quarta-feira, junho 30, 2010

TUTTY VASQUES

Kaká in progress


TUTTY VASQUES
O ESTADO DE SÃO PAULO - 30/06/10
Será que o Kaká vai precisar cuspir no gramado para uns e outros perceberem que ele está curado?! Renasceu, junto com o futebol, um craque que xinga, revida, toma cartão, é expulso, fala grosso com jornalista, sem contar as transformações que o isolamento da seleção não nos deixa ver. Corre em Soweto - sempre lá! - o boato de que Dunga o flagrou, dia desses, cantando Rebolation no banho. Sabe Deus que tratamento andou fazendo, mas a recuperação do púbis pode ter-lhe custado a inocência.
Daí a preocupação do técnico com a troca do sistema de prisão-albergue de Johannesburgo pela liberdade condicional de Port Elizabeth, onde a seleção desembarca hoje para as quartas de final de sexta-feira, contra a Holanda. Fugir à noite da concentração para a boate do hotel pode ser o próximo efeito colateral a se manifestar nesse "novo" Kaká.
Nada que em Romário ou nos Ronaldos não seja próprio do DNA de cada um, sem grandes prejuízos para o futebol. No caso do Kaká, pode ser até engraçado o que está por vir! Imagina, daqui a pouco, assistir àqueles que criticavam o "santinho" da seleção patrulhando o espírito moleque em progresso no craque que renasce outra pessoa na África do Sul.
Que Deus o abençoe assim mesmo!
Rei dos cartões
"Indisciplinado é o Kaká!"
Felipe Melo, reagindo a críticas sobre seu temperamento explosivo em campo.
Poeta laranja
Bert Van Marwijk, técnico da Holanda, elogiou a "arrogância positiva" do Brasil. Nem Caetano, quando celebrou a "deselegância discreta" das meninas paulistanas foi tão cuidadoso ao adjetivar o substantivo.
Mata-mata o futebol
O torcedor, definitivamente, não sabe o que quer! Primeiro, vibra com a eliminação precoce da Itália e da França; depois, reclama do futebol medíocre de Paraguai e Japão no jogo que deu aos sul-americanos, nos pênaltis, mais uma vaga nas quartas de final.
Inteiramente gagá
A senilidade da Fifa é contagiante! Virou coisa de doido a votação popular pelo site da entidade do melhor jogador em campo, a cada partida da Copa. Tem sido constrangedor para quem é escolhido ressalvar que não mereceu.
Copa do Fim do Mundo
Mahmoud Ahmadinejad resolveu esperar a Copa da África do Sul acabar para dar uma resposta dura às sanções impostas pelo Conselho de Segurança da ONU. Diz ele que não quer estragar a festa do "amigo Lula" pelo hexa.
Melhor não!
Teve palmeirense que respirou aliviado com a desclassificação do Chile. Já pensou se um gol do Valdívia elimina o Brasil da Copa!
Feeling
Critica-se até hoje a opção de Dunga por Doni como terceiro goleiro da seleção, mas já pensou se ele tivesse levado o Bruno, como queria a torcida do Flamengo!

ROBERTO DaMATTA

Coluna da copa
ROBERTO DaMATTA
O GLOBO - 30/06/10


Impossível negar o imenso papel do futebol e da Copa do Mundo em nossas vidas. Monocordiais e monomaníacos, apaixonados e habituados a viver por meio de uma só pessoa, instituição ou quadro de valores nós simplesmente adoramos (e por isso tanto sofremos) esse momento no qual o mundo está centrado no futebol e do futebol é o centro do mundo. Se Copérnico é o nosso mais desconhecido bandido, os liberais são os nossos maiores inimigos e os pensadores que descentralizam e igualam os nossos neorreacionários, o futebol — que chegou via colonialismo, mas com o capitalismo e a disciplina fabril, e que tem como fundo a experiência capitalista, onde falir não era morrer, e competir, matar — resgata todo o nosso amor a salvação por meio do exclusivismo, e do messianismo, do primeiro lugar, da posse do caneco — do “ser” mais do que se tornar campeão! Habituados com as gradações que situam coisas e pessoas em maiores e menores, vivemos cada campeonato mundial de futebol como um teste da nossa posição num concerto de países. Não nos tornamos campeões. O que fazemos sempre é o teste de uma confirmação religiosa e antimoderna segundo a qual seríamos sempre campeões. Apesar de toda a vivência da modernidade, da qual damos um testemunho penoso e contraditório, pois odiamos o plural, o relativo, o competitivo como sinais de igualdade, alternativa e escolha, continuamos a nos pensar como o sal da terra. Somos os herdeiros abençoados de um mundo sem males que um dia volverá com sede num Brasil governado perpetuamente por Dom Sebastião. Aliás, ele já está entre nós. A espera da vitória (que já estaria escrita), mas que lamentavelmente se faz por meio de nossos jogadores e de nosso pensamento positivo em corrente espiritual com o time, é uma prova dessa visão de mundo tradicional e reacionária. Um mundo centrado no Brasil como pátria do universo. O futebol e os campeonatos, como as Olimpíadas, trazem de volta um velho e supostamente enterrado etnocentrismo.

Curioso que um esporte seja o centro desse retorno ao messiânico. O Brasil está predestinado a ser o maior do mundo, mas para isso deve se submeter a certas provas. Uma delas é a eliminação de todas as diferenças e a restauração da hierarquia por meio do misticismo estatal; a outra é a presença de superpessoas — esses craques melhores do mundo que, lamentável e injustamente, porém, têm que ser postos à prova.

Não passa despercebido o vezo de um sentimento de injustiça por termos que jogar e, jogando, correr o risco de perder pois, no fundo, o Brasil não teria que provar que é de longe o melhor, mesmo quando tem no seu currículo uma terrível história de misérias políticas e sociais, das quais o cinismo é um dos atores mais importantes. Supor que o coração é naturalmente puro é um modo de não conhecê-lo. A modernidade trocou o sangue pelo sucesso, institucionalizando o desempenho.

A ação externa, objetificada e passível de fotografia, quantificação e verificação, independentemente da cor, do nome de família e do local de nascimento.

Ademais, o esporte é conflitivo: trata-se de inventar permanentemente ganhadores e perdedores, de entronizar deuses para tirá-los do pedestal no próximo campeonato. Nossa cabeça hierárquica não gosta de fazer isso, embora o futebol seja um esporte que, por constituição e por enfatizar o abaixo da cintura, as pernas e os pés (que viram luva, raquete e rede, além de servir para andar, correr e pular), conduza à ansiedade, fazendo do espectador interessado um “torcedor” que logo busca a consolação mística.

No tênis e no voleibol, o jogo anda pelos pontos. No futebol, o gol é uma parada que inventa estruturas. É um clímax equivalente ao orgasmo, a morte do inimigo e ao milagre religioso. Estão aí as múltiplas metáforas de vida e ressurreição que confirmam isso. Essa Copa é o mais acabado exemplo de globalização. Falamos muito e pouco entendemos de “globalização” e de redes (que não são de dormir embora assim o façam). Um mundo que obriga a ter atividades comuns, transforma sangue em dinheiro. Nossos universos locais que diferenciam confundem-se com universalidades. O futebol sem gols, defensivo e jogado de modo semelhante; o desaparecimento dos diferentes estilos que personalizavam o modo de jogar dos diversos países promove essa pasmaceira que todos comentam.

