domingo, maio 16, 2010

DANUZA LEÃO

Mãe: ser ou não ser
DANUZA LEÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 16/05/10


Certas mulheres dariam a vida para poder ver um filme na sessão da tarde, no lugar de cuidar dos filhos



UM ASSUNTO que não passa de moda: os menores de rua que assaltam, cometem atrocidades, matam. E vêm os especialistas dar palpites: que eles não tiveram um lar, uma família em que o pai chegasse do trabalho e pacientemente perguntasse como foram as aulas e ainda brincasse um pouco com o filho -ou os filhos- antes do jantar. Na cabeça desses teóricos, as panelas estariam fumegando em cima do fogão, e a mãe, cheia de alegria, poria o jantar na mesa, tendo o cuidado de desligar a televisão enquanto comessem, para que a família pudesse conversar, trocar ideias.
Só que as coisas não costumam ser bem assim, a não ser em filmes americanos. Esse pai pode estar chegando do seu segundo emprego, depois de 45 minutos em pé num ônibus, exausto, e só querendo uma coisa na vida: tomar um chuveiro e se espichar na cama em paz, sem ter que trocar uma só palavra com ninguém, muito menos com uma criança, mesmo que seja seu filho. Quanto à mãe, mesmo que não trabalhe, teve que passar o dia inteiro passando roupa e tomando conta de uma ou duas crianças, o que não é fácil.
Criança solicita o tempo todo, corre riscos o tempo todo -de cair da janela, de derrubar a panela com água fervendo, de escorregar no chão e se machucar, e chora por qualquer coisa, até por nada. Certas mulheres dariam a vida para ver um filme na sessão da tarde, no lugar de cuidar dos filhos, e é bom que se saiba que isso não é crime nenhum.
Vamos falar a verdade: existem mulheres com uma grande vocação para a maternidade, e outras sem nenhuma. Algumas, que já são mães de dois -porque eles costumam vir um logo depois do outro-, talvez estejam sonhando com um vestido que viu numa vitrine, talvez preferissem estar numa faculdade, ou trabalhando, ganhando seu dinheiro e perseguindo sua própria vocação.
Mas não podem pensar em um vestido novo porque não têm dinheiro, em estudar, porque não têm com quem deixar as crianças, e muito menos em trabalhar. O instinto maternal existe em todas as mulheres, mas a vocação para a maternidade é outra coisa, que nem todas têm.
Hoje em dia isso é admitido, e já existem muitas mulheres que escolheram não ter filhos e assumem isso com a maior naturalidade. Há cem anos isso seria inadmissível, mas hoje é normal; apenas uma questão de escolha.
O difícil é descobrir essa falta de vocação cedo; as que se casam aos 20 anos nem pensam nisso, mas as mulheres que estão se casando mais tarde querem ter uma carreira, aproveitar a vida, e antes dos 30, 35, não têm a menor vontade de fundar um lar.
E mesmo com todas as pílulas, diafragmas e camisinhas, as crianças continuam nascendo, talvez porque ninguém pare para pensar se realmente quer ter um filho -com todas as alegrias e problemas que ele traz.
Esse é um assunto para ser muito pensado, para que as crianças não cresçam entre pessoas que prefeririam estar dançando numa discoteca -o que é direito de qualquer um- a estar acordando de noite para trocar uma fralda ou botar um termômetro.
É bom pensar antes, e muito, para que haja mais possibilidades de que todos sejam felizes -a mãe, o pai e os filhos.

GOSTOSAS

L3G4L!

De aorcdo com uma peqsiusa    

de uma uinrvesriddae ignlsea,    

não ipomtra em qaul odrem as    

Lteras de uma plravaa etãso,    

a úncia csioa iprotmatne é que    

a piremria e útmlia Lteras etejasm    

no lgaur crteo. O rseto pdoe ser    

uma bçguana ttaol, que vcoê    

anida pdoe ler sem pobrlmea.    

Itso é poqrue nós não lmeos    

cdaa Ltera isladoa, mas a plravaa    

cmoo um tdoo.  
 

Sohw de bloa.  



Fixe seus olhos no texto abaixo e deixe que a sua  mente leia corretamente o que está escrito.  

 35T3 P3QU3N0 T3XTO 53RV3 4P3N45 P4R4 M05TR4R COMO NO554 C4B3Ç4 CONS3GU3 F4Z3R CO1545 1MPR3551ON4ANT35! R3P4R3 N155O! NO COM3ÇO 35T4V4 M310 COMPL1C4DO, M45 N3ST4 L1NH4 SU4 M3NT3 V41 D3C1FR4NDO O CÓD1GO QU453 4UTOM4T1C4M3NT3, S3M PR3C1S4R P3N54R MU1TO, C3RTO? POD3 F1C4R B3M ORGULHO5O D155O! SU4 C4P4C1D4D3 M3R3C3! P4R4BÉN5! 



