O GLOBO - 08/03
No artigo que escreveu em 2004 para a Revista Jurídica do Centro de Estudos Judiciários ( CEJ) do Conselho de Justiça Federal sobre a Operação Mãos Limpas, ocorrida na Itália nos anos 1990, o juiz Sérgio Moro a classifica como "uma das mais impressionantes cruzadas judiciárias contra a corrupção política e administrativa".
Quando destaca "a relevância da democracia para a eficácia da ação judicial no combate à corrupção e suas causas estruturais", Moro diz que "se encontram presentes várias condições institucionais necessárias para a realização de ação semelhante no Brasil, onde a eficácia do sistema judicial contra os crimes de " colarinho branco", principalmente o de corrupção, é no mínimo duvidosa".
Depois disso, já marcado como especialista no combate à lavagem de dinheiro, ele assessorou a ministra Rosa Weber no julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal. Hoje, está à frente da Operação Lava- Jato, que caiu em seu colo em Curitiba por uma associação de fatores que levaram a investigação quase banal de doleiros ao centro de um dos maiores escândalos de corrupção política do mundo, como o caso da Petrobras foi classificado recentemente pela ONG Transparência Internacional.
No artigo, ele analisa o caso de Bettino Craxi, líder do Partido Socialista Italiano ( PSI) e ex-primeiro-ministro, um dos principais alvos da Operação Mãos Limpas. Moro ressalta que Craxi, já ameaçado pelas investigações e depois de negar várias vezes seu envolvimento, reconheceu cinicamente a prática disseminada das doações partidárias ilegais, em famoso discurso no Parlamento italiano, em 3 de julho de 1992, usando argumentos muito semelhantes aos que o PT vem usando: "(...) Mais, abaixo da cobertura do financiamento irregular dos partidos, casos de corrupção e extorsão floresceram e tornaram- se interligados. (...) O que é necessário dizer e que, de todo modo, todo mundo sabe, é que a maior parte do financiamento da política é irregular ou ilegal. Os partidos e aqueles que dependem da máquina partidária ( grande, média ou pequena), de jornais, de propaganda, atividades associativas ou promocionais... têm recorrido a recursos adicionais irregulares (...)".
Em dezembro de 1992, relata Moro, Craxi recebeu seu primeiro "avviso di garanzia", um documento de dezoito páginas, no qual era acusado de corrupção, extorsão e violação da lei reguladora do financiamento de campanhas. A acusação tinha por base, entre outras provas, a confissão de Salvatore Ligresti, suposto amigo pessoal de Craxi preso em julho de 1992, de que o grupo empresarial de sua propriedade teria pago, aproximadamente, US$ 500 mil desde 1985 ao PSI para ingressar e manter- se em grupo de empresários amigos do PSI.
Na segunda semana de janeiro de 1993, Craxi recebeu o segundo "avviso di garanzia", com acusações de que a propina teria também como beneficiário o próprio Craxi, não só o PSI.
Os pagamentos seriam feitos a Silvano Larini, que seria amigo próximo de Craxi. Larini e Filippo Panseca seriam os proprietários da empresa da qual Craxi alugaria suas mansões opulentas em Como e Hammamet. Craxi ainda recebeu novos "avvisi de garanzia" antes de renunciar ao posto de líder do PSI, em fevereiro de 1993. Sua popularidade logo se transformou em repúdio, e certa ocasião foi alvejado por uma chuva de moedas na rua.
Também viu seu nome envolvido no escândalo da Enimont, empresa química formada por joint venture da Ente Nazionale Idrocarburi ( ENI), a empresa petrolífera estatal italiana, e a Montedision, empresa química subsidiária do grupo Ferruzi ( considerado o segundo maior da Itália, após a Fiat). O governo acabou comprando a parte da empresa privada, mas a preço superestimado que gerou o pagamento de cerca de cem milhões de dólares a vários líderes políticos, dentre eles Craxi.
A operação "mani pulite" também revelou que a ENI funcionaria como uma fonte de financiamento ilegal para os partidos e teria efetuado pagamentos mensais aos principais partidos políticos durante anos. Bettino Craxi, diante das acusações e condenações, autoexilouse, em 1994, na Tunísia, onde faleceu em 2000.
O PSI sofreu uma grave crise financeira e, em 1994, o 47 º Congresso resolveu dissolver o partido. Seus seguidores acabam divididos ente o Forza Italia, de centro- direita, liderado por Berlusconi, e o Partido Democrático, de esquerda. Mais tarde, em 1998, surge o Socialisti e Democratici Italiani, que em 2009 voltou a ser o PSI.
terça-feira, março 08, 2016
Dez anos depois... - JOSÉ CASADO
O GLOBO - 08/03
Lula se acha injustiçado no inquérito sobre a corrupção na Petrobras, mas nunca pediu desculpas a Francenildo, cujo direitos foram violados e a vida foi devassada pelo seu governo
Dilma Rousseff, ontem, em Caxias do Sul (RS), para militantes do Partido dos Trabalhadores: — O presidente Lula, justiça seja feita, nunca se julgou melhor do que ninguém.
Lula, sexta-feira, em São Paulo: — Antes deles (policiais, procuradores e juízes) já fazíamos as coisas corretas nesse país... Eu fui melhor que todos. Eu fui melhor que todos cientistas políticos, fazendeiros, advogados e médicos que governaram este país.
Lula é um hábil ator da política-espetáculo. Soube com antecedência e reagiu de forma estudada. “Vou ser preso ou vão fazer a minha condução coercitiva”, avisou na véspera a Gilberto Carvalho — contou o ex-secretário presidencial à repórter Natuza Nery.
O momento mais espontâneo da sexta talvez tenha sido a conversa gravada e divulgada pela aliada Jandira Feghali (PCdoB-RJ). Ao telefone com a presidente, Lula disse o que pensa sobre as instituições, sugerindo um rumo para o processo sobre corrupção na Petrobras: “Que enfiem...” Não se conhece resposta de Dilma.
Lula sabe, também, que deverá ser denunciado. É a tendência da procuradoria com base em evidências sobre as finanças de cinco grandes empreiteiras, responsabilizadas por quase 70% da corrupção comprovada em negócios da Petrobras durante o governo Lula. Entre outras transações, os procuradores descreveram pagamentos de R$ 560 mil mensais ao ex-presidente, de 2011 a 2014. Lula defendeu-as: “Já se deram conta de que o salário de muita gente na Justiça vem dos impostos que pagam essas empresas?”
Preferiu dever respostas substantivas, como se desejasse entregar-se às suspeitas. Reverberou contra as instituições e voltou a sinalizar que a História é ele. Arrematou com seu estado de espírito: “Indignado”, “magoado” e “perseguido”.
Por coincidência, neste março completam-se dez anos daquela que talvez tenha sido a maior das injustiças cometidas pelo Estado brasileiro contra um cidadão comum: Francenildo dos Santos. Aos 24 anos, ganhava por mês (R$ 370) quase 1.500 vezes menos do que Lula recebeu das cinco empreiteiras do caso Petrobras.
Caseiro no Lago Sul, em Brasília, em 2006 testemunhou cenas dos porões do poder, como o trânsito de malas de dinheiro em ambiente de festas libertinas. Num ano eleitoral marcado pelo inquérito do mensalão, confirmou à repórter Rosa Costa que o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, frequentava a casa.
