quarta-feira, novembro 09, 2011

ANCELMO GOIS - A crise chegou



A crise chegou
ANCELMO GOIS
O GLOBO - 09/11/11

Gente do governo trabalha com a hipótese de crescimento negativo do PIB neste último trimestre.
Neste caso, o PIB brasileiro de 2011 poderá ficar um pouco abaixo de 3%.

Conta salgada
A 52a- Vara do Trabalho do Rio homologou acordo milionário entre a Cândido Mendes e o professor Edson de Oliveira Nunes, ex-presidente do IBGE e do Conselho Nacional de Educação.
A dívida, de R$ 4,8 milhões, será paga em 60 meses.

Contra a injustiça I
Entre outros, confirmaram presença no ato contra a tunga dos royalties do Rio, amanhã, Regina Casé, Fernanda Abreu, os pagodeiros do Sorriso Maroto e o grupo gospel Diante do Trono.

Contra a injustiça II
A igreja aderiu à luta pelos royalties. Dom Orani Tempesta, o arcebispo boa gente, e padre Jorjão, que é fofo, participarão.

Contra a injustiça III
Cissa Guimarães será mestre de cerimônias do ato.

Contra a injustiça IV
Lulu Santos vai cantar.

Laboratório BG
A britânica BG, multinacional de óleo e gás, decidiu transferir para o Rio 80% de suas pesquisas de tecnologia.
Procura um terreno na Zona Norte para montar aquele que deverá ser o maior laboratório do grupo no mundo.

Cinzas de Abdias
Domingo, a viúva de Abdias Nascimento, Elisa Larkin, depositará as cinzas do grande líder do movimento negro brasileiro no Quilombo dos Palmares, AL.
Após a instalação de uma lápide, haverá oferenda de bebidas aos ancestrais africanos.

O cartola da vez
Impressiona como andam enchendo a bola do cartola Andrés Sanchez. Na Comissão da Copa, ontem, na Câmara, várias autoridades ficaram no plenário, enquanto o presidente do Corinthians era solenemente convidado a compor a mesa.

Faltam 946 dias
Quarenta e cinco moradores de rua trabalham nas obras da Arena Fonte Nova, tocadas pelo consórcio Odebrecht/OAS, em Salvador. No fim da jornada, a turma dorme numa igreja próxima do futuro estádio da Copa de 2014.

Solteiro
Daniel Alves, craque da Seleção e um dos finalistas da Bola de Ouro da Fifa, está solteiro.

Grande hotel
A 7ª Vara Empresarial do Rio condenou a inglesa Orient Express, que controla o Copacabana Palace, a indenizar em cerca de R$ 65 milhões alguns ex-sócios minoritários do hotel, entre eles a família Paula Machado.
Seria para ressarcir os danos que sofreram em 1995, quando a Orient comprou mais ações do Copa.

Urubu-rei
O Flamengo vai adotar um Urubu-rei do Zoológico do Rio.
O clube mandará R$ 500 por mês para que o penoso tenha casa, comida e roupa lavada.

Por Lula
Moradores da comunidade de Santa Clara do Guandu, em Nova Iguaçu, RJ, participarão de uma missa, amanhã, na Igreja de Santo Agostinho, ali perto, pela recuperação de Lula.
Será celebrada pelo padre João Batista, haitiano radicado no Brasil.

Calma, gente
Sábado, por volta de 14h, Adriana Bombom, a ex de Dudu Nobre, envolveu-se num barraco no supermercado Guanabara da Barra, no Rio. A fila da carne estava grande, e nossa Bombom foi acusada de furar a vez. Grita daqui, berra dali, a confusão esquentou.

Retratos da vida
Ontem de manhã, na Rua Senador Vergueiro, no Flamengo, no Rio, uma senhorinha distribuía aos motoristas rosas e folhetos com textos do médium Chico Xavier. Pedia paz no trânsito e explicava que, ano passado, perdeu a filha e dois netos num acidente.

ROSÂNGELA BITTAR - À distância da grandeza


À distância da grandeza
ROSÂNGELA BITTAR
Valor Econômico - 09/11/2011

A coreografia da desistência de Marta Suplicy a concorrer à prefeitura de São Paulo em 2012, só para deixar o caminho livre ao candidato de Lula, o popular ex-presidente da República e presidente de honra do PT, uma espécie de proprietário do partido desde que passou a ser por ele considerado eleitoralmente invencível, representou um enterro de luxo de um dos principais instrumentos democráticos nos sistemas eleitorais de todo o mundo: as campanhas eleitorais prévias, ou primárias.

No Brasil, a disputa pela primazia da candidatura levou a rachas, divisões inconciliáveis, abertura de dissidências e criação de novos partidos para abrigar facções insatisfeitas.

Isso vinha acontecendo em praticamente todas as legendas com uma exceção: o PT realizou boas e eficientes prévias na época em que a democracia interna era exercida sem os solavancos que a golpearam depois que o partido passou a se instrumentalizar do poder central.

A morte precoce das prévias é retrocesso no sistema eleitoral

Lula nunca foi um amante das prévias. Tanto que irritou-se com Eduardo Suplicy e ameaçou tomar a bola do jogo quando, estando candidato natural, foi desafiado a disputar eleições primarias. O senador não tinha a menor chance, mas a ojeriza a se ver contrariado levou o ex-presidente a sair do sério.

O PT insistiu, teoricamente, no modelo do qual ficou sendo exemplo. Em congresso partidário manteve as prévias em seus estatutos, depois de estudos e ajustes das regras elaborados por uma comissão de notáveis. O feito, porém, não ficou de pé ao primeiro casuísmo.

Imaginava-se que a disputa municipal de São Paulo iria consagrar as prévias tanto pelo PT, onde dois candidatos fortes - um deles pelo dedazo e desejo pessoal do ex-presidente, a outra pela história política - e três médios disputariam, como pelo PSDB, seu adversário da última década. À falta de um candidato para chamar de natural, o PSDB começou a preparar-se para as prévias entre quatro nomes médios do partido.

No caso de Lula, o temor da derrota na prévia levou o ex-presidente a investir força e poder na pressão para a desistência dos demais candidatos, cujo apoio agora irá buscar para dar densidade eleitoral ao seu preferido.

No PSDB, a ainda incipiente democracia interna parece já estar sendo tragada pela facilidade do acerto a portas fechadas. A disputa primária foi transferida de novembro para janeiro, agora pretende-se protelá-la um pouco mais para dar tempo ao surgimento de um acordo político que evite a preliminar.

Tal qual houve agora no PT, a direção do PSDB, que tem lado e está em litígio com uma das facções da legenda, jamais deu condições à ideia das prévias, seja para as disputas municipais, seja para o pleito presidencial.

Vai prevalecendo a fuga, o medo, o acerto interno e oculto, a rasteira, o autoritarismo, o consequente enfraquecimento partidário.

A eleição municipal de São Paulo, em 2012, seria um exemplo perfeito da utilidade da prévia. Os pré-candidatos são pouco conhecidos, não têm realizações a apresentar, são de uma geração ainda não testada, políticos de pouca sintonia com a cidade. Quando, senão no período pré-campanha eleitoral, seria o melhor momento para informação do eleitorado?

O cientista político e sociólogo Antonio Lavareda resume: "A utilidade das prévias é reconhecida internacionalmente. Faz-se na Europa, na América Latina, além das mais conhecidas, as primárias americanas. A prévia oxigena o partido, fortalece o candidato porque o torna mais conhecido, dá oportunidade ao eleitor de conhecer e ao partido de apresentar as teses que vão ganhar maior adesão na opinião pública, amplia a ocupação na mídia". Como diz Lavareda, a importância das prévias "é óbvia".

Cada vez mais se fazem, pelo mundo, prévias abertas, exatamente para explorar suas vantagens. Abertas aos filiados, aos militantes e até aos cidadãos, os eleitores em geral.

O PSDB fez de conta que tem democracia interna e aprovou as prévias na Convenção que elegeu a atual Executiva. O PT ensaiou o mesmo ao assumir compromisso com a disputa preliminar. O passo atrás, separando teoria e prática, é retrocesso político.

Lavareda considera as prévias tão necessárias que deveriam ser adotadas mesmo por um candidato único, como foi o caso de Nicolas Sarkozy, na França. "De tudo o que estudei e li sobre prévias, no mundo, hoje tenho certeza que mesmo que só houvesse um único candidato, ele devia fazer prévia, para chegar mais forte à eleição. Submete seu nome e dá oportunidade de engajamento aos militantes, interessados em geral, filiados, simpatizantes, dá sentimento de poder ao eleitorado".

A prévia permite também que um candidato de Estado pequeno, pouco conhecido, comece a empolgar o eleitorado e surgir como uma grande surpresa. "Na prévia o partido já sabe o discurso que tem mais chance de dar certo, já sabe as vulnerabilidades de cada candidato. É um momento interessantíssimo".

Ajudando a enterrar as prévias, no Brasil, há a justiça eleitoral, que dá argumentos pseudo legais para fugirem da disputa. O período oficial de campanha é muito curto e a legislação veda a propaganda partidária fora desse período, geralmente de julho a outubro. A legislação também considera crime os partidos usarem a propaganda partidária, veiculada em maio, junho, para apresentar seus candidatos.

A Justiça Eleitoral precisa definir uma posição, ou uma normatização das prévias. Mal ou bem elas são uma fase de campanha que, se interpretada como infração, condena o candidato depois de eleito. O TSE, que tem legislado sobre eleições, no Brasil, daria grande contribuição ao fortalecimento dos partidos e democratização do sistema se editasse resolução para esclarecer que as prévias partidárias não são propaganda eleitoral. São um período de escolha do candidato.