Se Max Weber fosse aficionado, diria: metemos o futebol na jaula de ferro da burocracia. Temos mais semelhanças e obediência a normas comuns do que as diferenças inusitadas que são a marca do carisma. Carisma é personalismo, graça, milagre, origem, alteridade e realização final; burocracia é rotina e despersonalização.

Isso posto, eu saio de férias e continuo em busca do milagre. Volto, queiram as fortunas, em agosto para dividir com todos vocês o que tenho encontrado e — eis o ponto que a modernidade esquece — como tenho sido achado pelas coisas da vida.

A modernidade trocou o sangue pelo sucesso, institucionalizando o desempenho

GOSTOSA

MÔNICA BERGAMO

Sílvio Berlusconi 
Mônica Bergamo 

Folha de S.Paulo - 30/06/2010

O primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, surpreendeu empresários brasileiros e italianos ao dizer anteontem, em encontros em SP, que Dilma Rousseff (PT) deve se eleger presidente e que Lula voltará depois dela, para mais oito anos de mandato. "Somos amigos de primeira hora. Como eu, Lula raciocina com o coração."

Aos 74 anos, Berlusconi revelou que já teve "algumas noivas brasileiras" e explicou seu sucesso com as mulheres: "Sou simpático, rico e velho. Casar comigo pode parecer um ótimo negócio". Depois das palestras, ele conversou com a repórter Eliane Trindade:
Folha - Com a desclassificação da Itália, o senhor vai torcer pelo Brasil na Copa?
Silvio Berlusconi- Sou obrigado a torcer pelo Brasil, ainda mais por ter quase uma seleção brasileira dentro do Milan [ele é dono do clube onde jogam Ronaldinho, Alexandre Pato e Thiago Silva e onde já atuaram Kaká e Ronaldo, de quem se diz "amigo"]. Estou torcendo para o Kaká fazer um belo Mundial. O futebol brasileiro é poesia.
O senhor declarou aos empresários que torce pela eleição de Dilma e que quer o retorno do Lula?
Não posso me manifestar sobre questões internas do Brasil. Apenas fiz contas. O presidente Lula tem 62 anos. Pela lei brasileira, ele pode voltar a se candidatar daqui a quatro anos. Se fosse eleito para outros dois mandatos, ele deixaria o poder com 74 anos, a mesma idade que tenho hoje.
Que recordações o senhor tem das noivas brasileiras às quais se referiu há pouco no discurso que fez para a comunidade italiana?
Foi uma brincadeira. Já passei muitas férias no Brasil. Mantive um barco oceanográfico em Angra dos Reis por alguns verões, quando vinha aqui passar férias na minha juventude.
Na Grama
Em três anos de existência de sua lei de incentivo (semelhante à Lei Rouanet, da cultura), o Ministério do Esporte autorizou R$ 818,4 milhões para patrocínios de empresas e pessoas físicas. Balanço da pasta mostra que, desse total, R$ 239,3 milhões foram captados no período. A pasta premiará os que usaram a regra para investir no setor.
Caldo de Galinha
Pelé está preocupado com o jogo do Brasil contra a Holanda, na sexta-feira. "Os chilenos partiram para um jogo suicida contra nós e deixaram a defesa aberta demais." Já com a Laranja Mecânica, disse o Rei à coluna, a história "vai ser diferente, muito mais difícil. Eles têm mais experiência, foram duas vezes vice-campeões".
Viva Dunga
Comentarista do SBT, Pelé ficou do lado de Dunga na briga contra a TV Globo, que teve privilégios cortados pelo técnico brasileiro na cobertura da Copa. "O Dunga mostrou personalidade."
Tchau e Maradona
E Pelé admite que uma final de Brasil contra a Argentina seria eletrizante. "Tem muito brasileiro torcendo pra isso." Mas o craque vai torcer mesmo é pela Alemanha, e contra Maradona, no sábado. "Eu prefiro que os argentinos voltem logo para casa."
Sem Açúcar
Dilma Rousseff (PT) mal tocou na comida na reunião com mulheres organizada pelo empresário Abilio Diniz, do Pão de Açúcar, em SP. Disse que está seguindo regime rigoroso.
Blindagem
E as convidadas para o encontro com a petista se surpreenderam com tantos seguranças na casa de Diniz. Elas se identificaram em três barreiras antes de chegar à sala da reunião.
Pé no Consumo
A população mundial consumiu US$ 30,5 trilhões em bens e serviços em 2006, 28% a mais do que dez anos antes, diz o relatório "Estado do Mundo" que será divulgado, no Brasil, pelo Instituto Akatu pelo Consumo Consciente. A pesquisa mostra que em 2008 foram vendidos 68 milhões de veículos, 85 milhões de refrigeradores, 297 milhões de computadores e 1,2 bilhão de telefones celulares.
Sem Limites
A égua No Limit, de Ana Paula Arósio, venceu no final de semana o Campeonato Paulista de Amadores, competição de saltos. Quem montou não foi a atriz, mas seu namorado, Henrique Pinheiro, 32, que pratica o esporte desde os cinco anos.
Realeza
O presidente da CBH (Confederação Brasileira de Hipismo), Luiz Giugni, se encontrará na semana que vem, no Chile, com a princesa da Jordânia Haya Bint Al Hussein, filha do rei Hussein. Em pauta, o apoio brasileiro à reeleição dela na Federação Equestre Internacional.
Hora do Mata-mata
O dia ensolarado levou a turma de convidados que assistiu ao jogo entre Brasil e Chile, anteontem, no Jockey, a desfilar óculos escuros de formatos e cores diferentes. Após a partida, o som ficou por conta do grupo de samba Exaltasamba.
Curto-Circuito
A banda Black Rio faz show com participação especial de Mano Brown na sexta, às 23h, no Comitê. 18 anos.

O arquiteto e decorador Rodrigo Argolo comemora seu aniversário hoje, com festa oferecida por Marina Misasi no restaurante Spot.

O jornalista Domingos Meirelles, da Globo, faz palestra hoje sobre gestão de crise, no centro de altos estudos da Polícia Militar de São Paulo.

A galeria Luciana Brito organiza jantar hoje em torno de colecionadores de arte, para o lançamento da mostra "Cinema", de Eder Santos.

A grife Maria Bonita faz exposição de 15 vestidos amanhã e sexta, a partir das 10h, no shopping Iguatemi.

A marca Sisley lança hoje, no hotel Unique, um produto com 25 ações contra o envelhecimento da pele.

