesmo quando não se dê toda atenção que esse quadro merece.

No quadro da destruição de meios e sistemas de operação da máquina da cidade, em seus múltiplos aspectos, só cegos e irresponsáveis não verão o absurdo aumento dos encargos que recaem sobre toda a população, sob o disfarce de lutar por ela, destruindo bens, obstruindo serviços imprescindíveis, mesmo os da saúde pública.

Até boas iniciativas podem afundar no brejo, quando não se perceba a proximidade deste. Ou faltem mecanismos de seu controle.

A mãe das distorções - CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 15/06

Cada um do seu modo, um grande número de economistas brasileiros entende que a mãe de todas as distorções da economia é o câmbio excessivamente valorizado.

É um preço muito alto em dólares para a moeda brasileira, que encarece demais em moeda estrangeira o produto exportável e barateia demais em reais os importados.

Entre aqueles que mais vêm advertindo para o problema estão os economistas Luiz Gonzaga Belluzzo, Yoshiaki Nakano e Luiz Carlos Bresser-Pereira.

Argumentam tratar-se de um fator central, que distorce os preços relativos na economia. Essa distorção produz outras: enfraquece a indústria, obriga o governo a compensar a falta de competitividade com favores tributários (desonerações) e subsídios com juros. É também o que vem combalindo gradativamente o balanço de pagamentos, porque reduz as exportações e aumenta as importações. É, ainda, o que destrói o equilíbrio fiscal, puxa a inflação e obriga o Banco Central a empurrar os juros para cima e a evitar novas desvalorizações da moeda (alta do dólar) porque a prioridade passa a ser combater a inflação.

Que o câmbio é preço central e estratégico da economia não há dúvida. E se nele há um desvirtuamento, isso extravasa para toda a economia.

No entanto, é preciso observar que, anterior ao câmbio fora de lugar, há o fato de que a indústria brasileira sempre teve baixa competitividade, porque está obrigada a enfrentar custos desproporcionalmente mais altos do que a indústria dos países riscos e, até mesmo, de muitos emergentes. Até recentemente, em vez de corrigir essas distorções originais (impostos altos demais, infraestrutura cara e ruim, altos custos trabalhistas, etc.), o governo preferiu compensar com "mais câmbio". O problema é que, de uns tempos para cá, essa manobra ficou bem mais difícil, não propriamente por perversão dos administradores da economia, mas por outros motivos: porque o governo gasta demais, não poupa e não investe; porque a economia cresce pouco e arrecada pouco para o tamanho das contas públicas; porque a indústria está atrasada e descuidou de sua inserção na rede global de produção e suprimentos; porque os juros, por um punhado de razões, são altos demais e atraem capital externo que, por sua vez, valoriza o real; porque... Enfim, a lista é enorme.

Também é preciso entender que a desvalorização cambial pretendida não pode ser produto de um ato de vontade política. Mesmo que o governo queira, e isso está sendo visto no atual arranjo da economia, há limites estreitos para um movimento que procurasse desvalorizar a moeda e recolocar o câmbio "no lugar". Novas distorções aconteceriam: como dependem de suprimento de peças, conjuntos, componentes e capital de giro do exterior, uma desvalorização mais forte do câmbio produziria uma devastação nas finanças das empresas, como os balanços passados da Petrobrás bem demonstraram. Além disso, puxaria para cima a inflação, aumentaria a dívida externa em moeda nacional e desestimularia o investimento externo.

Correndo atrás do passado - KÁTIA ABREU

FOLHA DE SP - 15/06

Fazer política industrial com barreira comercial e subsídio é tentar reviver algo que cumpriu seu ciclo


A industrialização é um velho e eterno sonho da sociedade brasileira. Durante certo tempo, isso fez todo o sentido, pois sociedades industriais e sociedades desenvolvidas eram sinônimos perfeitos. Fomos capazes de realizar esse sonho, construindo aqui uma importante e diversificada economia industrial.

De repente, começaram a soar alguns alarmes: a indústria está perdendo peso na economia, as importações de bens industriais estão aumentando e a maior parte de nossas exportações é constituída de comodities.

Será que economia brasileira está em processo de involução, que precisa ser revertido com fortes medidas do governo? Ou então trata-se de fenômeno mais geral e mundial, cujas causas são variadas e complexas?

Se dermos a resposta errada a essa pergunta, podemos causar graves danos à economia, sem resolver o problema.

A realidade é que a globalização alterou o panorama internacional de vantagens comparativas. Países com grandes populações e baixos salários passaram a dominar a produção de bens intensivos em mão de obra.

