terça-feira, maio 22, 2012

Acabou em samba - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 22/05

A Comissão da Verdade acabou em samba. Não é vaticínio de que não vai dar em nada. É que Noca da Portela compôs, a pedido da ministra Maria do Rosário, o samba “Nossas verdades”, sobre a comissão. Trechinho: “Vamos contar nossas verdades/Para esquecer as mentiras/Vamos viver a realidade/ E festejar nosso passado.”

Araguaia...

Aliás, Maria Celina D’Araújo, cientista política da PUC, pôs na internet (mariacelina.daraujo. net/pacificador.xls) nomes de militares que ganharam a Medalhado Pacificador de1972 a1975. Seguiu pista de Elio Gaspari, autor de quatro livros sobre a ditadura, de militares que combateram a guerrilha do Araguaia.

Mas Elio avisa...

Todos os que estiveram no Araguaia receberam a medalha, mas nem todos os que a receberam estiveram no Araguaia.

Licença médica

Levantamento feito em 1.357 escolas estaduais do Rio mostra que, de 75 mil professores ativos, 18 mil não trabalharam em março. Do total, houve 7.871 faltas abonadas por motivo médico.

No mais...

Tem professor que mente para fugir do trabalho. Mas, para exigir, é preciso também melhorar o salário do mestre, que, como mostrou o GLOBO ontem, ganha pouco.

Ruas estranhas
O livro “Ruas estranhas” , organizado pelo americano George R. R. Martin, autor que já vendeu cerca de 15 milhões de exemplares, vai ser lançado no Brasil pela Casa da Palavra/Fantasy. O obra fala do contato de pessoas com a paranormalidade.

DIA 8, MIELE, o homem-show, 74 anos, pela primeira vez na carreira, vai atuarnum musical. Veja nosso artista no centro da foto, como o Mágico de Oz na adaptação de Charles Müller e Cláudio Botelho, que estreia no Teatro João Caetano. A seu redor, repare, estão Lúcio Mauro Filho (Leão Covarde), a jovem Malu Rodrigues (Dorothy), Pierre Baitelli (Espantalho) e Nicola Lama (Homem de Lata). Veja também Maria Clara Gueiros, de Bruxa Má do Oeste, aqui ao lado

Lei Roberto Carlos
Por iniciativa do relator Alessandro Molon, dia 14 de junho, na Biblioteca Nacional, haverá uma audiência com escritores e juristas para discutir o projeto do ex-deputado Palocci que torna possível a biografia de figuras públicas sem autorização prévia. A ideia é evitar casos como o de Roberto Carlos, que censurou um livro de Paulo César Araújo sobre sua vida.

Filhos adotivos

Domingo de manhã, parentes de crianças adotadas farão passeata na Praia de Copacabana. O ato é para festejar o Dia Nacional da Adoção (25 de maio).

Inflação de milhas

A TAM está cobrando 130 mil milhas por uma perna numa passagem Rio-Londres-Rio logo após as Olimpíadas. Parece abuso. E é.

Táxi, táxi!
Eduardo Paes vai mudar o desenho dos bigurrilhos, como são chamadas aquelas pequenas placas luminosas no teto dos táxis, para sua identificação. O novo modelo deve ser este.

Paris-Rocinha

Uns franceses estão comprando várias casas na Rua 2 da Rocinha.

Lá vão os noivos

A Associação Comercial e de Prestadores de Serviços do Morro dos Macacos, no Rio, vai promover o casamento comunitário de 12 soldados de UPPs. Dez são da própria comunidade. Dois são da UPP do Morro São João.

Pega ladrão

Acredite. Flanelinhas que atuam na Lapa têm cobrado, em tom ameaçador, até R$ 10 dos motoristas.

Grande Bibi

De Bibi Ferreira, 90 anos, ao espirrar pela segunda vez na sessão de domingo do seu espetáculo no antigo Teatro Tereza Rachel, hoje Net Rio: — Desculpem, é que eu sou alérgica a... teatro. A plateia foi ao delírio. Logo ela , filha de artistas, que, praticamente, nasceu no palco.

Os novos "3 em 1" de Lula - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 22/05


Lula se prepara para sair da eleição municipal com três dívidas na banca política do governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Quando e se vai pagar, o tempo dirá

Quando concorreu à Presidência da República pela primeira vez, em 1989, Lula ficou meio constrangido num debate quando o adversário Fernando Collor de Mello mencionou que ele havia comprado um aparelho de som “três em um”, aqueles trambolhos da década de 1980 que reuniam rádio, toca-discos e toca-fitas (ainda vivíamos na era do bolachão, muito longe do MP3). Agora, 23 anos depois, ele recebeu dos vereadores paulistanos outro três em um: numa única solenidade, Lula ganhou o título de Cidadão Paulistano, o diploma de Gratidão da Cidade e a Medalha Anchieta. A data não poderia ser melhor para tentar alavancar o petista Fernando Haddad nas pesquisas de intenção de voto para prefeito de São Paulo, antes da largada da campanha.

Lula está focado nesta eleição. Hoje, os petistas têm plena consciência de que foi um bom negócio o ex-presidente evitar a prévia paulistana. Conhecedor de seu partido e das vaidades de cada estrela, ele não queria correr o risco de o PT ficar dividido na eleição paulistana. O problema é que, se Haddad não demonstrar logo que tem traquejo para a campanha, só mesmo Lula para cumprir a tarefa de unir o partido em torno do candidato, ainda que a contragosto de alguns. Que ficaram insatisfeitos com o fim da prévia, caso da senadora Marta Suplicy.

No geral, o PT já se deu conta de que jogou tanta energia em São Paulo para conquistar uma das principais glebas tucanas que se esqueceu do restante do país. A prévia de Pernambuco, por exemplo, correu solta e terminou na “delegacia”, para ser resolvida por outras instâncias partidárias. Também pudera. A 10 dias da votação, os principais apoiadores de Maurício Rands estavam praticamente fora da campanha pelos corações dos militantes. O ex-prefeito João Paulo Lima, deputado federal, estava em Brasília, com toda a razão, cumprindo com as obrigações constitucionais para as quais fora eleito. O senador Humberto Costa (PT-PE) tinha outros afazeres urgentes. Relator do processo contra Demóstenes Torres no Conselho de Ética do Senado, dedicou-se em tempo integral à análise do caso. O governador Eduardo Campos (PSB) estava na China. Rands ficou sozinho enquanto o atual prefeito, João da Costa, amparado pela máquina da reeleição, conquistou 51,9% dos votos no último domingo, numa votação cercada de acusações de fraude.

Por falar em amparo…
Depois da briga entre as duas alas do PT, têm-se a sensação de que nada mais unirá os petistas do Recife, nem Lula, com seu discurso de encantador de serpentes. A divisão pode ser a senha para que o governador Eduardo Campos termine optando por outro candidato à Prefeitura do Recife. Assim, o nome do ministro da Integração, Fernando Bezerra Coelho, antes colocado apenas para tentar incutir algum juízo na cabeça dos petistas, pode virar realidade. Eduardo Campos, porém, é mais suscetível aos apelos de Lula do que o próprio PT. Agora, só mesmo um apelo de Lula para que Campos apoie João da Costa.

Assim, Lula tem outro “3 em 1”. Mas esse é de dívidas com o governador de Pernambuco. Pediu que tirasse Ciro Gomes da sucessão presidencial em 2010, e Eduardo atendeu. Este ano, pediu por Haddad — a aliança será formalizada daqui a alguns dias, num acordo casado que envolveu a Prefeitura de Belo Horizonte. Agora, Eduardo já fez chegar a quem interessar possa, que, se João da Costa se mantiver como candidato, ele só resolverá esse imbróglio da sucessão no Recife com Lula e a presidente Dilma. Assim, Lula agora tem três deferências em São Paulo e três débitos com o governador de Pernambuco. Bem… muito melhor que o antigo 3 em 1, hoje quase uma peça de museu.

Por falar em Dilma…A presidente da República é sempre simpática ao governador Eduardo Campos, mas já avisou a alguns aliados que, apesar disso, não tem como trocar de vice, se for candidata em 2014. Na frente de pelo menos um ministro, ela já comentou que, “se” for candidata à reeleição, irá repetir a chapa. Não por acaso, os peemedebistas correram para desfazer o alvoroço perante o discurso de Nelson Jobim na última quinta-feira, quando, durante um encontro do partido, o ex-ministro da Defesa pregou a candidatura própria. A cúpula da sigla considera melhor uma Vice-Presidência ao alcance da mão do que a incerteza de lançar um nome próprio — que poderia até mesmo terminar confundido com um aparelho 3 em 1 das antigas. Melhor não arriscar.

Violência sexual - SONIA RACY

O ESTADÃO - 22/05

Coincidindo com o doloroso relato de Xuxa no Fantástico, domingo - em que revelou ter sofrido vários abusos sexuais durante a infância -, o Ministério da Saúde fechou levantamento inédito: o mapa da violência contra crianças.
Feita pela primeira vez no Brasil, a pesquisa mostra que, em 2011, a violência sexual tirou 2º lugar na tipificação do crime, entre crianças menores de 10 anos. Elas somam 35% dos casos registrados, perdendo apenas para negligência e abandono (36%).
E pior: 64,5% das notificações aconteceram onde a criança… mora. Maior parte dos agressores? Os próprios pais ou outros familiares (38%). E força física e espancamento são as formas mais comuns para violentar as crianças (22%).

