FOLHA DE SP - 13/11
Proliferam, mundo afora, acordos comerciais até entre rivais, enquanto o governo Dilma se omite
Reuniões de cúpula como a do G20, neste próximo fim de semana, servem sobretudo para falar de negócios entre os governantes.
Pena que o Brasil de Dilma Rousseff tenha pouco ou nada a dizer a respeito nos encontros previstos com pesos-pesados como Vladimir Putin, Barack Obama e Xi Jinping.
Pouco porque todos vêm de suculentas conversas em outra cúpula, a da Apec, sigla em inglês para Cooperação Econômica Ásia-Pacífico.
Com Putin, Dilma poderia falar da crise na Ucrânia, mas o Brasil não tem posição a respeito. Não é contra nem a favor da intervenção russa no país vizinho.
Com Xi, pode falar do banco dos Brics, um nada perto do que o líder chinês tratou com seus colegas da Apec e até com seu rival Obama.
Tratou, por exemplo, do relançamento da FTAAP (Área de Livre-Comércio Ásia-Pacífico), conglomerado de 21 países que representam 50% do PIB global e 44% do comércio planetário.
O Brasil, claro, está fora. Não é banhado pelo Pacífico. Mas também não tem acordos com os países banhados pelo Atlântico, exceto o cambaleante Mercosul.
Se a política externa brasileira tem um viés ideológico, no que prefiro não crer, então talvez Dilma possa aprender algo com Xi Jinping.
A China, como se sabe, é o único outro polo ideológico a contrapor-se ao capitalismo liberal americano com seu capitalismo de Estado.
Não obstante, assinou com Obama um acordo para liberalização do comércio de bens de tecnologia, que abrange algo em torno de US$ 1 trilhão em comércio, cerca de 45% do PIB brasileiro.
Será agora levado à Organização Mundial do Comércio, enquanto a Confederação Nacional da Indústria batalha, inutilmente, para que o Brasil entre no acordo, também em discussão na OMC, sobre liberalização do comércio de serviços.
É verdade que está prevista, paralelamente à cúpula do G20, uma reunião dos Brics, mas é puro cumprimento de tabela, como diriam os cronistas esportivos.
Se a China pode se entender com os EUA até em matéria de ambiente --justamente eles, os dois maiores poluidores--, para que vai dar bola para os Brics, que, sem ela, perderiam todo o sentido?
A Índia, também dos Brics, não está parada: vai negociar, à margem do G20, um acordo de livre-comércio com a anfitriã Austrália, que, aliás, também discute mecanismo idêntico com a China.
Até na área de segurança a Índia fala grosso, ao contrário do omisso Brasil: está relançando a chamada "Otan Asiática", aliança militar entre ela, Japão e Austrália.
Para ser justo, é preciso dizer que o Brasil também tenta estabelecer um mecanismo de defesa conjunta no âmbito sul-americano. Mas o avanço é lento, talvez porque a América do Sul tenha o mérito de não ter os problemas de segurança da Ásia e do Oriente Médio, por exemplo.
Numa triste compensação, tem sérios problemas com a criminalidade, que, se não for combatida em conjunto, não será derrotada.
Tudo somado, não há como deixar de citar o bordão do genial José Simão: quem fica parado é poste, cara Dilma.
quinta-feira, novembro 13, 2014
Dilma 15 e Lula 2003 - CARLOS ALBERTO SARDENBERG
O GLOBO - 13/11
Por necessidade, Lula voltou a campo. Quer levar Meirelles para a Fazenda, com poder para comandar e mudar a política econômica
O regime de superávit primário foi introduzido nas contas públicas brasileiras em 1999, no segundo mandato de FHC, em meio à crise de desvalorização do real. Até aquele momento, havia déficits e a dívida pública subia todos os anos. Os títulos do Tesouro Nacional, as promissórias do governo, eram papel podre no mercado internacional. Depois de dez anos seguidos de superávits — os mais altos no primeiro governo Lula — e de constante redução da dívida, o Brasil foi premiado com o grau de investimento em 2008. Lula comemorou dizendo que a gente finalmente se tornara um país sério.
Tudo melhorou: dívida menor, juros reais menores, inflação baixa e na meta, custo menor de financiamento no exterior. O regime de superávits primários (economia no orçamento para pagar juros e reduzir a dívida), o sistema de metas de inflação, também de 1999, e o câmbio flutuante formaram a base da estabilidade macroeconômica daqueles anos. É tudo isso que começou a ser derrubado no primeiro governo Dilma. Não por acaso, uma das agências, a Standard&Poors, reduziu a nota brasileira em março último.
Surpreende esse comportamento de Dilma? Não. Olhando um pouco para trás, fica mais fácil entender.
O PT combateu ferozmente todas as bases do Real. Prometia suspender pagamentos das dívidas interna e externa. Como dizia Lula, sim, ele mesmo, não fazia sentido gastar o dinheiro público pagando credores enquanto o povo passava fome.
Os economistas do partido, Guido Mantega à frente, diziam: fazer superávits primários elevados era “suicídio”, política recessiva e nefasta. A saída era aumentar o gasto público em tudo, de salários a obras, em vez de remunerar banqueiros e rentistas.
A campanha de Lula em 2002 começou com esses parâmetros. Mantega era o principal assessor econômico. Maria da Conceição Tavares, a inspiradora de documentos que pregavam a ruptura com o modelo neoliberal.
E aconteceu o quase milagre. Eleito em 2002, Lula, em vez de jogar fora o modelo FHC, mandou para o lixo todos os documentos petistas. Seguiu direitinho a cartilha ortodoxa. Fez superávits primários anuais superiores a 3% do Produto Interno Bruto, bastante elevados e previstos no plano anunciado por FHC em 1999, em acordo com o FMI.
Por que Lula mudou? Porque o dólar foi a R$ 4,00 na véspera de sua eleição; capitais fugiram do país; uma promissória do governo brasileiro de 100 dólares era negociada a 35 dólares, “junk bonds", puro lixo; o Tesouro não conseguia se financiar, ou seja, tomar mais dinheiro emprestado aqui mesmo, porque os credores, quando apareciam, exigiam juros absurdos.
Diziam os petistas que era a reação do capital internacional. Mas o que queriam? Quem seria idiota de financiar um governo que promete dar o calote?
A sorte é que Lula não era economista do PT, muito menos seu principal colaborador da época, o médico e político Antonio Palocci. Este convenceu o presidente eleito que a opção era simples: ou a cartilha ortodoxa ou o caos (inflação disparando, financiamento zero da dívida, calotes, recessão).
Lula topou. Por necessidade. Provavelmente, não estava convencido do acerto daquela política econômica, assim como provavelmente não se entusiasmava com a linha petista. Pragmático, usou a que cabia para o momento.
No governo, quando a situação se equilibrou, o mercado e o FMI ficaram felicíssimos e Lula pode então tocar seus programas sociais. E mais coisas neoliberais, como legislação que garantiu o sistema de crédito. Pois é, a coisa funcionava.
Mas com a ira dos economistas petistas, grupo que então já incluía a ministra Dilma. Durante vários momentos esse pessoal tentou derrubar Palocci e, especialmente, o então presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Guido Mantega se empenhou nisso. Lula quase topou em pelo menos uma ocasião. Luiz Gonzaga Belluzzo seria o presidente do BC.
Palocci caiu por outros motivos. Meirelles tocou o barco até o fim, com uma gestão independente no BC. Entregou estabilidade, inflação e juros menores, credibilidade.
Entra Dilma e começa a derrubar os pilares daquela base macroeconômica. Não anunciou que as metas mudavam, mas fez a coisa. Dizia ter compromisso com a meta de inflação de 4,5%, mas deixou-a correr para 6,5%. Dizia ter compromisso com a estabilidade das contas públicas, mas aumentou o gasto sistematicamente, enquanto reduzia o superávit primário, até transformá-lo em déficit.
O resultado dessa virada é isso aí: inflação alta, juros altos e estagnação.
Por necessidade, de novo, Lula voltou a campo. Quer levar Henrique Meirelles para o Ministério da Fazenda, com poderes para comandar e mudar a política econômica. Quer que Dilma 15 seja igual Lula 2003. Dilma resiste.
Exatamente a mesma disputa de 2002. Com uma diferença: o presidente era Lula.
Por necessidade, Lula voltou a campo. Quer levar Meirelles para a Fazenda, com poder para comandar e mudar a política econômica
O regime de superávit primário foi introduzido nas contas públicas brasileiras em 1999, no segundo mandato de FHC, em meio à crise de desvalorização do real. Até aquele momento, havia déficits e a dívida pública subia todos os anos. Os títulos do Tesouro Nacional, as promissórias do governo, eram papel podre no mercado internacional. Depois de dez anos seguidos de superávits — os mais altos no primeiro governo Lula — e de constante redução da dívida, o Brasil foi premiado com o grau de investimento em 2008. Lula comemorou dizendo que a gente finalmente se tornara um país sério.
Tudo melhorou: dívida menor, juros reais menores, inflação baixa e na meta, custo menor de financiamento no exterior. O regime de superávits primários (economia no orçamento para pagar juros e reduzir a dívida), o sistema de metas de inflação, também de 1999, e o câmbio flutuante formaram a base da estabilidade macroeconômica daqueles anos. É tudo isso que começou a ser derrubado no primeiro governo Dilma. Não por acaso, uma das agências, a Standard&Poors, reduziu a nota brasileira em março último.
Surpreende esse comportamento de Dilma? Não. Olhando um pouco para trás, fica mais fácil entender.
O PT combateu ferozmente todas as bases do Real. Prometia suspender pagamentos das dívidas interna e externa. Como dizia Lula, sim, ele mesmo, não fazia sentido gastar o dinheiro público pagando credores enquanto o povo passava fome.
Os economistas do partido, Guido Mantega à frente, diziam: fazer superávits primários elevados era “suicídio”, política recessiva e nefasta. A saída era aumentar o gasto público em tudo, de salários a obras, em vez de remunerar banqueiros e rentistas.
A campanha de Lula em 2002 começou com esses parâmetros. Mantega era o principal assessor econômico. Maria da Conceição Tavares, a inspiradora de documentos que pregavam a ruptura com o modelo neoliberal.
E aconteceu o quase milagre. Eleito em 2002, Lula, em vez de jogar fora o modelo FHC, mandou para o lixo todos os documentos petistas. Seguiu direitinho a cartilha ortodoxa. Fez superávits primários anuais superiores a 3% do Produto Interno Bruto, bastante elevados e previstos no plano anunciado por FHC em 1999, em acordo com o FMI.
Por que Lula mudou? Porque o dólar foi a R$ 4,00 na véspera de sua eleição; capitais fugiram do país; uma promissória do governo brasileiro de 100 dólares era negociada a 35 dólares, “junk bonds", puro lixo; o Tesouro não conseguia se financiar, ou seja, tomar mais dinheiro emprestado aqui mesmo, porque os credores, quando apareciam, exigiam juros absurdos.
Diziam os petistas que era a reação do capital internacional. Mas o que queriam? Quem seria idiota de financiar um governo que promete dar o calote?
A sorte é que Lula não era economista do PT, muito menos seu principal colaborador da época, o médico e político Antonio Palocci. Este convenceu o presidente eleito que a opção era simples: ou a cartilha ortodoxa ou o caos (inflação disparando, financiamento zero da dívida, calotes, recessão).
Lula topou. Por necessidade. Provavelmente, não estava convencido do acerto daquela política econômica, assim como provavelmente não se entusiasmava com a linha petista. Pragmático, usou a que cabia para o momento.
No governo, quando a situação se equilibrou, o mercado e o FMI ficaram felicíssimos e Lula pode então tocar seus programas sociais. E mais coisas neoliberais, como legislação que garantiu o sistema de crédito. Pois é, a coisa funcionava.
Mas com a ira dos economistas petistas, grupo que então já incluía a ministra Dilma. Durante vários momentos esse pessoal tentou derrubar Palocci e, especialmente, o então presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Guido Mantega se empenhou nisso. Lula quase topou em pelo menos uma ocasião. Luiz Gonzaga Belluzzo seria o presidente do BC.
Palocci caiu por outros motivos. Meirelles tocou o barco até o fim, com uma gestão independente no BC. Entregou estabilidade, inflação e juros menores, credibilidade.
Entra Dilma e começa a derrubar os pilares daquela base macroeconômica. Não anunciou que as metas mudavam, mas fez a coisa. Dizia ter compromisso com a meta de inflação de 4,5%, mas deixou-a correr para 6,5%. Dizia ter compromisso com a estabilidade das contas públicas, mas aumentou o gasto sistematicamente, enquanto reduzia o superávit primário, até transformá-lo em déficit.
O resultado dessa virada é isso aí: inflação alta, juros altos e estagnação.