JOSÉ (MACACO) SIMÃO

Paraguai a R$ 1,99!
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 30/06/10

A seleção paraguaia devia se chamar Filhos do Lugo. Lá, todo mundo é filho do Lugo



BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! Direto da Cópula do Mundo! A MINHA VUVUZELA É MAIOR QUE A SUA! Rárárá!
E tô adorando essa historia do Kaká Bad Boy! Se o Kaká fosse bad boy mesmo, ele daria um carrinho na Bispa Sonia. Melhor, ele daria um Antonio Nunes na Bispa Sonia. Aaaaantonio Nuuuuunes.
PÁ! Deu Paraguai! A Receita Federal agradece! O Paraguai usou Jabulani falsa! Jabulani Pirata. Mas como diz o site ruimdebola: Mas a vitória foi LEGÍTIMA! Rárárá!
E Portugal perdeu! Raspou o bigode! Padocas em luto! O Cristiano Ronaldo passou o jogo inteiro se olhando no telão. E aí cai no chão! Telão e chão!
A Copa perdeu um ego! Rárárá! Portugal devia ter jogado com essa seleção: Manuel, Joaquim, Joaquim Manuel e Manuel Joaquim. Vasco, Roberto Leal e Ovos Moles. Técnico: Saramago! Aí eles pegavam hexa e herpes! Portugal rumo ao herpes! Rárárá! E sabe como Portugal traduziu Ben Hur? O Charreteiro Infernal. E sabe porque Portugal comprou empresa de celular no Brasil? Pro povo parar de usar o telefone da padaria!
E o locutor do ESPN disse que o Cristiano Ronaldo não jogou mal, foi "taticamente desfavorecido". Tucanaram o perna de pau. Ou o pau da perna no caso do Cristiano Ronaldo. Rárárá!
Paraguai bate o Japão nos pênaltis. Zaponeis bate na tlave. Esse japonês aprendeu a bater pênalti com o Zico! Rárárá!
E a seleção do Paraguai devia se chamar Filhos do Lugo! No Paraguai, todo mundo é filho do Lugo. Sabe como se chama dar uma rapidinha no Paraguai? Lugo Lugo! Rárárá!
Seleção do Paraguai: Chapa Fria, Chassis Raspado, Gato de Itaipu, Samsung Genérico e Perla! E a seleção do Japão parece um catálogo da Loreal! E o Honda? O AZAR ME HONDA!
Japonês é bom de chip e sushi. E sabe qual a diferença entre um sushi e uma perereca? O ARROZ! Rárárá!
E sabe como se chama viagra em japonês? AJI NO MORTO. Rárárá!
E Copa do Mundo é bom pra fazer um monte de piada étnica! E sabe o que tá escrito no busão do Paraguai? Copa do Mundo por R$ 1,99! Nóis sofre mas nóis goza. Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

CRIANÇA BRINCANDO DE CABRA CEGA

PAINEL DA FOLHA

De pernas para o ar 
Renata Lo Prete 

Folha de S.Paulo - 30/06/2010

Embora o comando da campanha de José Serra continuasse a dizer ontem à noite, em meio a muita confusão, que o vice será Álvaro Dias (PSDB-PR), o surpreendente anúncio de que seu irmão Osmar (PDT) disputará o governo do Paraná na condição de aliado de Dilma Rousseff (PT) pode fornecer aos tucanos o argumento do qual necessitavam para rever a indicação, motivo de crise com o aliado DEM. Osmar, que durante o dia reafirmou a Beto Richa (PSDB) a disposição de concorrer ao Senado em sua chapa, depois procurou justificar a reviravolta alegando ter recebido a notícia de que Álvaro não seria mais vice.
Reunião íntima Diante do mal-estar reinante, lideranças do DEM cogitavam ontem realizar a convenção, hoje, de modo mais discreto, até mesmo transferindo o evento do Hotel Grand Bittar para a sala da presidência do partido no Congresso.
Entre nós 1 Na reunião demo-tucana que entrou pela madrugada de ontem, Serra pediu empenho e bom senso ao partido aliado "em nome do país". Argumentou que a retirada da indicação de Álvaro Dias teria consequências desastrosas.
Entre nós 2 Ao fim do encontro, Serra desceu sozinho de elevador com o presidente do DEM, Rodrigo Maia, a quem reforçou o apelo.
Meia mozarela... O PMDB tende a optar, hoje, por solução "híbrida" em Santa Catarina: abrir processo de expulsão contra Eduardo Pinho Moreira, impedindo que ele seja vice na chapa do DEM, mas sem implodir de todo a aliança local entre peemedebistas e "demos".
...meia calabresa Isso atende a pedido de Ideli Salvatti (PT), que dará a Dilma seu único palanque no Estado e teme o efeito de uma intervenção, mas ao mesmo contempla o desejo de Michel Temer de punir Moreira. Além disso, a costura deve permitir que o DEM mantenha o apoio a Roseana Sarney (PMDB) no Maranhão.
Contrapartida O núcleo da campanha de Dilma negocia a possibilidade de deixar o PDT, que vinha negociando com Ideli, aliar-se a Ângela Amin (PP), desde que esta assuma o compromisso de não apoiar Serra.
Sem parar 1 Apresentado como iniciativa de um grupo "independente" de moradores de municípios do interior, o "Movimento Estadual Contra os Pedágios Abusivos de SP", que tem protestos marcados para amanhã em diversas rodovias, é organizado por petistas que miram as candidaturas de Serra e Alckmin.
Sem parar 2 O coordenador, José Matos, é assessor do vereador Carlos Alberto Rezende Lopes, o Linho, do PT de Indaiatuba. Matos montou uma campanha de internet inspirada na mobilização feita para Dilma pelo guru Marcelo Branco.

Álbum Sobram na rede fotos de Branco com Matos -que aparece ainda abraçado a Aloizio Mercadante, candidato do PT ao governo.
Falta lugar
 Privado da suplência de Marta Suplicy, dada a Antonio Carlos Rodrigues (PR), o PT aprovou resolução segundo a qual sairão de seus quadros os dois suplentes de Netinho de Paula (PC do B) ao Senado: Carlos Zarattini pai (1º) e a ex-ministra Matilde Ribeiro (2º).
Alinhado Em depoimento a ser levado ao ar no novo site da campanha de Dilma, o vice Michel Temer se gaba de ter criado a primeira Delegacia da Mulher em SP e a primeira Procuradoria da Mulher na Câmara.
Tiroteio
Como Serra pode propor renovação se FHC e Bornhausen são chamados para decidir o futuro da candidatura num encontro na rua mais rica de São Paulo?
Contraponto
Fora de época 
 Candidata à reeleição, Yeda Crusius chegou atrasada anteontem, em Porto Alegre, à convenção estadual do PP, com o qual enfrentou uma crise por ter recusado todas as opções de vice que o partido lhe ofereceu.

Diante do clima pouco amistoso entre tucanos e pepistas, mesmo com a aliança acertada, os anfitriões convidaram uma escola de samba para animar o encontro. Na porta do evento, a governadora gaúcha se deparou com duas mulheres de biquíni e não resistiu:

-Ué, mas o Carnaval não acabou?

ELIO GASPARI

Dilma quer um xaveco, o voto de lista 
Elio Gaspari 

O Globo - 30/06/2010

Na sua entrevista ao programa “Roda Viva”, a candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, defendeu a convocação de uma constituinte exclusiva para discutir e votar projetos de reformas política e tributária. Acrescentou que gostaria de encaminhar essas reformas logo no início do seu eventual mandato.

No que se refere à reforma tributária, recusou qualquer compromisso de reduzir a carga que atualmente está em 32% do PIB. Ela propõe um remanejamento dos impostos que pode até dar certo.

Quanto à reforma política, foi precisa: defende o voto de lista e o financiamento público das campanhas. Por enquanto, mais nada.

Louvem-se a precisão e a sinceridade da candidata.

Desde já, fica todo mundo avisado de que, se esse projeto prevalecer, a eleição deste ano será a última na qual os brasileiros votarão nominalmente nos seus candidatos à Câmara dos Deputados e às Assembleias Legislativas. Pelo sistema atual, o cidadão indica seu preferido.