COL4BOR4ÇÃO 3NV14D4 POR M4RT4

YOSHIAKI NAKANO

Uma Nova Lei Fiscal
Yoshiaki Nakano
FOLHA DE SÃO PAULO - 16/05/10

O governo federal anunciou um corte adicional de R$ 10 bilhões nas suas despesas.
Somado ao anunciado em março, totalizam-se R$ 31,8 bilhões. Isso representa redução equivalente a 1% do PIB em relação ao Orçamento aprovado pelo Congresso. A medida vai na direção do que defendi há um mês nesta Folha.
Espera-se que, com essa medida, o Banco Central possa atenuar a trajetória de elevação da taxa de juros e minimizar o seu impacto negativo sobre a recuperação dos investimentos produtivos. Se tudo correr bem, será até possível que o PIB cresça 7% sem grandes pressões inflacionárias, o que será um feito notável.
Neste momento, o Congresso Nacional, que está aprovando medidas absurdas, como o aumento para os aposentados de 7,7% e o fim do fator previdenciário, deveria olhar para a tragédia que está acontecendo na Grécia e as medidas de austeridade que Portugal, Espanha e até mesmo o Reino Unido foram obrigados a tomar. A população desses países passará por um doloroso ajuste, reduzindo o seu consumo. Se tudo der certo, os países deverão ter crescimento negativo ao menos pelos próximos três anos. Essa será a imagem do nosso futuro se o país tomar a direção que os congressistas querem dar.
Dessa forma, a decisão tomada pelos ministros da Fazenda e do Planejamento de implementar uma política fiscal anticíclica merece aplausos. Entretanto, as medidas fiscais têm maior eficácia se tiverem credibilidade, e, quanto maior o horizonte temporal, maior será o seu impacto positivo sobre o crescimento. Assim, o que temos é que fortalecer as instituições fiscais, senão um corte de 1% do PIB será interpretado como medida discricionária e momentânea e seus efeitos serão de curto prazo e neutralizados pelas expectativas de longo prazo.
Essas últimas expectativas se formaram ao longo dos últimos anos, em que os gastos do governo vêm crescendo o dobro do PIB e que a carga tributária subiu mais do que dez pontos percentuais do PIB, sufocando o setor privado. É preciso inverter essa trajetória e ao longo da próxima década reduzir, na mesma magnitude, a carga tributária.
Isso será possível se as despesas de consumo do governo crescerem cerca de metade do PIB, o que já será uma expansão real considerável. Exemplo: se o PIB crescer 7% ao ano, poderemos reduzir em dez pontos percentuais do PIB as despesas do governo em dez anos e ampliar a taxa de investimento privado e público, na mesma magnitude, o que será suficiente para sustentar um crescimento de 7% anuais nas próximas décadas.
O Congresso Nacional deveria estar discutindo, quando comemoramos dez anos da Lei de Responsabilidade Fiscal, uma Nova Lei Fiscal, que estabelecesse limites de aumento no consumo do governo para alcançar equilíbrio estrutural e abrir um novo horizonte de crescimento. Mas essa decisão caberá à sociedade brasileira, que elegerá o próximo presidente. O meu candidato ideal apresentaria no primeiro dia de mandato um projeto de lei fiscal.
Temos que optar entre surtos de crescimento e crise -que, com as condições mais favoráveis desde 2004, permitiu-nos crescer, em média, cerca de 4% ao ano- e voltar a explorar todas as nossas potencialidades e avançar 7% ao ano ou mais.


YOSHIAKI NAKANO, 65, diretor da Escola de Economia de São Paulo, da FGV, foi secretário da Fazenda do Estado de São Paulo no governo Mario Covas (1995-2001).

O ESGOTO DO BRASIL

CULTURA DEMAIS É UMA DROGA!

SIGNIFICADO DA PALAVRA ANFITRIÃO:

Na mitologia grega, Anfitrião  era marido de Alcmena, a mãe de Hércules.
Enquanto Anfitrião estava na  guerra de Tebas, Zeus tomou a sua forma para
deitar-se com Alcmena, e  Hermes tomou a forma de seu escravo, Sósia, para 
montar guarda no  portão.
Uma grande confusão foi criada, pois evidentemente, Anfitrião  duvidou da
fidelidade da esposa.
No fim, tudo foi esclarecido por  Zeus, e Anfitrião ficou contente por ser 
marido de uma mulher escolhida do  deus.
Daquela noite de amor nasceu o semideus Hércules. A partir daí,  o
termo anfitrião passou a ter o sentido de 'aquele que recebe em  casa'.
Portanto, ANFITRIÃO é sinônimo de: CORNO MANSO E  FELIZ!
 
RESUMINDO:
 
QUANDO DISSEREM QUE VOCÊ É UM BOM ANFITRIÃO  FIQUE DE ORELHA EM PÉ.
 
CULTURA DEMAIS É UMA  DROGA!
COLABORAÇÃO ENVIADA POR APOLO

JOÃO UBALDO RIBEIRO

Se o Brasil precisar
JOÃO UBALDO RIBEIRO

O GLOBO - 16/05/10

De modo geral, pode-se dizer que a convocação feita por Dunga foi bem recebida em Itaparica. A exceção mais notável fica por conta da, no ver de muitos, flagrantemente injusta não-inclusão de Obina entre os convocados. Como sabe qualquer um que acompanhe o futebol, Obina é natural do progressista distrito de Baiacu, situado na contracosta da ilha. Não foram ventiladas suspeitas contra a integridade de Dunga, mas formularam-se as habituais denúncias de discriminação contra nós e o Nordeste. Se bem que Ary de Almiro, que é filósofo e sabe coisas de que Deus duvida, tenha observado que se trata de um problema jurídico.

- Obina ainda não se naturalizou, o problema deve ser esse - disse Ary. - Eu vi dona Dilma explicando que os nordestinos saem daqui do Nordeste para ir para o Brasil. Obina já entrou no Brasil desde o tempo em que foi jogar no Flamengo, mas deve ter esquecido de se naturalizar e aí Dunga não pôde fazer a convocação.

Instaurou-se certa controvérsia em relação a esse ponto, havendo alguns indagado como era mesmo esse negócio, já que o Brasil começou no Nordeste, mas Ary, que nunca se apertou e sempre emprega uns argumentos misteriosos, respondeu que o próprio presidente nasceu no Nordeste e não seria nada, se não tivesse emigrado para o Brasil e, é claro, se naturalizado brasileiro. Ninguém entendeu muito bem a linha de raciocínio dele, mas filósofo é assim mesmo difícil de compreender e, por via das dúvidas, Luiz Olegarino ficou de dar um pulo ao Baiacu, para falar com o pessoal do Obina sobre esse problema da naturalização.

A discussão pegou mais corpo com a chegada de Zecamunista, regressando de mais uma bem-sucedida turnê de carteado por algumas das cidades mais prósperas da Bahia. Veio no saveiro Proletário, nome que deu ao antigo Chora na Rampa, ganho numa eletrizante rodada de pôquer em Santo Antônio de Jesus. Assim que desembarcou, se dirigiu ao Bar de Espanha e, lá sabendo da ausência de Obina na lista dos convocados, anunciou que publicaria um editorial sobre o assunto, tão logo começasse a sair o novo jornal que planeja fundar, o Clamor da Massa.

- Eu já estava pensando num editorial assim - disse ele. - Precisava somente de um gancho e agora achei. O título eu já bolei, é inspirado no "sífu" do presidente da República. Ele diz "sífu" e eu replico "tâmusfu". E tamos mesmo, porque isto aqui, vamos reconhecer, como dizia o finado Sorriso de Desdém, que sempre usava belas palavras, é o ânus do orbe. Eu vou mostrar no editorial a nossa triste situação, aqui no Nordeste. O brasileiro sonha em emigrar para os Estados Unidos e o nordestino sonha em emigrar para o Brasil. Tamos ou não tâmusfu? Só não vai ser o primeiro editorial, porque o primeiro já está escrito e o título é "Tudo bem com o verde, mas cadê o amarelo?", em que eu vou iniciar uma campanha pela adoção de cotas para a raça amarela, não podemos esquecer nenhuma minoria.

