ESTADÃO - 20/11
É o pior dos mundos para as empresas e os países produtores de petróleo. A produção do óleo bruto supera a demanda, os estoques se acumulam e os preços desabam. Foi o que mostraram os relatórios mensais da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) e da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e as análises semanais do American Petroleum Institute (API) e da Administração de Informação de Energia dos Estados Unidos.
De mais de US$ 100 o barril em meados do ano passado, os preços caíram para a faixa dos US$ 40/45. Na quarta-feira, a cotação para dezembro do tipo West Texas Intermediate (WTI), negociado na Nymex, era de US$ 40,75 o barril, e a do tipo Brent negociado para janeiro em Londres (ICE), de US$ 44,14.
Grandes produtores como Arábia Saudita e Rússia continuam operando a todo vapor, enquanto países que dependem dos preços do petróleo para não quebrar, como a Venezuela, ou para manter investimentos, como o México, buscam outras fontes de recursos.
Os estoques de 3 bilhões de barris oferecem aos mercados globais “um grau de conforto”, segundo a IEA. Projeções correntes indicam inverno ameno na Europa e nos Estados Unidos, grandes consumidores.
Isso significa demanda menor em 2016, estimada em 95,8 milhões de barris por dia (b/d), apenas 1,2 milhão de b/d acima da deste ano, de 94,6 milhões de b/d, que superou em 1,8 milhão de b/d a de 2014. Segundo a Opep, entre janeiro e setembro, a demanda cresceu 1,6 milhão de b/d e a oferta, 2,5 milhão de b/d. Os estoques nos países da OCDE aumentaram 205 milhões e nos demais produtores, 80 milhões de barris. A Administração de Informação de Energia estimou em 4,2 milhões de barris o crescimento semanal dos estoques norte-americanos, que chegaram a 487 milhões de barris.
Além da superoferta de petróleo, alguns grandes consumidores, como a China, reduziram o ritmo da atividade econômica e acumulam estoques. Também a Índia, cujo crescimento econômico é rápido, passou a estocar mais óleo.
No Brasil, a queda dos preços da commodity no mercado global não tem sido aproveitada pelos consumidores por causa da recessão, da desvalorização do real e da recomposição dos preços da Petrobrás, cujo represamento gerou enormes prejuízos para a estatal. Além disso, ampliou-se no País o uso do etanol, que só nos últimos dias perdia competitividade em relação à gasolina.
sexta-feira, novembro 20, 2015
Mais tempo descendo a ladeira - JOSÉ PAULO KUPFER
O GLOBO - 20/11
Depois do IBC-Br do terceiro trimestre, ampliou-se a convicção de que a contração da economia, ainda que em ritmo mais lento, vai atravessar todo o ano de 2016
Está prevista para daqui a dez dias a divulgação pelo IBGE da variação do PIB no terceiro trimestre do ano. Depois do resultado do Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) de setembro, anunciado pelo Banco Central nesta quarta-feira, restaram ainda menos dúvidas de que a economia continuou a mergulhar no terreno recessivo entre julho e setembro. Se, no começo do ano, predominava a expectativa de que o fundo do poço do atual ciclo de contração econômica fosse alcançado neste trimestre, essa possibilidade já foi adiada para 2017 ou, na melhor das hipóteses, para fins de 2016.
Consolidou-se a convicção de que a variação do PIB, em 2015, não será inferior a uma queda em torno de 3,5%, a mais acentuada desde o mergulho de 4,3% em 1990, ano do Plano Collor e do confisco das poupanças. Cresceu também a convicção de que 2016 não será, como alguns esperavam não faz tanto tempo, um ano de recuperação, e a recessão o atravessará ao longo dos trimestres. A julgar pelas projeções atuais, ampliou-se, isso sim, a possibilidade de que o nível de contração econômica, no próximo ano, se assemelhe ao previsto para este ano.
Há razões para acreditar que a deterioração dos indicadores econômicos ainda tem espaço para prosseguir e que a economia descerá a ladeira por mais tempo. Sob a ótica da demanda, a principal fonte de alimentação dessa perspectiva negativa tem agora origem no mercado de trabalho, que tende a consolidar uma combinação adversa de aumento da oferta de mão de obra com redução no volume de vagas existentes. Essa situação provoca contração da massa salarial pelo recuo de seus dois elementos — o nível de remuneração e o número de ocupados — e afeta, diretamente, o consumo das famílias, já pressionado pela inflação, que lhe subtrai poder de compra, e a inadimplência.
Não por coincidência, a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) de outubro, publicada ontem pelo IBGE, mostrou avanço na taxa de desemprego, que chegou a 7,9% da população ativa, quase o dobro da registrada há um ano. Também não por coincidência, o levantamento mostrou que a massa salarial real encolheu 1,5% sobre setembro e mais de 10% em relação a outubro do ano passado. Para complicar mais um pouco, a demanda perdeu o impulso do crédito, que também entrou em fase de retração.
Isso ocorreu pela dupla ação da redução, do lado dos tomadores, da procura por financiamento e da oferta, do lado dos emprestadores, pelo aumento do risco de calote. A anemia da demanda não só puxa o PIB diretamente para baixo como contribui para a retração do investimento, empurrando a economia ainda mais na linha descendente.
Não é difícil entender por que o investimento empreende uma longa marcha à ré. Fator crítico de impulsão da economia, o investimento se movimenta em função de pelo menos três variáveis: expectativas de absorção de produtos ou serviços pelo mercado; recursos próprios existentes/financiamento a custos aceitáveis; e taxas de retorno compatíveis. Nenhum desses três elementos está presente, no momento, na maior parte dos segmentos da economia. Para entender o potencial de retração dos investimentos, além disso, é preciso considerar tanto os estoques elevados, que derrubam qualquer intenção de ampliar a oferta, quanto os custos de produção ainda altos e os baixos índices de confiança.
Até em razão do aprofundamento da retração da economia, a descida da ladeira tende a se dar em ritmo cada vez mais lento. Em base trimestral, as projeções mais atualizadas apontam nessa direção. Do pico do recuo de 1,9% do PIB do segundo trimestre em comparação com o do primeiro trimestre deste ano, as estimativas apontam queda de 1% no terceiro e quarto trimestres de 2015 e retração de 0,5%, 0,1% ou 0,2% e estabilidade, ao longo de 2016. Não significa que o poço ficará mais raso, mas a sensação térmica será de frio um pouco menos intenso.
José Paulo Kupfer é jornalista
Depois do IBC-Br do terceiro trimestre, ampliou-se a convicção de que a contração da economia, ainda que em ritmo mais lento, vai atravessar todo o ano de 2016
Está prevista para daqui a dez dias a divulgação pelo IBGE da variação do PIB no terceiro trimestre do ano. Depois do resultado do Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) de setembro, anunciado pelo Banco Central nesta quarta-feira, restaram ainda menos dúvidas de que a economia continuou a mergulhar no terreno recessivo entre julho e setembro. Se, no começo do ano, predominava a expectativa de que o fundo do poço do atual ciclo de contração econômica fosse alcançado neste trimestre, essa possibilidade já foi adiada para 2017 ou, na melhor das hipóteses, para fins de 2016.
Consolidou-se a convicção de que a variação do PIB, em 2015, não será inferior a uma queda em torno de 3,5%, a mais acentuada desde o mergulho de 4,3% em 1990, ano do Plano Collor e do confisco das poupanças. Cresceu também a convicção de que 2016 não será, como alguns esperavam não faz tanto tempo, um ano de recuperação, e a recessão o atravessará ao longo dos trimestres. A julgar pelas projeções atuais, ampliou-se, isso sim, a possibilidade de que o nível de contração econômica, no próximo ano, se assemelhe ao previsto para este ano.
Há razões para acreditar que a deterioração dos indicadores econômicos ainda tem espaço para prosseguir e que a economia descerá a ladeira por mais tempo. Sob a ótica da demanda, a principal fonte de alimentação dessa perspectiva negativa tem agora origem no mercado de trabalho, que tende a consolidar uma combinação adversa de aumento da oferta de mão de obra com redução no volume de vagas existentes. Essa situação provoca contração da massa salarial pelo recuo de seus dois elementos — o nível de remuneração e o número de ocupados — e afeta, diretamente, o consumo das famílias, já pressionado pela inflação, que lhe subtrai poder de compra, e a inadimplência.
Não por coincidência, a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) de outubro, publicada ontem pelo IBGE, mostrou avanço na taxa de desemprego, que chegou a 7,9% da população ativa, quase o dobro da registrada há um ano. Também não por coincidência, o levantamento mostrou que a massa salarial real encolheu 1,5% sobre setembro e mais de 10% em relação a outubro do ano passado. Para complicar mais um pouco, a demanda perdeu o impulso do crédito, que também entrou em fase de retração.
Isso ocorreu pela dupla ação da redução, do lado dos tomadores, da procura por financiamento e da oferta, do lado dos emprestadores, pelo aumento do risco de calote. A anemia da demanda não só puxa o PIB diretamente para baixo como contribui para a retração do investimento, empurrando a economia ainda mais na linha descendente.
Não é difícil entender por que o investimento empreende uma longa marcha à ré. Fator crítico de impulsão da economia, o investimento se movimenta em função de pelo menos três variáveis: expectativas de absorção de produtos ou serviços pelo mercado; recursos próprios existentes/financiamento a custos aceitáveis; e taxas de retorno compatíveis. Nenhum desses três elementos está presente, no momento, na maior parte dos segmentos da economia. Para entender o potencial de retração dos investimentos, além disso, é preciso considerar tanto os estoques elevados, que derrubam qualquer intenção de ampliar a oferta, quanto os custos de produção ainda altos e os baixos índices de confiança.
Até em razão do aprofundamento da retração da economia, a descida da ladeira tende a se dar em ritmo cada vez mais lento. Em base trimestral, as projeções mais atualizadas apontam nessa direção. Do pico do recuo de 1,9% do PIB do segundo trimestre em comparação com o do primeiro trimestre deste ano, as estimativas apontam queda de 1% no terceiro e quarto trimestres de 2015 e retração de 0,5%, 0,1% ou 0,2% e estabilidade, ao longo de 2016. Não significa que o poço ficará mais raso, mas a sensação térmica será de frio um pouco menos intenso.
José Paulo Kupfer é jornalista
O desemprego avança - CELSO MING
ESTADÃO - 20/11
A população desocupada aumentou 67,5% (771 mil pessoas) ante outubro de 2014, a maior variação anual desde 2002
A maioria dos analistas econômicos estava certa quando previu para este fim de ano forte aceleração do desemprego.
Em setembro, era de 7,6%; em outubro foi para 7,9%. (Veja o gráfico.) A alta de 0,3 ponto porcentual pode parecer pequena para quem não tem familiaridade com essas estatísticas, mas é o contrário disso. No comunicado, o IBGE observa que a população desocupada aumentou 67,5% (771 mil pessoas) ante outubro de 2014, a maior variação anual desde 2002.
O desemprego aumenta não só quando as empresas e as famílias (no caso dos empregados domésticos) dispensam pessoal. Aumenta, também, quando mais gente, que antes preferia ficar em casa flanando ou em atividades não remuneradas, procura trabalho. É a faixa da População Economicamente Ativa (PEA).