Convocado à CPI, foi silenciado pelo senador Tião Vianna (PT), que obteve uma liminar no Supremo. O número do seu CPF foi levado da Secretaria da Receita, comandada por Jorge Rachid, para o Palácio do Planalto. Ali, Lula se reunia com o ministro Palocci e o presidente da Caixa, Jorge Mattoso. À noite, o ministro recebeu de Mattoso um envelope com a violação do sigilo bancário de Francenildo na Caixa, relatou o repórter João Moreira Salles.
O governo espalhou cópias de extrato bancário onde constava depósito de R$ 30 mil. Tornou o caseiro suspeito de corrupção, a soldo dos “inimigos” eleitorais. A farsa não durou. Foi comprovado que o dinheiro fora doado pelo pai do caseiro, em parcelas, para ajudá-lo a comprar uma casa.
Desempregado e com a vida vasculhada, Francenildo aguentou firme. Até sugeriu que a devassa se estendesse ao seu voto na eleição de 2002: ajudara a eleger Lula presidente, de quem jamais recebeu sequer um pedido de desculpas.
Lula se acha injustiçado no inquérito sobre a corrupção na Petrobras, mas nunca pediu desculpas a Francenildo, cujo direitos foram violados e a vida foi devassada pelo seu governo
Dilma Rousseff, ontem, em Caxias do Sul (RS), para militantes do Partido dos Trabalhadores: — O presidente Lula, justiça seja feita, nunca se julgou melhor do que ninguém.
Lula, sexta-feira, em São Paulo: — Antes deles (policiais, procuradores e juízes) já fazíamos as coisas corretas nesse país... Eu fui melhor que todos. Eu fui melhor que todos cientistas políticos, fazendeiros, advogados e médicos que governaram este país.
Lula é um hábil ator da política-espetáculo. Soube com antecedência e reagiu de forma estudada. “Vou ser preso ou vão fazer a minha condução coercitiva”, avisou na véspera a Gilberto Carvalho — contou o ex-secretário presidencial à repórter Natuza Nery.
O momento mais espontâneo da sexta talvez tenha sido a conversa gravada e divulgada pela aliada Jandira Feghali (PCdoB-RJ). Ao telefone com a presidente, Lula disse o que pensa sobre as instituições, sugerindo um rumo para o processo sobre corrupção na Petrobras: “Que enfiem...” Não se conhece resposta de Dilma.
Lula sabe, também, que deverá ser denunciado. É a tendência da procuradoria com base em evidências sobre as finanças de cinco grandes empreiteiras, responsabilizadas por quase 70% da corrupção comprovada em negócios da Petrobras durante o governo Lula. Entre outras transações, os procuradores descreveram pagamentos de R$ 560 mil mensais ao ex-presidente, de 2011 a 2014. Lula defendeu-as: “Já se deram conta de que o salário de muita gente na Justiça vem dos impostos que pagam essas empresas?”
Preferiu dever respostas substantivas, como se desejasse entregar-se às suspeitas. Reverberou contra as instituições e voltou a sinalizar que a História é ele. Arrematou com seu estado de espírito: “Indignado”, “magoado” e “perseguido”.
Por coincidência, neste março completam-se dez anos daquela que talvez tenha sido a maior das injustiças cometidas pelo Estado brasileiro contra um cidadão comum: Francenildo dos Santos. Aos 24 anos, ganhava por mês (R$ 370) quase 1.500 vezes menos do que Lula recebeu das cinco empreiteiras do caso Petrobras.
Caseiro no Lago Sul, em Brasília, em 2006 testemunhou cenas dos porões do poder, como o trânsito de malas de dinheiro em ambiente de festas libertinas. Num ano eleitoral marcado pelo inquérito do mensalão, confirmou à repórter Rosa Costa que o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, frequentava a casa.
Convocado à CPI, foi silenciado pelo senador Tião Vianna (PT), que obteve uma liminar no Supremo. O número do seu CPF foi levado da Secretaria da Receita, comandada por Jorge Rachid, para o Palácio do Planalto. Ali, Lula se reunia com o ministro Palocci e o presidente da Caixa, Jorge Mattoso. À noite, o ministro recebeu de Mattoso um envelope com a violação do sigilo bancário de Francenildo na Caixa, relatou o repórter João Moreira Salles.
O governo espalhou cópias de extrato bancário onde constava depósito de R$ 30 mil. Tornou o caseiro suspeito de corrupção, a soldo dos “inimigos” eleitorais. A farsa não durou. Foi comprovado que o dinheiro fora doado pelo pai do caseiro, em parcelas, para ajudá-lo a comprar uma casa.
Desempregado e com a vida vasculhada, Francenildo aguentou firme. Até sugeriu que a devassa se estendesse ao seu voto na eleição de 2002: ajudara a eleger Lula presidente, de quem jamais recebeu sequer um pedido de desculpas.
Pausa nas planilhas e olho na Lava-Jato - FERNANDO TORRES
VALOR ECONÔMICO - 08/03
Quando cai na boca do povo uma expressão como "condução coercitiva", que boa parte das pessoas tem dificuldade até mesmo para pronunciar em voz alta, não há como fugir do assunto.
Nas redes sociais, mesas de bar e almoços de família ou de trabalho, não se fala de outra coisa que não da Lava-Jato.
Mesmo entre investidores e agentes do mercado financeiro, as ações recentes da força-tarefa e seus desdobramentos tornaram-se não apenas o assunto mais recorrente, como também aquele que mais tem influenciado os preços dos ativos.
Desde a prisão do marqueteiro das últimas campanhas petistas, João Santana, na segunda-feira retrasada, o Ibovespa saltou mais de 18%, enquanto o dólar Ptax afundou quase 7%, de mais de R$ 4 para perto de R$ 3,75.
É importante dizer que essa primeira estilingada dos preços é amplificada por um ajuste técnico decorrente do desmonte de posições de quem apostava contra o real e na queda das ações das empresas brasileiras.
Mas o movimento não é totalmente desprovido de fundamento. Como disse um gestor ao Valor, "política é fundamento na veia".
Ou seja, os agentes de fato mudarão seus cenários macroeconômicos - o que inclui projeções para PIB, dólar, inflação e superávit fiscal - se passarem a contar com a saída da presidente Dilma Rousseff do cargo antes do fim de 2018. E isso influencia os juros de longo prazo, cotações de ações etc.
Em síntese, se essas notícias foram capazes de fazer as ações de Petrobras, Usiminas, Gerdau e outras saltarem mais de 50% em pouco mais de cinco pregões, não convém ignorar a agenda política neste momento.
E isso vale mesmo para aqueles que se sentem mais a vontade diante de tabelas de Excel com modelos de fluxos de caixa descontado à sua frente.
A necessidade de seguir as recentes operações policiais se justifica não apenas pelo impacto que elas podem ter sobre os preços de maneira geral, como também pelo risco de atingirem em cheio (justa ou injustamente) a empresa na qual se investe - vide os casos da prisão do então controlador do BTG em novembro e a busca feita na Gerdau há duas semanas, esta última no âmbito da operação Zelotes. Banco e siderúrgica negam irregularidades.
Mas quais são as chances reais de que ocorra aquilo que os agentes do mercado financeiro parecem desejar - a julgar pelo comportamento dos preços dos ativos -, que é a saída do PT do governo?
Antecipar o futuro da Lava-Jato é mais difícil que acertar a taxa de câmbio ou a projeção do preço do petróleo.
Mas talvez ajude na análise separar o caso em duas frentes - frentes essas que se conversam, mas têm dinâmicas distintas.
