sexta-feira, dezembro 21, 2012

Paz e respeito - ANCELMO GOIS


O GLOBO - 21/12


A 12ª Vara Cível do Rio proibiu a TV Record de reprisar reportagem em que Guilherme de Pádua, condenado pelo assassinato de Daniella Perez, fala sobre o crime.
A Justiça também proibiu a exibição, sem autorização prévia, de imagens da atriz e de sua mãe, a novelista Glória Perez.

Segue...
Se a ordem for descumprida, a multa será de R$ 500 mil por exibição, segundo o advogado Paulo Cezar Pinheiro Carneiro Filho.
— Não posso permitir que o assassinato de Daniella seja usado para gerar lucros para seu assassino e quem lhe cede o palco, para que ele conte “versões”, como se já não tivesse sido julgado e condenado. Minha filha está morta, mas a mãe dela está aqui. Só peço paz e respeito.

Polêmica à vista
Historiadores como José Murilo de Carvalho estão contra a transformação da Casa da Marquesa de Santos (Museu do Primeiro Reinado), em São Cristóvão, no Rio, em Museu da Moda, como saiu aqui ontem.
— Trata-se de preciosa peça de arquitetura e pintura, a mais típica do Primeiro Reinado, onde além da marquesa morou Mauá por 13 anos. Que façam em outro lugar o Museu da Moda, sem cometer esse crime. Muita gente vai torcer para que o projeto não vá adiante — diz José Murilo.

Ele merece
Frei Betto, o grande brasileiro, ganhou no voto, e por unamidade, o Prêmio José Martí, da Unesco.
Vai receber dia 28 de janeiro.

Presente de Natal
Pesquisa do Instituto Data Popular, de Renato Meirelles, mostra que a classe C pretende gastar até R$ 288, em média, com presentes neste Natal.
Já a classe B, R$ 484. E a A, R$1.062. Sobrou dinheiro
No país da Copa, o Ministério do Esporte não executou mais da metade de seu orçamento de 2012.

Carinhoso
Milton Gonçalves foi convidado para fazer o papel de Pixinguinha (1898-1973) no cinema.
A direção será de Denise Saraceni. Milton já se submeteu ao molde de uma máscara para a caracterização do personagem na maturidade, aos 75 anos (última fase da vida). O ator fará aulas de flauta e sax tenor para ter intimidade com os instrumentos.
Acervo da ABL
A ABL vai aproveitar seus dois meses de recesso para mudar seu precioso arquivo de lugar.
O tesouro ocupará parte do 16º andar do Palácio Austregésilo de Athayde, no Centro do Rio.

Bafo
A Confederação das Seguradoras doou um milhão de bafômetros para o Denatran. Eu apoio.

Flamengo S.A.
O Flamengo terá um CEO no comando, contratado por sua nova diretoria.
Será Marcelo Corrêa, que por oito anos foi o principal executivo da Neoenergia, empresa do grupo espanhol Iberdrola e da Previ, dona no Brasil de elétricas como Coelba (BA), Celpe (PE), e Cosern (RN).

Artilheiro de Deus
Fred, o atacante do Fluminense, vai ganhar mais um troféu.
O artilheiro do Brasileirão receberá o Prêmio São Sebastião de Cultura, na categoria Esportes, dado pela Associação Cultural da Arquidiocese do Rio. A entrega será no Dia do Padroeiro da cidade, 20 de janeiro.

Defunto invasor
O desembargador Ferdinaldo do Nascimento, do TJ-RJ, condenou o município de Cantagalo a indenizar em R$10 mil o cidadão Sérgio Luiz da Cruz.
É que o cemitério da cidade sepultou no jazigo de sua família, ao lado de sua mãe, um... defunto desconhecido.

A loura sumiu
Ontem, em mais um dia de calorão no Rio, o bar Devassa da Rua do Rosário, no Centro, estava sem... cerveja.
As bandejas passavam cheias de... suco de laranja.

Viva Wilson Moreira!
A prefeitura do Rio deu alvará para o mais novo bloco da cidade, o Amigos de Wilson Alicate, homenagem ao grande compositor Wilson Moreira, 76 anos, parceiro de Nei Lopes em joias do samba como “Senhora liberdade” e “Goiabada cascão”.
Alicate é o apelido de Wilson, pela força de seu aperto de mão. O bloco vai desfilar na Praça da Bandeira, perto do centro cultural que leva o nome do artista.

No mais
Como diria o saudoso Zózimo... e o mundo, hein? Não acabou.

Ponto Final
A inteligência não parece ser o forte de Wellington Dias, com todo o respeito. Para o senador piauiense, o ministro Luiz Fux, por ser carioca, deveria ter se declarado impedido de decidir sobre a questão dos royalties. Por essa tese, a questão teria de ir para a Corte Internacional de Haia. Afinal, um ministro mineiro, por exemplo, não poderia votar a questão, pois a tunga beneficiaria estados não produtores, como Minas. Francamente.

DE VOLTA ÀS AULAS - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 21/12


O deputado João Paulo Cunha (PT-SP), condenado no julgamento do mensalão, está fazendo teste para ser admitido em uma faculdade de direito. Ele pretende fazer o curso à distância, já que cumprirá pelo menos um ano e seis meses de prisão em regime fechado.

LEITURA
Cunha já estudou três anos de direito numa faculdade em Osasco, mas trancou matrícula há alguns anos. Teria ainda que cursar mais dois anos para se formar. Agora, faz testes em instituições de São Paulo e de Brasília. Ele pretende também prestar vestibular para outra área: filosofia ou literatura.

LEITURA 2
Já prevendo que passará longo período preso, ele também está escrevendo um romance autobiográfico. E revisa o livro que um amigo está escrevendo sobre sua vida.

MANHÃ
Ainda na expectativa de ser preso, José Dirceu passou a manhã de ontem na casa da ex-mulher, Ângela Saragoça. A mãe dela morreu, e ele estava ajudando a organizar o velório. Pretendia ir ao enterro da ex-sogra hoje.

ARIGATÔ
O ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Sousa, o Paulo Preto, tido como o "homem bomba do PSDB", viajou ao Japão para ver o Corinthians conquistar o bicampeonato mundial, no domingo.

O MUNDO NÃO MORREU
Se o fim não chegar hoje, o clube A Hebraica fará festa de Ano-Novo com o tema "E o Mundo não Acabou!". Helvis, cover de Elvis Presley, se apresenta no evento.

APOCALIPSE NOW?
E fiéis do Movimento Salvai Almas não apostam mais no fim do mundo hoje. Tanto é que o grupo de leigos católicos até agendou para 19 de janeiro um encontro em Porto Belo (SC) com a presença de Cláudio Heckert, 65. O "profeta", como se autodenomina, dizia ter recebido mensagens de Nossa Senhora sobre a "grande tribulação" até o Natal deste ano.

PERU DE VÉSPERA
O maquiador Marcos Costa recebeu convidados como o estilista Lino Villaventura para peru de Natal em sua casa, nos Jardins. Norma Haddad, mãe do prefeito eleito, Fernando Haddad, foi convidada. As modelos Larissa Portolani, Patrícia Werle e Mariana Mendonça também foram ao jantar.

FORÇA COLETIVA
A exposição "Filtro + Cartel", com trabalhos de 17 artistas, foi inaugurada na Cartel 011. Os sócios da galeria Filtro, Rodrigo Rivellino e Alessandra Marder, receberam convidados como a DJ Mariana Mats.

SEXY NA REDE
Sócia da produtora Mocho, Luciana Vendramini vai produzir um programa de sexo na TV previsto para ir ao ar em 2013. Em parceria com o jornalista João Luiz Vieira, a atriz acaba de lançar o site Pau Pra Qualquer Obra (paupraqualquerobra.com.br), embrião de projeto multimídia.

"Já gravamos um piloto do programa e estamos em negociação com um canal a cabo", diz Luciana, 42.

"É um fórum para discutir relacionamento e intimidade, com entrevistas e vídeos. Tudo bem picante."

CLUBINHO
A aprovação do orçamento estimado da USP para 2013, de R$ 4,7 bilhões, foi contestada por membros do Conselho Universitário. O grupo dissidente diz que as diretrizes para uso da verba teriam sido decididas pelo reitor, João Grandino Rodas, e por uma comissão "ad referendum" -sem discussão prévia, portanto, com os cerca de 120 conselheiros.

UM ESTILO
O orçamento foi apresentado ao conselho na terça, na última reunião antes do recesso, quando não haveria tempo para discussões detalhadas. A atitude "reafirma um estilo de gestão", escreveu a colegas Adrián Pablo Fanjul, um dos representantes do colegiado.

CONSULTA
A Reitoria afirma que unidades e colegiados da USP (com representantes de alunos, docentes e servidores) são consultados para enviarem suas sugestões para o orçamento do ano seguinte. Em 2012, o prazo se estendeu de abril a junho.