O ano já se perdeu para Dilma. É preciso terminar os reparos com mais pressa, concluí-los até dezembro, para que possa começar a governar por três anos que, na realidade, são dois, uma vez que o último é dedicado à reeleição. Um mandato encolhido pelos erros na montagem do governo, mais do que pelas circunstâncias, que não vai fluir enquanto houver necessidade de um conserto por mês.

CRISTIANO ROMERO - A atuação do BC em dias anormais


A atuação do BC em dias anormais
CRISTIANO ROMERO
Valor Econômico - 09/11/2011

Numa cena testemunhada por mais de uma pessoa, Alan Greenspan, ex-presidente do Federal Reserve (Fed), se aproximou do presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, e comentou: "Vocês fizeram um movimento forte, hein!". O movimento foi a redução, no dia 31 de agosto, da taxa básica de juros (Selic), de 12,5% para 12% ao ano. O comentário foi feito em jantar oferecido pelo JP Morgan, em Washington, durante a reunião anual do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial.

O comentário de Greenspan não foi necessariamente crítico. Ele expressou, na verdade, surpresa com a ação do BC brasileiro, que decidiu cortar a taxa de juros mesmo com a inflação acima da meta (4,5%) e em meio a um contínuo processo de deterioração das expectativas dos agentes econômicos.

O ex-presidente Lula costumava dizer que é muito mais fácil subir juros quando a inflação está alta. Do ponto de vista da política monetária, é melhor elevá-los antes que a inflação aumente porque, muitas vezes, o BC é surpreendido por choques de oferta, como os do fim do ano passado e do início deste ano.

A surpreendente decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) fez analistas importantes acreditarem que o BC rasgou a cartilha e abandonou o regime de metas. Essa percepção foi ampliada pelo falatório que passou a dominar Brasília nos dias seguintes à reunião do Comitê.

Ministros de várias Pastas começaram a disseminar a versão de que o Copom baixou os juros porque assim decidiu a presidente Dilma Rousseff. Alguns sustentaram que o governo, a partir de agora, teria uma meta de juros, em vez de uma de inflação. Outros espalharam a tese, transformada em projeto de lei pelo senador Lindberg Farias (PT-RJ), de que o BC, daqui em diante, teria mais dois objetivos a cumprir, além da estabilidade do poder de compra da moeda - estimular o crescimento e o emprego.

Junte-se a esse quadro o fato de a decisão do Copom não ter sido unânime. Cinco diretores votaram pela redução da taxa Selic, enquanto dois se opuseram. O dissenso mostrou que havia quem considerasse o movimento precipitado. Entre a reunião de agosto e a do dia 19 de outubro, o Copom recobrou a unidade. Em decisão unânime, promoveu novo corte de 0,5 ponto percentual nos juros, e desta vez sem surpreender ninguém.

A tradição do regime de metas no Brasil, e provavelmente na maioria dos países que o adotam, mostra que a decisão de agosto foi, de fato, diferente. Antes, o Banco Central não reduzia juros com a inflação acima da meta. Entender, no entanto, por que fez isso agora pode ajudar a antever futuros passos da autoridade monetária.

Não houve mudança no regime de metas, embora no governo e fora dele muitos torçam para que isso ocorra. O regime é "forward-looking", isto é, ele olha a economia de forma prospectiva. Foi isso o que o Copom fez quando iniciou o alívio monetário antes do esperado.

O BC constatou que o Produto Interno Bruto (PIB) já estava desacelerando fortemente e que as condições da economia mundial haviam mudado drasticamente desde o início do ano e que isso teria um efeito adicional, negativo, sobre o Brasil. De fato, o IBC-Br, índice de atividade econômica calculado pelo BC e que tem forte correlação com o PIB apurado pelo IBGE, caiu fortemente em agosto (-0,53%), surpreendendo o próprio mercado, que, até então, ainda via a atividade bastante aquecida.

No cenário internacional, o que se viu entre janeiro e setembro foram revisões seguidas, sempre para baixo, das perspectivas de crescimento das economias avançadas. Isto, sem falar nos episódios que reavivaram a crise financeira internacional na Europa, afetando as expectativas do mercado doméstico.

É bom lembrar que o BC não apostou no colapso da economia mundial. Comunicou apenas que a crise, iniciada em 2008/2009 e agravada recentemente, será prolongada, mas possivelmente sem um evento de ruptura, como o que ocorreu em 2008, quando houve a quebra do banco Lehman Brothers. Num exercício econométrico, calculou que a crise lá fora, sem ruptura, terá impacto negativo na economia brasileira equivalente a 1/4 do ocorrido em 2008/2009.

Naquela crise, o PIB brasileiro perdeu cinco pontos percentuais de crescimento. Agora, por esse exercício, perderá 1,25 ponto. Se houver ruptura lá fora, o BC será obrigado a refazer o exercício porque o impacto será mais forte. A avaliação, neste momento, é a de que, quanto mais se demora para resolver questões como as da Grécia e dos bancos europeus, maior é a probabilidade que ocorra um evento de crédito.

É razoável esperar que, de agora em diante e mais do que fez no passado, o BC tome suas decisões com um olhar atento sobre o futuro. Isto não significa que abandonará o regime de metas, mas que procurará não se deixar surpreender por circunstâncias domésticas e internacionais, estas marcadas por elevado grau de imprevisibilidade. Ademais, o banco mantém o compromisso de trazer a inflação, hoje em 7,3%, para 4,5% até o fim de 2012.

ILIMAR FRANCO - Baixando a bola


Baixando a bola
ILIMAR FRANCO 
O GLOBO - 09/11/11

O governo Dilma está abandonando a ideia de fazer da Rio+20 um grande encontro de chefes de Estado. Mesmo antecipado para junho, vários chefes de Governo terão dificuldades de agenda. A instabilidade na Europa e as eleições nos EUA e na Alemanha funcionam como inibidores. Nos próximos dias, o Planalto lança site especial sobre a Rio+20, com gravações da presidente Dilma e dos ministros Antonio Patriota e Izabella Teixeira.

Flagrante: de coragem a amante
O deputado Reguffe (PDT-DF) foi quase linchado ontem na reunião com o ministro Carlos Lupi (Trabalho) ao propor que ele se licenciasse do cargo até o fim das investigações. Os mais exaltados eram o deputado Vieira da Cunha (PDT-RS) e o ex-governador Ronaldo Lessa. “Isso aqui é um partido de gente de coragem. Quem não tem coragem pede para sair”, disseram eles. Já o senador Pedro Taques (PDT-MT) não fez sucesso ao dizer que o partido é tratado como “amante” pelo governo. “O senhor entende muito de direito, mas não entende nada de amante, que geralmente é mais bem tratada do que a esposa”, contestou Miguelina Vecchio, presidente do PDT mulheres.

"Não há democracia fora do alcance da soberania do voto popular” — Cássio Cunha Lima, senador (PSDBPB), na posse ontem, em função da decisão do STF de que a Lei da Ficha Limpa não se aplica às eleições de 2010

PROVOCAÇÃO. Muita gente no Palácio do Planalto não gostou do tom das declarações feitas ontem pelo ministro Carlos Lupi (Trabalho) sobre as denúncias de irregularidades na sua pasta. Consideram que ao dizer que “para me tirar, só abatido à bala”, ele contribuiu para aumentar a temperatura. Sobretudo ao desafiar a imprensa, afirmando: “Para desconforto de vocês, vão me ver aqui ano que vem, em 2012. Pela relação que tenho com a Dilma, não saio daqui nem na reforma (ministerial)”.

Mobilização
O governador Renato Casagrande, a exemplo do Rio de Janeiro, também está convocando uma manifestação pública para amanhã, em Vitória, em defesa dos direitos constitucionais do Espírito Santo sobre os royalties do petróleo.

Sobrou para os gráficos
A Força Sindical suspendeu a mobilização que vinha fazendo para organizar uma paralisação dos gráficos, marcada para segunda-feira, temendo piorar a situação do ministro Carlos Lupi (Trabalho). Como o setor mais afetado seria a imprensa, a central ficou com medo de a greve ser interpretada como retaliação. “Iam dizer que era o Clarín”, disse um sindicalista, citando os problemas do jornal argentino com o governo Kirchner.

Esticando a corda
A presidente Dilma não aceitou o acordo proposto pela oposição, alegando que prorrogar a DRU por apenas dois anos era um “remendo” e que isso poderia “fragilizar” o país. E recomendou aos líderes que façam valer a maioria.

Pretérito
O argumento de líderes do PT para afastar a possibilidade de impeachment do governador Agnelo Queiroz (DF) é que as denúncias são anteriores ao mandato, como a de recebimento de propina quando era diretor da Anvisa.

Me dê motivo
O líder do DEM no Senado, Demóstenes Torres (GO), diz que a oposição pode votar a favor da DRU. Ele acredita que seria meio caminho andado se o governo Dilma se comprometesse com o aumento do orçamento da Saúde em 2012.

O PR voltou para a base governista. O deputado Luciano Castro (PR-RR) explica: “Era independência ou morte. Entre morrer, a gente achou melhor voltar (para a base do governo)”.

IDEIA FIXA. O senador Magno Malta (PR-ES), ao receber ontem um telefonema da ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais), a tratou por “Idruli”. A ministra só quer saber da aprovação da DRU.

DEPOIS de muito vai e volta, foi publicada ontem a nomeação de Fábio Rios para a Secretaria Nacional do Turismo. A indicação é do PMDB da Bahia.

MARTHA MEDEIROS - Peru



Peru
 MARTHA MEDEIROS 
ZERO HORA - 09/11/11

Algumas atrações turísticas, de tão fotografadas, frustram a expectativa quando conhecidas ao vivo. Não é o caso de Machu Picchu. Por mais que se tenha visto mil vezes aquela imagem da montanha pontiaguda com as ruínas da cidadela inca a seus pés, nada se compara à emoção de estar lá.