Por necessidade, de novo, Lula voltou a campo. Quer levar Henrique Meirelles para o Ministério da Fazenda, com poderes para comandar e mudar a política econômica. Quer que Dilma 15 seja igual Lula 2003. Dilma resiste.
Exatamente a mesma disputa de 2002. Com uma diferença: o presidente era Lula.
Universo paralelo - DORA KRAMER
O ESTADÃO - 13/11
A presidente Dilma Rousseff procurou aparentar tranquilidade diante do gestual animoso escolhido pela senadora Marta Suplicy para deixar o ministério da Cultura. Acabou, porém, tropeçando nas palavras e atropelando a realidade.
Principalmente quando, na mesma entrevista dada no Catar a caminho da reunião do G-20, na Austrália, Dilma considerou que a reforma do Ministério não é uma questão urgente. "Vou fazer por partes", anunciou a presidente.
De duas, uma: ou se trata de mero despiste ou a chefe da Nação parece ser a única a não se dar conta de que o seu segundo mandato já começou. As circunstâncias não lhe oferecem período de carência. Carrega o ônus da vitória, sendo alvo de pressões de todo o lado. Não bastasse a oposição fortalecida e o maior partido aliado, o PMDB, em estado de rebelião surda, há movimentos estranhos partindo dentro do próprio PT, todo cheio de insatisfações.
Isso sem falar no que não se sabe que vem por aí em decorrência das investigações dos ilícitos cometidos na Petrobrás. Só se sabe que não é coisa de pequena monta. Nada está mais sob o controle do governo, há investigação no âmbito internacional, trata-se, pois, de um fato de ganhou pernas próprias. Estava desde o início claríssimo que o menor dos problemas nesse episódio era a repercussão eleitoral.
Desse caso é bem possível que se extrai uma terceira hipótese para alegada falta de pressa na reforma ministerial. Como envolve políticos da base governista e partidos que seriam contemplados com cargos na administração federal, é de se imaginar que a presidente esteja atuando com cautela.
Provavelmente aguardando informações mais seguras decorrentes dos acordos de delação premiada de Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef para não correr o risco de indicar pessoas que estejam envolvidas no esquema de corrupção montado na estatal sobre cuja existência já não resta dúvida.
De qualquer forma, a pasta da Fazenda estaria fora dessa zona de perigo. Ademais, a presidente havia indicado que anunciaria o nome após a reunião do G-20. Ontem deixou a questão em aberto. Esse tipo de ambiguidade pode até ter razões estratégicas, mas não ajuda a reconstruir o capital de confiabilidade, cuja erosão foi ainda mais aprofundada na campanha eleitoral. A palavra da presidente saiu dela gravemente ferida no quesito credibilidade e continua sendo massacrada. Em questões de maior ou menor relevância.
Por exemplo, a versão de que os termos e o rito da demissão de Marta Suplicy estavam previamente combinados entre as duas é inverossímil. Fosse assim, não teriam sido de surpresa e perplexidade as reações em Brasília. O ministro da Fazenda tampouco teria rebatido as críticas de Marta à equipe econômica.
Guido Mantega, aliás, ficou falando sozinho depois que Dilma resolveu dizer que a ministra demissionária nada havia feito de diferente "de outros ministros", todos, segundo a presidente, donos do pleno direito de "dar opinião".
Não foi o que se viu ao longo dos últimos quatro anos, não é o que se depreende das palavras e atitudes de Dilma, de Mantega e agora mesmo na justificativa da ministra do Planejamento, Miriam Belchior, ao Congresso sobre a proposta de alteração da meta fiscal. Não obstante as evidências de que há descontrole nas contas - expressas em todas as medidas pós-eleitorais - para o governo vai tudo bem e quem diz o contrário é mensageiro do fracasso.
A respeito do que entende como o perfeito direito "das pessoas de dar opinião", a presidente teve oportunidade de detalhar ao desautorizar especulações sobre a reforma ministerial: "O Palácio não fala. O Palácio é integrado por paredes mudas, só quem fala sobre reforma ministerial é esta modesta pessoa que vos fala aqui". Modéstia à parte.
A presidente Dilma Rousseff procurou aparentar tranquilidade diante do gestual animoso escolhido pela senadora Marta Suplicy para deixar o ministério da Cultura. Acabou, porém, tropeçando nas palavras e atropelando a realidade.
Principalmente quando, na mesma entrevista dada no Catar a caminho da reunião do G-20, na Austrália, Dilma considerou que a reforma do Ministério não é uma questão urgente. "Vou fazer por partes", anunciou a presidente.
De duas, uma: ou se trata de mero despiste ou a chefe da Nação parece ser a única a não se dar conta de que o seu segundo mandato já começou. As circunstâncias não lhe oferecem período de carência. Carrega o ônus da vitória, sendo alvo de pressões de todo o lado. Não bastasse a oposição fortalecida e o maior partido aliado, o PMDB, em estado de rebelião surda, há movimentos estranhos partindo dentro do próprio PT, todo cheio de insatisfações.
Isso sem falar no que não se sabe que vem por aí em decorrência das investigações dos ilícitos cometidos na Petrobrás. Só se sabe que não é coisa de pequena monta. Nada está mais sob o controle do governo, há investigação no âmbito internacional, trata-se, pois, de um fato de ganhou pernas próprias. Estava desde o início claríssimo que o menor dos problemas nesse episódio era a repercussão eleitoral.
Desse caso é bem possível que se extrai uma terceira hipótese para alegada falta de pressa na reforma ministerial. Como envolve políticos da base governista e partidos que seriam contemplados com cargos na administração federal, é de se imaginar que a presidente esteja atuando com cautela.
Provavelmente aguardando informações mais seguras decorrentes dos acordos de delação premiada de Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef para não correr o risco de indicar pessoas que estejam envolvidas no esquema de corrupção montado na estatal sobre cuja existência já não resta dúvida.
De qualquer forma, a pasta da Fazenda estaria fora dessa zona de perigo. Ademais, a presidente havia indicado que anunciaria o nome após a reunião do G-20. Ontem deixou a questão em aberto. Esse tipo de ambiguidade pode até ter razões estratégicas, mas não ajuda a reconstruir o capital de confiabilidade, cuja erosão foi ainda mais aprofundada na campanha eleitoral. A palavra da presidente saiu dela gravemente ferida no quesito credibilidade e continua sendo massacrada. Em questões de maior ou menor relevância.
Por exemplo, a versão de que os termos e o rito da demissão de Marta Suplicy estavam previamente combinados entre as duas é inverossímil. Fosse assim, não teriam sido de surpresa e perplexidade as reações em Brasília. O ministro da Fazenda tampouco teria rebatido as críticas de Marta à equipe econômica.
Guido Mantega, aliás, ficou falando sozinho depois que Dilma resolveu dizer que a ministra demissionária nada havia feito de diferente "de outros ministros", todos, segundo a presidente, donos do pleno direito de "dar opinião".
Não foi o que se viu ao longo dos últimos quatro anos, não é o que se depreende das palavras e atitudes de Dilma, de Mantega e agora mesmo na justificativa da ministra do Planejamento, Miriam Belchior, ao Congresso sobre a proposta de alteração da meta fiscal. Não obstante as evidências de que há descontrole nas contas - expressas em todas as medidas pós-eleitorais - para o governo vai tudo bem e quem diz o contrário é mensageiro do fracasso.
A respeito do que entende como o perfeito direito "das pessoas de dar opinião", a presidente teve oportunidade de detalhar ao desautorizar especulações sobre a reforma ministerial: "O Palácio não fala. O Palácio é integrado por paredes mudas, só quem fala sobre reforma ministerial é esta modesta pessoa que vos fala aqui". Modéstia à parte.
Irresponsabilidade fiscal - RENATO ANDRADE
FOLHA DE SP - 13/11
BRASÍLIA - O governo federal deu mais um passo firme em direção ao descrédito total em relação ao seu comprometimento com a transparência e a manutenção do equilíbrio das contas públicas do país.
A proposta apresentada pelo Palácio do Planalto para resolver a caótica situação de 2014 é a institucionalização da irresponsabilidade fiscal.
Se temos uma meta que não será alcançada de jeito algum, o melhor é esquecê-la e seguir em frente.
De forma simplificada, foi essa a solução encontrada pela equipe econômica, chancelada pela presidente Dilma e encaminhada ao Congresso.
Para resolver o descompasso entre despesas que avançam em ritmo contínuo e receitas minguantes, a opção encontrada foi ampliar o limite de descontos que podem ser aplicados sobre o volume de dinheiro que deveria ser economizado no ano.
Na prática, seguindo o que foi escrito no projeto de lei, o governo poderá fechar o ano com as contas no vermelho (como estão agora) e, ainda assim, Guido Mantega, Arno Augustin e demais colegas de equipe vão afirmar que a meta foi cumprida. Um verdadeiro espanto.
A forma como o país controla suas despesas e receitas não é um dogma. É uma política de governo. Para alguns, a melhor opção é manter o que FHC e Lula fizeram durante boa parte de seus mandatos: define-se quanto vai economizar por ano e aperta ou afrouxa os gastos de acordo com o andar da economia.
Os críticos dessa alternativa argumentam que o Estado brasileiro não pode abrir mão de vários programas sociais que seriam afetados com uma política muito restritiva de gastos. Mas cabe ao governo instalado definir sua política e apresentar de forma clara o que pretende fazer.
O que não faz sentido é afirmar em discurso que terá mão firme e na hora de fechar o balanço deixar tudo correr solto. Cantar o hino do Atlético Mineiro vestindo a camisa do Cruzeiro é o caminho certo para desagradar as duas torcidas.
BRASÍLIA - O governo federal deu mais um passo firme em direção ao descrédito total em relação ao seu comprometimento com a transparência e a manutenção do equilíbrio das contas públicas do país.
A proposta apresentada pelo Palácio do Planalto para resolver a caótica situação de 2014 é a institucionalização da irresponsabilidade fiscal.
Se temos uma meta que não será alcançada de jeito algum, o melhor é esquecê-la e seguir em frente.
De forma simplificada, foi essa a solução encontrada pela equipe econômica, chancelada pela presidente Dilma e encaminhada ao Congresso.
Para resolver o descompasso entre despesas que avançam em ritmo contínuo e receitas minguantes, a opção encontrada foi ampliar o limite de descontos que podem ser aplicados sobre o volume de dinheiro que deveria ser economizado no ano.
Na prática, seguindo o que foi escrito no projeto de lei, o governo poderá fechar o ano com as contas no vermelho (como estão agora) e, ainda assim, Guido Mantega, Arno Augustin e demais colegas de equipe vão afirmar que a meta foi cumprida. Um verdadeiro espanto.
A forma como o país controla suas despesas e receitas não é um dogma. É uma política de governo. Para alguns, a melhor opção é manter o que FHC e Lula fizeram durante boa parte de seus mandatos: define-se quanto vai economizar por ano e aperta ou afrouxa os gastos de acordo com o andar da economia.
Os críticos dessa alternativa argumentam que o Estado brasileiro não pode abrir mão de vários programas sociais que seriam afetados com uma política muito restritiva de gastos. Mas cabe ao governo instalado definir sua política e apresentar de forma clara o que pretende fazer.
O que não faz sentido é afirmar em discurso que terá mão firme e na hora de fechar o balanço deixar tudo correr solto. Cantar o hino do Atlético Mineiro vestindo a camisa do Cruzeiro é o caminho certo para desagradar as duas torcidas.
Estilhaços do discurso desamoroso EUGÊNIO BUCCI
O ESTADO DE S.PAULO - 13/11
Falando aos repórteres ontem, em Doha, a presidente Dilma Rousseff tentou minimizar, como se diz no jargão político, os efeitos do epistolar pedido de demissão de Marta Suplicy do Ministério da Cultura. "Ela não fez nada de errado", disse com ar de tranquilidade. "Não teve atitude incorreta. Apenas externou a opinião dela." A frieza pétrea de Dilma Rousseff era previsível, por certo. Acima disso, era indispensável. Chefe de um governo cujos ministros, às muitas dezenas, são quase todos demissionários, alguns reclamando abertamente da falta de sensibilidade da governante, ela precisa mostrar que segue imperturbável. Só lhe resta falar como se tudo não passasse de um rodízio de rotina.
Acontece que a "opinião externada" por Marta Suplicy foi um tranco impiedoso, nada rotineiro. De modo nem tão elegante assim, a ex-ministra da Cultura afirmou que faltam ao governo credibilidade econômica e uma agenda de estabilidade e crescimento. Crítica mais tucana, impossível. A provocação não poderia ter sido mais sádica. A carta de Marta, datada de terça passada, merece ser relida pelo menos neste trecho em que a acusação contra a gestão de Dilma, ainda que mal disfarçada por uma rala névoa diplomática, é frontal: "Todos nós, brasileiros, desejamos, neste momento, que a senhora seja iluminada ao escolher sua nova equipe de trabalho, a começar por uma equipe econômica independente, experiente e comprovada, que resgate a confiança e credibilidade ao seu governo e que, acima de tudo, esteja comprometida com uma nova agenda de estabilidade e crescimento para o nosso país."