Força físicaMas os números do ministério trazem pelo menos um alento: conforme a criança cresce, a violência diminui.
Entre pré-adolescentes e adolescentes de 10 a 14 anos, os casos de violência sexual são 10,5% dos registrados. Já na faixa dos 15 aos 19 anos, a violência sexual cai para o terceiro lugar, com 5,2% - após violência física (28,3%) e psicológica (7,6%).

No sangueEstá no Brasil, negociando a montagem de importante fundo em parceria com o BTG/Pactual, Peter Soros.
Sim, ele enveredou pelo mesmo business de mercado financeiro de seu tio George.

EducaçãoSem avisar a casa, Fernando Haddad foi ao Bourbon Street, domingo, com seis pessoas, pagou ingresso e assistiu, tranquilamente, ao show de Omara Portuondo.
Cantora cubana de 81 anos.

Eu volteiWaldir Pires, ex-governador, ex-deputado federal, ex-ministro da Defesa de Lula, não pensa em aposentar as chuteiras. Aos 85 anos, decidiu sair candidato a… vereador por Salvador.
ACM deve estar se revirando.

Hora extraDe tão preocupada com o Código Florestal, Dilma fez convocação especial este sábado. Izabella Teixeira, Gleisi Hoffmann, Helena Chagas, Pepe Vargase Mendes Ribeiro Filho - mais Luís Inácio Adams, da Advocacia-Geral da União - passaram quase cinco horas no Alvorada.
Avaliando as chances de o Congresso cassar um eventual veto da presidente ao texto.

Martelo batidoA Rocco está organizando uma coletânea dos textos jornalísticos de Clarice Lispector- para antes do fim do ano.
Batizado de Clarice na Cabeceira - Jornalismo, o compilado está sendo organizado por Aparecida Maria Nunes.

Back to the futurePrestigiada, a festa de 70 anos, sábado, de Maílson da Nóbrega.
O ex-ministro de Sarney brindou seus convidados com meia hora de história econômica do Brasil - e criticou a interferência de Dilma na economia privada.

Na frenteLuciano Huck lançou camisetas com frases em homenagem à turma “das antigas”. Parte da renda será revertida para o Projeto Velho Amigo.

Contra o novo Código Florestal, a ONG Avaaz iniciou campanha pedindo a brasileiros que enviem e-mails de repúdio e telefonem, incessantemente, para as embaixadas do País.

Antonio Pitombo, do Moraes Pitombo Advogados, prepara site jurídico.

Começa hoje, no Espaço Villa Lobos, o evento Degustar.

Adriana Conti abre mostra amanhã. Na Galeria Ímpar.

Assessor de Paulo Maluf avisa: o deputado foi convidado pelo Planalto para a cerimônia da Comissão da Verdade.

A Mandi celebra parceria com a Jack Daniels. Hoje, no Shopping Iguatemi.

Fernanda Mil-Homens e Sany Marques convidam para lançamento do livro de Newman Schutze. Hoje, na Art at Format, em Nova York.

Quem usa a Marginal, perto da Avenida JK, viu. A quarta faixa, prometida pela WTorre, já entrou em uso…

Uma herança - JOÃO PEREIRA COUTINHO

FOLHA DE SP - 22/05


A biblioteca era um banheiro nos fundos da habitação, onde tive longos colóquios com Luiza Tomé


Passei uma parte da adolescência com a revista "Playboy". Culpa de um familiar, que a consumia primeiro e a deixava na mesa de cabeceira depois.

Dito e feito: aos sábados, almoçava na casa dele como um menino aprumado. E, quando os comensais ainda estavam na sobremesa, eu mostrava certo enfartamento, levantava-me sem fazer ondas e ia repousar na biblioteca.

A biblioteca era um pequeno banheiro nos fundos da habitação, onde tive longos colóquios com Maitê Proença, Vera Fischer e Luiza Tomé.

Ainda hoje, a caminho da meia-idade, penso nas fotos de Luiza Tomé e sinto o tipo de estremecimento que Stendhal detectou em certos turistas girando pelos monumentos de Itália. Nunca desmaiei, é certo, mas, já que falamos no assunto: onde anda você, Luiza? Não escreve, não telefona, não diz nada.

A "Playboy" era educação estética. Mas era também formação cultural. Parece piada: folhear a "Playboy" pelos contos e ensaios.

Não era. A primeira vez que ouvi falar de Graham Greene, foi na "Playboy". O mesmo para Nabokov, Amis (pai) e Amis (filho). Se os li na edição brasileira ou na edição americana, é difícil dizer. Consumia ambas. Nunca discriminei.

Mas, para ficarmos no Brasil, o melhor de tudo eram as entrevistas.

Recordo, com gratidão sincera, uma conversa notável com Roberto Campos, na qual o economista elaborava uma das defesas mais inteligentes do capitalismo que li em qualquer língua.

Uma das observações mais sagazes de Campos era, ironia das ironias, uma evocação de Marx: a ideia de que, sem produzir em abundância, não há riqueza para redistribuir. É tudo "die alte Scheisse" ("a mesma merda").

Muitos intelectuais de esquerda, na impossibilidade de lerem Marx, deveriam ler essa entrevista.

Ou outras. O que acontecia com os escritores, acontecia com certos políticos: um tal de "Lula" foi-me apresentado pela "Playboy".

As considerações econômicas do sindicalista eram de um primitivismo embaraçoso, confesso. Mas, depois, Lula mostrava um tal desprezo por Caetano Veloso e Gilberto Gil (juro, juro), que simpatizei logo com o personagem.

Sem falar de Nelson Rodrigues. Já conhecia as crônicas do mestre, é verdade. Mas desconhecia que aos sete anos Nelson escrevera sua primeira história de adultério. Palavras do próprio. Onde estará essa história? Ruy Castro que nos esclareça.

Os sábados eram assim: repartidos entre as curvas do corpo e as contracurvas do espírito. E eu, na estupidez própria dos 12 ou 13 anos, pensava honestamente que um cidadão tinha direito aos seus segredos. Eu desaparecia uma tarde inteira com as revistas debaixo do braço. E ninguém notava.

Esse familiar notou. Semanas atrás, depois de uma doença demasiado longa e dolorosa para merecer comentário, o homem apagou-se. Fizeram-se as cerimônias fúnebres, disseram-se as palavras de circunstância.

E eu, em frente ao caixão, enquanto meditava em todos os sábados do passado, recebi do filho dele a informação de que existia uma caixa na casa deles que me era destinada.

A caixa chegou hoje, com o conteúdo inevitável: as revistas. Ou o que sobrou delas: dezenas de números da "Playboy", até dezembro de 1999. Não sei por que motivo elas deixaram de ser consumidas na virada do milênio.

Sei apenas que eu as deixei de consumir anos antes, quando o desafio passou a ser encontrar Luizas Tomés fora do banheiro, não dentro dele.

Com a imaginação literária que o momento exige, ainda procurei um bilhete no meio da herança: uma explicação, um "sempre-soube-de-tudo", um aceno irônico do outro lado da eternidade. Em homenagem aos almoços interrompidos, talvez um "bom apetite".

Nada encontrei.

Faz sentido: os segredos de duas vidas não devem terminar quando termina uma delas.

Pelo contrário, devem continuar com a vida que fica. Por momentos, ainda pensei expor a coleção na melhor estante da sala.

Mas isso seria uma traição ao espírito da coisa. Melhor guardar tudo na mesa do quarto. Com sorte, haverá filhos ou sobrinhos que saberão o que fazer com elas.

O direito dos ofendidos - JAIRO MARQUES


FOLHA DE SP 22/05


Por que é proibido devolver a baforada com reclamação e até com a busca por uma reparação judicial?




As frases feitas do momento, seja no papo furado no cafezinho da firma, seja na feijoada com os amigos, têm sido: "Ai como o mundo está ficando chato"; "Ah, mas agora qualquer piada é motivo de questionamento"; "Puxa, mas a gente não pode nem mais brincar com nada, que já falam que é crime".

Parece, exageradamente, que um monte de tolos recalcados saiu de suas tumbas para perturbar a turma dos "legalzudos", dos "mordernetes", dos descolados com reclamações sobre piadas, sobre botar limites no humor.

Pouco leio ou escuto sobre a voz dos ofendidos, mas o grito pela tal "liberdade de expressão" de poder agredir os outros escuto sem parar.

Não quero marcar terreno como o chato de galochas, o defensor dos "politicamente corretos", dos almofadinhas, porque de correto não tenho nem o pé, mais torto do que árvore velha depois de ventania.

Também não componho com grupos orquestrados que enchem o saco por qualquer movimento que seja contrário a seus interesses.

Porém acho que é preciso dar às pessoas o básico direito de se ofenderem, de não gostarem, de não tolerarem ou de não curtirem no Facebook certas manifestações, certas graças que considerem sem graça, agressivamente sem graça.

Até concordo que tem havido exagero em algumas reclamações. Por exemplo, quando o chiste vem dos iguais. Se um rapaz negro não está nem aí em se vestir de gorila, é bem esquisito que outros da mesma cor se sintam prejudicados pela ação.

Como diria minha tia Filinha, "pé de galinha não mata pinto". Na turma das pessoas com deficiência, usamos cada termo para nos autointitularmos que quem ouve de relance pode achar que é caso de internação. São os mal-acabados, os chumbados -devido a pinos e hastes de metal que muitos guardam dentro de si após cirurgias reparadoras-, os estropiados, os "matrixianos" -pertencentes a um mundo paralelo, à Matrix, em alusão ao filme, os prejudicados das vistas, os puxadores de cachorro -cegos que usam cão-guia.

