REVISTA ÉPOCA
Já passou da hora de ela reavaliar os erros de sua gestão na economia
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso escreveu recentemente que já passou a hora de o petismo beijar a cruz. Era uma referência irônica à relutância dos governos do PT de fazer as concessões de aeroportos, ferrovias e estradas e portos à iniciativa privada. Na prática, apesar de abjurar a palavra, eles já adotaram a demonizada "privatização”. Mas o fazem com tantas reticências que o programa anda aos solavancos — com os de- correntes prejuízos para a modernização da precária infraestrutura nacional.
Da mesma forma, pode-se dizer que chegará uma hora em que a presidente Dilma Rousseff terá de beijar a cruz em relação aos erros de seu governo na gestão da economia. No discurso, ela ainda é reticente em admiti-los, como fez, na semana passada, ao comparar seus críticos ao Velho do Restelo. Era uma referência ao personagem de Os Lusíadas, de Luís de Camões, que agourava os navegadores portugueses de partida da costa lusitana para desbravar mares. Na prática, o governo Dilma já tem dado, ainda que relutantemente, passos atrás na política que adotou em seus dois primeiros anos. É uma política que desajustou a economia brasileira, elevou a inflação, sem aumentara taxa média de crescimento anual do PIB, a menor desde o governo Collor.
Ao respaldar a decisão do Banco Central (BC) de elevar a taxa de juros e deixar a taxa de câmbio flutuar mais livremente, o Palácio do Planalto reconhe tacitamente, a necessidade de uma correção de rumos. As duas medidas representam um recuo na intervenção política do governo no BC, para forçar os juros para baixo e o câmbio para o alto. Os economistas desenvolvimentistas instalados no Ministério da Fazenda acreditavam que tais medidas acelerariam o crescimento brasileiro, ao lado da abertura das comportas dos gastos públicos, por meio de estímulos para certos setores. Tal objetivo foi frustrado. A meia-volta do BC foi ditada pelo crescimento da insatisfação popular com a renitência da inflação (registrada na pesquisa Datafolha que mostrou uma queda de 8 pontos na aprovação à presidente Dilma) e pelas mudanças nas expectativas dos investidores internacionais que valorizam o dólar. Agora, o governo precisa conter seus gastos. Na semana passada, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, numa tentativa de recuperar a credibilidade perdida da política fiscal, anunciou uma meta de 2,3% do PIB de superavit nas contas públicas. Disse que, se necessário, fará cortes para cumpri-la.
Será crível? Mesmo os amigos do Planalto, como o ex-ministro Delfim Netto, não hesitam em criticar os economistas oficiais. Inspirados, segundo ele, num "keynesianismo de pé quebrado", eles acreditam que os financiamentos do Tesouro farão o PIB crescer. O discurso da austeridade fiscal também não é condizente com as medidas em série tomadas pela presidente Dilma para estimular o consumo. Na semana passada, ela lançou mais um programa de crédito subsidiado pelo Tesouro — destinado às famílias beneficiadas pelo Programa Minha Casa Minha Vida comprarem móveis e eletrodomésticos. Enquanto a reeleição estiver na mira prioritária do Planalto, o mais provável é que Dilma continue a se negar a beijar a cruz de um ajuste fiscal firme, a cada dia mais necessário para reequilibrar a economia brasileira.
domingo, junho 16, 2013
A mesa da cozinha - MARTHA MEDEIROS
ZERO HORA - 16/06
A mesa da cozinha é o local sagrado das conversas durante a madrugada, quando os irmãos chegam da balada com fissura por um gole de Coca-Cola e com histórias saindo pela boca: com quem ficaram ou não ficaram, o trajeto que fizeram para driblar a blitz, o preço da cerveja, e aí as amenidades evoluem para a filosofia, a necessidade de extrair da vida uma essência, a tentativa de escapar da insignificância, até que o dia começa a clarear e o cansaço avisa que é hora de ir para a cama.
Para alguns casais, a mesa da cozinha já serviu de cama, aliás.
A mesa da cozinha ouviu confissões de amigas que juraram guardar segredo, mas não conseguiram. O amante, a traição, a culpa, o nunca mais. A mesa escuta e não espalha, reconhece a inocência das fraquezas alheias e se sente honrada por ser confidente de tantas vidas.
A mesa da cozinha escutou o que os convidados não comentaram na sala, viu estranhos abrirem a geladeira atrás de algo mais substancial que canapés, suportou o peso de quem resolveu sentar sobre ela para fumar um cigarro antes de voltar para o burburinho da festa.
A mesa da cozinha já foi cenário de toda espécie de solidão.
Mas também de encontros. Viu o casal de namorados preparar, sem receita, seu primeiro salmão ao molho de manga, viu o menino nervoso abrir sua primeira garrafa de vinho para uma menina não menos nervosa, viu um beijo secreto entre primos, cuja família comemorava o Natal em torno da árvore, viu o marido se declarar para a esposa viciada em grifes ao surpreendê-la com um simples avental amarrado em torno da cintura.
A mesa da cozinha viu a mãe esquentar a primeira mamadeira às três da manhã, com cara de sono e felicidade. E o pai da criança, a caminho da área de serviço, segurando uma fralda suja com expressão de nojo, mas também de orgulho.
A mesa da cozinha viu a funcionária sentar no banquinho e, durante uma trégua entre um suflê e um pavê exigido pela patroa, acariciar sua primeira carteira de trabalho.
A mesa da cozinha viu o cachorro xeretar a lata de lixo e o gato lamber os restos que sobraram na louça do jantar. A mesa da cozinha viu a dona da casa tentar escrever um diário, coisas que ela sente e que não tem com quem dividir, a não ser com a luz amarelada do abajur.
A mesa da cozinha testemunhou lágrimas que foram secadas com o pano de prato. A mesa da cozinha possui manchas que contam histórias. A mesa da cozinha tem um pé frouxo que ninguém se lembra de aparafusar.
A mesa da cozinha já amparou carteados, velas acesas em dia de temporal, cinzeiros abarrotados, a roupa passada e dobrada antes de ir para as gavetas. A mesa da cozinha viu tudo.
A mesa da cozinha é o local sagrado das conversas durante a madrugada, quando os irmãos chegam da balada com fissura por um gole de Coca-Cola e com histórias saindo pela boca: com quem ficaram ou não ficaram, o trajeto que fizeram para driblar a blitz, o preço da cerveja, e aí as amenidades evoluem para a filosofia, a necessidade de extrair da vida uma essência, a tentativa de escapar da insignificância, até que o dia começa a clarear e o cansaço avisa que é hora de ir para a cama.
Para alguns casais, a mesa da cozinha já serviu de cama, aliás.
A mesa da cozinha ouviu confissões de amigas que juraram guardar segredo, mas não conseguiram. O amante, a traição, a culpa, o nunca mais. A mesa escuta e não espalha, reconhece a inocência das fraquezas alheias e se sente honrada por ser confidente de tantas vidas.
A mesa da cozinha escutou o que os convidados não comentaram na sala, viu estranhos abrirem a geladeira atrás de algo mais substancial que canapés, suportou o peso de quem resolveu sentar sobre ela para fumar um cigarro antes de voltar para o burburinho da festa.
A mesa da cozinha já foi cenário de toda espécie de solidão.