Convenhamos: se todos os ministros, demissionários ou não, começarem a "externar opiniões" nesse diapasão, não há governo que pare de pé. Se uma presidente da República não tem dado conta de assegurar credibilidade, estabilidade e crescimento, o que mais poderá assegurar? Lembremos que dias antes da carta de Marta o ministro Gilberto Carvalho foi explícito em declarar que a chefe tem ido mal em matéria de dialogar com a sociedade. Definitivamente, não são pronunciamentos amenos, mas fissuras traumáticas que cindem o PT e o governo. Dilma toca o barco, sabe disso muito bem que não há nada de corriqueiro na Esplanada dos Ministérios. Sob o império de sua caneta o PT se estilhaça um pouco mais.
O estilhaçamento é particularmente doloroso porque segue a trilha de um desamor. Embora a política não deva ser lida como narrativa sentimental - e ao procurar separar as duas esferas a presidente adota uma postura mais adulta e menos deletéria do que outros à sua volta -, as falas mais agressivas que brotam do coração do seu governo contra o próprio coração do governo dão sinais de que uma guerra está em curso. Seus combatentes até que se esforçam para falar a língua da política, mas fracassam. Sua substância não é apenas política. Atabalhoadamente, a guerra descamba para o discurso amoroso, quer dizer, desamoroso, que mal esconde o desejo que ficou, por assim dizer, em aberto. Se alguém duvida, preste atenção na linguagem das batalhas.
"A linguagem é uma pele: esfrego minha linguagem contra o outro", escreve Roland Barthes em Fragmento de um Discurso Amoroso. "É como se eu tivesse palavras ao invés de dedos, ou dedos na ponta das palavras. Minha linguagem treme de desejo." No discurso desamoroso, contudo, quem orienta as palavras não é bem o desejo, mas o avesso do desejo, ou sua carcaça, que irrompe para renegar (aos gritos) aquele que teria sido o ser amado. Em lugar de envolver o outro como se tivesse dedos, o discurso, agora, travestido de uma trôpega razão política, tenta feri-lo e amaldiçoá-lo.
Durante a campanha eleitoral, sanguinária e sanguinolenta, vimos aflorar o ódio entre polos radicalizados de candidaturas opostas. Agora, vai se anunciando um ódio que consome (e já estava consumindo) um dos polos da disputa eleitoral, o polo que saiu vitorioso das urnas. As falas são políticas, mas as entrelinhas são apaixonadas e - vale insistir - desamorosas.
"O amor é a coisa mais triste quando se desfaz." E feia também. Contam que Marta Suplicy teria sido porta-voz do clamor subterrâneo petista que queria Lula no lugar de Dilma como candidato à Presidência em 2014. O movimento "volta, Lula" já era, ele mesmo, um sintoma da saudade de um idílio que se despedaçava, pois era uma investida do PT contra o próprio PT. Nesse sentido, já era um prenúncio do discurso desamoroso que agora se instalou de vez, com provas de ingratidão, setas de ciúme e fisgadas de abandono.
Há ainda um quê de crise familiar - igualmente amorosa - na guerra sentimental que se adensa no Palácio do Planalto. Parece uma família que se desmantela, com irmãos, cônjuges e cunhados, além de sogros e sogras, que se perdem uns dos outros para sempre, deixando seu legado para ninguém. Mais dia, menos dia, talvez se veja afixada por ali uma faixa com os dizeres: "Família vende tudo". Sem exagero.
Não é de hoje que a metáfora da família tem servido para descrever os descaminhos do PT. É conhecida a tirada de um senador petista que, quando indagado sobre a razão de ter ficado no partido mesmo depois de tantas provas de corrupção, diz que não se abandona a família só porque alguns de seus integrantes se portaram mal. Alguém poderia obstar: mas o partido a gente escolhe e a família, não. O partido é produto da vontade. Dele gente sai. Os laços internos do partido são políticos, os laços da família são de sangue - e são amorosos. Falar do partido como se ele fosse uma família é despolitizá-lo e, outra vez, confundir as esferas (ou mesmo as bolas).
Mas é o que é. É o que tem sido. Entre emoções intensas, cristais trincados e um fundo musical que vai do samba-canção à Tropicália, um discurso confuso e desamoroso, voluntário ou inconsciente, faz sangrar em público um sonho que não mais se reconhece.
Falando aos repórteres ontem, em Doha, a presidente Dilma Rousseff tentou minimizar, como se diz no jargão político, os efeitos do epistolar pedido de demissão de Marta Suplicy do Ministério da Cultura. "Ela não fez nada de errado", disse com ar de tranquilidade. "Não teve atitude incorreta. Apenas externou a opinião dela." A frieza pétrea de Dilma Rousseff era previsível, por certo. Acima disso, era indispensável. Chefe de um governo cujos ministros, às muitas dezenas, são quase todos demissionários, alguns reclamando abertamente da falta de sensibilidade da governante, ela precisa mostrar que segue imperturbável. Só lhe resta falar como se tudo não passasse de um rodízio de rotina.
Acontece que a "opinião externada" por Marta Suplicy foi um tranco impiedoso, nada rotineiro. De modo nem tão elegante assim, a ex-ministra da Cultura afirmou que faltam ao governo credibilidade econômica e uma agenda de estabilidade e crescimento. Crítica mais tucana, impossível. A provocação não poderia ter sido mais sádica. A carta de Marta, datada de terça passada, merece ser relida pelo menos neste trecho em que a acusação contra a gestão de Dilma, ainda que mal disfarçada por uma rala névoa diplomática, é frontal: "Todos nós, brasileiros, desejamos, neste momento, que a senhora seja iluminada ao escolher sua nova equipe de trabalho, a começar por uma equipe econômica independente, experiente e comprovada, que resgate a confiança e credibilidade ao seu governo e que, acima de tudo, esteja comprometida com uma nova agenda de estabilidade e crescimento para o nosso país."
Convenhamos: se todos os ministros, demissionários ou não, começarem a "externar opiniões" nesse diapasão, não há governo que pare de pé. Se uma presidente da República não tem dado conta de assegurar credibilidade, estabilidade e crescimento, o que mais poderá assegurar? Lembremos que dias antes da carta de Marta o ministro Gilberto Carvalho foi explícito em declarar que a chefe tem ido mal em matéria de dialogar com a sociedade. Definitivamente, não são pronunciamentos amenos, mas fissuras traumáticas que cindem o PT e o governo. Dilma toca o barco, sabe disso muito bem que não há nada de corriqueiro na Esplanada dos Ministérios. Sob o império de sua caneta o PT se estilhaça um pouco mais.
O estilhaçamento é particularmente doloroso porque segue a trilha de um desamor. Embora a política não deva ser lida como narrativa sentimental - e ao procurar separar as duas esferas a presidente adota uma postura mais adulta e menos deletéria do que outros à sua volta -, as falas mais agressivas que brotam do coração do seu governo contra o próprio coração do governo dão sinais de que uma guerra está em curso. Seus combatentes até que se esforçam para falar a língua da política, mas fracassam. Sua substância não é apenas política. Atabalhoadamente, a guerra descamba para o discurso amoroso, quer dizer, desamoroso, que mal esconde o desejo que ficou, por assim dizer, em aberto. Se alguém duvida, preste atenção na linguagem das batalhas.
"A linguagem é uma pele: esfrego minha linguagem contra o outro", escreve Roland Barthes em Fragmento de um Discurso Amoroso. "É como se eu tivesse palavras ao invés de dedos, ou dedos na ponta das palavras. Minha linguagem treme de desejo." No discurso desamoroso, contudo, quem orienta as palavras não é bem o desejo, mas o avesso do desejo, ou sua carcaça, que irrompe para renegar (aos gritos) aquele que teria sido o ser amado. Em lugar de envolver o outro como se tivesse dedos, o discurso, agora, travestido de uma trôpega razão política, tenta feri-lo e amaldiçoá-lo.
Durante a campanha eleitoral, sanguinária e sanguinolenta, vimos aflorar o ódio entre polos radicalizados de candidaturas opostas. Agora, vai se anunciando um ódio que consome (e já estava consumindo) um dos polos da disputa eleitoral, o polo que saiu vitorioso das urnas. As falas são políticas, mas as entrelinhas são apaixonadas e - vale insistir - desamorosas.
"O amor é a coisa mais triste quando se desfaz." E feia também. Contam que Marta Suplicy teria sido porta-voz do clamor subterrâneo petista que queria Lula no lugar de Dilma como candidato à Presidência em 2014. O movimento "volta, Lula" já era, ele mesmo, um sintoma da saudade de um idílio que se despedaçava, pois era uma investida do PT contra o próprio PT. Nesse sentido, já era um prenúncio do discurso desamoroso que agora se instalou de vez, com provas de ingratidão, setas de ciúme e fisgadas de abandono.
Há ainda um quê de crise familiar - igualmente amorosa - na guerra sentimental que se adensa no Palácio do Planalto. Parece uma família que se desmantela, com irmãos, cônjuges e cunhados, além de sogros e sogras, que se perdem uns dos outros para sempre, deixando seu legado para ninguém. Mais dia, menos dia, talvez se veja afixada por ali uma faixa com os dizeres: "Família vende tudo". Sem exagero.
Não é de hoje que a metáfora da família tem servido para descrever os descaminhos do PT. É conhecida a tirada de um senador petista que, quando indagado sobre a razão de ter ficado no partido mesmo depois de tantas provas de corrupção, diz que não se abandona a família só porque alguns de seus integrantes se portaram mal. Alguém poderia obstar: mas o partido a gente escolhe e a família, não. O partido é produto da vontade. Dele gente sai. Os laços internos do partido são políticos, os laços da família são de sangue - e são amorosos. Falar do partido como se ele fosse uma família é despolitizá-lo e, outra vez, confundir as esferas (ou mesmo as bolas).
Mas é o que é. É o que tem sido. Entre emoções intensas, cristais trincados e um fundo musical que vai do samba-canção à Tropicália, um discurso confuso e desamoroso, voluntário ou inconsciente, faz sangrar em público um sonho que não mais se reconhece.
Tombos progressivos - CELSO MING
O ESTADÃO - 13/11
A derrubada das cotações é parte de fenômeno que alcança praticamente todas as commodities. É fator de enorme gravidade que atinge em cheio a economia do Brasil, que fatura em torno de US$ 125 bilhões por ano, apenas com exportações de commodities
O Citibank advertiu na terça-feira que o preço do minério de ferro está a caminho de um escorregão até o nível dos US$ 50 por tonelada. Hoje, está à altura dos US$ 75, menor preço em mais de cinco anos. Mas, em fevereiro de 2011, chegara muito perto dos US$ 200.
É essa perspectiva de perda seguida de faturamento que vem derrubando as ações da Companhia Vale, uma das três maiores fornecedoras de minério de ferro do mundo. Nos últimos 12 meses, desvalorizaram-se 36%.
A derrubada das cotações é parte de fenômeno mais amplo, que alcança praticamente todas as commodities. É fator de enorme gravidade que atinge em cheio a economia do Brasil, que fatura em torno de US$ 125 bilhões por ano, apenas com exportações de commodities.
Em nenhum momento o governo Dilma deu a entender que está consciente das implicações que o fim da bonança externa, de preços exuberantes das commodities, que durou mais de dez anos, terá para a economia brasileira. Sempre que o governo se manifestou sobre o desempenho insatisfatório das exportações foi para atribuí-lo ou à ação da estiagem ou da crise externa, como se se tratasse de problemas passageiros de pronta reversão.
A queda de preços das commodities apenas episodicamente se explica por quebra de consumo global. No momento, o fator decisivo é o aumento da oferta em ritmo superior ao da demanda. Foi o que aconteceu com o petróleo, que enfrenta a revolução do xisto nos Estados Unidos. E é, também, o que está acontecendo com o minério de ferro. Não foram apenas as três grandes (Vale , Rio Tinto e BHP Billiton) que intensificaram investimentos e produção. Milhares de pequenas mineradoras aproveitaram os preços recordes para empurrar a produção para todos os mercados do planeta.
Ainda que insatisfatório, há, sim, crescimento econômico global. Em 2014, o PIB dos Estados Unidos deve avançar 2,2%; o da área do euro, 0,8%; o do Japão, 1,0%. A China, principal importadora de matérias-primas, apenas deixou de crescer àquela velocidade, de 10% ou 12% ao ano. Hoje, sua atividade econômica marcha a ainda altamente invejáveis 7,5% ao ano.
