sábado, janeiro 15, 2011

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Versões
SONIA RACY
O ESTADO DE SÃO PAULO -15/01/11

José Sarney jurou à coluna que não teve influência na escolha de Leandro Coimbra para a direção-geral da Polícia Federal. A posse foi ontem.

Segundo altas fontes, com trânsito tanto no Congresso quanto na PF, o presidente do Senado teria vetado o nome do cotadíssimo Roberto Troncon, diretor de Combate ao Crime Organizado da PF.

Sarney, sobre o suposto veto,foi categórico: "Nem o conheço". Troncon dirige o departamento responsável pela Operação Boi Barrica, que investigou a família do senador.

Amizade

O PDT de Paulinho da Força, que apoia Dilma em Brasília, deve ganhar cargo na administração municipal. E Kassab, um aliado para enfrentar o PSDB na eleição para a Prefeitura, em 2012, e para o Palácio dos Bandeirantes, dois anos depois.

Os dois se encontrariam ontem para discutir a fatia dos trabalhistas. O acerto é para pagar dívida da eleição de José Police Neto para a mesa da Câmara.

Amizade 2

Essa aproximação entra para a lista do "esqueçam o passado". Em 2008, ambos se estranharam quando investigação da PF mostrou indícios de que Paulinho procurou obter informações que atrapalhariam a reeleição do atual prefeito.

Etiqueta

Discretamente, o Palácio do Planalto tem orientado ministérios e autarquias a usarem o tratamento "presidenta" em notas oficiais. O Itamaraty e a Defesa resistiam.

Mas anteontem o gabinete de Nelson Jobim capitulou. A agenda do ministro informava que ele acompanharia "a presidenta" em viagem ao Rio.

Calamidade

O Fashion Rio não ficou alheio à tragédia que abalou a região serrana daquele estado. Um posto de coleta de donativos foi instalado por lá.

Calamidade 2

Rodrigo Santoro, nascido em Petrópolis, está desolado. "É profundamente triste ver o que está acontecendo. Além de ser importante lembrar que somos membros de uma mesma sociedade, onde é fundamental a ajuda de todos." E chamou a atenção para a ONG Viva Rio, que recebe doações para as vítimas.

Já Marcos Palmeira, dono de sítio em Teresópolis, já calcula o prejuízo que teve na sua produção de alimentos orgânicos.

Colher de pau

Carla Pernambuco lança novo livro em 2011. Meu Brasil Brasileiro é resultado de um ano de pesquisa por ingredientes nacionais, muitos deles "reinventados" pela chef em algumas receitas.

O mesmo material colhido nas pesquisas também servirá de "aperitivo" nos programas que ela terá nas rádios Band e MIT.

Na dela

Assim como fez no Rio, Amy Winehouse praticamente não saiu do hotel em sua passagem por Recife. Aliás, ela se hospedou em Olinda, cidade histórica vizinha à capital pernambucana.

E também optou por um hotel fora do circuito estrelado: o 7 Colinas.

De bairro

A costureira de Dilma, a gaúcha Luisa Stadtlander, tem se recusado a falar com a imprensa que não seja... do Rio Grande do Sul.

Na frente

Antunes Filho participa de bate-papo com a plateia após apresentação de Policarpo Quaresma, dirigido por ele e que está em cartaz no Sesc Santana. Hoje.

Matt McCormick e Juan Carlos Valdívia, vencedor do Festival de Sundance, desembarcam em SP. Ambos ministram palestras na Semana de Orientação da AIC, a partir do dia 31.

Rob Wilder, DJ residente do Savannah Beach, de Ibiza, comanda a pista da Heaven. Hoje.

GOSTOSA

RUY CASTRO

Mata, arrasa e leva embora
RUY CASTRO
FOLHA DE SÃO PAULO - 15/01/11

RIO DE JANEIRO - É a lama, é a lama. Poço Fundo, o sítio da família de Tom Jobim na pequena São José do Vale do Rio Preto, RJ, também foi parcialmente destruído pelas enchentes da região serrana. O rio que dá nome à cidade transbordou e arrastou casas, árvores e animais às suas margens, inclusive na propriedade que foi inspiração e cenário de, entre tantas canções de Tom, "Águas de Março" (1972).
A letra do samba está cheia de imagens proféticas: é pau, é pedra, é o fim do caminho; é a chuva chovendo, é o fundo do poço, é a noite, é a morte; no rosto o desgosto, é um pouco sozinho -embora, na origem, o poeta estivesse descrevendo as águas que, fechando o verão, lavavam a alma e eram uma promessa de vida no coração do ouvinte.
Mais cruel ainda é saber que o delicioso "riachinho de água esperta", da letra de "Chovendo na Roseira" (1970), também se tomou de fúria destruidora ao se lançar no vasto rio de águas (não mais) calmas. E, em vez da "chuva boa,/ criadeira,/ que molha a terra,/ que enche o rio,/ que lava o céu,/ que traz o azul", veio aquela que, com a ajuda da imprevidência humana, mata, arrasa e leva embora.
Tom via a chuva como uma força benigna, regeneradora. Outro exemplo está na letra de "Correnteza" (1975), dele com Luiz Bonfá: "Depois da chuva passada/ Céu azul se apresentou/ Lá à beira da estrada/ Vem vindo o meu amor...". Não que ele desprezasse a força da natureza quando provocada: "Cadê meu caminho, a água levou/ Cadê meu rastro, a chuva apagou/ E a minha casa, o rio carregou", escreveu em "Passarim" (1985).
Tom bem que fez a sua parte. Ao assumir a direção do sítio, cerca de 1970, propôs-se a ressuscitar a mata nativa da região, praticamente destruída. Quase metade dela se recuperou. Mas não houve tempo para que aquela terra, tão rica de música e poesia, se salvasse da correnteza cega e surda.

RUTH DE AQUINO

Falta uma UPP para a natureza
RUTH DE AQUINO


REVISTA ÉPOCA
Época
RUTH DE AQUINO
é diretora da sucursal de ÉPOCA no Rio de Janeiro
raquino@edglobo.com.br
Há 50 anos lidamos com catástrofes e as causas são sempre as mesmas. As soluções também. Se não houver união real dos Três Poderes, se a Justiça continuar a proteger quem viola a lei de ocupação do solo, se populistas e demagogos continuarem a matar pobres, se não houver política de habitação, só vai piorar. Falta prevenção e educação. Falta vergonha na cara. Céticos achavam impossível combater o crime organizado do tráfico nas favelas. Precisamos de uma UPP para o meio ambiente.
“Vamos chorar muito ainda no verão que vem”, disse Moacyr Duarte, da Coppe-RJ, especialista em gerenciamento de riscos. A não ser, afirma Moacyr, que o país enfrente as tragédias crônicas das enchentes com a mesma firmeza usada para melhorar a segurança pública no Rio de Janeiro. “Nós, brasileiros, não podemos evitar a calamidade climática, mas temos recursos humanos e conhecimento tecnológico para amenizar os danos financeiros, emocionais e a perda de vidas. Só é preciso coragem. Está mais do que na hora de investir em prevenção e sistema de gestão em vez de resgate e recuperação.”
Precisamos de um governante forte, rigoroso e bem-intencionado. É imperativo romper esse círculo vicioso de tempestades tropicais, sempre de novembro a março. Porque, se nada for feito, a omissão equivale a assassinato. Esse tsunami que caiu do alto a 100 quilômetros por hora matou sobretudo gente que quase nada tem, além da fé em Deus. Quero acreditar na Dilma. Só o fato de ela sobrevoar a serra do Rio, devastada pelo maior desastre da história do país, para logo depois se reunir com todos os envolvidos, sem fazer nenhum escarcéu, confirma um novo estilo na Presidência. Pouco gogó, mas ação rápida. Ela prometeu milhões de reais, mas já disse que vai cobrar prestação de contas.
Se há realmente 5 mil casas em áreas de risco na serra do Rio, como calcula o secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc, elas terão de ser demolidas. Ou a Justiça dará liminares para os que se sentirem prejudicados e processará os técnicos? Foi o que aconteceu em Itaipava, no Rio Santo Antônio, um dos mais atingidos. Ele já tinha sofrido uma enchente grave em 2007. O Instituto Estadual do Ambiente entrou com um projeto de reconstrução das margens e da calha. Vários imóveis, quase debruçados sobre o rio, foram notificados, mas conseguiram liminar e impediram a reconstituição do traçado do rio. Agora, provavelmente, esses imóveis renitentes foram tragados pela fúria das inundações.
É preciso romper o círculo vicioso de tempestades. Se nada for feito, a omissão equivale a assassinato
Na serra do Rio existe uma perversidade contra a natureza. As prefeituras cobram impostos, mas não limpam ruas e rios adequadamente. Os habitantes não têm educação ambiental e jogam detritos junto a placas de “Proteja o verde”. Proprietários conscientes limpam a própria rua. Mas a favelização está à vista de todos. À entrada de Teresópolis, a quantidade de casas irregulares em frente ao Parque Nacional é testemunho aterrador de negligência pública. Multa-se pesadamente todo proprietário de classe média que cortar uma árvore a 10 quilômetros do Parque Nacional, mas, se alguém precisar da terra para sobreviver, ele se empoleira com a família até junto de uma cachoeira. E ninguém faz nada, com medo de parecer impopular.
Só não podemos culpar as autoridades por terem ignorado o alerta de chuvas. Como evacuar populações inteiras diante da previsão de que “haverá chuvas moderadas a fortes” na serra? Isso é vago demais. Precisamos de radares sofisticados, que apontem com antecipação de um dia as áreas mais vulneráveis e a quantidade de chuva esperada. Precisamos de um sistema de alerta e suporte semelhante ao de regiões atingidas por terremotos e furacões. Sirenes para alertar a população. Treinamentos que convençam moradores a deixar suas casas a tempo. Abrigos com estrutura para hospedar centenas de desabrigados. Sistemas de macrodrenagem para escoar os rios que transbordam.
Custa dinheiro, sim. Mas é mais barato, mais eficiente e menos triste do que toda essa reconstrução de vidas arrasadas.
Tudo bem ter fé em Deus. Mas vamos parar com essa história de que Ele é brasileiro. 