As grandes empresas internacionalizaram suas cadeias produtivas, buscando menores custos em todos os recantos do mundo. A ideia de uma indústria nacional pouco a pouco vai perdendo o sentido, porque as etapas do processo industrial se distribuem em escala planetária.

Aos países integrantes dessas cadeias interessa saber que parte do valor final dos produtos se forma nos limites de seu território. Agora, a política correta não é fechar as fronteiras para defender a produção local, mas integrar-se às cadeias internacionais de valor.

Isso requer mercados mais abertos e um ambiente regulatório compatível com as exigências desse processo de integração. E recomenda, sobretudo, que participemos das etapas que agregam mais valor.

Hoje, a indústria se parece cada vez menos com a imagem da velha indústria que guardamos em nossa mente. Tomemos por exemplo produtos de consumo universal, como o iPad ou o iPhone. Eles não são bens industriais clássicos, resultantes apenas da transformação de materiais.

Na verdade, a maior parte de seu valor é imaterial e não se produz em fábricas, mas em escritórios urbanos. Seu valor final de mercado gira em torno de US$ 500, mas apenas US$ 33 deste total representam trabalho de manufatura. E na China, onde são montados, este valor não passa de US$ 8.

Processo semelhante repete-se, em graus variados, numa infinidade de bens industriais. Hoje, ao se falar de indústria e principalmente de indústria nacional, é preciso levar em conta a real arquitetura dos produtos e como a formação do valor agregado se distribui geograficamente. Coisas que mudaram radicalmente.

O grau de industrialização, ou seja, o peso da indústria na sua caracterização tradicional, vem caindo em todo o mundo, à exceção da China. A participação da indústria brasileira na formação do PIB mantém-se alinhada com o resto do mundo. Se ela declinou aqui, declinou do mesmo modo no mundo desenvolvido. A exceção são mesmo os chineses. Se desindustrialização há, ela é, portanto, fenômeno global.

Estamos vivendo uma terceira revolução industrial. Os padrões de consumo estão se modificando. Também estão mudando as maneiras como as coisas são feitas. As fábricas ainda existem, mas elas produzem cada vez mais em menos espaço e com menos gente.

Os insumos imateriais são tão ou mais importantes que os materiais. Os escritórios e os laboratórios são mais relevantes que o chão das fábricas. As linhas que dividem a indústria dos serviços são cada vez mais indistintas.

Industrializar ou reindustrializar não significa mais tentar revitalizar algo que cumpriu o seu ciclo e está desaparecendo. Política industrial, hoje, não pode ser uma corrida para dar sobrevida ao passado, mas para investir na nova indústria, baseada no conhecimento e na inovação.

E isso não se faz com barreiras ao comércio ou com subsídios. Faz-se com educação e em ambiente institucional que premie o espírito inventivo e a coragem de assumir riscos.

Pré-sal: há tempo de corrigir - EDUARDO SCIARRA

GAZETA DO POVO - PR - 15/06

Até 2009, o setor de petróleo viveu tempos de euforia. Recordes de produção, autossuficiência, grandes descobertas e investimentos privados. Instalou-se uma moderna cadeia de serviços e equipamentos petrolíferos com reflexos positivos sobre toda a economia. Sem investimentos públicos e riscos, o Estado recebia bilhões em impostos, royalties, participação especial e bônus de assinatura. O regime de concessões trouxe regras claras e segurança jurídica para os investimentos no setor, elevando a sua participação no PIB do país de 3% para 12% em uma década. Esse ambiente propiciou grandes transformações, inclusive a descoberta do pré-sal; fez do Brasil nova fronteira do petróleo e, da Petrobras, uma das maiores empresas do mundo.

Hoje, a realidade do setor é desoladora, contrastando com a ebulição de outrora. Sem regulação consolidada, sem licitações e sem segurança jurídica, os investidores desmobilizaram os seus projetos. A cadeia produtiva da indústria do petróleo entrou em espiral descendente. A produção cai, o consumo cresce, e a conta-petróleo onera a balança de pagamentos. A Petrobras, em crise, perdeu 30% do valor de mercado apenas de janeiro de 2010 a janeiro de 2013. Mas o que alterou de forma tão radical o que fora tão promissor?

