terça-feira, outubro 21, 2014

Heróis do mensalão tentam sobreviver ao petrolão - GUILHERME FIUZA

REVISTA ÉPOCA


Luiz Inácio da Silva está de saco cheio - nas palavras dele, naturalmente. Caprichando no timbre pré-histórico que o Brasil consagrou, Lula atacou mais uma vez o denuncismo da imprensa burguesa, que fica publicando coisas desagradáveis sobre a Petrobras. O ex-presidente em exercício disse que não aguenta mais a mesma coisa em toda eleição. De fato, se não fosse essa mídia golpista a serviço da elite branca, os companheiros poderiam continuar a roubar a maior empresa brasileira de forma silenciosa e discreta, sem esse falatório todo que só atrapalha os bons negócios privados feitos dentro da estatal (abaixo da camada pré-sal).

O mais estranho de tudo é que, pelo cenário da corrida presidencial, parece que o eleitorado começou a acreditar nas manchetes da imprensa golpista - um absurdo, pois Lula já cansou de avisar aos brasileiros para não acreditar no que sai na mídia.

Eles nunca acreditaram, como se viu na reeleição dele em pleno mensalão e na eleição da sucessora, em pleno escândalo Erenice Guerra. Para corrigir essa perigosa distorção, segue um retrato do segundo turno da eleição mais surpreendente da história em manchetes elaboradas especialmente para não transbordar o saco de Luiz Inácio:

O presidente dos Correios que distribui panfletos de Dilma é ligado ao tesoureiro do PT que está no petrolão. Vote 13 pela coerência.

Dilma calou os críticos. Mesmo com os preços de energia amordaçados, ela acaba de estourar o teto da meta de inflação. Pensam que é fácil?

O despachante de José Dirceu na Papuda, e governador do DF nas horas vagas, não foi nem ao segundo turno. Infelizmente, há unhas que nem Delúbio desencrava.

Fantasmas do passado assombram a elite vermelha (aterrorizada com a ideia de ter de trabalhar a partir de 2015).

A Bolsa subiu, o dólar caiu, as ações da Petrobras dispararam. Volta, Dilma!

Com a boa votação de Luciana Genro, o Brasil enfim discutirá a sério a reforma agrária, o imperialismo ianque e, quem sabe, até as Diretas Já.

Marcelo Freixo, o revolucionário do bem, já declarou seu voto para Dilma. O recado das ruas em junho de 2013, portanto, foi o seguinte: deixa pra lá.

Lá vem a direita gritar que mais um petista (ligado ao governador eleito de MG, Fernando Pimentel) foi pego com uma montanha de dinheiro. Pura inveja da elite vermelha. Eduardo Jorge apoia Aécio e pira o GPS dos bonzinhos. Fica a dica: a esquerda éado relógio, e a direita a da caneta.

Falando em pureza, Luciana Genro liberou seus fiéis para votar em Dilma. Pela margem de erro, os puros poderão escolher de Collor a Sarney.

Mantega diz que Armínio cortará programas sociais. É verdade. O Bolsa Ministro Ocioso, por exemplo, desaparecerá.

Delatores revelam: Vaccari, tesoureiro do PT, regia o petrolão. Delúbio está morrendo de ciúmes.

Armínio ao PT: "Comparações com FH precisam ser mais honestas". Pedir honestidade ao PT? É um fanfarrão, esse Armínio.

O Brasil aguarda ansiosamente o manifesto dos intelectuais de esquerda em defesa da Petrobras e dos heróis que fizeram dela um anexo do PT.

Dilma diz que o petrolão só apareceu porque ela investigou. As cabeças cortadas também só apareceram porque o Estado Islâmico filmou.

Dilma disse que acha "muito estranha" a história contada pelos delatores da Petrobras. Bota estranha nisso, presidenta.

Dilma denuncia: divulgação dos podres da Petrobras é golpe. Cadê o manifesto dos intelectuais petroprogressistas contra o novo golpe da elite branca?

E os sonháticos... Cada vez mais erráticos. Nenhuma surpresa. A coletiva de Marina pós-eleição parecia um almoço de domingo. Haja poesia.

Um lembrete: nenhum jornalista, cientista político ou tucano genérico apostou em Aécio. Diziam que ele não batia no PT e estava no tom errado.