IVAN ÂNGELO

Calendários
Ivan Ângelo
 REVISTA VEJA - SÃO PAULO




Janeiro é mês de ganhar calendários. Vem o do açougue, o do hortifrúti, o da farmácia, os de parede, os de ímã para a geladeira, os estandezinhos de mesa, chegam os da internet... — todos úteis e bem-vindos. Para minha surpresa, soube que ainda existem aqueles que eram chamados adequadamente de folhinha, um bloco de 365 pequenas folhas, uma para cada dia do ano, que se arrancavam a cada dia e que traziam informações úteis sobre a fase da Lua, a estação, o santo do dia e, no verso, um pensamento.

Na semana passada, ganhei um que informa o que se comemora em cada dia do ano. Foram várias as minhas perplexidades. Ignorante de muitas coisas, descobri-me ignorantíssimo de datas comemorativas. Não imaginava quantas homenagens foram salpicando pelo nosso calendário, algumas bizarras.

Tem dia para dezenas de profissões, e todas são merecedoras, claro, mas por que umas e não outras? Por exemplo, existe o dia do goleiro, 26 de abril. O que torna o goleiro mais merecedor do que o zagueiro central, o lateral direito ou o centroavante? Por que não um dia mais amplo, do jogador de futebol, por exemplo, ou, mais amplo ainda, o dia do atleta, homenageando a todos os que fazem do esporte um espetáculo emocionante?

Ainda na área das profissões, são lembradas algumas que vão desaparecendo lentamente. O vendedor de livros tem seu dia, 14 de março. Nesta época de megalivrarias e de livros entregues em casa como pizzas, não se vê mais aquele vendedor de livros de porta em porta, com sua pesada pasta de exemplares de enciclopédias e coleções. Dia dos vidreiros. Esta se tornou quase exclusivamente uma atividade da indústria especializada.

Na gostosa área amorosa, temos dias especiais para os namorados (12 de junho), para o amante (22 de setembro), para o beijo (13 de abril). Mas não para os esposos.

Temos duas datas sobrepostas: dia da língua nacional (21 de maio) e dia da língua portuguesa (10 de junho). E pensávamos que eram a mesma...

Ora, ora, temos o dia do tango, 11 de dezembro! É certo que existem os dias do frevo, do samba e do choro, mas são coisas nossas, como disse Noel Rosa. Não seria melhor deixar o tango para o calendário argentino? Ou então promover logo o dia da valsa, do xote ou do foxtrote.

Temos o dia do macarrão: 25 de outubro. Já tínhamos o da pizza, 10 de julho. É verdade que o do macarrão não é coisa nossa, é o dia mundial do macarrão, decidido em 1995, no I Congresso Mundial da Massa, em Roma, e nós o adotamos. Bom, vá lá. O meu com frutos do mar, por favor.

Ainda na área inexplicável dos alimentos, temos o dia do sorvete, 23 de setembro, início da primavera. Quem propõe e quem aprova essas datas? Cadê o dia da feijoada, do churrasco, do feijão-tropeiro ou do pão na chapa? O da empadinha? Do pão de queijo? Do acarajé? Cadê?

E quem propôs, por exemplo, o dia do solteiro, 15 de agosto? Quem comemora estado civil tão transitório, e que chega a ser um problema para tantos homens e mulheres? Outra data esquisita é o dia do canhoto, 13 de agosto. Certas datas existem justamente para se discutirem preconceitos, como os dias da consciência negra, do índio e da mulher. Acontece que no mesmo dia do canhoto enfiaram o dia do azar. Coincidência ou malícia preconceituosa? Na área das boas intenções temos o dia do vizinho, 23 de dezembro. Convenientemente perto do Natal, quando os mal-humorados baixam a guarda.

Entre tantas perplexidades, encontro três futilidades e uma ironia: o dia do Fusca, 20 de janeiro, um carro em estado de desaparecimento; o dia do truco, 10 de julho (por que não do buraco e do burro em pé?); o dia mundial do disco voador, 24 de junho, que também não foi ideia nossa, mas o acatamos; e a ironia, o dia do silêncio, 7 de maio, num mundo cada vez mais barulhento.

Até você, leitor, tem seu dia, 7 de janeiro. Já passou.

FERNANDA TORRES


Sexto Andar

Fernanda Torres


REVISTA VEJA - RIO
A fumaça negra que cobre São Paulo sempre me espanta quando sobrevoo a muralha da serra e chego ao Planalto Paulista. O mesmo acontece quando paro o carro em qualquer cruzamento da megalópole e o aparelho que mede a qualidade do ar estampa um PÉSSIMA para qualquer um ver. Morei em São Paulo na infância e tenho um carinho freudiano pela cidade. Ainda levo meus filhos ao Butantã, como meu pai fazia comigo, e gosto, pasmem, do verde fechado da vegetação paulista quando ela existe. Mas, para alguém que passou a vida inteira cercada pela exuberância natural do Rio, é difícil se acostumar com a concretude de São Paulo. O preço do progresso dos nossos vizinhos foram o trânsito, a poluição, a morte dos rios, do verde, aquela ladainha trágica do desenvolvimento que todo mundo conhece. Vivo no balneário ciente das desvantagens do socialismo moreno, da manemolência, da desordem cívica; mas a natureza carioca é tão poderosa que é capaz de curar angústia, solidão, dor de corno, inveja, raiva, e faz esquecer do atraso medieval que nos acompanha.
Isso até você precisar de um hospital. Há dois anos, escrevi aqui mesmo uma crônica sobre o Hospital Albert Einstein, de São Paulo. Neste ano, voltei para o mesmo 6º andar. Antes, apenas os quartos do canto do corredor de 100 metros de comprimento contavam com pressão positiva, uma maneira de esterilização através da corrente de ar. Agora, todo o andar tem o mecanismo, o que permite aos internos circular livremente. Nove transplantes de medula ocorriam simultaneamente durante o Ano-Novo. No quadro da enfermagem, na sala de convivência, cartas e cartas de pessoas que passaram pelo 6º andar agradeciam a cura. O hospital ganhou novas alas, passarelas, centros de pesquisa e agora parece uma cidade ainda mais impressionante do que me pareceu da primeira vez em que lá estive.
Além do Hospital Albert Einstein, fundado pela Sociedade Israelita Brasileira Albert Einstein, e do Hospital Sírio-Libanês, inaugurado em 1921 por uma associação beneficente de senhoras da primeira geração de sírios e libaneses, a capital paulista abriga diversos outros hospitais de alta qualidade. O Rio tem grandes neurologistas, oncologistas, endocrinologistas, mas nenhum centro hospitalar ou de pesquisa comparável aos de São Paulo. Minto, a Rede Sarah abriu seu centro de atendimento na Barra da Tijuca. Mas o Sarah é focado na neurologia, não cuida de doenças infecciosas, nem de câncer, nem de outras mazelas terríveis. Além disso, o Sarah não é uma iniciativa carioca, ele é um bem-sucedido projeto do Distrito Federal que funciona como um ministério. Sua verba sai diretamente dos cofres da União sem passar pela burocracia, pela politicagem e pelos atravessadores que muitas vezes consomem e desviam os recursos destinados à saúde.
Sei que não temos metade do poderio paulista, mas nossos doutores e pacientes mereciam condições melhores de trabalho. Nestes dois anos em que estive afastada de um centro de terapia intensiva, não pude notar nenhum avanço, nada, nenhum investimento nos hospitais que aqui revisitei. Eles estão congelados no tempo, apenas mais velhos do que estavam há dois anos. A insegurança é imensa. Experimente ter um problema grave durante o Natal e o fim do ano, simplesmente não há para onde correr. Não estou discutindo aqui as condições da saúde pública no Brasil. A Rede Sarah é o exemplo máximo, modelo do que deveríamos ambicionar. Estou falando de hospitais e laboratórios que trabalham com convênios particulares e que mesmo assim não funcionam no Rio. A diferença entre tratar uma doença séria na Guanabara e em São Paulo não está no conhecimento do especialista sobre o que se passa com o enfermo, mas sim na segurança de ter, atrás de si, um apoio hospitalar que o respalde. Por aqui, fala-se na possibilidade de morte. Em São Paulo, nas chances de cura.
Eu não sei se foi a decadência carioca, se foi a falta de espírito filantrópico, se foi descaso das autoridades, eu não sei se foi a avidez por lucro ou o preparo ruim dos profissionais ligados à área, não os médicos, repito, mas a enfermagem, a qualidade do diagnóstico laboratorial. Eu não sei se é um problema de educação, de moral e cívica, eu não sei. Mas o que será que podemos fazer para criar pelo menos um, um, unzinho centro de referência hospitalar no Rio que irradie para o estado uma nova forma de lidar com a saúde? E se, a exemplo da Rede Sarah, propuséssemos uma filial do Sírio ou do Einstein na velha e sofrida Guanabara? Fica aqui a sugestão.