Mas também de encontros. Viu o casal de namorados preparar, sem receita, seu primeiro salmão ao molho de manga, viu o menino nervoso abrir sua primeira garrafa de vinho para uma menina não menos nervosa, viu um beijo secreto entre primos, cuja família comemorava o Natal em torno da árvore, viu o marido se declarar para a esposa viciada em grifes ao surpreendê-la com um simples avental amarrado em torno da cintura.
A mesa da cozinha viu a mãe esquentar a primeira mamadeira às três da manhã, com cara de sono e felicidade. E o pai da criança, a caminho da área de serviço, segurando uma fralda suja com expressão de nojo, mas também de orgulho.
A mesa da cozinha viu a funcionária sentar no banquinho e, durante uma trégua entre um suflê e um pavê exigido pela patroa, acariciar sua primeira carteira de trabalho.
A mesa da cozinha viu o cachorro xeretar a lata de lixo e o gato lamber os restos que sobraram na louça do jantar. A mesa da cozinha viu a dona da casa tentar escrever um diário, coisas que ela sente e que não tem com quem dividir, a não ser com a luz amarelada do abajur.
A mesa da cozinha testemunhou lágrimas que foram secadas com o pano de prato. A mesa da cozinha possui manchas que contam histórias. A mesa da cozinha tem um pé frouxo que ninguém se lembra de aparafusar.
A mesa da cozinha já amparou carteados, velas acesas em dia de temporal, cinzeiros abarrotados, a roupa passada e dobrada antes de ir para as gavetas. A mesa da cozinha viu tudo.
Duelo em terra e no ar - ANCELMO GOIS
O GLOBO - 16/06
Os grupos vencedores do último leilão de privatização dos aeroportos devem ir à Justiça para mudar a regra que os impede de participar da próxima rodada, em outubro, que inclui Galeão e Confins.
O governo acha que a proibição desestimula a concentração e estimula a concorrência.
Segue...
Um dos prejudicados é a Invepar, que reúne a OAS e os fundos de pensão Previ, Petros e Funcef. O consórcio, para alegria do Tesouro, pagou R$ 16,2 bilhões por Guarulhos (um ágio de 373,5%).
Lula está bem
João de Deus, o médium que cuidou de Lula, disse a um amigo que o ex-presidente, ao contrário de boatos, não só está bem de saúde como está pronto para voltar ao governo.
É. Pode ser.
Varejo em baixa
O banco BTG, de André Esteves, dono das Lojas Leader, colocou seu sócio Michel Wurman para tentar reverter os resultados da rede de varejo, que não andam bem.
Pedra no sapato
A25ª Vara Cível do Rio determinou que a Calçados Ferrati retire em dez dias toda a publicidade em que aparece o ator Carlos Casagrande.
É que os anúncios continuaram mesmo depois do fim do contrato.
No mais
A UNE estava, em vida, à frente de todas as mobilizações estudantis nos últimos 70 anos, como os protestos contra aumento de passagens de bondes da Light e de ônibus, iguais às ocorridas estes dias.
Que Deus ilumine sua alma e que a UNE possa descansar em paz. Com todo o respeito.
Boa mesa do Papa
O Papa Francisco terá que resistir à tentação da gula na visita ao Hospital São Francisco, na Tijuca, durante a Jornada Mundial da Juventude. Sobretudo se estiver de dieta.
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, que esteve no hospital, sexta, inaugurando leitos de UTI, teve que encarar uma mesa cheia de deliciosos quitutes e uma explicação do frei Francisco Belotti, diretor do São Francisco.
O estilo franciscano...
Segundo o sacerdote, "se o senhor visitar os beneditinos, eles lhe mostrarão uma capela; se visitar os jesuítas, eles lhe mostrarão uma biblioteca; mas, se o senhor visitar os franciscanos, como nós, eles sempre lhe mostrarão uma cozinha".
Bom apetite.
Francisco de Roma
Leonardo Boff vai lançar em julho, às vésperas da chegada do Papa ao Brasil, o livro "Francisco de Assis e Francisco de Roma", pela Editora Mar de Ideias.
Nele, estão artigos que falam da simbologia por trás da escolha do Papa e dos rumos da Igreja.
Cara coleguinha
A gaúcha Adriana Calcanhotto vai falar na casa do Instituto Moreira Salles na Flip sobre seu conterrâneo e poeta Mario Quintana, dia 5 de julho.
Aliás, a casa vai homenagear este ano os 90 anos da Portela, com apresentações de Paulão 7 Cordas.
É grave a crise
Em função do fechamento do Engenhão, o Botafogo deve cortar a partir de amanhã o correspondente a 30% da folha de pagamento.
Este ano, com a interdição do estádio, o clube de Seedorf perdeu mais de R$ 30 milhões.
Mão grande
Uma sócia do Clube Piraquê, na Lagoa, foi furtada dentro do vestiário, na terça passada.
O larápio, espertinho, só tirou da bolsa da moça os produtos da MAC, grife chique de maquiagem. Os cremes chinfrins ficaram todos lá.
Caiu na rede
A 20ª Câmara Cível do Rio condenou o Google do Brasil a indenizar em R$ 100 mil, por danos morais, uma professora de matemática de Cabo Frio, na Região dos Lagos.
Ela alega que seu ex-companheiro criou um falso perfil e divulgou fotos em que eles apareciam fazendo sexo. A mulher pediu que a página fosse retirada do ar, mas o Google não tomou providências.
O prazer da fé
Um fiel procurou o Motel Corinto, em Vila Isabel, para hospedar mais de 50 peregrinos durante a Jornada Mundial da Juventude.
SANGRIA DESATADA
A função básica era, claro, fazer barba, cabelo e bigode. Mas os barbeiros, ou mestres barbeiros, como definiu o francês Debret nas andanças pelas ruas do Rio do século XIX, extrapolavam as funções primárias e viravam "sangradores". Acreditava-se na época que essas sangrias ajudariam a curar doenças.O historiador Rodrigo Aragão Dantas estuda o fenômeno na sua tese de doutorado na Casa de Oswaldo Cruz, na Fiocruz. Seu trabalho mostra como essas barbearias evoluíram até virarem os salões de beleza modernos. Ele descobriu,veja só, o primeiro caso de cabeleireiro gay do país.Márcia Vieira, da turma da coluna, trocou dois dedos de prosa com o historiador.
Quem eram os barbeiros sangradores? Eram negros ou descendentes de africanos. De 1844 até 1889, eram por volta de mil barbeiros.
As sangrias curavam o quê?
Segundo a medicina da época, era um recurso que permitia expurgar o mal pelo sangue. As doenças eram consideradas um desequilíbrio do corpo.E o equilíbrio poderia ser obtido tirando-se o mal pelo sangue ou usando remédios para provocar vômito.
Por que os portugueses se apossaram da tarefa?
Por causa da dinâmica da migração da cidade.Os escravos foram trabalhar nas lavouras de café.Os portugueses ocuparam, então, trabalhos manuais urbanos.A entrada deles deu outro aspecto ao ofício, com uma preocupação estética mais apurada, mais próxima dos salões de cabeleireiro de hoje.
Você encontrou histórias inusitadas da profissão?
A mais curiosa foi a da mulher de um barbeiro francês. No Arquivo Nacional, está o relato de Maria José da Silva, que notou, em 1884, que o marido andava meio indiferente. E descobriu que o motivo, como diz o texto, era "ter renascido nele o torpe vício afeminado de servir de mulher a indivíduos do seu sexo, retirando-se, portanto, de sob o teto conjugal".