Simples. Com o pré-sal e com a Petrobras forte, misturando ideologia e oportunismo político, o governo abandonou o regime de concessão e adotou o de partilha. Quis, para diferenciar-se, que o novo marco regulatório significasse tanto ruptura com o modelo anterior quanto “retomada do controle pelo povo brasileiro” sobre o pré-sal. Fixou em 30% a participação da Petrobras em cada empreendimento; criou a Petrosal, responsável pela gestão dos contratos, função já exercida pela ANP; fez exigências absurdas de conteúdo local para fornecedores. Ademais, o governo assumiu o monopólio do risco e abdicou da sua função de poder concedente. Na sequência, pelos encargos do novo regime, a Petrobras fez a capitalização e o Estado tornou-se sócio majoritário, desrespeitando o direito de milhares de minoritários. Esse fato e a ingerência política na empresa suscitaram desconfianças do mercado, que reduziu o seu valor e sua capacidade de investir.

O Brasil paga alto preço pela mu­dança do marco regulatório. Segundo especialistas, o ciclo de decisão e maturação de investimentos no setor demanda no mínimo quatro anos. Se tivéssemos tudo equacionado hoje, só em 2017 teríamos o ritmo de 2008. Uma década perdida! Pior: a partilha traz mais incertezas. Terá a Petrobras capacidade financeira e operacional para participar com 30% nos empreendimentos do pré-sal?

Certamente foi o regime de concessões que gerou os avanços do setor petrolífero, inclusive a descoberta do pré-sal. Os resultados favoráveis do recente leilão da ANP comprovam que o regime de concessões serve melhor aos interesses do Brasil, pois atrai investimentos, gera recursos imediatos e dinamiza a economia; igualmente, a experiência dos últimos anos confirma que o modelo de partilha parece inadequado. É necessário, pragmaticamente, corrigir a rota e restabelecer o sistema de concessões, mantendo seu arcabouço jurídico, atualizando-o para os dias de hoje. O tempo urge, pois ocorrem mudanças críticas mundo afora na área de energia: fontes alternativas, shale gas, carros elétricos e híbridos, etanol celulósico, com impactos sobre o mercado global de energia e sobre o pré-sal. É a melhor opção para transformar as riquezas do pré-sal em benefícios reais para o povo brasileiro, criando a oportunidade histórica de a Petrobras – presidida hoje por Graça Foster, dentro da boa governança corporativa – retomar sua história de competência e grandeza para o bem do povo brasileiro.

Vannuchi na mira - ILIMAR FRANCO


O GLOBO - 15/06

A presidente Dilma não gostou das críticas publicas de Paulo Vannuchi, recém eleito para a Comissão de Direitos Humanos da OEA, à chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, na questão indígena. Foi, por isso, que os ministros Gilberto Carvalho e Maria do Rosário o contestaram. No Planalto, sua atitude é considerada equivocada.

Índio quer apito ou o pau vai comer

O governo Dilma decidiu que não irá tratar “no padrão amazônico” as duas etnias indígenas do Mato Grosso do Sul. Os guaranis-caiovás e os terenas são considerados integrados à vida dita civilizada. O governo reconhece seu direito por terras, no limite de 2% do território estadual. Por isso, irá propor o pagamento de terra nua para os índios criarem cooperativas de trabalho e de produção, além de garantir assistência à saúde e escolas para seus filhos. Em outra frente, a União buscará democratizar a distribuição da ajuda federal entre os nativos, para evitar que se perpetue o “caciquismo” dos que são
responsáveis pelo controle do dinheiro.

“Não adianta esta quebra de sigilo. Sou homem de guerra, de batalha. Não vou desistir de minha candidatura”
Lindbergh Farias Senador (PT-RJ), sobre a decisão do ministro José Dias Tofolli (STF) de quebrar seu sigilo bancário

Sintonia
O vice-presidente Michel Temer e o ex-presidente Lula combinaram, em almoço ontem, em Sao Paulo, que irao se reunirão a cada 40 dias para discutir palanques estaduais. Avaliaram que ainda é cedo para bater o martelo nos estados.

Collor na largada
O senador Fernando Collor de Melo (PTB) sai na frente para o governo alagoano, com 24% das intenções de voto, em pesquisa Vox Populi. O prefeito de Maceió, Rui Palmeira (PSDB), tem 17%; o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB),14%; o senador Benedito Lira (PP), 11%. Destes, nem Renan nem Palmeira serão candidatos. 

Serra, a esfinge
Os tucanos não acreditam que o ex-prefeito José Serra saia do PSDB para se lançar a presidente por outra legenda. Avaliam que, com suas declarações, ele quer se manter em evidência quando o partido vive seu melhor momento.