Aécio esterilizará as nordestinas (essa manchete é para poupar trabalho à central de inteligência dos companheiros).

Dilma reclamou das delações na Petrobras em época de eleição. É mesmo um absurdo. Mas roubar a empresa está liberado em qualquer época.

Se você também não suporta mais ver o filho do Brasil de saco cheio em véspera de eleição, siga @GFiu-za_Oficial: a política brasileira em manchetes que não ardem nos olhos e não irritam a alma sensível dos companheiros (só um pouco).


Leite derramado - DORA KRAMER

O ESTADÃO - 21/10


Evidentemente não se pode atribuir à Justiça os defeitos nem se resolvem por meio de interferência legal os problemas decorrentes do uso de mistificação e da mentira nas campanhas eleitorais. Mas há parâmetros a serem observados a fim de se resguardar os limites da legalidade e, com eles, um grau razoável de civilidade entre os concorrentes.

Essa percepção parece ter levado o Tribunal Superior Eleitoral a adotar, desde a semana passada, uma atitude mais rigorosa nesta eleição. Suspendeu peças publicitárias dos candidatos Dilma Rousseff e Aécio Neves por serem consideradas de conteúdo meramente ofensivo e que fugiam do objetivo do horário eleitoral da apresentação das propostas e do perfil dos oponentes.

Decisão algo questionável, por inédita, uma vez que há exemplos de casos de propagandas agressivas em outras campanhas que não foram suspensas, e também por ensaiar um flerte com o controle de conteúdo - em português claro, censura.

Na realidade, o que o TSE fez foi tentar passar a tranca depois de a porta ter sido arrombada. Por falta de aviso não foi. Desde o início do ano passado o ministro do Supremo Tribunal Federal Marco Aurélio Mello, por três vezes presidente do TSE nos últimos 20 anos, vem alertando para os riscos de uma tendência mais "flexível" em relação à legislação existente entre os integrantes do tribunal.

Vários deles se manifestaram contrários à interferência da Justiça no processo político, defendendo que o debate eleitoral transcorresse de maneira mais livre. Era a teoria da atuação mínima. Materializada, por exemplo, na liberdade dada à realização campanha antecipada. Quase um ano e meio antes das eleições, não obstante a lei só permita o início a três meses da data do primeiro turno da votação.

Os horários reservados aos partidos para que apresentem seus programas - e exclusivamente para isso - foram todos usados para enaltecer as figuras daqueles que viriam a ser oficializados candidatos nas convenções de junho último. Isso sem serem importunados pelo Judiciário.

No ano passado o ministro Marco Aurélio chamava atenção para o fato de que esse tipo de distanciamento por parte da Justiça abriria espaço para que nas eleições deste ano prevalecesse "a lei do mais ousado, do mais esperto". Assim ocorreu no primeiro turno com o PT em relação à candidata Marina Silva. Já no segundo, com o PSDB, o ambiente foi de "bateu levou".

Na opinião de Marco Aurélio, o TSE acordou tarde para o problema. "Pelo visto arrependeu-se, mas o fez em cima da hora, o que não permite a atuação da Justiça ser tão eficaz como poderia", diz ele, acrescentando que o limite às transgressões deveria ter sido imposto antes.

"A eleição é um período que se presta a paixões e se os candidatos percebem que a Justiça não age, a tendência é a de abusarem. Por isso consignei à época que deixei o TSE que o momento não seria o mais adequado para se aplicar flexibilidade com as normas jurídicas. Afinal, não vivemos na Suíça."

O ministro não concorda que o TSE esteja praticando censura ao vetar conteúdo de programas, pois na opinião dele a prática de "enxovalhar o perfil do adversário" conflita com a legislação e, portanto, sua proibição tem legitimidade. "O espaço reservado à discussão de ideias não abre campo para a desqualificação pessoal, muito menos de caráter calunioso."

Marco Aurélio envereda por um terreno tão delicado quanto polêmico ao aventar outra hipótese para o aumento da temperatura entre os candidatos à Presidência da República: "A perda de parâmetros em passado recente no Supremo Tribunal Federal". Refere-se aos debates acalorados comandados pelo ministro Joaquim Barbosa durante o julgamento do processo do mensalão.

"Os termos das discussões na Corte não contribuíram para dar um bom exemplo aos demais cidadãos".