TIPO EXPORTAÇÃO
O filme "O Som ao Redor", do pernambucano Kleber Mendonça Filho, que estreia no dia 4, já foi comprado por uma distribuidora inglesa. Deve estrear lá em abril.

VOU SEM NORAH
Norah Jones pode ter cancelado os shows que faria no Brasil neste mês, mas Jesse Harris, que cantaria com ela, veio ao país só. O músico americano fez apresentação não agendada no Comuna (RJ), no fim de semana.

CURTO-CIRCUITO
A antologia "Quem Conta um Conto", com oito textos, será lançada às 19h, no Espaço dos Parlapatões.

Nelson Freire faz noite de autógrafo do álbum "Brasileiro - Villa-Lobos & Friends", na Livraria Cultura do Conjunto Nacional.

A International Society for The Performing Arts premiará a Petrobras por apoiar as artes cênicas.

A Trash 80's faz festa beneficente hoje, no clube Caravaggio. 18 anos.

Três escolas técnicas, do Centro Paula Souza, usarão 200 horas por ano para desenvolver projetos em temas como moradia. Proposta da Unesco.

Pelo fim dos pitbulls - DAVID COIMBRA

ZERO HORA - 21/12


Não sou a favor da eliminação dos pitbulls. Sou a favor da sua extinção.

Ontem mesmo, uma menina de dois anos de idade foi estraçalhada por um desses cães, em Santa Maria. Está em estado grave no hospital. O animal era de propriedade da família e, pouco antes do ataque, brincava com a criança no pátio da casa.

É óbvio que os pais da menina dirão que o cachorro sempre havia sido de uma mansidão de ovelha, até o inexplicável episódio de ontem. É óbvio, também, que os defensores de pitbulls dirão que os animais não têm culpa pelo que fazem. Estão certos, todos. O problema é que um pitbull não precisa ter histórico de agressividade; ele só precisa ser agressivo um único dia, numa única fração de hora, para acarretar uma tragédia. Uma só vez o cão se torna feroz, e uma pessoa jaz morta ou mutilada. É o que basta.

Defensores de pitbulls alegam que seres humanos matam, estupram e agridem. Outra verdade. Pior: ao contrário dos pitbulls, os seres humanos são culpados, sim, pelo que fazem. Eles têm consciência dos seus atos. E por isso são punidos pela lei, quando erram. Um ser humano que estupra, mata ou agride outro ser humano, ou mesmo um animal, será preso, ou multado, ou sofrerá algum outro castigo.

Cães não devem sofrer castigos. Eles não sabem o que fazem. Leões, tigres, crocodilos e elefantes são, como os cães, inimputáveis. Não devem ser castigados por seres humanos. Mas os seres humanos não devem conviver com leões, tigres, elefantes e crocodilos, porque esses animais são feras, são imprevisíveis, são naturalmente agressivos e, por qualquer motivo, podem atacar um ser humano, machucá-lo ou matá-lo.

Pitbulls são como leões ou tigres. São feras. E, como feras, devem ser mantidos afastados dos seres humanos, para o bem deles e dos seres humanos. A cidade não é lugar para feras. Você não pode criar uma onça em casa, porque põe em risco a segurança das outras pessoas. Criar um pitbull em casa deveria ser igualmente proibido. Mas os pitbulls não deveriam ser mortos; deveriam ser esterilizados, para que se extinguissem de forma lenta e indolor.

Leões e tigres, feras como pitbulls, não devem ser extintos como devem ser os pitbulls. Por um motivo: o cão é um subproduto da civilização. Todos os cães, inclusive o poodle com rabo de pompom, são descendentes dos lobos. Foram domesticados. Submeteram-se ao convívio com os seres humanos. Com algumas raças de cães esse processo fracassou. Pitbulls, não raro, voltam a ser lobos. Como os lobos, têm de ser apartados do convívio com seres humanos. O mais rápido possível. Em nome das criancinhas de dois anos de idade, que, aliás, são tão inocentes quanto os pitbulls.

Retrospectiva do fim do mundo! - TUTTY VASQUES


O ESTADÃO - 21/12


Deve ter havido algum mal-entendido na interpretação do tal calendário maia! Pra gente aqui no Brasil, pelo menos, o fim do mundo apenas começa oficialmente às 9h11 desta sexta-feira, dia 21, quando o Sol atinge o solstício no Hemisfério Sul.

Vem chegando o verão e, com ele, a loucura do último fim de semana nos shoppings antes do Natal, o caos aéreo, os acidentes nas estradas, os temporais, os apagões, os efeitos devastadores da gula, o foguetório, as ressacas e, depois da "dezembrite", o aumento da gasolina, o Big Brother Brasil, o carnaval de rua...

O fim do mundo pode até ser especificamente hoje para José Dirceu se o ministro Joaquim Barbosa cismar a qualquer momento de mandá-lo pra cadeia, mas a verdade é que, para a maioria dos mortais, o fim do mundo começa todo dia - estão aí as retrospectivas que não me deixam mentir.

Tragédias, dramas, catástrofes naturais, crimes bárbaros, trapaças, gente que vai fazer falta, micos monumentais e o avanço científico no desenvolvimento de pelos na nuca de ratos carecas.

Todo ano é mais ou menos assim, o que difere 2012 dos outros é a boa notícia da frustração do fim do mundo maia. Vamos lá, sorria!


O que é aquilo?

Se o corte de cabelo do corintiano Guerrero virar moda nos campos de futebol, o torcedor brasileiro vai acabar sentindo saudades do moicano de Neymar!

Sortimento humano

Já com chamadas no ar, o Big Brother Brasil 13 ainda não tem elenco confirmado. O reality show de 2012 - lembra? - reuniu um coroa tatuado bissexual, uma arte-educadora que produzia filmes pornôs, uma lésbica rata de academia, um garoto-propaganda de cuecas... Espera-se para ano que vem uma turma mais ousada. Talvez por isso, a Globo só vai anunciar os participantes depois do Natal!

De castigo

O debate sobre a distribuição dos royalties do petróleo não esclareceu coisa nenhuma, mas serviu pelo menos para revelar ao País que existem 3.060 vetos presidenciais aguardando a atenção do Congresso. O certo seria suspender o recesso parlamentar e convocar deputados e senadores para um esforço concentrado durante o período de festas.

Curto e grosso

Acostumado a malabarismos com o IOF e o IPI para segurar o câmbio ou alavancar o PIB, o ministro Guido Mantega deu, enfim, uma notícia econômica que todo mundo entende: "A gasolina vai ficar mais cara em 2013!"

Fim de festa

Tem torcedor do Corinthians revoltado com o pedido de desculpas do pagodeiro Thiaguinho à Mancha alviverde por provocações aos palmeirenses: "Amarelou, mano?"

Nada é pra já

Quando, afinal, o japonesinho que arrematou a virgindade da brasileira Catarina Migliorini (foto) em leilão na internet vai bater o martelo? Será que vai deixar todo mundo vê-la nua antes na Playboy de janeiro, caramba?!

Dilma busca dialogar com o setor privado - CLAUDIA SAFATLE

VALOR ECONÔMICO - 21/12


A presidente Dilma Rousseff quer "arejar" o seu governo com novas discussões e um universo mais amplo de interlocutores. Ela não está satisfeita com o desempenho da economia nos dois primeiros anos do seu mandato, mas também não pretende mudar a equipe que comanda essa área. Guido Mantega, por exemplo, deve continuar como ministro da Fazenda. Não haverá substituição de nomes na economia no curto prazo, assegurou uma fonte do Palácio do Planalto, referindo-se aos próximos seis meses "no mínimo".


A presidente, porém, sabe que 2013 é o último ano para seu governo apresentar resultados mais promissores. O de 2014 será dedicado à reeleição. No primeiro ano, o país cresceu 2,7%. Neste, o desempenho será pior - expansão do PIB de apenas 1% - com um agravante: a taxa de investimento está em queda sistemática. Não há tempo a perder, avaliam seus assessores.

Dilma vai buscar novos canais de diálogo. "Ela quer conversar com as pessoas que estão na operação das empresas, tanto do setor produtivo quanto do financeiro", informou a fonte.

O governo já fez a guinada para expansão da oferta

Não é possível atribuir eventuais equívocos de concepção de política econômica a terceiros. "A política econômica executada é a da presidente", disse. Mas nem tudo a agrada na gestão do dia a dia. Há um problema que esta comprometendo todo o resultado: o distanciamento do governo com o setor privado, que alimenta desconfianças em relação aos propósitos da presidente e atrasa as decisões de investimentos. Sem investimentos, não haverá crescimento.

"A Dilma, ministra-chefe da Casa Civil do governo Lula, acreditava que o Estado, com seus investimentos, faria o país crescer. A Dilma, presidente da República, entendeu que há limitações e que é preciso trazer a iniciativa privada para o crescimento econômico", resumiu o assessor.