Às vezes ele é eleito, às vezes não. Quando um candidato não atinge o quociente de seu partido, seus votos são derramados noutro nome. Na última eleição, o paulista que votou em Delfim Netto elegeu Michel Temer. Talvez não fosse isso que quisesse, mas restou-lhe a certeza de que preferia Delfim e nele votou.

Pelo sistema de lista, os partidos arrolam os candidatos, determinando a ordem de precedência numa lista. O cidadão vota só na sigla.

Quem defende esse sistema argumenta que assim se fortalece o sistema partidário. É preciso muita imaginação para acreditar que, no PT presidido por José Genoino, comandado por José Dirceu e entesourado por Delúbio Soares, as cúpulas partidárias mereciam esse crédito. O PTB, por exemplo, é presidido pelo grão-serrista Roberto Jefferson.

O PT refluiu para a defesa da centralização das escolhas eleitorais depois que foi para o poder. Antes, realizava até prévias. Neste ano, Lula esmagou todas as tentativas de consulta às bases companheiras.

Na outra ponta, José Serra detonou em silêncio a proposta de prévias defendida por Aécio Neves. (Quem sabe, começou a se arrepender.) Duas propostas para a adoção do sistema de listas já foram derrotadas na Câmara. Isso não faz a menor diferença para o comissariado petista. Afinal, no rastro da maioria obtida numa eleição presidencial, aprovou-se até o Plano Collor.

Enquanto Dilma Rousseff e o PT querem fechar o sistema eleitoral, na democracia mais vigorosa do mundo assiste-se a uma revolta popular contra as caciquias dos dois partidos. Se os marqueses do Democrata tivessem o poder que lhes era dado há 30 anos, Hillary Clinton estaria na Casa Branca.

Uma miniconstituinte convocada em cima do desfecho semiplebiscitário da eleição presidencial não chega a ser um chavismo, mas será um xaveco que mudará, para pior, o formato das instituições políticas brasileiras. Pelo andar da carruagem, o resultado da próxima eleição presidencial poderá estimular um surto legiferante para otras cositas más. Ainda bem que Dilma Rousseff está expondo, desde logo, sua plataforma básica.

Em tempo: José Serra nunca condenou ou defendeu o voto de lista, pois o xaveco tem boas simpatias no tucanato.

GOSTOSA

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Governo de SP veta cooperativas em licitações 
Maria Cristina Frias

Folha de S.Paulo - 30/06/2010

O governo de São Paulo publicou na última semana um decreto que proíbe cooperativas de participarem de licitações para prestação de serviços ao Estado.

De acordo com a medida, ficam impedidas cooperativas formadas por trabalhadores que atuam em 15 tipos de atividades. Na lista há serviços de limpeza, segurança, recepção, alimentação, telefonia, manutenção, transporte e outros.

Só empresas privadas poderão participar.

"A decisão foi tomada sem consultar os interessados, os trabalhadores que se unem em cooperativas para formar uma personalidade jurídica que podia entrar em licitações, como motoristas ou bedéis de escolas", afirma Edivaldo Del Grande, presidente da Ocesp (Organização das Cooperativas de SP). "Vamos amanhã [hoje] ao Palácio dos Bandeirantes tentar entender os motivos."

Segundo o governo, a medida visa proteger a mão de obra, pois as funções listadas só poderão ser cumpridas por trabalhadores regidos pela CLT (Consolidação das Leis do Trabalho).

De acordo com Del Grande, mais de 70 mil cooperados sofrerão as consequências do decreto. O governo informa que não tem cálculos sobre o número de pessoas impactadas.

A medida é fruto de orientação do Superior Tribunal de Justiça e dos tribunais de contas do Estado e da União, segundo o governo, e pode servir de exemplo para prefeituras e virar tendência.
Do Outro Lado 
Imagine discutir o pagamento de uma quantia vultuosa com um grupo chinês, que envia vasta documentação... toda em mandarim. Ou receber de um cliente saudita que não queria pagar um frigorífico brasileiro porque a carne chegou estragada.

"Contratamos um escritório de advocacia local que acabou por acionar judicialmente a empresa da Arábia Saudita. Uma das cláusulas do contrato responsabilizava a importadora pelo seguro da carga", diz o advogado Octávio José Aronis, do escritório Aronis Advogados, especializado em recuperação de crédito internacional.

Com dificuldades como essas, as seguradoras estão muito mais rigorosas ao operar seguros de crédito para exportação, acrescenta.

Empresas com débitos no exterior têm feito excelentes acordos, graças à valorização da moeda brasileira, diz.

Por outro lado, cobrar dos desenvolvidos em crise ficou bem mais difícil.
Bolsa Família Dobra
A expansão do PIB brasileiro deve ficar abaixo do potencial nos próximos anos.
O número pode ser menor que 4% em 2011, ante 7% neste ano, diz Luís Fernando Lopes, da Pátria Investimentos.

A baixa qualidade dos gastos públicos cria tensões inflacionárias, que elevam a taxa de juros e desestimulam investimentos, segundo o economista-chefe da Pátria.

Entre 2004 e 2009, os gastos do governo federal com o Bolsa Família, que hoje atende 35 milhões de pessoas, cresceram R$ 5,8 bilhões e alcançaram a cifra de R$ 11,1 bilhões no ano passado.

As despesas com os 2,1 milhões de servidores públicos subiram R$ 78 bilhões no período para R$ 167,1 bilhões.

Embora demonstre solvência do Tesouro, a ampliação dos gastos para evitar a recessão é insustentável com o ritmo de expansão econômica do país, que pode crescer até 10% ao ano, segundo Lopes.
Brasileiros estão entre os mais otimistas com a situação econômica
A população brasileira está entre as mais otimistas do mundo com a situação econômica do local em que vive. O país aparece na 15ª posição em uma pesquisa realizada em 117 nações.

Entre os entrevistados, 54% dos brasileiros disseram que as condições econômicas da cidade ou da área em que vivem estão melhorando, ante 23% que afirmaram que está piorando, de acordo com levantamento global realizado pela Gallup.

Os mais otimistas são os chineses, pois 81% das pessoas consultadas disseram ver melhora na economia. Apenas 5% afirmaram que a situação piorou.

Nas Américas, Brasil e Canadá foram os únicos em que a maioria demonstrou otimismo em relação à situação econômica local. Na maior parte dos países da região, três em cada dez pessoas veem condições melhores, como acontece nos Estados Unidos (30%).

Entre os 22 países em que menos de 20% disseram que as condições estavam melhores, 17 são europeus (como Itália, França, Espanha e Grécia) ou pertenciam à antiga União Soviética.

A população menos otimista é a da Lituânia. Só 4% responderam que acreditam em uma melhora econômica, ante os 61% pessimistas.
Poucos...Menos da metade dos entrevistados em pesquisa da Abimo (Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios) negocia com o Brasil com frequência.
...negóciosQuase 30% raramente compram produto nacional. O estudo reuniu opiniões de 21 compradores de 13 países, a maioria não está presente na lista de maiores destinos das exportações nacionais, como Bolívia, Israel, Malásia, entre outros.
Muitas...A indústria médico-hospitalar e odontológica brasileira espera exportar US$ 650 milhões neste ano, com alta de 17% ante 2009, segundo a Abimo.
...expectativasDurante a nona Rodada Internacional de Negócios, no mês passado, 46 fabricantes brasileiras prospectaram US$ 14,6 milhões em negócios para 2011, superando em 10% o volume de 2009. Foram feitas reuniões com compradores de Argélia, Bolívia, Egito, Israel e outros.

EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO

A Noruega tropical de Lula
EDITORIAL
O Estado de S.Paulo - 30/06/10

Convidado pelo Financial Times (FT)de Londres a fazer uma avaliação do seu governo e a antecipar o que pretende fazer depois de deixar o Planalto, no primeiro dia de 2011, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva respondeu com um artigo de 700 palavras, publicado ontem em um suplemento especial sobre o Brasil.

Trata-se de uma versão comparativamente austera, como convém aos textos do mais influente diário econômico do mundo, da exuberante teoria do "nunca antes na história deste País", complementada pela promessa de "continuar a contribuir para a melhora da qualidade de vida das pessoas" ? desta vez no mundo inteiro.

Mas a megalomania se livra dos arreios quando, para justificar o seu intento de fazer pelos latino-americanos, caribenhos e africanos o que se vangloria de ter feito pelos brasileiros, Lula não deixa por menos: "Não podemos ser uma ilha de prosperidade cercada por um mar de pobreza e injustiça social."

Sejam quais forem as evidências que ele queira enfileirar sobre os progressos dos últimos anos da economia brasileira e das condições de vida da população ? e seria pueril, ou desonesto, negá-los ?, Lula fala do Brasil, 75.º colocado no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), como se fosse uma Noruega.

O país nórdico lidera o ranking criado pelas Nações Unidas e gasta proporcionalmente mais do que qualquer outro país em ajuda externa. Na realidade, já descontados os Estados Unidos e o Canadá, 16 países do Hemisfério têm um IDH melhor que o brasileiro.

Como era de esperar, Lula credita exclusivamente ao seu governo o fato de o Brasil sangrar em saúde. O que veio antes foi como se não tivesse existido, ou, quando existiu, foi contraproducente. "Devolvemos o crescimento a uma economia de há muito estagnada", alardeia, "e o fizemos mantendo a inflação sob controle, reduzindo a relação entre a dívida e o PIB e reconstruindo as funções reguladoras do Estado brasileiro."

O papel, como se diz, aceita tudo. Nem a conjuntura internacional excepcionalmente favorável a exportadores de produtos primários e insumos, como é o Brasil, nem, muito menos, a decisão de Lula de se apropriar da "herança maldita" do governo Fernando Henrique, na esfera macroeconômica, precisam ser reconhecidas ? o que não há de ter escapado àquela parcela dos leitores do Financial Times que sabe que a história do País não começou quando o atual presidente chegou ao Planalto.

Além de se atribuir a paternidade pelo "novo Brasil", título do caderno especial do FT, Lula fez pelo menos 2 gols em impedimento, na esperança de que os árbitros estivessem olhando para o outro lado. A afirmação sobre a reconstrução das funções reguladoras do Estado nacional é mais do que falsa. O que o lulismo tem feito com as agências reguladoras é privá-las de sua autonomia e manipular a sua composição para atender aos interesses do governo e seus aliados políticos e politiqueiros. A isso se chama destruir e não reconstruir.

O leitor distraído pode tomar pelo valor de face o que Lula escolheu dizer sobre a transformação material do País, mas os investidores sabem perfeitamente quanto há de embromação nas seguintes palavras: "Pusemos em marcha um processo poderoso de melhorar nossa infraestrutura (?). Como parte disso, estamos eliminando os gargalos que afetavam nossa competitividade no passado ? o que costuma ser chamado "custo Brasil"."

Lula reconhece "os enormes desafios pela frente", a começar da pobreza ainda significativa, a insuficiência do sistema de educação, além da droga e da violência. E menciona em seguida a necessidade das reformas tributária e político-eleitoral. Estas últimas "não podem esperar mais", sob pena de "comprometer a continuidade dos avanços de que desfrutamos nos anos recentes".

O presidente fala como se tivesse dado o melhor de si, ao longo desses 7 anos, para mudar as regras do jogo político. Não apenas não o fez ? e ao não fazê-lo permitiu que prevalecessem no Congresso os interesses dos que querem que tudo permaneça como está ?, como ainda tirou proveito da fragmentada e reduzida representatividade do sistema de partidos para formar a sua enxundiosa base parlamentar, vitaminada pelo mensalão.

CULPA DA JABULANI

ALDO REBELO

A comida vai cair do céu
Aldo Rebelo 
O Estado de S.Paulo - 30/06/10

Sob o autoexplicativo título Farms Here, Forests There (Fazendas Aqui, Florestas Lá), foi publicado nos Estados Unidos, em maio, estudo patrocinado pela National Farmers Union (Associação Nacional de Fazendeiros) e pela organização não-governamental Avoided Deforestation Partners (Parceiros contra o Desmatamento, em tradução livre). A autora principal do relatório é Shari Friedman, ex-funcionária do governo Clinton, quando trabalhou na Environmental Protection Agency (EPA, a Agência de Proteção Ambiental), analisando políticas domésticas de mudanças climáticas e competitividade internacional. Ela também fez parte da equipe norte-americana de negociações para o Protocolo de Kyoto, que os Estados Unidos se negaram a assinar.

O tema do relatório é a perda de competitividade da agroindústria norte-americana diante dos países tropicais, principalmente o Brasil. A tese principal do estudo é que a única forma de conter essa perda de competitividade é reduzir o aumento da oferta mundial de produtos agropecuários, restringindo a expansão da área agrícola nos países tropicais pela promoção de políticas ambientais internacionais mais duras.

Segundo o relatório, "a destruição das florestas tropicais pela produção de madeira, produtos agrícolas e gado tem levado a uma dramática expansão da produção de commodities que competem diretamente com a produção americana". Desse modo, "a agricultura e as indústrias de produtos florestais dos Estados Unidos podem beneficiar-se financeiramente da conservação das florestas tropicais por meio de políticas climáticas".

O estudo avalia que "acabar com o desmatamento por meio de incentivos nos Estados Unidos e da ação internacional sobre o clima pode aumentar a renda agrícola americana de US$ 190 bilhões para US$ 270 bilhões entre 2012 e 2030". Esse aumento incluiria benefícios diretos de US$ 141 bilhões, decorrentes do aumento da produção de soja, carne, madeira e substitutos de óleo de palma, e economias indiretas de US$ 49 bilhões, em razão do menor custo da energia e de fertilizantes, pela redução das medidas compensatórias associadas à diminuição das florestas tropicais, ou seja, na medida em que os países tropicais poluírem e desmatarem menos, eles poderiam poluir e desmatar mais, sem ter de pagar por isso comprando créditos de carbono e outras medidas mitigadoras.

A candura com que eles tratam do tema é comovedora. O estudo revela que na cabeça deles não passamos mesmo de um fundo de quintal que precisa ser preservado para que eles possam destruir o resto do mundo com a consciência tranquila e, principalmente, com o bolso cheio.

Já vai longe - e sem saudades - o tempo em que a sociedade brasileira se curvava, sem questionamentos e sem esperneio, à tutela dos países ditos do Primeiro Mundo. Hoje é inadmissível pensar que países livres tenham de se submeter às manipulações econômicas de outras nações.