O Peru é perto, porém pouco visitado por nós. Quem planeja um roteiro cultural e gastronômico, quase sempre elege a campeã Argentina, ou então o Chile, com suas vinícolas e estações de esqui. O Peru? Coisa pra surfista e bicho-grilo.

Pois temos hoje um voo direto que liga Porto Alegre a Lima em pouco mais de quatro horas, o que é um convite para expandir nosso conhecimento sobre a América do Sul. Se europeus e asiáticos atravessam oceanos para visitar esse país andino, por que nós, vizinhos, permanecemos indiferentes?

Minha viagem se iniciou pela graciosa Cuzco, que foi o coração do império inca. Depois, fomos de trem até Aguas Calientes, num percurso que margeia o Rio Urubamba e que invade a floresta amazônica, proporcionando um visual arrebatador. Desse pequeno vilarejo, saem ônibus a cada cinco minutos que levam a Machu Picchu. Uma vez lá, escolha como entrar em transe.

Há os que ficam meditando diante da energia que emana do lugar. Há os que fazem trilhas que os deixam fisicamente preparados para disputar um triatlo. Há quem não consiga parar de clicar – é um dos locais mais fotogênicos do planeta. E há os que emudecem e ficam gratos pela oportunidade de conhecer um pouco mais da história da civilização e por constatar o quão pequenos somos diante de uma natureza tão intimidante.

A altitude incomoda, mas não derruba. Folhas de coca combatem o ligeiro mal-estar. Masquei algumas. Muito amargas, troquei por um Trident. O chá é bebível, mas insípido. Sendo ecologicamente incorreta, bom mesmo para não tontear é um infalível comprimido, consulte seu médico.

Estivemos de passagem também por Ollantaytambo e Pisac, incrustadas no Vale Sagrado, e mais uma vez ficamos sem fala diante do visual montanhoso. E, por fim, Lima, a única capital sul-americana banhada pelo mar, apesar da água gélida e da areia preta. Se não é nenhuma Ipanema, ao menos tem as espetaculares falésias, que dão um tom dramático ao cenário.

E tem o artesanato, as lhamas, a culinária: nunca comi tão bem. Fui por minha conta com amigas que, além de amigas, são profissionais hábeis em reunir um pequeno grupo e proporcionar experiências sensitivas e surpreendentes, como a viagem no luxuoso trem da linha Orient Express, o piquenique sobre uma colina do Vale Sagrado e o tour de bicicleta pelas ruas da capital peruana. Estou falando de Clarisse Linhares e Mylene Rizzo, que, em parceria com a Porto Brasil, organizam essas excursões diferenciadas. São professoras de história da arte, mas o que mais se aprende com elas é ter gosto pela vida.

PAULO SANT’ANA - Morrer como bebês



Morrer como bebês
 PAULO SANT’ANA
ZERO HORA - 09/11/11 

O psicanalista Paulo Sérgio Guedes é uma pessoa brilhante. E eu tenho um respeito enorme pelas pessoas brilhantes.

Aprendo a respeitar até o que discordo nas pessoas brilhantes.

Pois o Paulo Guedes sempre apregoou uma coisa que aparentemente é absurda: ele diz que Deus o livre de viver 80 anos.

Quis dizer que não quer encher de transtornos e incômodos sua mulher ou seus filhos com sua velhice.

Ele não está muito longe dos 80 anos, o que torna sua frase muito corajosa.

Sendo assim, o psiquiatra em referência fez um verso monumental no seu último livro: “É preciso morrer antes que termine a vida”.

Examine bem esse verso. O que ele quis dizer, em última análise, é que de nada adianta continuar vivendo se já se está morto.

Ou, então, que é necessário morrer, por mais absurdo que isso pareça, quando ainda se está vivo.

Eu entendo o Paulo Sérgio, espero que meus leitores também o façam.

Porque uma coisa é a vida útil, outra coisa é a vida vegetativa, alvo de doenças muito conhecidas que tiram do homem a memória e a consciência, por exemplo.

Há pessoas, a maioria delas, que dizem querer viver até os 90 anos. Não imaginam, passados os 85 anos, que se tornarão uns trambolhos, que só atrapalharão a vida dos outros.

É preciso, além de pensar em nós mesmos, pensar nos outros.

Nada mais somos nesta vida do que nós em relação aos outros.

Muito bom que atinjamos os 90 anos, que continuemos comendo, bebendo e indo passear no parque.

Mas e os outros, que terão de colocar comida e bebida em nossa boca e terão de nos carregar para o parque e nos trazer de volta após o passeio?

E os outros?

Acho mais lícito o seguinte sonho: “Deus me dê vida útil até os 80 anos!”.

Ou seja, que, se eu tiver de ser um ancião, que o seja, mas que não incomode com isso os outros.

Em última análise, temos o direito lícito de sermos felizes na velhice, desde que isso não custe a aflição dos que nos rodeiam.

Por isso é que, certa vez, eu escrevi que a vida está errada, nós tínhamos que nascer com 80 anos e ir diminuindo de idade, até virarmos crianças e morrermos como bebês.

Porque aos 40 anos estaríamos, enfim, ricos ou com vida econômica estável, prontos para desfrutarmos nossa poupança na juventude.

E, na juventude, não teríamos nenhum receio de ter de ser crianças em seguida.

E acabaríamos morrendo docemente, sem um gemido, assim como um carneiro, como bebês.

Está errado o curso invertido da vida.

MARCELO COELHO - Prisões de vidro


Prisões de vidro
MARCELO COELHO
FOLHA DE SP - 09/11/11 

O segurança do banco sabe que nenhuma daquelas velhotas traz uma escopeta entre seus pertences


Quando criança, achava lindas as grandes portas giratórias dos hotéis de luxo. Nos filmes, revolviam lentamente suas pás enormes de cristal, conduzindo as mulheres de casacos de peles até o interior iluminado de salões a perder de vista. Vi a primeira porta giratória de verdade em Buenos Aires, num hotelzão meio decadente da avenida de Mayo. Naquela época, meados de 1970, Buenos Aires era como um filme também.

Como fazia frio, atinei finalmente qual a lógica daquelas portas. Tratava-se de assegurar a circulação das pessoas sem que se perdesse o ar aquecido dentro do edifício. Vi, também, um primeiro sinal de irracionalidade no sistema. Um porteiro engalanado, mas de cabelos brancos e costas curvas, tinha a função de empurrar mecanicamente cada folha da porta de vidro. Parecia o boneco de algum grande relógio de igreja, que contava hóspedes em vez de horas, inclinando-se à passagem de cada brasileiro carregado de compras.

Ainda assim, a coisa tinha seu charme. Foi-se o luxo das portas giratórias. A disseminação do ar-condicionado e dos assaltos fez com que quase toda agência bancária disponha dessa geringonça.

Qualquer ideia de solenidade, de fausto e pompa (os bancos antigamente faziam questão disso) desapareceu num ambiente que é pouco melhor do que uma repartição pública.

Como tudo tem de ser barato e "funcional", a porta giratória moderna é estreita como a de um armário.

Ocupa três vezes menos espaço do que o menor elevador e emperra três vezes mais. Emperra sem aviso, sem alarme. Posso entrar com o máximo cuidado naquela arapuca bancária, meço em milímetros os meus passos para que acompanhem o ritmo impossível de sua evolução.

A porta estaca, entretanto, com violência; quer, claramente, atingir-me na testa. Vejo a fila que se forma atrás de mim. Por sorte, nunca foi das maiores. Não sou de carregar guarda-chuvas, correntinhas, capacetes ou celulares. As mulheres de certa idade são as vítimas preferenciais desse mecanismo de segurança: em geral têm de remexer na bolsa até tirar de lá tudo o que de metal possuam. Forçam novamente a porta, que antipatizou com elas.

Até o segurança do banco sabe que nenhuma daquelas velhotas traz alguma escopeta entre seus pertences.

Mas a porta se diverte; quer que alguma desmaie, talvez, de pé naquela jaula. Ou é a idosa que se desespera e teima em entrar. Não sabe se dá um passo à frente ou um passo para trás, enquanto o segurança do banco mantém toda a calma que ela perdeu. Comigo até que são camaradas. Obviamente, os guardas da minha agência já me conhecem.

Tenho certeza de que, como na triagem da alfândega em Cumbica, eles podem acionar ou não a luz vermelha de acordo com a cara e a bagagem do freguês.

Chegamos aqui ao núcleo do problema. O dispositivo de segurança eletrônico não dispensa o aparato do segurança humano. Duplica-se, como naquele velho hotel de Buenos Aires, o custo da brincadeira. A porta mecânica tem seu porteiro mecânico. Mais de um, com certeza. Estive num consultório médico outro dia (o detalhe é importante, porque portadores de marca-passo, safenados e idosos em geral passam por ali) e passei por inúmeras catracas, humanas ou não.

A máquina do estacionamento manda você apertar um botão. Ao lado, o manobrista recolhe o tíquete. Outro manobrista pega o carro e põe o prisma na capota. Você recebe o papelzinho do prisma e vai à recepção.

A recepcionista pede seu documento e lhe dá um cartão eletrônico. A catraca emperra; o segurança usa o próprio cartão vale-tudo para que você possa entrar. Chegando no consultório, há uma máquina de senhas, que o levará a outra recepcionista, que não é a do médico. Na volta, com sorte, todos os seus tíquetes, senhas e cartões serão recolhidos. Você será restituído à sua condição humana original, a de não ser suspeito de nenhum crime.

A fila dos assaltantes em potencial continua atrás de você. Os homens-máquina prosseguem em seu trabalho, liberando pessoas das máquinas que as prenderam por alguns minutos.
Sentem prazer nisso, mas raiva e tédio também. Sabem que a sua atividade dura o dia inteiro; estão presos ali, congelados naquela geladeira de vidro, por muito mais tempo do que nós.