O vinho da Copa
Em jantar hoje em Brasília com integrantes do governo, organizadores da Copa das Confederações e parlamentares, será degustado pela primeira vez o vinho oficial da Copa do Mundo de 2014, o brasileiro Faces, da vinícola Lidio Carraro. Ele desbancou o chileno Concha e Toro. O champanhe será Moët & Chandon. O Brasil não conseguiu convencer a Fifa.

Sem muito sucesso
O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, Marco Feliciano (PSC-SP), tem procurado deputados para apoiarem uma PEC de sua autoria que proíbe textualmente o casamento gay na Constituição.

Sonhar não custa nada
O presidente do PSD, Gilberto Kassab, alinhado à reeleição de Dilma, quer contrapartida: que o PT não tenha candidato e apoie sua candidatura ao governo paulista. Acredita que os baixos índices dos petistas podem fazer o sonho virar realidade.

OS SEGURANÇAS DA CÂMARA 
passaram a seguir fielmente a regra de só deixar entrar no plenário pessoas com crachá, a pedido da Mesa Diretora.

Sem meia-volta - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 15/06

O governo de São Paulo vai aumentar o número de policiais destacados para acompanhar os protestos contra aumento da tarifa de transportes na segunda-feira, em Pinheiros. A despeito das críticas de violência policial anteontem, o Palácio dos Bandeirantes fez internamente avaliação de que os confrontos se deveram ao fato de a PM estar em desvantagem numérica. A ordem continua a mesma: evitar "excessos", mas impedir paralisação do trânsito e depredação da cidade.

Pulso 1 
O governo acredita que o secretário de Segurança, Fernando Grella, falhou em evitar que a tropa fosse às ruas com sentimento de revanche em relação à tentativa de linchamento de um soldado na terça-feira.

Pulso 2 
Aliados de Geraldo Alckmin lembram que Grella é egresso do Ministério Público e desde que assumiu tem dificuldade de ser aceito pela corporação, que estava em meio a uma crise quando houve a troca na pasta.

Compras 
Na reunião de ontem, Alckmin reclamou do uso excessivo de balas de borracha pelos policiais. Grella respondeu que a PM não tem equipamentos de impacto intermediário, como armas não-letais e algemas de plástico, que serão adquiridos.

Bad trip 
Do deputado Domingos Dutra: "Autoridades brasileiras não têm sorte em Paris: após Sérgio Cabral e a dança dos guardanapos, Alckmin e Fernando Haddad se divertiam enquanto o povo tomava a avenida Paulista".

Homem... 
Haddad mudou o tom e passou a criticar a ação da PM, abrindo uma porta aos manifestantes, depois de ouvir cobranças de seu próprio partido. Petistas dizem que o prefeito se distanciou dos movimentos sociais.

... novo? 
Alguns auxiliares queriam que Haddad, que antes elogiara a PM, responsabilizasse publicamente o governador pela violência. Ele adotou um meio-termo.

Fim da festa 
O Ministério Público Federal no Distrito Federal encaminhou ontem ao governo do DF e à Terracap ofício comunicando que a compra de ingressos da Copa das Confederações é irregular e pedindo o ressarcimento ao erário do gasto, de cerca de R$ 2,8 milhões.

Na mira 
Coordenador do grupo do MPF para a Copa, Athayde Ribeiro Costa comunicou aos MPs do DF e de PE, MG, BA, CE e RJ sobre as compras de ingressos por órgãos públicos. Os procuradores devem pedir ressarcimento quando não houver interesse público nos gastos.

Tribo 
De Gleisi Hoffmann (Casa Civil) sobre Paulo Vanucchi ter dito que ela está alinhada com fazendeiros na questão indígena: "O ex-ministro está desinformado. Opinar sem conhecer os fatos não é responsável. Isso pode comprometer sua atuação na OEA e prejudicar o Brasil".

Verão passado 
No evento dos dez anos do PT, no Paraná, o partido distribuiu, na quinta-feira, cartilha com uma frase de Aécio Neves dizendo, em 2009, que seria um "privilégio" ter Dilma Rousseff como presidente.

Mídia 
O jornalista Melchiades Filho aceitou convite para dirigir o escritório da agência de comunicação FSB em São Paulo. Melchiades se desligou da Folha no início do mês, após 25 anos no jornal, onde exerceu, entre outras funções, as de diretor-executivo da Sucursal de Brasília e editor de Esporte.