A derrubada dos preços do petróleo e das demais commodities tem densidade para produzir grandes vítimas e mais crises. A Rússia, importante exportadora de petróleo e gás, deverá passar por graves apuros. A Venezuela, que já vinha afundando, vai afundar mais ainda, porque seu orçamento só conseguiria fechar se o petróleo estivesse acima dos US$ 120 por barril de 159 litros (hoje está a US$ 77). A Argentina, que vem sangrando há anos, vai sangrar ainda mais. E, ontem, o secretário do Tesouro da Austrália, Joe Hockey, alarmado com a quebra das exportações de minério de ferro, pediu diversificação da economia.
O Brasil já vinha acusando deterioração no balanço de pagamentos, a contabilidade que registra entrada e saída de recursos. Mas até agora ostentava invejável superávit no intercâmbio de mercadorias (balança comercial). Agora tenderá a produzir déficit, possivelmente já neste ano. E o enfraquecimento das contas externas exigirá mais concessões e mais empenho em atrair dólares para garantir os pagamentos sem perda das reservas.
A perda de faturamento com exportações não é o único impacto na economia brasileira. À medida que as receitas dos exportadores também encolherem, menos recursos circularão pela economia, com prejuízo inevitável para o consumo e para o emprego.
A derrubada das cotações é parte de fenômeno que alcança praticamente todas as commodities. É fator de enorme gravidade que atinge em cheio a economia do Brasil, que fatura em torno de US$ 125 bilhões por ano, apenas com exportações de commodities
O Citibank advertiu na terça-feira que o preço do minério de ferro está a caminho de um escorregão até o nível dos US$ 50 por tonelada. Hoje, está à altura dos US$ 75, menor preço em mais de cinco anos. Mas, em fevereiro de 2011, chegara muito perto dos US$ 200.
É essa perspectiva de perda seguida de faturamento que vem derrubando as ações da Companhia Vale, uma das três maiores fornecedoras de minério de ferro do mundo. Nos últimos 12 meses, desvalorizaram-se 36%.
A derrubada das cotações é parte de fenômeno mais amplo, que alcança praticamente todas as commodities. É fator de enorme gravidade que atinge em cheio a economia do Brasil, que fatura em torno de US$ 125 bilhões por ano, apenas com exportações de commodities.
Em nenhum momento o governo Dilma deu a entender que está consciente das implicações que o fim da bonança externa, de preços exuberantes das commodities, que durou mais de dez anos, terá para a economia brasileira. Sempre que o governo se manifestou sobre o desempenho insatisfatório das exportações foi para atribuí-lo ou à ação da estiagem ou da crise externa, como se se tratasse de problemas passageiros de pronta reversão.
A queda de preços das commodities apenas episodicamente se explica por quebra de consumo global. No momento, o fator decisivo é o aumento da oferta em ritmo superior ao da demanda. Foi o que aconteceu com o petróleo, que enfrenta a revolução do xisto nos Estados Unidos. E é, também, o que está acontecendo com o minério de ferro. Não foram apenas as três grandes (Vale , Rio Tinto e BHP Billiton) que intensificaram investimentos e produção. Milhares de pequenas mineradoras aproveitaram os preços recordes para empurrar a produção para todos os mercados do planeta.
Ainda que insatisfatório, há, sim, crescimento econômico global. Em 2014, o PIB dos Estados Unidos deve avançar 2,2%; o da área do euro, 0,8%; o do Japão, 1,0%. A China, principal importadora de matérias-primas, apenas deixou de crescer àquela velocidade, de 10% ou 12% ao ano. Hoje, sua atividade econômica marcha a ainda altamente invejáveis 7,5% ao ano.
A derrubada dos preços do petróleo e das demais commodities tem densidade para produzir grandes vítimas e mais crises. A Rússia, importante exportadora de petróleo e gás, deverá passar por graves apuros. A Venezuela, que já vinha afundando, vai afundar mais ainda, porque seu orçamento só conseguiria fechar se o petróleo estivesse acima dos US$ 120 por barril de 159 litros (hoje está a US$ 77). A Argentina, que vem sangrando há anos, vai sangrar ainda mais. E, ontem, o secretário do Tesouro da Austrália, Joe Hockey, alarmado com a quebra das exportações de minério de ferro, pediu diversificação da economia.
O Brasil já vinha acusando deterioração no balanço de pagamentos, a contabilidade que registra entrada e saída de recursos. Mas até agora ostentava invejável superávit no intercâmbio de mercadorias (balança comercial). Agora tenderá a produzir déficit, possivelmente já neste ano. E o enfraquecimento das contas externas exigirá mais concessões e mais empenho em atrair dólares para garantir os pagamentos sem perda das reservas.
A perda de faturamento com exportações não é o único impacto na economia brasileira. À medida que as receitas dos exportadores também encolherem, menos recursos circularão pela economia, com prejuízo inevitável para o consumo e para o emprego.
Lento e sem direção - MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 13/11
O governo queimou a largada. Já haveria novo clima econômico no país se nos primeiros dias fossem anunciados o nome do ministro da Fazenda e novas medidas. A demora consolida a impressão de que nada vai mudar. A segunda chance será quando for divulgado o nome do novo ministro. A ideia é trocar não apenas o titular da pasta. Já se sabe que Arno Augustin sairá da Secretaria do Tesouro.
Augustin continua com prestígio no governo, mas a convicção que se tem é que as alterações das regras fiscais implementadas sob o comando dele o deixaram queimado. Por isso é que ele deixa a Secretaria. Não há reprovação ao que ele fez, mas a avaliação de que ele está vinculado a um estilo de administração das contas públicas que foi muito criticado.
Busca-se o perfil de um nome com boa aceitação no mercado financeiro ou boa reputação acadêmica, mas o governo acha que pode ser alterada a avaliação negativa sobre a política econômica pelo conjunto das mudanças nos ministérios econômicos e nos postos-chave da área.
Não há críticas ao ministro Guido Mantega, pelo contrário, o que se ouve são elogios à forma como ele enfrentou os momentos mais difíceis da crise, evitando o pior. Mantega está saindo por razões pessoais. Essa expressão é desgastada e já foi muitas vezes usada, em qualquer governo, para esconder os motivos. Mas no caso do Mantega é mesmo fruto de sua intenção de se dedicar mais às questões pessoais, depois de 13 anos como ministro, primeiro no Planejamento e depois na Fazenda.
Quem ouve economistas de fora do governo, bancos e consultorias tem noção clara de que o grau de deterioração da confiança no segundo mandato, que ainda nem começou, está ocorrendo muito mais rapidamente do que se esperava e já se reflete nos preços dos ativos. As primeiras reações do Planalto, a demora de escolha da equipe, os sinais de que não será feita qualquer mudança relevante de rumo só confirmam o pessimismo em relação à capacidade de o governo virar o jogo com a força que deveria. A gota d"água foi a maneira de burlar a meta fiscal com um pedido de que se amplie os descontos, em vez de ser um real corte de gastos e o compromisso com uma meta crível.
No governo, a eleição é vista como demonstração de que o país entendeu que a crise atual é passageira e reflexo da crise internacional, mas que foi bem administrada por preservar o emprego. No mercado financeiro, consultorias e empresas de áreas diversas, a avaliação é que o governo acertou num primeiro momento da administração da crise, em 2008, mas depois foi cometendo erros sucessivos e hoje está em completo descrédito.
Ainda há tempo de reverter esse clima com a nomeação de alguém que não apenas tenha credibilidade, mas monte uma boa equipe e demonstre ter autonomia para a tomada de decisões. Conspira contra esse cenário o temperamento da presidente e suas convicções econômicas. Foi exatamente essa mistura que nos trouxe até aqui: o país está estagnado com inflação alta e rombo nas contas públicas.
O que não se entende é por que o governo que concorria à reeleição e disse que tinha para o novo mandato "ideias novas" até agora não as apresentou. Essa sensação de coisa já vista está piorando as expectativas de empresários e investidores.
As consequências desse ambiente de estagnação estão em indicadores como os divulgados ontem: voltou a reduzir o total de trabalhadores na indústria. A largada para um bom 2015 tinha que ser nos primeiros dias após o resultado das urnas. Mas ainda há tempo de reverter o clima. Cada dia de espera, no entanto, conta contra esse cenário.
O governo queimou a largada. Já haveria novo clima econômico no país se nos primeiros dias fossem anunciados o nome do ministro da Fazenda e novas medidas. A demora consolida a impressão de que nada vai mudar. A segunda chance será quando for divulgado o nome do novo ministro. A ideia é trocar não apenas o titular da pasta. Já se sabe que Arno Augustin sairá da Secretaria do Tesouro.
Augustin continua com prestígio no governo, mas a convicção que se tem é que as alterações das regras fiscais implementadas sob o comando dele o deixaram queimado. Por isso é que ele deixa a Secretaria. Não há reprovação ao que ele fez, mas a avaliação de que ele está vinculado a um estilo de administração das contas públicas que foi muito criticado.
Busca-se o perfil de um nome com boa aceitação no mercado financeiro ou boa reputação acadêmica, mas o governo acha que pode ser alterada a avaliação negativa sobre a política econômica pelo conjunto das mudanças nos ministérios econômicos e nos postos-chave da área.
Não há críticas ao ministro Guido Mantega, pelo contrário, o que se ouve são elogios à forma como ele enfrentou os momentos mais difíceis da crise, evitando o pior. Mantega está saindo por razões pessoais. Essa expressão é desgastada e já foi muitas vezes usada, em qualquer governo, para esconder os motivos. Mas no caso do Mantega é mesmo fruto de sua intenção de se dedicar mais às questões pessoais, depois de 13 anos como ministro, primeiro no Planejamento e depois na Fazenda.
Quem ouve economistas de fora do governo, bancos e consultorias tem noção clara de que o grau de deterioração da confiança no segundo mandato, que ainda nem começou, está ocorrendo muito mais rapidamente do que se esperava e já se reflete nos preços dos ativos. As primeiras reações do Planalto, a demora de escolha da equipe, os sinais de que não será feita qualquer mudança relevante de rumo só confirmam o pessimismo em relação à capacidade de o governo virar o jogo com a força que deveria. A gota d"água foi a maneira de burlar a meta fiscal com um pedido de que se amplie os descontos, em vez de ser um real corte de gastos e o compromisso com uma meta crível.
No governo, a eleição é vista como demonstração de que o país entendeu que a crise atual é passageira e reflexo da crise internacional, mas que foi bem administrada por preservar o emprego. No mercado financeiro, consultorias e empresas de áreas diversas, a avaliação é que o governo acertou num primeiro momento da administração da crise, em 2008, mas depois foi cometendo erros sucessivos e hoje está em completo descrédito.
Ainda há tempo de reverter esse clima com a nomeação de alguém que não apenas tenha credibilidade, mas monte uma boa equipe e demonstre ter autonomia para a tomada de decisões. Conspira contra esse cenário o temperamento da presidente e suas convicções econômicas. Foi exatamente essa mistura que nos trouxe até aqui: o país está estagnado com inflação alta e rombo nas contas públicas.
O que não se entende é por que o governo que concorria à reeleição e disse que tinha para o novo mandato "ideias novas" até agora não as apresentou. Essa sensação de coisa já vista está piorando as expectativas de empresários e investidores.
As consequências desse ambiente de estagnação estão em indicadores como os divulgados ontem: voltou a reduzir o total de trabalhadores na indústria. A largada para um bom 2015 tinha que ser nos primeiros dias após o resultado das urnas. Mas ainda há tempo de reverter o clima. Cada dia de espera, no entanto, conta contra esse cenário.
Não aprenderam nada - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 13/11
O que é mais chocante neste episódio do descumprimento da meta de superávit primário, ferindo a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), é a postura dos principais dirigentes do governo, a começar pela própria presidente Dilma, a prenunciar que nada será alterado no segundo mandato.
O secretário do Tesouro, Arno Augustin, que deve se transformar no segundo mandato em um conselheiro especial com amplos poderes no Palácio do Planalto, disse recentemente, para justificar o déficit, que o governo fez "o que era melhor para o país", como se isso dependesse da vontade de alguns poucos iluminados e tivesse que ser aceito por toda a sociedade como uma verdade irreversível.
O comportamento da ministra do Planejamento, Miriam Belchior, ao encaminhar o pedido formal ao Congresso para mudar a meta combinada anteriormente, também foi espantoso. Além de não apresentar um documento com uma justificativa técnica razoável, ela ainda se deu ao luxo de não informar qual o superávit que o governo estaria disposto a cumprir este ano.