Índice de desocupação
Até o início do ano, havia queda nesse segmento porque os tempos eram outros, havia quem sustentasse a família toda e as bondades do governo (especialmente o Programa Bolsa Família) permitiam o luxo de não ter de trabalhar para fora. Depois de meses de alta, as estatísticas de outubro apontaram queda de 0,7% na PEA, em relação aos níveis de setembro. Ou seja, apesar da vida mais dura, ainda havia cerca de 170 mil pessoas aptas a trabalhar que preferiam não procurar emprego. Não fosse isso, a desocupação seria ainda maior.
O principal fator de desemprego em outubro foi a dispensa de pessoal pelas empresas (redução do nível de ocupação): de 1,0% (ou 230 mil pessoas) em relação a setembro; e 3,5% (825 mil pessoas) em relação a outubro de 2014.
A renda do trabalhador em outubro mostra queda de 0,6% em relação a setembro e de 7,0%, em relação a outubro de 2014. Esses números já estão descontados da inflação. É mais um indicador de que a população brasileira está ficando mais pobre. Isso significa que boa parte do ajuste da economia está sendo feita pelo desemprego.
Esse aumento da população desocupada acontece com duas agravantes. Está espalhado por toda a economia e não, como tantas vezes, concentrado em dois ou três setores, o que mostra que as distorções do sistema são abrangentes. A segunda agravante é a de que, em outubro, já deveria ter aumentado a oferta de emprego, especialmente de temporários, para dar conta da produção, logística e vendas por ocasião das festas de fim de ano. É um indício de que a falta de trabalho deve se aprofundar depois da virada do ano.
Outro indicador que reforça essa tendência é o comportamento da inflação. Saiu também ontem a evolução do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15). É o mesmo levantamento de preços feito pelo IPCA, com a diferença de que abrange o período de 30 dias terminado no dia 15 de cada mês, e não no dia 30. No caso, terminou dia 15 de novembro.
Esse índice mostra que a inflação do período saltou de 0,66% em outubro para 0,85% em novembro. No período de 12 meses terminados em 15 de novembro, a inflação já é de dois dígitos. Foi para 10,28%, a maior desde novembro de 2003. (Veja, ainda, o Confira.) É a inflação ralando salário.
CONFIRA:
Evolução do IPCA-15
Acompanhe aqui a evolução do IPCA-15 nos últimos sete meses.
Inflação do etanol
A maior surpresa da hora entre os itens da cesta de consumo é a disparada dos preços do etanol, muito antes de começar a entressafra da cana-de-açúcar no Sudeste, principal região produtora. De setembro para cá, os preços do etanol saltaram 12,5%. E o fim da safra está previsto apenas para o fim deste mês e começo de dezembro. A alta do etanol arrasta, também, os preços da gasolina porque a mistura tem de conter pelo menos 27% de álcool anidro.
A população desocupada aumentou 67,5% (771 mil pessoas) ante outubro de 2014, a maior variação anual desde 2002
A maioria dos analistas econômicos estava certa quando previu para este fim de ano forte aceleração do desemprego.
Em setembro, era de 7,6%; em outubro foi para 7,9%. (Veja o gráfico.) A alta de 0,3 ponto porcentual pode parecer pequena para quem não tem familiaridade com essas estatísticas, mas é o contrário disso. No comunicado, o IBGE observa que a população desocupada aumentou 67,5% (771 mil pessoas) ante outubro de 2014, a maior variação anual desde 2002.
O desemprego aumenta não só quando as empresas e as famílias (no caso dos empregados domésticos) dispensam pessoal. Aumenta, também, quando mais gente, que antes preferia ficar em casa flanando ou em atividades não remuneradas, procura trabalho. É a faixa da População Economicamente Ativa (PEA).
Índice de desocupação
Até o início do ano, havia queda nesse segmento porque os tempos eram outros, havia quem sustentasse a família toda e as bondades do governo (especialmente o Programa Bolsa Família) permitiam o luxo de não ter de trabalhar para fora. Depois de meses de alta, as estatísticas de outubro apontaram queda de 0,7% na PEA, em relação aos níveis de setembro. Ou seja, apesar da vida mais dura, ainda havia cerca de 170 mil pessoas aptas a trabalhar que preferiam não procurar emprego. Não fosse isso, a desocupação seria ainda maior.
O principal fator de desemprego em outubro foi a dispensa de pessoal pelas empresas (redução do nível de ocupação): de 1,0% (ou 230 mil pessoas) em relação a setembro; e 3,5% (825 mil pessoas) em relação a outubro de 2014.
A renda do trabalhador em outubro mostra queda de 0,6% em relação a setembro e de 7,0%, em relação a outubro de 2014. Esses números já estão descontados da inflação. É mais um indicador de que a população brasileira está ficando mais pobre. Isso significa que boa parte do ajuste da economia está sendo feita pelo desemprego.
Esse aumento da população desocupada acontece com duas agravantes. Está espalhado por toda a economia e não, como tantas vezes, concentrado em dois ou três setores, o que mostra que as distorções do sistema são abrangentes. A segunda agravante é a de que, em outubro, já deveria ter aumentado a oferta de emprego, especialmente de temporários, para dar conta da produção, logística e vendas por ocasião das festas de fim de ano. É um indício de que a falta de trabalho deve se aprofundar depois da virada do ano.
Outro indicador que reforça essa tendência é o comportamento da inflação. Saiu também ontem a evolução do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15). É o mesmo levantamento de preços feito pelo IPCA, com a diferença de que abrange o período de 30 dias terminado no dia 15 de cada mês, e não no dia 30. No caso, terminou dia 15 de novembro.
Esse índice mostra que a inflação do período saltou de 0,66% em outubro para 0,85% em novembro. No período de 12 meses terminados em 15 de novembro, a inflação já é de dois dígitos. Foi para 10,28%, a maior desde novembro de 2003. (Veja, ainda, o Confira.) É a inflação ralando salário.
CONFIRA:
Evolução do IPCA-15
Acompanhe aqui a evolução do IPCA-15 nos últimos sete meses.
Inflação do etanol
A maior surpresa da hora entre os itens da cesta de consumo é a disparada dos preços do etanol, muito antes de começar a entressafra da cana-de-açúcar no Sudeste, principal região produtora. De setembro para cá, os preços do etanol saltaram 12,5%. E o fim da safra está previsto apenas para o fim deste mês e começo de dezembro. A alta do etanol arrasta, também, os preços da gasolina porque a mistura tem de conter pelo menos 27% de álcool anidro.
Hashtag me amem - TATI BERNARDI
Folha de São Paulo - 20/11
Dediquei uns bons minutos pensando em que tipo de homenagem eu faria a Paris nas redes sociais. Por sorte, lembrei que estou há maravilhosos dez dias sem Facebook. Me restava o Instagram. Fiquei em dúvida entre a foto "cores da bandeira francesa na torre Eiffel" e o vídeo "homem que levou o próprio piano para a rua e tocou 'Imagine'". Comecei a me achar um tanto ridícula, um tanto "fazendo o que todos estão fazendo sem nem entender direito o motivo, mas fazendo, porque não fazer, em algum lugar de nossas mentes malucas e viciadas, fica parecendo que somos alienados cruéis" e decidi, uma vez que já estava preparada para me propagandear em forma de pixels e filtros, postar algo nada a ver, algo de minha rotina comezinha, algo fofo apesar deste ano estranho, uma foto da minha cachorra, Chiquinha, com seu novo brinquedo: uma granada de borracha ecológica que não solta pedacinhos e ainda combate tártaros, higienizando os dentes. Ops, me liguei a tempo, seria o fim da minha carreira. Não publiquei nada.
Por que, em tempos de redes sociais, queremos o dia inteiro nos posicionar sobre tudo? Por que brasileiros que viajaram a Paris uma única vez há mais de dez anos e voltaram de lá reclamando do quanto foram maltratados em restaurantes e lojas de repente dedicam um sábado inteiro a comunicar (em inglês?) como amam aquele lugar mais do que tudo e se sentem pessoalmente afetados e choram e pedem #prayforParis? Peraí, rezar não, acabaram de lançar uma hashtag mais moderna e esperta e usada pelos meus amigos mais hypados, que faz justamente uma crítica ao lance de rezar por Paris. Vou trocar.
Daí essas mesmas pessoas, em sua ânsia de pertencimento militante da bondade, em sua urgência de se colocarem como protagonistas vitimadas de qualquer desordem mundial, acreditam que acabaram deixando de lado uma questão ainda mais lamentável, uma vez que é nacional, chamada cidade de Mariana, lugar que possivelmente nunca se deram muita conta de que existia. E então nós, vou me incluir porque também faço isso, escravos das redes sociais e da necessidade de sermos amados e considerados "do lado certo", postamos um pot-pourri com as duas bandeiras dizendo que "uma desgraça não pode anular a outra" e nos sentimos apaziguados até que... Faltou falar das escolas públicas fechadas! Pelo amor de Deus como eu faço pra provar que dou conta de ser muito bem informada e muito boa pessoa em espaços tão pequenos e curtos e rápidos?
Mas não demoraram a chegar ilustrações que resumiam 234 catástrofes, fossem causadas por humanos ou pela natureza, fossem de hoje ou um resumo do trimestre, em um único desenho. A frase "fazer o bem sem olhar a quem" traduzia o espírito. Já podíamos nos posicionar a favor da benevolência universal e interestelar sem deixar nadinha de fora! Já poderíamos chorar, enfim, pelo menininho sírio morto sem parecer que estávamos ignorando chacinas em bairros próximos. Até o pesar hoje em dia precisa ser otimizado, se você ficar triste por uma coisa só, será acusado de desumano!
Engajamento não tem fim, bateria do celular, sim. E o pior é que vai ter leitor dando um jeito de entender que estou desmerecendo a gravidade do atentado em Paris, do acidente em Mariana e, principalmente, a importância da espécie humana como um todo. E eu vou querer convencer o universo que sou legal (e vou lembrar que por essa razão me deletei do Facebook e respirar aliviada) e nunca mais sairemos da internet, onde morreremos explicando, em vão, que merecemos ser amados.
Dediquei uns bons minutos pensando em que tipo de homenagem eu faria a Paris nas redes sociais. Por sorte, lembrei que estou há maravilhosos dez dias sem Facebook. Me restava o Instagram. Fiquei em dúvida entre a foto "cores da bandeira francesa na torre Eiffel" e o vídeo "homem que levou o próprio piano para a rua e tocou 'Imagine'". Comecei a me achar um tanto ridícula, um tanto "fazendo o que todos estão fazendo sem nem entender direito o motivo, mas fazendo, porque não fazer, em algum lugar de nossas mentes malucas e viciadas, fica parecendo que somos alienados cruéis" e decidi, uma vez que já estava preparada para me propagandear em forma de pixels e filtros, postar algo nada a ver, algo de minha rotina comezinha, algo fofo apesar deste ano estranho, uma foto da minha cachorra, Chiquinha, com seu novo brinquedo: uma granada de borracha ecológica que não solta pedacinhos e ainda combate tártaros, higienizando os dentes. Ops, me liguei a tempo, seria o fim da minha carreira. Não publiquei nada.
Por que, em tempos de redes sociais, queremos o dia inteiro nos posicionar sobre tudo? Por que brasileiros que viajaram a Paris uma única vez há mais de dez anos e voltaram de lá reclamando do quanto foram maltratados em restaurantes e lojas de repente dedicam um sábado inteiro a comunicar (em inglês?) como amam aquele lugar mais do que tudo e se sentem pessoalmente afetados e choram e pedem #prayforParis? Peraí, rezar não, acabaram de lançar uma hashtag mais moderna e esperta e usada pelos meus amigos mais hypados, que faz justamente uma crítica ao lance de rezar por Paris. Vou trocar.