A primeira é a policial e judicial contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tiraria o PT do jogo em 2018. A segunda é a saída antecipada de Dilma da presidência, seja por impeachment ou via cassação da chapa da eleição de 2014 pelo Tribunal Superior Eleitoral.
No primeiro caso, a questão é: existe chance de Lula ser preso ou de ser legalmente impedido de disputar a presidência em 2018, depois de ter lançado a candidatura na última sexta?
A resposta talvez dependa da ambição do Ministério Público Federal e do juiz Sergio Moro.
O relatório de 89 páginas em que o MPF fundamenta a condução coercitiva de Lula revela várias frentes de investigação. A acusação mais grave é a de que Lula era o chefe do esquema que assaltou a Petrobras. Ainda que a linha de raciocínio apresentada convença muita gente, inclusive os próprios procuradores, não há provas tipo "batom na cueca" até agora, o que leva o MPFa recorrer para algo na linha do domínio do fato. "Considerando que todas essas figuras, diretamente envolvidas no estratagema criminoso, orbitavam em volta de Lula e do PT, não é crível que ele desconhecesse a existência dos ilícitos", diz um trecho.
Já entre os casos menos ambiciosos, mas que envolvem Lula diretamente e com provas mais fortes, estão o do sítio em Atibaia e do guarda-móveis custeado pela OAS entre janeiro de 2011 e janeiro de 2016.
O sítio foi comprado em 29 de outubro de 2010, quando Lula ainda era presidente, e a reforma teve início antes do fim do ano, sendo custeada por uma empresa de José Carlos Bumlai e com gestão e mão de obra fornecidas sem custo pela Odebrecht ainda em dezembro (Se a lei anticorrupção estivesse em vigor na época, as duas empresas estariam enquadradas civilmente, mesmo sem prova de contrapartida).
O fato de Lula frequentar o sítio regularmente evidencia que ele usufruiu dessas vantagens que lhe foram oferecidas - ainda que ele negue ser dono do local, como alega o Ministério Público.
A defesa do ex-presidente diz que ele só soube do "presente" que recebeu de "amigos" no início de 2011. Mas se o destino do acervo recebido ao longo dos anos de presidência era uma preocupação da família, como alegou à "Folha" o ex-chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, alguém teria tomado outra providência para guardá-lo se o sítio fosse um segredo.
Estaria caracterizada então, na esfera cível, a improbidade administrativa, e uma condenação em segunda instância tiraria Lula da disputa pela Lei da Ficha Limpa. O problema é o prazo de prescrição, que por regra é de cinco anos, mas que poderia aumentar se for comprovado envolvimento de servidor público, como parece ter havido, segundo o MPF.
A força-tarefa também traz inúmeras provas de que a OAS preparou o triplex do Guarujá para a família de Lula, seja como presente ou para venda. Mas a defesa vai alegar que as obras ocorreram em 2014, que não há crime em ex-presidente receber presentes, e que Lula nunca usufruiu do apartamento - ao contrário do sítio.
As acusações contra Lula não afetam a presidente Dilma juridicamente. Mas têm poder de lhe tirar o pequeno apoio político que lhe resta no Congresso e nas ruas. E essa interação é perversa: o Congresso parado agrava a crise econômica, que aumenta a desaprovação de Dilma e dá mais respaldo político para a interrupção de mandato.
Outra frente que pode afetar Dilma são as delações que em breve se tornarão públicas, como a de executivos da Andrade Gutierrez e a do senador Delcídio do Amaral, caso tragam provas de que a campanha de 2014 teve dinheiro ilícito ou que ela tentou atrapalhar as investigações.
Quando cai na boca do povo uma expressão como "condução coercitiva", que boa parte das pessoas tem dificuldade até mesmo para pronunciar em voz alta, não há como fugir do assunto.
Nas redes sociais, mesas de bar e almoços de família ou de trabalho, não se fala de outra coisa que não da Lava-Jato.
Mesmo entre investidores e agentes do mercado financeiro, as ações recentes da força-tarefa e seus desdobramentos tornaram-se não apenas o assunto mais recorrente, como também aquele que mais tem influenciado os preços dos ativos.
Desde a prisão do marqueteiro das últimas campanhas petistas, João Santana, na segunda-feira retrasada, o Ibovespa saltou mais de 18%, enquanto o dólar Ptax afundou quase 7%, de mais de R$ 4 para perto de R$ 3,75.
É importante dizer que essa primeira estilingada dos preços é amplificada por um ajuste técnico decorrente do desmonte de posições de quem apostava contra o real e na queda das ações das empresas brasileiras.
Mas o movimento não é totalmente desprovido de fundamento. Como disse um gestor ao Valor, "política é fundamento na veia".
Ou seja, os agentes de fato mudarão seus cenários macroeconômicos - o que inclui projeções para PIB, dólar, inflação e superávit fiscal - se passarem a contar com a saída da presidente Dilma Rousseff do cargo antes do fim de 2018. E isso influencia os juros de longo prazo, cotações de ações etc.
Em síntese, se essas notícias foram capazes de fazer as ações de Petrobras, Usiminas, Gerdau e outras saltarem mais de 50% em pouco mais de cinco pregões, não convém ignorar a agenda política neste momento.
E isso vale mesmo para aqueles que se sentem mais a vontade diante de tabelas de Excel com modelos de fluxos de caixa descontado à sua frente.
A necessidade de seguir as recentes operações policiais se justifica não apenas pelo impacto que elas podem ter sobre os preços de maneira geral, como também pelo risco de atingirem em cheio (justa ou injustamente) a empresa na qual se investe - vide os casos da prisão do então controlador do BTG em novembro e a busca feita na Gerdau há duas semanas, esta última no âmbito da operação Zelotes. Banco e siderúrgica negam irregularidades.
Mas quais são as chances reais de que ocorra aquilo que os agentes do mercado financeiro parecem desejar - a julgar pelo comportamento dos preços dos ativos -, que é a saída do PT do governo?
Antecipar o futuro da Lava-Jato é mais difícil que acertar a taxa de câmbio ou a projeção do preço do petróleo.
Mas talvez ajude na análise separar o caso em duas frentes - frentes essas que se conversam, mas têm dinâmicas distintas.
A primeira é a policial e judicial contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tiraria o PT do jogo em 2018. A segunda é a saída antecipada de Dilma da presidência, seja por impeachment ou via cassação da chapa da eleição de 2014 pelo Tribunal Superior Eleitoral.
No primeiro caso, a questão é: existe chance de Lula ser preso ou de ser legalmente impedido de disputar a presidência em 2018, depois de ter lançado a candidatura na última sexta?
A resposta talvez dependa da ambição do Ministério Público Federal e do juiz Sergio Moro.
O relatório de 89 páginas em que o MPF fundamenta a condução coercitiva de Lula revela várias frentes de investigação. A acusação mais grave é a de que Lula era o chefe do esquema que assaltou a Petrobras. Ainda que a linha de raciocínio apresentada convença muita gente, inclusive os próprios procuradores, não há provas tipo "batom na cueca" até agora, o que leva o MPFa recorrer para algo na linha do domínio do fato. "Considerando que todas essas figuras, diretamente envolvidas no estratagema criminoso, orbitavam em volta de Lula e do PT, não é crível que ele desconhecesse a existência dos ilícitos", diz um trecho.