Pela proposta original da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), o governo se comprometia a fazer um superávit equivalente a 3,1% do PIB e podia abater da meta R$ 67 bilhões de obras e desonerações. A meta já fora reduzida para 1,9% do PIB com a aprovação do Congresso, mas agora o governo, além de não ter uma meta a propor, quer que seja permitido o abatimento de tudo o que for gasto com o PAC e desonerações. "Faremos o maior superávit possível", limitou-se a dizer a ministra do Planejamento, sem se comprometer com uma nova meta.
Mesmo esse vago compromisso já parece não ser possível de cumprir, pois analistas econômicos já garantem que teremos mesmo um déficit ao final do ano. Com o déficit de R$ 20,399 bilhões nas contas do governo central em setembro, o resultado acumulado no ano passou de um superávit para um déficit primário de R$ 15,705 bilhões, a primeira vez que isso ocorre desde 1997, quando teve início da série histórica.
Esse déficit tem explicações objetivas: o aumento dos gastos do governo nas eleições, desonerações de tributos e crescimento reduzido - que deve ser perto de zero este ano -, o que reduziu também a arrecadação de impostos. O governo, porém, atribui os problemas na economia a fatores externos, como a crise internacional e fenômenos climáticos como a seca, que contribuiu para fomentar a inflação com o encarecimento de alimentos.
A presidente Dilma entrou no debate na sua viagem para a reunião do G20 e resolveu nos comparar aos seus integrantes. "Dos 20 países do G20 (grupo das maiores economias do mundo), 17 estão hoje numa situação de ter déficit fiscal. Nós estamos no zero. Estamos até numa situação um pouco melhor". Da palavra da ministra Belchior para a presidente reeleita, já passamos de um superávit qualquer para zero, e com louvor.
Mas Dilma foi adiante: "Nós temos uma das menores dívidas líquidas sobre o PIB, 35%, e a média dos países do G20 é acima de 60%. A nossa situação é bastante diferenciada. Nenhum deles está cumprindo superávit primário", ressaltou. Como sempre, a presidente ressaltou o que lhe é favorável, e esqueceu o que neutraliza esse raciocínio. A diferença é que um país como o Brasil rola sua dívida líquida pagando cerca de 15% de juro real, enquanto os demais países em melhores situações fiscais pagam cerca de 1%. Um caso emblemático é o do Japão, que tem 200% de dívida líquida, mas paga juros negativos.
E por que isso acontece? Justamente devido a nossa fragilidade fiscal provocada por contabilidade criativa que não dá confiança aos credores. Quando o governo dá dinheiro ao BNDES, cresce a dívida bruta e a líquida fica inalterada. Mas os juros sobre a dívida líquida sobem. Mudar novamente a meta de superávit primário, sem se comprometer com meta alguma, é o pior caminho que o governo poderia trilhar, especialmente quando se prepara para um novo mandato e, com essas atitudes, manda sinais de que teremos mais do mesmo nos próximos anos.
É sinal de que não aprenderam nada com os problemas que criaram para eles próprios.
O que é mais chocante neste episódio do descumprimento da meta de superávit primário, ferindo a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), é a postura dos principais dirigentes do governo, a começar pela própria presidente Dilma, a prenunciar que nada será alterado no segundo mandato.
O secretário do Tesouro, Arno Augustin, que deve se transformar no segundo mandato em um conselheiro especial com amplos poderes no Palácio do Planalto, disse recentemente, para justificar o déficit, que o governo fez "o que era melhor para o país", como se isso dependesse da vontade de alguns poucos iluminados e tivesse que ser aceito por toda a sociedade como uma verdade irreversível.
O comportamento da ministra do Planejamento, Miriam Belchior, ao encaminhar o pedido formal ao Congresso para mudar a meta combinada anteriormente, também foi espantoso. Além de não apresentar um documento com uma justificativa técnica razoável, ela ainda se deu ao luxo de não informar qual o superávit que o governo estaria disposto a cumprir este ano.
Pela proposta original da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), o governo se comprometia a fazer um superávit equivalente a 3,1% do PIB e podia abater da meta R$ 67 bilhões de obras e desonerações. A meta já fora reduzida para 1,9% do PIB com a aprovação do Congresso, mas agora o governo, além de não ter uma meta a propor, quer que seja permitido o abatimento de tudo o que for gasto com o PAC e desonerações. "Faremos o maior superávit possível", limitou-se a dizer a ministra do Planejamento, sem se comprometer com uma nova meta.
Mesmo esse vago compromisso já parece não ser possível de cumprir, pois analistas econômicos já garantem que teremos mesmo um déficit ao final do ano. Com o déficit de R$ 20,399 bilhões nas contas do governo central em setembro, o resultado acumulado no ano passou de um superávit para um déficit primário de R$ 15,705 bilhões, a primeira vez que isso ocorre desde 1997, quando teve início da série histórica.
Esse déficit tem explicações objetivas: o aumento dos gastos do governo nas eleições, desonerações de tributos e crescimento reduzido - que deve ser perto de zero este ano -, o que reduziu também a arrecadação de impostos. O governo, porém, atribui os problemas na economia a fatores externos, como a crise internacional e fenômenos climáticos como a seca, que contribuiu para fomentar a inflação com o encarecimento de alimentos.
A presidente Dilma entrou no debate na sua viagem para a reunião do G20 e resolveu nos comparar aos seus integrantes. "Dos 20 países do G20 (grupo das maiores economias do mundo), 17 estão hoje numa situação de ter déficit fiscal. Nós estamos no zero. Estamos até numa situação um pouco melhor". Da palavra da ministra Belchior para a presidente reeleita, já passamos de um superávit qualquer para zero, e com louvor.
Mas Dilma foi adiante: "Nós temos uma das menores dívidas líquidas sobre o PIB, 35%, e a média dos países do G20 é acima de 60%. A nossa situação é bastante diferenciada. Nenhum deles está cumprindo superávit primário", ressaltou. Como sempre, a presidente ressaltou o que lhe é favorável, e esqueceu o que neutraliza esse raciocínio. A diferença é que um país como o Brasil rola sua dívida líquida pagando cerca de 15% de juro real, enquanto os demais países em melhores situações fiscais pagam cerca de 1%. Um caso emblemático é o do Japão, que tem 200% de dívida líquida, mas paga juros negativos.
E por que isso acontece? Justamente devido a nossa fragilidade fiscal provocada por contabilidade criativa que não dá confiança aos credores. Quando o governo dá dinheiro ao BNDES, cresce a dívida bruta e a líquida fica inalterada. Mas os juros sobre a dívida líquida sobem. Mudar novamente a meta de superávit primário, sem se comprometer com meta alguma, é o pior caminho que o governo poderia trilhar, especialmente quando se prepara para um novo mandato e, com essas atitudes, manda sinais de que teremos mais do mesmo nos próximos anos.
É sinal de que não aprenderam nada com os problemas que criaram para eles próprios.
Contabilidade criativa chega ao apogeu - EDITORIAL O GLOBO
O GLOBO - 13/11
A poucas semanas do fim do exercício, não pode ser levada a sério a afirmação que o governo não consegue prever como suas contas encerrarão o ano
Os números relativos a setembro não deixaram dúvida sobre a impossibilidade de o governo federal atingir as metas fiscais definidas na Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2014 — o déficit primário histórico de R$ 20,3 bilhões pulverizou qualquer possibilidade de algum superávit aceitável. No entanto, as autoridades fazendárias continuaram blefando ao garantir que haveria uma recuperação do superávit no último trimestre do ano. O segundo turno das eleições estavam bem próximas, e se admitissem o fracasso da política fiscal — com seus efeitos nocivos sobre o combate à inflação, as contas externas e o crescimento da economia — talvez pusessem em risco a vitória tão apertada da presidente Dilma no pleito.
O reconhecimento implícito da política desastrosa que praticaram acabou vindo esta semana. Formalmente, para não serem punidos pela Lei de Responsabilidade Fiscal devido ao descumprimento da meta de 1,9% do PIB, as autoridades econômicas baixaram uma medida provisória esdrúxula, pela qual este e demais objetivos desaparecem, já que todas as desonerações de tributos e mais os desembolsos para investimentos inseridos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) são descontados do déficit primário que o Tesouro acumulou.
Uma parcela dos investimentos já era descontada da meta “cheia” de superávit primário, mas agora o governo deixou de lado todos os escrúpulos e retirou o limite para essa dedução. Assim, o primeiro mandato da presidente Dilma vai se encerrar com a chamada contabilidade criativa das finanças públicas atingindo o apogeu. A ministra do Planejamento, Miriam Belchior, “assegurou” em depoimento à Comissão Mista do orçamento, no Congresso, que o governo fechará as contas em 2014 com superávit primário, o máximo que for possível. E como o comportamento da receita está “errático”, não poderia se comprometer com números específicos. Ora, faltando apenas poucas semanas para encerramento do exercício fiscal, se as autoridades não são hoje capazes de projetar a trajetória de suas receitas e despesas, talvez fosse mais honesto por parte da ministra declarar “salve-se quem puder”, pois este é um governo que não tem mais controle sobre suas finanças.
Não será possível começar o segundo mandato nesse quadro calamitoso. É urgente que a presidente Dilma componha sua nova equipe econômica com nomes de reconhecida credibilidade e capacidade para pôr a casa em ordem. A economia brasileira está na eminência de ser rebaixada na classificação de agências internacionais de avaliação de risco, ficando a um passo de perder o grau de investimento conquistado a duras penas. A cada rebaixamento, ficará mais difícil financiar os déficits gêmeos, das contas externas e das finanças públicas, o que, por sua vez, se refletirá em mais inflação e menos crescimento econômico.
A poucas semanas do fim do exercício, não pode ser levada a sério a afirmação que o governo não consegue prever como suas contas encerrarão o ano
Os números relativos a setembro não deixaram dúvida sobre a impossibilidade de o governo federal atingir as metas fiscais definidas na Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2014 — o déficit primário histórico de R$ 20,3 bilhões pulverizou qualquer possibilidade de algum superávit aceitável. No entanto, as autoridades fazendárias continuaram blefando ao garantir que haveria uma recuperação do superávit no último trimestre do ano. O segundo turno das eleições estavam bem próximas, e se admitissem o fracasso da política fiscal — com seus efeitos nocivos sobre o combate à inflação, as contas externas e o crescimento da economia — talvez pusessem em risco a vitória tão apertada da presidente Dilma no pleito.
O reconhecimento implícito da política desastrosa que praticaram acabou vindo esta semana. Formalmente, para não serem punidos pela Lei de Responsabilidade Fiscal devido ao descumprimento da meta de 1,9% do PIB, as autoridades econômicas baixaram uma medida provisória esdrúxula, pela qual este e demais objetivos desaparecem, já que todas as desonerações de tributos e mais os desembolsos para investimentos inseridos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) são descontados do déficit primário que o Tesouro acumulou.
Uma parcela dos investimentos já era descontada da meta “cheia” de superávit primário, mas agora o governo deixou de lado todos os escrúpulos e retirou o limite para essa dedução. Assim, o primeiro mandato da presidente Dilma vai se encerrar com a chamada contabilidade criativa das finanças públicas atingindo o apogeu. A ministra do Planejamento, Miriam Belchior, “assegurou” em depoimento à Comissão Mista do orçamento, no Congresso, que o governo fechará as contas em 2014 com superávit primário, o máximo que for possível. E como o comportamento da receita está “errático”, não poderia se comprometer com números específicos. Ora, faltando apenas poucas semanas para encerramento do exercício fiscal, se as autoridades não são hoje capazes de projetar a trajetória de suas receitas e despesas, talvez fosse mais honesto por parte da ministra declarar “salve-se quem puder”, pois este é um governo que não tem mais controle sobre suas finanças.
Não será possível começar o segundo mandato nesse quadro calamitoso. É urgente que a presidente Dilma componha sua nova equipe econômica com nomes de reconhecida credibilidade e capacidade para pôr a casa em ordem. A economia brasileira está na eminência de ser rebaixada na classificação de agências internacionais de avaliação de risco, ficando a um passo de perder o grau de investimento conquistado a duras penas. A cada rebaixamento, ficará mais difícil financiar os déficits gêmeos, das contas externas e das finanças públicas, o que, por sua vez, se refletirá em mais inflação e menos crescimento econômico.
Ofendendo com a verdade - EDITORIAL O ESTADÃO
O ESTADO DE S.PAULO - 13/11
Ao bater com força a porta de saída do Ministério da Cultura, enquanto a chefe Dilma Rousseff desfrutava de uma escala reparadora no Catar, a caminho da reunião do G-20 na Austrália, a senadora Marta Teresa Smith de Vasconcelos Suplicy foi coerente com o senso de oportunidade, voluntarismo e vontade de poder pelos quais se tornou conhecida ao longo de sua carreira política. A psicóloga - ou melhor, sexóloga -, que entrou para o PT para acompanhar o seu então marido Eduardo, sempre teve preferência por modelos de camiseta vermelha confortáveis para os seus desenvoltos lances pessoais. E quando deixassem de estar disponíveis, por decisão dos companheiros, eles que se arranjassem para recompensá-la por vestir, a contragosto, peças que se amoldavam aos interesses do partido.