E não só de Obina vive o futebol da ilha. Creio que podemos prestar valiosa assessoria à seleção, a começar pelo patriotismo guerreiro. Num jogo contra a Holanda, por exemplo, se alguém apenas acenar uma bandeira itaparicana nas arquibancadas, o time holandês treme e é bem possível que nem entre em campo. Até hoje, uma ilhota em frente a Itaparica é chamada Ilha do Medo porque, em 1648, os holandeses se esconderam lá, para não levarem mais cacete de nossos ancestrais. E que venham portugueses e franceses. Gostamos muito dos portugueses e o finado Isaías Boa Fala deixou inúmeros amigos, mas guerra é guerra e eles não haverão de ter esquecido o tempo das lutas pela Independência, em que os obrigamos a se retirar e ir oprimir em outra freguesia. Quanto aos franceses, cala-te boca, perguntem às francesas.

Exemplos pessoais de heroísmo futebolístico também abundam. Para citar somente um caso célebre, recordo o desempenho de Vavá Paparrão, jogando como ponta-direita na equipe do São Lourenço, aqui da ilha, contra uma façanhuda e temida equipe de Maragogipe. Eu não assisti, mas o próprio Vavá me contou que fez os dois gols do São Lourenço, um deles logo após cobrar um escanteio. Mas o principal não foi isso, gol qualquer um faz. O principal foi que Vavá quebrou a perna em dois lugares e isso só foi descoberto depois que o jogo acabou, é o que estou lhes dizendo. Claro, ele sentiu umas beliscadinhas na canela, mas, sabem como é, no calor da refrega o sujeito não dá atenção a essas coisinhas, notadamente quando está em jogo sua terra. Só quando ele saiu é que a perna falhou e dr. Borba viu logo que a tíbia tinha sido fraturada. Um gessozinho e foi tudo resolvido, o importante era o troféu.

No que se refere a manobras extracampo, tão relevantes para qualquer disputa, temos também vasto know-how à disposição. Lembro apenas a magistral operação realizada antes de um jogo decisivo entre o mesmo São Lourenço e o saudoso Ideal Esporte Clube, cujo único goleiro jogava de óculos de grau. João Baguinha penetrou no vestiário, que ficava numa pensão perto do campo, e escondeu os óculos. Claro que o São Lourenço ganhou por mérito, até porque nessa época eu defendia suas cores, na zaga e sob a alcunha de Delegado, mas manda a honestidade reconhecer que, com o goleiro procurando a bola pelo tato, a coisa é um pouco facilitada para o ataque adversário. E, quando, na hora de um pênalti que ia empatar o jogo contra nós, Bertinho Penico sacou da garrucha, deu um tiro na também única bola e acabou com o jogo? É verdade, temos muito a oferecer aos guerreiros de Dunga. Basta a d. Dilma prometer que, se eleita, aceita Itaparica no Brasil.

GOSTOSA

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Credit projeta alta de 8% do PIB em 2010
MARIA CRISTINA FRIAS
FOLHA DE SÃO PAULO - 16/05/10



O Credit Suisse revisou o crescimento do PIB do Brasil de 6,5% para 8% em 2010.
O mercado prevê 6,06% de expansão neste ano, segundo o boletim Focus, do Banco Central. A instituição suíça estima ainda alta de 10% no primeiro trimestre deste ano ante o mesmo período de 2009, e de 3,4% ante o quarto trimestre de 2009, com ajuste sazonal.
"Para o crescimento do PIB ser de 6,5% em 2010, seria necessário assumir uma ligeira contração média do PIB de 0,1% nos três últimos trimestres do ano", diz Nilson Teixeira, economista-chefe do banco Credit Suisse.
"Dada a dinâmica atual da atividade, atribuímos baixa probabilidade a esse cenário, e assumimos o crescimento de 10% no primeiro trimestre deste ano, ante o mesmo período do ano passado", acrescenta.
Além disso, Teixeira estima que o segundo trimestre registre alta de 1,5%, o terceiro, 1% e o último, 0,6%, o que levaria a uma expansão do PIB em 2010 de 8,5%. A projeção final do banco, porém, é de 8%.
Provavelmente, a indústria foi o principal destaque para o crescimento do PIB no primeiro trimestre deste ano, na ótica da oferta, segundo o banco.
"Projetamos expansão do produto nesse período em comparação ao primeiro trimestre de 2009, de 8,1% na agropecuária, 15,7% na indústria e de 7% em serviços", segundo Teixeira.
Entre os destaques nas projeções nesse período estão o crescimento de 18,3% na indústria de transformação e de 15,2% na construção civil, de acordo com o economista.

SEM INCENTIVO
O presidente da Abdib, Paulo Godoy, negocia com o ministro Guido Mantega (Fazenda) uma solução para que as fabricantes de máquinas e equipamentos também possam ser beneficiadas pelo Reidi (Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento da Infraestrutura), sistema especial que suspende a cobrança de PIS e Cofins para investimentos em vários setores de infraestrutura. Pelo programa já foram habilitados projetos para energia elétrica, de geração, transmissão e distribuição, e de transportes, para portos e rodovias. Hoje, sem o direito ao benefício, as empresas fabricantes de máquinas poderiam ganhar em competitividade e teriam menores custos de financiamento, entre outras vantagens, de acordo com a Abdib.

MAR DE LEITOS
O primeiro navio da nova temporada de cruzeiros no Brasil chega no início de outubro e a estação segue até maio de 2011. Empresas como Costa, Royal Caribbean e CVC trarão neste ano embarcações inéditas no litoral do país. O objetivo é responder à demanda pelo serviço, segundo o diretor da Royal Caribbean no Brasil, Ricardo Amaral, que também é presidente da Abremar (associação do setor). "Há mais brasileiros querendo fazer cruzeiros do que a oferta existente", diz Amaral, que lamenta a falta de infraestrutura. "Um navio desses só pode fazer escala em três portos: Santos, Rio e Salvador." Com um novo navio, que abriga uma quadra de basquete, a Royal elevará sua oferta em mais de 3.000 hóspedes neste ano, o que quase dobra sua atuação no país em número de visitantes. A nova embarcação da Costa Cruzeiros tem 6.000 metros de spa, simulador de Fórmula-1 e vagas para 3.500 passageiros, segundo Renê Hermann, diretor-presidente da empresa para a América do Sul. Uma cabine pode custar US$ 632 por quatro dias por pessoa. A CVC, que na última temporada trabalhou com quatro embarcações, neste ano terá cinco transatlânticos. O aumento no número de leitos é de 120 mil para 185 mil. A Abremar estima que na próxima temporada brasileira haverá 836 mil viajantes em cruzeiros.