VALÉRIA MANIERO - Sobrevivência


Sobrevivência 
VALÉRIA MANIERO
 O Globo - 09/11/2011

Eleita como a próxima vítima na crise da zona do euro, a Itália permaneceu ontem como centro das atenções, mas o dia acabou com a reação positiva dos mercados às notícias da saída de Silvio Berlusconi do cargo. O premier perdeu a maioria na Câmara e prometeu renunciar após a aprovação das reformas impostas pela União Europeia. As bolsas subiram e o país recuperou o fôlego, mas a saída de Berlusconi não resolve o problema da Itália.

A renúncia deve acalmar os mercados e reduzir as pressões sobre o país. A expectativa de um novo comandante com mais apoio política e liderança ajuda no enfrentamento dos sérios problemas econômicos. Assim como na Grécia, dá sustentação e legitimidade para o governo aplicar o remédio amargo do ajuste. Mas a grave crise na zona do euro não se resolve com o ataque isolado aos problemas da Itália ou da Grécia. Exige uma solução holística e solidária.

O economista Mailson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda e sócio da Consultoria Tendências, destaca que o euro não é apenas uma moeda única. É um projeto político de unificação que começou logo após a Segunda Guerra, e essa conquista tem de ser preservada. Ele está convicto de que é melhor para o bloco enfrentar o custo de preservação do euro do que correr o risco da desintegração.

Mas destaca que os países mais ricos, em especial a Alemanha, precisam assumir uma postura mais solidária olhando para o conjunto e não para o próprio umbigo, pensando mais no bloco ao defender posições e posturas para a solução da crise e menos nos seus eleitores.

Mailson lembra que a Alemanha é o país que mais se beneficiou com o euro, ampliando suas exportações e suas riquezas graças às vantagens da integração e da moeda única. Ele não vê sentido na resistência de Angela Merkel à atuação do Banco Central Europeu no socorro aos países em dificuldade. Acredita que a saída da crise depende de uma ação forte do BCE e não do FMI ou dos países emergentes, que teriam papel de coadjuvantes:

- O momento é muito delicado. O que está em jogo é de tal relevância que é muito difícil imaginar que os europeus vão se imolar por falta de ação. O que vai prevalecer é o instinto de sobrevivência.

Lado mais fraco I
O aperto nas despesas do Orçamento neste primeiro ano do governo Dilma, para reforçar o superávit primário, está afetando fortemente os investimentos. Até outubro foram executados R$30,8 bilhões, R$4 bilhões a menos em comparação ao mesmo período de 2010. E o mais provável é que essa tendência seja mantida e até acentuada em 2012, quando o cobertor das receitas ficará mais curto e as despesas correntes, mais gordas, com o aumento real de 7,5 % do salário mínimo.

Lado mais fraco II
O economista Raul Velloso observa que o investimento, embora crescente nos últimos anos, tem sido a variável de ajuste nas contas do governo, quando surge a necessidade de aumentar o superávit, porque as despesas correntes crescem na mesma proporção da arrecadação. Entre 2003 e 2010, o investimento cresceu um ponto percentual do PIB, chegando a 1,3% do produto, enquanto as despesas correntes subiram 1,8 ponto, alcançando 16,6% do PIB.

- Não vejo no cenário de 2012 espaço para aumento dos investimentos. Enquanto houver uma política deliberada de crescimento dos gastos correntes e a necessidade de superávits primários razoavelmente elevados, o investimento continuará sendo a variável de ajuste.

Dar e receber
No livro que lançará em breve sobre royalties e pacto federativo, o senador Lindberg Farias incluiu uma conta interessante. Em 2010, a arrecadação federal no Estado do Rio chegou a R$125,5 bilhões, computados os tributos e as receitas do petróleo, mas só 10% retornaram ao estado por meio das transferências obrigatórias da União. Muito abaixo dos 21%, em média, que esta destina aos demais estados brasileiros, se computados apenas os tributos.

Recessão à vista
A zona do euro está flertando com a recessão, segundo o Bank of America Merrill Lynch. A instituição revisou para baixo, de 0,8% para -0,6%, a previsão para o crescimento da região em 2012. Para 2011, a aposta é um crescimento baixinho, de 1,5%. Já a inflação deve cair de 2,7% em 2011 para 1,7% no ano que vem. Três fatores influenciaram a mudança nas estimativas: políticas fiscais mais apertadas, condições de crédito mais rigorosas e incertezas crescentes.

MERVAL PEREIRA - Couro duro


Couro duro 
MERVAL PEREIRA
 O Globo - 09/11/2011

Bastou o ex-presidente Lula recomendar que os ministros acusados de corrupção tivessem "couro duro" e resistissem às denúncias antes de jogarem a toalha, para que os últimos envolvidos em escândalos ensaiassem uma resistência patética. O ex-ministro do Esporte Orlando Silva esperneou muito antes de pedir para sair, e o máximo que conseguiu foi um enterro de primeira classe, com direito a salva de palmas e a declarações estranhíssimas da própria presidente, que afirmou que não perdera a confiança nele, mas, no entanto, abria mão de sua preciosa colaboração não se sabe bem por quê.

Já o ainda ministro do Trabalho, Carlos Lupi, deixou-se levar pelo entusiasmo e piorou sua situação ao anunciar que só sairia do ministério "abatido à bala".

Tal resistência é um tanto exagerada e, mesmo como metáfora, seria mais produtiva para seus interesses se Lupi ameaçasse fazer um haraquiri em defesa de sua honra, em vez de ver alguém interessado em abatê-lo a tiros.

A provável saída do sexto ministro envolvido em denúncias de corrupção traz novamente à tona a responsabilidade do ex-presidente Lula, que foi o fiador de todos eles.

Tanta coincidência não é apenas constrangedora para a presidente Dilma como indica que há um método nessa divisão de feudos no governo, que obedece a uma distribuição de poder que Lula aprofundou com sua leniência e a presidente aceitou continuar, se não por comungar dos mesmos propósitos, por falta de força política para renegar, nunca por desconhecimento.

Chefe da Casa Civil durante a maior parte dos dois mandatos de Lula, beneficiária na sua eleição do apoio da coligação partidária que está representada em seu Ministério, a presidente Dilma conhecia a fundo cada um desses personagens e já tivera com o ministro do Trabalho um desentendimento que quase gerou a sua saída do ministério.

Na primeira discussão sobre o salário mínimo, Lupi, confirmado no cargo, passou a defender um montante maior do que a equipe econômica do novo governo havia estabelecido.

Criou um ambiente propício à dissidência de seu partido na votação em plenário, e, quando pressionado pelo Planalto, voltou atrás, não teve como controlar a bancada, e alguns deputados votaram por um mínimo maior.

Lupi foi colocado na geladeira e passou algumas reuniões de líderes partidários sem ser chamado.

Ele também já teve que enfrentar o Conselho de Ética do governo, na gestão Lula, quando foi identificado um conflito de interesses no acúmulo da função de ministro com a de presidente do PDT.

Ele resistiu até o ponto de colocar em xeque a própria existência do Conselho, e acabou tendo que ceder. Mas achou uma saída bem brasileira para o caso: continua informalmente à frente do PDT, mas sem ser seu presidente oficial, uma solução que preservou as aparências. O Conselho continuou a existir, embora claramente esvaziado, e o ministro do Trabalho continuou dando as cartas em seu partido.

A presidente Dilma está se aproveitando da situação para se livrar de todos os ministros que lhe foram impostos por Lula, demonstrando uma habilidade insuspeitada.

Passa à opinião pública a imagem de que prossegue na sua faxina ética, de que é menos conivente do que Lula com os "malfeitos" e, ao mesmo tempo, consegue não se atritar nem com o seu mentor político nem com as legendas que compõem sua base partidária, pois tem mantido rigorosamente inalterado o acordo que reserva para cada partido um feudo ministerial.

Cada ministro foi substituído por outro do mesmo partido, preservando o equilíbrio de forças na divisão ministerial.

O que já está ficando evidente, no entanto, é que ela não é tão avessa assim a esse tipo de jogo político, apenas tem um couro menos duro que o de Lula, ou se incomoda mais com as aparências.

Basta lembrar que Erenice Guerra, a pessoa de sua confiança que a substituiu na Casa Civil quando saiu para se candidatar, foi apanhada em "malfeitos", teve que ser substituída às pressas para não contaminar a candidatura, mas estava à vontade na cerimônia de posse de Dilma, meses depois, sem que nada tivesse acontecido de concreto a respeito do tráfico de influência que ela exercia no governo com seus parentes.

No caso atual do ministro do Trabalho, foi revelado que há três meses ele fora advertido de que havia irregularidades em seu território, o que mostra que os serviços de inteligência e fiscalização do governo encaminham informações ao Palácio do Planalto, que, no entanto, não age preventivamente, mas somente quando a imprensa descobre os "malfeitos".

A Polícia Federal já investiga os convênios do Ministério do Trabalho com ONGs há muito tempo.

A presidente claramente utiliza-se de uma tática para não brigar nem com os partidos aliados e muito menos com o ex-presidente Lula.

Há quem insinue que são os próprios aliados do Palácio do Planalto que vazam as denúncias para criar o clima político propício às demissões.

O fato é que a presidente Dilma não tem força política para brigar com Lula, nem com o PT, e está buscando uma forma de conviver com suas próprias contradições.

Tudo indica que ela não tem dificuldades de conviver com ministros corruptos, mas sim com ministros corruptos que são descobertos.

Essa derrubada em série de ministros - mesmo que Lupi ainda não tenha caído - indica que há algo de muito podre na formação dessa aliança governista no Congresso.

É uma evidência de que as relações políticas se baseiam em esquemas que frequentemente correm à margem das leis, e tirando os ministros, mas mantendo o mesmo esquema de poder nos feudos ministeriais, estamos caminhando para o enraizamento de um sistema político-partidário nefasto para a democracia brasileira.