Foi essa compreensão, formada só no fim do ano passado, que a levou a dar uma guinada do "estatismo" concebido no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para o regime de concessões - o governo não usa a palavra privatização. No primeiro semestre deste ano foram preparados, e no segundo semestre Dilma aprovou, os programas de concessões de rodovias, ferrovias, portos e, ontem, o dos aeroportos.

Para as concessões de rodovias e ferrovias, no entanto, os técnicos oficiais trabalharam com uma taxa de retorno do capital investido de 6% a 6,5% ao ano. As duas primeiras de um total de nove rodovias vieram com uma taxa de retorno ainda mais baixa, de 5,5%, segundo os estudos de viabilidade de ambas. A explicação técnica é que essa taxa é para o projeto total, que engloba os financiamentos do BNDES a juros subsidiados (1% a 2% ao ano). O retorno para o capital próprio da concessionária é maior, de 10%. O fato é que essas retornos fomentaram mais o mau humor dos empresários. O pacote de energia, com todos os seus ruídos, só fez crescer a descrença.

Ontem, a presidente divulgou o regime de privatização de aeroportos e, com isso, concluiu o anúncio dos projetos de concessões que se propôs a fazer. Agora entra a fase de preparação dos editais e dos leilões, uma agenda mais administrativa.

Com isso, explicou uma alta fonte da área econômica, está feita a grande mudança deste governo, que passa do incentivo ao consumo para o foco na expansão da oferta. Uma passagem com tantas mudanças de regras que, na sua avaliação, "tirou vários segmentos da economia da zona de conforto". Tão logo esses pacotes sejam melhor compreendidos, voltará o ânimo, acredita.

Os resultados da política econômica este ano - medidos pela taxa de crescimento e pela inflação - decepcionaram o governo e o setor privado. A inflação do IPCA, segundo previsão do Relatório Trimestral de Inflação, divulgado ontem pelo Banco Central, deve encerrar 2012 em 5,7%, bem acima do centro da meta de 4,5%. Para 2013, as projeções indicam que deve cair para 4,8% e subir para 4,9% em 2014, último ano do mandato de Dilma.

O PIB, segundo o BC, cresce 1% este ano, assume uma trajetória crescente e chega a 3,3% no terceiro trimestre do próximo exercício. Não há, no horizonte do relatório, a previsão de uma taxa de expansão de 4% para 2013.

Muito se fez este ano, mas não o suficiente para impor dinamismo à economia. Os juros caíram para 7,25%, houve uma maxidesvalorização da taxa de câmbio, foram concedidas desonerações de folha e incentivos fiscais de cerca de R$ 45 bilhões, foi relaxada a política fiscal e as tarifas de energia começam a cair em fevereiro. Mais de R$ 100 bilhões de depósitos compulsórios foram liberados e medidas prudenciais restritivas estão sendo desfeitas.

"Não houve mudança do mix de política macroeconômica. O que houve foi um ajuste nos instrumentos do tripé", disse uma autoridade. O ajuste na taxa de câmbio se esgotou - mais depreciação vai pressionar a inflação - e, para o BC manter os juros baixos, é imperativo que a Fazenda volte a perseguir a meta cheia de superávit primário, de 3,1% do PIB, tanto em 2013 quanto em 2014.

Do lado externo, a economia americana deve crescer entre 2% e 2,5%, o risco de aterrissagem abrupta na China está praticamente afastado e o PIB, lá, deve situar-se entre 7,5% e 8%. Da Europa não deverá vir nem a ocorrência de um "evento" nem crescimento. A cena externa, portanto, prossegue desinflacionária.

O desafio de Dilma para 2013 é convencer os empresários a investir mais, aumentar a oferta de bens e serviços na economia, buscar inovação e viabilizar um caminho de crescimento sustentado para o país. "Uma coisa, porém, é fazer o Estado investir. Outra é convencer uma empresa privada a usar seu dinheiro para investir. Aí é preciso se ter uma relação com os empresários que, na área econômica, ninguém tem", ponderou o assessor da presidente.

É nessa direção que a presidente pretende atuar para obter o que se acredita que esteja faltando: a confiança do setor privado nas suas reais intenções. "Esse é um governo permeável", assegurou a fonte.

FLÁVIA OLIVEIRA - NEGÓCIOS & CIA

O GLOBO - 21/12


Alívio 1
Junto com o pacote dos aeroportos, a presidente Dilma avisou que o reajuste da tarifa de navegação, em janeiro, foi revogado. Foi um alívio para as companhias. A correção das tarifas pela Infraero anularia todo o benefício que o setor apurou com desoneração da folha de pagamentos.

Alívio 2
Na Gol, as mudanças tarifárias de 2013 elevariam custos em R$ 150 milhões. Com a redução dos encargos trabalhistas, economizará R$ 100 milhões. A empresa tem quase 40% do mercado.

Em compensação
O governo vai compensar a Infraero pela suspensão do reajuste tarifário.

Recrutamento
A Telco Brasil, de call center, passará a atuar também em recrutamento. A nova unidade de negócios será voltada para clientes que queiram contratar grande número de funcionários. Começa a operar mês que vem, no Rio, no Distrito Federal e em Santa Catarina. Prevê faturar 5% mais.

Vacinas
A vacina BCG da Fundação Ataulpho de Paiva recebeu chancela de qualidade da OMS. O laboratório teve o apoio do Ministério da Saúde no projeto. Em 2014, inaugura fábrica em Xérem. A produção saltará de 25 milhões para 60 milhões de doses por ano.

GOVERNO QUER GIGANTES DO SETOR EM GALEAO E CONFINS
Regra básica do edital dos dois terminais só habilitará à disputa operadores de não mais de 30 terminais em 15 países
O governo brasileiro está de olho em não mais de três dezenas de operadores de 15 países para assumirem a gestão dos aeroportos do Galeão (RJ) e de Confins (MG). Dos 30 maiores terminais em operação no planeta, só 28 movimentam, sozinhos, ao menos 35 milhões de passageiros por ano, exigência que estará no edital dos dois terminais, ano que vem. Respicio Espirito San to, professor da UFRJ e especialista no setor, vê com reservas a regra. “O sarrafo está alto demais”, declarou, numa analogia ao salto com vara, esporte olímpico. A marca deixa fora da disputa operadores de qualidade, caso dos gestores do premiado Aeroporto de Vancouver (Canadá). Para ele, o governo estimularia a disputa sendo um pouco menos rigoroso. Mas não tão permissivo como nos leilões de Viracopos, Guarulhos e Brasília, em que aceitou operadores de terminais de cinco milhões de passageiros. O consultor José Wilson Massa, ex-Infraero, também enxergou na exigência do governo a busca pelos operadores dos mega-aeroportos de EUA, China, Japão, França e Alemanha, entre outros países: “Será bom para o sistema brasileiro ter um desses players aqui. Foi o que faltou no primeiro leilão”.
28 MEGA-AEROPORTOS
No ranking da AIC, que representa o setor, 28 aeroportos do planeta tinham tráfego anual acima de 35 milhões de pessoas. Doze estão nos EUA; o de Atlanta recebeu 89,3 milhões de pessoas em 2010.

ONZE ANOS
A Fiat põe na rua no domingo a campanha para comemorar o 11º ano seguido de liderança de vendas no mercado brasileiro, segundo dados da Anfavea. Vai circular em TV e cinema, além de mídias impressa e digital. A Agência Fiat criou as peças.

NA TELINHA
Breno Silveira, diretor de “Dois filhos de Francisco” e “Gonzaga, de pai para filho”, filmou o comercial que a Coca-Cola leva ao ar domingo, em intervalo do “Fantástico”, na TV Globo. O vídeo tem um minuto. Mostra imagens captadas na caravana de Natal da marca de refrigerantes na cidade de Betânia do Piauí (PI). A WMcCann assina a ação.

JOGO DA VIDA
A Icatu Seguros lança hoje o projeto “Vivendo e aprendendo”. Terá game na web. Nele o jogador tem de resolver situações práticas, como a contratação de seguro de vida e previdência. A Agência 3 criou.

Emplacou 1
A Livraria Cultura, na Cinelândia, recebeu 30 mil clientes de terça a ontem. O movimento está 40% acima do esperado. A loja, no lugar do Cine Vitória, abriu 2ª. Na estreia, teve 13 mil visitantes.

Emplacou 2
Já está em R$ 650 o tíquete médio do recém-inaugurado ParkShopping Campo Grande. A previsão inicial era R$ 300.

É recorde
O Nova América, a cinco dias do Natal, bateu recorde de vendas. Ontem, o total de notas trocadas na campanha do shopping ultrapassou R$ 5 milhões, 50% acima de 2011.

BRILHO DO NATAL
O Fórum Ipanema põe na rua amanhã a campanha de Natal. A técnica de light painting, que cria desenhos com fontes de luz, foi usada nas fotos. O centro comercial prevê crescimento de 25% nas vendas. A agência Kindle assina a peça, que terá veiculação em mídia impressa.

