Depois do IBC-Br do terceiro trimestre, ampliou-se a convicção de que a contração da economia, ainda que em ritmo mais lento, vai atravessar todo o ano de 2016
Está prevista para daqui a dez dias a divulgação pelo IBGE da variação do PIB no terceiro trimestre do ano. Depois do resultado do Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) de setembro, anunciado pelo Banco Central nesta quarta-feira, restaram ainda menos dúvidas de que a economia continuou a mergulhar no terreno recessivo entre julho e setembro. Se, no começo do ano, predominava a expectativa de que o fundo do poço do atual ciclo de contração econômica fosse alcançado neste trimestre, essa possibilidade já foi adiada para 2017 ou, na melhor das hipóteses, para fins de 2016.
Consolidou-se a convicção de que a variação do PIB, em 2015, não será inferior a uma queda em torno de 3,5%, a mais acentuada desde o mergulho de 4,3% em 1990, ano do Plano Collor e do confisco das poupanças. Cresceu também a convicção de que 2016 não será, como alguns esperavam não faz tanto tempo, um ano de recuperação, e a recessão o atravessará ao longo dos trimestres. A julgar pelas projeções atuais, ampliou-se, isso sim, a possibilidade de que o nível de contração econômica, no próximo ano, se assemelhe ao previsto para este ano.
Há razões para acreditar que a deterioração dos indicadores econômicos ainda tem espaço para prosseguir e que a economia descerá a ladeira por mais tempo. Sob a ótica da demanda, a principal fonte de alimentação dessa perspectiva negativa tem agora origem no mercado de trabalho, que tende a consolidar uma combinação adversa de aumento da oferta de mão de obra com redução no volume de vagas existentes. Essa situação provoca contração da massa salarial pelo recuo de seus dois elementos — o nível de remuneração e o número de ocupados — e afeta, diretamente, o consumo das famílias, já pressionado pela inflação, que lhe subtrai poder de compra, e a inadimplência.
Não por coincidência, a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) de outubro, publicada ontem pelo IBGE, mostrou avanço na taxa de desemprego, que chegou a 7,9% da população ativa, quase o dobro da registrada há um ano. Também não por coincidência, o levantamento mostrou que a massa salarial real encolheu 1,5% sobre setembro e mais de 10% em relação a outubro do ano passado. Para complicar mais um pouco, a demanda perdeu o impulso do crédito, que também entrou em fase de retração.
Isso ocorreu pela dupla ação da redução, do lado dos tomadores, da procura por financiamento e da oferta, do lado dos emprestadores, pelo aumento do risco de calote. A anemia da demanda não só puxa o PIB diretamente para baixo como contribui para a retração do investimento, empurrando a economia ainda mais na linha descendente.
Não é difícil entender por que o investimento empreende uma longa marcha à ré. Fator crítico de impulsão da economia, o investimento se movimenta em função de pelo menos três variáveis: expectativas de absorção de produtos ou serviços pelo mercado; recursos próprios existentes/financiamento a custos aceitáveis; e taxas de retorno compatíveis. Nenhum desses três elementos está presente, no momento, na maior parte dos segmentos da economia. Para entender o potencial de retração dos investimentos, além disso, é preciso considerar tanto os estoques elevados, que derrubam qualquer intenção de ampliar a oferta, quanto os custos de produção ainda altos e os baixos índices de confiança.
Até em razão do aprofundamento da retração da economia, a descida da ladeira tende a se dar em ritmo cada vez mais lento. Em base trimestral, as projeções mais atualizadas apontam nessa direção. Do pico do recuo de 1,9% do PIB do segundo trimestre em comparação com o do primeiro trimestre deste ano, as estimativas apontam queda de 1% no terceiro e quarto trimestres de 2015 e retração de 0,5%, 0,1% ou 0,2% e estabilidade, ao longo de 2016. Não significa que o poço ficará mais raso, mas a sensação térmica será de frio um pouco menos intenso.
José Paulo Kupfer é jornalista
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