Daí essas mesmas pessoas, em sua ânsia de pertencimento militante da bondade, em sua urgência de se colocarem como protagonistas vitimadas de qualquer desordem mundial, acreditam que acabaram deixando de lado uma questão ainda mais lamentável, uma vez que é nacional, chamada cidade de Mariana, lugar que possivelmente nunca se deram muita conta de que existia. E então nós, vou me incluir porque também faço isso, escravos das redes sociais e da necessidade de sermos amados e considerados "do lado certo", postamos um pot-pourri com as duas bandeiras dizendo que "uma desgraça não pode anular a outra" e nos sentimos apaziguados até que... Faltou falar das escolas públicas fechadas! Pelo amor de Deus como eu faço pra provar que dou conta de ser muito bem informada e muito boa pessoa em espaços tão pequenos e curtos e rápidos?
Mas não demoraram a chegar ilustrações que resumiam 234 catástrofes, fossem causadas por humanos ou pela natureza, fossem de hoje ou um resumo do trimestre, em um único desenho. A frase "fazer o bem sem olhar a quem" traduzia o espírito. Já podíamos nos posicionar a favor da benevolência universal e interestelar sem deixar nadinha de fora! Já poderíamos chorar, enfim, pelo menininho sírio morto sem parecer que estávamos ignorando chacinas em bairros próximos. Até o pesar hoje em dia precisa ser otimizado, se você ficar triste por uma coisa só, será acusado de desumano!
Engajamento não tem fim, bateria do celular, sim. E o pior é que vai ter leitor dando um jeito de entender que estou desmerecendo a gravidade do atentado em Paris, do acidente em Mariana e, principalmente, a importância da espécie humana como um todo. E eu vou querer convencer o universo que sou legal (e vou lembrar que por essa razão me deletei do Facebook e respirar aliviada) e nunca mais sairemos da internet, onde morreremos explicando, em vão, que merecemos ser amados.
O Supremo e a greve - ALMIR PAZZIANOTTO PINTO
CORREIO BRAZILIENSE - 20/11
A Constituição se impõe pela voz do Supremo Tribunal Federal (STF). A ele cabe, precipuamente, diz o art. 102, a guarda da Lei Fundamental. Julgamento da Alta Corte tem o poder de anular lei ou revogar decisão de qualquer outro tribunal, pois Legislativo e Judiciário se encontram sob controle direto da constitucionalidade das respectivas leis e sentenças.
Prolixa e confusa, a Constituição de 1988 tem passado por constantes reformas, mediante emendas cujo número ultrapassou a 80. Por seu lado, a ausência de regulamentação de dispositivos enigmáticos exige do STF que invada terreno reservado ao Legislativo, por meio de decisões dotadas de marcante conteúdo normativo.
A apatia do Poder Executivo, a quem a Lei Fundamental atribui competência única para tomar a iniciativa de lei específica, que disponha sobre regime jurídico de servidor público, foi recompensada pelo STF, no caso da greve de servidor público. Entende a Suprema Corte que, à falta da lei específica, exigida pelo art. 37, VII, aplica-se à greve na administração pública a Lei 7.783/89, dirigida a paralisações promovidas por operários, comerciários, bancários, motoristas, radialistas, aeronautas. Afinal, para que submeter ao Legislativo projeto polêmico de lei, destinada a fixar os termos e limites a paralisações na Previdência Social, Judiciário, Polícia Federal, saúde, educação, após o STF equiparar servidores públicos a assalariados?
Convenhamos, todavia, que, entre ambos, as diferenças são radicais. Empregado é a pessoa física que presta serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário (CLT, art. 3º). A expressão servidor público corresponde ao titular de cargo público criado por lei, com denominação própria, em número certo, pago pelos cofres de entidade estatal, submetido a regime jurídico inconfundível com a legislação celetista. Lei específica, ordena o art. 37, VII, do Estatuto Básico da Nação. Jamais lei ordinária destinada a regular a greve na órbita da vida privada. Estamos, portanto, diante de jurisprudência inconstitucional, originária do órgão cuja finalidade é zelar pela guarda da Constituição.
Não bastasse a agressão feita ao Estado democrático de direito, outra violência em breve poderá ocorrer. Em julgamento de greve de servidores públicos da Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faeteec), entidade pública do Rio de Janeiro, abrindo divergência ao voto do ministro Dias Toffoli, para quem, mesmo não sendo abusiva, é indevido o pagamento dos dias de paralisação, o ministro Edson Fachin entendeu de maneira oposta. Para S. Exª, "a adesão de servidor a movimento grevista não pode significar opção economicamente intolerante ao próprio grevista e ao núcleo familiar". Em linguagem direta, significa dizer façam greve; os dias parados eu garanto.
Estive com os trabalhadores em grandes greves das décadas de 1960, 1970 e 1980. Presenciei a criação de fundos de solidariedade em São Bernardo do Campo. Travavam-se disputas por salários, nunca pelo ressarcimento de dias não trabalhados. A greve, segundo a Lei 7.783/89, "suspende o contrato de trabalho". De acordo com a doutrina, com a suspensão, são indevidas obrigações ligadas ao desenvolvimento contínuo da prestação do trabalho. A prevalecer o insólito argumento do ministro Fachin, o equilíbrio de forças, indispensável à legitimidade do movimento grevista, estará quebrado. Apenas o empregador, seja empresa privada, seja órgão público, ver-se-á prejudicado porque, em qualquer hipótese, a paralisação, breve ou longa, será remunerada pela empresa ou pelo contribuinte.
A Assembleia Nacional Constituinte cometeu a imprudência de assegurar o direito de greve no interior do serviço público, cujas atividades, sustentadas pelo povo, são essenciais por natureza e definição.Teve o cuidado, entretanto, de exigir regulamentação mediante lei complementar, posteriormente substituída por lei específica (EC 19/98), modalidade inexistente no processo legislativo (CF, art. 59). De qualquer modo, está lá: "O direito de greve (na administração pública) será exercido nos termos e nos limites de lei específica". O Supremo agrediu a Norma Fundamental ao determinar a incidência da Lei 7.783 ao serviço público. Não cometa, agora, a insânia de ordenar pagamento dos dias parados.
A Constituição se impõe pela voz do Supremo Tribunal Federal (STF). A ele cabe, precipuamente, diz o art. 102, a guarda da Lei Fundamental. Julgamento da Alta Corte tem o poder de anular lei ou revogar decisão de qualquer outro tribunal, pois Legislativo e Judiciário se encontram sob controle direto da constitucionalidade das respectivas leis e sentenças.
Prolixa e confusa, a Constituição de 1988 tem passado por constantes reformas, mediante emendas cujo número ultrapassou a 80. Por seu lado, a ausência de regulamentação de dispositivos enigmáticos exige do STF que invada terreno reservado ao Legislativo, por meio de decisões dotadas de marcante conteúdo normativo.
A apatia do Poder Executivo, a quem a Lei Fundamental atribui competência única para tomar a iniciativa de lei específica, que disponha sobre regime jurídico de servidor público, foi recompensada pelo STF, no caso da greve de servidor público. Entende a Suprema Corte que, à falta da lei específica, exigida pelo art. 37, VII, aplica-se à greve na administração pública a Lei 7.783/89, dirigida a paralisações promovidas por operários, comerciários, bancários, motoristas, radialistas, aeronautas. Afinal, para que submeter ao Legislativo projeto polêmico de lei, destinada a fixar os termos e limites a paralisações na Previdência Social, Judiciário, Polícia Federal, saúde, educação, após o STF equiparar servidores públicos a assalariados?
Convenhamos, todavia, que, entre ambos, as diferenças são radicais. Empregado é a pessoa física que presta serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário (CLT, art. 3º). A expressão servidor público corresponde ao titular de cargo público criado por lei, com denominação própria, em número certo, pago pelos cofres de entidade estatal, submetido a regime jurídico inconfundível com a legislação celetista. Lei específica, ordena o art. 37, VII, do Estatuto Básico da Nação. Jamais lei ordinária destinada a regular a greve na órbita da vida privada. Estamos, portanto, diante de jurisprudência inconstitucional, originária do órgão cuja finalidade é zelar pela guarda da Constituição.
Não bastasse a agressão feita ao Estado democrático de direito, outra violência em breve poderá ocorrer. Em julgamento de greve de servidores públicos da Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faeteec), entidade pública do Rio de Janeiro, abrindo divergência ao voto do ministro Dias Toffoli, para quem, mesmo não sendo abusiva, é indevido o pagamento dos dias de paralisação, o ministro Edson Fachin entendeu de maneira oposta. Para S. Exª, "a adesão de servidor a movimento grevista não pode significar opção economicamente intolerante ao próprio grevista e ao núcleo familiar". Em linguagem direta, significa dizer façam greve; os dias parados eu garanto.
Estive com os trabalhadores em grandes greves das décadas de 1960, 1970 e 1980. Presenciei a criação de fundos de solidariedade em São Bernardo do Campo. Travavam-se disputas por salários, nunca pelo ressarcimento de dias não trabalhados. A greve, segundo a Lei 7.783/89, "suspende o contrato de trabalho". De acordo com a doutrina, com a suspensão, são indevidas obrigações ligadas ao desenvolvimento contínuo da prestação do trabalho. A prevalecer o insólito argumento do ministro Fachin, o equilíbrio de forças, indispensável à legitimidade do movimento grevista, estará quebrado. Apenas o empregador, seja empresa privada, seja órgão público, ver-se-á prejudicado porque, em qualquer hipótese, a paralisação, breve ou longa, será remunerada pela empresa ou pelo contribuinte.
A Assembleia Nacional Constituinte cometeu a imprudência de assegurar o direito de greve no interior do serviço público, cujas atividades, sustentadas pelo povo, são essenciais por natureza e definição.Teve o cuidado, entretanto, de exigir regulamentação mediante lei complementar, posteriormente substituída por lei específica (EC 19/98), modalidade inexistente no processo legislativo (CF, art. 59). De qualquer modo, está lá: "O direito de greve (na administração pública) será exercido nos termos e nos limites de lei específica". O Supremo agrediu a Norma Fundamental ao determinar a incidência da Lei 7.783 ao serviço público. Não cometa, agora, a insânia de ordenar pagamento dos dias parados.
Uma perversa combinação - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE
CORREIO BRAZILIENSE - 20/11
A combinação não podia ser mais perversa. Em alta, inflação e desemprego afetam o dia a dia das pessoas, frustram expectativas, enterram sonhos e tornam a vida mais dura, mais difícil, principalmente para os mais pobres (a maioria em nosso país). Ontem, o brasileiro ficou sabendo que ficou ainda mais pesada a conta que lhe é empurrada pela crise, da qual ele é a vítima, não o culpado.
Não vieram de pessimistas de plantão, mas do respeitado Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) as duas notícias que ninguém gostaria de dar, embora delas suspeitassem os mais acostumados a acompanhar os dados econômicos oficiais. A primeira confirmou o que todos estão sentindo ao fazer suas compras e, mais ainda, ao encher o tanque de seus carros: a inflação acaba de ultrapassar a marca de dois dígitos, ao acumular, em 12 meses, alta de 10,28%.
Foi o que apurou o IBGE, ao calcular o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA)-15. Trata-se de uma prévia da inflação do mês, baseada em pesquisa de preços colhidos entre os dias 15 do mês anterior e do mês atual. O IPCA-15 de novembro mostrou aceleração, fechando em 0,85%, ante 0,66% em outubro. Mais da metade das 11 regiões metropolitanas pesquisadas para essa prévia já enfrentam inflação acima de 10%. Cinco delas estão abaixo da média apurada, entre elas, Belo Horizonte, com 8,84%, Brasília, com 9,35%; e Recife, com 9,43%.