Já entre os casos menos ambiciosos, mas que envolvem Lula diretamente e com provas mais fortes, estão o do sítio em Atibaia e do guarda-móveis custeado pela OAS entre janeiro de 2011 e janeiro de 2016.
O sítio foi comprado em 29 de outubro de 2010, quando Lula ainda era presidente, e a reforma teve início antes do fim do ano, sendo custeada por uma empresa de José Carlos Bumlai e com gestão e mão de obra fornecidas sem custo pela Odebrecht ainda em dezembro (Se a lei anticorrupção estivesse em vigor na época, as duas empresas estariam enquadradas civilmente, mesmo sem prova de contrapartida).
O fato de Lula frequentar o sítio regularmente evidencia que ele usufruiu dessas vantagens que lhe foram oferecidas - ainda que ele negue ser dono do local, como alega o Ministério Público.
A defesa do ex-presidente diz que ele só soube do "presente" que recebeu de "amigos" no início de 2011. Mas se o destino do acervo recebido ao longo dos anos de presidência era uma preocupação da família, como alegou à "Folha" o ex-chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, alguém teria tomado outra providência para guardá-lo se o sítio fosse um segredo.
Estaria caracterizada então, na esfera cível, a improbidade administrativa, e uma condenação em segunda instância tiraria Lula da disputa pela Lei da Ficha Limpa. O problema é o prazo de prescrição, que por regra é de cinco anos, mas que poderia aumentar se for comprovado envolvimento de servidor público, como parece ter havido, segundo o MPF.
A força-tarefa também traz inúmeras provas de que a OAS preparou o triplex do Guarujá para a família de Lula, seja como presente ou para venda. Mas a defesa vai alegar que as obras ocorreram em 2014, que não há crime em ex-presidente receber presentes, e que Lula nunca usufruiu do apartamento - ao contrário do sítio.
As acusações contra Lula não afetam a presidente Dilma juridicamente. Mas têm poder de lhe tirar o pequeno apoio político que lhe resta no Congresso e nas ruas. E essa interação é perversa: o Congresso parado agrava a crise econômica, que aumenta a desaprovação de Dilma e dá mais respaldo político para a interrupção de mandato.
Outra frente que pode afetar Dilma são as delações que em breve se tornarão públicas, como a de executivos da Andrade Gutierrez e a do senador Delcídio do Amaral, caso tragam provas de que a campanha de 2014 teve dinheiro ilícito ou que ela tentou atrapalhar as investigações.
A vassalagem de Dilma a Lula - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S. Paulo - 08/03
Quando decidiu oferecer solidariedade a Luiz Inácio Lula da Silva, visitando o chefão petista com estardalhaço um dia depois que ele se viu como alvo central da Operação Lava Jato, a presidente Dilma Rousseff amesquinhou vergonhosamente a Presidência da República, reduzindo-a a um mero puxadinho de um dos tantos imóveis de que o ex-presidente usufrui graças a favores de amigos do peito.
Fazendo uso pessoal e político-partidário do aparato presidencial, como o avião e o helicóptero oficiais, Dilma foi a São Bernardo para prestar vassalagem pública a Lula, num ato de sabujice que, além de ilegal, desonra o cargo que ela ocupa. De quebra, a presidente se prestou a engrossar o coro dos que enxergam na Justiça o centro de um “golpe” contra seu governo e contra Lula, configurando inaceitável desrespeito do Executivo pelo Judiciário.
Esse comportamento grotesco serve somente para confirmar aquilo que os brasileiros já sabem: Dilma não existe mais como presidente. Sua insistência em permanecer nesse cargo, para o qual nunca teve aptidão e já não tem legitimidade, apenas piora uma situação já de si muito grave. Para que não se atinja o temido ponto de ruptura, em que a violência toma o lugar do debate político, Dilma deveria ter a decência de renunciar, abrindo caminho para a necessária normalização das relações institucionais e para a retomada da confiança na capacidade do governo de governar.
No entanto, em diversas oportunidades, Dilma já avisou que jamais tomará a iniciativa de abreviar seu mandato. Ela costuma vincular essa disposição a seu passado de guerrilheira que suportou a tortura nos porões da ditadura – como se o impeachment, que está previsto na Constituição, ou os movimentos que democraticamente defendem sua renúncia fossem comparáveis aos absurdos do regime militar.
Mas foi a um absurdo que Dilma e os petistas reduziram o debate político atual. Para salvar o ex-presidente Lula da cadeia e Dilma do impeachment, o PT tenta transformar o País numa rinha de galos, isto é, pretende arrastar os indignados brasileiros de bem para o mesmo nível de truculência ao qual a tigrada está habituada. A confusão moral é o que aduba a erva daninha petista.
Enquanto isso, o País segue sem rumo, em profunda crise, graças a uma presidente que não governa mais – isso depois de ter condenado a economia a uma retração que só se costuma observar em tempos de guerra ou de grandes catástrofes. Restou a Dilma caçar “mosquitas”, entregar casas do Minha Casa, Minha Vida e defender Lula.
Ao usar o avião e o helicóptero presidenciais para fazer uma visita particular a seu padrinho e ao aparecer em público em clima de comício, com o braço erguido, ao lado de Lula, suspeito de chefiar uma grande quadrilha de corruptos que assaltaram o País, Dilma fez sua opção: decidiu ficar contra a maioria absoluta dos brasileiros, incompatibilizando-se de vez para o exercício da Presidência.
Do ponto de vista político, é sua última cartada. Mesmo depois que Lula e seus apaniguados se posicionaram publicamente contra o governo de Dilma, considerado por muitos petistas como “neoliberal”, a presidente concluiu que ela não é nada sem seu chefe. Conforme esse cálculo, sua sobrevivência no cargo depende do apoio de Lula e do partido que lhe virou as costas, mesmo que isso signifique total subserviência ao PT – cujos líderes, se não estão presos, enfrentam hostilidade em locais públicos – e, principalmente, a seu líder, em cujos calcanhares está a Justiça. Não é uma boa perspectiva.
Do ponto de vista legal e moral, o caminho trilhado por Dilma não tem volta. A presidente faz prevalecer seu interesse pessoal em detrimento do interesse público. Deixou de ser a governante de todos os brasileiros para servir a Lula. Misturou-se à tigrada que hoje pretende intimidar aqueles que estão empenhados no cumprimento da lei.
Assim, cresce a percepção, inclusive no Congresso, de que Dilma está no cargo apenas para salvar Lula, e nada mais. O País e suas instituições não podem se curvar a isso.
Quando decidiu oferecer solidariedade a Luiz Inácio Lula da Silva, visitando o chefão petista com estardalhaço um dia depois que ele se viu como alvo central da Operação Lava Jato, a presidente Dilma Rousseff amesquinhou vergonhosamente a Presidência da República, reduzindo-a a um mero puxadinho de um dos tantos imóveis de que o ex-presidente usufrui graças a favores de amigos do peito.
Fazendo uso pessoal e político-partidário do aparato presidencial, como o avião e o helicóptero oficiais, Dilma foi a São Bernardo para prestar vassalagem pública a Lula, num ato de sabujice que, além de ilegal, desonra o cargo que ela ocupa. De quebra, a presidente se prestou a engrossar o coro dos que enxergam na Justiça o centro de um “golpe” contra seu governo e contra Lula, configurando inaceitável desrespeito do Executivo pelo Judiciário.