Mas aí é outra história.
Lembrando por lembrar - FERREIRA GULLAR
FOLHA DE SP - 16/06
Pouca gente sabe que foi graças à classe teatral que se realizou a famosa Passeata dos Cem Mil
Li outro dia uma matéria acerca da luta da intelectualidade contra a ditadura militar e, nela, não havia qualquer referência ao Grupo Opinião, que teve papel relevante nessa luta.
Não vejo qualquer má-fé nessa omissão, mesmo porque o entrevistado, por sua idade, não poderia ter participado daquela luta, iniciada no mesmo ano do golpe, isto é, em 1964.
É público e notório que o primeiro espetáculo a contestar o regime militar foi o show "Opinião", escrito por Oduvaldo Vianna Filho, Paulo Pontes e Armando Costa.
O espetáculo estreou em novembro daquele ano, oito meses depois do golpe, num teatro de arena improvisado, no shopping center da rua Siqueira Campos, em Copacabana. Dele nasceu o Grupo Opinião, que marcaria a vida teatral brasileira daquele período, entre outras razões por sua postura política.
O papel político que esse grupo desempenhou teve uma razão: o Grupo Opinião foi o novo nome do Centro Popular de Cultura (CPC) da UNE (União Nacional de Estudantes), entidade essencialmente política, extinta por isso mesmo pelo golpe.
Funcionava na sede da UNE, na praia do Flamengo, incendiada por lacerdistas no dia do golpe. Parte dos membros do CPC era militante do Partido Comunista, que dava assistência à entidade. Essa ligação com o PC foi mantida pelo Grupo Opinião.
O êxito de bilheteria do show "Opinião" contribuiu para prestigiar o novo grupo teatral. Nos primeiros meses da ditadura, a ação da censura voltava-se mais para a imprensa em geral e só se voltou efetivamente para o teatro após a proibição de "O Berço do Herói", de Dias Gomes.
A partir daí, a ação da censura foi se ampliando, o que exigia, de outro lado, a mobilização da classe teatral. Isso foi feito principalmente pelo Grupo Opinião, cujo teatro se tornou o local das reuniões e manifestações de protesto contra a censura.
Após o show "Opinião", o grupo apresentou o espetáculo "Liberdade, Liberdade", de Millôr Fernandes e Flávio Rangel, que era também uma montagem de textos e músicas, só que, neste caso, os textos eram citações de pensadores e estadistas, desde Sócrates a Voltaire e George Washington. Era difícil censurar tais figuras e, por isso mesmo, o meio escolhido pela repressão foi tentar tumultuar o espetáculo, com capangas armados.
Como essa tentativa foi abortada, lançaram mão, algum tempo depois, de um recurso mais drástico: puseram uma bomba na bilheteria que quase destrói o teatro inteiro. Depois disso, o público, assustado, afastou-se dali, dando-se início à falência do grupo teatral.
Mas isso foi um pouco mais tarde. Até ali, a classe teatral, mobilizada, passou dos manifestos e reuniões em teatros a manifestações de rua, com a presença de atores e atrizes de grande prestígio e popularidade, o que intimidava os censores. Nem por isso, conforme o caso, deixavam de mandar os policiais dissolver essas manifestações e até mesmo prender os manifestantes. Prenderam Norma Bengell.
Pouca gente sabe, por exemplo, que foi graças à classe teatral, com o apoio de intelectuais estudantes, que se realizou a famosa Passeata dos Cem Mil. Grupo radicais, ligados à UNE clandestina, insistiam em arrastar os manifestantes para conflitos de rua com a polícia.
Já o nosso grupo pretendia realizar uma manifestação de caráter massivo com o apoio da Igreja Católica e outras organizações sociais, que se opunham ao regime. A participação dessas entidades já estava sendo articulada pelo Partido Comunista e a esquerda católica.
Discutia-se isso no teatro Glaucio Gill, onde se haviam reunido, além da classe teatral, intelectuais de diferentes áreas. A dificuldade para chegar a um consenso decorria do fato de que a direção da UNE, na clandestinidade, não participava das discussões.
A muito custo, conseguiu-se um contato telefônico com Vladimir Palmeira e discutiu-se com ele a proposta em questão. Ele concordou com a proposta e deu seu apoio para a realização da manifestação pacífica e massiva.
A partir daí, começaram todos a mobilizar gente de diferentes setores da sociedade, inclusive sindicatos de trabalhadores, do que resultou a primeira grande manifestação de massa contra o regime militar. Uma manifestação que ficou para a história.
Pouca gente sabe que foi graças à classe teatral que se realizou a famosa Passeata dos Cem Mil
Li outro dia uma matéria acerca da luta da intelectualidade contra a ditadura militar e, nela, não havia qualquer referência ao Grupo Opinião, que teve papel relevante nessa luta.
Não vejo qualquer má-fé nessa omissão, mesmo porque o entrevistado, por sua idade, não poderia ter participado daquela luta, iniciada no mesmo ano do golpe, isto é, em 1964.
É público e notório que o primeiro espetáculo a contestar o regime militar foi o show "Opinião", escrito por Oduvaldo Vianna Filho, Paulo Pontes e Armando Costa.
O espetáculo estreou em novembro daquele ano, oito meses depois do golpe, num teatro de arena improvisado, no shopping center da rua Siqueira Campos, em Copacabana. Dele nasceu o Grupo Opinião, que marcaria a vida teatral brasileira daquele período, entre outras razões por sua postura política.
O papel político que esse grupo desempenhou teve uma razão: o Grupo Opinião foi o novo nome do Centro Popular de Cultura (CPC) da UNE (União Nacional de Estudantes), entidade essencialmente política, extinta por isso mesmo pelo golpe.
Funcionava na sede da UNE, na praia do Flamengo, incendiada por lacerdistas no dia do golpe. Parte dos membros do CPC era militante do Partido Comunista, que dava assistência à entidade. Essa ligação com o PC foi mantida pelo Grupo Opinião.
O êxito de bilheteria do show "Opinião" contribuiu para prestigiar o novo grupo teatral. Nos primeiros meses da ditadura, a ação da censura voltava-se mais para a imprensa em geral e só se voltou efetivamente para o teatro após a proibição de "O Berço do Herói", de Dias Gomes.
A partir daí, a ação da censura foi se ampliando, o que exigia, de outro lado, a mobilização da classe teatral. Isso foi feito principalmente pelo Grupo Opinião, cujo teatro se tornou o local das reuniões e manifestações de protesto contra a censura.
Após o show "Opinião", o grupo apresentou o espetáculo "Liberdade, Liberdade", de Millôr Fernandes e Flávio Rangel, que era também uma montagem de textos e músicas, só que, neste caso, os textos eram citações de pensadores e estadistas, desde Sócrates a Voltaire e George Washington. Era difícil censurar tais figuras e, por isso mesmo, o meio escolhido pela repressão foi tentar tumultuar o espetáculo, com capangas armados.
Como essa tentativa foi abortada, lançaram mão, algum tempo depois, de um recurso mais drástico: puseram uma bomba na bilheteria que quase destrói o teatro inteiro. Depois disso, o público, assustado, afastou-se dali, dando-se início à falência do grupo teatral.
