O GLOBO - 22/05
De maio de 2009 a fevereiro de 2012, o consumo de gasolina aumentou 76%. A alta do dólar coloca a empresa estatal numa situação cada vez mais estranha por não poder elevar o preço do produto que fornece às distribuidoras, sejam elas do seu próprio grupo ou concorrentes. O preço dos derivados tem a ver diretamente com o custo da matéria-prima e a cotação do dólar. Quando os dois sobem e a empresa não pode mexer no preço interno, o prejuízo aumenta.
Há muito tempo ela tem vendido internamente a um preço menor do que compra lá fora, mas pelo menos o dólar baixo a ajudava a reduzir o custo. Há o risco ainda de o petróleo subir até julho, pela proximidade da data do boicote da Europa ao produto do Irã. Se o dólar permanecer neste patamar, a matéria-prima subir e o consumo continuar crescendo como nos últimos tempos, a situação ficará complicada para a estatal.
Ela também é exportadora e ganha com as vendas ao mercado externo pela elevação tanto do dólar quanto do preço do petróleo, mas esse desequilíbrio no preço do seu principal produto, somado ao aumento do consumo, vem atingindo as contas da empresa.
Se o preço for corrigido, a inflação será impactada porque combustível tem um peso alto em todos os índices. A crise do álcool - com empresas deixando de moer cana, vendendo, ou interrompendo suas atividades - aumenta o risco de os combustíveis pesarem na inflação.
Há efeitos da alta do dólar que o governo aguardava ansiosamente. A conta turismo, por exemplo, que estava abrindo um déficit cada vez maior, tende a reduzir o vermelho. Menos brasileiros viajarão, e os que viajarem comprarão menos no exterior. Haverá menos incentivo à entrada de produtos importados para concorrer com os produzidos aqui, e os exportadores terão uma receita maior nas vendas ao exterior.
No mundo globalizado, no entanto, mesmo os produtos que a indústria fabrica no Brasil são impactados negativamente quando o dólar sobe. As matérias-primas e os insumos subirão. E não apenas os importados. Há mercadorias que são cotadas pelo preço externo, e, por isso, mesmo sendo feitas aqui para serem fornecidas para as empresas daqui, terão elevação de preços.
As exportadoras líquidas, como a Vale, terão vantagens com a alta do dólar, mas em geral as grandes empresas têm um balanço de perdas e ganhos mais complexo do que parece à primeira vista.
O dólar subiu 9% até agora, no ano. A alta não é tão expressiva, mas ontem a moeda americana cedeu no resto do mundo, com um pequeno alívio na aversão ao risco, mas aqui continuou em alta. O governo brasileiro fechou várias portas de entrada da moeda americana, quando a cotação estava muito baixa, e agora o equilíbrio da cotação depende mais diretamente da atuação do Banco Central. Além disso, ontem o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, disse que a alta do dólar não preocupa. Isso reforçou a aposta num patamar mais alto da moeda americana.
A instabilidade deve continuar porque o mundo está passando por um momento de elevação da incerteza. Os riscos da possibilidade de a Grécia sair do euro não estão completamente contabilizados. Considerava-se que após o acordo de renegociação da dívida com os bancos o pior já tivesse passado. Há instabilidade em outros países.
Por enquanto, o que as empresas dizem é que o nível da moeda americana não é preocupante, mas, acima disso, ou por longo período, tudo começará a ser revisto: preços e projetos de investimentos. Foi isso que disse ontem a Ambev, por exemplo. As empresas serão afetadas diferentemente pela alta do dólar dependendo da área da economia em que estejam atuando. Mas não há setor que não seja afetado por um movimento de desvalorização do real.
Chegou o momento que o governo buscou durante tanto tempo: um real mais desvalorizado. Isso significará, no entanto, uma pressão maior de preços, uma dificuldade extra de manter a gasolina no mesmo patamar, e um encarecimento das dívidas das empresas.
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