CELSO MING - A agonia de Berlusconi


A agonia de Berlusconi 
CELSO MING
 O Estado de S.Paulo - 09/11/2011

Sabe-se lá quanto tempo durará a agonia de Silvio Berlusconi à frente do governo da Itália. Nesta terça-feira, depois de perder maioria no Congresso, admitiu que voltaria para casa depois que fosse aprovado seu programa de ajuste.

Embora mais baixa em relação ao PIB do que a dívida grega, a dívida da Itália é uma enormidade (1,9 trilhão de euros). Em 12 meses, vencerão 300 bilhões de euros, o que obrigará o Tesouro italiano a recorrer a refinanciamentos para rolar o principal mais os juros.

Nesta terça, o prêmio de risco da Itália, ou seja, o adicional cobrado pelos investidores para ficar com seus títulos, saltou para o recorde de 4,95% (acima do que os investidores aceitam para rolar títulos da Alemanha). Em termos absolutos, os juros cobrados para o lançamento dos títulos da Itália saltaram para 6,73% ao ano, cada vez mais próximos dos 7% – nível considerado ponto de não retorno, a partir do qual a dívida fica insustentável.

Mas a questão deixou de ser técnica. Tornou-se eminentemente política. Berlusconi, o cavaleiro de nervos de Teflon, é reconhecido por sua enorme competência em não se deixar trair pelas pressões dos mercados e dos políticos. No entanto, nas últimas semanas, perdeu a confiança tanto dos mercados como dos políticos. Até mesmo seu poder de resistir a pressões passou a trabalhar contra ele.

Pesou contra Berlusconi a percepção geral de que não tem interesse nem condições políticas para colocar em marcha um programa de austeridade que viesse a ser capaz de reverter a atual trajetória das despesas de governo e da dívida pública. Assim, cada dia de permanência sua no governo passou a ser entendido como um dia perdido para a recuperação da economia – na expressão usada em editorial pelo principal jornal da Espanha, o madrilenho El Pais.

O problema é que não basta remover Berlusconi. Sua saída do governo é como o fim de um casamento: é condição necessária, mas pode não ser suficiente para passar uma vida a limpo. Por começar do zero, um novo governo poderá contar com a boa vontade geral, mas terá de mostrar muito mais serviço para reverter a queda no precipício.

O desemprego na Itália estava nos 8,3% da força de trabalho em setembro. A atividade econômica evolui pouco acima de 0,5% ao ano, mas a perspectiva de recessão em toda a área do euro não acena com grandes melhoras da economia (veja ao lado a ficha da Itália).

Se as condições de rolagem da dívida se deteriorarem na Eurolândia, como tanta gente prevê, e se a Itália for obrigada a renegociar as condições de sua dívida, não haverá blindagem suficiente no Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (EFSF). Os líderes do euro concordaram, em princípio, em expandir sua capacidade de assistência de liquidez de 440 bilhões para 1,3 trilhão de euros, no entanto, não explicaram como farão isso.

Quer dizer, se a Itália não aguentar e pedir socorro, sobrará o Banco Central Europeu, como emprestador de última instância. Mas, se esse passo for dado, emitirá moeda, atropelará contratos e colocará ainda mais em risco o futuro do euro .

Confira
O gráfico mostra a evolução do rendimento (yield) pago no mercado secundário pelos títulos de 10 anos da Itália.

Entenda. Quanto mais desvalorizado um título no mercado, maior é seu rendimento. Ou seja, quanto menor é o valor de mercado de um título, menor é o desembolso pelo seu novo tomador. Como os juros embutidos no título não mudam, o rendimento sobe, porque menos dinheiro foi desembolsado para a compra do título. Essa situação acaba sendo repassada também para o mercado primário (emissões de novos títulos).

GOSTOSA


CRISTINA GRILLO - O colete


O colete 
CRISTINA GRILLO
FOLHA DE SP - 09/11/11

RIO DE JANEIRO - Pouco adianta agora discutir qual tipo de colete à prova de balas o cinegrafista da TV Bandeirantes Gelson Domingos usa va quando foi atingido pelo tiro de fuzil que o matou, domingo de manhã, durante uma operação policial na favela de Antares.
Domingos foi vítima da mesma guerra que, há nove anos, levou Tim Lopes, repórter da TV Globo, capturado e morto por traficantes do Complexo do Alemão, e que já deixou outros tantos feridos.
O fato é que a maioria de nós, jornalistas, não está preparada para cobrir essa guerra. Temos a melhor das intenções, mas nos falta o conhecimento técnico adquirido por agentes de segurança nas escolas de formação.
Falta também a muitos de nós o preparo físico para suportar o peso de um colete tipo 3, aquele projetado para resistir a tiros de fuzil. Fiz o teste -ou, ao menos, tentei. Pesa muito, em torno de dez quilos. Difícil alguém com preparo físico inferior ao de um policial do Bope acompanhar uma operação usando um deles.
O que fazer? Cursos de treinamento como os que o Exército ciclicamente oferece aos jornalistas ensinam boas noções de autoproteção, mas não resolvem, sozinhos, o problema.
A proposta do comandante da PM, coronel Erir Ribeiro Costa Filho, de discutir medidas de segurança para a mídia com os sindicatos da categoria é um bom início de conversa, desde que alguns aspectos fiquem bem claros para que a iniciativa não se perca em desvios pelo caminho.
A quem caberá dizer aos repórteres que, a partir de determinado ponto, é mais seguro que eles não acompanhem uma operação policial?
Não é difícil imaginar que o poder de definir isso possa ser usado por policiais menos escrupulosos para escapar da "fiscalização" dos jornalistas.
Por isso a discussão precisa ser ampla: para que uma boa ideia não evapore e para que não haja mais casos como o de Domingos.

MÔNICA BERGAMO - FACÃO SUPERIOR


FACÃO SUPERIOR
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 09/11/11

O MEC deve anunciar nos próximos dias o descredenciamento de dezenas de faculdades, que ficarão proibidas de receber novos alunos. São aquelas que, pela terceira vez seguida, tiraram nota menor do que três no Enade (numa escala que vai até 5), o exame que avalia os alunos dos cursos de graduação.

TRÊS VEZES DEZ
A exclusão de faculdades do sistema por causa de notas baixas no Enade não é inédita. Mas, desta vez, a "pancada" deve ser "bem maior", de acordo com técnico da pasta que acompanha as avaliações.

O número de escolas excluídas pode chegar a 30.

QUEM DÁ MAIS
A galeria Millan não representa mais as obras do artista Amilcar de Castro, morto em 2002.

Seus herdeiros, responsáveis pelo espólio, decidiram buscar outro representante. O acervo, valioso, deverá ser objeto de disputa de galerias concorrentes.

QUE COMAM BRIOCHES
Os funcionários das embaixadas e consulados da França no Brasil farão greve hoje. Vão aderir a um movimento mundial dos funcionários da diplomacia francesa, que reivindicam reajustes de acordo com a inflação e o custo de vida dos países. Até mesmo os empregados da casa do embaixador deverão cruzar os braços.

LEMBRETE
Restaurantes como o do hotel Hyatt, que tinha alimentos estragados em seu estoque, são obrigados a permitir acesso dos clientes a suas cozinhas. Mas a lei não pegou. A constatação é de sua autora, a ex-vereadora Zulaiê Cobra (PSD-SP). "Vou a muitos lugares e em 80% não colocam placa com a regra em local visível", diz. Nem mesmo o restaurante da Câmara Municipal, onde a lei foi aprovada, em 1994. "Já reclamei com eles", diz Zulaiê.

BANQUINHO NO AVIÃO
Mesmo com as dificuldades na bilheteria, a produção de João Gilberto assegura que, durante sua turnê, remarcada para dezembro, ele será transportado pelo país em avião particular. "No contrato está claro que o músico terá um jatinho à disposição, para seu conforto, e isso nunca foi discutido. Não houve nenhum problema em relação a isso", informa a assessoria dos shows.

OLHOS ABERTOS
O oftalmologista Claudio Lottenberg, presidente do hospital Albert Einstein, realizou em Angola, segundo a instituição, o primeiro transplante de córnea do país. O paciente, de 15 anos, adquiriu uma infecção por causa do uso inadequado de lentes de contato. Embora as condições não sejam as ideais, o médico afirma que, capacitados, os angolanos passarão a fazer esse tipo de cirurgia de forma recorrente.

DEMOCRÁTICO
Frei Betto, Maria da Penha e dom Pedro Casaldáliga estão entre os indicados ao Prêmio CUT - Democracia e Liberdade Sempre. A votação é aberta ao público no site www.cut.org.br até o dia 20. Os vencedores serão anunciados em dezembro.

UÍSQUE A GO GO
Christiane Torloni comemorou a noite de autógrafos de seu livro "Do Lobo à Lôba", anteontem, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, em São Paulo, com um brinde com uísque. E, em vez de falar "saúde", a atriz, o diretor José Possi Neto, o ator Leonardo Franco e a curadora Denise Mattar começaram a uivar. Uma homenagem ao animal que dá nome ao livro e às peças "Lobo de Ray-Ban" e "Loba de Ray-Ban", que Torloni estrelou.

PINCEL E PALETA
A abertura da 43ª Exposição de Arte da Faap, anteontem, contou com a presença das artistas convidadas Amanda Mei e Flávia Junqueira. O croata Goran Skofic, o colecionador José Antônio Marton e o professor Lázaro Eli estiveram lá.

GENÉTICA DO DESIGN
Os irmãos Humberto e Fernando Campana inauguraram a exposição "Anticorpos", no Centro Cultural Banco do Brasil, em SP. O arquiteto Gianfranco Vannucchi e a escritora Paula Parisot, entre outras personalidades, passaram pela mostra, que faz uma retrospectiva da obra da dupla de designers.

CURTO-CIRCUITO
A estilista Diane von Furstenberg apresenta a coleção Resort da DVF, às 16h30, no Iguatemi.