Mas isso foi um pouco mais tarde. Até ali, a classe teatral, mobilizada, passou dos manifestos e reuniões em teatros a manifestações de rua, com a presença de atores e atrizes de grande prestígio e popularidade, o que intimidava os censores. Nem por isso, conforme o caso, deixavam de mandar os policiais dissolver essas manifestações e até mesmo prender os manifestantes. Prenderam Norma Bengell.
Pouca gente sabe, por exemplo, que foi graças à classe teatral, com o apoio de intelectuais estudantes, que se realizou a famosa Passeata dos Cem Mil. Grupo radicais, ligados à UNE clandestina, insistiam em arrastar os manifestantes para conflitos de rua com a polícia.
Já o nosso grupo pretendia realizar uma manifestação de caráter massivo com o apoio da Igreja Católica e outras organizações sociais, que se opunham ao regime. A participação dessas entidades já estava sendo articulada pelo Partido Comunista e a esquerda católica.
Discutia-se isso no teatro Glaucio Gill, onde se haviam reunido, além da classe teatral, intelectuais de diferentes áreas. A dificuldade para chegar a um consenso decorria do fato de que a direção da UNE, na clandestinidade, não participava das discussões.
A muito custo, conseguiu-se um contato telefônico com Vladimir Palmeira e discutiu-se com ele a proposta em questão. Ele concordou com a proposta e deu seu apoio para a realização da manifestação pacífica e massiva.
A partir daí, começaram todos a mobilizar gente de diferentes setores da sociedade, inclusive sindicatos de trabalhadores, do que resultou a primeira grande manifestação de massa contra o regime militar. Uma manifestação que ficou para a história.
Miséria cultural absoluta - BELMIRO VALVERDE JOBIM CASTOR
GAZETA DO POVO - PR - 16/06
“Será ranzinzice minha ou a música brasileira empobreceu, abastardou-se, vulgarizou-se?”
“Nosso amor que eu não esqueço... e que teve seu começo em uma festa de São João... Morre hoje sem bilhete, sem recado e sem foguete, sem luar, sem violão” (Noel Rosa, Último Desejo).
“Nossa, nossa, assim você me mata... Delícia, delícia.”
“A porta do barraco era sem trinco e a lua furando nosso zinco, salpicava de estrelas nosso chão... Tu pisavas nos astros distraída, sem saber que a alegria desta vida é a cabrocha, o luar e o violão” (Silvio Caldas, Chão de Estrelas).
“Piri, pipiri, pipiri, piri piradinha... Ela tá maluca ela tá doidinha... Piri, pipiri, pipiri, piri piradinha, Ela tá doidona fora da casinha.”
“Palmas para a ala dos barões famintos, o bloco dos napoleões retintos e os pigmeus do bulevar... Meu Deus, vem olhar, vem ver de perto uma cidade a cantar... A evolução da liberdade até o dia clarear” (Chico Buarque, Vai Passar).
“Eu quero tchu, eu quero tchá, eu quero tchu tchá tchá tchu tchu tchá tchá tchu tchu tchá.”
Será ranzinzice minha ou a música brasileira empobreceu, abastardou-se, vulgarizou-se? Repita, paciente leitor, a mesma pergunta com a poesia e a literatura e os resultados são igualmente melancólicos. Os grandes poetas do passado recente são Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Ferreira Gullar, Mario Quintana, Vinicius de Moraes, Thiago de Mello... Os grandes poetas brasileiros de agora são quem mesmo? E por aí afora. Um quase deserto, com as exceções de praxe como os nossos Cristovão Tezza na literatura e João Manoel Simões na poesia.
O Brasil, independentemente de posições ideológicas, teve grandes oradores parlamentares capazes de mobilizar as massas e moldar o pensamento das elites: Juscelino Kubitschek, Carlos Lacerda, Leonel Brizola, Adauto Lucio Cardoso, Bento Munhoz da Rocha. Quais são os grandes oradores e líderes do parlamento brasileiro hoje?
Antes que se apele para o simplismo de achar que minha opinião seja um ressentimento da elite contra a cultura das “camadas populares”: Noel Rosa e Silvio Caldas não pertenciam à elite, Chico Buarque sim; Bento Munhoz da Rocha era do patriciado paranaense, Leonel Brizola era filho órfão de pai de uma trabalhadora. Trata-se, pura e simplesmente, de uma valorização sistemática do vulgar e do ordinário em detrimento da qualidade estéstica. Hoje em dia se lê pouco, se ouve mal e se escreve menos e se escreve mal. Infelizmente, isso é glorificado como sinal de uma sociedade moderna, midiática, imediatista e essencialmente de massa que não honra a língua portuguesa e, portanto, a despreza em favor do “falar popular” do “nós vai, nóis quer”, dos emoticons e das abreviaturas.
Parafraseando Vinicius de Moraes, que me perdoem os críticos, mas a beleza da língua é fundamental até para brigar com namorados e amantes. Que é mais bonito? Receber um fora do amado ou da amada como a Isaurinha Garcia, que “quando o carteiro chegou e meu nome gritou com sua carta na mão” descobriu que ele estava “farto” dela; ou um e-mail determinando “Fui. Delete meu nome do seu mailbox e me tire do seu Facebook. ass. Fulano (ou Fulana)”?
“Será ranzinzice minha ou a música brasileira empobreceu, abastardou-se, vulgarizou-se?”
“Nosso amor que eu não esqueço... e que teve seu começo em uma festa de São João... Morre hoje sem bilhete, sem recado e sem foguete, sem luar, sem violão” (Noel Rosa, Último Desejo).
“Nossa, nossa, assim você me mata... Delícia, delícia.”
“A porta do barraco era sem trinco e a lua furando nosso zinco, salpicava de estrelas nosso chão... Tu pisavas nos astros distraída, sem saber que a alegria desta vida é a cabrocha, o luar e o violão” (Silvio Caldas, Chão de Estrelas).
“Piri, pipiri, pipiri, piri piradinha... Ela tá maluca ela tá doidinha... Piri, pipiri, pipiri, piri piradinha, Ela tá doidona fora da casinha.”
“Palmas para a ala dos barões famintos, o bloco dos napoleões retintos e os pigmeus do bulevar... Meu Deus, vem olhar, vem ver de perto uma cidade a cantar... A evolução da liberdade até o dia clarear” (Chico Buarque, Vai Passar).
“Eu quero tchu, eu quero tchá, eu quero tchu tchá tchá tchu tchu tchá tchá tchu tchu tchá.”
Será ranzinzice minha ou a música brasileira empobreceu, abastardou-se, vulgarizou-se? Repita, paciente leitor, a mesma pergunta com a poesia e a literatura e os resultados são igualmente melancólicos. Os grandes poetas do passado recente são Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Ferreira Gullar, Mario Quintana, Vinicius de Moraes, Thiago de Mello... Os grandes poetas brasileiros de agora são quem mesmo? E por aí afora. Um quase deserto, com as exceções de praxe como os nossos Cristovão Tezza na literatura e João Manoel Simões na poesia.
O Brasil, independentemente de posições ideológicas, teve grandes oradores parlamentares capazes de mobilizar as massas e moldar o pensamento das elites: Juscelino Kubitschek, Carlos Lacerda, Leonel Brizola, Adauto Lucio Cardoso, Bento Munhoz da Rocha. Quais são os grandes oradores e líderes do parlamento brasileiro hoje?