Logo que comecei a trabalhar na Folha, trombei em um corredor com o escritor e ídolo Marcelo Rubens Paiva, que à época quebrava pedra por aqui também. No que ele me viu, disparou com sorriso entre o sarcástico e o camarada: "Ah, que demais! Mais um aleijado na Redação".

Fiquei bege, afinal "aleijado" era de que os moleques me chamavam quando queriam me deixar mais bravo do que cachorro de japonês. Por alguns segundos, até pensei em chamá-lo "bobo", porém ali não morava agressão, era puro gracejo de "iguais cadeirantes".

Quando é mesmo uma sapatada na cara do orgulho, uma agulhada no brio, um ataque ao íntimo, um rastilho fértil para o Bullying de um filho, por que raios "é proibido" devolver a baforada com reclamação, com apelos e, em casos cabíveis, com a busca por reparação judicial?

Defender a liberdade de expressão está entre os preceitos que jurei ao assumir minha profissão, o jornalismo, e não me pairam dúvidas de seu valor intocável, universal e atual. Mas me incomoda a formação de um paredão visando impedir que ocorra revés àquilo que causou dano emocional ou de qualquer ordem a alguém.

Um dia iluminado - JANIO DE FREITAS

FOLHA DE SP - 22/05


A Comissão Parlamentar de Inquérito tem hoje um dia decisivo entre o dever e o ímpeto de não fazer inquérito


QUEM TENHA alguma curiosidade sobre o país que está em moda no mundo tem dele uma radiografia esclarecedora se atentar, apenas isto, para os assuntos simultâneos que preenchem sua semana de ricaço do pré-sal, mandachuva da soja, do minério de Carajás, das carnes e de tanto mais.

Uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito tem hoje um dia decisivo entre o dever e o seu ímpeto de não fazer inquérito algum. E então não ser parlamentar nem comissão, mas um aglomerado que, excetuada meia dúzia de integrantes, mereceria ele próprio uma comissão de inquérito. Esta, verdadeira. E orientada, não pelos regimentos parlamentares, mas pelos códigos penais.

Caso a CPMI não aprove hoje a convocação dos dirigentes da Delta Construções e de seu "ex-dono" Fernando Cavendish, não haverá o que esperar dela. A não ser a exibição de seu presidente e do relator, Vital do Rêgo e Odair Cunha, em escapismos comprometedores.

Como a inverdade de que a chamada Delta Centro-Oeste independe, em suas operações, da Delta central. Ou seja, não liga esta à rede de Carlos Cachoeira e seus negócios. A persistir tal inverdade como fator determinante do "inquérito", os desmoralizados pela CPMI serão os seus condutores.

Mas o país assegura sua realidade, caso a CPMI se reduza a vexame, com a entrada ativa da Comissão Nacional da Verdade. O nome e a necessidade de criá-la, a par da necessária grandeza para criá-la, já dizem o suficiente a respeito.

O que cabe é registrar que as contradições internas da comissão, dadas por muitos como irrelevantes ou dirimidas, não são uma coisa nem outra. Componentes da comissão já se veem confrontados com casos complexos, trazidos por múltiplas intermediações, que vão requerer mais do que a simples identificação de "crime de Estado" ou não, para serem examinados.

A força emocional do tema entregue à Comissão da Verdade é, por si só, suficiente para mobilizações na opinião pública. Mais incisivas na ocorrência de casos que suscitem controvérsia sobre seu enquadramento nos objetivos da comissão.

O problema que aí desponta está no grau de racionalidade, dentro e sobretudo fora da comissão, com que tais casos sejam considerados. O risco de que a controvérsia desande existe, e propõe uma pergunta: estamos preparados para fazer a convivência das emoções com a racionalidade?

Há também um Conselho de Ética em ação, encarregado de sugerir ao Senado o que fazer do senador Demóstenes Torres. Ou seja, com o ponta de lança político do Carlos Cachoeira que vai surfando sobre a CPMI. Mas a impressão que prevalece, ao menos para os meus ouvidos, é de que a situação do senador estará incerta até a decisão do plenário. Parece não haver vontade de vê-lo cassado, a menos que seja impossível poupá-lo.

Comissão por comissão, hoje abre suas portas, mais uma vez, a segunda de Anistia -aquela que concede indenizações e, por critérios a meu ver ininteligíveis, distribui outras verbas a alegadas vítimas financeiras ou profissionais da ditadura. E lá será decidida a doação ou recusa da indenização pedida pelo Cabo Anselmo. Só o fato de que este cúmplice de numerosos assassinatos esteja por aí, solto e sustentado misteriosamente, é um crime de Estado do qual o Estado não pode ser anistiado, nunca.

Mais um? Pode ser a trapaça investigada, pela Polícia Federal e pela Superintendência de Seguros (Susep), no leilão do Hotel Nacional, no Rio. Basta uma frase a respeito: nenhum dos lados se salva na armação do negócio e no negócio propriamente. E Cachoeirinha, ainda que pareça impossível, é o de menos nessa história.

Enquadrando - ILIMAR FRANCO


O GLOBO - 22/05

O can­di­da­to do PT à pre­fei­tu­ra de São Pau­lo, Fer­nan­do Had­dad, ca­mi­nha pa­ra re­ce­ber o apoio do PCdoB. A co­mis­são po­lí­ti­ca na­cio­nal dos co­mu­nis­tas reu­niu-se no fi­nal de se­ma­na, em São Pau­lo, e, após ho­ras de de­ba­te, che­gou à con­clu­são que o me­lhor era se ali­nhar ao pro­je­to pe­tis­ta. Pa­ra im­ple­men­tar es­sa li­nha, se­rá pre­ci­so ga­nhar pa­ra es­sa po­si­ção os di­re­tó­rios re­gio­nais e mu­ni­ci­pais, que têm mui­tas ares­tas com os pe­tis­tas, além de ab­di­car da can­di­da­tu­ra do ve­rea­dor Ne­ti­nho.

E o PT vira as costas para os aliados
O go­ver­na­dor Tião Viana (PT-AC) e o se­na­dor Jorge Viana (PT-AC) de­ci­di­ram não apoiar a líder nas pes­qui­sas para a pre­fei­tura de Rio Branco entre os nomes da Frente Po­pu­lar, a de­pu­tada Per­pé­tua Al­meida (PCdoB-AC). Eles vão ten­tar man­ter o poder na pre­fei­tura apoiando um téc­nico que nunca dis­pu­tou elei­ções: Mar­cus Mé­dici, di­re­tor do DER. O líder nas pes­qui­sas é Tião Bo­ca­lon (PSDB). Os can­di­da­tos co­mu­nis­tas, tra­di­cio­nais alia­dos do PT, tam­bém estão sendo aban­do­na­dos em ou­tras ca­pi­tais onde li­de­ram as pes­qui­sas, como o se­na­dor Iná­cio Ar­ruda, em For­ta­leza; e a de­pu­tada Ma­nuela D´Ávila, em Porto Ale­gre.

"Minha vontade é colocar um guardanapo de restaurante na cabeça e ir para a porta da CPI. Do jeito que está, não vai dar em nada” — Roberto Requião, senador (PMDB-PR)

MÉDICOS ESTRANGEIROS. O ministro Alexandre Padilha (Saúde) reuniu-se, em Genebra, durante reunião da OMS, com a ministra canadense Leona Aglukkaq, para tratar da oferta de médicos em regiões remotas. Padilha anotou três ações adotadas no Canadá para atender as populações isoladas: "Definição de regras obrigatórias para trabalho médico em regiões carentes, estímulo ao uso de mão de obra estrangeira e a criação de um corpo nacional para atender as populações destas regiões".

Transparência
O Ministério das Comunicações recebeu a primeira consulta decorrente da Lei de Acesso à Informação. Ela pede dados de todos os processos de outorga de rádios comunitárias indeferidos. Os 17 mil processos foram gravados num DVD.

A rota
Se for ao Senado depor hoje, o contraventor Carlos Cachoeira quer entrar na ala das comissões pelo jardim de inverno do gabinete do senador Álvaro Dias (PSDB-PR), único local que dá acesso à sala da CPI sem passar pelos corredores.

Atrás do Cachoeira só não vai...
Todos os integrantes da organização do contraventor Carlos Cachoeira pediram para não depor na CPI. O presidente Vital do Rêgo (PMDB-PB) rejeitou os pedidos feitos por Idalberto Mathias de Araújo (o Dadá), Lenine de Souza, Jairo Martins de Souza, José Olímpio de Queiroga Neto, Gleyb Ferreira da Cruz e Wladimir Garcez. O depoimento deles está marcado para esta quinta-feira. Os advogados deles podem ir ao STF e alegar falta de tempo para analisar os autos. Se colou para Cachoeira, pode ser que cole para eles também.

Mão na massa
No fim de semana, no debate dos vetos ao Código Florestal, a presidente Dilma assumiu para si os cálculos para definir, pela largura do curso d´água e pelo tamanho da propriedade, a metragem da área que terá de ser preservada.

De volta à ativa
A exemplo de quando foi ministro do governo Lula, o advogado Márcio Thomaz Bastos vai alugar um flat em Brasília. Com clientes no julgamento do mensalão, no STF, e na CPI do Cachoeira, vai passar mais tempo na capital do país.

JU­RIS­TAS du­vi­dam que o go­verno con­siga im­ple­men­tar um pro­grama de com­pras sus­ten­tá­veis. Ocorre que a regra geral da Lei de Li­ci­ta­ções é o menor preço. Mas com­pras que levem em conta a ques­tão am­bien­tal cus­tam mais caro.