Esse comportamento grotesco serve somente para confirmar aquilo que os brasileiros já sabem: Dilma não existe mais como presidente. Sua insistência em permanecer nesse cargo, para o qual nunca teve aptidão e já não tem legitimidade, apenas piora uma situação já de si muito grave. Para que não se atinja o temido ponto de ruptura, em que a violência toma o lugar do debate político, Dilma deveria ter a decência de renunciar, abrindo caminho para a necessária normalização das relações institucionais e para a retomada da confiança na capacidade do governo de governar.
No entanto, em diversas oportunidades, Dilma já avisou que jamais tomará a iniciativa de abreviar seu mandato. Ela costuma vincular essa disposição a seu passado de guerrilheira que suportou a tortura nos porões da ditadura – como se o impeachment, que está previsto na Constituição, ou os movimentos que democraticamente defendem sua renúncia fossem comparáveis aos absurdos do regime militar.
Mas foi a um absurdo que Dilma e os petistas reduziram o debate político atual. Para salvar o ex-presidente Lula da cadeia e Dilma do impeachment, o PT tenta transformar o País numa rinha de galos, isto é, pretende arrastar os indignados brasileiros de bem para o mesmo nível de truculência ao qual a tigrada está habituada. A confusão moral é o que aduba a erva daninha petista.
Enquanto isso, o País segue sem rumo, em profunda crise, graças a uma presidente que não governa mais – isso depois de ter condenado a economia a uma retração que só se costuma observar em tempos de guerra ou de grandes catástrofes. Restou a Dilma caçar “mosquitas”, entregar casas do Minha Casa, Minha Vida e defender Lula.
Ao usar o avião e o helicóptero presidenciais para fazer uma visita particular a seu padrinho e ao aparecer em público em clima de comício, com o braço erguido, ao lado de Lula, suspeito de chefiar uma grande quadrilha de corruptos que assaltaram o País, Dilma fez sua opção: decidiu ficar contra a maioria absoluta dos brasileiros, incompatibilizando-se de vez para o exercício da Presidência.
Do ponto de vista político, é sua última cartada. Mesmo depois que Lula e seus apaniguados se posicionaram publicamente contra o governo de Dilma, considerado por muitos petistas como “neoliberal”, a presidente concluiu que ela não é nada sem seu chefe. Conforme esse cálculo, sua sobrevivência no cargo depende do apoio de Lula e do partido que lhe virou as costas, mesmo que isso signifique total subserviência ao PT – cujos líderes, se não estão presos, enfrentam hostilidade em locais públicos – e, principalmente, a seu líder, em cujos calcanhares está a Justiça. Não é uma boa perspectiva.
Do ponto de vista legal e moral, o caminho trilhado por Dilma não tem volta. A presidente faz prevalecer seu interesse pessoal em detrimento do interesse público. Deixou de ser a governante de todos os brasileiros para servir a Lula. Misturou-se à tigrada que hoje pretende intimidar aqueles que estão empenhados no cumprimento da lei.
Assim, cresce a percepção, inclusive no Congresso, de que Dilma está no cargo apenas para salvar Lula, e nada mais. O País e suas instituições não podem se curvar a isso.
Sair às ruas, entrar para a história - KIM KATAGUIRI
FOLHA DE SP - 08/03
O PT nunca viveu momento tão desesperador. As explosivas revelações dadelação do senador Delcídio do Amaral (PT-MS) e a Polícia Federal batendo à porta de Lula foram os mais duros reveses que o partido sofreu em sua história. As manifestações pró-impeachment marcadas para o dia 13 de março, alimentadas pelo momento político e pela crise econômica, têm tudo para ser maiores do que os protestos do ano passado.
É a tempestade perfeita. A maior dificuldade que movimentos como o MBL, do qual faço parte, tinham para mobilizar a população desapareceu na última semana.
A insatisfação da maioria esmagadora da população com o governo Dilma já estava consolidada por causa do desastre econômico de 2015 e das revelações da Operação Lava Jato. O problema é que essa insatisfação estava se tornando desesperança.
A sociedade não tinha perspectivas de mudança no cenário político. Com os acontecimentos recentes, o impeachment voltou a ser o rito necessário, sem o qual o país não se reconcilia com o seu futuro. Além disso, é uma clara vitória para as instituições o fato de que Lula, finalmente, não está acima da lei.
A delação de Delcídio amarrou alguns fios que pareciam soltos no petrolão. Era o que faltava para que parlamentares, empresários e setores organizados da sociedade civil descessem do muro. O impeachment não é "a" solução. Mas não há solução sem impeachment.
Para Lula, as revelações, somadas à mais recente fase da Operação Lava Jato, foram ainda mais destrutivas. No caso do mais ilustre de todos os petistas, não há precedente que sirva de comparação. Nossa democracia já viu um presidente passar por um processo de impeachment, mas nunca viu um ex-líder de tal envergadura ser tão humilhado por suas próprias escolhas.
O fato é que agora temos a oportunidade de fazer ruir o império da quadrilha que transformou o Estado brasileiro numa máquina de financiamento de um projeto de poder. Apesar da militância inflamada, o PT nunca esteve tão fraco.
As ameaças seguem o padrão conhecido: "Vamos colocar o exército do Stedile nas ruas!"; "Pegaremos em armas para defender o governo se preciso for!"; "O enfrentamento vai ser nas ruas!"...
Essa linguagem de resistência, hoje em dia, não passa de um teatrinho encenado por grupelhos que se transformaram em repartições da burocracia petista, alimentados com dinheiro público. MST, UNE, CUT e MTST são apenas siglas que contam a história da impostura. Quem sabe, fora do poder, consigam encontrar um pouco de dignidade ao menos, já que não há milagre que possa lhes corrigir a pauta deformada.
Temos de resgatar aquilo que o petismo nos roubou. E não me refiro apenas aos bilhões de reais subtraídos do Estado. Falo das nossas instituições e da integridade da nossa democracia.
Há mais de uma década, vivemos sob a ditadura da propina. Os Três Poderes perderam sua independência. A República tornou-se propriedade de um partido político. Quando os petistas dizem que não inventaram a corrupção, falam uma verdade ao menos. O que não admitem é o fato de que o partido é o único que, além de saquear os cofres públicos, saqueia as instituições democráticas.
Dia 13 de março estarei nas ruas para tomar de volta aquilo que me foi roubado. Espero que você, caro leitor, esteja também. O lema escolhido para as manifestações, "Ou você vai, ou ela fica", não é uma mera frase de efeito. Tampouco é mera dramatização da realidade. Trata-se da constatação de um fato.
O governo Dilma é um dragão muito ferido, mas ainda é um dragão. Se não aproveitarmos o momento para aniquilá-lo, segundo os instrumentos que a democracia oferece, continuará a cuspir fogo nas instituições, mesmo agonizante. Quanto mais destruição causar, mais difícil será a reconstrução.
Governos não caem de podre mesmo quando podres. Dilma ainda está com a caneta na mão. Cabe a nós ir para a rua no dia 13 de março e escrever um futuro diferente com a tinta que resta.
O PT nunca viveu momento tão desesperador. As explosivas revelações dadelação do senador Delcídio do Amaral (PT-MS) e a Polícia Federal batendo à porta de Lula foram os mais duros reveses que o partido sofreu em sua história. As manifestações pró-impeachment marcadas para o dia 13 de março, alimentadas pelo momento político e pela crise econômica, têm tudo para ser maiores do que os protestos do ano passado.
É a tempestade perfeita. A maior dificuldade que movimentos como o MBL, do qual faço parte, tinham para mobilizar a população desapareceu na última semana.