Antes que se apele para o simplismo de achar que minha opinião seja um ressentimento da elite contra a cultura das “camadas populares”: Noel Rosa e Silvio Caldas não pertenciam à elite, Chico Buarque sim; Bento Munhoz da Rocha era do patriciado paranaense, Leonel Brizola era filho órfão de pai de uma trabalhadora. Trata-se, pura e simplesmente, de uma valorização sistemática do vulgar e do ordinário em detrimento da qualidade estéstica. Hoje em dia se lê pouco, se ouve mal e se escreve menos e se escreve mal. Infelizmente, isso é glorificado como sinal de uma sociedade moderna, midiática, imediatista e essencialmente de massa que não honra a língua portuguesa e, portanto, a despreza em favor do “falar popular” do “nós vai, nóis quer”, dos emoticons e das abreviaturas.
Parafraseando Vinicius de Moraes, que me perdoem os críticos, mas a beleza da língua é fundamental até para brigar com namorados e amantes. Que é mais bonito? Receber um fora do amado ou da amada como a Isaurinha Garcia, que “quando o carteiro chegou e meu nome gritou com sua carta na mão” descobriu que ele estava “farto” dela; ou um e-mail determinando “Fui. Delete meu nome do seu mailbox e me tire do seu Facebook. ass. Fulano (ou Fulana)”?
Fauna da padoca - HUMBERTO WERNECK
O Estado de S.Paulo - 16/06
O pãozinho não é lá essas coisas e o barulho nos obriga a esgoelar o papo - e mesmo assim lá vou eu, toda manhã, faz anos, tomar café com Leite, isto é, com meu amigo Paulo Leite. A amizade cobra seus pedágios.
Desprovida de encantos, nossa padoca, em compensação, oferece o espetáculo de uma fauna cujas variadas espécies vou aos poucos registrando. Claro que há gente normal, se é que isso existe, mas algo me diz que também você se liga mais nas bizarrias. Vamos a elas, pois.
O time dos sósias, por exemplo. Uma versão inflada da Ana Paula Arósio, a cada dia mais cheia de si. Um Henry Kissinger acompanhado de uma criatura cujo negror capilar é de matar de inveja a mais retinta das graúnas, e cuja idade talvez não se possa determinar sem recurso ao carbono 14. Também dá as caras uma senhora que, na avaliação do Paulo Leite, passaria por irmã do cardeal Arns. Não põe os pés na padaria desde o dia em que barraram a entrada de seu cachorrinho: da entrada, a dona gesticula, levanta a voz e ali é atendida, com a maior solicitude.
Seriam tipos até convencionais se comparados àquela senhora de boina vermelho vivo, saia e tênis, riponga muito après la lettre, como que saída de um filme de Jacques Tati, acha o Paulo, ou uma Frida Kahlo sem bigode, acho eu. Desenvolta, dá a impressão de ser uma pessoa famosa que ninguém conhece.
Nossa gaiola de aves raras inclui ainda um psiquiatra de meia-idade que fez da padoca o seu escritório - e mesmo seu consultório, pois já o vi passar receita. Espalha papéis na mesa, leva horas escrevendo. Autossuficiente, não é raro que traga sua própria comida. E dá trabalho, ô!, aos atendentes, cuja mão trata de adoçar; os habitués já não estranham quando pede a um deles que vá levar ou buscar alguma coisa em sua casa, nas imediações; levar os sapatos, acredite, e trazer os chinelos. Galante, envia pequenos farnéis para a mulher, de quem já sabemos que adora bolinho de bacalhau.
Faz tempo que não aparece (estará ainda entre nós?) uma senhora de seus 70 anos, organista numa igreja e dona de uma bela voz que por vezes desatava em plena padaria, dependendo do número de caipirinhas matinais. Sujeita a súbitos apagões, em geral sem maiores consequências, madame um dia desmaiou no momento em que ia abocanhar uma coxinha, e, ao desabar, ficou entalada entre o banco e o balcão - pero sin perder o salgadinho jamás. Convenhamos: não há dignidade que resista a um desmaio de coxinha em punho.
Não menos folgado que o nosso psiquiatra é um camarada gordo, diria mesmo hipopotâmico, que como a dama do cachorrinho nunca entra na padoca: encarrega a mulher, igualmente volumosa, de lhe trazer víveres que se põe a mastigar bovinamente, de olhos fechados, no interior da perua estacionada à porta, aonde o garçom irá levar a maquineta do cartão de crédito.
Poderia falar ainda do casal que, para driblar a proibição, acondicionava o lulu num carrinho de bebê. Mas não quero pedir a conta sem registrar também aquilo que, em meio à algaravia dos fregueses e ao estrépito do liquidificador, pode fazer a alegria de um écouteur - sim, a mesma língua francesa que nos deu "voyeur" dispõe de uma palavra, menos usada, é verdade, para designar o "escutador", o xereta, se você prefere. Como este cronista, a cujas orelhas têm chegado deliciosos farelos de conversa alheia. O papo imutável, por exemplo, daquelas duas senhoras a se lamuriar o tempo todo - uma por já não ter marido, a outra por ainda conservar o seu. No quesito pérolas verbais, a padoca nunca me decepciona. Deixo a você, com votos de bom domingo, as últimas que vieram na rede da minha indiscrição:
"Trabalhei anos no ramo de autopeças, mas foi preciso minha esposa falecer para eu descobrir que a vida não é só pneu...".
"E pensar que fiz uma escova de 40 reais para me encontrar com ele... Fora os 25 do táxi!".
"Ah, tenho uma pena dessas prostitutas... Ficam aí esperando quem não combinou de vir...".
O pãozinho não é lá essas coisas e o barulho nos obriga a esgoelar o papo - e mesmo assim lá vou eu, toda manhã, faz anos, tomar café com Leite, isto é, com meu amigo Paulo Leite. A amizade cobra seus pedágios.
Desprovida de encantos, nossa padoca, em compensação, oferece o espetáculo de uma fauna cujas variadas espécies vou aos poucos registrando. Claro que há gente normal, se é que isso existe, mas algo me diz que também você se liga mais nas bizarrias. Vamos a elas, pois.
O time dos sósias, por exemplo. Uma versão inflada da Ana Paula Arósio, a cada dia mais cheia de si. Um Henry Kissinger acompanhado de uma criatura cujo negror capilar é de matar de inveja a mais retinta das graúnas, e cuja idade talvez não se possa determinar sem recurso ao carbono 14. Também dá as caras uma senhora que, na avaliação do Paulo Leite, passaria por irmã do cardeal Arns. Não põe os pés na padaria desde o dia em que barraram a entrada de seu cachorrinho: da entrada, a dona gesticula, levanta a voz e ali é atendida, com a maior solicitude.
Seriam tipos até convencionais se comparados àquela senhora de boina vermelho vivo, saia e tênis, riponga muito après la lettre, como que saída de um filme de Jacques Tati, acha o Paulo, ou uma Frida Kahlo sem bigode, acho eu. Desenvolta, dá a impressão de ser uma pessoa famosa que ninguém conhece.
Nossa gaiola de aves raras inclui ainda um psiquiatra de meia-idade que fez da padoca o seu escritório - e mesmo seu consultório, pois já o vi passar receita. Espalha papéis na mesa, leva horas escrevendo. Autossuficiente, não é raro que traga sua própria comida. E dá trabalho, ô!, aos atendentes, cuja mão trata de adoçar; os habitués já não estranham quando pede a um deles que vá levar ou buscar alguma coisa em sua casa, nas imediações; levar os sapatos, acredite, e trazer os chinelos. Galante, envia pequenos farnéis para a mulher, de quem já sabemos que adora bolinho de bacalhau.