A hora da onça beber água - ARNALDO JABOR

O ESTADÃO - 21/10


Dilma Rousseff: seu duro passado de militância e luta lhe deixou um viés de rancor e vingança, justificáveis. Ela foi uma típica "tarefeira" da VAR-Palmares e hoje, como tarefeira do PT, ela quer realizar o sonho de sua juventude. Por isso, quer estatizar o que puder na economia, restos de sua formação... (eu ia dizer "leninista", mas é "brizolista").

Seus olhos fuzilam certezas sobre como converter (ou subverter) a pátria amada. Petistas e brizolistas acham que democracia é "papo para enrolar as massas", como já declarou um professor emérito da USP; ela idealiza o antigo "proletariado" e despreza a classe média "fascista", como acha outra emérita professora.

Ela desconfia dos capitalistas e empresários, ela quer se manter no poder e virar o PT num PRI mexicano; ela finge ignorar a queda do muro de Berlim, o fim da guerra fria, ela ama o Lula, seu operário mágico que encarnou o populismo "revolucionário".

Conheci muitas "dilmas" na minha juventude. As "dilmas" eram voluntariosas, com uma coragem irresponsável diante da muralha da ditadura. Professavam uma liberdade mais grave do que os hippies da época; era uma liberdade dolorosa, perigosa, sacrificial, suicida, sem prazer, liberdade e luta. Até respeitável.

Mas, para as "dilmas" e "dirceus" do passado, a democracia era uma instituição "burguesa". Ela se considerava e se acha ainda "membro" (ou "membra"?) de uma minoria que está "por dentro" da verdade, da chamada "linha justa" que planejava um outro tipo de "liberdade" (Lenin: "É verdade que a liberdade é preciosa; tão preciosa que precisa ser racionada cuidadosamente" ).

Ela se julgava e se julga superior - como outros e outras que conheci (inclusive eu mesmo - oh, delícia de ser melhor que todos; oh, que dor eu senti ao perder essa certeza...). Nós éramos os fiéis de uma "fé cientifica", uma espécie de religião da razão que salvaria o mundo pelo puro desejo político - éramos o "sal da terra", os "sujeitos da história". Toda a luta progressista de hoje se trava entre a esquerda que amadureceu e ficou socialdemocrata e a esquerda que continua na ilusão de 63. A velha esquerda brasileira existe como nostalgia de uma esquerda que desapareceu.

Dilma foi executiva da comissão de frente que organizou a aliança de Lula com a liderança sindicalista pelega e com a direita mais vergonhosa do País, liderada por Sarney et caterva. Como era "trabalhadeira", Lula se impressionava com ela (ele que odeia o batente) e transformou-a em um "poste" que se revelou persistente no erro, com a típica burrice dos teimosos.

E aí ela começou a governar com um medidas e táticas pretensamente "socialistas" em um país capitalista. Dá em bolivarianismo, esse terror contra o povo da Venezuela.

A "claque" sindicalista que subiu ao poder nunca desistiu de seus planos; suas mentes são programadas para repetir as mesmas táticas. A esquerda velha continua fixada na ideia de "unidade", de "centro", de Estado-pai, ignorando a intrincada sociedade com bilhões de desejos e contradições.

Muitos riquinhos e mauricinhos hoje dizem que votam na Dilma porque ela seria "contra a pobreza". Não sabem de nada, tinham 10 anos quando FHC fez o Plano Real contra a vontade do PT e seus aliados. Hoje, esses mauricinhos se dão ao luxo de se sentirem de "esquerda", antes de irem para a balada.

São absolutamente ignorantes sobre política e acham o PT um partido de "esquerda", quando é claramente de "direita" ("É a economia, estúpidos!" - James Carville, assessor do Clinton contra Bush).

O povão do Bolsa Família não pode entender isso, mas esses babacas que estudaram deviam ser menos primitivos. Os petistas dão graças a Deus que muitos de seus eleitores não sabem ler. Por exemplo, eles não têm ideia do que seja o escândalo da Petrobrás e do aparelhamento do Estado cleptomaníaco que foi montado. Não entenderam nem o mensalão, pois, como disse o Lula, "povo pensa que dossiê é doce de batata". Votarão no escuro de suas vidas. Como se explica isso?