Pior do que ter mais do que dobrado a meta do ano de 4,5%, a inflação de dois dígitos é um perigo para a economia, pois tende a estimular uma corrida pela remarcação de preços pelos agentes econômicos, que temem não conseguir repor os estoques com o capital empregado na mercadoria que está nas gôndolas e prateleiras. Foi essa uma das lições duramente aprendidas por boa parte dos brasileiros das gerações que vivenciaram a luta contra o dragão da hiperinflação.
É mal que, na maioria dos casos, também tem a característica de desmentir os que pretendem usar o falso álibi das crises externas. Neste ano, por exemplo, enquanto os preços do petróleo despencam no mundo, os da gasolina e do etanol disparam no Brasil. É resultado do congelamento equivocado do valor do litro da gasolina na bomba do posto da esquina, como forma de não desagradar ao eleitor. Agora, não há como evitar o reajuste acelerado dos combustíveis, que foram os maiores vilões da inflação em novembro. A gasolina subiu 6% nas refinarias em outubro, levando consigo os preços do etanol.
A segunda notícia ruim foi o desemprego, que tinha ficado estável em setembro e, agora, voltou a subir em outubro, chegando a 7,9%, conforme a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), realizada nas principais regiões metropolitanas do país. Segundo o IBGE, a fila do desemprego aumentou 67,5% em outubro em relação a setembro, a maior variação da série histórica, iniciada em março de 2002. Esse percentual corresponde a 771 mil pessoas a mais buscando vaga no mercado de trabalho.
Nem o comércio está empregando como normalmente faz nos meses anteriores ao Natal, num sintoma claro da falta de confiança do empresário na economia. É isso que governo e Congresso precisam levar em conta para acelerar a superação dos imbróglios políticos, premissa para a retomada de investimentos e empregos.
A combinação não podia ser mais perversa. Em alta, inflação e desemprego afetam o dia a dia das pessoas, frustram expectativas, enterram sonhos e tornam a vida mais dura, mais difícil, principalmente para os mais pobres (a maioria em nosso país). Ontem, o brasileiro ficou sabendo que ficou ainda mais pesada a conta que lhe é empurrada pela crise, da qual ele é a vítima, não o culpado.
Não vieram de pessimistas de plantão, mas do respeitado Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) as duas notícias que ninguém gostaria de dar, embora delas suspeitassem os mais acostumados a acompanhar os dados econômicos oficiais. A primeira confirmou o que todos estão sentindo ao fazer suas compras e, mais ainda, ao encher o tanque de seus carros: a inflação acaba de ultrapassar a marca de dois dígitos, ao acumular, em 12 meses, alta de 10,28%.
Foi o que apurou o IBGE, ao calcular o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA)-15. Trata-se de uma prévia da inflação do mês, baseada em pesquisa de preços colhidos entre os dias 15 do mês anterior e do mês atual. O IPCA-15 de novembro mostrou aceleração, fechando em 0,85%, ante 0,66% em outubro. Mais da metade das 11 regiões metropolitanas pesquisadas para essa prévia já enfrentam inflação acima de 10%. Cinco delas estão abaixo da média apurada, entre elas, Belo Horizonte, com 8,84%, Brasília, com 9,35%; e Recife, com 9,43%.
Pior do que ter mais do que dobrado a meta do ano de 4,5%, a inflação de dois dígitos é um perigo para a economia, pois tende a estimular uma corrida pela remarcação de preços pelos agentes econômicos, que temem não conseguir repor os estoques com o capital empregado na mercadoria que está nas gôndolas e prateleiras. Foi essa uma das lições duramente aprendidas por boa parte dos brasileiros das gerações que vivenciaram a luta contra o dragão da hiperinflação.
É mal que, na maioria dos casos, também tem a característica de desmentir os que pretendem usar o falso álibi das crises externas. Neste ano, por exemplo, enquanto os preços do petróleo despencam no mundo, os da gasolina e do etanol disparam no Brasil. É resultado do congelamento equivocado do valor do litro da gasolina na bomba do posto da esquina, como forma de não desagradar ao eleitor. Agora, não há como evitar o reajuste acelerado dos combustíveis, que foram os maiores vilões da inflação em novembro. A gasolina subiu 6% nas refinarias em outubro, levando consigo os preços do etanol.
A segunda notícia ruim foi o desemprego, que tinha ficado estável em setembro e, agora, voltou a subir em outubro, chegando a 7,9%, conforme a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), realizada nas principais regiões metropolitanas do país. Segundo o IBGE, a fila do desemprego aumentou 67,5% em outubro em relação a setembro, a maior variação da série histórica, iniciada em março de 2002. Esse percentual corresponde a 771 mil pessoas a mais buscando vaga no mercado de trabalho.
Nem o comércio está empregando como normalmente faz nos meses anteriores ao Natal, num sintoma claro da falta de confiança do empresário na economia. É isso que governo e Congresso precisam levar em conta para acelerar a superação dos imbróglios políticos, premissa para a retomada de investimentos e empregos.
Amarga colheita - MÍRIAM LEITÃO
O GLOBO - 20/11
A inflação chegou a 10% pelo IPCA-15 e está espalhada pelos preços. O indicador de atividade do Banco Central registrou que a recessão este ano está em 3,3%. O Congresso aprovou a nova meta fiscal de 2015, e com isso ficou consolidado que houve uma diferença de R$ 200 bilhões entre o programado no início do ano e o que vai acontecer. O quadro econômico é desalentador.
Todos esses dados saíram durante a semana. O índice de inflação foi de 0,85% neste mês de novembro até o dia 15, pelo que o IBGE disse ontem. No acumulado de 12 meses, chegou a 10,28%. É a primeira vez que o IPCA passa a barreira de dois dígitos desde novembro de 2003. Dois grupos foram grandes responsáveis pelo resultado: alimentação e bebidas, com 1,05%, e transportes, com 1,45%. Segundo o professor Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio, o IPCA do mês cheio ficará próximo de 1%, mantendo a taxa em 12 meses acima dos 10%. Caso o governo eleve a Cide, a taxa chegará a 11% no fechamento do ano. O índice de difusão chegou a 71,8%, mostrando que a alta de preços está espalhada na economia.
O ano está chegando ao último mês com fatos piores do que as projeções. Ninguém imaginava no começo do ano uma inflação em dois dígitos, a pior recessão desde o primeiro ano do governo Collor, e um déficit primário de R$ 120 bilhões. A primeira meta proposta pelo governo era de superávit de R$ 68 bi.
A grande questão é como chegamos num desempenho tão ruim. Não foi um ano externo difícil, ainda que o cenário internacional sempre reserve surpresas desagradáveis. Os Estados Unidos cresceram e a grande dúvida que atravessou o ano foi quando os juros subiriam. A Europa que está agora sob a angústia espalhada pelo terrorismo teve um ano de recuperação leve. A China desacelerou, derrubando preços. As cotações de petróleo caíram fortemente causando nos países da OCDE pressão baixista na inflação.
Aqui no Brasil, os preços deram um salto de quatro pontos percentuais e o grande fator de aceleração da inflação foi exatamente o grupo energia. No crescimento, a América Latina está com baixo desempenho, mas o Brasil despencou mais do que a média. O rombo nas contas públicas já era esperado, mas ele foi pior do que qualquer projeção porque está incluído nele o pagamento das pedaladas do ano passado.
Outro dado negativo que saiu ontem foi o desemprego medido pela Pesquisa Mensal de Emprego, índice que deixará de existir no ano que vem por ser restrito a seis regiões metropolitanas. Apesar de o número ser menor do que o apurado pela PNAD Contínua, de acordo com a PME o desemprego subiu de 4,7% em outubro do ano passado para 7,9% em outubro deste ano.
O desastre de 2015 foi preparado nos anos anteriores. Na inflação, o governo cometeu um dos piores erros que é reprimir os preços sobre os quais tem controle. Isso faz com que a trajetória dos preços livres seja uma, e a dos administrados, outra, ainda que os dois grupos estejam com números bem acima do teto da meta. A dos preços livres saiu de pouco mais de 6% no começo do ano passado para ficar em torno de 8% em 12 meses. A dos preços ditados pelo governo estavam em torno de 2% e foram para 18%.
No final do ano, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, terá que escrever uma carta ao país explicando por que a inflação ficou acima do teto da meta. Isso faz parte do regime de metas de inflação. E neste caso, a verdade é que o mais preocupante nem é o estouro da meta, mas a subida para dois dígitos. Em 2002, o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga teve que escrever esta carta. Nos anos de 2003 e 2004, o ex-presidente Henrique Meirelles também teve. Naquele tempo, foi necessário superar a alta de preços provocada pelo temor de que se Lula fosse eleito ele mudaria a política econômica. Em 2011, o Banco Central comemorou o fato de a taxa ter ficado em 6,5%. Não houve estouro do teto, portanto. Agora, não haverá como escapar desse comunicado oficial do BC de que não cumpriu o que a meta estabelecia.
A inflação e a recessão foram construídas com os erros anteriores; parte do rombo fiscal vem das pedaladas. O que o país colhe de más notícias foi plantado no primeiro mandato do governo Dilma.
A inflação chegou a 10% pelo IPCA-15 e está espalhada pelos preços. O indicador de atividade do Banco Central registrou que a recessão este ano está em 3,3%. O Congresso aprovou a nova meta fiscal de 2015, e com isso ficou consolidado que houve uma diferença de R$ 200 bilhões entre o programado no início do ano e o que vai acontecer. O quadro econômico é desalentador.
Todos esses dados saíram durante a semana. O índice de inflação foi de 0,85% neste mês de novembro até o dia 15, pelo que o IBGE disse ontem. No acumulado de 12 meses, chegou a 10,28%. É a primeira vez que o IPCA passa a barreira de dois dígitos desde novembro de 2003. Dois grupos foram grandes responsáveis pelo resultado: alimentação e bebidas, com 1,05%, e transportes, com 1,45%. Segundo o professor Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio, o IPCA do mês cheio ficará próximo de 1%, mantendo a taxa em 12 meses acima dos 10%. Caso o governo eleve a Cide, a taxa chegará a 11% no fechamento do ano. O índice de difusão chegou a 71,8%, mostrando que a alta de preços está espalhada na economia.
O ano está chegando ao último mês com fatos piores do que as projeções. Ninguém imaginava no começo do ano uma inflação em dois dígitos, a pior recessão desde o primeiro ano do governo Collor, e um déficit primário de R$ 120 bilhões. A primeira meta proposta pelo governo era de superávit de R$ 68 bi.
A grande questão é como chegamos num desempenho tão ruim. Não foi um ano externo difícil, ainda que o cenário internacional sempre reserve surpresas desagradáveis. Os Estados Unidos cresceram e a grande dúvida que atravessou o ano foi quando os juros subiriam. A Europa que está agora sob a angústia espalhada pelo terrorismo teve um ano de recuperação leve. A China desacelerou, derrubando preços. As cotações de petróleo caíram fortemente causando nos países da OCDE pressão baixista na inflação.
Aqui no Brasil, os preços deram um salto de quatro pontos percentuais e o grande fator de aceleração da inflação foi exatamente o grupo energia. No crescimento, a América Latina está com baixo desempenho, mas o Brasil despencou mais do que a média. O rombo nas contas públicas já era esperado, mas ele foi pior do que qualquer projeção porque está incluído nele o pagamento das pedaladas do ano passado.