A cantora Thais Gulin faz show no Studio SP amanhã, às 23h. Classificação etária: 18 anos.

O ministro Gilmar Mendes lança hoje, às 19h, o livro "Estado de Direito e Jurisdição Constitucional", na Biblioteca do STF.

A entrega do Troféu Raça Negra será no dia 13, na Sala São Paulo.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

ANTONIO PRATA - Assim não, pessoal


Assim não, pessoal
 ANTONIO PRATA
FOLHA DE SP - 09/11/11

Sugerir que a PM possa entrar em todos os lugares, menos em uma universidade, é um vício classista

Em 1998, na primeira semana do meu curso de ciências sociais, na PUC, fizemos um abaixo-assinado. Estávamos em fevereiro, a classe era abafada e pedimos para que a reitoria instalasse um ventilador. Redigimos um texto à mão, coisa de três linhas, e, durante o intervalo, uma colega foi até o Centro Acadêmico digitar e imprimir nossa justa e simples reivindicação. Mal chegou ao CA, um aluno ofereceu-se para ajudar.
Minha amiga voltou uma hora depois, com os olhos arregalados. As três linhas tinham virado um manifesto de duas páginas, que falava do "sucateamento" da educação no Brasil, dos salários dos professores nas escolas públicas, citava Maio de 68 e terminava exigindo: "a) a divisão da turma em dois; b) a mudança para uma classe maior; ou c) ventiladores".
Sem entrar no mérito do longo manifesto, perguntei que história era aquela de dividir a turma em dois -o que implicaria dobrar o número de professores e custaria mais de R$ 100 mil-, se nós só pedíamos um ventilador? Ela disse que tentara explicar tal raciocínio ao membro do CA, mas ouviu em resposta que era "preciso dar uma alternativa à reitoria, para começarem a discutir". Alguém sugeriu, então, que pedíssemos: a) um ventilador ou b) um frigobar com Boêmias e Chicabons. Se a reitoria preferisse a segunda opção, não nos oporíamos.
A história seria cômica, não fosse por um detalhe: a educação pública no Brasil era -e é- uma lástima, os salários dos professores eram -e são- uma vergonha. Ao cobrar do reitor de uma universidade privada melhorias no ensino público, contudo -e no abaixo-assinado por um ventilador-, o guerrilheiro do CA não fazia nada pela educação no país, só tornava ridículo, aos olhos dos demais alunos, todos os que levantassem as bandeiras legítimas de um ensino de qualidade -além, é claro, de afastar definitivamente a possibilidade de conseguirmos o ventilador.
A invasão da reitoria da USP me fez lembrar daquele episódio. Que a polícia prenda jovens por consumo de maconha é lamentável. Que jogue gás lacrimogêneo contra os estudantes que protestam contra a prisão é uma violência desmedida. Mas que, em reação a isso, alunos invadam o prédio da reitoria e peçam a proibição da PM no campus é um raciocínio tão equivocado quanto sugerir a divisão da turma em dois, por causa do calor. Ou luta-se para que ninguém seja preso por porte de maconha e que ninguém tome porrada da PM -e acampa-se em frente do Palácio dos Bandeirantes, não na reitoria- ou o que se está exigindo é um privilégio. Sugerir que a PM possa entrar em todos os lugares, menos no campus da universidade, não é um pensamento libertário, é um vício classista: a velha ideia de que, neste país, todos são iguais, mas alguns são mais iguais do que os outros.
Com esta invasão, os guerrilheiros da reitoria não fizeram mal apenas à discussão sobre drogas e violência policial: ajudaram a tornar ridículos, aos olhos de toda a população, os milhares de outros jovens que, no Brasil e fora dele, lutaram e lutam por causas urgentes e fundamentais; não para serem tratados como cafés com leite.

JOSÉ SIMÃO - Sexo oral na praça do Pirulito!


 Sexo oral na praça do Pirulito!
JOSÉ SIMÃO 
FOLHA DE SP - 09/11/11

"Delegado quer enquadrar estudantes da USP como formação de quadrilha". Só se for Quadrilha da Fumaça!


Buemba! Buemba! Macaco Simão urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta! Manchete de Cajazeiras, na Paraíba: "Sexo oral na praça do Pirulito". Rarará! Flagraram dois marmanjos fazendo sexo oral numa árvore na praça do Pirulito. Em frente ao bar do Pirulito!

E baixou uma Vanusa no Suplicy. Ele foi rezar um Pai Nosso pro Lula e esqueceu. Esqueceu a letra do Pai Nosso. Ele esqueceu o Pai Nosso porque a letra não é do Bob Dylan!
E o Berlusconi, o Maluf pornô? Olha a sensacional campanha da Ryanair com a foto do Berlusconi: "Caro Silvio, uma oportunidade para escapar com a Ryanair, por R$ 9,99!". Plano de fuga pro Berlusconi! E esta: "Delegado quer enquadrar estudantes da USP como formação de quadrilha". Só se for Quadrilha da Fumaça!

E o ministério da Dilma? Ministério Matte Leão, já vem queimado. Se cair mais um ministro, vai dar um

Trabalho! E sabe como se chama o assessor que tá enrascando o ministro do Trabalho? PANELLA! O quê? Já tão fritando até em Panella! Panella faz panelinha com uma ONG chamada Êpa! ÊEEEEEPA!

O mundo é uma piada pronta lotada de predestinados. Agora o mais cotado para primeiro-ministro da Grécia: Nikiforos DiamanDUROS! Duros? Ah, não, duros, não! Um Duros pra governar os duros! A República dos Duros!

Como diz uma amiga minha: "Vou apelidar o pingolim do meu marido de grego, pra ver se fica duro". Rarará! E o Sarkozy não parece o genérico do Napoleão 3º, o Pequeno! Rarará! É mole? É mole, mas sobe!

E adorei a placa de um carro do Rio Grande do Sul, um carro todo estropiado com a placa de: Pareci Novo! Rarará! Pareci novo um dia! E vou me consultar com o missionário Ronildo Peçanha: 11 mortos ressuscitados, emagrecimento instantâneo e calvície restaurada.

Três males que espantam a humanidade: a morte, a banha e a careca! E já encontrei o lugar pra assistir à Copa de 2014. Trailer do Zé Maurício em Domingos da Prata, Minas. "Estatuto do Torcedor: proibido assovio, gritaria e insultos pessoais. Vibra apenas na hora dos gols e comentário apenas o do locutor da TV!" Berro só do Galvão! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

ROLF KUNTZ - Lupi, o republicano



Lupi, o republicano
ROLF KUNTZ 
O Estado de S.Paulo - 09/11/11

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva apoiou o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, contra a Comissão de Ética Pública, em dezembro de 2007, e o manteve no posto elogiando seu "comportamento republicano". Passados quatro anos e acumulado um enorme número de bandalheiras, a Comissão entra em cena de novo, cobrando esclarecimentos sobre novas irregularidades apontadas pela imprensa. Desta vez, a republicaníssima figura mantida por Lula e por ele deixada à sua sucessora não tem sequer o apoio unânime de seus companheiros do PDT. No entanto, a relação promíscua entre o partido e o Ministério foi o grande assunto da maior parte das denúncias nos últimos quatro anos.

A Comissão de Ética Pública da Presidência propôs a demissão de Lupi quando ele se recusou a deixar a presidência do PDT, em 2007. Segundo a Comissão, ao acumular os dois cargos, o ministro comprometia "a necessária clareza de posições exigida das autoridades públicas pelo artigo 3.º do Código de Conduta da Alta Administração Federal". De acordo com ofício enviado ao presidente, a acumulação envolvia também o risco de conflito de interesses, assunto examinado na Resolução n.º 8, de 25/9/2003.

O ministro negou-se a deixar a presidência do partido, enfrentou a Comissão e venceu a parada, sustentado pelo presidente da República. A questão era ética, mas a Advocacia-Geral da União preferiu outro enfoque e negou haver ilegalidade ou inconstitucionalidade na manutenção dos dois cargos.

Dois meses depois dessa vitória o ministro voltou ao noticiário, acusado de favorecer entidades ligadas ao PDT. Lupi negou qualquer irregularidade, mas pouco depois, numa entrevista coletiva, anunciou o cancelamento de contratos no valor de R$ 25,8 milhões.

Dois eram especialmente interessantes. Uma das entidades beneficiadas era a ONG DataBrasil, de São Paulo, com sede no prédio da Força Sindical, ligada ao PDT. Seu convênio envolvia o repasse de R$ 10,7 milhões. Outra era um asilo para idosos, em Catanduva, favorecido com R$ 3,7 milhões para cuidar do treinamento de jovens.

Também ganhou notoriedade o caso de uma associação presidida por uma pedetista e beneficiada, no mesmo período, com verba de R$ 8,5 milhões, embora fosse investigada pelo Tribunal de Contas do Rio de Janeiro. A revista Época publicou um detalhado material sobre todos esses escândalos em fevereiro de 2008.

Nessa segunda-feira, ao se proclamar um osso duro de roer, o ministro Lupi mencionou uma "onda de denuncismo", repetindo uma fórmula muito usada, em Brasília, pelo menos desde o tempo do mensalão. Se for uma onda, deve ser o sonho de consumo dos grandes surfistas, pelo tamanho e pela duração.

O espetáculo de republicanismo continuou. Em 2009, o ministro decidiu mudar os costumes no Condefat, o conselho gestor do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), na ocasião com patrimônio de R$ 150 bilhões. Pela tradição, as bancadas se revezavam na presidência a cada dois anos. Dessa vez, a Força Sindical seria substituída por uma entidade patronal, a Confederação Nacional da Agricultura (CNA). Lupi resolveu mobilizar os votos das centrais sindicais e do governo contra a CNA. Com essa jogada, foi eleito Luigi Nese, representante da Confederação Nacional de Serviços, criada em dezembro do ano anterior e recém-incorporada ao Conselho. Lupi era conhecido como "patrono" dessa confederação. Quatro das entidades patronais - CNI, CNC, CNA e Consif - protestaram e abandonaram o Condefat, deixando-o sob controle do ministro e de seus aliados.