IMU­NI­ZADO? O se­na­dor De­mós­te­nes Tor­res apro­vei­tou que o Con­gresso es­tava vazio sexta-feira e foi ao posto mé­dico tomar va­cina para a gripe.

O PRE­SI­DENTE do Banco Cen­tral, Ale­xan­dre Tom­bini, não fez co­le­ções quando criança. Mas do­mingo abriu o BC para que crian­ças e ado­les­cen­tes ex­pu­ses­sem suas co­le­ções de bo­ne­cas, moe­das, selos e etc.

VOCÊ COM INSÔNIA!


Torpedeado - DORA KRAMER

O Estado de S.Paulo - 22/05


É generalizado no Congresso o desconforto com o flagrante do torpedo enviado pelo deputado petista Cândido Vaccarezza ao governador do Rio, Sérgio Cabral, durante sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito mais famosa do País.

O PT trabalha para reduzir os danos, mas propaga-se em voz baixa na bancada a interpretação de que o deputado fragilizou o partido e deu aval a suspeitas sobre a função de seus representantes na comissão.

O PMDB considera que ele acabou levando Cabral para dentro da CPMI, abrindo espaço para a aprovação de eventual pedido de convocação apresentado pela oposição, como uma espécie de "prova" de conduta isenta a ser apresentada ao público.

Entre os demais parlamentares há divergências quanto à necessidade de afastamento, mas existe um ponto de convergência: a atitude foi ruim para o conjunto da comissão que, perante a sociedade, começa a assumir fortemente a feição de uma ação entre amigos e inimigos políticos sem compromisso com as investigações em si.

Já o deputado Cândido Vaccarezza não vê problema mais sério no episódio. Assegura que não pedirá para sair da CPMI, garante que o PT não o fará e aposta que seus pares de outros partidos também não.

Por uma razão simples: "Não tenho nada a esconder, nenhuma relação com a bandidagem e zero compromisso com proteções ou condenações por antecipação".

Tirando o "imperdoável" erro de português da já notória frase "você é nosso e nós somos teu", dirigida ao governador Cabral, Vaccarezza tem convicção de que não cometeu pecado algum.

Recusou orientação de assessores para alegar invasão de privacidade - "o profissional no caso estava no exercício justo de sua função jornalística" -, mas afirma que a mensagem foi exposta fora do contexto geral de uma conversa em que ele transmitia ao governador a avaliação de que nada teria a temer, pois não fora citado em nenhuma das gravações da Polícia Federal.

"Não há blindagem porque não há até agora nada que ligue Sérgio Cabral ou mesmo Fernando Cavendish à organização criminosa comandada por Carlos Cachoeira. Se aparecer, ninguém terá proteção de minha parte."

Diferentes, diz, são os casos dos governadores Marconi Perillo, de Goiás - "atolado até o pescoço" -, e Agnelo Queiroz, do Distrito Federal, cujo ex-chefe de gabinete aparece nas gravações. Mesmo esses dois casos são distintos entre si na visão de Vaccarezza.

"Querer tratar do assunto como uma ação de governadores dando o mesmo peso a situações diversas é que me parece a preparação de uma base para a massa da chamada pizza."

Portanto, mesmo estando na berlinda, o petista diz que entra hoje na primeira reunião da CPMI na semana tranquilo quanto a possíveis desdobramentos. "Já expliquei, ficou tudo esclarecido."

Não é a opinião de alguns colegas. O deputado Miro Teixeira tinha na sexta-feira a expectativa de que ele se declarasse impedido de continuar e o senador Pedro Taques preparava-se ontem para embarcar para Brasília já com questionamentos engatilhados para ele.

"Não faço juízo, mas a mensagem dá a ideia de que está havendo acobertamento, assim a opinião pública entendeu, foi o que me perguntou minha filha de 14 anos. Então, não está nada explicado, assim como não está esclarecida qual a natureza daquela conversa, se pessoal ou, digamos, profissional", dizia.

Mais embaixo. Não é só a questão de convocação ou não do diretor da sucursal da Veja em Brasília, Policarpo Júnior, que "azeda" a relação do PMDB com o PT na comissão de inquérito.

É a desconfiança por parte dos petistas de que os pemedebistas estejam aliados ao PSDB na montagem de uma operação conjunta de proteção ao governador Marconi Perillo para também "blindar" os seus.

O PMDB governou Goiás e administrou Goiânia algumas vezes, tem presença forte no Estado onde nasceu a "rede Cachoeira", cujas origens, é de se pressupor, remontam a gestões anteriores.

Modelo chinês - MERVAL PEREIRA


O GLOBO - 22/05

Além do Instituto de Filosofia, outro departamento da Academia de Ciências Sociais de Xangai participou do seminário sobre as relações da China com a América Latina realizado ontem aqui em Xangai: o Instituto de Marxismo Chinês, cujo sentido deu o tom das palestras dos vários scholars chineses.
Todos procuraram justificar o que chamam de "modelo chinês" de socialismo, que se diferencia nestes 30 anos de experiência de todas as formas de socialismo experimentadas em vários países do mundo, que não seria simplesmente um "capitalismo de Estado" como comumente é conhecido no Ocidente, mas também uma organização social que lida com valores específicos.
Até o momento o modelo chinês não leva em conta "valores universais" tais como liberdade, direitos humanos, democracia, fraternidade, mas lida com "valores fundamentais" como estabilidade, harmonia e desenvolvimento.
Conforme explicou Chen Xiangqin, do Instituto de Filosofia, o sucesso do modelo depende de como ele lida com as relações entre mercado e governo, assim como entre a sociedade e o governo, tentando evitar, de um lado, os prejuízos do totalitarismo e do fechamento social, mas também o risco de que o sistema organizacional do Partido Comunista e do Estado seja afetado pela desunião, pelo suborno ou cooptação por classes privilegiadas ou grupos de interesse.
Já Xuan Chuanshu, do Centro para o Socialismo Internacional, abordou mais diretamente o tema do socialismo, analisando por que há muito ceticismo, dentro e fora da China, sobre a genuinidade do modelo socialista adotado.
Ele admite que, devido ao que chama de "alto preço" pago pelo rápido desenvolvimento, como destruição ecológica, corrupção e especialmente a grande distância entre ricos e pobres, há uma impressão generalizada de que o socialismo na China se degenerou, seja pelo fato de que alguns de seus valores simbólicos não foram alcançados, como a igualdade, seja porque o crescimento econômico dá a sensação de que o modelo chinês apenas copiou o caminho de modernização do Ocidente.
Segundo Chuanshu, o socialismo tornou-se nos últimos tempos um conceito familiar, mas ao mesmo tempo estranho à maioria das pessoas. Mas ele defende que o que está acontecendo na China está além das teorias de Marx e outros escritores clássicos, vai além das experiências ocidentais como as que existem nos países escandinavos e muda o tradicional socialismo que vigorava na antiga União Soviética.
Para ele, há dimensões do desenvolvimento que são inerentes a qualquer sistema socialista e que a China vem conseguindo atingir: rapidez de crescimento econômico e sustentabilidade; paz e cooperação; prosperidade comum repartida por todos e um amplo e livre desenvolvimento.
O professor Chuanshu define o caminho da China para o socialismo como fundamental para o mundo moderno, como uma ponte entre as civilizações Oriental e o Ocidental, integrando visões e conhecimentos tradicionais com os modernos, reduzindo a distância entre o capitalismo e o socialismo.
Todos os trabalhos sobre o estágio atual do modelo chinês são claramente orgulhosos do que foi alcançado. Fong Songhua, do Instituto de Marxismo Chinês, por exemplo, num trabalho em que destaca principalmente os desequilíbrios do processo de desenvolvimento, ressalta que as mudanças em curso jamais foram vistas na História humana, pois a China, em uma ou duas gerações, alcançou resultados que as culturas ocidentais levaram dois ou três séculos para conseguir.
Embora a linguagem acadêmica seja mais liberada, assim como o debate é mais amplo, nota-se que os trabalhos escritos são mais cuidadosos do que a defesa verbal das teses.
E muitas perguntas que não podem ser feitas em público aparecem nos seminários. Ontem, depois de minha palestra sobre a situação da imprensa na América Latina, na qual citei os problemas de liberdade de imprensa que países como Argentina, Equador e Venezuela vivem, e apontei que no Brasil, mesmo tendo perdido força pelo posicionamento claro da presidente Dilma Rousseff a favor da liberdade de expressão, ainda há grupos políticos empenhados em fazer aprovar medidas de controle da mídia, uma estudante me perguntou o que achava da situação da China, onde há censura aos meios de comunicação.
Disse a ela que havia tentado acessar o Facebook e o YouTube sem sucesso, pois estavam bloqueados, e que era impossível ter-se um sistema de informação que seja útil à cidadania se ele é baseado apenas em notícias oficiais.
E que era um paradoxo querer ser um país economicamente eficiente e moderno sem um sistema de informação aberto a todos os lados que permita inclusive a atualização dos conhecimentos necessários para a competitividade da nação. A China, com a censura à internet, estava abrindo mão de tecnologias modernas que certamente seriam úteis para seu desenvolvimento.
Pensei cá comigo que o fato de o ambiente acadêmico permitir esse tipo de questionamento é um primeiro passo para uma maior abertura política, que, aliás, foi defendida em alguns trabalhos apresentados por scholars chineses.
Foi o caso de Fong Songhua, que, em seu balanço sobre os desequilíbrios do modelo chinês, destacou que o tema mais urgente na China contemporânea é começar uma reforma política progressiva.
No passado, disse ele, foi fundamental a união de poder e capital para promover o crescimento econômico rápido da China, mas agora têm de ser reexaminadas as relações entre os direitos e o capital, retomados os valores de liberdade e democracia, correção e justiça, para construir fundações para um projeto de longo prazo que abranja o desenvolvimento social, assim como o econômico.
"Não queremos que a China seja um gigante econômico, mas um anão cultural no futuro", disse Fong Songhua.