O aspecto trágico dessa proposta é a completa ausência de responsabilidade social dos agricultores norte-americanos, que veem a agricultura apenas como uma forma de aumentar sua própria fortuna, e não como a solução para a questão da fome no mundo. Ao produzir mais alimentos - e, com isso, mantendo seus preços mais acessíveis aos países pobres -, o Brasil ajuda a evitar que essa epidemia terrível se espalhe ainda mais no planeta.

Houve ainda uma época em que a divisão internacional do trabalho imposta pelos países ricos reservava para eles a produção de bens manufaturados e aos países pobres, o fornecimento de bens agrícolas e matérias-primas. Hoje se vai estabelecendo uma nova divisão: os Estados Unidos e a Europa transformaram-se em economias de serviço e grandes produtores e exportadores agrícolas, enquanto a produção industrial se deslocou para a Ásia.

Nesse novo esquema, países como o Brasil deveriam, na opinião deles, cumprir um novo papel: tornar-se uma espécie de "área de preservação permanente global". Com isso se resolveriam dois problemas: o comercial, pois sua produção agrícola ineficiente se viabilizaria pela redução da oferta e pelo aumento dos preços internacionais; e o ambiental, porque garantiríamos a compensação necessária para que eles continuem a manter seu atual padrão de consumo, que exige a exploração dos recursos naturais globais acima da capacidade que a natureza tem de repô-los.

Tudo isso funcionaria muito bem, não fosse o fato de sermos um país de mais de 190 milhões de habitantes, que precisam satisfazer as mesmas necessidades básicas que os americanos e europeus e têm as mesmas aspirações de progresso material e espiritual, cada vez mais parecidas e universais no mundo globalizado. Sim, nós também temos direito à felicidade nos mesmos moldes dos europeus ocidentais e dos norte-americanos!

Faz sentido, portanto, a defesa "desinteressada" que eles fazem dos chamados "povos da floresta". Além de sua expressão quantitativa reduzida, esses brasileiros têm um padrão de consumo que não compete com eles no uso dos recursos naturais e torna perfeitamente viável o esquema de "fazendas lá e florestas aqui".

Só não dizem o que fazer com os 190 milhões de nossa população que não vivem nas florestas e precisam produzir comida e outros bens para ter um padrão de vida digno. Para estes eles têm a solução que já aplicam na África, depois de arruinarem a produção local de algodão, milho, tomate e outros alimentos, com os subsídios milionários que dão aos seus próprios fazendeiros: a chamada "ajuda humanitária".

A continuar nesse ritmo, em vez de comprar comida nos supermercados, vamos acabar tendo de esperá-la cair do céu em fardos atirados pela Força Aérea Americana ou distribuídos pela Cruz Vermelha e pelo Greenpeace.

DEPUTADO FEDERAL (PC DO B-SP), RELATOR DO CÓDIGO FLORESTAL, PRESIDIU A CÂMARA DOS DEPUTADOS E FOI MINISTRO DE RELAÇÕES INSTITUCIONAIS NO GOVERNO LULA

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Macaco em loja de louça? 
Sonia Racy 

O Estado de S.Paulo - 30/06/2010

Depois de longa e competente aula sobre a economia brasileira, dada a 48 empresários ligados a comunidade italiana, em São Paulo, o premiê Silvio Berlusconi escorregou feio.

Encerrou sua palestra fechada, segunda à noite, no Terraço Itália, à convite da Câmara Ítalo-Brasileira, anunciando com todas as letras que Dilma está eleita.

E não contente com a colocação politicamente incorreta, sob olhar constrangido do cônsul-geral Mauro Marsili, ele emendou: "Depois dela, tenho certeza de que Lula volta".
Na selva
Acompanhado por 12 seguranças, Berlusconi brilhou na sua chegada. Muito mais pela carregada maquiagem do rosto do que pelo status do cargo.
Olho neles²
A Federação Paulista de Futebol mandou ontem para a Fifa, via CBF, pedido para participar dos testes que colocam mais dois assistentes atrás dos gols. Caso autorizada, a mudança começa no Campeonato Paulista de 2011.
Do bem
Jogo do Brasil, concentração no Vale do Anhangabaú. Torcedores doaram 7,5 t de alimentos e roupas para vítimas de enchentes no Nordeste.
Tipo Importação
Luanda foi substituída por João Pessoa nas filmagens de O Grande Kilapy, que começa a ser rodado em agosto. As construções coloniais da cidade, em Angola, foram destruídas pelas guerras de libertação. Lázaro Ramos está no papel principal.
Parto da franga
O parecer da Secretaria de Direito Econômico em relação à fusão Sadia e Perdigão está na boca do forno.

Virá no formato idealizado pela Brasil Foods? Quem conhece a base técnica apresentada pela empresa, com intuito de que a operação seja aprovada sem restrições, diz que ela é de difícil contestação.
Vale tudo
Eymael, candidato pelo PSDC, reeditou seu jingle "Ey Ey Eymael...", em quatro ritmos: axé, sertanejo, samba e... milonga gaúcha. E José Maria, candidato do PSTU, esticou seu bordão para "contra burguês, operário e socialista, dessa vez, vote 16".

Cruzes!!!
Trio los dos
Têm nome e sobrenome os dois fundos que estão negociando parceria com o BTG, de André Esteves, depois que este desistiu de fazer seu IPO. São o fundo soberano de Cingapura, o GIC, e um outro de Abu Dabi, o Abu Dhabi Investment Council - muitas vezes confundido com o Adia, Abu Dhabi Investment Authority.

Mediação? Da Goldman Sachs.
Olho vivo
Os bares da Vila Madalena estão cobrando entradas salgadas no horário dos jogos do Brasil. O Salve Jorge, R$20; o Bar Municipal, R$44 e, mais "ousado", o Boteco São Bento, R$70.
Olho vivo 2
O Procon avisa: os bares que não costumam cobrar entrada estão proibidos de exigir pagamento excepcional em dias de jogos -sejam da seleção brasileira ou de outro time.

Trata-se de infração ao Código de Defesa do Consumidor, que pode terminar em... autuação.
Na frente
Em viagem a Londres no fim de semana, Jânio Quadros Neto conta ter encontrado rainha Elizabeth II. Que lhe disse lamentar fazer tanto tempo que não visita o Brasil: são mais de 40 anos.

David Barioni palestra no Fórum Empresarial Regional. Hoje, no Caesar Park Airport.

Marcelo Carvalho e Michel Saad pilotam coquetel de inauguração do restaurante Terrasse. Hoje.

Finalistas ao Prêmio São Paulo de Literatura, Bernardo Carvalho e o angolano Ondjaki batem papo com público. Hoje, na Livraria da Vila da Fradique.
O Comitê Brasileiro de Direitos Humanos e Política Externa se reúne hoje com representantes dos presidenciáveis. Participam de seminário sobre o tema na Câmara dos Deputados.

Depois de mostra no Shopping Higienópolis, Roberto de Magalhães Gouvêa comanda leilão de arte, amanhã, no Espaço B"nai B"rith.

O álbum de música Emiliano 8 será lançado hoje em coquetel no Hotel Emiliano.
A Galeria Luciana Britto abre, amanhã, a exposição Cinema, de Eder Santos.
E já tem torcedor em bar defendendo lei na linha do cigarro para a vuvuzela."Quer assoprar? Vá para rua."