Outro dado negativo que saiu ontem foi o desemprego medido pela Pesquisa Mensal de Emprego, índice que deixará de existir no ano que vem por ser restrito a seis regiões metropolitanas. Apesar de o número ser menor do que o apurado pela PNAD Contínua, de acordo com a PME o desemprego subiu de 4,7% em outubro do ano passado para 7,9% em outubro deste ano.
O desastre de 2015 foi preparado nos anos anteriores. Na inflação, o governo cometeu um dos piores erros que é reprimir os preços sobre os quais tem controle. Isso faz com que a trajetória dos preços livres seja uma, e a dos administrados, outra, ainda que os dois grupos estejam com números bem acima do teto da meta. A dos preços livres saiu de pouco mais de 6% no começo do ano passado para ficar em torno de 8% em 12 meses. A dos preços ditados pelo governo estavam em torno de 2% e foram para 18%.
No final do ano, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, terá que escrever uma carta ao país explicando por que a inflação ficou acima do teto da meta. Isso faz parte do regime de metas de inflação. E neste caso, a verdade é que o mais preocupante nem é o estouro da meta, mas a subida para dois dígitos. Em 2002, o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga teve que escrever esta carta. Nos anos de 2003 e 2004, o ex-presidente Henrique Meirelles também teve. Naquele tempo, foi necessário superar a alta de preços provocada pelo temor de que se Lula fosse eleito ele mudaria a política econômica. Em 2011, o Banco Central comemorou o fato de a taxa ter ficado em 6,5%. Não houve estouro do teto, portanto. Agora, não haverá como escapar desse comunicado oficial do BC de que não cumpriu o que a meta estabelecia.
A inflação e a recessão foram construídas com os erros anteriores; parte do rombo fiscal vem das pedaladas. O que o país colhe de más notícias foi plantado no primeiro mandato do governo Dilma.
Pasadena não passará - FERNANDO GABEIRA
ESTADÃO - 20/11
Passa, passa, Pasadena. Não passou. A refinaria no Texas que deu prejuízo de US$ 700 milhões reaparece agora com novo nome: Ruivinha.
Ninguém faria um negócio desses, tão prejudicial ao lado brasileiro, se não gastasse alguns milhões de dólares com propina. Agora, está comprovado que houve corrupção. Há até uma lista preliminar de quem e quanto recebeu para aprovar a compra de uma refinaria enferrujada, docemente tratada pelos próprios compradores como a Ruivinha.
A Operação Lava Jato tem elementos para pedir a anulação da compra e o dinheiro de volta. Acontece que Pasadena está no Texas. Foi uma transação realizada na esfera da legislação americana. Necessariamente, a Justiça dos EUA terá de analisar todos os dados enviados pelas autoridades brasileiras e, eventualmente, pedir outros.
Existe uma questão cultural e política no caminho. Os americanos não conseguirão ver a compra de Pasadena só como uma conspiração criminosa de quadros intermediários da empresa que comprou. A tendência natural será verticalizar a investigação. Quem eram os responsáveis pela Petrobrás, como deixaram que isso acontecesse?
Não só nos EUA, como em outros países, os dirigentes máximos são responsáveis, mesmo quando alegam que não sabiam de nada. Numa empresa privada, se uma direção fizesse um negócio tão desastroso, renunciaria imediatamente e responderia aos processos legais fora do cargo. O caso de Pasadena, se internacionalizado, como na verdade tem de ser, vai pôr em choque a tolerância brasileira com os dirigentes que alegam não saber de nada.
A própria Petrobrás deveria pedir a anulação da compra de Pasadena. No entanto, isso é feito pela Lava Jato. A empresa assim mesmo, parcialmente, só reconhece que Pasadena foi um mau negócio. Ainda não caiu a ficha de que foi uma ação criminosa, que envolve também os vendedores belgas. Por isso é bom internacionalizar Pasadena. A Justiça americana poderá cuidar do vendedor belga, mais fora de alcance da brasileira.
Uma pena a Petrobrás ainda não ter percebido seu papel. É uma questão político-cultural. A própria Dilma diz que não sabia de nada porque teria sido enganada por um relatório. Esse impulso de jogar para baixo toda a culpa já aparecia no mensalão, quando Lula se disse traído.
Duas grandes empresas brasileiras vivem um inferno astral. Petrobrás e Vale: o maior escândalo de corrupção no País, o maior desastre ambiental de uma associada.
No caso do mar de lama lançado no Rio Doce, com mortes e destruição pelo caminho, os dados técnicos e científicos ainda não foram divulgados. Mas já se sabe que os mecanismos de contenção, filtragem e escoamento nas barragens mineiras já não são usados em alguns países do mundo. Há métodos mais modernos, possivelmente mais caros. Isso questiona toda uma política de investimento, no meu entender, de forma semelhante ao que ocorre no setor público.
O Brasil ainda não universalizou o saneamento básico porque são obras que não aparecem, não rendem votos.
Nas empresas privadas, como na Vale e na própria Samarco, existem políticas ambientais, mas também uma preocupação com a margem de lucro. A sustentabilidade nem sempre responde rápido ao quesito lucro.
Muitas pessoas veem o princípio de precaução – um dos temas que a ecologia política levantou – como um exagero de ambientalistas apocalípticos. Em termos econômicos, a precaução revela a sua importância no longo prazo: quanto custa um desastre ambiental? Quanta custa a renovação dos equipamentos?
Uma semana nas margens do Rio Doce, pontuada por um atentado terrorista em Paris, me entristece. No entanto, fica cada vez mais claro que é o mundo que temos e é preciso encará-lo. Não há como escapar.
As coisas só pioram na economia e o País se limita a contemplar o próprio declínio. Não há uma resposta política. O Congresso é um pântano. Só haverá um pouco de esperança no ar se discutirmos um caminho para depois desse desastre. O PT propõe apenas entrar no cheque especial e continuar entupindo o País com carros e eletrodomésticos.
Além dos passos políticos e econômicos, será preciso considerar algo que ainda não foi acrescentado à corrente descrição da crise. Não é só econômica, política e ética. Vivemos também numa crise ambiental. No cotidiano, documento problemas agudos de falta d’água, cachoeiras reduzidas a fios, rios secando e, agora, o Doce levando este golpe lamacento. Há uma seca prolongada em grandes regiões do País, queimadas aparecem em vários lugares, algumas em áreas teoricamente protegidas.
Políticos convencionais tendem a subestimar a importância que as pessoas dão hoje à crise ambiental. Não é preciso percorrer os lugares atingidos pela lama. As cidades ameaçadas por barragens vivem em tensão.
A oposição, homens e mulheres que foram eleitos e ganham para isso, deveriam estar propondo alguma coisa para superar essa crise, que tem muitas cabeças. Se eles não têm ideia do que propor, pelo menos poderiam sair perguntando, sentir os anseios de renovação e deduzir algo deles.
Muito se falou de pauta-bomba nesse Congresso. Essa etapa está quase passando. Eles inauguraram a pauta-míssil: repatriar dinheiro suspeito e uma patética lei sobre a imprensa.
Neste momento da História do País, apesar de morto politicamente, o governo, que tem seus tentáculos na Justiça, agora pode brandir uma espada sobre a cabeça dos jornalistas. Começam dizendo que você não viu o que está acontecendo porque sofre de miopia ideológica. Em seguida, tomam precauções para que os juízes de linha justa os liberem: agora, preparam o caminho para punir quem divulga a verdade que os ofende.
É o tipo de lei que, mantida com esse texto, acaba sendo um convite a desobedecer. Lembro-me de que escrevi uma apresentação da edição brasileira do Desobedeça, de Henry David Thoreau. Voltarei ao livro em busca de inspiração.
Lula e seu velho bode - NELSON MOTTA
O GLOBO - 20/11
Rádios, jornais, televisões, revistas e sites ‘de esquerda’ nunca fizeram sucesso popular nem conquistaram um mínimo de influência
“Tudo é tudo, e nada é nada” (Tim Maia)
Sempre se dizendo criticado, perseguido e difamado pela mídia, Lula saiu do governo com o PIB crescendo 7,5% e com a aprovação de mais de 80% dos brasileiros, apesar do escândalo do mensalão. Então, que poder teve essa mídia de formar opinião contra ele? Ninguém ligava para o que eles diziam?
Mas, com inflação alta, recessão cruel e escândalos em série, a mesma mídia é acusada de ampliar a crise e de sabotar o governo, de tentar derrubar a presidente eleita, de estimular o ódio. Os 8% que ainda aprovam Dilma devem ser os que os meios de comunicação não conseguiram enganar com suas lorotas... rsrs.
Sim, é verdade que foi nos governos petistas, ou apesar deles, que a Polícia Federal e o Ministério Público cresceram em eficiência e independência, realizando operações que desvendaram o mensalão e o petrolão — com a ajuda dessa mesma mídia, que deu pistas, publicidade e profundidade às investigações. Como disse o juiz Sérgio Moro, a operação Mãos Limpas na Itália só foi bem-sucedida porque teve na imprensa uma aliada fundamental, mantendo a pressão nas investigações e o público atento e indignado.
A besta-fera, o leviatã, a hidra de mil cabeças, o sonho de consumo dos totalitários de esquerda e de direita, a imprensa livre é uma das mais árduas e valiosas conquistas das últimas gerações de brasileiros. E um dos bodes expiatórios favoritos dos governos petistas que, mesmo com a concorrência acirrada de vários grupos de comunicação e da absoluta liberdade de associação, querem “democratizar” a mídia brasileira.
Culpar e castigar o sucesso de audiência e credibilidade é a vingança de todas as tentativas de rádios, jornais, televisões, revistas e sites “de esquerda” que, mesmo com fartas verbas públicas, nunca fizeram sucesso popular nem conquistaram um mínimo de influência, não porque o público seja “de direita” ou burro, mas por falta de qualidade e verdade, de talento, cultura e humor. O “Pasquim” foi a última exceção.
Hoje, na democracia brasileira, qualquer um é livre para usar a mídia que quiser para dizer o que quiser. O mais difícil é encontrar quem ouça.
“Tudo é tudo, e nada é nada” (Tim Maia)
Sempre se dizendo criticado, perseguido e difamado pela mídia, Lula saiu do governo com o PIB crescendo 7,5% e com a aprovação de mais de 80% dos brasileiros, apesar do escândalo do mensalão. Então, que poder teve essa mídia de formar opinião contra ele? Ninguém ligava para o que eles diziam?
Mas, com inflação alta, recessão cruel e escândalos em série, a mesma mídia é acusada de ampliar a crise e de sabotar o governo, de tentar derrubar a presidente eleita, de estimular o ódio. Os 8% que ainda aprovam Dilma devem ser os que os meios de comunicação não conseguiram enganar com suas lorotas... rsrs.
Sim, é verdade que foi nos governos petistas, ou apesar deles, que a Polícia Federal e o Ministério Público cresceram em eficiência e independência, realizando operações que desvendaram o mensalão e o petrolão — com a ajuda dessa mesma mídia, que deu pistas, publicidade e profundidade às investigações. Como disse o juiz Sérgio Moro, a operação Mãos Limpas na Itália só foi bem-sucedida porque teve na imprensa uma aliada fundamental, mantendo a pressão nas investigações e o público atento e indignado.