A insatisfação da maioria esmagadora da população com o governo Dilma já estava consolidada por causa do desastre econômico de 2015 e das revelações da Operação Lava Jato. O problema é que essa insatisfação estava se tornando desesperança.
A sociedade não tinha perspectivas de mudança no cenário político. Com os acontecimentos recentes, o impeachment voltou a ser o rito necessário, sem o qual o país não se reconcilia com o seu futuro. Além disso, é uma clara vitória para as instituições o fato de que Lula, finalmente, não está acima da lei.
A delação de Delcídio amarrou alguns fios que pareciam soltos no petrolão. Era o que faltava para que parlamentares, empresários e setores organizados da sociedade civil descessem do muro. O impeachment não é "a" solução. Mas não há solução sem impeachment.
Para Lula, as revelações, somadas à mais recente fase da Operação Lava Jato, foram ainda mais destrutivas. No caso do mais ilustre de todos os petistas, não há precedente que sirva de comparação. Nossa democracia já viu um presidente passar por um processo de impeachment, mas nunca viu um ex-líder de tal envergadura ser tão humilhado por suas próprias escolhas.
O fato é que agora temos a oportunidade de fazer ruir o império da quadrilha que transformou o Estado brasileiro numa máquina de financiamento de um projeto de poder. Apesar da militância inflamada, o PT nunca esteve tão fraco.
As ameaças seguem o padrão conhecido: "Vamos colocar o exército do Stedile nas ruas!"; "Pegaremos em armas para defender o governo se preciso for!"; "O enfrentamento vai ser nas ruas!"...
Essa linguagem de resistência, hoje em dia, não passa de um teatrinho encenado por grupelhos que se transformaram em repartições da burocracia petista, alimentados com dinheiro público. MST, UNE, CUT e MTST são apenas siglas que contam a história da impostura. Quem sabe, fora do poder, consigam encontrar um pouco de dignidade ao menos, já que não há milagre que possa lhes corrigir a pauta deformada.
Temos de resgatar aquilo que o petismo nos roubou. E não me refiro apenas aos bilhões de reais subtraídos do Estado. Falo das nossas instituições e da integridade da nossa democracia.
Há mais de uma década, vivemos sob a ditadura da propina. Os Três Poderes perderam sua independência. A República tornou-se propriedade de um partido político. Quando os petistas dizem que não inventaram a corrupção, falam uma verdade ao menos. O que não admitem é o fato de que o partido é o único que, além de saquear os cofres públicos, saqueia as instituições democráticas.
Dia 13 de março estarei nas ruas para tomar de volta aquilo que me foi roubado. Espero que você, caro leitor, esteja também. O lema escolhido para as manifestações, "Ou você vai, ou ela fica", não é uma mera frase de efeito. Tampouco é mera dramatização da realidade. Trata-se da constatação de um fato.
O governo Dilma é um dragão muito ferido, mas ainda é um dragão. Se não aproveitarmos o momento para aniquilá-lo, segundo os instrumentos que a democracia oferece, continuará a cuspir fogo nas instituições, mesmo agonizante. Quanto mais destruição causar, mais difícil será a reconstrução.
Governos não caem de podre mesmo quando podres. Dilma ainda está com a caneta na mão. Cabe a nós ir para a rua no dia 13 de março e escrever um futuro diferente com a tinta que resta.
Faltaram a Lula os conselhos de uma criança - JOSIAS DE SOUZA
O BLOG DO JOSIAS DE SOUZA
No teatro infantil, com seus enredos básicos, sua comédia ingênua e seus exageros trágicos, as crianças se integram à catarse. Elas participam do espetáculo. Interferem na história, vaiam os vilões e torcem pelos herois. Avisam para a Chapeuzinho Vermelho, aos berros, que o Lobo Mau vai atacar. Às vezes, invadem o palco para evitar o ataque. O que faltou a Lula foi uma criança de cinco anos que saltasse da poltrona do teatro e gritasse para o mito do PT, a plenos pulmões: “Fuja dos seus amigos!”
Não bastasse o tríplex no Guarujá, que Lula alega ter desistido de comprar depois que virou escândalo; e o sítio de Atibaia, que virou escândalo porque o ex-soberano utiliza mesmo sem comprar, surge agora a cobertura de São Bernardo. Fica ao lado de outra cobertura, onde mora Lula. No papel, o imóvel foi “comprado” em 2011 por Glaucos da Costamarques, um primo do amigo José Carlos Bumlai, preso em Curitiba. Foi “alugado” para Lula, que prefere não ter vizinhos.
Presidente do Instituto Lula, o faz-tudo Paulo Okamotto explicou que o ex-soberano petista não quer ter ninguém morando do seu lado porque sabe do “desconforto” que é ter um vizinho político. Desconforto?!? Decerto Okamotto se refere ao risco de abrir a porta e dar de cara com agentes da Polícia Federal no hall do elevador. Mas as dúvidas continuam boiando no ar.
Por que diabos Lula não comprou, ele próprio, a cobertura ao lado? O primo de Bumlai afirma que pagou cerca de R$ 500 mil pelo imóvel. Isso é dinheiro de troco para Lula, um gênio das palestras invisíveis, que diz ter feito fortuna equiparando o preço de sua lábia à tabela de Bill Clinton, o conferencista mais caro do planeta.
Se houvesse uma criança de cinco anos na plateia, ao perceber que um primo de Bumlai entrara em cena, ela teria se esgoelado: “Não, não. Isso não!” Durante as visitas de Lula e Marisa Letícia às obras da reforma do tríplex do Guarujá, a criança teria entrado em desespero: “Pelo amor de Deus, do lado de Leo Pinheiro, dono da OAS, não!” Ao cruzar o portão do sítio de Atibaia, cedido pelos sócios de Lulinha e reformado pelo pool Odebrechet-OAS-Bumlai, a família Lula da Silva ouviria da criança: “Isso vai dar merda!”
Ah, que político imaculado seria Lula se tivesse do seu lado um conselheiro mirim, com cinco anos de idade!
No teatro infantil, com seus enredos básicos, sua comédia ingênua e seus exageros trágicos, as crianças se integram à catarse. Elas participam do espetáculo. Interferem na história, vaiam os vilões e torcem pelos herois. Avisam para a Chapeuzinho Vermelho, aos berros, que o Lobo Mau vai atacar. Às vezes, invadem o palco para evitar o ataque. O que faltou a Lula foi uma criança de cinco anos que saltasse da poltrona do teatro e gritasse para o mito do PT, a plenos pulmões: “Fuja dos seus amigos!”
Não bastasse o tríplex no Guarujá, que Lula alega ter desistido de comprar depois que virou escândalo; e o sítio de Atibaia, que virou escândalo porque o ex-soberano utiliza mesmo sem comprar, surge agora a cobertura de São Bernardo. Fica ao lado de outra cobertura, onde mora Lula. No papel, o imóvel foi “comprado” em 2011 por Glaucos da Costamarques, um primo do amigo José Carlos Bumlai, preso em Curitiba. Foi “alugado” para Lula, que prefere não ter vizinhos.
Presidente do Instituto Lula, o faz-tudo Paulo Okamotto explicou que o ex-soberano petista não quer ter ninguém morando do seu lado porque sabe do “desconforto” que é ter um vizinho político. Desconforto?!? Decerto Okamotto se refere ao risco de abrir a porta e dar de cara com agentes da Polícia Federal no hall do elevador. Mas as dúvidas continuam boiando no ar.