WALTER CENEVIVA

De quem é a culpa? Quem pagará?
WALTER CENEVIVA
FOLHA DE SÃO PAULO - 15/01/11

Há meios processuais para a população se defender em casos como a tragédia no Rio. O problema é o tempo

NO REFERENTE às consequências da tragédia no Estado do Rio, a segunda em curto tempo, a lei brasileira é muito clara. Está no art. 186 do Código Civil: "Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito". Ou seja: a ilegalidade por ação ou omissão é punível.
Predominam duas disposições sobre o assunto. A primeira é lida no art. 389 do Código Civil: "Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado", além do dano moral.
Lê-se a segunda no art. 393: "O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado".
Caso fortuito ou de força estão no parágrafo único do artigo: verifica-se quando existe "fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir". Assim, a lei dá com uma das mãos o que em parte tira com a outra, quando não caiba a indenização da vítima.
Lembro as declarações do governador do Estado e do prefeito de SP sobre as enchentes que aqui vêm ocorrendo. Possivelmente aconselhados por seus assessores, responderam aos jornalistas: o culpado pelos danos foi são Pedro. Ou seja, para eles a culpa não é do poder público, mas do excesso de chuvas.
Infelizmente a memória não me ajuda quanto aos pormenores, mas dá para lembrar que, há muitos anos, o hoje presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Cezar Peluso, ganhou (em primeiro grau, pelo menos) uma ação contra a prefeitura porque seu automóvel foi atingido pela enchente, depois de forte chuva nesta capital.
O município veio com a defesa de sempre: a chuva é um fenômeno da natureza e, assim, de força maior. Não pegou, porque ficou claro que a autoridade pública não havia cuidado do escoamento pelos meios cabíveis e assim contribuíra para o dano.
Não sei do resultado final desse processo, mas tem importância porque quem alegar força maior ou caso fortuito deve comprová-lo.
Na enchente de Franco da Rocha, por exemplo, a abertura de comportas causou, ou pelo menos agravou, as condições danosas. Nos carros perdidos na marginal do rio Tietê, parece possível o erro de cálculo do escoamento, agravado pelo alargamento da pista. A discussão técnica a respeito definirá se houve força maior ou não.
Nos desastres do Estado do Rio, se discutirá se a permissão de construções em encostas deveria ter sido negada pelas autoridades competentes ou punida no caso de clandestinidade. A previsão de deslizamentos (foi recente o caso gravíssimo de Angra dos Reis) deveria levar a administração fluminense a ter maior cuidado ao exigir obras de contenção ou outras, além de verificar se as construções foram licenciadas nos termos da lei.
Enfim: temos a lei. Há meios processuais para a cidadania se defender. No Judiciário é raro, porém, que ações contra o poder público durem pouco ou custem pouco. O problema maior é o tempo. Permite até parafrasear um ditado célebre de Pascal: a luta judicial contra o poder público tem razões que a própria razão desconhece

MÔNICA BERGAMO

RESGATE AÉREO
MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SÃO PAULO - 15/01/11 

As empresas de táxi aéreo do Rio estão operando em capacidade máxima nesta semana, por conta dos desastres causados pela chuva na região serrana do Estado. Como muitas estradas que dão acesso às cidades estão interditadas ou destruídas, o jeito de sair dos locais é de helicóptero. Desde terça, a Heli-Rio, por exemplo, que opera no Recreio dos Bandeirantes, teve seu número de voos aumentado para 12 por dia -antes eram três. Cada viagem não sai por menos de R$ 3.000. 

PELO AR 
Já a Helimarket, em Jacarepaguá, tem feito oito voos diários para Teresópolis e Nova Friburgo. "Tive que trazer helicópteros de São Paulo para aumentar a frota para cinco aeronaves", diz um dos sócios, Rafael Colello. A maioria dos fretamentos é feita por parentes que desejam buscar familiares isolados nas cidades. "Mas fomos buscar até dois cachorros", conta Colello. O número de voos da DS Air pulou de um para cinco por dia -todos para a região serrana. 

CONEXÃO NY 
Sonia Braga gravou um spot para rádio com um comunicado do Ministério da Saúde para alertar as vítimas das enchentes no Rio. "É para orientar sobre os perigos da água contaminada", explica. Mesmo em Nova York, a atriz tem se mobilizado no apoio aos desabrigados. No ano passado, no deslizamento no Morro do Bumba, em Niterói, ela foi voluntária na distribuição de doações. 

JABUTI VOA 
Depois da polêmica por ter perdido o Prêmio Jabuti de livro do ano para Chico Buarque, Edney Silvestre fechou dois novos contratos para publicar o romance "Se Eu Fechar os Olhos Agora" no exterior. Random House (Alemanha) e Giunti (Sérvia) adquiriram os direitos da obra, que já havia sido vendida para editoras de Portugal, França e Holanda. 

LEITE DERRAMADO 
J. Hawilla, dono da Traffic, reagiu às críticas de palmeirenses de que a empresa, parceira no projeto da arena do clube, viabilizou a contratação de Ronaldinho pelo Flamengo -desbancando, entre outros, o time do Palestra Itália. "O Palmeiras negocia com o Ronaldinho desde julho. Em nenhum momento, procuraram a gente para pedir um plano de marketing [para viabilizar a contratação]", diz Hawilla. 

PISCINÃO DA AMY 
Amy Winehouse chegou ontem às 7h ao hotel Tivoli Mofarrej, na alameda Santos, em SP. A cantora está hospedada na suíte presidencial (diária de R$ 22 mil), que tem 750 m2 e conta com uma miniadega de champanhe Dom Pérignon para degustação e banheira de mármore com vista para a avenida Paulista. A piscina do hotel, no térreo, está reservada com exclusividade para a inglesa e seus músicos até amanhã. 

TOM SOBRE TOM 
Os estilistas Carlos Miele e Patrícia Viera mostraram suas coleções no Fashion Business, no Rio. As atrizes Maitê Proença e Christiane Torloni foram ao Copacabana Palace. O guitarrista dos Rolling Stones, Ron Wood, a namorada, Ana Araújo, e Michael Roberts, da revista "Vanity Fair", estavam na primeira fila.

FESTA DE GRIFE 
A dasluzete Mica Rocha, filha de Flávio Rocha, da Riachuelo, comemorou 25 anos em sua casa, nos Jardins, anteontem. Suas amigas da Daslu Luiza von Mutius, Lelê Saddi, e a dona da butique, Eliana Tranchesi, estiveram na festa, como também as amigas Patricia Bagattini e Lolita Zurita. Uma surpresa encomendada pela mãe: o bolo em formato de bolsa da Louis Vuitton. "Adorei!", disse Mica.

HORA DO SHOW 
Os empresários William Crunfli (à esq.) e João Paulo Affonseca, da Mondo, são os responsáveis pela vinda de Amy Winehouse e Shakira, neste ano, ao Brasil. Em 2010, eles trouxeram Beyoncé, Black Eyed Peas e Green Day. Creditam o boom de artistas internacionais ao aumento da confiança externa no Brasil. "Tanto em venda de ingressos quanto em qualidade de produção e planejamento de eventos", afirmam. 
Promover uma turnê de Amy pelo Brasil "era um sonho". Para eles, trazer uma artista apontada "como a voz de sua geração" é uma grande realização. 

CURTO-CIRCUITO

O grupo Exaltasamba se apresenta nos dias 4 e 5, às 22h30, no Credicard Hall. Classificação: 14 anos. 

O filme em 3D "Brasil Animado" terá pré-estreia hoje, às 10h30, no Cinemark do shopping Eldorado. Livre. 

Cristina Murat inaugura hoje a loja João e Maria, de roupa infantil, em Trancoso. 

A cantora Patty Ascher fará show no dia 25, aniversário de São Paulo, às 16h, na praça Victor Civita. Livre. 