O cavalo e o camelo CARLOS HEITOR CONY


FOLHA DE SP - 22/05

RIO DE JANEIRO - Não é de hoje a ideia de criar uma comissão para decidir sobre determinados problemas. Quando um governo, uma empresa, um general em campanha enfrentam uma questão delicada, o remédio é formar uma comissão para estudar, avaliar e, em caso extremo, resolver a situação na base do "fizemos o que foi possível". Quando se viu perdido em Waterloo, Napoleão fez uma coisa rara: convocou uma reunião de generais. que decidiram esperar por reforços que não vieram.
A comissão que apurou o assassinato de J. F. Kennedy até hoje é contestada. Dizem que um dos desenhos mais bonitos da natureza, o cavalo, foi criado por Deus. O camelo, que embora mais resistente é mais bagunçado, foi criado por uma comissão de sábios e artistas.
Evidente que louvo a recém-criada Comissão da Verdade para apurar os crimes que ocorreram no regime militar. Admito que dona Dilma escolheu pessoas idôneas e bem-intencionadas para fuçar os arquivos -se é que eles ainda existem. De qualquer forma, uma faxina cívica e moral deverá ser feita para que todos conheçamos a longa noite de chumbo que atravessamos e não queremos atravessá-la de novo, num futuro que, de repente, pode ser armado -e "armado" é bem o termo para o que houve.
Quando um executivo tem um abacaxi nas mãos, a primeira coisa que faz para descascá-lo é nomear uma comissão de alto nível para apurar os fatos, doendo a quem doer.
Acontece que um governo bem azeitado, como o que dona Dilma pretende fazer, tem elementos próprios, dispõe de toda a estrutura de um poder institucional e plenamente democrático para revelar à nação os tumores que, embora recolhidos por qualquer acidente de percurso, podem provocar uma metástase que colocará novamente em risco nossa acidentada vida nacional.

O necessário equilíbrio - ANTONIO DELFIM NETTO


Valor Econômico - 22/05


Neste momento de incerteza em que parece que o país não tem rumo, que parece viver de pequenos expedientes e no qual se exige um "coerente programa nacional em que o Brasil explicite com clareza o que quer de si mesmo", é bom lembrar que ele existe. A Constituição tem, ínsita, uma linha de desenvolvimento político, social e econômico que, com as dificuldades naturais, vem sendo seguida. Afinal, que tipo de sociedade os brasileiros escolheram para viver através dos seus constituintes? Não é coisa fácil de definir porque a Constituição é extremamente analítica, mas podemos definir o seu "espírito original" em três grandes vetores:

1) uma sociedade republicana em que todo cidadão, independente de sua origem, cor, credo, gênero, educação ou patrimônio, obedecerá à mesma lei, à qual se submeterá, inclusive, o Estado; 2) uma sociedade democrática, controlada pelo sufrágio universal com voto secreto, amplo e irrestrito no qual, em princípio, quem vota pode também ser votado; 3) um Estado forte, mas constitucionalmente controlado, que garanta o funcionamento de uma sociedade aberta, onde os indivíduos têm plena liberdade para iniciativa lícita e podem apropriar-se dos seus benefícios; com poder para regular a organização econômica que sustenta o uso dos mercados na alocação de bens e serviços; e com poder para ir ampliando a construção de uma sociedade onde cada vez mais adquire significado concreto a igualdade de oportunidades. É preciso dizer que diante desse programa civilizatório não há a menor dicotomia entre Estado e mercado.

Para entender porque os economistas podem ser úteis, não no estabelecimento desse objetivo, mas na facilitação da sua realização é preciso reconhecer que a condição preliminar para atingi-los é o aumento da produtividade do trabalho, que encolhe o tempo necessário do homem para construir sua sobrevivência física e expande o tempo disponível para que ele conquiste a sua humanidade. O desenvolvimento é apenas o instrumento que, eventualmente, tornará possível ao homem realizar-se plenamente.

O problema é que, por maior que sejam nossos desejos e por melhor que sejam as "instruções" da Constituição para a construção do nosso processo civilizatório, há realidades físicas que obstruem a sua marcha e decisões políticas que podem acelerá-la ou retardá-la. Para entender isso observe-se o gráfico abaixo, já publicado nesta coluna uma meia dúzia de vezes, ao longo dos últimos 12 anos. Numa simplificação radical ele revela a essência do processo de desenvolvimento numa economia fechada. Da população total (N) extraímos a população economicamente ativa (com seu nível de educação e saúde) e, dela, a Força de Trabalho (L), os que podem e querem trabalhar. Esses, usando o Estoque de Capital (K), que é trabalho do passado congelado na forma de infraestrutura, máquinas etc. produzem o PIB. É fato empírico bem comprovado que a "produtividade" da combinação do capital (K) com o trabalho (L) depende, dentro de certos limites da intensidade da relação entre eles (K/L), ou seja, da quantidade de capital (K) de que dispõe cada unidade da mão de obra (L).


Trata-se, obviamente, de uma metáfora não mensurável que permite entender que o tamanho do PIB depende do estoque de capital (K), da disponibilidade do trabalho (L) e da sua "produtividade" (K/L). A velocidade do processo é determinada pelo ritmo de crescimento do capital com relação ao do trabalho. Há, portanto, uma clara relação entre o ritmo possível do consumo e a velocidade desejada de crescimento.

Até aqui o processo é puramente físico e a economia tem muita coisa útil para dizer e ensinar sobre ele. Uma vez produzido, entretanto, a distribuição do PIB entre o consumo que volta para a população (N) e o investimento que retorna ao estoque de capital (K) para repor o capital consumido na produção (depreciação) e aumentá-lo, é um processo político. Nas democracias ele é resolvido nas urnas. Nos regimes autoritários pelo arbítrio, fora do alcance da economia e dos economistas. O que esses podem fazer é apontar os inevitáveis resultados práticos das escolhas políticas e o nível de sua coerência no longo prazo com os objetivos estabelecidos pela sociedade.

Não é preciso ser um físico quântico para compreender que sem um equilíbrio entre o consumo e o investimento, o sistema não tem energia para se manter funcionando adequadamente. Quando há ênfase exagerada no consumo (como no Brasil) ou no investimento (como na China) o sistema perde funcionalidade no longo prazo. Chega a hora de mudar. O Brasil precisa dar ênfase ao investimento e às exportações sem recuar na inserção social. A China precisa reduzir os investimentos e a exportação para dar ênfase ao consumo.

Jogada arriscada - VERA MAGALHÃES - PAINEL


FOLHA DE SP - 22/05

Tragada pelo Cachoeiragate e sob risco de perder seus contratos do PAC, a construtora Delta tentará hoje uma cartada para contestar o processo para declará-la inidônea, ou seja, proibida de ter negócios com o poder público. Na defesa, a empreiteira dirá que a Controladoria Geral da União não segue o princípio da equidade. Usará como exemplo a Operação Mão Dupla, que identificou fraudes em obras do Dnit feitas pela Delta e por outras 11 empreiteiras, além do suposto esquema de liberação de R$ 3 bilhões do FGTS a construtoras. Mas só a Delta está sob ameaça. "A CGU escolhe quem processar'', diz um interlocutor da empresa.

É guerra Com base nessa linha de defesa, a Delta estuda entrar com uma medida cautelar no Superior Tribunal de Justiça para contestar o método de investigação do órgão ligado à Presidência.

Em aberto A corregedoria da CGU afirma que ainda analisa se as empresas citadas na denúncia de fraude no FGTS, que teria beneficiado funcionários da Caixa Econômica Federal, devem ser declaradas inidôneas.

Multiuso Em conversa com parlamentares da base aliada, empresários afirmam que a J&F está preocupada com a repercussão negativa da aquisição da Delta. A holding está de olho na operação de compra da companhia aérea portuguesa TAP, prevista para o segundo semestre.

Conexões 1 Antes de ser leiolado para Marcelo Limírio, sócio de Demóstenes Torres e Cachoeira, o Hotel Nacional do Rio estava sob controle da Susep, que tinha à frente em 2009 o deputado Armando Vergilio (PSD-GO), que foi secretário no governo Marconi Perillo em 2011.

Conexões 2 Indicado para a Susep na cota do PTB, em 2007, Vergilio convidou João Furtado, atual secretário de segurança pública de Goiás, para ser seu chefe de gabinete na autarquia federal.

Outro lado Furtado afirma que só foi trabalhar com o então presidente da Susep em 2010, após a realização do leilão, cujo resultado agora será investigado. Armando Vergilio afirma que só conheceu Limírio depois da venda do Hotel Nacional, que "ocorreu dentro da mais perfeita legalidade'', segundo ele.

Tapetão O PT antecipou para quinta-feira a reunião da Executiva Nacional que discutirá o futuro das prévias em Recife. A tendência, segundo a cúpula do partido, é suspender o resultado que levou à vitória do atual prefeito, João da Costa, e convocar um encontro de delegados para definir a questão.

Tô fora 1 O presidente nacional do PT, Rui Falcão, evitava tomar partido na contenda recifense antes mesmo do fim de semana de disputas judiciais e bate-boca. "Eu só torço pelo Palmeiras", repetia a todo mundo que perguntava de que lado estava.