GOSTOSA

WILHELM HOFMEISTER

Raça, religião e economia
Wilhelm Hofmeister 
O Estado de S.Paulo - 30/06/10

"Caucasiano." Esta - assim aprendi - é, no meu caso, a resposta correta se me perguntam por minha raça. Na Ásia devo responder a essa pergunta com frequência. Na entrada em um ou outro país, no formulário de registro de um hotel ou numa clínica. Mesmo quando deveria preencher um pedido de licença para conduzir um carro, em Cingapura, tinha de especificar a minha raça. Raça importa. Essa é uma consequência da diversidade cultural do continente. Como em nenhuma outra parte da Terra, nos países da Ásia vivem juntas pessoas de cor de pele, línguas e religiões muito diferentes. Para distinguir essa variedade habitualmente o conceito de raça é utilizado. Para um europeu ? e, especialmente, um alemão, como eu ? o termo em si já é altamente delicado. Afinal, a História mostra que muitas vezes, com a atribuição a uma pessoa de determinada raça, o "valor" dessa pessoa também é determinado. Isso não é diferente na Ásia. Japão e Coreia, por exemplo, são países que têm fama de ser particularmente reservados com estrangeiros por aspectos raciais.

Pelo fato de a cor da pele ou a posição dos olhos nem sempre indicarem automaticamente a raça, em muitas sociedades asiáticas a afiliação religiosa serve como outra característica distintiva. Budistas, muçulmanos, hindus, cristãos, animistas e ateus há séculos vivem juntos em muitos países do continente. De fato, muitas pessoas já aprenderam a tolerar a religião diferente dos seus vizinhos. Não obstante, pessoas de filiação religiosa diferente, às vezes, são vistas como representantes de outra raça. E a partir dessa mistura de raça e religião surge um solo fértil para reiteradas explosões de conflitos sociais.

Na Índia, os constantes enfrentamentos entre pessoas de religiões diferentes provocam muitas vítimas de morte. Nos países do Sudeste Asiático, particularmente na Tailândia, nas Filipinas, na Indonésia e na Malásia, a mistura de raça e religião também leva a permanentes conflitos.

A Malásia é um caso particularmente exemplar pela combinação explosiva de raça e religião ? e os problemas que pode causar uma política de ação afirmativa em favor de determinados grupos da população de um país inteiro.

Na década de 80 do século passado, a Malásia ganhou a atenção internacional como um dos tigres asiáticos que alcançaram taxas de crescimento elevadas pela abertura dos seus mercados e orientação para as exportações. O investimento estrangeiro direto, sobretudo na indústria eletrônica e têxtil, combinado com os baixos salários, a repressão dos sindicatos e dos direitos trabalhistas, juntamente com a intervenção do Estado em praticamente todos os setores da economia foram a base desse progresso.

Mesmo assim, o crescimento acelerado não serviu para resolver os conflitos étnicos e religiosos existentes dentro do país desde a independência, em 1957. A Malásia é uma sociedade multiétnica, multirreligiosa e multicultural, com 58% de malaios (todos muçulmanos), 27% de chineses (que são principalmente budistas, cristãos ou taoistas), 8% de indianos (hindus, cristãos ou muçulmanos) e 7% de populações indígenas (cristãos, muçulmanos ou filiados a religiões indígenas). O islamismo, no entanto, é a religião oficial do Estado. Embora os outros grupos étnicos vivam há gerações no país e tenham passaporte da Malásia, somente os muçulmanos são considerados "corretos" malaios. E esses malaios "corretos" desfrutam tratamento preferencial por parte dos programas governamentais de assistência, como os de ação afirmativa em muitas áreas, no sistema escolar e universitário e na aplicação para uma posição no governo, por exemplo. Membros de outros grupos étnicos e comunidades religiosas são discriminados. Critérios de concorrência estão suspensos. Em vez de capacidade, inteligência ou esforço, a raça e a religião são os critérios-chave de seleção.

Em tempos de prosperidade econômica geral, tal política de ação afirmativa podia passar despercebida. Mas o país há muitos anos enfrenta uma competição internacional mais rigorosa. A última crise econômica internacional e, especialmente, o declínio nos preços mundiais de matérias-primas levaram a perdas significativas de receitas do governo, das quais quase a metade vem da empresa nacional do petróleo e gás Petronas. A desigualdade da distribuição de renda fica cada vez mais evidente. Isso levou a uma crescente crítica à política de discriminação racial positiva e negativa, o que, por sua vez, incentivou a radicalização do Islã, porque os muçulmanos malaios defendem os seus privilégios. Em consequência, a repressão à oposição política e à sociedade civil, a censura da mídia, a centralização, o nepotismo e a corrupção também são resultados dessa política discriminatória.

O primeiro-ministro Najib Razak anunciou agora um "novo modelo econômico" para combater a crise. Mas o fim dos programas de ação afirmativa não é previsto. Na perspectiva do governo, no futuro eles deveriam ser mais transparentes e orientados por critérios de mercado. Detalhes dessa nova política ainda não são conhecidos. Mas os grupos privilegiados já preparam a sua resistência para se protegerem contra a concorrência. Enquanto o governo vê as consequências fatais da política racial para a harmonia social e a economia do país e procura alternativas viáveis, os grupos conservadores aumentam a sua pressão contra mudanças e a intolerância religiosa se torna mais forte.

A Malásia já foi um exemplo dos efeitos positivos de uma economia dinâmica e voltada para o exterior. Hoje, para os seus vizinhos, é sobretudo um exemplo de uma política de integração social e étnica falida. Por sobre o contexto regional, o caso da Malásia indica a problemática e as limitações de programas de ação afirmativa para superar as disparidades raciais e étnicas dentro das sociedades.

DIRETOR DO CENTRO DE ESTUDOS DA FUNDAÇÃO KONRAD ADENAUER EM CINGAPURA

MERVAL PEREIRA

Questão de estilo
Merval Pereira
O GLOBO - 30/06/10

As dificuldades que o PSDB está encontrando na reta final para as composições regionais, que se refletem na escolha do vice da chapa do candidato José Serra, exemplificam à perfeição as diferenças na maneira de fazer política de tucanos e petistas.

Para se compreender o governo Lula é preciso primeiro entender a estrutura organizacional do PT e a cabeça de seus dirigentes

O governo ainda se organiza baseado na estrutura sindical e na lógica dos principais dirigentes petistas, a maioria de sindicalistas.

O grupo “Articulação”, rebatizado depois do mensalão de “Construindo um novo Brasil”, está no poder, como sempre no Partido dos Trabalhadores, salvo um curto período em que todos os demais grupos se uniram contra ele e tomaram-lhe o comando partidário.

Ao grupo liderado historicamente por Lula coube apenas a secretaria-geral, que foi ocupada por Gilberto Carvalho, hoje secretário particular do presidente. E a Articulação perdeu todas as votações internas nesse período.

A derrota e suas consequências aconteceram devido ao rompimento de Lula com José Dirceu na ocasião, e ambos retomaram a pareceria política compreendendo que a divisão era prejudicial aos dois.

De volta ao poder, o grupo pôs em prática a tática do rolo compressor, acionado historicamente por José Dirceu, que continua à frente do comando partidário e atuando nos bastidores para conseguir a união em torno da candidatura de Dilma Rousseff.

Foi ele, por exemplo, quem levou ao governador do Ceará, Cid Gomes, o ultimato para que seu irmão Ciro desistisse da candidatura à Presidência da República para abrir caminho para Dilma.