Dona de uma herdade de votos nos redutos petistas da periferia de São Paulo, só aceitou entrar em campo para transferi-los a Fernando Haddad, o candidato escolhido por Lula, em seu lugar, para a disputa da Prefeitura em 2012, em troca da nomeação para a pasta que acaba de deixar. E o fez, com estudada estridência, como primeiro lance de uma operação para, em 2016, reconquistar o cargo que exerceu, em meio a polêmicas que polarizaram a cidade, de 2001 a 2005. Se não coroada pelo PT - Lula defende abertamente a candidatura Haddad à reeleição -, por outra sigla. O novo porto de abrigo para as suas ambições poderá ser o PMDB do vice-presidente Michel Temer, do qual o marido de Marta, o ex-presidente do Jockey Club de São Paulo Marcio Toledo, é amigo próximo.
É bem verdade que na sua carta de demissão Marta afirma que volta ao Senado para representar São Paulo "por mais quatro anos" (o seu mandato expira em fevereiro de 2019). Mas ela decerto não será a primeira nem a última autoridade política a prometer que não deixará um cargo em busca de outro antes da hora. De todo modo, o que deu ao texto o impacto pretendido pela autora foram as passagens em que faz com a presidente o que um antigo dito popular desaconselha por seu caráter particularmente cruel - ofender com a verdade. Depois de reclamar das "carências orçamentárias" com as quais teve a se haver em seus dois anos e dois meses de ministra - numa agulhada no ainda ministro da Fazenda, Guido Mantega, por quem nutre notória antipatia -, aspergiu vitríolo na política econômica de que o pré-demitido foi apenas submisso executor.
Ela resumiu o que os setores informados da população acham da gestão da economia sob Dilma, valendo-se da esperteza retórica de desejar a sua antítese no segundo mandato. Disse fazer votos, como todos os brasileiros, para que ela "seja iluminada" para escolher "uma equipe econômica independente, experiente e comprovada que resgate a confiança e credibilidade ao seu governo" - cada palavra um adereço pontiagudo - "e que, acima de tudo, esteja comprometida com uma nova agenda de estabilidade e crescimento para o nosso país". E para deixar claro que essas não podem ser mudanças cosméticas, arrematou: "Isto é o que hoje o Brasil, ansiosamente, aguarda e espera". Isto é também o que Lula já disse entre quatro paredes à afilhada. Marta, cujas relações com o ex-presidente, de quem foi ministra do Turismo, oscilam entre o afeto e o atrito, foi defensora declarada e ativa do "Volta Lula".
Na recente campanha, mal se abalou em acudir Dilma em São Paulo. Agora, esmerou-se em arranhar a sua considerável autoestima. Não só protocolou a carta no Planalto sabendo que a presidente já tinha viajado, como a publicou no Facebook. Jornalistas registraram o desconforto da comitiva de Dilma, quando a má notícia a apanhou em Doha, no Catar. A demissão era esperada. Marta apresentou o pedido na semana passada, mas parecia ter sido persuadida a esperar a entrega conjunta dos cargos ministeriais, numa demonstração de harmonia, antecedendo a divulgação dos novos titulares. Resta saber o que ofendeu mais a presidente - a substância da carta ou o acinte com que foi divulgada. Para salvar a face, disse que Marta já lhe havia dado ciência do texto e que não havia mal-estar entre elas. A ex-ministra "apenas externou uma opinião". Há eufemismos para tudo.
Ao bater com força a porta de saída do Ministério da Cultura, enquanto a chefe Dilma Rousseff desfrutava de uma escala reparadora no Catar, a caminho da reunião do G-20 na Austrália, a senadora Marta Teresa Smith de Vasconcelos Suplicy foi coerente com o senso de oportunidade, voluntarismo e vontade de poder pelos quais se tornou conhecida ao longo de sua carreira política. A psicóloga - ou melhor, sexóloga -, que entrou para o PT para acompanhar o seu então marido Eduardo, sempre teve preferência por modelos de camiseta vermelha confortáveis para os seus desenvoltos lances pessoais. E quando deixassem de estar disponíveis, por decisão dos companheiros, eles que se arranjassem para recompensá-la por vestir, a contragosto, peças que se amoldavam aos interesses do partido.
Dona de uma herdade de votos nos redutos petistas da periferia de São Paulo, só aceitou entrar em campo para transferi-los a Fernando Haddad, o candidato escolhido por Lula, em seu lugar, para a disputa da Prefeitura em 2012, em troca da nomeação para a pasta que acaba de deixar. E o fez, com estudada estridência, como primeiro lance de uma operação para, em 2016, reconquistar o cargo que exerceu, em meio a polêmicas que polarizaram a cidade, de 2001 a 2005. Se não coroada pelo PT - Lula defende abertamente a candidatura Haddad à reeleição -, por outra sigla. O novo porto de abrigo para as suas ambições poderá ser o PMDB do vice-presidente Michel Temer, do qual o marido de Marta, o ex-presidente do Jockey Club de São Paulo Marcio Toledo, é amigo próximo.
É bem verdade que na sua carta de demissão Marta afirma que volta ao Senado para representar São Paulo "por mais quatro anos" (o seu mandato expira em fevereiro de 2019). Mas ela decerto não será a primeira nem a última autoridade política a prometer que não deixará um cargo em busca de outro antes da hora. De todo modo, o que deu ao texto o impacto pretendido pela autora foram as passagens em que faz com a presidente o que um antigo dito popular desaconselha por seu caráter particularmente cruel - ofender com a verdade. Depois de reclamar das "carências orçamentárias" com as quais teve a se haver em seus dois anos e dois meses de ministra - numa agulhada no ainda ministro da Fazenda, Guido Mantega, por quem nutre notória antipatia -, aspergiu vitríolo na política econômica de que o pré-demitido foi apenas submisso executor.
Ela resumiu o que os setores informados da população acham da gestão da economia sob Dilma, valendo-se da esperteza retórica de desejar a sua antítese no segundo mandato. Disse fazer votos, como todos os brasileiros, para que ela "seja iluminada" para escolher "uma equipe econômica independente, experiente e comprovada que resgate a confiança e credibilidade ao seu governo" - cada palavra um adereço pontiagudo - "e que, acima de tudo, esteja comprometida com uma nova agenda de estabilidade e crescimento para o nosso país". E para deixar claro que essas não podem ser mudanças cosméticas, arrematou: "Isto é o que hoje o Brasil, ansiosamente, aguarda e espera". Isto é também o que Lula já disse entre quatro paredes à afilhada. Marta, cujas relações com o ex-presidente, de quem foi ministra do Turismo, oscilam entre o afeto e o atrito, foi defensora declarada e ativa do "Volta Lula".
Na recente campanha, mal se abalou em acudir Dilma em São Paulo. Agora, esmerou-se em arranhar a sua considerável autoestima. Não só protocolou a carta no Planalto sabendo que a presidente já tinha viajado, como a publicou no Facebook. Jornalistas registraram o desconforto da comitiva de Dilma, quando a má notícia a apanhou em Doha, no Catar. A demissão era esperada. Marta apresentou o pedido na semana passada, mas parecia ter sido persuadida a esperar a entrega conjunta dos cargos ministeriais, numa demonstração de harmonia, antecedendo a divulgação dos novos titulares. Resta saber o que ofendeu mais a presidente - a substância da carta ou o acinte com que foi divulgada. Para salvar a face, disse que Marta já lhe havia dado ciência do texto e que não havia mal-estar entre elas. A ex-ministra "apenas externou uma opinião". Há eufemismos para tudo.
Salário integral para os médicos cubanos - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR
GAZETA DO POVO - PR - 13/11
Os cubanos do Mais Médicos têm todo o direito de receber os R$ 10 mil mensais, em vez de ver o dinheiro circular em curiosas triangulações
Uma grande injustiça – motivada por pura camaradagem ideológica – está para ser corrigida, se o Ministério Público Federal tiver sucesso em uma empreitada em favor dos cubanos que vieram ao Brasil integrando o programa Mais Médicos. Tramitam na Justiça Federal uma ação civil pública e uma ação popular exigindo que os cubanos recebam integralmente o valor de R$ 10 mil mensais, pagos a todos os demais estrangeiros que também estão atuando no país como parte do mesmo programa.
Segundo dados da Agência Brasil, o Mais Médicos hoje conta com 14 mil profissionais em locais que até então estavam carentes de atendimento – e 80% deles são cubanos. Mas, enquanto os outros estrangeiros recebem normalmente seus R$ 10 mil mensais, o governo brasileiro ignorou completamente a legislação trabalhista no caso dos cubanos e firmou uma parceria com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), que funcionaria como intermediária. O dinheiro seria enviado a essa entidade, que o repassaria a Havana, que só então faria o pagamento aos médicos, com um detalhe: os profissionais provavelmente só ficam com menos da metade do valor pago – é impossível saber ao certo, porque o governo brasileiro alega que a Opas não informa a União sobre os termos exatos do contrato, justificando-se com uma “cláusula de confidencialidade”. Baseando-se na análise de convênios entre Cuba e outros países, a estimativa é de que os médicos só ficam com 30% do valor. A médica Ramona Rodríguez, a primeira a fugir da vigilância cubana no Brasil, disse ganhar menos de 10% do que seus pares de outros países recebiam.
O MP afirma, em uma das ações, que o Brasil gastou R$ 510 milhões com os médicos cubanos só em 2013, mas, como diz a ação, “não se sabe como exatamente esse montante foi aplicado”. A procuradora Luciana Loureiro fala em “descontrole”. Incrível é que o governo brasileiro, na hora de assinar a parceria, tenha concordado em se manter na ignorância sobre o destino do dinheiro. Mas, olhando o caso mais de perto, talvez essa ignorância seja um tanto voluntária. Afinal, se o salário dos médicos não está indo totalmente para as mãos dos profissionais, é porque parte dele está sendo embolsada pela ditadura cubana, da qual o governo brasileiro é aliado incondicional. Os Castro precisam desesperadamente de dinheiro e vivem atrás de financiadores: depois da extinta União Soviética, foi a vez da Venezuela; agora que o chavismo está afundado em seus próprios problemas, é preciso achar outra galinha de ovos de ouro.
A importação de médicos não é o problema. Se há estrangeiros dispostos a trabalhar nos locais aonde os brasileiros não querem ir – seja por causa do salário, seja pelas condições de trabalho, seja por outros motivos igualmente legítimos –, que esse interesse seja aproveitado pelo bem da população local. É claro que isso vale também para os cubanos. E, em casos extremos, se justifica inclusive a dispensa do Revalida, exame que atesta a capacidade do médico formado no exterior e cuja aplicação no caso do Mais Médicos era exigida pelas associações de classe. Afinal, em uma situação de emergência, um médico sem Revalida é infinitamente melhor que médico nenhum. O que não se pode aceitar, de forma alguma, é que um profissional tenha parte do seu salário confiscada graças a um contrato cujos termos mal são conhecidos. Ainda mais quando é quase certo que esse confisco está servindo para financiar uma ditadura, violadora contumaz dos direitos humanos. Que a Justiça Federal perceba a injustiça a que os médicos cubanos estão sendo submetidos e lhes restitua o que é seu direito.
Os cubanos do Mais Médicos têm todo o direito de receber os R$ 10 mil mensais, em vez de ver o dinheiro circular em curiosas triangulações
Uma grande injustiça – motivada por pura camaradagem ideológica – está para ser corrigida, se o Ministério Público Federal tiver sucesso em uma empreitada em favor dos cubanos que vieram ao Brasil integrando o programa Mais Médicos. Tramitam na Justiça Federal uma ação civil pública e uma ação popular exigindo que os cubanos recebam integralmente o valor de R$ 10 mil mensais, pagos a todos os demais estrangeiros que também estão atuando no país como parte do mesmo programa.
Segundo dados da Agência Brasil, o Mais Médicos hoje conta com 14 mil profissionais em locais que até então estavam carentes de atendimento – e 80% deles são cubanos. Mas, enquanto os outros estrangeiros recebem normalmente seus R$ 10 mil mensais, o governo brasileiro ignorou completamente a legislação trabalhista no caso dos cubanos e firmou uma parceria com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), que funcionaria como intermediária. O dinheiro seria enviado a essa entidade, que o repassaria a Havana, que só então faria o pagamento aos médicos, com um detalhe: os profissionais provavelmente só ficam com menos da metade do valor pago – é impossível saber ao certo, porque o governo brasileiro alega que a Opas não informa a União sobre os termos exatos do contrato, justificando-se com uma “cláusula de confidencialidade”. Baseando-se na análise de convênios entre Cuba e outros países, a estimativa é de que os médicos só ficam com 30% do valor. A médica Ramona Rodríguez, a primeira a fugir da vigilância cubana no Brasil, disse ganhar menos de 10% do que seus pares de outros países recebiam.