A história do Ministério do Trabalho tem sido marcada também por eventos maravilhosos, como a multiplicação dos pescadores, detectada pela Associação Contas Abertas e confirmada pelo detalhamento dos dados oficiais. Em 2003, o governo beneficiou 113.783 pessoas com o seguro-defeso, um salário mínimo pago a pescadores artesanais durante os meses de reprodução de certas espécies.

O número de beneficiários chegou a 553.172 na previsão orçamentária de 2011. O desembolso saiu de R$ 81,5 milhões para o total estimado de R$ 1,3 bilhão neste ano. Esse dinheiro, extraído do FAT, é mais que o dobro do orçamento do Ministério da Pesca, R$ 553,3 milhões. Nunca se viu tanto pescador artesanal, prodígio operado pela generosa distribuição de atestados. Até em Brasília apareceram pescadores inscritos no programa.

Neste ano, o Ministério do Trabalho já entregou R$ 89,4 milhões para entidades "sem fins lucrativos". Falta determinar o destino real desse dinheiro e as condições de desembolso - com ou sem as propinas denunciadas em reportagem da Veja. Também falta examinar as 500 prestações de contas engavetadas no Ministério, segundo o Tribunal de Contas da União. Ainda vai dar muito trabalho o balanço de tanto republicanismo - bem mais notável, provavelmente, do que poderia prever em 2007 a Comissão de Ética Pública.

GOSTOSA


ROBERTO DaMATTA - Livros, leitores e antileitores


Livros, leitores e antileitores
ROBERTO DaMATTA
O Estado de S.Paulo - 09/11/11

Num desses dias, uma secretária do departamento onde trabalho anunciou:

- Professor, tem um padre da universidade federal YZ querendo falar com o senhor, posso passar a ligação?

- Sem dúvida, disse eu, pegando no fone com a atenção e a curiosidade de sempre.

- Aqui é o padre X, professor Roberto. Estou ligando para convidá-lo a tomar parte numa discussão sobre agricultura e "tecnovilas". O senhor aceita?

- Sim, reverendo, se entendesse do assunto, mas, infelizmente, dele nada sei.

- Modéstia sua, professor. Como é que um homem que escreveu um livro intitulado Tecnovilas diz isso? É claro que o senhor entende.

- Padre, meu livro não é sobre "tecnovilas", é sobre o pequeno cotidiano americano: o meu dia a dia de docente expatriado na Universidade de Notre Dame, em South Bend, Indiana, Estados Unidos. O título não é Tecnovilas, é Tocquevilleanas, uma humilde homenagem ao estudioso e político francês que, acompanhado do seu amigo, Gustave de Beaumont, viajou pelos Estados Unidos entre 1831-32 e escreveu um livro clássico sobre o estilo de vida americana, intitulado Democracia na América. Desculpe pelo título que o confundiu!

* * * *

Tal como as pessoas, os títulos dos livros enganam leitores, bibliotecários e autores. Um sujeito bem vestido e falante, quando devidamente aberto, revela-se uma toupeira ou um Evereste de empáfia. Um nobre ministro surge como um chefe de quadrilha feito por ONGs que desviam dinheiro público para um partido cujo nome remete a abnegados e virtuosos.

Meu colega e amigo, o cientista político Eduardo Raposo, ouviu de seu primo Lobinho a seguinte história: um sujeito chega a uma biblioteca e pede um livro de botânica. O funcionário prontamente lhe apresenta com um sorriso alvar Raízes do Brasil.

* * * *

Quando eu selecionei as crônicas para compor o livro Tocquevilleanas: Notícias da América, telefonei ao meu editor e amigo, Paulo Rocco. Na euforia daquele momento especial, pois a empreitada de escrever um livro nos envolve de todas as maneiras e, como disse melhor do que ninguém, Thomas Mann, trata-se de uma tarefa equivalente a uma "batalha, perigo no mar ou risco de vida, e nos aproxima de Deus em busca de auxílio, bênção e misericórdia"; eu mencionei um título: Notícias da América. Paulo Rocco adorou. Terminei a ligação ouvindo dele os augúrios de sucesso.

Coloquei o manuscrito no forno por uns dias, como sempre faço quando se trata de escrever para publicar - uma tentativa frequentemente inútil de evitar monstruosidades -, mas, ao retomar a obra, um anjo do mal meteu na minha cabeça que eu deveria homenagear o grande Alexis de Tocqueville. Se Heitor Villa-Lobos, disse-me a entidade, fez suas "bachianas" pensando em Bach, por que eu não poderia fazer umas "tocquevilleanas" pensando num autor desconhecido das ciências sociais brasileiras; um intérprete maior de problemas contemporâneos, mas que não é citado em nenhum dos clássicos nacionais, justamente para falar dos contrastes entre o Brasil e os Estados Unidos?

E, assim, devidamente impregnado pelo anjo, reli Democracia na América - como havia feito em 1974-79 - enquanto escrevia Carnavais, Malandros e Heróis - e inventei o tal "tocquevilleanas" imaginando (graças ao malefício do anjo) que minha mente era o mundo e que todos sabiam de sobra quem era Tocqueville.

Ledo engano!

Publicado o livro, descobri que as pessoas sequer sabiam pronunciar o título, que - conforme me revelou um profissional com sua saudável mistura de inocência e autoritarismo jornalístico - era "muito complicado". Foi quando descobri a mais crassa verdade pós-moderna: se a obra tem um título impronunciável, você não lê o livro. Vira um antileitor. Resultado: numa segunda edição, que em breve chega às livrarias, suprimi o solene "tocquevilleanas". Ganhou Tocqueville, que não precisa de minha homenagem e, imploro aos deuses, ganham os eventuais leitores. Pois debaixo do título Notícias da América não há como confundir nenhum entendido, leigo ou jornalista.

* * * *

Na esteira dos antileitores, voltei ao Raposo e ele relata que seu primo Lobinho havia feito uma grande descoberta. Na tal biblioteca onde Raízes do Brasil está na estante de botânica, O Idiota surge na de psicologia, A Interpretação dos Sonhos, na de esoterismo; Sobrados e Mucambos está catalogado como engenharia e Montanha Mágica, como astrologia. Já Memórias Póstumas de Brás Cubas entra como kardecismo; Lolita, na lista de livros para moças; A Guerra das Salamandras, em história militar; Cem Anos de Solidão, na prateleira de geriatria; O Cru e o Cozido, na de culinária, e Hamlet, na de receitas inglesas. Já Madame Bovary surge na de pornografia; Os Maias, na de etnologia centro-americana; As Neves do Kilimanjaro, no setor de clima e ecologia; as Viagens de Gulliver, no de turismo; O Poder e a Glória, no de política; e, por fim e para encurtar uma infindável história, Carnavais, Malandros e Heróis, inclassificável por não ser lido, é listado tanto nas obras devotadas às escolas de samba, quanto está na prateleira de fraudes e contravenções.

Tentei interpelar a diretora, mas desisti. Ela é "blindada"!

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Brasil fica atrás da Argentina em uso de internet em celular, diz estudo

MARIA CRISTINA FRIAS 
FOLHA DE SP - 09/11/11

Apesar do avanço do consumo de tablets, smartphones e uso de internet em celulares no país, a participação da troca de dados na receita das operadoras ainda é considerada baixa no Brasil. O uso dos aparelhos para funções como e-mails, acesso à internet, envio de torpedos e GPS resiste em avançar no país devido ao foco que as operadoras dedicam aos pacotes de voz, segundo Erasmo Rojas, diretor da 4G Américas, associação de provedores de serviços e fabricantes.

"No Brasil, há uma briga por minutos de voz. Mas os brasileiros estão comprando mais aparelhos que os outros. Com uma boa cobertura, pacotes e preços adequados, isso tende a mudar", diz Rojas. O volume de aparelhos com internet móvel supera os 30 milhões no país, segundo a Anatel. O número é quase o dobro de 12 meses atrás. Apesar do crescimento, apenas 18% da receita gerada por celulares no Brasil tem origem na troca de dados, segundo a 4G Américas. A média da América Latina é de 22%. O Brasil ainda está longe dos argentinos, que lideram o ranking com 42%, segundo a 4G. O país vizinho se aproxima de ter receita com dados e voz na mesma proporção. A Venezuela registra 35%.

"O Brasil usava menos SMS e outros serviços para baixar música e jogos. Esses serviços se desenvolveram menos aqui devido ao foco das operadoras e a outras questões", afirma Eduardo Tude, presidente da Teleco.

NOVOS PORTOS
A rede Accor fechou contrato de R$ 60 milhões com a Odebrecht para construir um hotel em Santos. Será o terceiro da empresa na cidade. Os outros dois foram inaugurados há pouco -um na semana passada e outro há dois meses. "Santos é uma cidade importante, apesar de não ter uma população tão grande. O maior porto do país está ali. Além da Petrobras, que é uma das nossas principais clientes", diz o COO da rede na América Latina, Roland de Bonadona. A Accor prevê bater seu recorde de lançamentos no Brasil neste ano. Até agora, foram 20. Bonadona, porém, não diz quantos contratos serão fechados até dezembro.

Mesmo com a crise, a empresa acredita que poderá aumentar ainda mais o número de lançamentos em 2012. Para o mesmo ano, estão programadas 20 inaugurações.