A peça "Coração under Rocks" estreia no dia 21, às 21h, no Centro Cultural São Paulo. Classificação: 14 anos. 

O DJ Erick Morillo tocará no dia 23, a partir das 15h, no Cafe de la Musique de São Pedro, no Guarujá. 18 anos. 

com ELIANE TRINDADE (interina), DIÓGENES CAMPANHALÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

GOSTOSA

JOSÉ SIMÃO

"BBB"! Operada posa pra Playbolas!
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 15/01/11

Adoro que a perna da Amy seja cheia de hematomas. Não tem senso de equilíbrio e nem de direção! Rarará!


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Tão cuspindo na gente! O Brasil tá parecendo um "disaster movie". 2012! Esse negócio do mundo acabar com data marcada não dá certo!
E o Datena disse que nós não estamos preparados para as enchentes. Nós não. Mas ele está: helicóptero, Comandante Hamilton e motolink! Não aguento mais ver terra, lama e água, só falta aparecer uns hipopótamos! Por isso que assisto ao "BBB". Me rendi à podridão.
BIG PODRE BRASIL! O grande bafo é a transexual, a operada, a Ariadna. Manchete do Sensacionalista: "Empresário de Ariadna não sabe se ela vai posar pra "Playboy", "G Magazine" ou "Superinteressante'". E ela jogou fora o pingolim? Porque já tem uma fila de japoneses querendo o implante do pênis da mulata. Rarará! Pior, ela não contou pra ninguém que é operada. Aí aqueles rinocerontes de sunga vão transar com ela e, quando saírem da casa, cara de pastel.
Um amigo meu foi transar com uma gostosa quando viu um retrato na cabeceira: "Esse é seu irmão ou seu marido?". "Esse sou eu antes de virar mulher!" E um outro deu uma carona pruma enfermeira gostosona, transaram e, na hora de descer, ela falou: "Meu nome é Roberval, gostei muito do seu pau e isso aqui é uma fantasia de Carnaval".
E com essa operada, o "Big Brother" já começa com um membro eliminado! Rarará! E ela devia posar pra Playbolas! E tem uma gorda também! Tão dizendo que a gorda vai sofrer mais preconceito que a operada. A pessoa pode ser tudo, menos gorda. A não ser que seja engraçada. Gorda tem que ser engraçada? Imagine amanhã na prova da comida? Gorda come de tudo!
E a Amy? A Amy Winewhiskyvodka? Errei na dose e acordei Amy! Rarará. Tô com medo de ser barrado no show. Eu sou abstêmio. Acho que vou levar uma garrafa de vinho. Pra deixar no palco como oferenda. E um amigo vai levar charuto e uma garrafa de cachaça. Porque ela tá parecendo a Maria Padilha depois da gripe! E escândalo mesmo ela não deu. Escândalo cansa. Já deu o suficiente.
E já tem uma réplica da Amy no museu de cera da Madame Tussauds. Com uma plaquinha embaixo: "Enfim, sóbria!". Rarará! E adoro que a perna dela seja cheia de hematomas. Não tem senso de equilíbrio e nem de direção. Rarará.
Nóis sofre, mas nóis goza.
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

CELSO MING

As pressões da hora
Celso Ming 
O Estado de S.Paulo - 15/01/11

A economia vai relativamente bem, principalmente quando os resultados são comparados com os dos países ricos. E não há mais divergência entre os analistas, o Brasil tem um brilhante destino a cumprir na sociedade global, se o brasileiro não fizer besteiras demais.

Isso posto, não dá para adiar as soluções. Neste início de mandato, a nova presidente Dilma Rousseff tem de armar uma equação complicada.

A inflação está solta demais, vai sendo agravada pelos desastres do clima, pela alta das commodities e pelos reajustes dos preços administrados fortemente influenciados pela disparada do IGP-M, de 11,39%. É uma avalanche que precisa ser contida.

O consumo continua aquecido e isso explica a maior parte da inflação. Para combater a alta de preços, o instrumento clássico é a redução do volume de dinheiro na economia (alta dos juros), mas esse recurso aumenta os custos, restringe a atividade econômica, atrai mais moeda estrangeira e tende a valorizar demais o real.

A excessiva valorização do real, por sua vez, tira competitividade do produto brasileiro porque o encarece em dólares. E, no entanto, não dá para seguir restringindo a entrada de recursos externos, porque os programas de investimento são imensos e não é possível abrir mão do concurso do capital estrangeiro. Além disso, há forte liquidez lá fora e as empresas brasileiras precisam de capital de giro mais barato em moeda estrangeira. Elas bem que têm aproveitado. No ano passado, levantaram empréstimos no exterior de US$ 21,3 bilhões e os bancos pegaram mais US$ 14,2 bilhões. Apenas nestas duas primeiras semanas do ano, as empresas brasileiras captaram, por meio de colocação de bônus, US$ 2,7 bilhões. Apesar do efeito sobre o câmbio, não se pode fechar essas portas. Enfim, há uma dura guerra a travar.

Se há guerra, tem mulher no meio, diziam os antigos, desde os tempos de Helena de Troia. Os franceses acreditam nisso ainda hoje: "cherchez la femme", recomendam eles. No caso dos desequilíbrios da economia, os clássicos sugerem uma pista que quase sempre funciona: "Procure o rombo orçamentário, porque o problema é fiscal".

Também nesse caso a saída óbvia é derrubar as despesas públicas de modo a restabelecer a disciplina orçamentária e trabalhar arduamente para reduzir o custo Brasil (carga tributária alta demais, juros altos, falta de infraestrutura, etc.). Mais austeridade reduz a dívida, achata os juros, deixa de atrair dólares em excesso, contém o consumo, aumenta a poupança interna, enfim, concorre para reequilibrar a economia.

Desta vez, o governo federal está sendo ainda mais pressionado pelas urgências, especialmente pelos programas inadiáveis de investimento que tem pela frente, como o pré-sal, o PAC, a Copa do Mundo, a Olimpíada. Além de ter de recorrer mais aos capitais privados, não pode deixar a inflação escapar e não pode restringir demais a entrada de capitais internacionais.

Nos seus primeiros pronunciamentos, a presidente Dilma Rousseff lembrou a necessidade de apertar os cintos. É ordem velha de guerra, quase nunca acatada, porque sempre está sujeita às pressões da hora. Mas eficiência administrativa é menos palavras de ordem e mais firmeza de condução. E isso ainda fica para se ver.

Retificação

O leitor Kiyotaka Yamamoto pegou um erro de cálculo na Coluna de ontem que tratou do custo das reservas externas. Por isso, vão republicados aqui dois parágrafos com a revisão dos valores.

Os números certos

Para sustentar reservas de US$ 290 bilhões, o Banco Central mantém no mercado R$ 485 bilhões em títulos. Os US$ 290 bilhões em moeda estrangeira comprados pelo Banco Central e aplicados no mercado internacional rendem mais ou menos 2% ao ano, o que dá US$ 5,8 bilhões ou R$ 9,7 bilhões (e não R$ 11,4 bilhões como ficou dito). Em contrapartida, o País tem de pagar pelos R$ 485 bilhões da operação de esterilização juros de 10,75% ao ano, o que implica gasto de US$ 31,2 bilhões ou R$ 52,1 bilhões. A diferença entre o rendimento das reservas e os juros pagos em reais para mantê-las é de US$ 25,4 bilhões ou R$ 42,4 bilhões (e não de US$ 24,4 bilhões ou R$ 40,7 bilhões, como o publicado), volume equivalente às projeções dos custos de construção do trem-bala.

JAPA GOSTOSA

MAURO CHAVES

Meu rol de implicâncias
MAURO CHAVES 
O Estado de S.Paulo - 15/01/11

Retomo o rol que tenho escrito neste espaço, de vez em quando, nos últimos 30 anos:

1) Os que acham de bom gosto vernacular dizer presidenta da República por que também não a chamam de chefa de Estado e governanta do País?

2) De repente, todos os discursos começam com a expressão "todos e todas", como se o masculino plural, em lugar de designar o coletivo dos gêneros desde que nossa língua existe, não passasse de manifestação machista.

3) É usual os políticos, cientistas políticos, comentaristas e até intelectuais de peso se referirem a determinado fato ou comportamento como algo sem ética e sem moral. Mas qual a diferença entre ética e moral? Qual o filósofo que distingue esses conceitos absolutamente equivalentes?

4) Outro exemplo de modismo linguístico sem nenhuma lógica é referente à expressão "enterro do corpo" de fulano. Por acaso alguém poderia supor o enterro, também, de uma alma?

5) Ainda no campo do idioma, as novelas de TV são as maiores demolidoras da língua portuguesa. Personagens de qualquer nível econômico-social ignoram por completo a colocação de pronomes. Nas novelas jamais se diz "eu a amo", e sim "eu amo ela"; nem "eu os odeio", mas "eu odeio eles". É extremamente implicante o esforço de enfiar na cabeça dos jovens, na escola e na vida real, as regras corriqueiras de uso correto de pronomes, quando o "conhecimento" que adquirem nos mais poderosos veículos de comunicação opera justamente em sentido contrário.

