A batalha dos alimentos
BENJAMIN STEINBRUCH
FOLHA DE SÃO PAULO - 15/02/11
As duas graves insurreições que eclodiram no norte da África recentemente, na Tunísia e no Egito, têm a ver com problemas políticos, naturalmente, porque ocorreram por conta de descontentamentos com governos que perderam sua representatividade popular depois de longos anos no poder.
Mais do que isso, porém, segundo os analistas internacionais, essas revoltas foram construídas por populações jovens atingidas ao mesmo tempo pela falta de oportunidades de trabalho e pelo forte aumento dos preços dos alimentos. Revoltas populares de menor vulto se deram também em países como Marrocos, Argélia, Iêmen e Jordânia, sempre tendo como pano de fundo os preços dos alimentos.
O Brasil é um dos países beneficiados por esse movimento de preços, porque é grande produtor e exportador agrícola. Mas, embora beneficie o Brasil, não se pode negar que o problema do custo da alimentação é crucial para o mundo de hoje e exige atitudes corajosas por parte das autoridades mundiais. Essas intervenções, porém, não podem ser conduzidas para colocar a conta nos ombros dos produtores de alimentos.
A reação europeia, por exemplo, tem sido muito forte. O presidente da França, Nicolas Sarkozy, na presidência do G-20, está defendendo a criação de um mecanismo para evitar a volatilidade dos preços das commodities, com a formação de estoques reguladores de alimentos.
A sugestão é boa, desde que não introduza artificialidades no mercado e seja voltada a evitar ações especulativas no comércio global de alimentos. Mas ela merece uma pergunta e uma ressalva. A pergunta: por que nunca partiu do Primeiro Mundo a ideia de criar estoques reguladores durante os longos anos em que os preços das commodities agrícolas estavam em baixa?
A ressalva: a alta dos alimentos advém da escassez e do extraordinário aumento da demanda de alimentos no mundo, muito acima da oferta. Além disso, decorre de um movimento cíclico na produção mundial, bastante influenciado pelas condições climáticas. Nessas condições, não havendo excesso de produção, é muito difícil pensar em formar estoques reguladores.
Em 2008, quando os alimentos também haviam subido bastante, um funcionário da ONU disse que os culpados pela alta eram os produtores de biocombustíveis e os responsabilizou pela fome no mundo. Chamei, então, essa afirmação de ‘despautério', porque havia fatores muito mais importantes que explicavam e ainda explicam a elevação dos preços dos alimentos.
O primeiro aspecto, atualmente, é a quebra das safras mundiais de grãos, fator muito mais importante do que a ação dos especuladores na formação de preços. O volume de produção se torna ainda mais insuficiente quando se observa a crescente população mundial e a ascensão dos milhões de cidadãos de países emergentes à condição de consumidores na cadeia alimentar global.
O segundo aspecto tem a ver com a distorção provocada pelos bilionários subsídios oferecidos pelos EUA e por países da Europa, em especial a França, para produtores ineficientes de alimentos.
Esses doadores de subsídios forjam, há décadas, a formação de preços irreais que impedem países pobres de desenvolver culturas que poderiam colaborar para o aumento da oferta mundial de alimentos e para a redução de preços.
Para países paupérrimos da África, esses subsídios representam uma concorrência desleal criminosa, porque sufocam qualquer tentativa de desenvolver produções agrícolas locais.
Mas o continente depende de políticas globais de ajuda técnica e financeira, além das mudanças no sistema de subsídios à agricultura do Primeiro Mundo, que não podem ser bruscas para não provocar um colapso produtivo.
Alimentação será o tema do ano no G-20, uma batalha que começa nesta semana, em Paris, e termina na reunião de chefes de Estado, em outubro. O Brasil não pode se omitir.
Mais do que isso, porém, segundo os analistas internacionais, essas revoltas foram construídas por populações jovens atingidas ao mesmo tempo pela falta de oportunidades de trabalho e pelo forte aumento dos preços dos alimentos. Revoltas populares de menor vulto se deram também em países como Marrocos, Argélia, Iêmen e Jordânia, sempre tendo como pano de fundo os preços dos alimentos.
O Brasil é um dos países beneficiados por esse movimento de preços, porque é grande produtor e exportador agrícola. Mas, embora beneficie o Brasil, não se pode negar que o problema do custo da alimentação é crucial para o mundo de hoje e exige atitudes corajosas por parte das autoridades mundiais. Essas intervenções, porém, não podem ser conduzidas para colocar a conta nos ombros dos produtores de alimentos.
A reação europeia, por exemplo, tem sido muito forte. O presidente da França, Nicolas Sarkozy, na presidência do G-20, está defendendo a criação de um mecanismo para evitar a volatilidade dos preços das commodities, com a formação de estoques reguladores de alimentos.
A sugestão é boa, desde que não introduza artificialidades no mercado e seja voltada a evitar ações especulativas no comércio global de alimentos. Mas ela merece uma pergunta e uma ressalva. A pergunta: por que nunca partiu do Primeiro Mundo a ideia de criar estoques reguladores durante os longos anos em que os preços das commodities agrícolas estavam em baixa?
A ressalva: a alta dos alimentos advém da escassez e do extraordinário aumento da demanda de alimentos no mundo, muito acima da oferta. Além disso, decorre de um movimento cíclico na produção mundial, bastante influenciado pelas condições climáticas. Nessas condições, não havendo excesso de produção, é muito difícil pensar em formar estoques reguladores.
Em 2008, quando os alimentos também haviam subido bastante, um funcionário da ONU disse que os culpados pela alta eram os produtores de biocombustíveis e os responsabilizou pela fome no mundo. Chamei, então, essa afirmação de ‘despautério', porque havia fatores muito mais importantes que explicavam e ainda explicam a elevação dos preços dos alimentos.
O primeiro aspecto, atualmente, é a quebra das safras mundiais de grãos, fator muito mais importante do que a ação dos especuladores na formação de preços. O volume de produção se torna ainda mais insuficiente quando se observa a crescente população mundial e a ascensão dos milhões de cidadãos de países emergentes à condição de consumidores na cadeia alimentar global.
O segundo aspecto tem a ver com a distorção provocada pelos bilionários subsídios oferecidos pelos EUA e por países da Europa, em especial a França, para produtores ineficientes de alimentos.
Esses doadores de subsídios forjam, há décadas, a formação de preços irreais que impedem países pobres de desenvolver culturas que poderiam colaborar para o aumento da oferta mundial de alimentos e para a redução de preços.
Para países paupérrimos da África, esses subsídios representam uma concorrência desleal criminosa, porque sufocam qualquer tentativa de desenvolver produções agrícolas locais.
Mas o continente depende de políticas globais de ajuda técnica e financeira, além das mudanças no sistema de subsídios à agricultura do Primeiro Mundo, que não podem ser bruscas para não provocar um colapso produtivo.
Alimentação será o tema do ano no G-20, uma batalha que começa nesta semana, em Paris, e termina na reunião de chefes de Estado, em outubro. O Brasil não pode se omitir.