ADOCICADO
Quatro dos cinco maiores grupos sucroalcooleiros que atuam hoje no Brasil -Cosan, Louis Dreyfus, Bunge e Guarani- possuem pelo menos 50% de controle estrangeiro. Na safra 2005/ 2006, a situação era diferente. As cinco primeiras posições do ranking de moagem de cana eram ocupadas por empresas de controle nacional. A Copersucar liderava, seguida por Cosan (ainda sem a Shell), segundo estudo da consultoria Dextron.
com JOANA CUNHA e ALESSANDRA KIANEK

FAZENDO MERDA

LULA DECLAROU OUTRO DIA:

"Na verdade, não sei quando sou presidente
e quando sou candidato. "

O Zé Simão, na Folha de São Paulo, inteligentemente acabou com a dúvida: 

         " Quando ele está fazendo merda é presidente; 

            quando está prometendo merda é candidato ." 

                                                                      e completa:

         " Quando ele sabe de tudo , é candidato ; 
            quando ele não sabe de nada , é presidente "
COLABORAÇÃO ENVIADA POR Jálisson

GOSTOSA

MERVAL PEREIRA

 Olhos nos olhos
Merval Pereira
O GLOBO - 16/05/10

O presidente Lula chega a Teerã para uma missão considerada impossível: tirar do governo teocrático de Mahmoud Ahmadinejad um compromisso formal de que o programa nuclear iraniano é para fins pacíficos, em termos que sejam aceitáveis para os países que querem aprovar no Conselho de Segurança da ONU sanções econômicas contra o Irã, sob a liderança dos Estados Unidos.

O problema é que esses países não acreditam na mera palavra do governo iraniano, e qualquer documento tem que ser seguido de fatos concretos, coisa que o Irã se recusa a fazer.

Classificado de ingênuo em diversas ocasiões por líderes internacionais como a secretária de Estado Hillary Clinton ou o ministro das Relações Exteriores da França, Bernard Kouchner, o presidente Lula já teve uma primeira vitória diplomática: sua missão, por mais insólita que pareça, acabou recebendo o apoio dos governos dos Estados Unidos, da França, da Rússia.

Todos céticos com relação às chances de sucesso, mas obrigados a dar um voto de confiança ao carismático líder brasileiro, que procura ter o apoio da presença nas negociações do primeiroministro da Turquia.

O risco de fracasso, muito maior do que a chance de sucesso, faz com que Recep Erdogan relute em comparecer.

Tanto Lula quanto Erdogan fazem parte daquela lista da revista “Time” de líderes mais influentes do mundo, e os dois parecem mais empenhados em afirmar essa influência, em contraste com o governo dos Estados Unidos, do que realmente em chegar a uma solução, que a todos parece inviável.

Assim como previsivelmente não conseguiu nada no Oriente Médio, a busca de um protagonismo internacional leva o governo brasileiro a assumir uma negociação com o Irã que dificilmente se concretizará, ainda mais na tosca concepção de Lula de que a solução ainda não foi encontrada por que nenhum dirigente internacional sentou-se para negociar com Ahmadinejhad “olho no olho”.

Hillary Clinton classificou nos bastidores a recente passagem de Lula pelo Oriente Médio de “risivelmente ingênua”, e mostrou-se cética mais uma vez com relação ao êxito das conversações com o Irã, mas oficialmente o governo dos Estados Unidos se viu obrigado a considerar a visita de Lula como a última chance antes da decretação das sanções.

O ministro das Relações Exteriores da França, Bernard Kouchner, que revelara recentemente o receio de que o presidente brasileiro estivesse sendo “embromado” por Ahmadinejad, teve que recuar depois da péssima repercussão de seus comentários.

Até o momento, o governo brasileiro está conseguindo se manter dentro de uma zona de respeitabilidade, mas qualquer passo em falso pode se transformar em galhofa internacional.

A posição brasileira de postar-se ao lado do governo do Irã para evitar as sanções econômicas internacionais tem uma explicação oficial que não satisfaz aos observadores internacionais.

O governo brasileiro diz que está defendendo seus interesses, porque teme que uma sanção ao Irã possa transformar-se em arma contra nosso programa nuclear.

De fato, o governo trava uma guerra nos bastidores com a AIEA com relação à assinatura de um protocolo adicional ao Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP).

Esse adendo ao TNP foi idealizado depois dos atentados de 2001 nos Estados Unidos, e pretende ampliar as áreas de fiscalização da AIEA, o que o Brasil não aceita.

A principal razão é proteger o segredo das centrífugas utilizadas no programa nuclear para enriquecimento de urânio, que seriam uma invenção brasileira à frente das existentes no mundo.

A resistência à ampliação da fiscalização da AIEA e mais o apoio ao programa nuclear do Irã, no entanto, já está fazendo com que surjam aqui e ali desconfianças de que, na verdade, o que o governo brasileiro quer mesmo é criar condições para retomar o programa nuclear para fazer a bomba atômica, como alguns setores defendem abertamente.

Não há, no entanto, nenhuma razão objetiva que permita uma ilação nesse sentido, pois o país assinou o TNP e a fiscalização hoje existente é mais do que suficiente para garantir que o programa tem realmente fins pacíficos.

O que não acontece com o Irã, que também assinou o TNP mas não aceita a fiscalização dos órgãos internacionais, além de ter enriquecido o urânio a 20% sem autorização formal da AIEA.

O Brasil, para seu programa de submarino nuclear, já tem permissão para enriquecer urânio a 20%, mas nem pretende chegar a tanto.

A questão, no entanto, é política, e nesses termos o governo brasileiro terá que obter do governo de Mahmoud Ahmadinejad mais do que um documento afirmando que o programa nuclear tem fins pacíficos.

Isso, por sinal, o governo do Irã vive afirmando em público, mas a essas afirmações não se seguem atos concretos que as avalizem.

O que os países que fazem parte do Conselho de Segurança da ONU temem é que o Irã esteja usando esse anseio de Brasil e Turquia de se impor no cenário internacional para ganhar tempo, dando continuidade ao programa nuclear sem fiscalização e evitando as sanções internacionais.

O sucesso não previsto pela maioria alavancará a imagem de líder emergente que Lula cultiva com tanta obsessão, abrindo caminho para uma atuação internacional após o fim de seu mandato presidencial.