Visita à Folha 
Antonio Carlos Magalhães Neto (DEM), prefeito de Salvador, visitou ontem a Folha, a convite do jornal, onde foi recebido em almoço. Estava com Guilherme Cotizo Bellintani, secretário de Desenvolvimento, Turismo e Cultura.

com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN

tiroteio
"Ideli, que nem sequer é avisada das reuniões da própria pasta, deveria se poupar do papel sofrível de tentar dar lições de segurança."
DO LÍDER DO PSDB NA CÂMARA, CARLOS SAMPAIO, sobre a ministra da articulação política ter criticado a ação da PM de SP no protesto de quinta-feira.

contraponto


Sem passar recibo


O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), repetiu ontem, em evento empresarial em Araxá (MG), seu discurso crítico ao governo federal, dizendo que é preciso fazer mais''. Em seguida foi a vez de o ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento) falar.

--Eu disse ao Eduardo Campos que não rebateria nada que ele falasse aqui --disse, logo de cara. E prosseguiu:

--Ele mesmo [Campos] me disse: não se arrisque tanto, melhor falar algo diferente do que eu falei.

E usou essa introdução para ignorar o presidenciável e passou a elencar sucessos do governo Dilma Rousseff.

Dona Dilma por mares nunca dantes navegados - ROLF KUNTZ

O Estado de S.Paulo - 15/06

A presidente Dilma Rousseff converteu o Velho do Restelo, uma das grandes figuras camonianas, um homem de "saber só de experiências feito", em um petista enrustido. Na descrição dilmiana, "esse velho ficava sentado na praia azarando" e repetindo, diante de toda experiência nova, uma frase agourenta: "Não vai dar certo". Era uma figura do contra, como os opositores da Constituição de 1988, do Proer (depois apontado ao mundo como exemplo pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva), do Plano Real, do pagamento da dívida pública e, naturalmente, da Lei de Responsabilidade Fiscal. Não se sabe se a presidente leu Os Lusíadas ou se apenas ouviu a história, resumida toscamente, quando passou pela praia do Restelo, em sua recente viagem a Portugal. Se leu, entendeu mal, reduzindo o enredo e uma grande figura às dimensões de uma visão chinfrim, injusta em relação ao poeta e àquela personagem.

Camões descreve o velho com respeito e atribui-lhe um discurso bem articulado e com argumentos ponderáveis. A multidão está na praia para assistir ao início de mais uma expedição a um mundo quase desconhecido. A cena ganha movimento e vida com o destaque de algumas personagens, a mãe chorosa, a esposa desconsolada ("nosso amor, nosso vão contentamento,/ quereis que com as velas leve o vento?") e, finalmente, a figura de aparência veneranda, "postos em nós os olhos, meneando/ três vezes a cabeça, descontente,/ a voz pausada um pouco alevantando". Não era um tolo nem um letrado, mas um homem "cum saber só de experiências feito".

A peroração do velho ocupa as dez estrofes finais - 80 versos, portanto - do quarto canto do poema. Em nenhum momento ele dá como certo um fim trágico para os navegantes, embora aponte os perigos e lamente "o desprezo da vida". É outro o assunto da maior parte, a mais importante, de sua fala. Ele pergunta, em resumo, se vale a pena o esforço para conquistar mares e terras distantes e cheios de perigos em vez de proteger Portugal dos inimigos vizinhos e de explorar, mesmo com a guerra, as oportunidades mais próximas. "Não tens junto comtigo o Ismaelita/ com quem sempre terás guerras sobejas?" Depois, referindo-se ao infiel: "Não tem cidades mil, terra infinita,/ se terras e riquezas mais desejas?" É um raciocínio estratégico. Não seria mais vantajoso proteger o reino da ameaça próxima e, se fosse o caso de ampliar os domínios portugueses, tentar a conquista das "cidades mil" e da "terra infinita" dos seguidores do Alcorão? Essa alternativa atenderia também a quem desejasse a glória da guerra e da vitória contra um adversário de respeito: "Não he elle por armas esforçado, se queres por victórias ser louvado?".

Em sua versão do episódio, a presidente Dilma Rousseff menciona a fala do velho sobre a motivação da vã glória. Mas passa longe, mais uma vez, do significado da peroração. As primeiras palavras têm um tom moralista. "Ó glória de mandar! Ó vã cobiça desta vaidade a que chamamos fama! (...) Que mortes, que perigos, que tormentas/ que crueldades neles exp'rimentas!" Mas o discurso logo incorpora outras preocupações: "Dura inquietação da alma e da vida,/ fonte de desemparos e adultérios,/ sagaz consumidora conhecida/ de fazendas, de reinos e de impérios! (...) Chamam-te fama e glória soberana,/ nomes com que se o povo néscio engana".