FIM DE ANO
A Garimppo, grife feminina, lança hoje a coleção de fim de ano. Terá campanha em mídias impressa e digital com a modelo Talitha Rossi. As fotos são de Ana Murad.

A marca prevê crescimento de 30% nas vendas. Hoje, tem duas lojas no Rio. Planeja abrir outras duas no ano que vem.

Apetite
O Balada Mix abre unidade hoje no Nova América. É a 10ª da rede de restaurantes, investimento de R$ 2 milhões. Em 2012, fez cinco inaugurações. Ano que vem, virão mais duas. Em Niterói.

Quiosque
A Tem Quem Queira inaugura amanhã quiosque no Via Parque. Investiu R$ 100 mil. O shopping cedeu a área e arcará com despesas. A ONG prevê produzir 50% mais.

Livre Mercado
O Walmart espera vender cinco mil toneladas de aves natalinas este ano. Na rede, 70% das vendas são nos três dias antes da festa.

A Codin lançou portal de negócios. A ferramenta tem mapa com indicadores das cidades do Rio.

E traz informações sobre áreas disponíveis e linhas de crédito.

A Petrobras lança hoje a “Timeline da virada”, aplicativo no Facebook. Espera 50 mil downloads. Quem assina é Agência Casa.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO


FOLHA DE SP - 21/12


Cidade do Rio de Janeiro cresce em investimentos e ultrapassa São Paulo
O município do Rio de Janeiro aumentou em 98,5% seus investimentos e ultrapassou São Paulo em volume de recursos aportados.

Os dados referentes a 2011 estão no levantamento que a Multi Cidades - Finanças dos Municípios do Brasil, idealizado pela Frente Nacional de Prefeitos e a Aequus Consultoria, acaba de finalizar.

O anuário se baseia em números da Secretaria do Tesouro Nacional e do IBGE.

A necessidade de infraestrutura urbana para os grandes eventos esportivos no Rio alavancou o patamar de investimentos no município. Foram R$ 3,4 bilhões, o maior volume aportado desde 2000. No ano anterior, o investimento total no Rio atingira R$ 1,7 bilhão.

São Paulo, que sempre havia ficado em primeiro lugar no ranking de investimentos, recebeu R$ 3 bilhões em 2011.

A região Sudeste apresentou a maior taxa de crescimento em 2011, de 10,8%, com um investimento de R$ 22,5 bilhões.

A participação da região no total investido no país alcançou 54,7%, o maior patamar desde 2008.

Ainda entre as capitais, Belo Horizonte obteve uma taxa de expansão de 27,9% e Vitória cresceu 5,1%.

Entre os municípios do interior, por sua vez, as maiores altas percentuais ocorreram em Carapicuíba (SP) e São Gonçalo (RJ), com 153,2% e 134%, respectivamente.

PASSO LARGO
A marca de sapatos Empório Naka anuncia hoje a venda de 35% de seu capital para a gestora de investimentos Lusobrastex.

O volume de recursos recebidos, que a empresa não divulga, será usado para "arrumar a casa" no primeiro semestre, de acordo com o fundador Marinho Naccarato, que permanecerá na presidência.

"A expansão será a partir do segundo semestre de 2013", afirma.

Entre 2011 e 2012, a rede chegou a fechar franquias. Atualmente possui mais de 30 unidades.

"Recompramos franquias. Passamos de sete lojas próprias para 17", diz.

Em 2013, a empresa vai abrir outras dez unidades, além de investir em uma nova marca de varejo on-line.

"O setor está sofrendo tempos difíceis, 2012 foi ruim, o que faz com que busquem parceria de um grupo sólido", diz Douglas Carvalho Jr, dono da Target Advisor, que assessorou a rede de sapatos no negócio.

"O movimento que a Empório Naka está fazendo agora é o mesmo que a Arezzo fez há cinco anos com a entrada do Tarpon", afirma.

35%
é a parcela do capital da empresa de sapatos que foi vendida para a gestora de investimentos Lusobrastex

17
é o número de lojas próprias que a Empório Naka possui abertas atualmente

REMÉDIO SEM CRISE
A rede de farmácias Nissei, com sede em Curitiba, vai investir R$ 30 milhões em 2013 em seu projeto de expansão.

Serão cerca de 30 unidades em Ribeirão Preto e cidades próximas.

A empresa entrou em julho deste ano em São Paulo, com lojas na região de Marília e Bauru. Hoje são oito farmácias no Estado.

Ainda em 2013, a companhia quer consolidar sua atuação em Santa Catarina, onde tem 20 unidades.

O presidente da rede, Sergio Maeoka, afirma que a crise não afeta os planos da companhia de entrar em novos mercados.

"O setor farmacêutico não acompanha o ritmo da economia quando ela está aquecida, mas também não perde tanto durante uma recessão", diz Maeoka.

A companhia pretende entrar na cidade de São Paulo em 2014 e dobrar seu tamanho até o final de 2016. Hoje, são 232 lojas, 4.300 funcionários e faturamento de pouco mais de R$ 1 bilhão.

R$ 30 milhões
serão investidos em expansão durante 2013

R$ 1 bilhão
será o faturamento em 2012

Funcionário... 
Falta de pró-atividade, dificuldade de cumprir ordens e horários são as principais reclamações de empregadores industriais sobre a atitude de seus funcionários que interferem nos resultados, segundo o Senai.

...pró-ativo 
Em uma escala de um a cinco, os empregadores deram média três para o desempenho comportamental de seus funcionários. A falta de qualificação dos empregados é a principal causa dos problemas.

Oportunidade 
A terceira edição da Rio Content Market, de 20 a 22 de fevereiro, terá rodada de negócios com produtores independentes, distribuidores e executivos de mídia brasileiros e estrangeiros.

Ocupação... 
O mercado geral de escritórios corporativos no Rio de Janeiro segue em expansão, segundo a consultoria CB Richard Ellis.

...aquecida 
O índice que mede a ocupação de espaços vagos até setembro chegou a 209,2 mil metros quadrados, alta de 3% ante igual período de 2011. Entre os imóveis classe A, o incremento foi de 11%.

Cinema... 
A rede de cinemas Cinesystem irá investir R$ 13 milhões em nove salas ecológicas no Américas Shopping, que está em construção no bairro do Recreio, no Rio de Janeiro.

...verde 
As salas terão revestimento acústico com uma lã PET, o mesmo plástico das garrafas. A previsão é que o cinema e o shopping sejam entregues até março de 2014.

O legado do Mineirão - ANTONIO ANASTASIA E AÉCIO NEVES

O Globo - 21/12


Minas Gerais devolve aos mineiros, rigorosamente dentro do prazo e do preço orçado, o novo Mineirão.

Classificar como grandiosa esta obra, que demandou durante três anos a dedicação de até 3 mil trabalhadores, não é nenhum exagero. Tudo nela é especial e reflete a busca pela excelência, inovação e respeito aos bens públicos e à cidadania. É, também, fruto de planejamento e execução rigorosos iniciados em 2007, tão logo Belo Horizonte foi confirmada entre as sedes da Copa do Mundo Fifa de 2014, exigindo os esforços de duas gestões consecutivas do governo de Minas.

Patrimônio histórico, cultural e afetivo de Minas, o Mineirão, agora uma sofisticada arena multiuso comparável aos estádios mais modernos do mundo, foi modernizado por meio de uma bem-sucedida parceria público-privada (PPP).

Nesse modelo, praticamente todos os recursos empregados são de responsabilidade da iniciativa privada, liberando, assim, o poder público para investir nas áreas essenciais, sob a responsabilidade do Estado. Válido por 25 anos, o contrato de concessão será permanentemente fiscalizado e terá que atender a 200 indicadores de qualidade e desempenho.

O novo Mineirão já se realiza, portanto, como legado duradouro da Copa 2014: é um estádio financeiramente sustentável e completamente integrado à vida da comunidade. Além de receber dentro do campo conforto e segurança, o torcedor e sua família, tratados como cidadãos e clientes, terão à sua disposição uma área externa de 80 mil m², aberta à convivência, diversão e arte. Nessa imensa esplanada, urbanizada com todos os serviços, acontecerão shows e grandes eventos para até 80 mil pessoas.

Desde a entrega em abril do renovado Independência - o histórico estádio construído para a Copa de 1950 -, Minas Gerais vem liderando, dentre os 12 estados que sediarão os jogos, a preparação para a Copa do Mundo. Não apenas cumprimos rigorosamente os padrões internacionais e o cronograma exigidos pela Fifa, como o fizemos com economia de recursos públicos. Temos agora no Mineirão 62 mil assentos cobertos, tribuna para até 3 mil jornalistas, 98 camarotes, 3 mil vagas para carros e uma centena de lojas e lanchonetes. Além de um belíssimo restaurante panorâmico e um Museu do Futebol. E o Mineirão não é verde só no gramado: mitigará as emissões de carbono, conta com energia solar e reaproveita a água das chuvas.