PRIVATE EQUITY E LUXO
A britânica Tamara Mellon, fundadora da sofisticada grife de sapatos Jimmy Choo e atual CCO (sigla em inglês para principal executiva da área de criação) da marca, afirma estar animada com as perspectivas para o Brasil. "Nossa loja recentemente aberta aqui é muito bem-sucedida", diz ela em passagem por São Paulo. "Não posso divulgar números [de resultados], mas vai muito bem, pois os clientes aqui entendem [de moda] e as mulheres são muito sexy." Segundo Mellon, há mercado para outras lojas, inclusive uma apenas dedicada aos homens, nos moldes da recém-aberta filial de Londres. "Mas ainda não tenho datas", afirma.

"Está todo mundo olhando para o Brasil, além da China", diz Mellon. E como vai a vida depois da venda da Jimmy Choo para o fundo de private equity Labelux? "Fantástica, eles estão nisso com perspectiva de longo prazo. São uma família, não exigem altos retornos e entraram para ficar." Se não fosse assim, não recomendaria fazer negócio nessa área com private equity, diz. "É um modelo de engenharia financeira muito difícil de se aplicar em moda e em luxo."

Quão longo é esse prazo? "Dez, 20 anos", responde. Para a próxima coleção primavera-verão, o "look" será anos 50 e 70, diz Mellon, que, antes de criar a grife, foi editora da revista Vogue do Reino Unido.

Luz apagada Mais da metade dos brasileiros (64%) estão dispostos a mudar seu comportamento de consumo de energia, segundo estudo da IBM.

GASOLINA OU ETANOL?
A zona leste é a região mais barata para abastecer automóveis com etanol na cidade de São Paulo, de acordo com estudo do IPTC (Índice de Preços Ticket Car). A zona norte, por sua vez, é a que apresenta a melhor média de preços para encher o tanque com gasolina. Em outubro, o valor médio do etanol caiu 0,22% em relação a setembro. No mesmo período, o valor da gasolina teve alta de 0,19%. Para o consumidor paulistano, porém, o abastecimento com gasolina ainda é mais vantajoso que o de etanol, segundo o IPTC.

com JOANA CUNHA, VITOR SION e LUCIANA DYNIEWICZ

ANTONIO DELFIM NETTO - Avanço à vista


 Avanço à vista
ANTONIO DELFIM NETTO
FOLHA DE SP - 09/11/11

As incertezas que dominam o cenário mundial são tantas que, mesmo já vencidos quatro quintos do ano, as previsões ainda são precárias. Na antevéspera da reunião do G-20, a OCDE divulgou os seguintes números para 2011:

O angustiante quadro mundial revela que as hipóteses da política econômica brasileira estão a confirmar-se. Mais do que isso, ele dá razão à política monetária (apoiada numa política fiscal mais austera) que tenta antecipar-se à queda da nossa taxa de crescimento reduzindo a taxa de juros real.

A "distância" entre a nossa taxa de inflação (beirando o limite superior da tolerância da "meta") com relação aos emergentes é muito menor do que a do nosso crescimento, que andará por volta de 3% (e, na margem, pode estar correndo em torno de 2,5%). Já a taxa dos emergentes do G-20 é da ordem de 6%, sem contar a China.

Isso mostra o equívoco da crítica fácil feita ao nosso BC, com a afirmação que ele teria abandonado a política de metas inflacionárias só por ter aumentado o peso dado à "distância" entre o PIB e o seu "potencial" e diminuído o peso da "distância" entre a taxa de inflação de 12 meses e a "meta".

No fundo, a inflação aceitável é a parecida com a dos nossos parceiros internacionais, com o PIB próximo do pleno uso da capacidade produtiva.

Em condições anormais de pressão e temperatura, é melhor transigir com a "meta" (no seu limite de tolerância) do que exagerar no sacrifício para atendê-la num horizonte mais curto. É claro que isso não tem a ver com a ideia primitiva de que "um pouco mais de inflação aumenta o crescimento".

Por outro lado, é óbvio que precisamos aperfeiçoar nossas políticas macro e microeconômicas, facilitar o aumento da produtividade e usar melhor os recursos de que dispomos.

Uma boa notícia foi revelada pelo ministro da Previdência, Garibaldi Alves, consagrado como bom administrador: o governo está empenhado na aprovação do projeto que cria o Fundo de Previdência dos servidores públicos, que dorme no Congresso desde 2003.

Quem o tem bloqueado? Segundo Alves, "os sindicatos e os parlamentares ligados aos servidores. Eles, que deveriam ser de esquerda, às vezes são mais conservadores que os conservadores da direita". Bingo!

GILBERTO KASSAB - Os limites necessários


Os limites necessários
GILBERTO KASSAB
O Estado de S.Paulo - 09/11/11

Além de planejar visando o bem comum e gerir com prioridades e critérios de justiça e igualdade, administrar é também impor limites. É natural que alguns limites definam responsabilidades e, respaldados pela lei, restrinjam liberdades. Pode soar antipático e até se argumentar que essa é uma atitude autoritária. Mas uma democracia se consolida assim, nesse embate e conflito de ideias que procuram soluções e consensos.

Recentes acontecimentos vividos pela nossa cidade merecem atenção e reflexão: os conflitos na Feirinha da Madrugada, a invasão de prédios públicos e privados por movimentos de sem-teto e os embates na Universidade de São Paulo (USP).

Desde a implantação da Cidade Limpa, passando pelos blocões de cimento na frente de postos de gasolina que vendiam combustível adulterado, lacração de grandes empresas que não cumprem os limites de descarte de lixo, restrição de circulação de ônibus e caminhões em avenidas e ruas para melhorar o trânsito, temos enfrentado desgastes com medidas nem sempre simpáticas, mas eficazes.

A vigorosa presença da Prefeitura com medidas coercitivas legais visa sempre a constranger e desestimular vandalismos, agressões e crimes de que a cidade é vítima diariamente. Minha experiência é que a população não só aceita, mas exige isso.

Mas falo hoje de fatos e imagens - que a mídia mostrou exaustivamente de seus helicópteros - dos conflitos da feirinha. É público o esforço da Prefeitura para regularizar a atividade de camelôs, criar um espaço digno para eles, oferecer-lhes cursos, orientação, crédito, etc. E ficou claro também o necessário limite que a Prefeitura, o Estado, a União e o Ministério Público, unidos, impuseram aos que contrabandeiam e tentam comercializar produtos piratas na região da feirinha.

Vamos avançar ainda mais na administração desse problema, dialogando com comerciantes, camelôs regularizados que estão fora da feirinha e também com representantes e entidades de classe, planejando, por exemplo, os shoppings populares. O que não podemos permitir é que o crime agrida, deprede, impeça o trânsito e prejudique milhares de pequenos comerciantes e empreendedores que trabalham dentro da lei.

Não poderíamos deixar de lembrar aqui as experiências gratificantes de organização e pacificação de espaços de comércio nos Largos 13 e da Concórdia e na 25 de Março, graças ao entendimento e encontro conjunto de soluções entre o poder público, representantes, entidades de classe e envolvidos nos problemas ali enfrentados.

Nessa luta por soluções, a Prefeitura mantém diálogo permanente com os movimentos de moradia popular, muitos com representantes no Conselho de Habitação, que aprovou o Plano Municipal de Habitação (PMH). O PMH tem medidas de curto, médio e longo prazos para a solução do déficit habitacional da cidade. Projetos de urbanização de favelas beneficiam hoje 600 mil pessoas, programas de locação social atendem cerca de 15 mil famílias e, na área central, estão em andamento o Programa de Cortiços e a Operação Urbana Nova Luz.

Vários edifícios agora ocupados estão sendo desapropriados para construção de moradias do Programa Renova Centro, lançado em fevereiro de 2010, alguns já em fase de licitação para contratação das obras. Neste momento, cerca de mil famílias de militantes já são beneficiadas.

As invasões são incompreensíveis, forçam a quebra de um diálogo que não interromperemos. Como não abriremos mão de medidas judiciais de reintegração de posse dos prédios, para retomar os projetos acordados com os próprios invasores.

Na USP, o problema é diverso, embora a mídia tenha mostrado invasões, depredações, cenas de violência e exageros. A Polícia Militar (PM), que antes do atual conflito estava ausente do câmpus, a ele voltou por decisão da Reitoria e consenso com estudantes, após assaltos, roubos e morte de um universitário. Retornou a segurança desejada pela maioria que quer paz e segurança para estudar. O estopim da revolta aparentemente foi a detenção de três estudantes que portavam drogas (levados ao distrito e liberados).

Registraram-se nesse episódio hostilidades à PM, a reação dos policiais, depredação de viaturas, a invasão (e desocupação) do prédio da Filosofia, depois do prédio Reitoria, os cartazes com mensagens e reivindicações no início confusas. Vieram a decisão judicial de desocupação da Reitoria e tudo o que a imprensa noticiou e analisou.

O estranho nesse episódio foi ver estudantes que cobriam o rosto para argumentar e defender suas causas. Faziam algo condenável? E por que os estudantes que discordavam dos seus colegas também eram obrigados a não se identificar para expor suas opiniões? Temiam ser vítimas de discriminação depois? Afinal, o que se propunha para enfrentar o crime e o tráfico, que andam de braços dados com a droga e ameaçam todos no câmpus?

Numa democracia as minorias devem ter voz e vez. Isso é saudável e necessário. Maiorias nem sempre tomam as decisões corretas. É natural que os cidadãos exijam serviços públicos dignos e os defendam com a força de seus argumentos e a energia da sua juventude. Mas é justo que reconheçam seus deveres e se imponham limites.

E os verdadeiros limites não são apenas os legais e constitucionais, que garantem as instituições e definem os direitos e deveres, mas também os que podemos cobrar de nós mesmos e amadurecemos com os vizinhos, em casa com a família, nas escolas, no trabalho, nas repartições públicas, na recepção das unidades de saúde, nas universidades, nas ruas e praças.

Nossa democracia permite hoje que os temas, dos mais simples aos mais complexos, sejam discutidos e defendidos livremente nas urnas, em manifestação soberana, sem máscaras e sem violência.