Em linguagem menos poética: fama e glória têm custos e esses custos podem ser - e são com frequência - muito elevados. Os versos mencionam "fazendas" (patrimônio), "reinos e impérios". Adiante, a argumentação é ampliada, com a referência ao perigo dos ismaelitas e às possibilidades de conquistas em áreas mais próximas. Ao discutir a aventura em mares e reinos longínquos, o velho confronta a iniciativa mais ambiciosa e arriscada com uma política alternativa, mais prudente em sua opinião. Não se trata de mero pessimismo ou de mania de ser do contra. Sem forçar a interpretação, pode-se descrever o discurso do velho como um exercício no campo das decisões estratégicas e da alocação de recursos. Com um saber derivado só da experiência, ele demonstra, no entanto, uma capacidade respeitável de refletir sobre os interesses do reino e sobre a necessidade de cálculo e de prudência. De nenhum modo Camões despreza esse tipo de sabedoria. No primeiro verso do canto quinto, a figura da praia ainda é lembrada como um "velho honrado".

Não há resposta direta ao discurso de advertência. A resposta indireta é o poema todo, como celebração da audácia e da glória dos navegadores, sintetizada na proeza de Vasco da Gama, e da grandeza de Portugal. Talvez os defensores da grande aventura marítima tivessem razão naquele momento. No longo prazo, no entanto, a história parece ter realçado a sabedoria do velho.

No mínimo, teria sido prudente conciliar a ousadia dos descobrimentos e da conquista dos mares com a modernização e o fortalecimento econômico do próprio reino. A Inglaterra, núcleo da revolução industrial no século 18, continuou sendo a grande potência europeia depois de perder as 13 colônias americanas.

Portugal perdeu o brilho muito antes da independência de suas últimas colônias na África. De certa forma, a história econômica portuguesa recomeçou com o ingresso na União Europeia e com o empuxo dos investimentos financiados pelo bloco.

No Brasil, a prudência do Velho do Restelo teria recomendado a combinação, há muito tempo, de rigor fiscal, metas de inflação mais baixas, modernização institucional e maior atenção à produtividade. Até a crise, o governo petista preferiu ver o País subir com a maré da prosperidade global. Depois, limitou-se a remendos e continuou dedicado a objetivos eleitorais. Mas política séria daria trabalho. Como escreveu outro poeta, o italiano Cesare Pavese, "lavorare stanca".

Campos contra a corrente - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 15/06

"Quem não quiser pressão, que saia disso", comenta, rindo, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, mantendo a intenção de se candidatar à Presidência da República em 2014. Na sua avaliação, "eles (o governo) deram uma pressão, fizeram um cerco, achando que era para resolver logo, e não estão conseguindo resolver. Estamos atravessando (as turbulências), convivendo com essa situação, articulando internamente, andando para ver como é que vai ser a composição nos estados".

Campos anuncia que está construindo um entendimento para decidir sobre a candidatura no início de 2014, até por causa dos companheiros que, "por circunstâncias locais", não poderiam se decidir agora, "apostando que o tempo vai me ajudar a acumular forças". Ele confia em que "as contradições regionais e a situação da economia" possam favorecê-lo e, por isso, adiou o anúncio da decisão, que seria em setembro deste ano.

"Uma decisão agora, com a rede rasgada dentro do partido, seria expor o partido a um racha. Por mais que a gente ganhe, não pode rasgar ao meio", argumenta. O prazo de setembro, um ano antes da eleição presidencial de 2014, serve, porém, para testar "quem está num projeto partidário e quem está num projeto pessoal. Quem está num projeto regional e pessoal pode esperar setembro para tomar seu destino. Aí, fazemos certa depuração".

Ele se refere ao prazo mínimo para filiação a outro partido a fim de se candidatar nas eleições do ano que vem. "Setembro é uma data que começa a complicar quem está fazendo o jogo do PT. O cara vai ver que, se o partido tomar um rumo, e ele, outro, a situação vai ficar difícil para ele. Quem ficar depois de setembro vai ter o compromisso com o projeto do partido."

O governador pernambucano acha que foi por essa questão de tempo que o governo deu "essa pressão toda", movido não só por interesse próprio, "como também por gente que está aqui dentro do PSB". O grande fato que Campos comemora é que está fazendo um ano que o PSB decidiu enfrentar o PT lançando um candidato à prefeitura de Recife (Geraldo Julio, que venceu no primeiro turno) e em outros estados do país.