O esforço e o esmero de milhares de mãos já foram reconhecidos pela Fifa e pela CBF. Antes da Copa das Confederações em junho, quando Minas sediará três jogos, o Mineirão receberá o amistoso Brasil x França. Somos pés-quentes: das 20 partidas que jogou em Belo Horizonte, desde 1965, a seleção perdeu apenas duas. Mas no gramado de artilheiros como Tostão, Dario, Reinaldo e Palhinha, a bola começa a rolar bem antes. Em 3 de fevereiro, o Novo Mineirão terá seu primeiro jogo: o clássico Cruzeiro x Atlético. É o recomeço das grandes emoções que nos aguardam em 2013 e 2014!

O fim do mundo keynesiano - PAULO RABELLO DE CASTRO

BRASIL ECONÔMICO - 21/12


Hoje, 21 de dezembro, é o dia do fim do mundo no calendário maia. Figurativamente, a tese sobre o fim do mundo pode ser rica de significado e ensinamento. O homem precisa ser constantemente lembrado de que se parece com Deus, porém continua atado à finitude.

Tudo que nasce, morre. E não poderia ser diferente com as teorias científicas, que não morrem mas se transformam, vão perdendo as bases originais de sua operacionalidade, para virar apenas uma referência no quadro geral do pensamento humano, como as ruínas admiráveis e inabitadas de civilizações passadas.

Alguns desses ciclos vitais são mais breves do que outros. Na economia, por exemplo, o keynesianismo, corrente importante do século 20, ancorada na "Teoria Geral do Emprego" (1936) do inglês John Maynard Keynes, nasceu como explicação imaginativa aos esforços de superação da Grande Depressão iniciada em 1929, defendendo a superioridade da política fiscal ativa e contracíclica - ou seja, corajosos gastos de governo, mesmo que fortemente deficitários - criando empregos e, portanto, mais renda salarial, para encorajar a retomada dos investimentos privados numa séria recessão.

Esta teoria emergiu vitoriosa do segundo pós-guerra e se tornou convencional até os anos 70. Todos estudavam Keynes e pregavam sua verdade.

A partir daí, a tese do "governo grande e interferente", mesmo operando no sistema de mercado, com que o Ocidente democrático tentava contrapor a proposta de um governo maior ainda, tese do socialismo praticado na outra metade do mundo, foi começando a perder seu caráter de obviedade acadêmica.

Começou a ser ouvida a crítica liberal conduzida solitariamente por algumas escolas do fim do mundo keynesiano, como a austríaca (Mises, Hayek) e de Chicago (Knight, Friedman, Stigler, Schultz).

O período de estagflação nos EUA nos anos 1970 e a ruína do hiperplanejamento estatal soviético nos anos 1980 puseram fim ao convencionalismo keynesiano do apelo aos déficits fiscais como remédio genérico para saída de recessões. O mundo passou a confiar mais nos poderes autorreguladores dos mercados livres.

Redescobriu-se as virtudes sociais do talento empreendedor schumpeteriano, por trás do lucro vil, tão condenado na contra-proposta estatizante do socialismo.
Keynes andava aposentado, mas vivo.

E ressurgiu com toda força nos EUA e na Europa como resposta ao colapso, em 2008, do castelo de créditos fáceis e mega-alavancados que se havia erigido por conta da suposta garantia de "livre funcionamento dos mercados".

Curiosamente, a corrente "anti-keynesiana" liderada pelo ex-presidente do Fed, Alan Greenspan, nunca passou de réplica do keynesianismo, transposto pela mão interferente do gestor público, com a diferença de ser conduzida, no campo monetário, por injeções maciças de liquidez, idêntico mutatis mutandis ao suposto efeito anabolizante sobre economias debilitadas, antes defendida por Keynes, com seus orçamentos fiscais deficitários.

Keynes voltou a ser empregado como remédio, e suas teorias badaladas por Krugman, Summers e outros. Passados cinco anos, porém, o endividamento galopante do governo americano, a estagnação da renda salarial e a queda do emprego revelam o fracasso final da fórmula keynesiana/greenspaniana/bernankiana.

Pela criação de uma URV tributária - RICARDO GALUPPO

BRASIL ECONÔMICO - 21/12


Uma frase atribuída a Milton Campos, ex-governador de Minas Gerais, diz tudo a respeito da relação das pessoas comuns com o governo - qualquer governo. Segundo o velho político, "falar mal do governo é tão bom que não deveria ser prerrogativa da oposição."

Verdade absoluta. O que não se pode negar no atual governo é que - por mais que ele desperte nas pessoas a tentação de seguir a máxima cunhada Campos - existe uma vontade real de acertar e a intenção verdadeira de levar o país ao crescimento.

O esforço que a presidente Dilma Rousseff e o ministro Guido Mantega fizeram ao longo de 2012, quando elegeram os juros altos como o inimigo a ser derrotado, deve ser reconhecido e aplaudido.

Portanto, quando Dilma anuncia que 2013 será um ano dedicado à redução dos impostos, o mínimo que se pode esperar é que ela leve esse combate (que mexe diretamente com as receitas do setor público) tão a sério quanto levou a questão dos juros (que mexeu diretamente com as receitas do sistema financeiro).

Baixar impostos no Brasil é difícil. Tanto que ninguém conseguiu até hoje. Se, de um lado, a presidente demonstra ter consciência de que eles se tornaram um entrave ao crescimento, do outro existem políticos querendo mais dinheiro para gastar.

Existe, também, uma demanda crescente e legítima pelos investimentos essenciais do Estado - e toda vez que se exige mais educação, saúde e segurança, é preciso saber que isso custa dinheiro.

E que esse dinheiro só tem uma fonte: os impostos.

Portanto, baixar impostos será uma tarefa árdua e é aqui que chega o momento de utilizar o princípio de Milton Campos para falar mal da forma que o governo agiu com relação aos tributos em 2012: nunca, jamais, em tempo algum dará certo esse modelo que tira um pouquinho daqui, desonera uma folha de pagamentos ali e reduz os tributos sobre o produto final (automóveis, por exemplo) sem mexer na carga tributária dos elos intermediários da cadeira produtiva.

Isso, além de não dar certo em 2013 como não deu em 2012, acentuará um desarranjo generalizado no mercado, criando uma situação em que os benefícios correm o risco de ser confundidos com privilégios.

Existe uma solução? Sim, existe. O economista Paulo Rabello de Castro tem um modelo de simplificação tributária que, entre outras virtudes, prevê um período de transição equivalente ao que a URV teve na implantação do plano Real.

Seria proposto um ordenamento tributário diferente do atual e criado um sistema de contabilidade paralela. Durante algum tempo, o novo modelo seria apenas. contábil, para se calibrar receitas e despesas sem prejudicar a união, os estados ou os municípios.

O simulador funcionaria por seis meses até que, corrigidas as eventuais falhas, fosse posto em prática. Se Dilma quiser mesmo baixar os impostos (e não há razão nenhuma para imaginar que ela não esteja sendo sincera) precisa fazer diferente do que vem fazendo.

Faltou convencer - CELSO MING


O Estado de S.Paulo - 21/12



Uma coisa é estar convencido de algo e tentar repassar a certeza para os demais. Outra, bem diferente, é querer que as coisas mudem e usar os outros para tentar obter esse resultado.

Esse segundo modo de agir e argumentar envolve o que os ingleses chamam de wishful thinking. E, às vezes, é essa a impressão que passa o Banco Central até mesmo no principal instrumento de que dispõe para agir sobre as expectativas dos agentes da economia.

O Relatório de Inflação divulgado ontem deveria ser peça sólida para ajudar a prever a trilha da inflação e da economia brasileira nos próximos meses. Mas está longe disso. Lacunas e, sobretudo, contradições permeiam o texto.

O Banco Central insiste, por exemplo, em que, embora "de forma não linear", a trajetória da inflação converge para a meta de 4,5% ao ano. Mas suas projeções o desmentem. Para este ano, prevê inflação de 5,7%; para 2013, de 4,8%; para 2014, de 4,9%. Ou seja, não há como esperar a inflação na meta nem em 2014.

Se o discurso e a demonstração fossem coerentes e, sobretudo, consistentes, essas diferenças seriam imperceptíveis e pouco significativas. Não são.

O documento não conta com reajuste dos combustíveis ao longo do ano que vem. Há dois dias, no entanto, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, avisou que está previsto, sim, esse reajuste - o que, segundo ele, não deveria espantar ninguém, porque "todo ano tem". Não estão informadas nem a data nem em quantas vezes ocorrerá. A direção da Petrobrás advertiu, inúmeras vezes, que, sem uma correção de 15% dos preços dos combustíveis, não poderá levar adiante seu plano de investimentos de US$ 236,5 bilhões até 2016. Ainda ontem, o diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Hamilton Araújo, explicou que um reajuste de 10% nos preços da gasolina bastaria para aumentar em 0,9 ponto porcentual a inflação em 12 meses. Só com esse impacto, os 4,8% de inflação projetada pelo Banco Central para 2013 pulariam para 5,7%.