Tô fora 2 A presidente Dilma Rousseff já avisou que não pisará em Recife na campanha caso haja uma cizânia na seção local do partido.

Descarrilou Acuado pela crise nos transportes, o governo de SP identificou mobilização de sindicatos para promover paralisação de trens e metrô num único dia, o que afetaria seis milhões de usuários e aumentaria o desgaste de Geraldo Alckmin.

Mão dupla Enquanto busca negociação com sindicatos da CPTM e do Metrô, o Bandeirantes abriu tratativas, nos bastidores, com a Justiça do Trabalho. Quer que a greve seja julgada ilegal tão logo seja deflagrada, impedindo colapso no sistema.

com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI

tiroteio

"Estamos na fase do politicamente correto: é melhor acabar com 14º e 15º salários antes que façam plebiscito para extinguir o salário dos deputados e até fechar o Congresso."

DO DEPUTADO FEDERAL ANDRÉ VARGAS (PT-PR), sobre a polêmica envolvendo o projeto que acaba com os salários extras a que os congressistas têm direito, já aprovado pelo Senado e que está na Câmara há dez dias para ser votado.

contraponto

Férias conjugais

Após quatro horas de reunião com ministros para tratar dos vetos ao Código Florestal, domingo, no Palácio da Alvorada, a presidente Dilma Rousseff fez uma pausa de 20 minutos para gravar o programa de rádio "Café com a Presidenta". Ao final da gravação, Paulo Bernardo (Comunicações) quis saber se a mulher e ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, seria liberada em seguida:

-Será que a Gleisi não quer uma carona, presidente?

Mas Dilma tratou de cortar o ministro:

-Nada de carona! A coisa aqui ainda vai longe!

Toda violação será castigada - VLADIMIR SAFATLE


FOLHA DE SP - 22/05

"Toda violação dos direitos humanos será investigada." Com essa frase, Gilson Dipp, um dos integrantes da Comissão da Verdade, procurou constranger setores da esquerda que procuram levar a cabo as exigências de punição aos crimes da ditadura militar.
Trata-se de pressupor que tanto o aparato estatal da ditadura militar quanto os membros da luta armada foram responsáveis por violações dos direitos humanos. É como se a verdadeira função da Comissão da Verdade fosse referendar a versão oficial de que todos os lados cometeram excessos equivalentes, por isso o melhor é não punir nada.
No entanto o pressuposto de Dipp é da mais crassa má-fé. Na verdade, com essa frase, ele se torna, ao contrário, responsável por uma das piores violações dos direitos humanos.
Sua afirmação induz à criminalização do direito de resistência, este que -desde a Declaração dos Direitos Universais do Homem e do Cidadão- é, ao lado dos direitos à propriedade, à segurança e à liberdade, um dos quatro direitos humanos fundamentais.
Digamos de maneira clara: simplesmente não houve violação dos direitos humanos por parte da luta armada contra a ditadura. Pois ações violentas contra membros do aparato repressivo de um Estado ditatorial e ilegal não são violações dos direitos humanos. São expressões do direito inalienável de resistência.
Os resistentes franceses também fizeram atos violentos contra colaboradores do Exército alemão durante a Segunda Guerra, e nem por isso alguém teve a ideia estúpida de criminalizar suas ações.
Àqueles que se levantam para afirmar que "a guerrilha matou tal soldado, tal financiador da Operação Bandeirantes", devemos dizer:
"Tais ações não podem ser julgadas como crimes, pois elas eram ações de resistência contra um Estado criminoso e ditatorial".
O argumento de que tais grupos de luta armada queriam implementar regimes comunistas no país não muda em nada o fato de que toda ação contra um Estado ilegal é uma ação legal. O que está em questão não é o que tais grupos queriam, mas se um Estado ilegal pode criminalizar ações contra sua existência impetrada por setores da população.
Como se não bastasse, integrantes da Comissão da Verdade que dizem querer investigar ações dos grupos de resistência "esquecem" que os membros da luta armada julgados por crimes de sangue não foram anistiados. Eles apenas receberam uma diminuição das penas.
Ou seja, os únicos anistiados foram os militares, graças a uma lei que eles mesmos fizeram, sem negociação alguma com a sociedade civil.

Efeito do dólar alto - MIRIAM LEITÃO


O GLOBO - 22/05

O dó­lar co­me­çou a su­bir e era is­so que o go­ver­no bus­ca­va. No en­tan­to, o Ban­co Cen­tral ven­deu re­ser­vas na sex­ta-fei­ra pa­ra evi­tar al­tas aci­ma de R$ 2,00. O dó­lar pro­vo­ca vá­rios pro­ble­mas quan­do cai ou quan­do so­be, e de­sor­ga­ni­za a eco­no­mia quan­do fi­ca ins­tá­vel e in­cer­to. Al­gu­mas em­pre­sas ga­nham com o real des­va­lo­ri­za­do, mas ou­tras per­dem. Pa­ra a Pe­tro­bras, fi­ca­rá mais di­fí­cil man­ter a ga­so­li­na no mes­mo pre­ço que ven­de às dis­tri­bui­do­ras.

De maio de 2009 a fe­ve­rei­ro de 2012, o con­su­mo de ga­so­li­na au­men­tou 76%. A al­ta do dó­lar co­lo­ca a em­pre­sa es­ta­tal nu­ma si­tua­ção ca­da vez mais es­tra­nha por não po­der ele­var o pre­ço do pro­du­to que for­ne­ce às dis­tri­bui­do­ras, se­jam elas do seu pró­prio gru­po ou con­cor­ren­tes. O pre­ço dos de­ri­va­dos tem a ver di­re­ta­men­te com o cus­to da ma­té­ria-pri­ma e a co­ta­ção do dó­lar. Quan­do os dois so­bem e a em­pre­sa não po­de me­xer no pre­ço in­ter­no, o pre­juí­zo au­men­ta.

Há mui­to tem­po ela tem ven­di­do in­ter­na­men­te a um pre­ço me­nor do que com­pra lá fo­ra, mas pe­lo me­nos o dó­lar bai­xo a aju­da­va a re­du­zir o cus­to. Há o ris­co ain­da de o pe­tró­leo su­bir até ju­lho, pe­la pro­xi­mi­da­de da da­ta do boi­co­te da Eu­ro­pa ao pro­du­to do Irã. Se o dó­lar per­ma­ne­cer nes­te pa­ta­mar, a ma­té­ria-pri­ma su­bir e o con­su­mo con­ti­nuar cres­cen­do co­mo nos úl­ti­mos tem­pos, a si­tua­ção fi­ca­rá com­pli­ca­da pa­ra a es­ta­tal.

Ela tam­bém é ex­por­ta­do­ra e ga­nha com as ven­das ao mer­ca­do ex­ter­no pe­la ele­va­ção tan­to do dó­lar quan­to do pre­ço do pe­tró­leo, mas es­se de­se­qui­lí­brio no pre­ço do seu prin­ci­pal pro­du­to, so­ma­do ao au­men­to do con­su­mo, vem atin­gin­do as con­tas da em­pre­sa.

Se o pre­ço for cor­ri­gi­do, a in­fla­ção se­rá im­pac­ta­da por­que com­bus­tí­vel tem um pe­so al­to em to­dos os ín­di­ces. A cri­se do álcool - com em­pre­sas dei­xan­do de moer ca­na, ven­den­do, ou in­ter­rom­pen­do suas ati­vi­da­des - au­men­ta o ris­co de os com­bus­tí­veis pe­sa­rem na in­fla­ção.

Há efei­tos da al­ta do dó­lar que o go­ver­no aguar­da­va an­sio­sa­men­te. A con­ta tu­ris­mo, por exem­plo, que es­ta­va abrin­do um dé­fi­cit ca­da vez maior, ten­de a re­du­zir o ver­me­lho. Me­nos bra­si­lei­ros via­ja­rão, e os que via­ja­rem com­pra­rão me­nos no ex­te­rior. Ha­ve­rá me­nos in­cen­ti­vo à en­tra­da de pro­du­tos im­por­ta­dos pa­ra con­cor­rer com os pro­du­zi­dos aqui, e os ex­por­ta­do­res te­rão uma re­cei­ta maior nas ven­das ao ex­te­rior.

No mun­do glo­ba­li­za­do, no en­tan­to, mes­mo os pro­du­tos que a in­dús­tria fa­bri­ca no Bra­sil são im­pac­ta­dos ne­ga­ti­va­men­te quan­do o dó­lar so­be. As ma­té­rias-pri­mas e os in­su­mos su­bi­rão. E não ape­nas os im­por­ta­dos. Há mer­ca­do­rias que são co­ta­das pe­lo pre­ço ex­ter­no, e, por is­so, mes­mo sen­do fei­tas aqui pa­ra se­rem for­ne­ci­das pa­ra as em­pre­sas da­qui, te­rão ele­va­ção de pre­ços.

As ex­por­ta­do­ras lí­qui­das, co­mo a Va­le, te­rão van­ta­gens com a al­ta do dó­lar, mas em ge­ral as gran­des em­pre­sas têm um ba­lan­ço de per­das e ga­nhos mais com­ple­xo do que pa­re­ce à pri­mei­ra vis­ta.