"Nestes 12 meses, quem foi que ganhou?", pergunta, para responder: "Nós (PSB) aumentamos de tamanho, passamos a estar no tabuleiro nacional, nosso pessoal passou a ser prestigiado, e o que é que eles ganharam nestes 12 meses? Tirando São Paulo, não ganharam a eleição municipal, estão metidos em uma situação muito mais complicada do que 12 meses atrás, com muito mais evidência de que há contradições na aliança, sobretudo nos quadros regionais."

Campos diz que, "onde eles atentaram contra nós, a gente foi lá e montou um palanque melhor, que está na frente nas pesquisas". Ele se refere à estratégia traçada pelo vice-presidente Michel Temer, que levou para o PMDB o empresário José Batista Júnior, do Grupo JBS, que era o candidato do PSB ao governo. O PSB reorganizou seu palanque em Goiás com a filiação de outro empresário, Vanderlan Cardoso, e ainda conquistou o apoio do líder do Democratas na Câmara, Ronaldo Caiado.

Agora, analisa, "é ter paciência, e fôlego, para atravessar até a data fatal de filiação". Campos avalia que as pesquisas devem estar deixando mais nervoso para se decidir quem achava que a reeleição era fácil. "Conseguimos passar essa pressão toda, e agora eles estão na dúvida. Como é que devem nos tratar? Porque, se der mais tiro, vitima, se der menos tiro, eu fico vivo".

Ele admite que está lutando "contra forças muito grandes", mas avisa que, apesar das pressões sobre os governadores, "a maioria deles conversa bem comigo. Eu entendo a situação, não tem estresse deles comigo. Mas eles começam a ver também que, o que dizem que vão fazer, não fazem, quando o PT vê no âmbito local o sujeito em uma posição de submissão, começa a ficar arrogante, achando que manda no pedaço, é a prática deles".

Campos diz que, "quando você precisa dar um cerco por cima desse jeito para ganhar a eleição, não é um bom sinal, passa a sensação de fragilidade, e também de truculência". Ele garante que não tinha qualquer expectativa de que as pesquisas de opinião mudem de forma substancial tão cedo. "E não seria nem bom. Imagina se eu estivesse um pouco acima, o que não estariam fazendo? Com 6%, eles estão desse jeito, imagina se tivesse mais."

Os pobres felizes - FERNANDO RODRIGUES

FOLHA DE SP - 15/06

BRASÍLIA - Milhares de pobres felizes inundarão a TV em comerciais estatais nos próximos dias falando como é maravilhoso comprar um forno de micro-ondas ou um sofá financiado por Dilma Rousseff. A presidente despejará bilhões de reais nessa nova modalidade de felicidade instantânea --futura nem tanto.

Os comerciais de TV do governo (por meio da Caixa) são o único ambiente do mundo no qual os pobres estão sempre 100% felizes. Faz parte. Propaganda é para melhorar o astral de quem assiste. Afinal, quem olha pela janela em grandes centros urbanos não tem visto tanta alegria assim nos últimos dias.

As manifestações do Movimento Passe Livre em São Paulo e em outras capitais podem ser analisadas de várias formas. Muito já foi dito (e ainda será) sobre o despreparo da polícia. Ou a respeito do vandalismo incivilizado de parte dos ativistas.

Só que o mais relevante talvez seja a mensagem difusa vinda das ruas. Apesar do alto grau de aprovação das administrações federal e estadual (de São Paulo), há uma insatisfação latente em grandes metrópoles. Está claro que o tal Movimento Passe Livre não controla tudo.

Para cada pessoa protestando na rua há outras milhares que preferem ficar em casa, embora não menos insatisfeitas. Uma análise chapa-branca poderia argumentar que os protestos atuais são inconsequentes. O Brasil crescerá neste ano mais do que em 2012. Há pleno emprego. Tudo isso é verdade. Ainda assim, cidadãos podem considerar isso insuficiente para sorrir como nas propagandas.

Quem vive em grandes cidades sabe muito bem. São Paulo e Rio têm cotidianos inviáveis. Trânsito insuportável, transporte público péssimo, poluição, saúde pública ruim. Há, é claro, o programa Meu Micro-Ondas, Minha Vida. Mas, às vezes, só um eletrodoméstico é pouco para manter os cidadãos comportados dentro de casa e assistindo a pobres felizes nos comerciais de TV.

Uma crise de representação - CACÁ DIEGUES

O GLOBO - 15/06

Lá pela metade do século 20, por volta dos anos 1960, surgiram por aí diferentes movimentos contra o estado do mundo, com claros discursos pela construção de uma nova sociedade humana. Os beatniks, a primavera de Praga, os guerrilheiros latino-americanos, os panteras negras, o Solidariedade polonês, os hippies, os jovens americanos que se recusavam a ir para o Vietnam, os estudantes parisienses de maio de 1968, foram agentes explícitos de ideais programáticos e ideológicos que mobilizavam multidões.

