sexta-feira, novembro 20, 2015

Uma perversa combinação - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 20/11

A combinação não podia ser mais perversa. Em alta, inflação e desemprego afetam o dia a dia das pessoas, frustram expectativas, enterram sonhos e tornam a vida mais dura, mais difícil, principalmente para os mais pobres (a maioria em nosso país). Ontem, o brasileiro ficou sabendo que ficou ainda mais pesada a conta que lhe é empurrada pela crise, da qual ele é a vítima, não o culpado.

Não vieram de pessimistas de plantão, mas do respeitado Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) as duas notícias que ninguém gostaria de dar, embora delas suspeitassem os mais acostumados a acompanhar os dados econômicos oficiais. A primeira confirmou o que todos estão sentindo ao fazer suas compras e, mais ainda, ao encher o tanque de seus carros: a inflação acaba de ultrapassar a marca de dois dígitos, ao acumular, em 12 meses, alta de 10,28%.

Foi o que apurou o IBGE, ao calcular o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA)-15. Trata-se de uma prévia da inflação do mês, baseada em pesquisa de preços colhidos entre os dias 15 do mês anterior e do mês atual. O IPCA-15 de novembro mostrou aceleração, fechando em 0,85%, ante 0,66% em outubro. Mais da metade das 11 regiões metropolitanas pesquisadas para essa prévia já enfrentam inflação acima de 10%. Cinco delas estão abaixo da média apurada, entre elas, Belo Horizonte, com 8,84%, Brasília, com 9,35%; e Recife, com 9,43%.

Pior do que ter mais do que dobrado a meta do ano de 4,5%, a inflação de dois dígitos é um perigo para a economia, pois tende a estimular uma corrida pela remarcação de preços pelos agentes econômicos, que temem não conseguir repor os estoques com o capital empregado na mercadoria que está nas gôndolas e prateleiras. Foi essa uma das lições duramente aprendidas por boa parte dos brasileiros das gerações que vivenciaram a luta contra o dragão da hiperinflação.

É mal que, na maioria dos casos, também tem a característica de desmentir os que pretendem usar o falso álibi das crises externas. Neste ano, por exemplo, enquanto os preços do petróleo despencam no mundo, os da gasolina e do etanol disparam no Brasil. É resultado do congelamento equivocado do valor do litro da gasolina na bomba do posto da esquina, como forma de não desagradar ao eleitor. Agora, não há como evitar o reajuste acelerado dos combustíveis, que foram os maiores vilões da inflação em novembro. A gasolina subiu 6% nas refinarias em outubro, levando consigo os preços do etanol.

A segunda notícia ruim foi o desemprego, que tinha ficado estável em setembro e, agora, voltou a subir em outubro, chegando a 7,9%, conforme a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), realizada nas principais regiões metropolitanas do país. Segundo o IBGE, a fila do desemprego aumentou 67,5% em outubro em relação a setembro, a maior variação da série histórica, iniciada em março de 2002. Esse percentual corresponde a 771 mil pessoas a mais buscando vaga no mercado de trabalho.

Nem o comércio está empregando como normalmente faz nos meses anteriores ao Natal, num sintoma claro da falta de confiança do empresário na economia. É isso que governo e Congresso precisam levar em conta para acelerar a superação dos imbróglios políticos, premissa para a retomada de investimentos e empregos.

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