6) Ainda sobre novelas, não são as tramas macabras ou as personagens sem nenhum caráter que chocam quem a elas assiste. O mais indigesto e revoltante é o jeito como os patrões tratam seus empregados domésticos. Embora tenham com eles aparente intimidade, a ponto de lhes fazerem descabidas confidências, por qualquer pequena contrariedade que lhes causem, ou mesmo por pequeno estresse patronal, sem culpa alguma de seus colaboradores domésticos, patrões xingam os servidores, a torto e a direito, de imbecis, cretinos, antas ambulantes e coisas cabeludas do gênero. Certamente, quem não implica com tal comportamento é porque o adota.

7) Tratando ainda de televisão, tenho uma pequena implicância - é claro que nem comparável à megaimplicância exposta no item anterior - com a maneira pretensamente inovadora adotada pela principal rede de TV e (como sempre) imitada pelas demais. Alguém achou que os apresentadores de telejornais, para seguirem a momentosa e politicamente correta política da interatividade (no caso, só a dois), têm de olhar um para o outro, sempre fixando os olhos no(a) companheiro (a) que está falando. Desde que a televisão existe apresentadores olhavam para as câmeras, pois essa é a forma de transmitir com respeito, diretamente, informações ao telespectador. Os olhares para quem está ao lado só se justificam nas entrevistas dos apresentadores com convidados e em seus diálogos com comentaristas.

8) Saindo de linguagem e TV, acho tremendamente implicantes as programações culturais dos concertos e óperas que se produzem nos palcos brasileiros, pela seguinte razão. Todos sabem que é baixíssimo o nível de conhecimento e experiência da população brasileira no campo da música clássica. Nos EUA e nos países europeus, onde música erudita é um hábito semanal, é necessário sempre apresentar, para estimular o interesse das plateias, coisas novas, compositores e obras pouco conhecidos, tais como as indecifráveis peças musicais de autores contemporâneos. No Brasil os produtores querem fazer a mesma coisa. A um público que nunca assiste, por exemplo, a La Traviata ou a O Barbeiro de Sevilha, assim como nunca escuta Beethoven, o maior compositor de todos os tempos, apresentam-se obras absolutamente desconhecidas, às vezes até mundialmente inéditas. O público caboclo bate palmas fingida e educadamente, para não se mostrar ignorante ao não entender uma peça sem nenhuma melodia ou harmonia agradável a seus ouvidos. Mas no final, geralmente, os produtores fazem uma "concessão" ao púbico e tocam, por exemplo, obras popularíssimas de Tchaikovski, Strauss, Katchaturian - e então o público explode em aplausos, entusiasmado, deliciando-se com sons que lhe são familiares. Ora, por que não se oferece ao público, para conquistá-lo, algo que o delicie desde o começo, apresentando-lhe peças a ele ininteligíveis só de vez em quando?

9) E agora sobre artes plásticas: acho sumamente implicante o fato de as galerias de arte serem fechadas, sem comunicação alguma com o cidadão comum. Este pensa que para entrar numa delas é preciso pagar algo ou comprar alguma obra. O cidadão que passa de ônibus não tem oportunidade de conhecer o que lhe é escondido dos olhos e às vezes perde a chance de ter contato com uma extrema beleza que até poderia modificar sua sensibilidade e estimular sua qualidade de vida. Mas os galeristas parecem só se interessar pelo negócio como escritório de compra e venda, com fregueses selecionadíssimos, ricos e geralmente sem noção alguma do impulso transformador das artes visuais, daí procurarem apenas as grifes pictóricas - para eles decifráveis ou não - para nas rodas de amigos comentarem o valor e o "poder" de suas coleções.

10) Aí houve uma mais que implicante substituição do mecenato que sustentava os grandes artistas do passado pelo glamour não dos artistas, mas dos exibidos possuidores de blue chips visuais. Então o talento e a criatividade dos artistas plásticos novos, que lhes brotam moto-próprio, sem maiores ligações com escolas ou tendências de mestres já consagrados, nascem e permanecem no sereno sociocultural, sem condições de encontrar abrigos que os possam acolher para se desenvolverem.

E assim termino esta implicante lista, prometendo voltar a ela quando outros implicantes fatos e condutas ocorrerem em território nacional.

JORNALISTA, ADVOGADO, ESCRITOR, ADMINISTRADOR DE EMPRESAS E PINTOR.

MARIO CESAR FLORES

Estado-nação versus mundo-humanidade
MARIO CESAR FLORES 
O Estado de S.Paulo - 15/01/11

O século 21 fortalecerá a soberania territorial e a democracia? Ou a complexidade do mundo induzirá ajustagens em ambas, talvez restritivas?

Fator protagônico nesse dilema é a população global, enorme e crescendo, com seus problemas correlatos: a organização socioeconômica e política de grandes massas de etnias, religiões e culturas distintas, até conflitantes, em grande parte pobres e redundantes na economia moderna e adensadas em cidades imensas; a migração interna e internacional, indutora de perturbação sociopolítica, violência e conflitos; os abalos do mundo economicamente integrado, evidenciados na crise de 2008-2009; e o modelo econômico-consumista, que, associado à dimensão da população, vem contribuindo para o agravamento do efeito estufa, do desmatamento desordenado, da erosão de terras férteis, da poluição de mares e rios e do uso irresponsável de recursos naturais (até a água doce). Vem contribuindo também para a ocorrência de catástrofes técnicas, como foi o vazamento de óleo no Golfo do México em 2010.

O rol de atribulações em que o homem está presente é complementado pelas catástrofes naturais, ano após ano mais frequentes e intensas (a relação com a ação humana, ainda carente de estudo científico) e cujas consequências são mais severas quando incidentes sobre populações grandes e concentradas - terremotos (Haiti 2010), erupções vulcânicas, furacões (Katrina, New Orleans 2007), secas e chuvas anormais.

No mosaico dos percalços em que o homem é ator fundamental merece particular atenção a associação da população imensa com o modelo econômico-consumista e seus efeitos nefastos na natureza. Associação que vai "marcar" o século 21 porque a Terra é um sistema limitado, cuja capacidade de suportar a humanidade depende da compatibilização entre as demandas da humanidade e as possibilidades da natureza - axioma crítico até agora psicoticamente escamoteado da mais alta preocupação humana.

Criamos nos dois últimos séculos, principalmente nos últimos cem anos, costumes e necessidades (por vezes menos necessárias ao homem e mais ao modelo econômico) que, hierarquizados acima da saúde do sistema Terra, põem em risco o equilíbrio entre o potencial sustentável desse sistema e a pressão sobre ele exercida autistamente pela humanidade, hipnotizada no sonho do consumo. Emerge aí o papel da política, que precisará "administrar" a compatibilização entre população imensa, seus costumes e necessidades (reais ou criadas pelo modelo) e as limitações do sistema Terra - uma equação que provavelmente vai exigir a imposição de constrições convenientes ao equilíbrio. Não será fácil acertar democraticamente os rumos que satisfaçam as demandas da humanidade e as da saúde do planeta, mas a continuidade do desafio irresponsável ao mundo natural, mais dia, menos dia, acabará compulsando a adoção de orientações salvacionistas estruturadas sobre restrições à liberdade.

A equação é mais complicada com democracia, porque grande parte do eleitorado nem sequer percebe a dinâmica do equilíbrio entre as demandas da humanidade e a salvaguarda da natureza, cujas exigências são comumente contrárias a seus interesses imediatos. Pressionados pelo humor eleitoral que sugere atender a demandas até mesmo em descompasso com a saúde do planeta, cujos parâmetros eles contestam por conveniência política, os políticos tendem a menoscabar o politicamente embaraçoso e privilegiar a expressão eleitoral da equação, em detrimento da natureza. Por vezes arguindo demagogicamente culpas do passado de países desenvolvidos, como se erros antigos justificassem os novos, em época mais ciente do certo ou errado e mais pressionada pela dimensão da população. E o agressivo lobby econômico do modelo consumista reforça essa tendência.

Há no encaminhamento da solução um detalhe difícil: a aceitação pelos estratos superiores da pirâmide social de que devem moderar seus sedutores padrões de vida, cuja imitação pela grande massa seria inviável sem a exaustão do sistema Terra. O mundo não suportaria a demanda de 7 bilhões de habitantes (e crescendo) em nível mimético, ainda que abaixo, dos padrões hedonistas que aqueles estratos praticam. Será possível isso sem algum grau de imposição?

A compreensão dos problemas interativos do complexo homem-natureza e a consequente disciplina comportamental terão de prevalecer para que (vale insistir) eles não venham, mais dia, menos dia, a exigir coerção emergencial salvacionista. Regras internacionais terão de ser formuladas e obedecidas, inclusive pelos poderosos - o que já existe timidamente, com permissividade abusiva e transgressões frequentes, na economia (OMC), na saúde (orientações da OMS) e no meio ambiente; neste o Protocolo de Kyoto foi um esforço pouco encorajador.