Hoje não é mais bem assim. Talvez porque o mundo tenha perdido a esperança em mudanças radicais. Talvez porque a revolução tenha perdido prestígio para a mobilidade social. Talvez por não nos sentirmos mais representados por nenhuma força política.

Depois do movimento Occupy Wall Street, da chamada Primavera Árabe, dos combates na Siria, dos confrontos contra o governo na Turquia e na Grécia, das manifestações populares nas ruas de uma Europa em crise, os jovens do Movimento Passe Livre trazem agora para Rio de Janeiro e São Paulo esse novo estilo de contestação, típico do século 21 - uma contestação pontual, sem propriamente projeto de nação ou de sociedade.

Em outubro de 2011, visitei o acampamento do Occupy Wall Street, em Nova York, e escrevi aqui, nesse mesmo canto de página, que “todo mundo sabe porque foi parar no Zuccotti Park (local do acampamento dos manifestantes), mas parece que quase ninguém tem uma ideia precisa de para que serve o movimento, o que deve acontecer em seguida (...) é como se um malestar estrutural estivesse substituindo os programas ideológicos (...) as ideias parecem sufocadas pelo malestar que tomou o lugar da luta política”.

Depois de ver na televisão um rebelde sírio arrancar o coração de um soldado governista, como é possível acreditar que sua revolta seja alimentada pela construção de uma sociedade mais justa? Quem pode nos garantir que a Líbia, depois da destituição e morte de seu ditador, esteja mesmo construindo um regime de liberdade? Depois da crise, para onde irão as manifestações pontuais de rua em Paris, Madrid ou Atenas?

Questionado sobre o que queriam seus ativistas, um desses movimentos americanos de contestação postou resposta esclarecedora em sua página no facebook: “O processo é a mensagem”. Ou seja, o ato de agir é a única razão da ação.

Todos esses movimentos se explicam pela ausência de representação de seus membros no campo da política. Como cada vez mais nos sentimos menos representados pelos que estão no poder (mesmo que eleitos por nós), só nos resta ir às ruas para ao menos mostrar que existimos. Nossas reivindicações podem ir desde o fim de um ditador até a luta contra o aumento de 20 centavos na passagem de ônibus, tanto faz. Ainda no acampamento do Occupy Wall Street, no Zuccotti Park, vi uma senhora ativista fazer discurso de protesto contra a maneira pela qual era tratada por seu marido.

Ninguém mais se sente representado politicamente, assim como nossos supostos representantes não se importam mais em representar ninguém. Há um enorme abismo entre nós e o poder que devia agir em nosso nome, um desinteresse em nos representar. O processo eleitoral não tem nada a ver com a representação que devia ocorrer depois dele. Os eleitos só pensam em continuar eleitos e em proteger a instituição a que pertencem, para que ela exista para sempre, com eles dentro. Os acordos partidários, as manobras de sobrevivência, os interesses pessoais e, às vezes, as vantagens pecuniárias, são fatores hegemônicos na atividade do “representante”. Outro dia, o ex-presidente Lula disse que “às vezes, tenho a impressão de que partido é um negócio”.

Hoje o termo “democracia representativa” diz mais respeito a um regime que, eleito pelo povo, interpreta um determinado papel. Ela é “representativa” no sentido teatral da expressão, no sentido da representação dramática. Não há nenhuma justificativa programática ou ideológica para seus gestos. Apenas ação. Como podemos nos identificar com eles? Então vamos às ruas para nos representar a nós mesmos, nem sempre sabemos bem para que.

A resposta à crise da democracia representativa não pode ser o autoritatismo que elimina a liberdade de escolha e é contra a natureza humana. Nem a ilusão da democracia direta, mãe do populismo e da ditadura. Como tudo que é humano, a democracia não é um regime perfeito, mas pode ser aperfeiçoada sempre. (Em “Sabrina”, filme de Billy Wilder, o pai da heroína, motorista particular de família abastada, diz que a democracia é muito estranha: embora o contrário seja comum, quando um pobre casa com um rico, nunca se ouve dizer do pobre que ele foi “muito democrático”).

Enquanto não encontrarmos coisa melhor, não podemos abrir mão da democracia. É sagrada e insubstituível a beleza do voto que deve garantir o poder da maioria e os direitos das minorias que, daí a quatro anos, terão outra oportunidade de se tornarem maioria. E isso com liberdade permanente para todos irem às ruas ou não.