Por que diabos Lula não comprou, ele próprio, a cobertura ao lado? O primo de Bumlai afirma que pagou cerca de R$ 500 mil pelo imóvel. Isso é dinheiro de troco para Lula, um gênio das palestras invisíveis, que diz ter feito fortuna equiparando o preço de sua lábia à tabela de Bill Clinton, o conferencista mais caro do planeta.
Se houvesse uma criança de cinco anos na plateia, ao perceber que um primo de Bumlai entrara em cena, ela teria se esgoelado: “Não, não. Isso não!” Durante as visitas de Lula e Marisa Letícia às obras da reforma do tríplex do Guarujá, a criança teria entrado em desespero: “Pelo amor de Deus, do lado de Leo Pinheiro, dono da OAS, não!” Ao cruzar o portão do sítio de Atibaia, cedido pelos sócios de Lulinha e reformado pelo pool Odebrechet-OAS-Bumlai, a família Lula da Silva ouviria da criança: “Isso vai dar merda!”
Ah, que político imaculado seria Lula se tivesse do seu lado um conselheiro mirim, com cinco anos de idade!
Escalada irresponsável - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S. Paulo - 08/03
Diante das demolidoras evidências a cada dia reveladas pelas investigações policiais, de que o ex-presidente Lula e o PT estão comprometidos até o pescoço com a corrupção no governo, o lulopetismo decidiu apelar para a melhor defesa que conhece: o ataque.
Em desespero, mobiliza suas tropas – constituídas basicamente pela militância paga de entidades e organizações sociais como CUT, UNE, MTST, entre outras – exortando-as ao confronto nas ruas com os opositores do governo. E chegou à criminosa irresponsabilidade de convocar seus apoiadores a se manifestarem, em São Paulo, em plena Avenida Paulista, no próximo domingo, dia 13, data há meses anunciada pelos movimentos de oposição ao governo e ao lulopetismo para protestar contra o descalabro político, econômico e moral em que Lula e Dilma Rousseff mergulharam o Brasil e apoiar o impeachment da presidente da República.
Desde que foi levado coercitivamente a depor na Polícia Federal na sexta-feira passada e reagiu fazendo o papel de vítima não dos policiais federais que o interrogaram, mas de uma conspiração armada para condená-lo, ficou claro que, sem argumentos legais suficientemente fortes para se defender, Lula optou pelo ataque, como sempre faz quando se sente acuado. Obedientes a essa tática, os militantes petistas tentam exacerbar o confronto para que dele, se possível, surja um mártir, uma vítima da sanha assassina das elites apoiadas pela mídia golpista.
É isso o que pode acontecer se o lulopetismo lograr o intento de colocar na Avenida Paulista, no próximo domingo – ou em qualquer outra cidade, mas o evento de São Paulo tem relevante sentido emblemático –, um bando de baderneiros dispostos a hostilizar a massa que estará exercendo o legítimo direito de se manifestar em paz e deverá ser, de acordo com a previsão dos organizadores, uma das mais numerosas dos últimos tempos.
Mesmo que acabem cedendo ao bom senso e não concretizem o intento temerário de “botar a tropa na rua”, os petistas esperam que a simples hipótese da ocorrência de conflitos seja suficiente para desencorajar os antigovernistas e esvaziar a manifestação do dia 13.
Articulado com a estratégia da exortação ao confronto, um dos mais proeminentes líderes do lulopetismo, o ex-ministro Gilberto Carvalho, em entrevista publicada ontem na Folha de S.Paulo, advertiu aqueles que, na tentativa de envolver Lula na Lava Jato, estão “brincando com fogo”: “Espero que haja bom senso e que a Lava Jato volte ao seu leito natural de combater a corrupção real e se desteatralize (sic), que as delações premiadas deixem de ser instrumento de perseguição de um partido político”.
Combater a “corrupção real”, na opinião do piedoso Gilbertinho, é deixar Lula e os petistas em paz, pois “(...) os campeões da corrupção estão soltos, tendo suas penas reduzidas escandalosamente (...). Quem está ficando na cadeia em Curitiba é o Marcelo Odebrecht, que se negou a fazer delação, e os políticos. Isso é combater a corrupção?”.
Por esse raciocínio, quem colaborou com as investigações deveria ser castigado com penas mais pesadas e quem respeitou a omertà mereceria a liberdade e, quem sabe, uma condecoração.
Carvalho é categórico: “O doutor Sérgio Moro tem uma necessidade de provar que os agentes do PT formam uma quadrilha e que o capo dessa quadrilha agora é o presidente Lula”. Pelo peculiar raciocínio do ex-ministro, Lula é intocável e mexer com ele é “brincar com fogo”.
Mas a ameaça para valer vem em seguida: se continuar a perseguição a Lula e ao PT, “aí eu temo muito um processo que nos leve ao que acontece na Venezuela, porque você vai levando ao processo de justiçamento, de justiça com as próprias mãos, e haverá um ódio progressivo”. Ou seja, o piedoso Gilbertinho nos ameaça com um golpe de Estado e uma ditadura de fato, pois foi isso o que aconteceu e ainda acontece na Venezuela. Grande democrata, esse Gilbertinho!
Diante das demolidoras evidências a cada dia reveladas pelas investigações policiais, de que o ex-presidente Lula e o PT estão comprometidos até o pescoço com a corrupção no governo, o lulopetismo decidiu apelar para a melhor defesa que conhece: o ataque.
Em desespero, mobiliza suas tropas – constituídas basicamente pela militância paga de entidades e organizações sociais como CUT, UNE, MTST, entre outras – exortando-as ao confronto nas ruas com os opositores do governo. E chegou à criminosa irresponsabilidade de convocar seus apoiadores a se manifestarem, em São Paulo, em plena Avenida Paulista, no próximo domingo, dia 13, data há meses anunciada pelos movimentos de oposição ao governo e ao lulopetismo para protestar contra o descalabro político, econômico e moral em que Lula e Dilma Rousseff mergulharam o Brasil e apoiar o impeachment da presidente da República.
Desde que foi levado coercitivamente a depor na Polícia Federal na sexta-feira passada e reagiu fazendo o papel de vítima não dos policiais federais que o interrogaram, mas de uma conspiração armada para condená-lo, ficou claro que, sem argumentos legais suficientemente fortes para se defender, Lula optou pelo ataque, como sempre faz quando se sente acuado. Obedientes a essa tática, os militantes petistas tentam exacerbar o confronto para que dele, se possível, surja um mártir, uma vítima da sanha assassina das elites apoiadas pela mídia golpista.
É isso o que pode acontecer se o lulopetismo lograr o intento de colocar na Avenida Paulista, no próximo domingo – ou em qualquer outra cidade, mas o evento de São Paulo tem relevante sentido emblemático –, um bando de baderneiros dispostos a hostilizar a massa que estará exercendo o legítimo direito de se manifestar em paz e deverá ser, de acordo com a previsão dos organizadores, uma das mais numerosas dos últimos tempos.
Mesmo que acabem cedendo ao bom senso e não concretizem o intento temerário de “botar a tropa na rua”, os petistas esperam que a simples hipótese da ocorrência de conflitos seja suficiente para desencorajar os antigovernistas e esvaziar a manifestação do dia 13.