Resposta: o País tem um movimento "regressista" vocacional. O verdadeiro Brasil é boçal, salvacionista, para gáudio dos seus exploradores. E o PT aproveita.

A crescente complexidade da situação mundial na economia e na política os faz desejar um simplismo voluntarista que rima bem com o fundamentalismo islâmico ou com a boçalidade totalitária dos fascistas: "complexidade é frescura, o negócio é radicalizar e unificar, controlar, furar a barreira do complexo com o milagre simplista" (Lenin: "Qualquer cozinheiro devia ser capaz de governar um país").

O Plano Real e uma série de medidas de modernização que abriram caminho para a economia mundial favorecer-nos são tratados como se fossem uma política do governo atual, que só fez aumentar despesas públicas e inventar delírios desenvolvimentistas virtuais. Não houve um lampejo de reconhecimento pelo país que FHC deixou pronto para decolar e que foi desfeito (Stalin: "A gratidão é um sentimento de cachorros...").

Nesta eleição, não se trata apenas de substituir um nome por outro. Não. O grave é que tramam uma mudança radical na estrutura do governo, uma mutação dentro do Estado democrático. Querem fazer um capitalismo de Estado, melhor dizendo, um "patrimonialismo de Estado". Para isso, topam tudo: calúnias, números mentirosos, alianças com a direita mais maléfica.

Não esqueçamos que o PT não assinou a Constituição de 88, combateu a Lei de Responsabilidade Fiscal, foi contra o Plano Real para depois roubá-lo como se fosse obra do Lula. Alardeiam coisas novas que "vão" fazer, se eleitos de novo mas, pergunta-se: por que não fizeram nada durante doze anos?

É isso aí, bichos... Se Dilma for eleita, teremos o início de um bolivarianismo "cordial".

Voto a voto - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 21/10
A virada na eleição presidencial constatada pelo Datafolha na pesquisa divulgada ontem ainda não é definitiva a favor da presidente Dilma, mas sinaliza uma tendência que pode ganhar velocidade até o próximo domingo, dia da eleição. Mesmo essa tendência, porém, precisa ser ainda confirmada, e as próximas pesquisas, quase diárias e de institutos diferentes, marcarão a evolução do eleitorado nestes últimos dias de campanha.

Ganha relevância maior, neste caso, o debate a ser promovido pela Rede Globo na sexta- feira, último dia da campanha eleitoral. Além desse detalhe de calendário, o debate terá a novidade em relação aos demais de colocar eleitores indecisos para fazer perguntas aos candidatos, o que pode ser fundamental na hora de definir o voto. Pesquisa recente do Datafolha mostra que parte do eleitorado decidiu no primeiro turno entre o sábado e o domingo da eleição, o que teria provocado os erros dos institutos de pesquisa.

O empate técnico ainda se mantém, mas o fato é que houve uma inversão de posições na liderança que demonstra uma alteração de quadro importante. Dilma Rousseff ganhou 3 pontos percentuais nos votos válidos, que, tirados do concorrente direto, podem significar um ponto de inflexão.

Mesmo que já não seja mais aquela militância aguerrida de outros tempos, a do PT tem mais história que a do PSDB, cujos eleitores serão testados nestes últimos dias de campanha. Há uma tese de que parte dos eleitores tucanos não revela seu voto nem nas pesquisas, para não sofrer pressão, e esse "voto oculto" poderia fazer a diferença na hora decisiva.

Nunca houve tanta chance de derrotar o PT quanto agora, mas a resiliência da candidatura de Dilma Rousseff, que não é a mais carismática das candidatas nem a mais amada entre seus próprios pares, mostra que ainda existe um forte sentimento petista no eleitorado, que mistura os ideológicos com os beneficiários dos programas sociais temerosos de perder as vantagens, e uma classe média que não quer arriscar o que já ganhou, os dois últimos grupos influenciados pela propaganda negativa desencadeada pela campanha petista.

Caberá à campanha de Aécio Neves tentar convencer os eleitores de que essa propaganda de boatos e ameaças do PT não corresponde à realidade, além de não deixar seus eleitores desanimarem na reta final. A propaganda petista teve sucesso em dois pontos cruciais até o momento: conseguiu reduzir a rejeição à presidente Dilma Rousseff, melhorando a aceitação de seu governo, e aumentar a rejeição a seu adversário, embora isso tenha sido alcançado através da mistificação e da boataria.