A besta-fera, o leviatã, a hidra de mil cabeças, o sonho de consumo dos totalitários de esquerda e de direita, a imprensa livre é uma das mais árduas e valiosas conquistas das últimas gerações de brasileiros. E um dos bodes expiatórios favoritos dos governos petistas que, mesmo com a concorrência acirrada de vários grupos de comunicação e da absoluta liberdade de associação, querem “democratizar” a mídia brasileira.
Culpar e castigar o sucesso de audiência e credibilidade é a vingança de todas as tentativas de rádios, jornais, televisões, revistas e sites “de esquerda” que, mesmo com fartas verbas públicas, nunca fizeram sucesso popular nem conquistaram um mínimo de influência, não porque o público seja “de direita” ou burro, mas por falta de qualidade e verdade, de talento, cultura e humor. O “Pasquim” foi a última exceção.
Hoje, na democracia brasileira, qualquer um é livre para usar a mídia que quiser para dizer o que quiser. O mais difícil é encontrar quem ouça.
O ministro da Fazenda com que sonha Lula - ROGÉRIO FURQUIM WERNECK
ESTADÃO - 20/11
Sonhos são sonhos. Não têm de ter respaldo na realidade. Lula quer Joaquim Levy fora do governo. Mas o novo ministro da Fazenda com que sonha não tem contrapartida no mundo real. A figura que Lula vislumbra em seus devaneios é um ser híbrido, que tem a cabeça de Nelson Barbosa e a reputação de Henrique Meirelles.
Lula vem arguindo que o “prazo de validade” de Joaquim Levy venceu. Que, fixado na ideia de ajuste fiscal, o ministro acabou aferrado a um discurso de desesperança, impossível de vender. Embora o ajuste fiscal ainda esteja por ser feito, Lula acha que é hora de ter à frente do Ministério da Fazenda alguém que se disponha a adotar políticas de estímulo à demanda, que permitam ao governo vender esperança e alardear que já é possível vislumbrar a retomada da economia.
O ex-presidente está convencido de que Meirelles é o nome perfeito para desempenhar esse papel. Mas Dilma resiste. A presidente nunca se deu bem com Meirelles. Oito anos de penosa convivência dos dois, quando ambos ocupavam posições destacadas no governo Lula, só reforçaram essa falta de empatia.
Por ser isso tão notório, Dilma tem consciência de que ceder a mais essa investida do ex-presidente seria a confirmação definitiva de que já não há mais limites para a intervenção de Lula em seu governo. Um passo desajuizado para uma presidente que luta desesperadamente para se manter no cargo.
Ademais, Dilma não parece estar convencida de que a guinada de política econômica preconizada por Lula seja acertada. Na posição delicada em que a presidente se encontra, seu cálculo político já não se confunde com a de seu mentor. E, mesmo que estivesse convencida, ainda teria boas razões para se perguntar se Meirelles estaria de fato disposto a levar adiante o que Lula tem em mente.
Que Henrique Meirelles não confia em Dilma Rousseff parece mais do que claro. Se confiasse, não teria exigido carta branca para nomear toda a equipe econômica, como vem sendo noticiado. Entre seus muitos entreveros com Dilma Rousseff, ao longo dos dois governos Lula, Meirelles certamente não terá se esquecido de abril de 2008, quando, na esteira de uma conspirata desenvolvimentista orquestrada pela Fazenda e pela Casa Civil, quase foi ejetado do Banco Central.
Acabou salvo pelo gongo, em 30 de abril daquele ano, quando se soube que a agência Standard & Poor’s havia elevado a classificação de risco do país a grau de investimento. Com Lula eufórico com o “momento mágico” em que Brasil havia sido “declarado um país sério”, a conspiração teve de ser abortada, e Meirelles ganhou longa sobrevida no cargo. Atravessou todo o período em que a política econômica passou a ser conduzida sob a bandeira da nova matriz. E chegou incólume ao final do segundo mandato de Lula.
Não estivessem na difícil situação em que se meteram, Lula e Dilma estariam plenamente de acordo quanto ao perfil do ministro que gostariam de ver na Fazenda. E prefeririam Barbosa a Meirelles. Mas tanto Dilma como Lula bem sabem que, a esta altura, a nomeação de Nelson Barbosa para a Fazenda pode ser a gota d’água.
O que Lula contempla, agora, é a possibilidade de que alguém com a reputação de Meirelles se disponha a fazer boa parte do que Barbosa faria na Fazenda. Mas estará Meirelles disposto a desempenhar esse papel?
Em face das dificuldades de convencer Meirelles a se juntar a um governo quase desenganado, para conduzir uma política econômica em que não acredita, Lula já não sabe o que mais lhe prometer. Em coluna no “Valor” de 11/11, Cristiano Romero mencionou que emissários de Lula chegaram até a acenar com a ideia de Meirelles vir a ter no governo Dilma a trajetória que FH teve no governo Itamar, sugerindo que seu sucesso como ministro da Fazenda poderia lhe levar à Presidência da República.
Por maiores que sejam suas ambições políticas e por mais envaidecido que possa ter ficado com o vaticínio de um final de carreira tão triunfal, é difícil que Meirelles se deixe seduzir por tal miragem. Mas impossível não é. A natureza humana é uma inesgotável caixa de surpresas.
Lula vem arguindo que o “prazo de validade” de Joaquim Levy venceu. Que, fixado na ideia de ajuste fiscal, o ministro acabou aferrado a um discurso de desesperança, impossível de vender. Embora o ajuste fiscal ainda esteja por ser feito, Lula acha que é hora de ter à frente do Ministério da Fazenda alguém que se disponha a adotar políticas de estímulo à demanda, que permitam ao governo vender esperança e alardear que já é possível vislumbrar a retomada da economia.
O ex-presidente está convencido de que Meirelles é o nome perfeito para desempenhar esse papel. Mas Dilma resiste. A presidente nunca se deu bem com Meirelles. Oito anos de penosa convivência dos dois, quando ambos ocupavam posições destacadas no governo Lula, só reforçaram essa falta de empatia.
Por ser isso tão notório, Dilma tem consciência de que ceder a mais essa investida do ex-presidente seria a confirmação definitiva de que já não há mais limites para a intervenção de Lula em seu governo. Um passo desajuizado para uma presidente que luta desesperadamente para se manter no cargo.
Ademais, Dilma não parece estar convencida de que a guinada de política econômica preconizada por Lula seja acertada. Na posição delicada em que a presidente se encontra, seu cálculo político já não se confunde com a de seu mentor. E, mesmo que estivesse convencida, ainda teria boas razões para se perguntar se Meirelles estaria de fato disposto a levar adiante o que Lula tem em mente.
Que Henrique Meirelles não confia em Dilma Rousseff parece mais do que claro. Se confiasse, não teria exigido carta branca para nomear toda a equipe econômica, como vem sendo noticiado. Entre seus muitos entreveros com Dilma Rousseff, ao longo dos dois governos Lula, Meirelles certamente não terá se esquecido de abril de 2008, quando, na esteira de uma conspirata desenvolvimentista orquestrada pela Fazenda e pela Casa Civil, quase foi ejetado do Banco Central.
Acabou salvo pelo gongo, em 30 de abril daquele ano, quando se soube que a agência Standard & Poor’s havia elevado a classificação de risco do país a grau de investimento. Com Lula eufórico com o “momento mágico” em que Brasil havia sido “declarado um país sério”, a conspiração teve de ser abortada, e Meirelles ganhou longa sobrevida no cargo. Atravessou todo o período em que a política econômica passou a ser conduzida sob a bandeira da nova matriz. E chegou incólume ao final do segundo mandato de Lula.
Não estivessem na difícil situação em que se meteram, Lula e Dilma estariam plenamente de acordo quanto ao perfil do ministro que gostariam de ver na Fazenda. E prefeririam Barbosa a Meirelles. Mas tanto Dilma como Lula bem sabem que, a esta altura, a nomeação de Nelson Barbosa para a Fazenda pode ser a gota d’água.
O que Lula contempla, agora, é a possibilidade de que alguém com a reputação de Meirelles se disponha a fazer boa parte do que Barbosa faria na Fazenda. Mas estará Meirelles disposto a desempenhar esse papel?
Em face das dificuldades de convencer Meirelles a se juntar a um governo quase desenganado, para conduzir uma política econômica em que não acredita, Lula já não sabe o que mais lhe prometer. Em coluna no “Valor” de 11/11, Cristiano Romero mencionou que emissários de Lula chegaram até a acenar com a ideia de Meirelles vir a ter no governo Dilma a trajetória que FH teve no governo Itamar, sugerindo que seu sucesso como ministro da Fazenda poderia lhe levar à Presidência da República.
Por maiores que sejam suas ambições políticas e por mais envaidecido que possa ter ficado com o vaticínio de um final de carreira tão triunfal, é difícil que Meirelles se deixe seduzir por tal miragem. Mas impossível não é. A natureza humana é uma inesgotável caixa de surpresas.
Islamofobia uma ova! - REINALDO AZEVEDO
FOLHA DE SP - 20/11
É preciso pôr as coisas na balança, atribuindo ao horror o peso que ele tem. Se existe o Islã pacífico, que se manifeste então com mais do que condolências retóricas
O melhor marketing do mundo é o das comunidades islâmicas -e notem que nem vou discriminar se dessa ou daquela, já que o islamismo, por ser uma religião descentralizada, tem muitas vertentes, incluindo as que se matam mutuamente. Nota à margem: para escândalo do Corão, os muçulmanos são os que mais fazem correr o sangue muçulmano!
No sábado de manhã, não se sabia ainda o número de mortos dos atentados na França. Mais de 100, dizia-se. Os feridos, também incertos, mais de 300. E a imprensa internacional e nacional já estava debatendo a islamofobia.
Convenham: os articuladores dessa estratégia merecem um prêmio. Os corpos ainda estavam no chão, crivados de balas. Mas se especulava sobre a perseguição injusta a que os muçulmanos seriam supostamente submetidos.
Na GloboNews, um professor da Universidade Federal Fluminense advertia para o oportunismo dos reacionários e dizia que um governo direitista na Europa é tudo o que quer o Estado Islâmico.
Sob a gestão do esquerdista François Hollande, houve dois atentados brutais na França em 10 meses. A direitista Angela Merkel, da Alemanha, abriu as portas para os refugiados. Esses "analistas" não precisam estar certos, mas apenas estar "do lado certo" das milícias do pensamento.
Na terça, na mesma emissora, uma autoridade islâmica era entrevistada no Brasil. O rapaz se esforçava para se solidarizar com os familiares dos mortos, mas a repórter estava obcecada pela islamofobia.
Ele fugia do assunto e exaltava a integração religiosa no Brasil, e a moça insistia na islamofobia. Ele driblava, mas o gerador de caracteres no pé da tela anunciava: "Comunidade islâmica teme preconceito..." O tema, afinal, era a... Islamofobia, e entrevistado nenhum tem o direito de estragar a pauta. Mesmo sobre 129 cadáveres.
É evidente que islâmicos inocentes não podem pagar pelos culpados, mas é preciso ter um mínimo de decoro para, ao menos, velar as reais vítimas do dia. Ou as vítimas da semana. Ou as vítimas de um tempo. Os cristãos mortos, só por serem cristãos, podem chegar a 100 mil por ano em todo o mundo, segundo o Observatório de Liberdade Religiosa, da Itália. Seus algozes são milícias islâmicas. Quem se ocupa da "cristofobia", inclusive no Ocidente?