Se, ao contrário, Lula não sair de sua visita a Teerã com algum acordo razoável que desmobilize a tendência do Ocidente de decretar sanções, estará correndo o risco de explicitar sua irrelevância, e a da diplomacia brasileira, nas negociações internacionais fora de sua área natural de influência, a América Latina

JOSÉ SIMÃO

Socuerro! Quero recall de figurinha!
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 16/05/10


E o álbum da Copa? Como vou completar a página do Brasil se a seleção não cola?


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta!
Piada pronta no caso do Tuma Jr.: sabe como se chama o juiz que negou habeas corpus pro Li Kwok Kwen? Ricardo CHINA! Esse nasceu pra prender chinês! Como vão saber se prenderam o chinês certo? Todo chinês é cópia pirata de outro chinês.
E o álbum da Copa? Os argentinos eu estou colando tudo de cabeça pra baixo. Pra dar zica! Paraguai empaquei, não consigo completar. Vou colar figurinha pirata. Vou pedir umas pro Tuma Jr. Rarará!
E avisa pro Dunga que eu vou pedir recall de figurinha. Risquei o Adriano com Grafite! E como vou completar a página do Brasil se a seleção não cola? Rarará!
E depois da passagem do Dunga pela África, eles vão incluir Mula Sem Cabeça em safári! Com direito a tiro! Nem Pato nem Ganso. Deu Burro! O Dunga tomou Activia. E fez uma cagada na seleção. Rarará! Aderiu à aquela campanha antidrogas: "CRACK, NEM PENSAR".
Metade da escalação é reserva. Então RESERVA a passagem de volta. E quem disse que o Adriano não vai pra Copa? Vai sim. O Adriano vai pra Copa. CABANA! Rarará! Foi escalado pro Vigilantes do Peso.
E sabe o que o Neymar e o Ganso fizeram depois da escalação? Dançaram. Melhor seria se o Dunga tivesse escalado o Carlinhos Mecânico do time de solteiros de Bento Ribeiro. Ou então a zaga daquele time de Guanhães: Nem, Cu de Frango, Zóio, Bafo e Três Peidim. Hexa garantido!
E um leitor me disse que o Serra e a Dilma não são feios, nós é que não entendemos de arte moderna! Rarará! E sabe como se chama a TPM da Dilma? PTM! E um outro me disse que o Serra parece um joelho de gravata!
E sabe o que vai estar escrito no ônibus da seleção? Três frases: 1) De pensar morreu um Dunga; 2) Pelé, não torce pra gente, Ok?; 3) Ei, Messi, vá tomar no C@! Rarará!
E sabe o que tá escrito no ônibus da seleção da Grécia? "Me empresta R$ 10 pra pagar o pedágio?!" Crise grega: de tanto quebrar prato, a economia ficou um caco. Acabou a carne pro churrasco grego. E como disse um amigo meu: "Agora que eles não terminam essa Acrópole".
E essa da Justiça de Pernambuco. Sessão presidida pelo desembargador Augusto Duque. Processo de estupro. Entre as testemunhas, uma irmã da vítima. E o desembargador: "Que entre a arrolada". "Doutor, a arrolada não foi eu não, foi a minha irmã." Rarará!
Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje só amanhã. Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno.

O ABILOLADO E A MENTIROSA

WILSON FIGUEIREDO

Do enxoval à mortalha
Wilson Figueiredo
JORNAL DO BRASIL - 16/05/10


AO REFERIR-SE AO BRASIL, que não lhe merece respeito, o presidente Lula tem sido mais cuidadoso quando fala para fora do que quando se dirige aos brasileiros como se falasse sozinho. Usa a arte de não falar para ninguém. Em princípio, trata com desenvoltura do Brasil que inventou para uso pessoal e consumo alheio. Mas geralmente não cuida do país que conhecia de raspão e não lhe deve retribuição pelo que conseguiu antes dele e pelo que colherá depois. Governos passam, e pouco fica. Lula não aguentou, entre duas derrotas eleitorais, valer-se do gabinete de ficção política para acompanhar o governo alheio e adiantar o aprendizado que a pressa interrompeu.

É um governo em trânsito. Desde que chegou ao poder, e depois de resolver o problema do mensalão, não teve mais do que se queixar. A oposição se resignou à balela da fatalidade histórica, e não sobrou ao presidente Lula sequer um companheiro da velha guarda em condições de fazer carreira à sua sombra. Trabalhou bem e se resguardou ainda melhor. Nem Stalin conseguiu tanto com tão poucas baixas.

E em muito menos tempo.

Na sua faixa de onda predileta, o tom coloquial que sintoniza o presidente com maior número de brasileiros pela língua geral que costurou a unidade nacional (com a colaboração nunca assaz louvada do feijão, do futebol e peculiaridades exclusivas). Luiz Inácio Lula da Silva não perde oportunidade de ser mais Lula do que Silva. A curto ou a longo prazo, tanto faz, sempre está fazendo investimento político e colhendo resultados alheios. E acomoda novos admiradores, como acaba de suceder ao candidato social tucano José Serra, que o proclamou acima do bem e do mal, onde ele, Lula, monopoliza os benefícios sociais e deixa para a oposição a culpa pelos males passados e futuros. Os presentes estão sob controle oficial. Por enquanto, seus cálculos não ultrapassam a barreira de 2014, como já está. Dilma sabe que está condenada a abrir mão do segundo mandato como quitação do primeiro (claro, se lhe cair ao colo). A exceção é o preço a pagar pela recaída eleitoral que veio para ficar, até a República se lembrar dos fundadores que exorcizaram a reeleição. Foram cem anos imunes.

Falta agora, mas não é prioridade, o presidente confirmar a cada dia que não precisa mais preocupar-se com a eleição presidencial.

Já considera favas contadas para o PT a sucessão que ele reboca enquanto a oposição, sem sair do lugar, se esfalfa para gaguejar a mesma língua, travada pela falta de sotaque popular.

Do lado oficial, a cada curva fechada, os petistas insatisfeitos com as concessões de princípios no varejo político vivem o desconforto de divergências menores, que se multiplicam nas complicações estaduais atreladas à estratégia federal. Aí também Lula vende, simbolicamente, otimismo a perder de vista para inadimplentes e executados. Já ficaram pelo caminho muitos candidatos cuja vitória Lula anunciou em vão e ninguém lhe cobrou. Os que discordam vão caindo fora e abrindo espaço aos pragmáticos, que não se queixam e se arrumam a esse preço módico. Para Lula, está tudo dominado, como se diz morro acima e abaixo, desde que desceu sobre o primeiro ato, ou primeiro mandato, a insubstituível cortina da aparência para tirar de cena o mensalão. De dois mandatos presidenciais, não sobrou nenhum companheiro com quem dividir os encargos do poder e as vantagens compensatórias.