Faz tempo que não aparece (estará ainda entre nós?) uma senhora de seus 70 anos, organista numa igreja e dona de uma bela voz que por vezes desatava em plena padaria, dependendo do número de caipirinhas matinais. Sujeita a súbitos apagões, em geral sem maiores consequências, madame um dia desmaiou no momento em que ia abocanhar uma coxinha, e, ao desabar, ficou entalada entre o banco e o balcão - pero sin perder o salgadinho jamás. Convenhamos: não há dignidade que resista a um desmaio de coxinha em punho.
Não menos folgado que o nosso psiquiatra é um camarada gordo, diria mesmo hipopotâmico, que como a dama do cachorrinho nunca entra na padoca: encarrega a mulher, igualmente volumosa, de lhe trazer víveres que se põe a mastigar bovinamente, de olhos fechados, no interior da perua estacionada à porta, aonde o garçom irá levar a maquineta do cartão de crédito.
Poderia falar ainda do casal que, para driblar a proibição, acondicionava o lulu num carrinho de bebê. Mas não quero pedir a conta sem registrar também aquilo que, em meio à algaravia dos fregueses e ao estrépito do liquidificador, pode fazer a alegria de um écouteur - sim, a mesma língua francesa que nos deu "voyeur" dispõe de uma palavra, menos usada, é verdade, para designar o "escutador", o xereta, se você prefere. Como este cronista, a cujas orelhas têm chegado deliciosos farelos de conversa alheia. O papo imutável, por exemplo, daquelas duas senhoras a se lamuriar o tempo todo - uma por já não ter marido, a outra por ainda conservar o seu. No quesito pérolas verbais, a padoca nunca me decepciona. Deixo a você, com votos de bom domingo, as últimas que vieram na rede da minha indiscrição:
"Trabalhei anos no ramo de autopeças, mas foi preciso minha esposa falecer para eu descobrir que a vida não é só pneu...".
"E pensar que fiz uma escova de 40 reais para me encontrar com ele... Fora os 25 do táxi!".
"Ah, tenho uma pena dessas prostitutas... Ficam aí esperando quem não combinou de vir...".
Estudante profissional - MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 16/06
Nas hostes do movimento estudantil, Virgínia Barros, 27, a nova presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes), ou presidenta, como ela faz questão de acentuar, é conhecida como "baixinha" --tem 1m53-- e "nervosinha".
Como Lula, Virgínia também é de Garanhuns, Pernambuco. Mas se engana quem pensa que Vic, como gosta de ser chamada, faça o gênero clássico da militância "barbuda de saia". Verdade que apanhar da polícia na rua ela já apanhou. E isso comenta com orgulho. Também já ocupou reitoria. E diz que se sente à vontade com um megafone nas mãos.
Mas Vic, que usa piercing no nariz e tem quatro tatuagens --no braço, uma poesia de Carlos Pena Filho em homenagem a Recife, onde cresceu e se formou em direito; nas costas, três gaivotas e uma frase, "Viva la Vida"; e, na perna, violetas--, está mais para bandas internacionais como The Strokes e Oasis que para Geraldo Vandré.
Che Guevara ela admira, claro. Mas Patrícia Galvão, a Pagu, está acima de tudo. "Modernista, mulher, escritora, militante", diz ao repórter Morris Kachani. A propósito, a agenda sobre direitos da mulher deve entrar com tudo na pauta da UNE. "Mais creches nas faculdades é uma das bandeiras", explica. Até entre os velhos guerrilheiros de esquerda, admite, o machismo grassou.
Vic participou das primeiras manifestações pelo passe livre de ônibus em São Paulo, pacificamente, como faz questão de ressaltar. "A UNE se solidariza com a causa, embora repudie vandalismo e excessos da polícia." Mas não se diz a favor da tarifa zero, como pede o Movimento Passe Livre. "Sempre defendemos o meio passe para estudante, essa é uma bandeira histórica", desconversa.
Fã de literatura brasileira e de Raduan Nassar em particular, Vic começou neste ano o curso de letras na USP, mas mal encontra tempo para frequentar a sala de aula. Nos últimos três dias, por exemplo, passou por São Paulo, Pernambuco e Minas Gerais. Antes, tentou economia, mas largou no meio. "Queria fazer carreira diplomática e desisti. Agora quero ser professora acadêmica."
A verdade é que estudar quase sempre foi um problema para os líderes da UNE, pelo menos enquanto estiveram à frente da entidade. Muitos trancam matrícula. O ex-ministro Orlando Silva, por exemplo, primeiro presidente negro da UNE (eleito em 95), nem concluiu o curso de direito. Vic se define: "Eu sou política".
Mas leva uma vida de estudante, diz ela. Seu habitat noturno são as casas do Baixo Augusta. Coletivos musicais criados por conterrâneos, como Mombojó e Del Rey, estão entre os preferidos.
Adora se maquiar e cuidar do cabelo "quando dá tempo". Recebeu a Folha calçando tênis de pano, jeans com três anos de rodagem e camiseta da UNE no apartamento de 30 m² em Santa Cecília, SP, que divide com o namorado, Thiago Andrade --estão juntos há dois anos.
Thiago também tem 27 anos. Largou o curso de história e agora pensa em prestar psicologia. Os dois não ganham salário. Mas Vic, assim como os 16 diretores que compõem o "board" (conselho) da UNE, tem as despesas de transporte e comida custeadas pela entidade. O resto, como por exemplo a compra do mobiliário, foram os pais do casal que bancaram --os dela são funcionários públicos concursados. Carro, eles não têm. Seu patrimônio, ela brinca, resume-se a um iPhone. E um skate no canto da sala.
A UNE existe desde 1937. Constituiu um dos principais focos de resistência à ditadura e liderou os caras-pintadas no governo de Fernando Collor. José Dirceu, José Serra, Franklin Martins e Lindbergh Farias são alguns de seus ex-militantes ilustres.
Hoje a instituição arrecada cerca de R$ 800 mil anuais através da venda de 400 mil carteirinhas. Mas, com a lei de meia-entrada, em tramitação no Senado, ganharia prioridade na emissão do documento, o que multiplicaria consideravelmente seus rendimentos --o universo total de estudantes brasileiros é de 7 milhões.
Filiados ao PCdoB ocupam a cadeira da presidência da UNE há mais de duas décadas, embora Vic insista em dizer que a gestão da entidade é apartidária.
Para ela, o PT está liderando um projeto que é contraditório, com muitos avanços sociais, mas identificado com as forças do capital internacional. O PSDB, segundo afirma, "já cumpriu papel importante, mas hoje está conectado com um projeto bem conservador".
A estudante se define marxista. E o que é ser marxista nos dias de hoje? "É lutar contra o fim das opressões. Mudar esse sistema econômico desigual, gerando oportunidades para todos." Ser comunista, segundo ela, "é não aceitar o mundo como ele se apresenta".
Para Vic, o jovem de hoje é até mais engajado. "As formas de engajamento é que se diversificaram, tem quem lute pelo meio ambiente ou por software livre e assim por diante. A diferença é que não se entrega a vida."
A pernambucana tem duas obsessões: a defesa da destinação de 10% do PIB à educação e à melhoria da qualidade de ensino, tanto nas universidades públicas como nas privadas. "Só 17% dos jovens brasileiros de 18 a 24 anos estão no ensino superior; 70% deles, nas particulares", afirma.