A disputa, neste momento, está sendo travada em estados em que o eleitorado mostrou-se dividido no primeiro turno: Rio de Janeiro e Minas Gerais. A presidente conseguiu manter uma pequena diferença no Rio, crescendo nesta reta final o suficiente para não deixar que o candidato tucano a superasse; e, em Minas, Aécio Neves ainda não abriu uma diferença tal que compense derrotas em outros estados e a melhoria da presidente Dilma em regiões onde o tucano vence, como no Sul.

Ganha enorme importância mais uma vez São Paulo, onde o PSDB está abrindo grande vantagem. Por isso a campanha petista nos últimos dias voltou a atacar o PSDB pela crise da água, um tema que não vingou na campanha para governador, mas que, com o agravamento da situação, pode tirar votos preciosos do tucano Aécio Neves.

Sai de baixo! - ELIANE CANTANHÊDE

FOLHA DE SP - 21/10

BRASÍLIA - Aécio Neves saiu bem do primeiro turno, como a grande novidade, e abriu bem o segundo, ultrapassando numericamente Dilma no primeiro Datafolha. A reviravolta desta segunda (20) vem numa hora muito ruim para o tucano --a hora da consolidação dos votos.

Essa pesquisa: 1) mostra que os ataques de Dilma estão dando certo; 2) pode mover milhões de indecisos ou votos infiéis pelo país afora. A dias da eleição, o ímpeto é votar em quem está na frente.

A campanha de Aécio estima crescer e até ultrapassar Dilma em Estados chaves como Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, além de reduzir bastante a vantagem em Pernambuco, onde o tucano conquistou o apoio da viúva, dos filhos e dos aliados de Eduardo Campos.

É nesses quatro focos que Aécio pensa contrabalançar a desvantagem no Norte e Nordeste, redutos petistas, mas a estratégia parte da premissa de que os votos nos demais Estados estão cristalizados. Estão?

Dilma investe nos mesmos quatro --MG, RJ, PE e RS--, mas não descuida daqueles em que o PT é forte e nos quais ela já saiu vitoriosa no primeiro turno. Além de evitar a sangria em redutos que podem oscilar, como o Rio, quer se fortalecer (ou enfraquecer Aécio...) onde ela já é forte.

O interessante é que São Paulo, maior colégio eleitoral do país, entra de forma enviesada, mas é central na estratégia. É a maior vitrine da campanha de Aécio (que passou a se referir a Alckmin e a Serra nos debates), mas começou a ser também uma perigosa vidraça, por causa da crise da água. O confronto de Dilma não é mais com o governo FHC, é com o governo do PSDB em São Paulo, bem mais atual, convenhamos.

A campanha petista tem rumo, sabe aonde quer chegar e não tem o menor prurido de usar todo e qualquer meio para chegar lá. Está bem mais difícil dar certo com Aécio do que deu com Marina. Mas, com empate técnico, esses últimos dias serão de vida e morte. Sai de baixo!

Fora da cadeia - CELSO MING

O ESTADÃO - 21/10


A indústria brasileira não está apenas perdendo importância no PIB do País. Também vem perdendo participação nas cadeias globais de valor, se é que já esteve bem nesse filme. É o que apontou nesta segunda-feira em relatório a Organização Mundial do Comércio, a OMC, hoje presidida pelo diplomata brasileiro Roberto Azevedo.

O importante hoje não é propriamente produzir da matéria-prima ao produto acabado, como se pensava há alguns anos. A Tecnologia da Informação e as grandes inovações no transporte internacional criaram um novo ambiente e uma nova arrumação da produção, altamente fragmentados.
É mais importante produzir um chipezinho à toa ou até mesmo prestar um serviço que faça parte de um produto global do que seguir fabricando todos os componentes de uma mercadoria de consumo apenas local.

O Brasil está perdendo esse bonde porque, há mais de dez anos, o governo não entendeu esse processo. Aferrado a uma visão nacional-sindicalista da produção, aprofundou uma política industrial conservadora e protecionista que vai desembocando nas particularidades do consumo interno e não na integração global.