Para garantir suas expectativas, o Relatório também assegura em 2013 o cumprimento do superávit primário de 3,1% do PIB. Essa é uma sobra de arrecadação destinada ao pagamento da dívida, que reflete administração equilibrada das contas públicas. Mas o texto alerta que a política fiscal deixou de ser neutra para ser expansionista. Ou seja, até agora, o governo atua contra a convergência da inflação para a meta. Está mais preocupado em não repetir o fiasco do PIB chinfrim.

Outro fator que age contra uma inflação bem comportada é a alta do custo da mão de obra. O Relatório avisa que o mercado de trabalho opera "com margem estreita de ociosidade". É, enfim, o pleno emprego. Se esse fator já opera com a corda esticada numa economia que avança a apenas 0,9%, imagine-se a quantas operará caso se confirmem no ano que vem as projeções oficiais de um avanço do PIB de 4,0% a 4,5%. (Veja, ainda, o Confira.)

Em suma, a inflação entra em 2013 com quentura superior àquela com que o Banco Central diz contar. Se é para empurrá-la para dentro da meta ou para perto disso, será preciso acionar outros instrumentos, especialmente a política fiscal (mais austeridade nas contas públicas) e a política cambial (impedir novas altas da moeda estrangeira no câmbio interno).

Populismo no setor elétrico - ROBERTO FREIRE

BRASIL ECONÔMICO - 21/12


O governo da presidente Dilma Rousseff anunciou um corte de 20% nas contas de energia elétrica a partir de janeiro de 2013. O anúncio pegou todo o setor de surpresa e levou à queda no valor das ações das companhias geradoras de energia na Bovespa.

A jogada eleitoral cobrou seu preço dos acionistas e é certo que o país também pagará caro nos próximos anos. Como em toda economia industrial e moderna, a energia elétrica é setor vital em que erros não são admitidos.

A atitude impositiva de Dilma, ao mudar as regras do jogo e editar a medida provisória sem negociar com os interessados, gerou desconfiança dos investidores privados justamente no momento em que o governo depende deles para melhorar a infraestrutura do país.

Para piorar, a atitude desastrada da gestão petista resultou naquele que é o grande temor de quem pretende investir em qualquer setor da economia: o medo de não haver energia elétrica suficiente para a produção no futuro.

No aspecto político, a artimanha contra a oposição foi premeditada. Como as maiores geradoras do país são estatais de São Paulo, Minas Gerais e Paraná, estados comandados pelo PSDB, esses governadores foram colocados contra a parede pela presidente.

Ou aderiam à proposta de Dilma e levariam as companhias à falência, ou não aderiam e seriam responsabilizados pelo governo pela não redução das tarifas de energia.

De forma prudente e sensata, as companhias de Minas, São Paulo, Paraná e Santa Catarina não aceitaram o plano. O discurso do PT contra a oposição na próxima disputa presidencial foi desenhado às custas do futuro de nossa economia, escancarando o pensamento imediatista e a falta de planejamento estratégico que marcam o atual governo.

O populismo petista atingiu o ápice quando a presidente anunciou que, apesar das companhias não aderirem à proposta, o governo garantiria a redução por meio de subsídios financiados pelo Tesouro.

Ou seja, todos os brasileiros vão pagar a conta, já que o dinheiro do Tesouro sai do bolso dos cidadãos que pagam seus impostos. Na prática, como o sistema tributário brasileiro é regressivo, os pobres acabam pagando mais que os ricos. Como os mais favorecidos economicamente são os que consomem mais energia, serão as pessoas menos abastadas que pagarão a maior parte dessa conta.

Subsidiar a economia ainda traz problemas adicionais de alocação de recursos, pois torna irrealista o preço dos produtos, consome recursos do contribuinte que poderiam ser utilizados em segurança, educação e saúde, e não resolve a questão da competitividade - já que para bancar o subsídio é necessário recolher mais impostos que tornam os produtos mais caros.

Além disso, trata-se de uma enorme contradição, já que nossa política externa vem sendo pautada há anos justamente pela luta contra os subsídios agrícolas praticados pelos Estados Unidos e pela Europa.

O governo do PT age de forma irresponsável para atingir estados governados pela oposição, pensando em seus próprios interesses eleitorais em detrimento da população.

Quando os apagões se tornarem ainda mais frequentes por falta de investimentos, a culpa será da presidente da República. Mas quem pagará essa conta somos todos nós, brasileiros.

O grande circo místico - NELSON MOTTA


O Estado de S.Paulo - 21/12


No Brasil, golpistas tentam derrubar ex-presidente. A piada é boa, mas a coisa está feia.

O ministro Gilberto Carvalho já avisou que o bicho vai pegar e Zé Dirceu quer a militância nas ruas para defender Lula e o PT. De Paris, Lula já rosnou que vai voltar a percorrer o Brasil com suas Caravanas da Cidadania, como fez nos anos 90, para falar direto com o povo sobre o país maravilhoso que construiu e a herança maldita que recebeu, para satanizar as elites, a direita, a mídia e a Justiça. Ou para desmentir que protegeu Rose Noronha e os irmãos Vieira?

Qual será a motivação da caravana, seu apelo ao público, seus slogans e palavras de ordem? Com alguma ironia, talvez possa se chamar Caravana da Verdade, e sirva para dizer que são mentiras todas as acusações. O mais difícil é imaginar multidões lotando as praças, sem um show de graça de um artista popular ou sorteio de um carro, só para ver Lula falar bem dele mesmo e mal de seus adversários.

Lula ama o palanque, é seu hábitat natural, seu altar, onde se sente melhor do que nos gabinetes, nos palácios ou nos parlamentos, porque só tem que falar, esbravejar e gritar - o que ele mais sabe e mais gosta de fazer. Para um ser mitológico metade homem, metade palanque, diante da multidão amestrada, não há compromisso com a lógica e a verdade, todas as bravatas são bem-vindas, todas as demagogias são aplaudidas, sem responsabilidades nem consequências.

Sem estar em campanha por algum cargo, ou causa, a não ser ele mesmo, Lula vai precisar da "mídia golpista" para dar dimensão nacional à sua luta contra… a "mídia golpista". Porque se depender só da TV Brasil e dos blogueiros estatizados, só a militância vai ficar sabendo.

As velhas elites já estão acostumadas a apanhar de Lula, a doar para suas campanhas, e a se dar bem nos seus governos, mas as novas elites sindicais e partidárias não estão preocupadas com as velhas, são progressistas, estão ocupadas com seu próprio progresso.

A direita, como se sabe, ou não existe no Brasil, ou então é tudo que contraria qualquer opinião do Zé Dirceu.

O maior perigo da caravana é virar circo.

Problemas a resolver - RODOLFO LANDIM

FOLHA DE SP - 21/12


A cadeia de suprimento do setor de óleo e gás enfrenta empecilhos trabalhistas, regulatórios e operacionais


O mercado de empresas que atuam na cadeia de suprimento do setor de óleo e gás no Brasil vem sofrendo alguns ajustes nos últimos meses, desde que a Petrobras anunciou modificações no seu plano de investimentos de forma a torná-lo mais realista, adequando-o à capacidade de execução da companhia.

Muito foco tem sido dado às dificuldades financeiras para que seja mantido o elevado nível de investimentos na companhia, mas a realidade é que existem outros gigantescos desafios a serem vencidos, como fazer com que todos os recursos físicos críticos à implantação dos projetos da área de exploração e produção (E&P) estejam disponíveis a tempo e hora de forma que a produção dos novos projetos não seja atrasada pela falta de algum item essencial.

E, entre eles, as plataformas flutuantes de perfuração, equipamentos fundamentais à exploração e ao desenvolvimento de campos de petróleo em águas profundas, merecem um destaque especial.

Ao analisarmos o mercado, veremos que a Petrobras já é hoje de longe a maior contratante desse tipo de equipamento. Se considerarmos ainda a construção de novas plataformas em andamento e que serão mantidas sob contrato com a Petrobras por muitos anos, veremos que ela chegará a algo como cem equipamentos desse tipo até o fim da década. Hoje, a maior contratante de equipamentos flutuantes de perfuração depois da Petrobras no mundo é a BP, que detém 17 unidades sob contrato.

Mas o crescimento acelerado das atividades no Brasil vem ressaltando outros tipos de problema cuja solução é de grande importância para o mercado de plataformas marítimas de perfuração.

São preocupantes as recentes declarações públicas do presidente-executivo de uma das maiores empresas de sondagem do mundo, segundo o qual o Brasil está se tornando um país complexo e "horrível" para trabalhar, apontando aspectos regulatórios, trabalhistas e aumento de custos como as principais razões.

Hoje, o custo operacional de uma plataforma de perfuração em águas profundas no Brasil é cerca de US$ 50 mil por dia mais elevado do que no golfo do México. E, se os custos são maiores com as plataformas em operação, a situação no caso delas paradas não é diferente.