Há que aprimorar e complementar esse acervo e para isso é preciso condução competente, capaz de estruturar a ordem em que o bem-estar da Terra é visto como tão importante quanto o da humanidade - até porque este é insustentável sem aquele -, capaz de aceitar o risco político da adoção de medidas não simpáticas, se não antipáticas, ao interesse imediato do eleitor. Talvez tenhamos de caminhar para modelos políticos nacionais e esquemas transnacionais mais imperativos em alguns assuntos críticos, preferencialmente apoiados em incentivos e inibições, mais do que na coerção, mantida alguma forma de legitimação democrática por fórmulas ainda incertas, tema em que a União Europeia aparenta estar à frente.

A equação "demandas da humanidade x possibilidades da natureza" e seus reflexos sobre a soberania territorial e a democracia vão permear a dimensão política do mundo do século 21 e a configuração do dilema "Estado-nação x mundo-humanidade". Oxalá avançando na viabilização saudável.

ALMIRANTE DE ESQUADRA (REFORMADO)

GOSTOSA

MERVAL PEREIRA

Fronteiras
Merval Pereira
O GLOBO - 15/01/11

As fronteiras brasileiras, que se estendem por mais de 16 mil quilômetros - motivo de orgulho de nossa diplomacia, por não termos problemas com nada menos que dez vizinhos -, são também motivo de preocupação crescente, devido, sobretudo, ao contrabando de armas e drogas.

Mas há também questões políticas que reaparecem numa região em que governos de esquerda, como os de Hugo Chávez na Venezuela e Evo Morales na Bolívia, têm que conviver com governos conservadores, como os da Colômbia e do Peru.

Se não chegou a haver uma corrida armamentista, como se temia há alguns anos, há movimentos na região que eventualmente emitem sinais preocupantes.

É o caso de uma suposta base aérea da Rússia que estaria sendo negociada pelo governo da Bolívia, o "centro para a manutenção dos aviões russos que voam na América do Sul", em Chimboré, província de Cochabamba, na região amazônica.

Ao mesmo tempo, o reconhecimento recente pelo governo brasileiro das fronteiras de 1967 para um futuro Estado palestino no Oriente Médio - uma mudança de procedimento do Itamaraty, que sempre considerou um tabu mexer em questões de fronteiras - trouxe à discussão as questões de fronteira na América do Sul.

O Itamaraty sempre teve o máximo cuidado na questão das fronteiras, sem aceitar arbitragens externas. Sempre foi uma posição brasileira consensual não apoiar revisão de tratados, especialmente de fronteiras.

Mesmo em 1975, durante o governo do general Geisel, quando o Brasil, devido à crise do petróleo, se preocupou em tomar uma posição mais claramente pró-árabe - diferente da equidistância assumida até aquele momento -, o ministro das Relações Exteriores Azeredo da Silveira discutiu muito esse aspecto, dizendo que não podíamos aceitar que tratados pudessem ser submetidos a uma arbitragem externa, e nem que as fronteiras pudessem ser revistas ou modificadas pela força.

Para o professor de História Contemporânea da UFRJ Francisco Carlos Teixeira, a preocupação com uma eventual contaminação dessa mudança de atitude do governo brasileiro não corresponde à nossa realidade política, pois "as fronteiras na América do Sul são as mais estáveis, e reconhecidas, do mundo depois de cem anos".

É verdade, porém, que antigas pendências territoriais adormecidas voltaram a ser lembradas no ambiente político convulsionado com a chegada ao poder de dirigentes como Chávez e Morales.

Como a disputa pela Guiana, que a Venezuela considera sua até o Rio Essequibo, território que até hoje classifica de zona de disputa internacional.

Para defender a ex-Guiana Inglesa contra as bravatas bolivarianas, os americanos estariam negociando instalar uma base no Suriname.

Todas as nossas fronteiras dependem do reconhecimento de tratados territoriais firmados, pois a Bolívia não esquece o Acre, nem a França, o Amapá, que consideravam parte da Guiana Francesa.

Sem contar com a Argentina, que ainda considera seu o território de Palmas, na região das Missões.

O professor Francisco Carlos Teixeira, no entanto, considera que, mesmo nos casos de Chile x Bolívia, Peru x Equador e Venezuela x Guiana, há estabilidade, e as guerras foram seguidas de tratados de paz entre as partes, "o que não existe no caso de Israel".

O receio sobre nossas fronteiras seria, na opinião dele, "hipótese com certeza construída em argumentação pró-Israel".

Enquanto não houver um tratado de paz em boa forma do Direito Internacional, diz Teixeira, as atuais fronteiras de Israel serão precárias e contestadas.

Já as fronteiras do Brasil foram arbitradas pacificamente, reconhecidas em tratados internacionais assinados pelas partes soberanas em condições iguais.

Também sobre a suposta base aérea da Rússia em região amazônica, na Bolívia, especialistas são consensuais em considerar que a notícia carece de fundamento.

Francisco Carlos Teixeira acha que é uma informação "plantada", com fins ainda obscuros, pois "os russos hoje não possuem meios logísticos diretos para uma base permanente na região, ao contrário dos EUA, que possuem um poder aeronaval muito superior aos russos e pontos de apoio no Caribe e na Colômbia capazes de alavancar tal pretensão".

Do ponto de vista estratégico, a operação seria de tal fragilidade que se tornaria refém de qualquer poder local médio, como o Brasil ou a Argentina, capazes de operar caças modernos, lembra Teixeira.

Do ponto da política internacional, uma base russa na Bolívia "geraria um mal-estar profundo e permanente no continente, pois os russos não possuem qualquer interesse vital - seja de segurança, narcotráfico, matérias primas - que justifique tal pretensão, custos materiais e políticos", afirma Francisco Carlos Teixeira.

Além do mais, ele lembra que o presidente Evo Morales, em conversa pessoal, declarou-se radicalmente contra toda e qualquer base estrangeira no seu país, e no continente, e inclusive avançou que pediria ao presidente Lugo, do Paraguai, a retirada das bases americanas de Mariscal Estigarribia, que seriam uma ameaça para a área de hidrocarburos da Bolívia.

Também o professor Expedito Carlos Stephani Bastos, coordenador dos estudos de defesa da Universidade Federal de Juiz de Fora, não acredita que exista uma base aérea russa sendo montada no interior da Bolívia:

"Já se falou de uma base americana no Paraguai e ela nunca existiu, era apenas uma pista de pouso de grande porte, mas sem qualquer construção ao redor, e nunca houve grande movimentação que envolvesse equipamentos para ali serem instalados e operados. Foi usada para conter o narcotráfico e nada mais".

Além do mais, diz ele, se isso realmente estivesse ocorrendo, "haveria reações por parte dos Estados Unidos e até mesmo do próprio Paraguai e do Chile, que possuem questões fronteiriças mal resolvidas desde o século XIX entre eles".

MÍRIAM LEITÃO

O câmbio e o custo
Míriam Leitão
O GLOBO - 15/01/11

O Brasil tem várias realidades na exportação. Quem exporta matéria-prima com preços em alta está bem; quem exporta manufaturado que depende muito de mão de obra passa aperto. O setor de calçados é o caso típico do segundo grupo. Mesmo assim, exportou até novembro 15 milhões de pares de sapatos a mais. Armínio Fraga propõe uma guerra de guerrilhas contra o Custo Brasil.

Exportadores de qualquer setor, resmungos contra o câmbio à parte, concordam que o maior vilão é o chamado Custo Brasil; nome genérico de uma lista de problemas que vai da burocracia, estrutura tributária à infraestrutura caindo aos pedaços.

Nos últimos dias, o governo brigou contra o dólar baixo comprando moeda nos mercados à vista e futuro, e entidades empresariais repetiram o pedido de elevação de tarifas de importação. Nem as medidas do governo vão evitar que o real permaneça valorizado, nem protecionismo é solução.
O presidente da Abicalçados, Heitor Klein, admite que são dois os problemas: dólar baixo e custo alto. Lamenta que o país tenha perdido tempo na segunda frente:

- Quando o real valia R$2,20, lá em 2005, o Custo Brasil era amenizado pelo ganho de competitividade da moeda. Então o governo teve tempo para reduzir esse custo.

Hoje, um real equivale a US$0,59 - invertendo-se a forma tradicional de olhar, que seria US$1 igual a R$1,68. Se estivesse a R$2,20, um real equivaleria a US$0,45. Nesta diferença, muitos outros competidores ganham espaço do Brasil, porque todo mundo está derrubando preços de produção exatamente para conviver com a fraqueza da moeda de referência.

Mesmo sabendo onde aperta o galo, a indústria de calçados tem caminhado. Até novembro, o setor exportou 129,5 milhões de pares contra 114,9 milhões em 2009. Alta de 12,7%. Em valor, a alta foi de 9,8%. Ano passado houve recuperação do que havia sido perdido na crise.