Na medida em que se baseia na proteção alfandegária e na criação de reservas de mercado, que abrangem quase sempre da matéria-prima ao produto final, o processo industrial brasileiro enfrenta custos altos demais, que tiram competitividade do setor. E, como não têm nem preço e quase sempre nem qualidade para competir internacionalmente, não há como produto intermediário e produto final se inserirem nas cadeias globais de valor.

A participação nessas cadeias exige uma estrutura de tarifas alfandegárias baixas, para que a indústria possa incorporar matérias-primas e produtos intermediários importados que depois serão reexportados. No entanto, como mostra o estudo da OMC, o País acabou sendo relegado à posição dos lanternas das cadeias globais de valor. (Veja a tabela do Confira)

A explicação para mais esse mau desempenho do Brasil não está no relatório da OMC, mas é conhecida. Agarrado a seus parceiros do Mercosul, principalmente a Argentina, o País continua se fechando comercialmente e, na medida em que se fecha, vai ficando fora do jogo.

Durante todos esses anos, o governo Dilma não percebeu a importância do novo processo. Não apenas desestimulou a costura de novos acordos comerciais que abrissem o mercado do setor produtivo a novos negócios, como tratou de defender o mercado interno para o produtor nacional, no pressuposto de que, dessa maneira, criaria condições para o aumento de escala para a indústria.

Aconteceu o contrário. Travado pelos custos, o setor não conseguiu competir lá fora e perdeu cada vez mais fatias de mercado para o produto importado, apesar do forte protecionismo interno.

Em geral, os dirigentes da indústria e alguns dos seus economistas continuam argumentando que esse alijamento do setor produtivo se deve à “persistência de um câmbio fora de lugar” e não à baixa competitividade, resultado causado por outros fatores, que nenhum câmbio possível será capaz de compensar.

Amplos desdobramentos do escândalo na Petrobras - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 21/10

A SEC, agência do mercado de ações e títulos nos EUA, abriu investigação sobre o caso, e ainda falta conhecer a lista de políticos do esquema de corrupção



A visão conspiratória de que o escândalo na Petrobras obedeceria a um enredo sob encomenda para desestabilizar a candidatura de Dilma Rousseff não sobrevive a um mínimo de bom senso. O andamento das investigações da Operação Lava-Jato, da PF — a que devassou os laços entre o doleiro Alberto Yousseff e o diretor da estatal Luís Roberto Costa —, precisaria se articular com o calendário de interrogatórios na Justiça e MP, alguns sob supervisão do ministro Teori Zavascki, do Supremo, para produzir um noticiário negativo ao governo do PT em setembro e outubro.

O noticiário existe, mas por outro simples motivo: porque o escândalo do superfaturamento de contratos de empreiteiras com a Petrobras, para financiar propinas e caixa dois de políticos e campanhas, se configura mesmo como de grandes proporções. Tanto que se prevê a divulgação de informações ainda mais danosas ao PT — e não apenas para ele — tão logo o segredo de justiça sobre depoimentos que envolvam acusados com foro privilegiado, políticos em cargos eletivos, seja suspenso. O pior ainda estaria por acontecer.

A amplitude do escândalo é tal que, segundo o jornal “Folha de S.Paulo”, Roberto testemunhou que até mesmo o então presidente do PSDB, Sérgio Guerra, teria recebido suborno do esquema, em 2009, para ajudar a inviabilizar uma CPI sobre a Petrobras. Morto há sete meses, Guerra não pode se explicar.

A história ficou ainda mais séria porque Dilma, no sábado, admitiu que houve “desvio de dinheiro público” na Petrobras, ao afirmar em entrevista que se desdobrará para “ressarcir o país”. É algo inédito, porque nunca foi admitido formalmente por alguém do PT qualquer malfeito de militantes. Até hoje, com mensaleiros em cumprimento de penas, não se reconhece sequer que houve o mensalão. Pode ser uma manobra eleitoreira para tentar reduzir danos à campanha de Dilma, causados pela pecha de corrupto que parece pespegar no PT, não bastasse ter sido ela presidente do conselho de administração da empresa. O resultado prático da afirmação da candidata, porém, é a confirmação definitiva do escândalo.

Desdobramentos começam a ocorrer. Nos Estados Unidos, a SEC (Securities and Exchange Commission), agência responsável pela fiscalização do mercado de ações e títulos, instaurou investigação sobre o caso. Afinal, recibos de ações da Petrobras são negociados em Nova York, e seus detentores terão sido lesados pela retirada fraudulenta de recursos do caixa da estatal. Entre as vítimas também estão os acionistas brasileiros, em que se destacam trabalhadores que investiram o FGTS nas ações da empresa. Missão para a CVM.