O MP afirma, em uma das ações, que o Brasil gastou R$ 510 milhões com os médicos cubanos só em 2013, mas, como diz a ação, “não se sabe como exatamente esse montante foi aplicado”. A procuradora Luciana Loureiro fala em “descontrole”. Incrível é que o governo brasileiro, na hora de assinar a parceria, tenha concordado em se manter na ignorância sobre o destino do dinheiro. Mas, olhando o caso mais de perto, talvez essa ignorância seja um tanto voluntária. Afinal, se o salário dos médicos não está indo totalmente para as mãos dos profissionais, é porque parte dele está sendo embolsada pela ditadura cubana, da qual o governo brasileiro é aliado incondicional. Os Castro precisam desesperadamente de dinheiro e vivem atrás de financiadores: depois da extinta União Soviética, foi a vez da Venezuela; agora que o chavismo está afundado em seus próprios problemas, é preciso achar outra galinha de ovos de ouro.
A importação de médicos não é o problema. Se há estrangeiros dispostos a trabalhar nos locais aonde os brasileiros não querem ir – seja por causa do salário, seja pelas condições de trabalho, seja por outros motivos igualmente legítimos –, que esse interesse seja aproveitado pelo bem da população local. É claro que isso vale também para os cubanos. E, em casos extremos, se justifica inclusive a dispensa do Revalida, exame que atesta a capacidade do médico formado no exterior e cuja aplicação no caso do Mais Médicos era exigida pelas associações de classe. Afinal, em uma situação de emergência, um médico sem Revalida é infinitamente melhor que médico nenhum. O que não se pode aceitar, de forma alguma, é que um profissional tenha parte do seu salário confiscada graças a um contrato cujos termos mal são conhecidos. Ainda mais quando é quase certo que esse confisco está servindo para financiar uma ditadura, violadora contumaz dos direitos humanos. Que a Justiça Federal perceba a injustiça a que os médicos cubanos estão sendo submetidos e lhes restitua o que é seu direito.
Reforma sem controle - EDITORIAL FOLHA DE SP
FOLHA DE SP - 13/11
Ministros pedem demissão sem que a presidente Dilma, do outro lado do mundo, pareça conduzir o processo de mudança em seu gabinete
Várias hipóteses podem ser formuladas a partir da atitude da senadora Marta Suplicy (PT-SP), que na terça-feira (11) pediu demissão do Ministério da Cultura.
Uma coisa, todavia, parece fora de dúvida. Com tantos ministros colocando à disposição seus cargos enquanto a presidente Dilma Rousseff (PT) nem sequer se encontra no país, fica a impressão de que o Planalto se vê às voltas com uma movimentação que não controla nem soube planejar.
A sensação de desencontro se agrava com o papel exercido no episódio pelo chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante. Depois da intempestiva decisão de Marta, o coordenador político do governo teria tentado minimizar o que havia de disruptivo no gesto da companheira de partido.
Segundo se noticia, Mercadante acionou os demais membros do primeiro escalão para que antecipassem uma movimentação que em tese ocorreria na próxima semana. Ao mesmo tempo, a Casa Civil nega que se tenha articulado uma renúncia coletiva.
Não ficou menor, em qualquer caso, o impacto da saída de Marta, sobretudo pelos termos críticos da carta que a acompanhou. Mas seu real significado não se deixa analisar com facilidade.
Manifestando votos de que a presidente escolha "uma equipe econômica independente, experiente e comprovada", capaz de resgatar "a confiança e a credibilidade de seu governo", Marta teria dado voz às expectativas do ex-presidente Lula, adepto de uma correção de rumos na atual administração.
Cabe lembrar que outro ministro próximo de Lula tem dado indicações de inconformidade com o estilo de Dilma. Ao atual governo faltou diálogo, disse Gilberto Carvalho, chefe da Secretaria-Geral da Presidência, com "os principais atores na economia e na política"; além disso, teriam faltado ações concretas para atender reivindicações sociais.
O lulismo, talvez ainda mais exposto do que Dilma às revelações em torno da Petrobras, parece mostrar seu poder de pressão, com críticas nominalmente de "esquerda" e de "direita" ao atual governo.
Não se excluem, ao mesmo tempo, as pretensões eleitorais da própria Marta Suplicy, cujo caminho para a sucessão de Fernando Haddad na Prefeitura de São Paulo se vê obstaculizado dentro do PT.
Enquanto isso, do outro lado do mundo, Dilma Rousseff é quem menos aparenta ter a condução do processo. A pretendida reforma ministerial assume estranho ares de debandada.
O capital próprio da presidente, enquanto liderança política, nunca foi notável; mostra-se, todavia, mais frágil a cada dia que passa.
Ministros pedem demissão sem que a presidente Dilma, do outro lado do mundo, pareça conduzir o processo de mudança em seu gabinete
Várias hipóteses podem ser formuladas a partir da atitude da senadora Marta Suplicy (PT-SP), que na terça-feira (11) pediu demissão do Ministério da Cultura.
Uma coisa, todavia, parece fora de dúvida. Com tantos ministros colocando à disposição seus cargos enquanto a presidente Dilma Rousseff (PT) nem sequer se encontra no país, fica a impressão de que o Planalto se vê às voltas com uma movimentação que não controla nem soube planejar.
A sensação de desencontro se agrava com o papel exercido no episódio pelo chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante. Depois da intempestiva decisão de Marta, o coordenador político do governo teria tentado minimizar o que havia de disruptivo no gesto da companheira de partido.
Segundo se noticia, Mercadante acionou os demais membros do primeiro escalão para que antecipassem uma movimentação que em tese ocorreria na próxima semana. Ao mesmo tempo, a Casa Civil nega que se tenha articulado uma renúncia coletiva.
Não ficou menor, em qualquer caso, o impacto da saída de Marta, sobretudo pelos termos críticos da carta que a acompanhou. Mas seu real significado não se deixa analisar com facilidade.
Manifestando votos de que a presidente escolha "uma equipe econômica independente, experiente e comprovada", capaz de resgatar "a confiança e a credibilidade de seu governo", Marta teria dado voz às expectativas do ex-presidente Lula, adepto de uma correção de rumos na atual administração.
Cabe lembrar que outro ministro próximo de Lula tem dado indicações de inconformidade com o estilo de Dilma. Ao atual governo faltou diálogo, disse Gilberto Carvalho, chefe da Secretaria-Geral da Presidência, com "os principais atores na economia e na política"; além disso, teriam faltado ações concretas para atender reivindicações sociais.
O lulismo, talvez ainda mais exposto do que Dilma às revelações em torno da Petrobras, parece mostrar seu poder de pressão, com críticas nominalmente de "esquerda" e de "direita" ao atual governo.
Não se excluem, ao mesmo tempo, as pretensões eleitorais da própria Marta Suplicy, cujo caminho para a sucessão de Fernando Haddad na Prefeitura de São Paulo se vê obstaculizado dentro do PT.
Enquanto isso, do outro lado do mundo, Dilma Rousseff é quem menos aparenta ter a condução do processo. A pretendida reforma ministerial assume estranho ares de debandada.
O capital próprio da presidente, enquanto liderança política, nunca foi notável; mostra-se, todavia, mais frágil a cada dia que passa.
A farra sem limites - EDITORIAL O ESTADÃO
O ESTADO DE S.PAULO - 13/11
Depois de quatro anos de farra e de irresponsabilidade no manejo das contas públicas, a presidente Dilma Rousseff pede ao Congresso a legalização da esbórnia fiscal - em outras palavras, a abertura de uma porta para qualquer desmando em seu segundo mandato. Para abrir essa porta, senadores e deputados terão somente de aprovar o projeto de alteração da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) deste ano, enviado ao Legislativo na terça-feira. Pelo projeto, o governo poderá até converter em superávit um déficit primário, realizando uma façanha até agora fora do alcance de sua mundialmente famosa contabilidade criativa. Será a desmoralização final do regime de metas fiscais, um dos pilares cada vez mais precários da também precária estabilidade econômica. Os outros dois pilares, o sistema de metas de inflação e o esquema de câmbio flexível, também foram severamente erodidos a partir de 2011, por uma mistura corrosiva de populismo, incompetência e permissividade.
De janeiro a setembro, a receita líquida do governo central foi 6,4% maior que a de um ano antes, em valores correntes. Mas a despesa ficou 13,2% acima da contabilizada nos mesmos nove meses de 2013. Com a despesa crescendo o dobro da receita, outras explicações soam como escárnio. Mas o governo insiste em posar como vítima das circunstâncias.
Se o projeto for aprovado, a presidente Dilma Rousseff será autorizada a abater da meta de superávit primário um valor maior que a própria meta. Essa mágica tornará possível transformar um valor negativo em positivo. Será um passo importante para a conversão da contabilidade pública em alquimia.
Mas quem escrever essa história terá de levar em conta vários passos anteriores. A LDO fixou como meta para o governo central, neste ano, um superávit primário de R$ 116,1 bilhões, mas com abate possível de até R$ 67 bilhões para acomodar investimentos federais.
No começo do ano, o Executivo reviu as contas e diminuiu o desconto para R$ 35 bilhões, adotando como objetivo real um superávit de R$ 80,8 bilhões, destinado ao pagamento de juros. Em setembro, mais R$ 32 bilhões foram adicionados ao desconto e a meta caiu para R$ 49 bilhões. Mas em outubro, quando foram divulgados os números acumulados até o mês anterior, nem esse resultado parecia possível. O desastre fiscal havia surpreendido até os menos otimistas.
Pelos cálculos do Ministério da Fazenda, o governo central - Tesouro, Banco Central (BC) e Previdência - teve em nove meses um déficit primário de R$ 15,7 bilhões. Ou seja, ficou no vermelho mesmo sem contar os juros pagos. É como se um cidadão entrasse no cheque especial mesmo sem pagar as prestações da geladeira e do carro. Pelo critério do BC, baseado na necessidade de financiamento do setor público, o governo central teve um déficit primário de R$ 19,47 bilhões em nove meses. Somado o resultado das estatais federais, o buraco chegou a R$ 20,66 bilhões.
Um saldo equilibrado no fim do ano é quase inimaginável, pelo menos enquanto o governo só dispuser da atual contabilidade criativa (dividendos, pedaladas financeiras, bônus de concessões, etc.). Apesar disso, a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, mencionou no Congresso, ao defender a mudança da LDO, a possibilidade de superávit primário em 2014. Se o Congresso aprovar descontos ilimitados da meta fiscal, essa mágica aritmética será concebível. Até outubro, a soma de investimentos e desonerações, de R$ 135 bilhões, superou a meta original de superávit primário.
Mas nem os especialistas têm dado suficiente atenção ao problema geral das contas públicas. Nos 12 meses até setembro, o déficit nominal - incluídos os juros - equivaleu a 4,92% do PIB, segundo o BC. O do governo central correspondeu a 3,75%. Em 2013 a média dos déficits da zona do euro ficou em 2,9%. A da União Europeia, em 3,2%. Os dados deste ano são parecidos. Em relação às contas públicas, o Brasil está, portanto, bem pior que países mais afetados pela crise de 2008. Mas o País, segundo a ministra Belchior, está em situação "bastante confortável".
Depois de quatro anos de farra e de irresponsabilidade no manejo das contas públicas, a presidente Dilma Rousseff pede ao Congresso a legalização da esbórnia fiscal - em outras palavras, a abertura de uma porta para qualquer desmando em seu segundo mandato. Para abrir essa porta, senadores e deputados terão somente de aprovar o projeto de alteração da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) deste ano, enviado ao Legislativo na terça-feira. Pelo projeto, o governo poderá até converter em superávit um déficit primário, realizando uma façanha até agora fora do alcance de sua mundialmente famosa contabilidade criativa. Será a desmoralização final do regime de metas fiscais, um dos pilares cada vez mais precários da também precária estabilidade econômica. Os outros dois pilares, o sistema de metas de inflação e o esquema de câmbio flexível, também foram severamente erodidos a partir de 2011, por uma mistura corrosiva de populismo, incompetência e permissividade.
De janeiro a setembro, a receita líquida do governo central foi 6,4% maior que a de um ano antes, em valores correntes. Mas a despesa ficou 13,2% acima da contabilizada nos mesmos nove meses de 2013. Com a despesa crescendo o dobro da receita, outras explicações soam como escárnio. Mas o governo insiste em posar como vítima das circunstâncias.