O dó­lar su­biu 9% até ago­ra, no ano. A al­ta não é tão ex­pres­si­va, mas on­tem a moe­da ame­ri­ca­na ce­deu no res­to do mun­do, com um pe­que­no alí­vio na aver­são ao ris­co, mas aqui con­ti­nuou em al­ta. O go­ver­no bra­si­lei­ro fe­chou vá­rias por­tas de en­tra­da da moe­da ame­ri­ca­na, quan­do a co­ta­ção es­ta­va mui­to bai­xa, e ago­ra o equi­lí­brio da co­ta­ção de­pen­de mais di­re­ta­men­te da atua­ção do Ban­co Cen­tral. Além dis­so, on­tem o pre­si­den­te do Ban­co Cen­tral, Ale­xan­dre Tom­bi­ni, dis­se que a al­ta do dó­lar não preo­cu­pa. Is­so re­for­çou a apos­ta num pa­ta­mar mais al­to da moe­da ame­ri­ca­na.

A ins­ta­bi­li­da­de de­ve con­ti­nuar por­que o mun­do es­tá pas­san­do por um mo­men­to de ele­va­ção da in­cer­te­za. Os ris­cos da pos­si­bi­li­da­de de a Gré­cia sair do eu­ro não es­tão com­ple­ta­men­te con­ta­bi­li­za­dos. Con­si­de­ra­va-se que após o acor­do de re­ne­go­cia­ção da dí­vi­da com os ban­cos o pior já ti­ves­se pas­sa­do. Há ins­ta­bi­li­da­de em ou­tros paí­ses.

Por en­quan­to, o que as em­pre­sas di­zem é que o ní­vel da moe­da ame­ri­ca­na não é preo­cu­pan­te, mas, aci­ma dis­so, ou por lon­go pe­río­do, tu­do co­me­ça­rá a ser re­vis­to: pre­ços e pro­je­tos de in­ves­ti­men­tos. Foi is­so que dis­se on­tem a Am­bev, por exem­plo. As em­pre­sas se­rão afe­ta­das di­fe­ren­te­men­te pe­la al­ta do dó­lar de­pen­den­do da área da eco­no­mia em que es­te­jam atuan­do. Mas não há se­tor que não se­ja afe­ta­do por um mo­vi­men­to de des­va­lo­ri­za­ção do real.

Che­gou o mo­men­to que o go­ver­no bus­cou du­ran­te tan­to tem­po: um real mais des­va­lo­ri­za­do. Is­so sig­ni­fi­ca­rá, no en­tan­to, uma pres­são maior de pre­ços, uma di­fi­cul­da­de ex­tra de man­ter a ga­so­li­na no mes­mo pa­ta­mar, e um en­ca­re­ci­men­to das dí­vi­das das em­pre­sas.

A ferida - ELIANE CANTANHÊDE


FOLHA DE SP - 22/05


BRASÍLIA - O depoimento de Xuxa ao "Fantástico" é uma das peças mais contundentes da TV brasileira, porque ela é quem é e cutucou profundas feridas para tratar de um problema gravíssimo e bem mais comum do que se pensa: o abuso sexual de crianças e adolescentes. E onde deveriam estar mais protegidas: em casa e na escola.
"Eu tinha vergonha, me calava, me sentia mal, me sentia suja, me sentia errada", disse Xuxa, ao relatar que sofreu abusos do melhor amigo do pai, do homem que casaria com a sua avó e de um professor. Eles tinham a aura da autoridade, o acesso à casa e a confiança da família. Aproveitaram-se disso e da vulnerabilidade da menina Xuxa. Como enfrentá-los? Como desmascará-los?
Quem conviveu com pessoas que passaram por isso, em menor ou maior grau, sabe a explosão emocional que significa expor para uma irmã, uma amiga, uma psicóloga -imagine para milhões de pessoas- uma ferida que jamais cicatriza. E que, curiosa e invariavelmente, vem acompanhada desse sentimento desolador: o de culpa. Por que eu? Por que deixei? Por que não contei?
Porque era uma criança e, ainda por cima linda, à mercê de adultos aparentemente respeitáveis (um professor?!). E foi punida múltiplas vezes por esse "erro": pela violência, pelo pânico, pela vergonha, pela culpa e pelas consequências vida afora.
Xuxa talvez tenha aberto o coração em público para elaborar a própria dor e tentar entender, como disse, por que jamais teve um relacionamento estável e não conseguiu, ou não quis, se casar.
Mas talvez tenha feito também para que milhares, sabe-se lá se milhões, de meninas e meninos, de mulheres e homens, possam se livrar de um confuso sentimento de culpa embolado com a dolorosa sensação de solidão, de abandono.
Toda minha solidariedade, Xuxa, e meu respeito pelo seu ato de profunda coragem. O Brasil agradece.

UM RETARDADO NA APAE


Temor de políticos ameaça CPI - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 22/05

Não demorou muito para se dissipar a expectativa positiva de que a CPI do Cachoeira poderia resultar em algum avanço no combate à corrupção. Às críticas à noticiada intenção do governo e partidos alinhados de limitar as investigações sobre a teia montada pelo contraventor goiano nos três poderes, o relator da comissão, deputado Odair Cunha (PTMG), reagiu com veemência. Em artigo publicado no GLOBO, garantiu que as investigações seriam as necessárias para desvendar as relações (de Cachoeira) “com esferas de governo e seus mandatários, parlamentares, corporações empresariais e funcionários de tais corporações”.

A promessa, porém, não será cumprida na primeira fase da CPI, definida na semana passada. As atenções estarão voltadas apenas à atuação do esquema na Região Centro-Oeste. Cachoeira está na relação dos depoentes, mas dela não consta um elo que parece chave no esquema, Fernando Cavendish, dono da Construtora Delta, ligada à máfia de Cachoeira.

Há indícios de que Congresso e Executivo temem um depoimento franco de Cavendish. Afinal, alguém que diz, em conversa gravada, que põe milhões de reais nas mãos de político para conseguir o que quer deve ter sido protagonista de muitas cenas picantes nos bastidores das finanças da baixa política. Também por ter sido a Delta a maior empreiteira do PAC, o empresário frequentou com assiduidade gabinetes brasilienses. Talvez pelo bom relacionamento no poder, o empreiteiro tenha recebido o tratamento VIP de ter sua construtora absorvida pela holding J&S, beneficiária de crédito subsidiado do BNDES, acionista da principal empresa do grupo, o frigorífico JBS. A investigação sobre Cavendish se justifica pela conexão entre ele e Cachoeira, por meio de remessas milionárias para empresas laranjas do contraventor. Nenhum governador consta dos depoimentos desta fase da CPI, nem Marconi Perillo (PSDB), de Goiás, localizado no Centro-Oeste. Já Sérgio Cabral continua um assunto fora de pauta, pois, até agora, não surgiu qualquer evidência de operações suspeitas da dupla Cachoeira/empreiteiro com o governo fluminense. Por enquanto, o que há são registros da amizade do governador com Cavendish. Se novos fatos surgirem, que se convoque Cabral, assim como precisam ser chamados Perillo e Agnelo Queiroz (PT-DF).

A preocupação com o que pode revelar Fernando Cavendish parece ter arrefecido até mesmo os radicais do PT, interessados em manipular a CPI para constranger a imprensa profissional e dar um troco em “Veja”, pelas reportagens sobre corrupção com o envolvimento de militantes graduados da legenda. E como também o PMDB não aceita participar desta aventura, ao lado de Collor, outro interessado, por razões conhecidas, a investir contra a imprensa, a manobra parece se frustrar. Assim como a tentativa de criar embaraços ao procurador-geral Roberto Gurgel, por ser ele quem encaminhará a denúncia contra os mensaleiros no STF.

O fracasso de tentativas de uso espúrio da CPI merece comemoração. Mas, infelizmente, ela pode frustrar quem a considerava chance rara de se mapear a infiltração de um braço do crime organizado no Estado. Os temores parecem tantos que há o risco de um acordão para tratar o escândalo como um caso regional. Será lamentável.

Nelson Rodrigues inventou o óbvio - ARNALDO JABOR


O Estado de S.Paulo - 22/05


Os 100 anos de Nelson Rodrigues estão sendo celebrados por muita gente que o criticou em vida e hoje o glorifica. Tanto as depreciações quanto alguns louvores são descabidos - ele não era nem pornográfico nem um escritor aspirando à condição de estátua. Nelson adorava elogios, mas odiava os "medalhões".

NR é importante como inventor de linguagem. A importância de sua obra está onde ela parece 'não ter' importância. Onde ela é menos "profunda" - ali é que se encontra uma qualidade rara. Era fácil (e justo) considerar 'gênios' homens como Guimarães Rosa ou Graciliano, mas Nelson nunca coube nos pressupostos canônicos. Sua obra é um armazém, um botequim geral, uma quitanda de Brasil.

Formado nas delegacias sórdidas, vendo cadáveres de negros 'plásticos e ornamentais', metido no cotidiano marrom do jornal do pai, Nelson flagrou verdades imortais que estavam ali, no meio da rua, na nossa cara, e que ninguém via.

Uma vez ele me disse: "Se Deus perguntar para mim se eu fiz alguma coisa que preste na vida, eu responderei a Deus: 'Sim, Senhor, eu inventei o óbvio!'"

Filho do jornalismo policial, Nelson desconstruía o pedantismo tão comum entre nossos escritores.