Para o ano que vem, primeiro do próximo governo, já está contratada a turbulência a ser causada pela divulgação da lista de políticos financiados por esse dinheiro sujo, a ser avaliada pelo Supremo e Ministério Público. O escândalo, então, ainda evoluirá bastante.

O perigo da volta da indexação salarial - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 21/10

A experiência prática mostra que uma alta de preços de até 5% é o limite tolerável pela sociedade. Por isso, é importante buscar a meta (4,5%)


A meta de inflação estabelecida pelo governo, há anos, é de 4,5%, com dois pontos percentuais de tolerância para menos ou mais. Não se trata de um percentual escolhido abstratamente. A experiência prática mostra que, quando a inflação ultrapassa os 5%, a sociedade passa a buscar em mecanismos de indexação uma forma de se defender da corrosão do valor da moeda. E, com isso, a inflação acaba se tornando mais resistente, com a alta de preços incorporando um componente de autoalimentação.

Assim, 4,5% seria o limite que a sociedade é capaz de suportar. Devido a problemas estruturais crônicos da economia, haveria também dificuldade de se perseguir uma inflação mais baixa. O centro da meta deveria ser, então, buscado obstinadamente pelo governo. No entanto, desde o início do mandato da presidente Dilma, o índice oficial que baliza a meta (o IPCA, que mede a variação média do custo de vida de famílias com renda de até 40 salários mínimos mensais), apurado pelo IBGE, tem permanecido no intervalo superior de tolerância de dois pontos percentuais, chegando, em vários momentos, a ultrapassar o teto de 6,5% em doze meses, como acontece agora.

Em uma conjuntura de baixos índices de desemprego, a pressão por mais indexação se torna crescente nas negociações salariais, restivando a antiga corrida entre preços e salários.

Com exceção do salário mínimo, todos os demais estão hoje desindexados por força de lei. São definidos por livre negociação, com reajustes coletivos com prazo mínimo de um ano. A regra foi definida pelo Plano Real exatamente para desarmar um dos mais resistentes mecanismos de indexação com forte efeito de autoalimentação da inflação.

No entanto, o fato de o IPCA ficar acima de 5% ser mais uma constante do que uma exceção fez com as negociações salariais muitas vezes caiam em impasse, cabendo à Justiça trabalhista arbitrar o valor do reajuste, que nunca é inferior à inflação.

A única maneira de desarmar novamente esse processo perigoso de reindexação é a política de metas de inflação recuperar credibilidade. Para tal, os agentes econômicos e a sociedade em geral precisam ser convencidos de que não só o Banco Central mas todo o governo esteja efetivamente empenhado em fazer com que a inflação convirja para a meta dentro de um horizonte realista e viável, em vez de se constituir apenas numa promessa.

O Banco Central até que elevou as taxas básicas de juros para 11% ao ano, que não é um patamar desprezível em termos de aperto monetário. No entanto, na outra ponta o governo não para de pisar no acelerador dos gastos públicos, executando uma política fiscal claramente expansionista. Nesse contexto, as autoridades não podem se queixar da volta da indexação. Era previsível.

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

PERDA SALARIAL NA PETROBRAS SOMA 35% NA ERA PT

Consulta aos Acordos Coletivos de Trabalho revela que os salários dos empregados da Petrobras perderam 35% do poder de compra desde que o PT chegou ao poder. Remuneração do “nível 201” da estatal era R$ 341,49 em 2002 e equivalia a 1,4 salário mínimo da época (R$ 240), mas o acordo que vigorou até 31 de agosto de 2014 garantia só R$ 669,21 aos empregados, bem menos que o atual mínimo de R$724.

NATA TAMBÉM PERDEU

Empregados do “nível 774” recebiam R$ 4.603,52 ou 19,1 mínimos em 2002. Hoje, recebem R$ 9.021,50, equivalente a 12,4 mínimos.

NEM A INFLAÇÃO

Durante os 12 anos de PT, a Petrobras não conseguiu repor sequer as perdas com inflação. O salário subiu 96%, com inflação de 108,8%.