Se o projeto for aprovado, a presidente Dilma Rousseff será autorizada a abater da meta de superávit primário um valor maior que a própria meta. Essa mágica tornará possível transformar um valor negativo em positivo. Será um passo importante para a conversão da contabilidade pública em alquimia.
Mas quem escrever essa história terá de levar em conta vários passos anteriores. A LDO fixou como meta para o governo central, neste ano, um superávit primário de R$ 116,1 bilhões, mas com abate possível de até R$ 67 bilhões para acomodar investimentos federais.
No começo do ano, o Executivo reviu as contas e diminuiu o desconto para R$ 35 bilhões, adotando como objetivo real um superávit de R$ 80,8 bilhões, destinado ao pagamento de juros. Em setembro, mais R$ 32 bilhões foram adicionados ao desconto e a meta caiu para R$ 49 bilhões. Mas em outubro, quando foram divulgados os números acumulados até o mês anterior, nem esse resultado parecia possível. O desastre fiscal havia surpreendido até os menos otimistas.
Pelos cálculos do Ministério da Fazenda, o governo central - Tesouro, Banco Central (BC) e Previdência - teve em nove meses um déficit primário de R$ 15,7 bilhões. Ou seja, ficou no vermelho mesmo sem contar os juros pagos. É como se um cidadão entrasse no cheque especial mesmo sem pagar as prestações da geladeira e do carro. Pelo critério do BC, baseado na necessidade de financiamento do setor público, o governo central teve um déficit primário de R$ 19,47 bilhões em nove meses. Somado o resultado das estatais federais, o buraco chegou a R$ 20,66 bilhões.
Um saldo equilibrado no fim do ano é quase inimaginável, pelo menos enquanto o governo só dispuser da atual contabilidade criativa (dividendos, pedaladas financeiras, bônus de concessões, etc.). Apesar disso, a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, mencionou no Congresso, ao defender a mudança da LDO, a possibilidade de superávit primário em 2014. Se o Congresso aprovar descontos ilimitados da meta fiscal, essa mágica aritmética será concebível. Até outubro, a soma de investimentos e desonerações, de R$ 135 bilhões, superou a meta original de superávit primário.
Mas nem os especialistas têm dado suficiente atenção ao problema geral das contas públicas. Nos 12 meses até setembro, o déficit nominal - incluídos os juros - equivaleu a 4,92% do PIB, segundo o BC. O do governo central correspondeu a 3,75%. Em 2013 a média dos déficits da zona do euro ficou em 2,9%. A da União Europeia, em 3,2%. Os dados deste ano são parecidos. Em relação às contas públicas, o Brasil está, portanto, bem pior que países mais afetados pela crise de 2008. Mas o País, segundo a ministra Belchior, está em situação "bastante confortável".
COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO
Mensaleiros teriam de devolver dinheiro roubado
Agora livres, leves e soltos, José Genoino, José Dirceu, Delúbio Soares e Valdemar Costa Neto não deveriam pregar o olho, caso temessem a lei: o inciso 4 do artigo 33 do Código Penal condiciona a progressão da pena à reparação do dano ou devolução do ilícito: R$ 141 milhões, segundo a ação penal do “mensalão”. Só pagaram multas e ganharam prisão domiciliar. O dinheiro roubado? Ninguém sabe, ninguém viu.
Saiu barato
Genoino, Dirceu e Delúbio pagaram R$2,5 milhões de multas aplicadas pelo Supremo, a maior parte na base de “vaquinha da companherada”.
Pagou, saiu
O ex-presidente da Câmara dos Deputados João Paulo Cunha ainda está preso por não haver pago os R$ 536,4 mil da multa a ele atribuída.
Moreira continua
O PMDB já dá como certa a permanência do ministro Moreira Franco na Secretaria de Aviação Civil. Ele é da cota pessoal de Michel Temer.
Só depois do dia 25
Michel Temer avisou ontem a deputados do PMDB que conversas sobre ministérios só a partir do dia 25, quando Dilma voltar do G20.
Banqueiro ligado a Lula ataca o governo Dilma
Após longo namoro com o governo, decorrente das estreitas relações com Lula, de quem se fez “resolvedor-geral” de problemas, o banqueiro André Esteves (BTG Pactual) optou pela oposição nas eleições. E apenas duas semanas depois da vitória de Dilma, atacou: “Vejo um governo mais do mesmo, falta confiança”. Seu banco foi mais concreto: anunciou o rebaixamento da recomendação ao Brasil “diante das incertezas com relação ao novo governo e aos ministérios.”
Sócio crítico
Curiosamente, o neo-oposicionista André Esteves é sócio do governo, por meio da Caixa, e tenta assumir a área de seguros da instituição.
Agora vai
O governo quer tirar do traço a TV Brasil, a TV do Lula: firmou parceria de programação com o Instituto Cubano de Radio y Televisión.
Cheiro de queimado
O ministro Thomas Traumann (Comunicação) é cada vez menos solicitado por Dilma. Não deve permanecer no cargo.
Abuso de poder econômico
O TSE avalia coibir financiamento eleitoral de empresas sócias de bancos oficiais. Caso do JBS/Friboi, que deu R$ 70 milhões para a campanha do PT. No governo Lula, o BNDES virou sócio do grupo (24,6%) que abiscoitou aportes salvadores de R$ 10,5 bilhões.
Rara exceção
Presidente do conselho de ética da Câmara, Ricardo Izar (PSD-SP), foi o único que teve a dignidade de recusar R$ 200 mil do dinheiro fácil do Grupo JBS/Friboi, na campanha. Seu mandato não estava à venda.
A vez da mulher
Dilma tem sinalizado que agora deseja uma mulher como ministra das Relações Exteriores. Quatro embaixadoras lideram as apostas, no Planalto: Maria Luiza Viotti, Maria Nazareth Farani Azevedo, Maria Dulce de Barros e Vera Barrouin Machado.
Cotado
Ligadíssimo a Antônio Andrade (PMDB), eleito vice-governador de Fernando Pimentel (PT) em Minas, o deputado Mauro Lopes é cotado em sua bancada na Câmara para assumir o Ministério da Agricultura.
Despedidas
Relator das investigações da roubalheira na Petrobras, o ministro José Jorge – que se despediu ontem do Tribunal de Contas da União com fortes críticas ao governo – terá a aposentadoria formalizada dia 17.
Bancários em declínio
O Sindicato dos Bancários de SP não é mais aquele que elegia Luis Gushiken: a partir de 2015, não terá mais representante no Congresso. Não conseguiram mandar para Brasília o deputado estadual Luis Cláudio Marcolino, escalado para disputar vaga na Câmara.
Ninguém merece
Responsável pela atual irrelevância do Ministério do Trabalho, o dono do PDT, Carlos Lupi, exige que a repartição seja entregue ao partido, outra vez, de “porteira fechada”. Quando foi assim, Lupi saiu sob graves denúncias e sua turma foi alvo de várias operações da PF.
É tudo lorota
Dilma saiu das eleições pregando a reforma política e até ameaçando plebiscito, mas o PT trabalhou para obstruir a discussão sobre o tema, ontem, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara.
Pensando bem...
...o doleiro Youssef deveria ser aclamado por petistas para ministro da Fazenda: sabe planejar, é “expert” em finanças, e lhes pagava em dia.
PODER SEM PUDOR
Temperamentais
O alagoano Silvestre Péricles discursava e foi aparteado pelo paraibano José Américo de Almeida. Silvestre insinuou que o colega era medroso.
- Eu não tenho medo; estou com medo!...
- Medo de quê? - desafiou Silvestre.
- De que Vossa Excelência caia morto nos meus braços!
Silvestre foi contido ao tentar agredir José Américo, mas, no dia seguinte, em novo discurso, atribuiu o incidente "a nossos temperamentos".
Agora livres, leves e soltos, José Genoino, José Dirceu, Delúbio Soares e Valdemar Costa Neto não deveriam pregar o olho, caso temessem a lei: o inciso 4 do artigo 33 do Código Penal condiciona a progressão da pena à reparação do dano ou devolução do ilícito: R$ 141 milhões, segundo a ação penal do “mensalão”. Só pagaram multas e ganharam prisão domiciliar. O dinheiro roubado? Ninguém sabe, ninguém viu.
Saiu barato
Genoino, Dirceu e Delúbio pagaram R$2,5 milhões de multas aplicadas pelo Supremo, a maior parte na base de “vaquinha da companherada”.
Pagou, saiu
O ex-presidente da Câmara dos Deputados João Paulo Cunha ainda está preso por não haver pago os R$ 536,4 mil da multa a ele atribuída.
Moreira continua
O PMDB já dá como certa a permanência do ministro Moreira Franco na Secretaria de Aviação Civil. Ele é da cota pessoal de Michel Temer.
Só depois do dia 25
Michel Temer avisou ontem a deputados do PMDB que conversas sobre ministérios só a partir do dia 25, quando Dilma voltar do G20.
Banqueiro ligado a Lula ataca o governo Dilma
Após longo namoro com o governo, decorrente das estreitas relações com Lula, de quem se fez “resolvedor-geral” de problemas, o banqueiro André Esteves (BTG Pactual) optou pela oposição nas eleições. E apenas duas semanas depois da vitória de Dilma, atacou: “Vejo um governo mais do mesmo, falta confiança”. Seu banco foi mais concreto: anunciou o rebaixamento da recomendação ao Brasil “diante das incertezas com relação ao novo governo e aos ministérios.”
Sócio crítico
Curiosamente, o neo-oposicionista André Esteves é sócio do governo, por meio da Caixa, e tenta assumir a área de seguros da instituição.
Agora vai
O governo quer tirar do traço a TV Brasil, a TV do Lula: firmou parceria de programação com o Instituto Cubano de Radio y Televisión.
Cheiro de queimado
O ministro Thomas Traumann (Comunicação) é cada vez menos solicitado por Dilma. Não deve permanecer no cargo.
Abuso de poder econômico
O TSE avalia coibir financiamento eleitoral de empresas sócias de bancos oficiais. Caso do JBS/Friboi, que deu R$ 70 milhões para a campanha do PT. No governo Lula, o BNDES virou sócio do grupo (24,6%) que abiscoitou aportes salvadores de R$ 10,5 bilhões.
Rara exceção
Presidente do conselho de ética da Câmara, Ricardo Izar (PSD-SP), foi o único que teve a dignidade de recusar R$ 200 mil do dinheiro fácil do Grupo JBS/Friboi, na campanha. Seu mandato não estava à venda.
A vez da mulher
Dilma tem sinalizado que agora deseja uma mulher como ministra das Relações Exteriores. Quatro embaixadoras lideram as apostas, no Planalto: Maria Luiza Viotti, Maria Nazareth Farani Azevedo, Maria Dulce de Barros e Vera Barrouin Machado.
Cotado
Ligadíssimo a Antônio Andrade (PMDB), eleito vice-governador de Fernando Pimentel (PT) em Minas, o deputado Mauro Lopes é cotado em sua bancada na Câmara para assumir o Ministério da Agricultura.
Despedidas
Relator das investigações da roubalheira na Petrobras, o ministro José Jorge – que se despediu ontem do Tribunal de Contas da União com fortes críticas ao governo – terá a aposentadoria formalizada dia 17.
Bancários em declínio
O Sindicato dos Bancários de SP não é mais aquele que elegia Luis Gushiken: a partir de 2015, não terá mais representante no Congresso. Não conseguiram mandar para Brasília o deputado estadual Luis Cláudio Marcolino, escalado para disputar vaga na Câmara.
Ninguém merece
Responsável pela atual irrelevância do Ministério do Trabalho, o dono do PDT, Carlos Lupi, exige que a repartição seja entregue ao partido, outra vez, de “porteira fechada”. Quando foi assim, Lupi saiu sob graves denúncias e sua turma foi alvo de várias operações da PF.
É tudo lorota
Dilma saiu das eleições pregando a reforma política e até ameaçando plebiscito, mas o PT trabalhou para obstruir a discussão sobre o tema, ontem, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara.
Pensando bem...
...o doleiro Youssef deveria ser aclamado por petistas para ministro da Fazenda: sabe planejar, é “expert” em finanças, e lhes pagava em dia.
PODER SEM PUDOR
Temperamentais
O alagoano Silvestre Péricles discursava e foi aparteado pelo paraibano José Américo de Almeida. Silvestre insinuou que o colega era medroso.
- Eu não tenho medo; estou com medo!...
- Medo de quê? - desafiou Silvestre.
- De que Vossa Excelência caia morto nos meus braços!
Silvestre foi contido ao tentar agredir José Américo, mas, no dia seguinte, em novo discurso, atribuiu o incidente "a nossos temperamentos".
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