Ela promete que o novo prédio da UNE, no Rio, assinado por Oscar Niemeyer, estará finalizado em 24 meses. A verba de R$ 30 milhões, concedida durante o governo Lula como indenização pelos crimes da ditadura, está na conta da entidade desde o final de 2010.
Adaptar o desenho do arquiteto à realidade financeira e a um projeto de construção factível teria sido o motivo do atraso. O prédio terá 13 andares e também um centro cultural. Vic não descarta a hipótese de utilizar alguns andares para locação comercial. Seria uma forma de a UNE ganhar autonomia em relação às verbas públicas e, assim, livrar-se de vez das acusações de peleguismo e aparelhamento.
Os principais eventos da entidade são patrocinados por órgãos ligados ao governo federal, que conta com o PCdoB como aliado estratégico. O custo do congresso de 2011, por exemplo, foi estimado em R$ 4 milhões e contou com o patrocínio de empresas como a Petrobras.
Sobre o propósito da vida - MARCELO GLEISER
FOLHA DE SP - 16/06
Seres vivos têm o propósito de preservar sua existência; é difícil aceitar que não há um objetivo maior
Não me refiro aqui à vida de cada um, que envolve nossas escolhas e esperanças, os planos que traçamos no decorrer dos anos. Nossas vidas, claro, têm, ou deveriam ter, um ou mais propósitos.
Falo da vida como fenômeno natural, essa estranha organização da matéria dotada de autonomia, capaz de absorver energia do ambiente à sua volta e de se preservar por meio da reprodução.
O tema gera confusão. Precisamos ter cuidado. Todas as formas de vida têm um propósito essencial: sobreviver. Esse é ainda mais importante do que o outro propósito, reprodução. Afinal, bebês e vovôs estão vivos, mas não se reproduzem. Pode-se até dizer que a vida é uma forma de organização material que tem o ímpeto de se preservar.
Essa é uma diferença essencial que distingue seres vivos de outras formas de organização material, como estrelas ou rochas, que não têm o ímpeto de se preservar: apenas existem, passivamente, entregues aos processos físicos que definem suas interações. No caso das rochas, a existência é delimitada pela sua interação com a erosão --água mole em pedra dura tanto bate até que fura. No caso das estrelas, existem enquanto têm combustível suficiente no seu centro (hidrogênio) para resistir à atração gravitacional, que levará à sua implosão.
Todas as formas vivas têm o propósito de preservar sua existência. Essa é a diferença essencial entre o vivo e o não vivo.
A confusão com relação à questão do propósito vem quando nos deparamos com a diversidade das formas de vida. Dada tanta riqueza, tanta criatividade, fica difícil de aceitar que tudo surgiu sem um propósito maior, sem a intenção de criar criaturas cada vez mais complexas.
A coisa complica ainda mais quando aprendemos que a história da vida na Terra mostra uma complexidade crescente. A vida aqui surgiu há pelo menos 3,5 bilhões de anos. Desses, os primeiros 2,5 bilhões foram dominados por seres unicelulares, bactérias apenas. Apenas cerca de 600 milhões de anos atrás é que a diversificação começou para valer. Na famosa explosão do Cambriano, em torno de 550 milhões de anos atrás, a complexidade da vida decolou. De lá para cá, mais criaturas foram surgindo no mar, na terra e no ar, com complexidade e diversificação crescente.
Fica difícil aceitar que não existe um propósito maior na vida, que é o de aumentar sua complexidade. O clímax dessa complexidade seríamos nós, humanos. Esse propósito oculto é chamado teleologia.
Mas essa conclusão é falsa. Não existe um "plano" de tornar a vida complexa a ponto de gerar formas inteligentes. Vejam os dinossauros, que existiram por 150 milhões de anos e permaneceram burros. O que a vida quer é se preservar. Contanto que esteja adaptada ao ambiente, continuará bem, com mutações ocorrendo sem grandes revoluções.
Fundamental nessa dinâmica é o acoplamento da vida ao ambiente. Variações ocorrem quando o ambiente muda. Se mudássemos algo na história da Terra, como a queda do asteroide que eliminou os dinossauros 65 milhões de anos atrás, a história da vida mudaria também. Provavelmente não estaríamos aqui. Na natureza, criação e destruição andam juntas. Mas nessa coreografia não existe coreógrafo.
Seres vivos têm o propósito de preservar sua existência; é difícil aceitar que não há um objetivo maior
Não me refiro aqui à vida de cada um, que envolve nossas escolhas e esperanças, os planos que traçamos no decorrer dos anos. Nossas vidas, claro, têm, ou deveriam ter, um ou mais propósitos.
Falo da vida como fenômeno natural, essa estranha organização da matéria dotada de autonomia, capaz de absorver energia do ambiente à sua volta e de se preservar por meio da reprodução.
O tema gera confusão. Precisamos ter cuidado. Todas as formas de vida têm um propósito essencial: sobreviver. Esse é ainda mais importante do que o outro propósito, reprodução. Afinal, bebês e vovôs estão vivos, mas não se reproduzem. Pode-se até dizer que a vida é uma forma de organização material que tem o ímpeto de se preservar.
Essa é uma diferença essencial que distingue seres vivos de outras formas de organização material, como estrelas ou rochas, que não têm o ímpeto de se preservar: apenas existem, passivamente, entregues aos processos físicos que definem suas interações. No caso das rochas, a existência é delimitada pela sua interação com a erosão --água mole em pedra dura tanto bate até que fura. No caso das estrelas, existem enquanto têm combustível suficiente no seu centro (hidrogênio) para resistir à atração gravitacional, que levará à sua implosão.
Todas as formas vivas têm o propósito de preservar sua existência. Essa é a diferença essencial entre o vivo e o não vivo.
A confusão com relação à questão do propósito vem quando nos deparamos com a diversidade das formas de vida. Dada tanta riqueza, tanta criatividade, fica difícil de aceitar que tudo surgiu sem um propósito maior, sem a intenção de criar criaturas cada vez mais complexas.
A coisa complica ainda mais quando aprendemos que a história da vida na Terra mostra uma complexidade crescente. A vida aqui surgiu há pelo menos 3,5 bilhões de anos. Desses, os primeiros 2,5 bilhões foram dominados por seres unicelulares, bactérias apenas. Apenas cerca de 600 milhões de anos atrás é que a diversificação começou para valer. Na famosa explosão do Cambriano, em torno de 550 milhões de anos atrás, a complexidade da vida decolou. De lá para cá, mais criaturas foram surgindo no mar, na terra e no ar, com complexidade e diversificação crescente.
Fica difícil aceitar que não existe um propósito maior na vida, que é o de aumentar sua complexidade. O clímax dessa complexidade seríamos nós, humanos. Esse propósito oculto é chamado teleologia.
Mas essa conclusão é falsa. Não existe um "plano" de tornar a vida complexa a ponto de gerar formas inteligentes. Vejam os dinossauros, que existiram por 150 milhões de anos e permaneceram burros. O que a vida quer é se preservar. Contanto que esteja adaptada ao ambiente, continuará bem, com mutações ocorrendo sem grandes revoluções.