OVO GARANTIDO

O único item com ganho real foi alimentação. Em 2002, auxílio-almoço na Petrobras era de 99% do mínimo. Hoje equivale a 106%.

TUDO DIMINUIU

Como a maioria dos benefícios e vantagens concedidos pela Petrobras equivalem a percentual do salário, tudo é comprometido.

BAIXARIAS TERÃO DIREITO DE RESPOSTA

O ministro Dias Toffoli, presidente do TSE, decidiu convocar plantão a partir da noite de sexta-feira (24), último dia de propaganda eleitoral no rádio e TV. Ele também abriu prazo de quatro horas, a partir da exibição dos últimos programas, para o caso de desrespeito à proibição de baixarias. Direitos de resposta podem ser concedidos para serem exibidos no sábado, véspera do segundo turno.

EFEITO DOMINÓ

Deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR) acha que “é só o começo” a denúncia envolvendo a ex-ministra Gleisi Hoffmann (PT) no Petrolão.

DELAÇÃO PREMIADA

O delator Paulo Roberto Costa revelou que o esquema corrupto destinou R$ 1 milhão para Gleisi e o marido Paulo Bernardo, em 2010.

QUEM?

Gleisi e o ministro Paulo Bernardo (Comunicações) afirmam, como os demais delatados, que nem conhecem Youssef ou Paulo Roberto.

PARTIDO MILIONÁRIO

Dinheiro para o PT não é problema, como diriam Alberto Youssef, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e o tesoureiro petista João Vaccari. O partido aumentou em R$ 40 milhões a previsão de gastos nos últimos 5 dias. No total, serão R$ 338 milhões. Isso no caixa 1.

CAMPANHA CARA

A campanha do PSDB a presidente não fica muito atrás, em termos de gastos previstos. O partido informou ao TSE a previsão de gastos de até R$ 290 milhões para tentar eleger Aécio Neves presidente.

OTIMISMO TUCANO

Os tucanos começaram a semana otimistas: ontem, no começo da noite, o candidato Aécio Neves liderava com 52 x 48% no tracking interno. Trata-se de medição diária de até 2 mil entrevistas, que apontaria a tendência do eleitorado.

DIFERENÇAS

A ministra da Economia do Japão renunciou após denúncia de uso abusivo de verbas para despesas pessoais. No Brasil, desde o governo Lula, cartões corporativos são usados para pagar tapioca, hotéis e restaurantes de luxo, salão de beleza, gasolina, reforma de casa...

TEORIA DA CONSPIRAÇÃO

A turma da teoria da conspiração está a mil. Surgiram boatos de internação hospitalar de Lula, para provocar comoção, e até mesmo da simulação de um atentado contra Dilma.

CISCANDO PARA DENTRO

Após receber Aécio, Alckmin e Beto Richa, o candidato ao governo do Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja (PSDB) terá apoio do senador eleito José Serra e do governador eleito Pedro Taques (PDT).

EU ACHO É POUCO

Apesar de liquidado em Pernambuco, sem eleger um único deputado federal, o PT tenta promover ato expressivo pró-Dilma no Recife, nesta terça-feira (21), com o apoio do bloco carnavalesco “Eu acho é pouco”.

SEGURAR A VOTAÇÃO

O vice Michel Temer espera levar Dilma esta semana a eventos de campanha no Norte, onde o PMDB disputa segundo turno com Helder Barbalho (PA), Confúcio Moura (RO) e Eduardo Braga (AM).

PENSANDO BEM…

…que atire a primeira pedra o candidato que não tiver parentes agarrados em boquinhas no serviço público.


PODER SEM PUDOR

IDENTIDADE REVELADA

O jornalista Carlos Zarur era presidente da Radiobrás e devedor da família e de si mesmo alguns momentos de descanso. Escolheu o paradisíaco litoral de Maceió, onde alugou uma casa que era um achado: mobiliada, bem conservada, redes na varanda e o mar de Ipioca beijando-lhe o jardim.

Quando abriram um armário, Zarur e a esposa caíram na gargalhada: lá encontraram, digamos assim, a identidade da dona da casa.

Eram toalhas bordadas com o nome de Denilma, a ex-primeira-dama de Alagoas que - reza a lenda - foram muito úteis para manter na linha o maridão Geraldo Bulhões.