Por exemplo, as regras estabelecidas pela Marinha Brasileira obrigam que as plataformas tenham um efetivo mínimo de dez pessoas mesmo quando estacionadas e fora de operação, enquanto no exterior essa exigência pode cair para uma ou duas pessoas.

Outro problema a ser resolvido é a flexibilização das regras do Repetro, regime aduaneiro por meio do qual a importação de equipamentos para utilização em atividades de E&P é feita. Pelas regras atualmente em vigor, ao término de um contrato, as plataformas têm que ser retiradas de águas brasileiras em um prazo muito curto, sob a pena de terem que pagar todos os impostos normalmente exigidos na importação de produtos.

Somem-se a isso as dificuldades na obtenção no Ministério do Trabalho de vistos que, quando são emitidos, ficam atrelados aos contratos que deram origem à sua solicitação e as dificuldades impostas pela necessidade de certificação específica de trabalhadores para a atuação em plataformas com bandeiras de variados países.

Também não há locais adequados com cais e infraestrutura para atendimento às necessidades mínimas em períodos fora de operação, o que tem improvisadamente transformado o miolo da baía de Guanabara em estacionamento de plataformas.

Tudo termina por inviabilizar a criação de um mercado "spot" desses equipamentos no país e o resultado acaba sendo a retirada das plataformas daqui ao término dos contratos. E, a cada nova contratação, a mobilização implicará 30 a 60 dias de demora e custos de cerca de US$ 30 milhões.

Todos perdem, mas o impacto maior recai sobre as companhias operadoras com menor nível de atividade, que não têm condições de realizar contratos de longo prazo de forma a diluir o impacto dessa ineficiência sistêmica.

A solução dos problemas acima apontados seria certamente uma grande ajuda para o setor.

Picadinho, de novo - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 21/12


Picadinho continua sendo o prato principal da política econômica. Com pequenas variações na receita e algum acompanhamento a mais, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, apresentou mais uma vez esse cardápio, na quarta-feira, ao revelar seus planos para promover o crescimento em 2013 e nos anos seguintes. O governo decidiu prorrogar novamente a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) cobrado sobre veículos, equipamentos da linha branca, móveis e painéis. A partir de abril a desoneração da folha de pagamentos será estendida a mais um setor, o comércio varejista, em troca de um tributo sobre o faturamento. O Reintegra, um crédito de 3% sobre o valor da exportação de manufaturados, também será renovado, em princípio por mais um ano. Novidades em relação ao PIS/Cofins foram prometidas, mas é bom esperar para ver os detalhes antes de festejar.

Medidas como essas, acompanhadas de um reforço do velho protecionismo, foram apresentadas em 2011 e reeditadas em 2012. Pouco serviram para animar a economia. O crescimento foi pífio no ano passado e insignificante neste ano. Mas o governo, segundo o discurso oficial, prevê resultados muito melhores em 2o13. Talvez o ministro da Fazenda e seus companheiros esperem uma espécie de prêmio para a persistência, ou, talvez, para a teimosia. A redução dos juros, lembra de vez em quando alguma autoridade econômica, também deve produzir resultados com alguma defasagem.

Pelo terceiro ano, portanto, o governo vai estimular o consumo por meio da redução de impostos, aparentemente sem se perguntar por que a indústria tem sido incapaz de responder à demanda dos consumidores. O Programa de Sustentação do Investimento (PSI), criado em 2009, também será mais uma vez prorrogado, com subsídios custeados pelo Tesouro. Até agora, esse programa beneficiou principalmente algumas grandes empresas, incluída a Petrobrás. Resultado geral: o investimento encolheu em 2012.

Se as melhores expectativas do governo forem confirmadas, o País voltará a investir no próximo ano algo parecido com 20% do Produto Interno Bruto (PIB), uma miséria diante das necessidades de longo prazo. Por que esse fiasco? Tem faltado confiança, admite-se em Brasília, mas nenhuma autoridade ofereceu uma resposta completa e convincente até agora. Se depender de uma autocrítica, essa reposta dificilmente surgirá, como parece indicar a repetição das fórmulas fracassadas nos últimos anos.

O governo continua longe de formular políticas amplas, articuladas e de longo alcance para aumentar a eficiência nacional e permitir um crescimento mais firme por vários anos. Mais uma vez a redução do IPI será temporária. Além disso, o corte será menor do que neste ano e a alíquota subirá gradualmente. Quem se disporá a investir com base num incentivo como esse? Também o Reintegra é uma solução muito pobre. Os empresários pediram e aplaudiram a renovação desse benefício e isso é compreensível. Mas esse programa é um arremedo de solução - e um arremedo provisório. Só uma revisão muito mais séria do sistema tributário poderá livrar os empresários de um peso absurdo sobre o investimento e a exportação.

Medidas para produzir efeitos de longo prazo são raríssimas. Reduzir para 4% a alíquota do ICMS aplicada às operações interestaduais poderá dificultar seriamente a guerra fiscal, mas a proposta do governo é de implementação muito longa. Além disso, governadores ainda defendem o "direito" de conceder certos benefícios para atrair investimentos. Para conquistar a boa vontade dos governadores, o ministro da Fazenda oferece a redução dos juros sobre a dívida refinanciada nos anos 90. A medida pode ser boa. De toda forma, a redução do ICMS cobrado nas transações entre Estados é apenas uma parte da reforma necessária. O principal tributo estadual é hoje um entrave à eficiência, porque encarece de forma desastrosa a produção e a exportação. Do ponto de vista da tributação, o chamado pacto federativo converteu-se em pacto contra o crescimento. É preciso formular muito mais que uma política de picadinho para cuidar de problemas dessa dimensão.

Quelônios no Planalto - LUIZ GARCIA

O GLOBO - 21/12


Há uma inegável velocidade de quelônio na tramitação de assuntos de extrema importância pelos gabinetes de Brasília


Divergências e até brigas de foice — em sentido figurado, obviamente ou esperançosamente — não são raras entre Legislativo e Executivo.

É óbvio: os dois poderes decidem políticas e caminhos do país, e não surpreende que, de vez em quando, as decisões se chocam e os caminhos divergem. Assim acontece em todos os países de regime democrático, e jamais nas ditaduras.

Dito o óbvio, impõe-se lembrar que cabe aos dois poderes fazerem o possível para arquivar as foices. Até o momento em que escrevo, as ditas foices ainda estavam empunhadas. Aconteceu que a presidente Dilma Rousseff vetou artigos da lei que distribui royalties do petróleo entre os estados. Sua decisão prejudica aqueles que não o produzem — e não mexe nas quotas dos produtores.

Os prejudicados reagiram de forma original: programaram a votação de mais de três mil vetos presidenciais. Note-se que alguns deles estão no Congresso há 12 anos. Um observador ingênuo poderia argumentar que um assunto que chega à adolescência sem ser resolvido muito provavelmente perdeu grande parte de sua importância.

Como não bastasse, a pendenga já bateu no Supremo Tribunal Federal, onde o ministro Luiz Fux recomendou que o julgamento dos vetos de Dilma seja feito por ordem cronológica, o que provocou protestos do Congresso. O já citado observador ingênuo certamente repetiria a observação do parágrafo anterior.

Ou iria além: há uma inegável velocidade de quelônio na tramitação de assuntos de extrema importância pelos gabinetes de Brasília. E seria otimismo panglossiano imaginar que só existem tartarugas nas questões ligadas ao petróleo.

Mexeu com a igualdade, mexeu com todo mundo - FERNANDO GABEIRA


O Estado de S.Paulo - 21/12


O sucesso do filme Lincoln, de Steve Spielberg, inspirou uma série de artigos nos Estados Unidos ressaltando a importância da política, quando é realizada por pessoas generosas com o objetivo de melhorar a vida de milhões.

Os articulistas esperam que a exibição do filme leve os espectadores a lamentar a mediocridade da atmosfera política de hoje e que desperte o desejo de elevar seu nível por meio da própria participação.

Não vi o filme, apenas as entrevistas de Spielberg e de Daniel Day-Lewis, que interpreta Lincoln. Consegui, entretanto, o livro que, de certa forma, inspirou o filme: Team of Rivals, The Political Genius of Abraham Lincoln, de Doris Kearns Goodwin. A autora se estende também na biografia dos três candidatos que disputaram com Lincoln no Partido Republicano. Todos jovens ambiciosos e capazes, admirados pelos seus eleitores.

Não posso prever que efeito o filme terá nos Estados Unidos. Noto apenas que a época empurrava para a grandeza: todos saíram de casa e cruzaram os Estados Unidos para construir sua carreira. E havia um grande tema esperando por eles: a escravidão.

Os grandes temas ajudam, quando os políticos são capazes. Joaquim Nabuco, no Brasil, enriqueceu sua trajetória na luta contra a escravidão. Lincoln é produto de outra cultura e se insere de modo especial no momento político americano. Mas, como a reflexão sobre a política trata de variáveis universais, pode ser que desperte algum interesse no Brasil.

