Ideias de Serra
Miriam Leitão
O GLOBO - 30/06/10
O candidato José Serra garantiu que não vai mudar o status do presidente do Banco Central.
Disse na saída da entrevista ontem na Globonews.
Na gravação, o que ele afirmou é que é fundamental ter uma equipe econômica afinada. Ele prometeu devolver ao consumidor final 30% dos impostos pagos pelo varejo. Na área ambiental, garantiu que é a favor do desmatamento zero.
Serra foi o segundo entrevistado da série especial de eleições. E último, porque a candidata Dilma Rousseff recusou o convite. Serra não tinha ainda resposta para a primeira e óbvia pergunta: quem será o vice? O PSDB e o DEM passaram ontem a tarde reunidos para discutir o assunto, mas ainda não tinham resposta quando ele entrou para a gravação do programa. Ponderei que em todas as candidaturas a escolha do candidato a vice representa um momento de agregar apoios e votos, mas na candidatura dele tinha virado uma crise. Ele discordou.
Disse que há muitas opções, que certos encaminhamentos não deram o resultado previsto e que sim, o candidato a vice vai somar votos e aparecer.
A pergunta sobre Banco Central é recorrente, mas tive que fazê-la de novo porque sinceramente ainda não entendi se o BC, se ele for eleito, será autônomo ou não: — Vai ficar exatamente como está. O presidente é responsável pelas nomeações, e eu, se for eleito, vou pôr pessoas entrosadas em toda a área econômica para não ficar um atirando contra o outro.
Argumentei que ele disse recentemente que o presidente do BC vai responder ao ministro da Fazenda.
Ele respondeu: — Sempre foi assim. O BC ficou independente do Ministério da Fazenda porque o (presidente) Lula quis protegêlo de processos tramitando em primeira instância.
Na saída, ao fim da gravação, ele disse que queria encerrar esse assunto: — Minha garantia é que não haverá qualquer alteração de status do presidente do BC caso eu seja eleito.
Sobre a carga tributária brasileira — que aliás, tanto o atual presidente quanto o antecessor elevaram —, ele disse que é possível diminuí-la e deu exemplos concretos: — Criei em São Paulo a Nota Fiscal Paulista, a proposta é criar a Nota Fiscal Brasileira, que significa devolver ao contribuinte 30% do imposto pago no consumo.
É a primeira vez que se devolve imposto ao consumidor no Brasil, e nós entregamos R$ 2 bilhões. Temos também que desonerar investimentos.
E para nada disso é necessário mudar a lei, porque com as atuais pode-se adotar essas medidas. Tanto que eu, quando ministro da Saúde, diminuí os impostos que incidiam sobre medicamento de uso constante.
Perguntei sobre o que ele pretende fazer para reverter o fato de que, há dois meses, estava com 10% acima das intenções de votos da sua principal adversária, ex-ministra Dilma Rousseff, e agora está com 5% menos: — Pesquisa vai e vem. Essa eleição será tão disputada quanto Copa do Mundo. Depois que o horário eleitoral começar é que o eleitor forma a sua cabeça. As pesquisas são mais importantes para os jornalistas, os políticos.
Serra não acha que o fato de o Brasil estar crescendo dará vantagens à candidata governista: — O candidato de Bill Clinton perdeu a eleição, apesar de a economia estar bombando naquela época. Sou economista, mas não economicista.
Não acho que será a economia que vai decidir isso. O que decide é o futuro.
O Brasil vai ser governado pelo próximo presidente e o que vier a acontecer no Brasil vai depender do preparo e da qualificação e da capacidade de tomar decisão de quem for eleito. A economia está crescendo e isso deve ser mantido, mas está faltando saúde, educação, saneamento e um trabalho federal organizado de atendimento das calamidades.
Sobre as alterações propostas para o Código Florestal, o candidato foi vago. Disse que não acha que é a hora de fazer mudanças, que o tema precisa ser mais discutido: — Há algumas boas ideias, como o fato de que nas áreas agrícolas antigas, que já não havia a reserva florestal, é preciso flexibilidade, mas perdão de multa tem que ser melhor examinada. Eu sou a favor do desmatamento zero porque a floresta é nosso patrimônio.
Em São Paulo, nós aumentamos a área coberta por mata natural, conseguimos acabar com um milhão de tonelada de cana queimada — que não tem a ver com efeito estufa, mas com a saúde das pessoas — e aprovamos a mais moderna legislação de mudança climática do hemisfério sul.
Serra disse que é possível cortar gastos, porque há sempre muito desperdício, principalmente em contratos de fornecimento e em compras governamentais. Citou o exemplo da compra de leite na prefeitura de São Paulo, que segundo ele ficou em metade ou dois terços do custo inicialmente estabelecido: — O Brasil tem muitas anomalias.
Entra governo e sai governo o Brasil tem a maior taxa de juros do mundo, maior carga tributária entre emergentes e a menor taxa de investimento governamental.
Cortando gastos e desperdícios será possível reduzir juros, carga tributária e aumentar investimentos. Não se vai reduzir juros se não tiver um quadro fiscal equacionado.
No fim, disse que quer “abrir oportunidades para as pessoas”.
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