Uma vez ele me disse ao telefone que o "problema da literatura nacional é que nenhum escritor sabe bater um escanteio": ensolarada imagem esportiva para definir literatos folgados. Até hoje, muita gente não entendeu que sua grandeza está justamente na observação dos detritos do cotidiano. A faxina que Nelson fez no teatro e depois na prosa é semelhante à que João Cabral fez na poesia. Nelson baniu as metáforas a pontapés "como ratazanas grávidas" e criou antimetáforas feitas de banalidades condensadas. "A poesia está nos fatos", como escreveu Oswald no Pau Brasil. Pois é, Nelson também odiava metáforas gosmentas. Suas imagens não aspiravam ao "sublime". Exemplos: "O torcedor rubro-negro sangra como um César apunhalado", "a mulher dava gargalhadas de bruxa de disco infantil", "seu ódio era tanto que ele dava arrancos de cachorro atropelado", "a bola seguia Didi com a fidelidade de uma cadelinha ao seu dono", "o juiz correu como um cavalinho de carrossel", "o sujeito vive roendo a própria solidão como uma rapadura", "somos uns Narcisos às avessas que cuspimos na própria imagem", "vivemos amarrados no pé da mesa bebendo água numa cuia de queijo Palmira", "hoje o brasileiro é inibido até para chupar um Chica Bon".

Visto por ele, tudo boiava no mistério: os ovos coloridos de botequim, as falas dos 'barnabés', as moscas de velório no nariz do morto. Nelson fazia a vida brasileira ficar universal, não por grandes gestos, mas pelo minimalismo suburbano que ele praticava. E o sublime aparecia na empada, na sardinha frita ou no torcedor desdentado.

Sua obra é um desfile de tipinhos anônimos, insignificantes - nisso aparecia sua grandeza desprezada. São prostitutas bondosas, cafajestes poéticos, canalhas reluzentes, vagabundos épicos, sobrenaturais de almeida, adúlteras heroicas e veados enforcados. Ele me dizia: "O que estraga a arte é a unidade..."

Ele dava lições de arte e literatura: "Enquanto o Fluminense foi perfeito, não fez gol nenhum. A partir do momento em que deixou de ser tão Flaubert, os gols começaram a jorrar aos borbotões, pois a obra-prima no futebol e na arte tem de ser imperfeita." Existe coisa mais 'contemporânea'?

Gilberto Freyre sacou sua "superficialidade profunda", assim como André Maurois entendeu que a genialidade de Proust era "a épica das irrelevâncias..." E isto é muito saudável, num país onde ninguém escreve um bilhete sem buscar a eternidade.

Nunca deixava a literatura prevalecer sobre a magia dos fatos. Sempre um detalhe inesperado caricaturava os dramas. No meio da tragédia, vinha a gíria; no suicídio - o guaraná com formicida; no assassinato - a navalhada no botequim; na viuvez - o egoísmo; nos enterros - a piada.

Uma vez, me contou que viu uma família esperando num hospital a notícia sobre um filho atropelado. Morreu ou não? Afligiam-se todos, vistos pelo Nelson através do vidro do corredor. Viu o médico chegar e dizer que o menino tinha morrido. "Eu vi pelo vidro. Não ouvi um som. A família começou a se contorcer em desespero. Pai, mãe, tios gritavam e, através do vidro, pareciam dançar. Pareciam dançar um mambo. Daí, eu concluí a verdade brutal: a grande dor dança mambo!..."

Nelson recusava teorias. Contou-me um episódio hilário: uma vez o Oduvaldo Viana Filho e Ruy Guerra, grandes artistas, chamaram-no para escrever um roteiro de filme sobre uma mulher adúltera. Nelson foi trabalhar com eles, mas desistiu e me disse: "Parei, porque eles queriam que a adúltera fosse para a cama do amante e traísse o marido movida apenas pelas 'relações de produção'...."

Ele intuiu na época que a vulgata do marxismo era o ópio dos intelectuais. Foi chamado de fascista porque puxava o saco do Médici, para ver se soltava o filho preso havia anos. Eu mesmo sofri por causa dele; em 1973 ousei filmar Toda Nudez Será Castigada e dei uma entrevista na Veja em que disse que "fascismo é amplo: existe fascista de direita e de esquerda também". Pra quê? Mandaram um manifesto à revista onde me esculhambavam indiretamente, dizendo que o sucesso imenso que o filme fazia "não era a missão do cinema novo". Foi das grandes dores que senti, pois até amigos assinaram o maldito texto, que só não foi publicado porque, um dia antes, os generais tiraram o filme de cartaz, com soldados de metralhadora, levando as cópias dos cinemas. Aí, meus amigos comunas tiraram o texto, "para não dar razão ao inimigo principal", que era a ditadura, a censura. (Eu e Nelson éramos inimigos secundários, para usar o termo de Mao Tsé-tung). O filme voltou ao cartaz porque ganhou o Urso de Prata no Festival de Berlim e os generais ficaram com medo da repercussão e liberaram a exibição.

Se fosse vivo, ao ver os escândalos atuais, repetiria a frase eterna: "Consciência social de brasileiro é medo da polícia."

FIQUE COM DEUS - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 22/05

"O papa é um espetáculo!", dizia o padre-cantor Juarez de Castro, "assessor eclesiástico" do musical "Enlace - A Loja do Ourives", baseado em monólogo do papa João Paulo 2º.

A estreia, no sábado, reuniu dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, e dom Raymundo Damasceno, presidente da CNBB e arcebispo de Aparecida. Pré-candidatos à prefeitura, José Serra (PSDB) e Gabriel Chalita (PMDB) chegaram atrasados ao teatro Tuca. Antes prestigiaram uma festa do pastor Samuel Ferreira, da Assembleia de Deus.

Os políticos se misturavam a artistas como Daniela Mercury e Gisele Tigre. A drag queen Salete Campari, com um visual à la Marilyn Monroe, mandava beijinhos e posava a poucos metros das lideranças católicas.

À coluna dom Damasceno se disse preocupado com "aventureiros que aparecem como candidatos, [...] que nunca exerceram cargo".

Antes de a peça começar, o deputado Walter Feldman (PSDB) cochichava no ouvido de dom Odilo e mostrava fotos no celular.

No coquetel, uma garçonete apressava a outra. "Vai lá, serve mais vinho pro senador!" Seu alvo, na verdade, era o copo do ex-governador Serra. Ainda cheio.

Uma garota da plateia chamava Chalita e padre Juarez de "catolicious": delícias católicas.

CAMINHO DE VOLTA
Depois de julgar hoje o caso do Cabo Anselmo, delator na ditadura que agora se diz vítima dela, a Comissão de Anistia analisará outro caso polêmico ligado aos militares: 80 soldados que lutaram contra a guerrilha do Araguaia na década de 70 pedem indenização. Alegam que foram submetidos a "situações humilhantes" em combate por parte das próprias Forças Armadas.

CONTRA
Os ex-soldados sustentam que foram até o Araguaia contra a sua vontade. E então obrigados a perseguir e a matar guerrilheiros.

LÁ FORA
E os advogados de Cabo Anselmo dizem que vão recorrer à Corte Interamericana de Direitos Humanos, ligada à OEA (Organização dos Estados Americanos), caso seu pedido de anistia seja negado.

EM PAUTA
Com menos alarde, a Comissão de Anistia julgará hoje também o caso de Anivaldo Padilha. Evangélico, ele foi delatado por pastores da igreja que frequentava. Foi preso, torturado e partiu para o exílio. Sua mulher estava grávida de Alexandre Padilha, hoje ministro da Saúde -que só conheceu o pai quando tinha oito anos.

EM CASA
O quadro "Antropofagia", de Tarsila do Amaral, está de volta a SP e deve ser exposto em breve na Estação Pinacoteca, sede da Fundação Nemirovsky, dona da obra. Ele tinha sido alugado pelo CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) do Rio para grande exposição sobre a artista, já encerrada.

EM CASA 2
"Antropofagia" foi alugado pelo CCBB por R$ 30 mil.

SEM LOJA
O estilista Ronaldo Fraga desistiu de procurar um ponto para uma nova loja em São Paulo até o fim do ano. Até lá, suas peças estarão em multimarcas. Em março, o estabelecimento que era localizado na Vila Madalena fechou as portas porque o imóvel foi vendido para a construção de um prédio.

CARONA
A ministra Ana de Hollanda, da Cultura, viajou de São Paulo a Brasília na sexta com Dilma Rousseff. Ela tenta conseguir apoio da presidente para a aprovação do ProCultura, que substituirá a Lei Rouanet. O MinC teme que o Ministério da Fazenda vete a proposta.

CORDA
É que o projeto aumenta o percentual de imposto que empresas poderão reverter para a Cultura. Nos cálculos do próprio MinC, o impacto sobre a arrecadação será de R$ 1,5 bilhão por ano.

HERMANOS
O cineasta Pablo Giorgelli, de "Las Acaias", vencedor da Câmera de Ouro em Cannes, vem a SP para o 1º Festival de Cinema Argentino, em junho. Os atores Germán de Silva e Susú Pecoraro também participam do evento.

CAUBÓI, SEM GELO
O estilista Alexandre Herchcovitch entrará na passarela do Fashion Rio, na sexta, com uma camiseta onde se lê "Whisky Is Tonight" (uísque é hoje à noite). A peça faz parte de uma coleção de camisas que ele lança na véspera sobre a bebida. "Tenho notado que muitas pessoas que admiro têm consumido." Uma inspiração: Don Draper, o publicitário beberrão da série "Mad Men".

PARTITURAS
O pianista chinês Lang Lang ganhou jantar em sua homenagem na casa do empresário Fabio Brancatelli, no sábado. O cantor Jair Rodrigues também circulou por lá.

CURTO-CIRCUITO

A procuradora Luiza Eluf lança hoje o livro "Um Homem Livre e Outros Contos", na Casa das Rosas.

Jacqueline Terpins apresenta nova coleção hoje.

A Versace promove tarde de compras com parte da renda em prol da AMEM.

A FGV participa do fórum da OECD, em Paris.

com ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER, LÍGIA MESQUITA e OLÍVIA FLORÊNCIA