Ele que não hesitara nem mesmo quando teve que atropelar seu companheiro de lutas estudantis Vladimir Palmeira, que teimava em ser candidato ao governo do Rio quando o partido queria fazer uma aliança nacional com o PDT, o que significava apoiar Garotinho, com Benedita de vice, no Rio.

Ou que se encarregou de mostrar a Fernando Gabeira, outro companheiro de longa data que ajudou a sequestrar o embaixador americano para soltá-lo, que já não havia lugar para ele no PT, dando-lhe um “chá de cadeira” quando era o todo poderoso na Casa Civil.

O estilo sindicalista de fazer política leva em conta, por um lado, as negociações, e, por outro, o rolo compressor para atropelar os recalcitrantes.

Um exemplo recente é o caso de Minas Gerais, onde o governo impôs ao PT uma derrota humilhante.

Além de impedir que seus principais líderes — o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel e o ex-ministro do Desenvolvimento Social Patrus Ananias — disputassem o governo do estado, fez com que Patrus assumisse a tarefa de ser o vice de Hélio Costa, do PMDB, “com muito orgulho”.

Em vários estados essa estratégia se repetiu, com o PT abrindo mão de suas aspirações para acomodar o PMDB, parceiro principal da coligação.

Em troca de cinco minutos de propaganda eleitoral de rádio e televisão, o PMDB ganhou a vice na chapa oficial e mais uma posição de destaque nas coligações regionais.

O PT não teve nenhum prurido em forçar apoios, como no caso do Maranhão, nem manteve distância de nomes polêmicos que comandam o PMDB.

Mesmo quando Lula tentou trocar o vice da chapa, colocando Henrique Meirelles no lugar de Michel Temer, o fez com cautela e acabou engolindo o nome que o PMDB impôs.

Já nas negociações estaduais, a parceria do PSDB com o DEM tem sido difícil, pois os tucanos não abrem mão de suas posições.

O exemplo do Paraná é claro. Há meses estão sendo negociados os cargos de uma coligação que poderia unir o senador Osmar Dias, do PDT, e Beto Richa, do PSDB, mas o tucano não abriu mão de se candidatar ao governo.

Agora, a escolha de seu irmão Álvaro Dias para vice de Serra teria o objetivo de constranger Osmar a retirar sua candidatura, reforçando a posição do PSDB e a candidatura a presidente de Serra, que acredita em ampliar sua vantagem no Sul com o movimento em pelo menos 2 milhões de votos.

Em três estados, além do Rio de Janeiro, o DEM tem interesses políticos específicos.

No Rio, a crise na coligação devido à candidatura do ex-prefeito Cesar Maia ao Senado quase inviabiliza o palanque de Serra com Gabeira.

Em Sergipe, o ex-governador Albano Franco, candidato ao Senado, se recusa a apoiar João Alves, do DEM, para o governo e quer a reeleição do petista Marcelo Déda.

No Pará, o senador Flexa Ribeiro insiste em se candidatar, dificultando o apoio a Valéria Pires, do DEM, a favorita para o Senado.

E, em Santa Catarina, o governador Leonel Pavan, que era vice do peemedebista Luiz Henrique, não quer apoiar Colombo, o candidato do DEM, e prefere Ângela Amin.

Na verdade, o PSDB tem pruridos seletivos. A adesão do PMDB paulista, Orestes Quércia à frente, não sofreu nenhum tipo de contestação, logo ele que foi o responsável pela histórica dissidência do MDB que resultou na criação do PSDB.

Mas o DEM, depois do escândalo de Brasília, provoca arrepios em setores do PSDB, que cobiça os mais de 3 minutos que o partido tem a oferecer para a propaganda de rádio e televisão, mas gostaria de não expô-lo como parceiro preferencial.

Pode ser que até hoje de manhã se encontre um meiotermo que permita à coligação DEM-PSDB seguir em frente sem aceitar antecipadamente a derrota, como já fez, em momento de desespero, o presidente do DEM.

A direção nacional do PSDB está disposta a exercer sua pressão para garantir as pretensões do DEM nos Estados. E acredita ser possível manter a coligação e a candidatura de Álvaro Dias a vice.

EU AMO A JABULANI

CELSO MING

Cobertor curto 
Celso Ming 

O Estado de S.Paulo - 30/06/2010

Até mesmo o ministro Guido Mantega, entusiasta de uma atividade econômica agressiva, entendeu agora que o Brasil não tem preparo físico para crescer mais do que 5,5% ao ano.

Pode emplacar um avanço do PIB de 6,5% ou até mesmo de mais do que isso num ano, mas logo adiante vai sentir cãibras. Isso nada tem a ver com "os juros altos demais praticados pelo Banco Central". Ao contrário, os juros altos são consequência da insuficiência de investimento: o Banco Central tem de puxar pelos juros porque o consumo e as despesas externas (déficit em Conta Corrente) ultrapassam ou ameaçam ultrapassar o nível que os economistas conservadores chamam de "crescimento potencial".

O fator limitador é o baixo investimento, de 17,0% a 18,0% do PIB (veja gráfico). Esse investimento insatisfatório, por sua vez, está limitado pelo baixo índice de poupança. Na média, o brasileiro poupa 16,0% a 17,0% do que ganha e esse número já engloba os fundos de poupança compulsória: Previdência Social, Fundo de Garantia, Fundo de Amparo ao Trabalhador e o PIS-Pasep.

Os economistas divergem no resultado desse cálculo, mas é praticamente consensual que, para garantir um crescimento da ordem de 6,5% a 7,0% ao ano, o investimento teria de ser de 23,0% a 25,0% do PIB.

Economistas e simpatizantes dos assuntos econômicos às vezes insistem em que, diante desse cobertor curto, o Estado é que tem de ser acionado para suprir a insuficiência de investimento do setor privado.

O problema é que o Tesouro é uma ovelha tosquiada demais. Para aumentar o capital do Banco do Brasil, o Tesouro teve de abrir mão de participação acionária para os investidores estrangeiros. E, para subscrever o aumento de capital da Petrobrás, a União apresentou um truque de engenharia financeira (a tal cessão onerosa) em que não comparecerá com dinheiro vivo, mas com petróleo que só em cinco ou seis anos a Petrobrás começará a tirar de 6 mil metros de profundidade. Como a Petrobrás precisa de dinheiro vivo, vai depender da boa vontade dos acionistas nacionais e estrangeiros para aceitar a oferta pública de ações.

O capital estrangeiro é sempre uma opção disponível. Embora importante, está longe de virar esse jogo desvantajoso. Se, neste ano, entrar todo o capital estrangeiro que o Banco Central está esperando (US$ 38,0 bilhões), isso não passará de 2,0% do PIB. E, ainda assim, a forte entrada de investimento estrangeiro apresenta dois efeitos colaterais nem sempre desejáveis: (1) ajuda a pressionar a cotação do dólar para baixo; e (2), a longo prazo, vai aumentar as remessas de lucros para o exterior (só no ano passado foram US$ 25,2 bilhões).

Duas iniciativas podem ajudar a melhorar o índice de poupança e de investimentos do País. A primeira delas é reduzir as despesas públicas para que sobrem mais recursos para o Tesouro investir. A segunda é incentivar mais entrada de capital estrangeiro de risco, e não taxá-lo com IOF, ou, então, restringir os investimentos estrangeiros na produção de alimentos e matérias-primas vegetais, como certos segmentos do governo vêm reivindicando.