Articulado com a estratégia da exortação ao confronto, um dos mais proeminentes líderes do lulopetismo, o ex-ministro Gilberto Carvalho, em entrevista publicada ontem na Folha de S.Paulo, advertiu aqueles que, na tentativa de envolver Lula na Lava Jato, estão “brincando com fogo”: “Espero que haja bom senso e que a Lava Jato volte ao seu leito natural de combater a corrupção real e se desteatralize (sic), que as delações premiadas deixem de ser instrumento de perseguição de um partido político”.
Combater a “corrupção real”, na opinião do piedoso Gilbertinho, é deixar Lula e os petistas em paz, pois “(...) os campeões da corrupção estão soltos, tendo suas penas reduzidas escandalosamente (...). Quem está ficando na cadeia em Curitiba é o Marcelo Odebrecht, que se negou a fazer delação, e os políticos. Isso é combater a corrupção?”.
Por esse raciocínio, quem colaborou com as investigações deveria ser castigado com penas mais pesadas e quem respeitou a omertà mereceria a liberdade e, quem sabe, uma condecoração.
Carvalho é categórico: “O doutor Sérgio Moro tem uma necessidade de provar que os agentes do PT formam uma quadrilha e que o capo dessa quadrilha agora é o presidente Lula”. Pelo peculiar raciocínio do ex-ministro, Lula é intocável e mexer com ele é “brincar com fogo”.
Mas a ameaça para valer vem em seguida: se continuar a perseguição a Lula e ao PT, “aí eu temo muito um processo que nos leve ao que acontece na Venezuela, porque você vai levando ao processo de justiçamento, de justiça com as próprias mãos, e haverá um ódio progressivo”. Ou seja, o piedoso Gilbertinho nos ameaça com um golpe de Estado e uma ditadura de fato, pois foi isso o que aconteceu e ainda acontece na Venezuela. Grande democrata, esse Gilbertinho!
Pressa, sem atropelo - EDITORIAL FOLHA DE SP
FOLHA DE SP - 08/03
Para usar uma expressão popular, partidos de oposição e movimentos contra a presidente Dilma Rousseff (PT) atiraram no que viram, acertaram no que não viram.
No final do ano passado, mesmo antes de o Supremo Tribunal Federal (STF) botar freios no rito de impeachment adotado pelo deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara, líderes oposicionistas mostravam-se dispostos a, de forma temporária, diminuir a pressão sobre o governo.
Calculavam que três meses de inevitável paralisia provocariam o agravamento da crise econômica; o apoio ao afastamento de Dilma, que parecia refluir em dezembro, voltaria com toda a força em março.
Por motivos muito diversos, os dias que antecedem as manifestações do próximo dia 13 têm sido marcados por grande agitação política. O combustível, entretanto, não veio exatamente da divulgação do PIB ou dos dados sobre a inflação e o desemprego, mas das frentes investigativa e judicial.
À recente prisão de João Santana, marqueteiro das campanhas de Dilma, somou-se a notícia, conhecida na quinta-feira (3), de que Delcídio do Amaral (PT-MS) fechara acordo de delação premiada. Um dia depois, o ex-presidente Lula viu-se obrigado a comparecer perante a autoridade policial.
Seguiram-se, e ainda não cessaram, discursos inflamados acerca da condução coercitiva de Lula. Num exagero retórico, Dilma a classificou como "violência injustificável"; o ex-presidente aproveitou a ocasião para assumir o papel de vítima e atiçar a militância.
Por coincidência, Michel Temer (PMDB) tinha agenda pública no domingo (6). Tietê, cidade do interior paulista onde o vice-presidente nasceu, comemorava 174 anos.
Na solenidade, sem transparecer a mesma ânsia de agosto ou dezembro, Temer novamente defendeu a união para tirar o país da crise, num esforço para o qual contribuiria "a iniciativa privada, prestigiada pelo poder público". A jogada estava feita; o vice quer soar como a voz ponderada num ambiente cada vez mais conflagrado.
Parte do PMDB também se mexeu. Alguns diretórios planejam discutir, no próximo final de semana, a ruptura com o PT.
Enquanto isso, vendo o governo acuado, oposicionistas abandonam qualquer compromisso com a responsabilidade e anunciam a intenção de bloquear a pauta do Congresso até que se constitua a comissão especial para discutir o impeachment de Dilma na Câmara.
Nesta segunda-feira (7), dois novos lances abriram o tabuleiro. Eduardo Cunha, cuja presença tem contaminado o processo de impeachment, foi notificado do processo de cassação no Conselho de Ética. O STF, por sua vez, começou a liberar os votos que definiram o rito do afastamento presidencial.
Em ritmo frenético, as peças se movem. Desde que não haja atropelos, é melhor assim. Seja qual for o desenlace, o Brasil não pode continuar refém da crise política.
Para usar uma expressão popular, partidos de oposição e movimentos contra a presidente Dilma Rousseff (PT) atiraram no que viram, acertaram no que não viram.
No final do ano passado, mesmo antes de o Supremo Tribunal Federal (STF) botar freios no rito de impeachment adotado pelo deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara, líderes oposicionistas mostravam-se dispostos a, de forma temporária, diminuir a pressão sobre o governo.
Calculavam que três meses de inevitável paralisia provocariam o agravamento da crise econômica; o apoio ao afastamento de Dilma, que parecia refluir em dezembro, voltaria com toda a força em março.
Por motivos muito diversos, os dias que antecedem as manifestações do próximo dia 13 têm sido marcados por grande agitação política. O combustível, entretanto, não veio exatamente da divulgação do PIB ou dos dados sobre a inflação e o desemprego, mas das frentes investigativa e judicial.
À recente prisão de João Santana, marqueteiro das campanhas de Dilma, somou-se a notícia, conhecida na quinta-feira (3), de que Delcídio do Amaral (PT-MS) fechara acordo de delação premiada. Um dia depois, o ex-presidente Lula viu-se obrigado a comparecer perante a autoridade policial.
Seguiram-se, e ainda não cessaram, discursos inflamados acerca da condução coercitiva de Lula. Num exagero retórico, Dilma a classificou como "violência injustificável"; o ex-presidente aproveitou a ocasião para assumir o papel de vítima e atiçar a militância.
Por coincidência, Michel Temer (PMDB) tinha agenda pública no domingo (6). Tietê, cidade do interior paulista onde o vice-presidente nasceu, comemorava 174 anos.
Na solenidade, sem transparecer a mesma ânsia de agosto ou dezembro, Temer novamente defendeu a união para tirar o país da crise, num esforço para o qual contribuiria "a iniciativa privada, prestigiada pelo poder público". A jogada estava feita; o vice quer soar como a voz ponderada num ambiente cada vez mais conflagrado.
Parte do PMDB também se mexeu. Alguns diretórios planejam discutir, no próximo final de semana, a ruptura com o PT.
Enquanto isso, vendo o governo acuado, oposicionistas abandonam qualquer compromisso com a responsabilidade e anunciam a intenção de bloquear a pauta do Congresso até que se constitua a comissão especial para discutir o impeachment de Dilma na Câmara.
Nesta segunda-feira (7), dois novos lances abriram o tabuleiro. Eduardo Cunha, cuja presença tem contaminado o processo de impeachment, foi notificado do processo de cassação no Conselho de Ética. O STF, por sua vez, começou a liberar os votos que definiram o rito do afastamento presidencial.
Em ritmo frenético, as peças se movem. Desde que não haja atropelos, é melhor assim. Seja qual for o desenlace, o Brasil não pode continuar refém da crise política.
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