Esta sucessão já está no papo, foi o que o presidente declarou em razoável português (ou, mais provável, em dialeto portunhol) ao jornal espanhol El País. Uma cortina de fumaça disfarça pormenores que tendem a crescer com o aprofundamento das diferenças e semelhanças que, ao invés de somar, incompatibilizaram o petismo e a social-democracia. Lula faz a sua parte, aqui dentro ou lá fora, com os dons e dotes que trouxe da vida sindical, enquanto espera a candidata Dilma Rousseff firmar-se nas próprias pernas e aprender a falar, sem sotaque burocrático, língua de gente que supre de votos urnas insaciáveis, que decidem eleição. Dilma está demorando a se desfazer das pequenas gafes com as quais uma candidata, invertendo a ordem dos fatores, compromete o produto: pode fazer mais depressa a própria mortalha do que o enxoval para a solenidade de posse.

JANIO DE FREITAS

Lula no mundo
Janio de Freitas
FOLHA DE SÃO PAULO - 16/05/10


Lula não perdeu aquele mínimo equilíbrio de ideias e atitudes que dá as pessoas como normais. Ou perdeu? O sucesso além de todas as medidas é traiçoeiro, sua obra definitiva é a costumeira reviravolta que faz um transformar-se tanto que se torna outro. Se o sentimento de onipotência transbordou e venceu, estará desastrosamente explicada, por si mesma, a convicção de Lula de ter hoje no Irã 9,99 de probabilidades, em dez, de desenrolar a crise aguda na região.
Se, no entanto, tudo nele continua próximo das medidas de praxe, e concretiza-se com os iranianos a (meia) solução tão desacreditada, será um feito que muda muito a cara política do mundo.
O conjunto dos fatos mais recentes favorece a probabilidade de um acordo, para evitar sanções econômicas contra o Irã e, em troca, haver garantias de que o programa nuclear iraniano se limitará a fins pacíficos. Os numerosos contatos de líderes internacionais com Lula, nos últimos dias, combinam-se com as declarações de vários deles, quando Lula iniciava a viagem, de que o Irã recebia a última oportunidade de evitar as sanções e outras represálias. Estava evidente, aí, o propósito de pressionar em favor de Lula, contra outro possível recuo do ardiloso Ahmadinejad. O próprio Lula cercou-se de novas precauções, buscando em pessoa a confirmação do apoio da Rússia e, no Qatar, de países árabes.
A ida de Celso Amorim ao Irã, já ao final da semana, foi dada como arremate na organização da visita de Lula. Isso não é feito por ministro. O provável é que Celso Amorim, em tempo de uma reação de Lula, tenha procurado a última confirmação das boas disposições iranianas e dos representantes da Turquia, que é parte fundamental na costura do acordo esperado. E na sua prática, se adotada a proposta da Agência Internacional de Energia Atômica, da ONU, para troca de urânio do Irã por urânio enriquecido no exterior. Há indícios, porém, de que inovações feitas pelo Brasil, na proposta, foram decisivas para a prometida aceitação do Irã.
Até agora, nos termos mais amplos da política internacional, Lula é uma figura com projeção sem influência, propriamente. Caso sua audácia de meter-se onde não foi chamado, no jogo dos grandes, resulte em sucesso no impasse do Irã, estará aberta a oportunidade para a presença nova que falta no meio século de mesmismo do mundo "em desenvolvimento" (ou seja, repleto de pobreza e suas consequências).
Tudo indica ser essa a ambição de Lula desde que, obtidas a popularidade e aceitação pelos conservadores no Brasil, viu-se como atração nos centros de poder do exterior. O que o distingue Lula, para um possível papel novo, é não suscitar a falta de confiança que os governos europeus e americanos provocam em toda parte. Situação parecida com a existente no Brasil, entre os ansiosos por mudanças, até que foi montado o primeiro governo Lula.
No plano interno, êxito e insucesso de Lula destinam-se a repercussões contrárias mas idênticas na dimensão. Valerá a pena tolerar o baticum de um novo "nunca na história", se houver algum acordo - ou melhor, alguma protelação da próxima crise aguda.

TOSTÃO

Metáfora da vida

TOSTÃO
JORNAL DO BRASIL - 16/05/10


A Copa do Mundo, a convocação da seleção brasileira e os discursos ufanistas de Dunga e Jorginho despertaram opiniões e sentimentos contraditórios. As discussões estão nas ruas e na mídia, não só na esportiva. As análises refletem os diferentes comportamentos humanos.
Nas discussões técnicas, existem os que concordam com as escolhas de Dunga e com seu jeito operatório e obsessivo pelo resultado. Acham que só assim os jogadores terão raça e disciplina para ganhar o Mundial.

Outros criticam a falta de ousadia, de flexibilidade e de comprometimento do técnico com a beleza, com a qualidade do jogo e com as características e a história do futebol brasileiro.
É preciso lembrar, para não ser injusto, que não foi Dunga quem mudou o estilo brasileiro. Houve, durante décadas, uma progressiva transformação em nossa maneira de jogar. O Brasil exportou a fantasia e a habilidade e importou a força física, o pragmatismo e a disciplina tática. Os europeus levaram vantagem na troca. Ficou quase tudo igual.
Há ainda os que apoiam o discurso estreito e nacionalista de Dunga e suas costumeiras palavras, como patriotismo, comprometimento, doação, superação, e os que detestam essa postura e expressões, como “temos de sangrar e sofrer”, “se não gostam de mim, que gostem do Brasil”, e tantas outras idiotices.
As diferentes coberturas da imprensa despertam também variadas preferências. Um dos lemas da TV Globo é “Nosso esporte é torcer pelo Brasil”. Parece discurso de Dunga. Deve aumentar a audiência.
Como todo treinador da seleção, logo após a convocação para o Mundial, e todo presidente, depois de ser eleito, Dunga, com uma camisa verde, e outra amarela, foi ao Jornal Nacional para ser entrevistado ao vivo. Faz parte.
Outros preferem assistir, ler e acompanhar a cobertura em uma imprensa mais crítica, que não vai para torcer, e sim para informar e analisar com independência.
Há os que dizem que a mídia mais otimista, mais tolerante e menos crítica faz parte da im prensa oficial. Já outros falam que a mídia mais crítica é muito pessimista, mal humorada, derrotista, que só vê o lado ruim e que torce contra a seleção brasileira.
Imagino que há muitas semelhanças entre os que apoiam as escolhas e os discursos de Dunga com os que preferem acompanhar o Mundial em uma imprensa mais otimista e tolerante. Da mesma forma, devem ser parecidos os que detestam as preferências e ufanismos de Dunga com os que gostam de uma mídia mais crítica.
Existem ainda os que misturam suas escolhas. Gostam do técnico Dunga, mas não gostam do discurso de Dunga, ou vice-versa. Assistem a todos os tipos de cobertura da imprensa para fazer suas escolhas. Gostam e criticam todas.
Há ainda os que não têm nenhuma ideologia. Decidem pelo hábito, pelo prestígio, pela propaganda e pelo que outros disseram. Não escolhem. São escolhidos. Talvez seja a maioria.
Alguém, fanático por esporte, já disse que o futebol é a verdadeira linguagem universal do mundo, uma metáfora da vida, do comportamento e da dualidade humana.