- Em 2010, exportamos US$1,4 bilhão; em 2008, US$1,8 bilhão. Perdemos, em dois anos, US$900 milhões, mas isso também pela crise nos Estados Unidos e Inglaterra, nossos maiores mercados - diz Klein.

O diretor comercial da Pegada Calçados, Astor Ranfit, empresa que tem fábricas na Bahia e Rio Grande do Sul e exporta para 40 países, dá um flagrante dos dilemas de quem exporta:

- Em janeiro, subimos 10% os preços de nossos exportados. Seis meses atrás, o dólar estava por R$1,80. Neste meio tempo, demos aumento de salário em reais que são puxados pela falta de mão de obra e inflação interna.

Entrevistei o ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, esta semana, e um dos assuntos foi o pedido da indústria por proteção, diante da queda da competitividade pelo real forte demais:

- Também acredito que o câmbio está exageradamente apreciado. O Brasil está caro, na média com outros países. Mas temos uma indústria muito protegida. Melhor seria uma campanha de redução do Custo Brasil. É mais chato, trabalhoso, mas seria bom se o governo tivesse uma planilha gigante, mapeando problemas e atacando um por um. É uma guerra de guerrilhas. Cada setor tentaria tirar seu obstáculo. O trabalho poderia ser coordenado pelo ministro Palocci, do lugar onde está, como Pedro Parente fez na época em que eu estava no governo.

Essa longa lista do que fazer em cada área para reduzir burocracia, entraves, irracionalidades, melhorar a logística e a estrutura tributária trará ganhos mais permanentes. Armínio acha que inventar a cada hora uma medida cambial pode acabar assustando o investidor de longo prazo, do qual precisamos para sustentar o crescimento.

José Augusto de Castro, da AEB, não hesita quando tem que dizer quem sofre mais com o câmbio: setores manufaturados intensivos em mão de obra e capital nacional, como calçados, têxteis e confecções, móveis. Ontem, a Fiesp divulgou que o déficit comercial dos manufaturados chegou a US$70,9 bi em 2010, alta de 95% sobre 2009. As importações cresceram 45%, contra 18% das exportações.

Mesmo assim, há casos espantosos de sucesso. A Grendene, principal exportadora de sapatos do país, conseguiu crescer as exportações no terceiro trimestre de 2010 em 30% em receita, e em 20% no volume, sobre 2009.

- O câmbio atrapalha bastante porque reduz a margem. Temos que agregar valor ao produto e conquistar mercado pelo diferencial da marca - disse Francisco Schmidt, diretor de relações com investidores da Grendene.

Schmidt diz que a concorrência com a China é difícil:

- Temos que atuar em outra faixa de mercado. O Brasil já foi o maior produtor de calçados do mundo, nos anos 70. Hoje, os chineses produzem 10 vezes mais que nós: 10 bilhões de pares contra 800 milhões.

As Havaianas exportam para 80 países. Segundo a diretora de Sandálias da Alpargatas, Carla Schmitzberger, as vendas em dólares cresceram 39% em 2010 e 25% em reais. Sobre 2008, a venda em dólares aumentou 46%. A exportação é 15% da produção total, mas poderia ser 40%.

- Temos enormes desvantagens em relação a outros países. Nossos custos subiram 14% pela valorização do real. O Custo Brasil dificulta produzir, embarcar, exportar. Os problemas de infraestrutura são grandes. Nossas fábricas são no Nordeste e às vezes temos que mandar o produto de caminhão até o porto de Santos - diz Carla.

O presidente da Abit, Fernando Valente Pimentel, diz que o foco tem que ser na redução do custo:

- Nosso câmbio é flutuante e ninguém defende que deixe de ser. O foco tem que ser a redução do custo de produção em reais.

O setor de embalagens, segundo o presidente da Abre, Maurício Groke, não exporta muito, mas está vendo o produto estrangeiro entrar cada vez mais. A importação subiu 57% no primeiro semestre. A base é baixa, mas há preocupação com a tendência. E faz o mesmo rol de reclamação que os outros sobre custos de produção no país.

PIRATA

GERALDO BARROS

Batalha dos preços relativos pode agravar a inflação

GERALDO BARROS
 FOLHA DE SÃO PAULO - 15/01/11

Em geral, a aceleração da inflação tem origem nos excessos cometidos pelas autoridades monetárias e fiscais.
Esse tipo de inflação provoca altas de preços mais ou menos simétricas nos diversos setores econômicos, não havendo ganhos apreciáveis em alguns deles em prejuízo de outros.
Em outras situações, como atualmente e também nos anos 1970, o aumento da inflação decorre de encarecimento de um grupo de bens -que se torna relativamente escasso nos mercados- em comparação com outros cujos suprimentos não apresentaram alteração importante.
A oferta de bens mais dependentes de recursos naturais (produtos agropecuários, minérios, metais etc.) não vem crescendo no mesmo ritmo da demanda, que acompanha a renda de países emergentes e em desenvolvimento (grandes demandantes daqueles bens).
Esse desequilíbrio fica bem claro nos mercados internacionais, cujos preços constituem parâmetros de paridade para a economia de países individuais.
Por exemplo, os preços das commodities no Brasil refletem seus correspon- dentes internacionais, pos- to que somos grandes exportadores.
Também os preços de bens industriais no Brasil deveriam vincular-se ao mercado externo, caso o país quisesse conquistar novos clientes ou, ao menos, competir com as importações.
Em ambos os casos, a tendência de valorização do câmbio suaviza a trans- missão de preços ao mer- cado interno.
De 2000 a 2010, no mercado externo, os preços relativos em dólares dos alimentos dobraram vis-à-vis os dos industriais. No caso das commodities em geral, os preços relativos quase triplicaram.
Mas, por razões que fogem à lógica econômica, no Brasil foi de apenas 20% o aumento de preço relativo entre agricultura e indústria.
Qual seria a razão dessa discrepância entre os mercados interno e externo? Trata-se de uma batalha travada no mercado interno em que os produtores de commodities seguem a evolução do mercado externo, enquanto a indústria aumenta também seus preços (e salários) sem o lastro do mercado.
À indústria se junta o setor de serviços (financeiro, comunicações, de energia, grande comércio), e ambos, valendo-se do poder de mercado usado em aliança com o dos sindicatos, da legislação indexadora e do poder de influência sobre o governo (fonte de subsídios fiscais, creditícios e tarifários), logram evitar ou minimizar as perdas reais de seus preços.
Com isso, não se dá a mudança necessária nos preços relativos e, enquanto ela não ocorre, a inflação prossegue, podendo se acelerar se as políticas monetária e fiscal não coibirem os repasses de preços descasados do que se passa internacionalmente.
Cabe ao governo ser ágil para reduzir substancialmente o grau de indexação da economia.
Recomenda-se cuidado com o câmbio, que tem cumprido o estratégico papel de suavizar as mudanças havidas no mercado externo.
Perdendo-se esse mecanismo -através de desvalorização artificial-, a batalha interna dos preços relativos vai ficar ainda mais acirrada, aumentando o risco de uma prolongada aceleração inflacionária.
GERALDO BARROS é professor titular da USP/Esalq e coordenador científico do Cepea/Esalq/USP

PAULO RABELLO DE CASTRO

Um 2011 perigoso para europeus e americanos

PAULO RABELLO DE CASTRO
REVISTA ÉPOCA 

A grande maioria das pessoas na Europa e nos Estados Unidos não tem noção clara do enorme risco de colapso dessas economias ao longo de 2011. O povo ainda enche restaurantes e lojas de departamentos e é induzido a pensar que as autoridades estão no controle. Mas nunca houve uma crise como a atual. Os bancos centrais tentam debelar o problema com injeções ainda maiores de liquidez, de dinheiro sem lastro, no organismo da economia já intoxicada por maus créditos.

Qual é a lógica desse estranho estratagema dos bancos centrais? Quem comanda essa manobra, chamada docemente de "relaxamento monetário" (ou quantitative easing, em inglês), é o Fed, o banco central americano. Aumentar a emissão de moeda significa, em bom português, imprimir toda a quantidade de dinheiro que for preciso para, primeiro, não deixar que a economia mundial desembarque numa queda de preços em espiral (a deflação) e, em segundo lugar, não permitir que os bancos parem de conceder novos créditos para atividades produtivas, que ainda sustentam o emprego e os salários. A deflação e a depressão econômica não são perspectivas bem-vindas por nenhuma sociedade, muito menos pelos políticos, que preferem adiar decisões difíceis.