Onde estava o Islã pacífico em janeiro deste ano, quando houve o massacre no "Charlie Hebdo"? Até por aqui li alguns "sensatos", com ou sem religião, a acusar o jornal de, afinal de contas, ter "exagerado". Digamos que tivesse. Admitiremos o assassinato na escala das reações, como a dizer: "Ok! Não desenharemos o Profeta, e vocês não nos matam"?
É preciso que a gente comece a pôr as coisas na balança, atribuindo ao horror o peso que ele tem. Se existe o Islã pacífico –árabe, persa, turco, indonésio, paquistanês, afegão–, que se manifeste então com expressões mais claras do que condolências retóricas.
Na terça, no jogo amistoso entre as seleções da Turquia e da Grécia, em Istambul, vimos o estádio vaiar em peso o minuto de silêncio em homenagem às vítimas. Os turcos presentes aplaudiam os terroristas.
Perdoem-me a crueza, mas aquela não era uma vaia de alguns extremistas. Era a expressão de uma cultura. Era o barulho de uma forma de viver a religião. E olhem que o país não é um exemplo de "extremismo islâmico", certo?
E que, se saiba, a Turquia do religioso e autoritário Recep Tayyip Erdogan não pediu desculpas ao mundo.
Não adianta tapar os ouvidos. Em que país islâmico aquela vergonha não se repetiria?
O melhor marketing do mundo é o das comunidades islâmicas -e notem que nem vou discriminar se dessa ou daquela, já que o islamismo, por ser uma religião descentralizada, tem muitas vertentes, incluindo as que se matam mutuamente. Nota à margem: para escândalo do Corão, os muçulmanos são os que mais fazem correr o sangue muçulmano!
No sábado de manhã, não se sabia ainda o número de mortos dos atentados na França. Mais de 100, dizia-se. Os feridos, também incertos, mais de 300. E a imprensa internacional e nacional já estava debatendo a islamofobia.
Convenham: os articuladores dessa estratégia merecem um prêmio. Os corpos ainda estavam no chão, crivados de balas. Mas se especulava sobre a perseguição injusta a que os muçulmanos seriam supostamente submetidos.
Na GloboNews, um professor da Universidade Federal Fluminense advertia para o oportunismo dos reacionários e dizia que um governo direitista na Europa é tudo o que quer o Estado Islâmico.
Sob a gestão do esquerdista François Hollande, houve dois atentados brutais na França em 10 meses. A direitista Angela Merkel, da Alemanha, abriu as portas para os refugiados. Esses "analistas" não precisam estar certos, mas apenas estar "do lado certo" das milícias do pensamento.
Na terça, na mesma emissora, uma autoridade islâmica era entrevistada no Brasil. O rapaz se esforçava para se solidarizar com os familiares dos mortos, mas a repórter estava obcecada pela islamofobia.
Ele fugia do assunto e exaltava a integração religiosa no Brasil, e a moça insistia na islamofobia. Ele driblava, mas o gerador de caracteres no pé da tela anunciava: "Comunidade islâmica teme preconceito..." O tema, afinal, era a... Islamofobia, e entrevistado nenhum tem o direito de estragar a pauta. Mesmo sobre 129 cadáveres.
É evidente que islâmicos inocentes não podem pagar pelos culpados, mas é preciso ter um mínimo de decoro para, ao menos, velar as reais vítimas do dia. Ou as vítimas da semana. Ou as vítimas de um tempo. Os cristãos mortos, só por serem cristãos, podem chegar a 100 mil por ano em todo o mundo, segundo o Observatório de Liberdade Religiosa, da Itália. Seus algozes são milícias islâmicas. Quem se ocupa da "cristofobia", inclusive no Ocidente?
Onde estava o Islã pacífico em janeiro deste ano, quando houve o massacre no "Charlie Hebdo"? Até por aqui li alguns "sensatos", com ou sem religião, a acusar o jornal de, afinal de contas, ter "exagerado". Digamos que tivesse. Admitiremos o assassinato na escala das reações, como a dizer: "Ok! Não desenharemos o Profeta, e vocês não nos matam"?
É preciso que a gente comece a pôr as coisas na balança, atribuindo ao horror o peso que ele tem. Se existe o Islã pacífico –árabe, persa, turco, indonésio, paquistanês, afegão–, que se manifeste então com expressões mais claras do que condolências retóricas.
Na terça, no jogo amistoso entre as seleções da Turquia e da Grécia, em Istambul, vimos o estádio vaiar em peso o minuto de silêncio em homenagem às vítimas. Os turcos presentes aplaudiam os terroristas.
Perdoem-me a crueza, mas aquela não era uma vaia de alguns extremistas. Era a expressão de uma cultura. Era o barulho de uma forma de viver a religião. E olhem que o país não é um exemplo de "extremismo islâmico", certo?
E que, se saiba, a Turquia do religioso e autoritário Recep Tayyip Erdogan não pediu desculpas ao mundo.
Não adianta tapar os ouvidos. Em que país islâmico aquela vergonha não se repetiria?
No mundo da(o) Lu(l)a - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 20/11
O ex-presidente Lula vive em um mundo particular, só dele, mas creio que hoje são poucas as pessoas que acreditam em tudo o que diz. Na entrevista a Roberto D´Avila na quarta-feira, em resumo disse que no tempo em que a economia crescia no Brasil, o mérito era de seu governo, não da conjuntura internacional que nunca, em tempo algum, foi tão favorável. Quando a crise econômica chega agora, aí sim a conjuntura internacional desfavorável é a culpada.
Lula deu versões sobre fatos políticos que contrariam todas as informações que pessoas que estiveram com ele nos últimos dias divulgaram. Ou há uma conspiração entre os seus para desmoralizá-lo, ou Lula faz uma coisa nos bastidores e conta outra na frente das câmeras, o que é mais provável.
Roberto D´Avila passou no teste ao enfrentar Lula sem ser grosseiro ou agressivo, e mesmo assim colocou o ex-presidente em situações embaraçosas diante dos fatos. A resposta do ex-presidente sobre as investigações da atuação de um filho no esquema de compra de medidas provisórias foi exemplar: “Meu filho vai ter que provar que agiu direito. Se não, está sujeito à mesma Constituição que todos nós”.
Resta saber se corresponde à sua atuação nos bastidores. Pelo que relatam os íntimos do ex-presidente, ele está furioso com o ministro da Justiça José Eduardo Cardoso por não controlar a Polícia Federal, e com Levy por não controlar a Receita. Tanto é verdade que recentemente Cardoso teve um encontro com Lula para acertar os ponteiros, e anunciou que estava tudo resolvido.
A mesma dissonância entre o que diz e o que faz fica ressaltada quando nega que tenha pressionado para a troca de Joaquim Levy por Henrique Meirelles no ministério da Fazenda. Se nunca pressionou, por que a presidente Dilma se deu ao trabalho de responder publicamente a ele, dizendo que, embora respeite seu mentor, discorda dele e manterá Levy na Fazenda? Bastaria que viesse a público dizer que Lula nunca lhe pediu para tirar Levy.
O dinheiro do tesouro nacional deve ser utilizado urgentemente para aquecer as atividades econômicas, defendeu o ex-presidente. O truque já foi feito, e deu no que deu. E as reservas cambiais, que somam 380 bilhões de dólares, sugerem alguns "aloprados". Mesmo que quisesse, não poderia, porque elas não pertencem ao governo e foram geradas pelo setor privado. Não é como nos países árabes, que são donos do petróleo exportado.
Assim como no mensalão, Lula diz que levou um susto com o escândalo do petrolão. Foi lembrado pelo entrevistador de que tesoureiros do PT estão presos, diversos dirigentes do PT estão denunciados. Para Lula, a roubalheira na Petrobras existe há mais de 30 anos, com todos os diretores de carreira envolvidos, sem se lembrar que foi seu governo que nomeou os diretores envolvidos, a pedido de partidos políticos de sua base de sustentação.
Cada diretor cuidava dos interesses de um partido, o que nunca antes na história da Petrobras acontecera. A roubalheira, sim, pode ter mais de 30 anos, mas o assalto organizado aos cofres da Petrobras para financiar um projeto de poder, só o PT fez.
Para confundir as coisas, Lula argumentou que outros partidos receberam dinheiro das empreiteiras, e tentou defender a tese de que o dinheiro saía do mesmo cofre, não havendo “cofre limpinho” para o PSDB e “cofre sujo” para o PT. O problema para Lula e o PT são as inúmeras delações premiadas que denunciam que o PT recebeu dinheiro legal, como os demais partidos, mas levou também dinheiro desviado da Petrobras e “lavado” como doação de campanha no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Além de propina por meio de offshores, consultorias falsas e pagamentos em espécie.
Lula sabe exatamente o que um ex-presidente deveria fazer, e diz que é o que está fazendo. Só que os fatos o desmentem. Diz que não se mete no governo de Dilma, assim como o ex-marido não pode se meter no novo casamento da ex-mulher. A metáfora é popular, mas não tem nada a ver com o caso atual, pois Lula, além de freqüentar o Alvorada com assiduidade, reúne-se com ministro de Dilma para dar as orientações.
E o PT, partido que comanda, tem soltado notas e comunicados contra a política econômica do governo, e todos sabemos, especialmente Dilma, que isso não aconteceria sem o aval de Lula.
Por fim, Lula garantiu que, desde que era presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, na passagem pela Presidência e até hoje, nunca ninguém lhe ofereceu “nem uma pêra”. Mas é fato sabido, e nunca desmentido, que Lula morou durante anos em uma casa de seu amigo Roberto Teixeira. E hoje um filho de Lula mora em um apartamento de uma empresa ligada ao mesmo Roberto Teixeira.
O ex-presidente Lula vive em um mundo particular, só dele, mas creio que hoje são poucas as pessoas que acreditam em tudo o que diz. Na entrevista a Roberto D´Avila na quarta-feira, em resumo disse que no tempo em que a economia crescia no Brasil, o mérito era de seu governo, não da conjuntura internacional que nunca, em tempo algum, foi tão favorável. Quando a crise econômica chega agora, aí sim a conjuntura internacional desfavorável é a culpada.
Lula deu versões sobre fatos políticos que contrariam todas as informações que pessoas que estiveram com ele nos últimos dias divulgaram. Ou há uma conspiração entre os seus para desmoralizá-lo, ou Lula faz uma coisa nos bastidores e conta outra na frente das câmeras, o que é mais provável.
Roberto D´Avila passou no teste ao enfrentar Lula sem ser grosseiro ou agressivo, e mesmo assim colocou o ex-presidente em situações embaraçosas diante dos fatos. A resposta do ex-presidente sobre as investigações da atuação de um filho no esquema de compra de medidas provisórias foi exemplar: “Meu filho vai ter que provar que agiu direito. Se não, está sujeito à mesma Constituição que todos nós”.
Resta saber se corresponde à sua atuação nos bastidores. Pelo que relatam os íntimos do ex-presidente, ele está furioso com o ministro da Justiça José Eduardo Cardoso por não controlar a Polícia Federal, e com Levy por não controlar a Receita. Tanto é verdade que recentemente Cardoso teve um encontro com Lula para acertar os ponteiros, e anunciou que estava tudo resolvido.
A mesma dissonância entre o que diz e o que faz fica ressaltada quando nega que tenha pressionado para a troca de Joaquim Levy por Henrique Meirelles no ministério da Fazenda. Se nunca pressionou, por que a presidente Dilma se deu ao trabalho de responder publicamente a ele, dizendo que, embora respeite seu mentor, discorda dele e manterá Levy na Fazenda? Bastaria que viesse a público dizer que Lula nunca lhe pediu para tirar Levy.