GOSTOSA

SERGIO FAUSTO

Nada trivial
Sergio Fausto 
O Estado de S.Paulo 16/05/10

Peço desculpas pelo economês, mas ele é indispensável para chegar aonde quero com este artigo: o próximo governo não poderá ser um governo de simples continuidade, pois ela não nos levará muito longe, certamente não a tão longe quanto podemos chegar. E aqui falo de continuidade em relação aos governos de Lula e Fernando Henrique Cardoso, ambos. Temos, portanto, difíceis escolhas políticas a fazer depois de 2010.

Nos últimos dez anos consolidou-se um padrão de política macroeconômica com três pernas na área fiscal e duas na área monetário-cambial. As três pernas fiscais são: meta de superávit primário (receitas menos despesas, excluindo juros) alta o suficiente para impedir o descontrole da dívida pública (o governo federal controla a sua meta diretamente e a dos demais membros da Federação, indiretamente); gastos correntes crescendo mais que o PIB; e carga tributária elevada para cobrir o crescimento dos gastos correntes e, ao mesmo tempo, assegurar o cumprimento das metas de superávit primário e o controle da dinâmica da dívida pública. Na área monetária, as duas pernas são os regimes de metas de inflação e câmbio flutuante, pernas que seriam frouxas sem a companhia das pernas fiscais.

Filha do governo FHC, essa política recebeu duas contribuições do governo Lula. Uma, positiva, consistiu em aproveitar os instrumentos disponíveis e o ótimo ambiente externo de 2003 a 2007 para colocar a dívida pública, a inflação e os juros em trajetória declinante. A outra, negativa, consistiu em pisar no acelerador do gasto corrente, dirigindo para esse tipo de despesa 85% do ganho fiscal gerado pelo crescimento da arrecadação e pela diminuição da despesa com pagamento de juros. Além disso, Lula contratou despesas adicionais com pessoal cujo impacto pleno ainda virá.

Até aqui a continuidade dessa política macroeconômica rendeu bons frutos ao País: consolidação da estabilidade econômica com crescimento razoável e maior capacidade de atender às demandas sociais de uma sociedade com muita pobreza e enorme desigualdade. Os pobres, 30% da população no início dos anos 90, passaram a representar menos de 20% nos anos recentes.

Ninguém sensato deseja mudanças nos regimes monetário e cambial. Mas é preciso reconhecer que na área fiscal estamos com os pés trocados e corremos o risco de tropeçar mais à frente.

Os gastos correntes do governo federal têm crescido sistematicamente acima do PIB. Passaram de 14% em 1991 para 22% do PIB em 2009. No mesmo período, a carga tributária deu um salto de aproximadamente 25% para 36% do PIB, um aumento de 11 pontos de porcentagem em menos de 20 anos, fenômeno quase sem paralelo no mundo. Hoje o Brasil tem um nível de carga tributária anômalo para países de renda média, como ainda somos. Cresceu a fatia da União no bolo da arrecadação e aumentou o peso dos tributos em cascata, ruins para a economia e injustos socialmente. Já os investimentos do governo federal não superaram os 2% do PIB no mesmo período. Estados e municípios aumentaram seus investimentos nesses anos, mas não compensaram a queda drástica do investimento público federal em relação ao observado em períodos anteriores.

A atrofia do investimento e a expansão do gasto corrente do setor público se refletem no conjunto da economia. Nota recente da MB Associados mostra que o investimento agregado respondeu por apenas 13% do crescimento na presente década (2000-2010). Já o consumo do governo foi responsável por 20% do crescimento observado, cabendo 70% ao consumo das famílias, estimulado pelo aumento das transferências governamentais (benefícios previdenciários e assistenciais, grandes itens do gasto corrente) e pelo empurrão oficial ao crédito ao consumidor (crédito consignado, "proatividade" dos bancos públicos) no governo Lula. Não é preciso ser economista para saber que essas tendências não são sustentáveis: estamos consumindo demais, poupando e investindo de menos. Cedo ou tarde, isso termina em mais inflação e/ou em crise das contas externas.

Não será fácil mudar a trajetória dessas variáveis. O padrão a que me referi de início tem implícito um acordo social e político. Será necessário fazer escolhas e contrariar interesses. Embora as mudanças possam ser feitas gradualmente, elas têm de começar desde o início do próximo governo. A principal delas consiste em limitar o crescimento do gasto corrente. Ao contrário do que fez o governo Lula, trata-se de pisar no breque, e não no acelerador, fazendo o gasto corrente crescer abaixo, e não acima do PIB e, nele, privilegiando o que há de mais importante: educação e saúde. Só assim será possível aumentar o investimento público e/ou reduzir a carga tributária, sem pôr em risco a "responsabilidade fiscal". Uma saída politicamente atraente é dizer: "Bastam cortes na máquina do governo." Atraente, mas insuficiente: os benefícios previdenciários respondem por quase metade do aumento do gasto corrente do governo federal desde 1991. Tal constatação nos força a repensar a política de aumentos reais do salário mínimo, que remonta a 1995, e recoloca sobre a mesa a reforma da Previdência, à luz do aumento da proporção de idosos nos anos vindouros. O Brasil já gasta com a Previdência mais que o dobro do que gasta com educação, um absurdo.

O ambiente político não é favorável a reformas e ajustes no nível e na composição do gasto público. Desde a aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal, lá se vão dez anos, não houve uma só medida aprovada no Congresso, com exceção parcial da reforma da Previdência do setor público, em 2003, que visasse a limitar o crescimento do gasto público corrente. A tentativa do ex-ministro Palocci de limitá-lo legalmente foi bombardeada ainda no Executivo, sob o fogo cerrado da ministra Dilma, então chefe da Casa Civil.