Até agora a manobra deu certo. Evitou um nível explosivo de desemprego e inquietação social, como o observado na Grande Depressão dos anos 30. A Europa tem um alto desemprego, cerca de 10% na média da região, mas longe de ser catastrófico. A inquietação é maior em alguns países, onde a capacidade dos próprios governos em lidar com seu déficit fiscal está mais comprometida. Mas lá não se nota um sentido de urgência na tomada de medidas saneadoras. Todos confiam que o grande fundo de resgate financeiro aprovado no ano passado, da ordem de e 750 bilhões, dê conta do desafio de refinanciar as economias mais vulneráveis. Ao final de 2010, a mídia europeia comemorava a ausência de calamidades econômicas e o comportamento razoável das Bolsas. E apontava mais recuperação dos mercados em 2011. Entretanto, o custo fiscal embutido nesse avanço momentâneo das economias americana e europeia é alto demais e implicará o comprometimento definitivo da frágil saúde dos países mais endividados do Primeiro Mundo.

Quando se critica a inundação de liquidez trazida pela política de afrouxamento monetário, é porque todo o excesso de dinheiro posto em circulação passará a ser usado pelo próprio sistema financeiro para apostar contra o sucesso da política frouxa. Isso sempre ocorre assim. É como o vampiro jurando que não se aproximará do belo e alvo pescoço da mulher em seus braços. O mercado fatalmente jogará contra. Esse "beijo do vampiro" já está espelhado nos preços das matérias-primas, a começar pelos metais, como ouro e cobre, passando pelos variados produtos agrícolas e, igualmente, pelo barril do petróleo, todos elevadíssimos e em níveis muito próximos aos atingidos no ápice da folia especulativa que precedeu à quebra do banco Lehmann Brothers, em setembro de 2008.

Em 2011, três fantasmas assustarão os mercados: as finanças estaduais e o mercado de títulos municipais nos Estados Unidos, muitos dos quais estão na lista dos "prestes a pedir falência judicial", a fim de renegociar com seus funcionários públicos e credores; o mercado de hipotecas (de novo e ainda!) tanto nos Estados Unidos como em países europeus, que enfrentará uma segunda onda de cessação de pagamentos pelos mutuários falidos; e os títulos de dívida emitidos por países que se julgavam fiscalmente equilibrados na Europa. Mas a lista de nações quebradas não para de aumentar. A China, grande credora, com medo da avalanche, antecipou-se: seu vice-primeiro-ministro, numa recente viagem à Europa, ofereceu ajuda, não se sabe a que preço político.

Contra a reversão do panorama falsamente pacificado das economias do Primeiro Mundo, os líderes mundiais só têm nos oferecido silêncio ou explicações obscuras, quando não deslavadas mentiras.
PAULO RABELLO DE CASTRO
é doutor em economia e palestrante, conselheiro de empresas, autor de livros como A grande bolha de Wall Street. 

GOSTOSA

ILIMAR FRANCO

Ala vip
ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 15/01/11

Bastou a presidente Dilma Rousseff reafirmar, na reunião ministerial, que a prioridade de seu governo será o combate à miséria, com a criação de um comitê formado pelos ministérios do Desenvolviniento Social, Educação, Saúde, Planejamento e Fazenda, para que vários ministfos se candidatassem a integrá-lo. Polidamente, a presidente disse "não" a todos os oferecidos, pois "o comitê já estava constituído" e todos poderão participar apresentando suas sugestões de ações. .

O be-a-bá da política

O ministro Luiz Sérgio (Relações Institucionals) aconseIhou ontem seus colegas, na reunião ministerial, a adotarem como rotina receber deputados e senadores. "N!nguém gosta de ser convocado pelo Congresso. Para que isso não aconteça, tem que reservar espaço para receber os parlamentares", disse ele, de acordocom os presentes. Luiz Sérgio também pregou unidade de ação; Foi um recado para o niinistro Carlos Lupi (Trabalho), que criticou o valor do salário minimo proposto pelo governo."É natural divergir na formulação, mas, depols que vira proposta, tem que defender, senão fraciona a base", afirmou Luiz Sérgio.




"Divergências públicas não são mais possíveis, tem que ser esgotadas internamente" - presidente - Dilma Rousse// na abertura da reunião ministerial




CAVALO DE PAU

A presidente Dilma Rousseff não gostou da confusão criada pelo ministro Alexandre Padilha (Saúde) com o PMDB. Disse a ele que não dá para começar o govemo dando "cavalo de pau", em referência às trocas de comando feitas na pasta sem negociação prévia. Dilma lembrou ainda que o ano começa com 22 Medidas Provisórias a serem votadas pelo Congresso. Ou seja, não dá para ter crise na base aliada.

Missão

O diretor-geral da Aneel, Nelson Hubner, permaneceu no Rio ontem para comandar pessoalmente o restabelecimento da energia elétrica na região atingida pelas fortes chuvas..Ficou por determinação da presidente DIlma Rousseff.

Improdutivo

A presidente Dilma Rousseff encerrou a reunião ministerial ontem dizendo que essa foi a primeira e a última desse tipo. Ela prefere fazer reuniões setorials. "Desse jeito é inviável, não dá para aprofundar nada", reclamou a presidente.

Resgates devem ser o foco

Os prefeitos de Teresópolis, Jorge Mário Sadlek, e de Petrópolis, Paulo Mustrangi, na reunião com a comitiva presidencial, só falaram de verbas para a reconstrução. A presidente Dilma Rousself discordou.de ambos: "Nessas primeiras horas, o foco deve ser resgatar as pessoas. Elas precisam ser socorridas para evitar mais mortes. A reconstrução é assunto para depols". Ontem, na reunião ministerial, ela repetiu o mesmo racíocinio.

Sem apoio, candidatura descartada

O presidente do PCdoB, Renato Rabelo, ligou ontem, no final da manhã, para o deputado Marco Mala (PTRS) comunicando que o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) não disputará a presidência da Câmara. "Ele não está retirando porque nunca colocou", disse o presidente do partido a Maia. O engajamento do PSB na candidatura petista foi decisivo para implodir os planos de Aldo. O comunista sempre dizia que estava aguardando cartas. Pelo visto, elas não chegaram.

O MINISTRO Antonio Palocci (Casa Civil) ficou com a tarefa, na reunião ministerial, de cortar a palavra dos ministros que extrapolassem os cinco minutos estabelecidos para cada pronunciamento.

GÊNIO. O prefeito paulistano Gilberto Kassab, que se filia ao PMDB em março, quer manter o controle do DEM paulista, eleger Marcos Montes (MG) lider do DEM, e tirar o DE&i nacional das mãos dos aecistas.

O LÍDER do PSB, Rodrigo Rollemberg (DF), anuncia segunda-feira o apoio do partido a candidatura de Marco Mala (PT-RS) à presidência da Câmara.

FÁBIO ROMÃO

Indexação no Brasil vem diminuindo, mas ainda é alta

FÁBIO ROMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 15/01/11

Para os economistas que se dedicam ao estudo da evolução dos preços, os últimos anos trouxeram uma boa-nova e um pesar.
A notícia alvissareira é a constatação de que o IGP-M não tem mais a ascendência sobre os preços administrados que tinha no passado (hoje, a influência do IPCA é bastante superior).
O principal responsável tem sido a substituição do IGP-M por índices de preços setoriais no cálculo do reajuste das tarifas -o que tem feito a variação do IGP-M no ano que se encerra deixar de ser bom sinalizador quanto à evolução dos preços monitorados no ano que se inicia.
Grosso modo, esses índices setoriais consideram cesta de bens e serviços que refletem os custos específicos de cada setor ajustados por fatores de produtividade.
Mas a indexação deixou de ser preocupação? Longe disso, pois, seja via tarifas públicas, seja pela "indexação informal", os preços no presente ainda carregam muito dos resultados do passado.
Exemplo: dado que a inflação se acelerou de 2009 para 2010 -passando, no caso do IPCA, de 4,3% para 5,9%-, não por acaso projetamos que os preços administrados se acelerarão de 3,2% em 2010 para 4,1% em 2011.
Quanto à indexação informal, os reajustes do aluguel são representativos dessa prática: é evidente que a variação dos gastos com aluguel é fortemente vinculada à variação do IGP-M nos 12 meses anteriores e a aceleração desse último em 2010 pressionará os reajustes de aluguel ao menos até março.
O gasto com educação também incomodará, pois parte do custo da atividade vem dos salários (em alta).
Mas os salários são indexados? Sim, mas há ressalvas: 1) a indexação hoje difere do antigo "gatilho salarial";
2) o Dieese apurou que em várias ocasiões (sobretudo entre 1996 e 2003) parcela relevante dos trabalhadores obteve, nos seus dissídios salariais anuais, reajuste anual inferior à variação do INPC.
3) a LCA estimou que, no Brasil, perto de 30% dos trabalhadores têm rendimentos ao redor do salário mínimo e que, portanto, ele também é um importante indexador.
Esse último ponto nos leva a concluir que a possível definição do mínimo entre R$ 540 e R$ 550 representaria importante freio sobre preços relacionados direta ou indiretamente aos serviços.
É evidente que novos passos no sentido de amainar a memória inflacionária devem ser dados. Esse é um dos requisitos para que tenhamos juros compatíveis com os do resto do planeta.
*FÁBIO ROMÃO é economista da LCA.