O dinheiro do tesouro nacional deve ser utilizado urgentemente para aquecer as atividades econômicas, defendeu o ex-presidente. O truque já foi feito, e deu no que deu. E as reservas cambiais, que somam 380 bilhões de dólares, sugerem alguns "aloprados". Mesmo que quisesse, não poderia, porque elas não pertencem ao governo e foram geradas pelo setor privado. Não é como nos países árabes, que são donos do petróleo exportado.
Assim como no mensalão, Lula diz que levou um susto com o escândalo do petrolão. Foi lembrado pelo entrevistador de que tesoureiros do PT estão presos, diversos dirigentes do PT estão denunciados. Para Lula, a roubalheira na Petrobras existe há mais de 30 anos, com todos os diretores de carreira envolvidos, sem se lembrar que foi seu governo que nomeou os diretores envolvidos, a pedido de partidos políticos de sua base de sustentação.
Cada diretor cuidava dos interesses de um partido, o que nunca antes na história da Petrobras acontecera. A roubalheira, sim, pode ter mais de 30 anos, mas o assalto organizado aos cofres da Petrobras para financiar um projeto de poder, só o PT fez.
Para confundir as coisas, Lula argumentou que outros partidos receberam dinheiro das empreiteiras, e tentou defender a tese de que o dinheiro saía do mesmo cofre, não havendo “cofre limpinho” para o PSDB e “cofre sujo” para o PT. O problema para Lula e o PT são as inúmeras delações premiadas que denunciam que o PT recebeu dinheiro legal, como os demais partidos, mas levou também dinheiro desviado da Petrobras e “lavado” como doação de campanha no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Além de propina por meio de offshores, consultorias falsas e pagamentos em espécie.
Lula sabe exatamente o que um ex-presidente deveria fazer, e diz que é o que está fazendo. Só que os fatos o desmentem. Diz que não se mete no governo de Dilma, assim como o ex-marido não pode se meter no novo casamento da ex-mulher. A metáfora é popular, mas não tem nada a ver com o caso atual, pois Lula, além de freqüentar o Alvorada com assiduidade, reúne-se com ministro de Dilma para dar as orientações.
E o PT, partido que comanda, tem soltado notas e comunicados contra a política econômica do governo, e todos sabemos, especialmente Dilma, que isso não aconteceria sem o aval de Lula.
Por fim, Lula garantiu que, desde que era presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, na passagem pela Presidência e até hoje, nunca ninguém lhe ofereceu “nem uma pêra”. Mas é fato sabido, e nunca desmentido, que Lula morou durante anos em uma casa de seu amigo Roberto Teixeira. E hoje um filho de Lula mora em um apartamento de uma empresa ligada ao mesmo Roberto Teixeira.
COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO
SENADOR CONDENADO À PRISÃO LEVA O STF NO BICOCondenado a 4 anos e 8 meses de prisão desde 2013 pelo Supremo Tribunal Federal, até hoje o senador Ivo Cassol (PP-RO) vem levando no bico o próprio STF, e exerce o mandato normalmente. Há 5 meses, o presidente do STF, Ricardo Lewandowski, recebeu o processo da relatora, ministra Carmen Lúcia, contrário à última manobra protelatória de Cassol. Mas Lewandowski mantém esse julgamento fora da pauta.
SENADOR NA PAPUDA
A condenação do senador Ivo Cassol prevê o regime semiaberto, ou seja, terá de dormir todas as noites na penitenciária da Papuda.
FRAUDE EM LICITAÇÃO
Ivo Cassol e outros três réus foram condenados pelo crime de fraudar licitação quando ele foi prefeito de Rolim de Moura (RO).
ESQUEMA MAROTO
O esquema criminoso de Ivo Cassol, segundo denúncia do Ministério Público, consistia em fracionar obras e serviços para fraudar licitações.
E TOME PROCRASTINAÇÃO
Cassol foi condenado à prisão e a perder o mandato. Por isso, só após a decisão final do STF, o Senado abrirá o processo de cassação.
LULA COBRA ALINHAMENTO DO PT A EDUARDO CUNHA
Em mais um sinal de “acordão” para livrar Eduardo Cunha no processo por quebra de decoro parlamentar, o ex-presidente Lula orientou líderes petistas a serem “leais” ao presidente da Câmara, no Conselho de Ética. Na visão utilitarista de Lula, o PT "faz o jogo da oposição". Ele ficou irritado com a cena de petistas saindo de mãos dadas do plenário, juntamente com a oposição, em protesto contra o desgastado Cunha.
O CONSTRUTOR
A aliados, Lula reclamou que não dá para o ministro Jaques Wagner (Casa Civil) construir pontes e os petistas as destruírem na Câmara.
CERCA-LOURENÇO
Jaques Wagner se aproximou do presidente da Câmara, com objetivo de neutralizar seu desejo de abrir processo de impeachment de Dilma.
CAÇA ÀS BRUXAS
Cunha pediu à segurança da Câmara as imagens do momento em que deputados saiam do plenário, especialmente os petistas.
GOLPISTAS E OS OMISSOS
Acampados na frente do Congresso, adoradores de generais pregam o golpe militar, tentando ser confundidos com democratas que defendem o impeachment. Em cima do muro e correndo de bolas dividas, o PSDB ainda não se dignou a condenar os golpistas, nem a afastar-se deles.
TEMPESTADE
Não se falava outra coisa na Câmara. Eduardo Cunha resolveu tumultuar as sessões do plenário. “Quanto menos reunião houver, ele e o governo ganham sobrevida”, avalia Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE).
PERDEU A LEGITIMIDADE
Calou fundo, no Palácio do Planalto, a posição do senador Fernando Bezerra (PSB-PE), ex-ministro de Dilma, afirmando que ela perdeu a legitimidade e a capacidade de liderar a superação da crise, e ainda defendendo que a discussão do impeachment comece sem demora.
PROCURADA
Petistas espalham nas redes sociais um cartaz “Procura-se”. Ironizam a ex-ministra Marina Silva, presidente do Rede, que mantém silêncio constrangedor sobre a tragédia da lama tóxica em Mariana (MG).
SANGUE NOVO
Estão na disputa para substituir o desastrado líder do PSDB na Câmara, em 2016, os deputados Marcus Pestana (MG) e Nilson Leitão (MT). O novato Daniel Coelho (PE) aparece como terceira via, e forte.
PETISTAS ENVERGONHADOS
Não há petistas dispostos a segurar a alça do caixão, como líder do governo na Câmara. O atual, José Guimarães (CE), coitado, deve virar líder do PT, em 2016. Por absoluta falta de opções.
‘SÓ NO BRASIL’
O contra-almirante Mario Ferreira Botelho diz que “rigorosa apuração” aponta que não houve o assalto aqui noticiado no Arsenal de Marinha do Rio, do qual é diretor. Oficiais relataram que um meliante assaltou uma cabo e fugiu de moto com sua bolsa, passando por duas guaritas.
FORA, CUNHA
Eliziane Gama (Rede-MA) vai ao Ministério Público pedir o afastamento de Eduardo Cunha da presidência da Câmara. “Ele usa o cargo para atrapalhar o andamento do processo de cassação”, diz a deputada.
PERGUNTA EM RAQQA
Quando Dilma vai aparecer na capital do Estado Islâmico para negociar com os terroristas, conforme ela defendeu na ONU, no ano passado?
SENADOR NA PAPUDA
A condenação do senador Ivo Cassol prevê o regime semiaberto, ou seja, terá de dormir todas as noites na penitenciária da Papuda.
FRAUDE EM LICITAÇÃO
Ivo Cassol e outros três réus foram condenados pelo crime de fraudar licitação quando ele foi prefeito de Rolim de Moura (RO).
ESQUEMA MAROTO
O esquema criminoso de Ivo Cassol, segundo denúncia do Ministério Público, consistia em fracionar obras e serviços para fraudar licitações.
E TOME PROCRASTINAÇÃO
Cassol foi condenado à prisão e a perder o mandato. Por isso, só após a decisão final do STF, o Senado abrirá o processo de cassação.
LULA COBRA ALINHAMENTO DO PT A EDUARDO CUNHA
Em mais um sinal de “acordão” para livrar Eduardo Cunha no processo por quebra de decoro parlamentar, o ex-presidente Lula orientou líderes petistas a serem “leais” ao presidente da Câmara, no Conselho de Ética. Na visão utilitarista de Lula, o PT "faz o jogo da oposição". Ele ficou irritado com a cena de petistas saindo de mãos dadas do plenário, juntamente com a oposição, em protesto contra o desgastado Cunha.
O CONSTRUTOR
A aliados, Lula reclamou que não dá para o ministro Jaques Wagner (Casa Civil) construir pontes e os petistas as destruírem na Câmara.
CERCA-LOURENÇO
Jaques Wagner se aproximou do presidente da Câmara, com objetivo de neutralizar seu desejo de abrir processo de impeachment de Dilma.
CAÇA ÀS BRUXAS
Cunha pediu à segurança da Câmara as imagens do momento em que deputados saiam do plenário, especialmente os petistas.
GOLPISTAS E OS OMISSOS
Acampados na frente do Congresso, adoradores de generais pregam o golpe militar, tentando ser confundidos com democratas que defendem o impeachment. Em cima do muro e correndo de bolas dividas, o PSDB ainda não se dignou a condenar os golpistas, nem a afastar-se deles.
TEMPESTADE
Não se falava outra coisa na Câmara. Eduardo Cunha resolveu tumultuar as sessões do plenário. “Quanto menos reunião houver, ele e o governo ganham sobrevida”, avalia Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE).
PERDEU A LEGITIMIDADE
Calou fundo, no Palácio do Planalto, a posição do senador Fernando Bezerra (PSB-PE), ex-ministro de Dilma, afirmando que ela perdeu a legitimidade e a capacidade de liderar a superação da crise, e ainda defendendo que a discussão do impeachment comece sem demora.
PROCURADA
Petistas espalham nas redes sociais um cartaz “Procura-se”. Ironizam a ex-ministra Marina Silva, presidente do Rede, que mantém silêncio constrangedor sobre a tragédia da lama tóxica em Mariana (MG).
SANGUE NOVO
Estão na disputa para substituir o desastrado líder do PSDB na Câmara, em 2016, os deputados Marcus Pestana (MG) e Nilson Leitão (MT). O novato Daniel Coelho (PE) aparece como terceira via, e forte.
PETISTAS ENVERGONHADOS
Não há petistas dispostos a segurar a alça do caixão, como líder do governo na Câmara. O atual, José Guimarães (CE), coitado, deve virar líder do PT, em 2016. Por absoluta falta de opções.
‘SÓ NO BRASIL’
O contra-almirante Mario Ferreira Botelho diz que “rigorosa apuração” aponta que não houve o assalto aqui noticiado no Arsenal de Marinha do Rio, do qual é diretor. Oficiais relataram que um meliante assaltou uma cabo e fugiu de moto com sua bolsa, passando por duas guaritas.
FORA, CUNHA
Eliziane Gama (Rede-MA) vai ao Ministério Público pedir o afastamento de Eduardo Cunha da presidência da Câmara. “Ele usa o cargo para atrapalhar o andamento do processo de cassação”, diz a deputada.
PERGUNTA EM RAQQA
Quando Dilma vai aparecer na capital do Estado Islâmico para negociar com os terroristas, conforme ela defendeu na ONU, no ano passado?
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