Nada trivial é a missão política que o próximo presidente da República, homem ou mulher, tem pela frente.

DIRETOR EXECUTIVO DO IFHC, É MEMBRO DO GACINT DA USP

GAUDÊNCIO TORQUATO

Um filme em preto e branco
Gaudêncio Torquato 
O Estado de S.Paulo - 16/05/10

Dissimular é uma arte da política, particularmente praticada nos ciclos eleitorais. Em se tratando do Brasil, convenhamos, essa aptidão é desenvolvida com naturalidade, eis que a expressão da verdade não assume status de extremo rigor quanto se observa em países de cultura anglo-saxônica. Sob essa premissa, não causam comoção manifestações, atos, atitudes e abordagens feitas na atual quadra, também conhecida como pré-campanha eleitoral.

O exercício em torno da transmutação de imagem, a cargo dos atores, aponta para algumas direções: montagem de discurso cauteloso, apresentação de propostas consensuais, distância de polêmicas e humanização do perfil. Nessa tarefa, os protagonistas tentam driblar as rotas de condutas históricas e incorporar novos comportamentos e posições, impedindo que os circunstantes os considerem tal como são ou deixando transparecer argumentos para se pensar que não são o que efetivamente são. Até conseguem o intento, mas não raro a prestidigitação faz o conhecido princípio da geometria "duas paralelas no plano se encontram no infinito" arrumar como ponto de encontro a esquina eleitoral mais próxima. Pois o paralelismo que se julga existir entre candidatos nada mais é que uma encruzilhada, onde a visão de um se cruza com o ponto de vista de outro. Mesmo que o passado seja o traço de união.

O objetivo dos participantes da peça é, como no teatro chinês, apor uma máscara sobre a cara para representar galhardamente o espetáculo e ganhar palmas entusiasmadas da plateia. Bom desempenho dá aplausos e tropeços geram apupos. Cada qual, atores centrais e secundários, tem papel definido. Vejamos o desempenho de alguns, a começar pelo presidente da República.

Em entrevista ao jornal El País, Lula confessa ser um cidadão "multi-ideológico". O termo, que em tempos idos poderia soar como atentado ao pudor de um PT monolítico e sacralizado, foi usado para abrigar a pluralidade que torna semelhantes entes políticos neste ciclo de desideologização. Luiz Inácio não quer mais parecer o radical de outrora, sentimento apontado por outra palavra - multinacional - que apensou ao desabafo, como se fosse sinônimo. Ora, graças à multinacionalidade e às ideologias múltiplas que agregou ao perfil, tornou-se palatável aos olhos de líderes mundiais, enquanto por aqui passou a ser visto como ente acima de partidos. O processo mutante, convém lembrar, vem lá de trás, quando abriu o balcão do "Lulinha paz e amor", sob a bandeira de uma Carta aos Brasileiros (2002) cujo mérito foi expurgar de sua feição vestígios de "bicho-papão". A antiga carranca amedrontava. A engenharia transformativa ganhou amplitude. Assim, Lula arrastou o PT para o meio da roda, onde hoje o partido convive, sem o antigo manto de vestal, com siglas cimentadas na argamassa da aliança governista.

"Metamorfose ambulante", como já se classificou, Lula é uma figura permanentemente vitaminada por circunstâncias. Ao mesmo jornal espanhol disse que resolveu, "primeiro, construir o capitalismo para depois fazer o socialismo". Aliás, Delfim Netto, quando ministro da Fazenda (1979-1985), cunhou a frase: "Primeiro, deixar o bolo crescer para depois repartir." O professor defendia a ideia de que a riqueza, para ser distribuída, deveria, antes, ser criada. O capitalismo imaginado por Lula não seria a riqueza pensada por Delfim? Se é isso, a conclusão é inevitável: o Lula de hoje é o Delfim de ontem. Ou, se quiserem, Delfim pelejou, pelejou, até conseguir plantar uma frondosa árvore na seara do lulismo.

Em outra imbricação aparecem, lado a lado, o escolado atual presidente e o scholar sociólogo, o ex-presidente Fernando Henrique. Luiz Inácio costura firme o presidencialismo de coalizão, tarefa a que o tucano tanto se dedicou. Se Lula alcança mais sucesso nessa tarefa, é por conta do multilateralismo de que hoje é fanático seguidor. Há mais pontos de intersecção. FHC é frequentemente cobrado por adversários pela frase (que nega ter dito): "Esqueçam o que escrevi." Lula disse algo parecido: "Esqueçam as bravatas que eu disse nos palanques." Como se vê, a confraternização de verbos é uma constante na mesa da Realpolitik. Essa é a carga simbólica que Lula passa para Dilma.

A lapidação da imagem toma o fôlego dos pré-candidatos. Procuram um diferencial. Mas a percepção sobre atributos varia de segmento e classe. Nos estratos de cima, a comparação entre eles é a régua do "risco". Serra e Dilma começam a ser vistos nessa moldura, até se ouvir um ponto mais consensual: seja qual for o ator escolhido, o Brasil não corre perigo de retrocesso. Serra ataca os juros altos, fustigando a conduta de Henrique Meirelles. Dilma, que no passado pertencia a um grupo do PT contrário à visão de Meirelles, hoje é sua defensora. Serra agrada ao empresariado por causa dos juros e da política de câmbio, mas abre temores por sugerir arrefecimento da autonomia do Banco Central. Uma no cravo, outra na ferradura. No frigir dos ovos, ambos estão mais próximos que distantes na direção da matéria econômica.

Dilma tinha dúvida, tempos atrás, sobre a existência de Deus. Hoje, se diz, primeiro, cristã e, num segundo momento, católica. Serra, por sua vez, compara o ateu ao fumante, que conhece o mal do cigarro, mas continua fumando. A pessoa sem Deus sabe que Ele está ali, mas não procura. Os ateus condenaram a comparação. Essas são as firulas que cercam a dissimulação.

E o que dizer da coerência dos partidos? Parcelas das siglas que, até o momento, integram a base aliada abraçam a oposição. Não é novidade. São gestos de um passado que renasce. No pico da incredibilidade, desponta a figura do ex-presidente Fernando Collor, que abriu intensa polêmica por usar, em 1989, expediente antiético que feriu a imagem de Lula. Candidato ao governo de Alagoas, hoje acolhe Dilma e Lula no palanque.

O filme, temos de convir, é ainda em preto e branco.