Vivemos um momento estranho. Dois presidentes, José Sarney e Lula, defendem-se reciprocamente com o argumento de que estão acima de suspeitas ou investigações. Sarney conferiu a Lula a condição de inalcançável e este, por sua vez, no auge do escândalo no Senado, afirmou que Sarney não deveria ser tratado como uma pessoa qualquer. Criaram uma irmandade dos intocáveis. Sarney já tem um museu dedicado à sua vida; Lula está a caminho de construir o seu.

Além de intocável e com um museu ainda em vida, Sarney também é imortal. Essa condição ainda falta a Lula, mas não me surpreenderia se o amigo conseguisse para ele uma cadeira na Academia de Letras.

Na década de 1960, escrevi um artigo ironizando as pessoas que se achavam especiais porque moravam em Ipanema. Até hoje rola pela internet. Jovem existencialista, mostrava a futilidade de se julgar especial por pertencer a algum lugar ou grupo ou mesmo por alguma condição nata. Era a forma de negar a importância das opções cotidianas, a construção de nossa realidade por meio das escolhas mais intrincadas. Sarney e Lula não reivindicam uma vantagem nata, muitos menos a que decorre do pertencimento a um grupo ou lugar. Eles se reclamam intocáveis pelos serviços prestados ao País. E nisso reside seu erro monumental. Não existem serviços prestados ao País que possam garantir uma condição acima de qualquer suspeita. E, se foram prestados com essa expectativa, corrompem as suas próprias intenções generosas.

Sarney e Lula fizeram nesse aspecto particular um pacto pelo atraso. Com o domínio do Congresso que o primeiro exerce e a popularidade do segundo, continuam com potencial de mobilizar a maioria. Mas sempre existirá uma minoria, resistindo com a frase tantas vezes subversiva: somos todos iguais perante a lei.

Compreendo que há uma luta política. Os governistas precisam proteger a imagem de Lula, pois ela é a garantia de futuras vitórias eleitorais. O desgaste de Lula enfraquece um projeto de poder.

Não compreendo, entretanto, o argumento que nos faz retroceder ao período anterior à Revolução Francesa. Esse desejo de poder estendido ao controle da biografia, da inevitabilidade da morte, do alcance da lei, é um desejo patético.

Mesmo aqueles que acham que o mundo começou com o nascimento de Lula, em Garanhuns (PE), ou com o nascimento de José Ribamar, em Pinheiro (MA), deveriam ser sensíveis à bandeira da igualdade.

A fraternidade dos intocáveis é uma construção mental que rebaixa as conquistas do movimento pela democratização no Brasil e nos divide entre semideuses e seres humanos.

Na verdade, o argumento dos dois presidentes aprofunda a desconfiança na política e nos políticos. Por isso a chegada de Lincoln, o filme, apesar de uma cultura e uma época diferentes, pode ser um pequeno sopro de ar fresco na sufocante atmosfera política brasileira.

Nem nos Estados Unidos nem aqui é possível repetir a grandeza política de Lincoln. Já no segundo capítulo do livro de Doris Goodwin é possível imaginar como Lincoln brigaria feio com os marqueteiros modernos: ele se recusava a dramatizar ou sentimentalizar sua infância na pobreza.

Ainda assim, com todas as ressalvas, precisamos de outras épocas, outros líderes, para ao menos desejar algo melhor do que o que estamos vivendo. Não me refiro, aqui, à satisfação majoritária com as condições materiais de vida. Muito menos quero dar à trajetória democrática no século 21 a dramaticidade de um tempo de guerra e escravidão.

Quando um presidente do Brasil diz uma barbaridade, sentimos muito. Quando dois presidentes dizem a mesma barbaridade, isso nos obriga a apelar para tudo, até para um bom cinema.

Depois do cha cha cha della secretaria, Lula se vê em apuros com as denúncias de Marcos Valério. Concordo com os petistas de que não se deva confiar nele, embora tenham confiado tão profundamente em 2003. Mas a melhor maneira de desconfiar é analisar as acusações, apurando-as com cuidado. É assim que se descobre o que é verdade e o que é mentira.

Fora disso, só construindo uma redoma onde Lula e Sarney possam estar a salvo dos percalços que ameaçam os simples mortais. E criar essa visão religiosa de uma santíssima dualidade. E ninguém se ajoelha e reza diante dela, porque a ferramenta hoje não é oração do passado. Basta um #tag.

Se Sarney e Lula se contentassem com um museu e a condição de imortais, tudo estaria bem. Mas, mexeu com a igualdade, mexeu com todos nós.

Estratégia traçada - VERA MAGALHÃES - PAINEL


FOLHA DE SP - 21/12


Caso Joaquim Barbosa determine hoje a prisão dos condenados no mensalão, a defesa de José Dirceu apresentará, além do habeas corpus para tentar sustar a decisão, pedido para que ele fique preso em uma sala do Estado Maior no Batalhão da Cavalaria da PM em São Paulo. Trata-se de prerrogativa que tem Dirceu por ser advogado, antes de sentença transitada em julgado. Caso não haja sala disponível, o Estatuto do Advogado diz que o juiz deve decretar prisão domiciliar.

Lar, doce lar 1 O direito a sala do Estado Maior tem sido usado com frequência para assegurar prisão domiciliar para advogados condenados. A resposta da Justiça costuma ser que não há salas desse tipo disponíveis.

Lar, doce lar 2 Marco Maia já havia tranquilizado petistas durante a confraternização de fim de ano no Palácio do Alvorada, anteontem, a respeito do "abrigo" da Câmara para deputados condenados no mensalão.

Blindado A despeito do temor de petistas pela integridade física de Dirceu caso vá para o sistema penitenciário de São Paulo, integrantes do governo paulista asseguram que o presídio de Tremembé, um de seus possíveis destinos, oferece plena segurança.

Decisão solitária Joaquim Barbosa só discutiu com dois assessores mais próximos a decisão que vai anunciar hoje. Ontem, o presidente deixou o STF mais cedo, para estudar o pedido do Ministério Público em casa.

Improviso Dilma Rousseff decidiu, na última hora, anunciar que o governo não irá cobrar tarifa dos menores aeroportos regionais no plano de concessões. A ideia, que não estava prevista nas discussões do pacote, foi bem recebida pelos empresários, que aplaudiram a presidente.

Mais-valia 1 Sindicatos ensaiam onda de protestos contra a desoneração da folha salarial do comércio, anunciada pelo governo. Querem que seja exigida contrapartida de manutenção de emprego entre os lojistas.

Mais-valia 2 Os comerciários calculam em 106 mil as demissões na categoria este ano em São Paulo. "Os trabalhadores estão indignados", diz Ricardo Pattah, da UGT.

Canetada A Advocacia Geral da União indeferiu requerimento do ex-diretor da ANA Paulo Vieira, denunciado na Operação Porto Seguro, pedindo documentos para embasar sua defesa.

Cilada 1 No ofício, Paulo Vieira se dirige ao advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, e diz ter sido apresentado a ele "em duas ocasiões" pelo ex-adjunto José Weber Holanda, também denunciado por integrar a quadrilha acusada de traficar pareceres no governo.

Cilada 2 Vieira pedia ainda documentos que comprovassem que Weber tinha poder hierárquico para decidir na AGU. Na resposta, a chefia de gabinete de Adams alega que o requerimento traz dados que "não condizem com a realidade" e sustenta que não há registro de encontros de Adams com Vieira.

Vou... Gilberto Kassab deixará a Prefeitura de São Paulo no dia 28, três dias antes do final de seu mandato. À ocasião, o prefeito receberá em seu gabinete assessores e secretários para um coquetel.

... de táxi Em seguida, deixará o edifício Matarazzo, sede do governo, num dos carros da frota elétrica de táxis, juntamente com a vice-prefeita Alda Marco Antonio.

Ano Velho A ideia de Kassab é liberar salas e instalações do prédio para a equipe de Fernando Haddad. O último ato público do prefeito no cargo será a abertura do Réveillon da Paulista, dia 31.

com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI

tiroteio

Não adianta Lula sair às ruas em 2013. Hoje ele não precisa prestar contas ao povo, mas à Justiça, ao Ministério Público e à PF.

DO PRESIDENTE DO PSDB, SÉRGIO GUERRA (PE), sobre o ex-presidente planejar caravanas pelo país para se defender das acusações de malfeitos em sua gestão.

contraponto

Os mortais que se entendam

Em meio à tensa reunião de líderes durante a qual se tentava acordo de procedimentos na apreciação dos mais de 3.000 vetos que trancam a pauta do Congresso, anteontem, a vice-presidente da Câmara, que comandava os trabalhos, Rose de Freitas (PMDB-ES), desabafou:

-Quem convocou a sessão foi José Sarney, e ontem apelei a ele para que a presidisse. Mas o senador tinha compromisso na Academia Brasileira de Letras, no Rio.

O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) emendou:

-E enquanto ele toma chá entre os imortais, nós é que estamos nos matando aqui!