Fundamental nessa dinâmica é o acoplamento da vida ao ambiente. Variações ocorrem quando o ambiente muda. Se mudássemos algo na história da Terra, como a queda do asteroide que eliminou os dinossauros 65 milhões de anos atrás, a história da vida mudaria também. Provavelmente não estaríamos aqui. Na natureza, criação e destruição andam juntas. Mas nessa coreografia não existe coreógrafo.
Olha a bola! Família Brasil - LUIS FERNANDO VERÍSSIMO
O Estado de S.Paulo - 16/06
Você está caminhando pela rua e vê uma bola de futebol vir quicando na sua direção. Uma bola de tamanho regulamentar que escapou de uma pelada de calçada improvisada por um grupo de garotos. Você ouve um dos garotos gritar:
- Olha a bola, tio!
Você, como faria qualquer brasileiro, prepara-se para chutar a bola e devolvê-la à pelada. Chuta - e erra. Em vez de voltar para onde veio a bola vai na direção oposta, impulsionada pelo seu pé. Você ouve a mesma voz gritar:
- Aí, hein tio? Show de bola.
E outras vozes gritarem:
- Põe o pé na forma!
- Ó ruindade!
- Perna-de-pau!
Para um brasileiro, não existe vergonha maior do que errar em bola. Todos nós temos a mínima obrigação congênita de saber dominar uma bola. Ainda mais uma bola fácil, que vem quicando. Você precisa escolher o que fazer para disfarçar seu vexame. Pode apelar para:
1) Fingimento. Continuar caminhando, mas mancando. Será que os desalmados não viram que você é ruim de uma perna, o que explica seu chute torto? Você fez o que era possível, e com sacrifício. Eles que fiquem com seu remorso por terem caçoado de você.
2) Congraçamento e simpatia. Abanar para os garotos, abrir os braços, dar risada e reconhecer que você é ruim mesmo, fazer o quê? Você pode ser um perna-de-pau, mas pô, é um cara legal.
3) Explicações. Contar para os garotos que você está passando por uma fase difícil, problemas em casa, preocupação com dinheiro... Por isso errou em bola. Estava distraído, quem pode chutar uma bola direito com tanta coisa na cabeça? Se eles quiserem você pode mostrar uma foto sua no time de futebol da escola, uniforme completo, lateral direito, prova de que é bom de bola, que não pode ser julgado por um único lance fortuito com a cabeça cheia de problemas, e que merece outra chance.
4) Intimidação. Enfrentar os garotos. Exigir respeito. Ameaçar fazer queixa às autoridades. Onde se viu ocupar uma calçada com uma pelada daquele jeito? Você chutou a bola para o lado errado não por ruindade mas de propósito, para acabar com aquele abuso. Será possível que os garotos não veem que estão atrapalhando o trânsito das pessoas, inclusive deficientes físicos como você? E sair mancando.
Você está caminhando pela rua e vê uma bola de futebol vir quicando na sua direção. Uma bola de tamanho regulamentar que escapou de uma pelada de calçada improvisada por um grupo de garotos. Você ouve um dos garotos gritar:
- Olha a bola, tio!
Você, como faria qualquer brasileiro, prepara-se para chutar a bola e devolvê-la à pelada. Chuta - e erra. Em vez de voltar para onde veio a bola vai na direção oposta, impulsionada pelo seu pé. Você ouve a mesma voz gritar:
- Aí, hein tio? Show de bola.
E outras vozes gritarem:
- Põe o pé na forma!
- Ó ruindade!
- Perna-de-pau!
Para um brasileiro, não existe vergonha maior do que errar em bola. Todos nós temos a mínima obrigação congênita de saber dominar uma bola. Ainda mais uma bola fácil, que vem quicando. Você precisa escolher o que fazer para disfarçar seu vexame. Pode apelar para:
1) Fingimento. Continuar caminhando, mas mancando. Será que os desalmados não viram que você é ruim de uma perna, o que explica seu chute torto? Você fez o que era possível, e com sacrifício. Eles que fiquem com seu remorso por terem caçoado de você.
2) Congraçamento e simpatia. Abanar para os garotos, abrir os braços, dar risada e reconhecer que você é ruim mesmo, fazer o quê? Você pode ser um perna-de-pau, mas pô, é um cara legal.
3) Explicações. Contar para os garotos que você está passando por uma fase difícil, problemas em casa, preocupação com dinheiro... Por isso errou em bola. Estava distraído, quem pode chutar uma bola direito com tanta coisa na cabeça? Se eles quiserem você pode mostrar uma foto sua no time de futebol da escola, uniforme completo, lateral direito, prova de que é bom de bola, que não pode ser julgado por um único lance fortuito com a cabeça cheia de problemas, e que merece outra chance.
4) Intimidação. Enfrentar os garotos. Exigir respeito. Ameaçar fazer queixa às autoridades. Onde se viu ocupar uma calçada com uma pelada daquele jeito? Você chutou a bola para o lado errado não por ruindade mas de propósito, para acabar com aquele abuso. Será possível que os garotos não veem que estão atrapalhando o trânsito das pessoas, inclusive deficientes físicos como você? E sair mancando.
Carminho e o nosso passarinho - CAETANO VELOSO
O GLOBO - 16/06
Sempre gostei de ver a festa do Prêmio da Música. Desde que ela levava um nome de empresa e eu a defendia das investidas de Xexéo. Agora — além de ver Cauby dar show de comportamento de estrela alto astral em passagem fugaz pelo palco (sob ovação com o público de pé); Ney Matogrosso, ao final de um solene “Se todos fossem iguais a você”, voltar-se para uma foto de Tom Jobim e, dando assim as costas para a plateia, citar, no ponto exato entre contenção e relaxamento, seus característicos movimentos andróginos de quase-dança; Leny Andrade, Tulipa Ruiz e Leila Pinheiro darem show de musicalidade a três vozes em suingue perfeito; João Bosco ir em cada nota de “Dindi” com a felicidade total de quem vive dentro da Música; Céu cantando “Insensatez” com um vestido a céu aberto; Nana fazendo-nos desmoronar como só pode uma força extraordinária da natureza; os arranjos de Jaquinho em elegância de frases e de timbres incomparáveis; tudo isso — e mais um pouco, que não estou listando tudo — depois de uma abertura com vários pianos arranjados por Wagner Tiso; sobretudo Rosa Passos, a mais bela expressão de musicalidade brasileira da noite, a espontaneidade mais sobrenatural no entendimento da função de cada nota cantada ou por cantar, de cada nota que, não sendo as que aparecem no canto, na superfície, se agrupam em blocos harmônicos — tivemos Carminho, prefaciada pela discrição mesoatlântica de António Zambujo, levando o sabiá de Tom Jobim e Chico Buarque ao lugar alto que lhe é de direito na história da língua portuguesa.
Foi uma noite de vários aplausos de pé. Mas o que saudou o evento Carminho/“Sabiá” dizia coisas de que as mesmas pessoas que se levantavam não tinham tempo de conscientizar-se. Carminho é a mais nova e a mais bela floração desse renascimento do fado entre jovens portugueses que já faz agora mais de década. Ouvi-la cantar essa canção de exílio brasileira com voz de quem mal atravessou o oceano para vir aqui nos ensinar tanto, foi de fazer chorar. A plateia se levantou crendo ser levada a isso pela exuberância vocal e musical da jovem cantora. Seria um aplauso entusiástico diante de uma interpretação virtuosística. Justo. Mas era claro que havia mais. Muito mais. As pessoas repassaram (era perceptível), num instante, a história da canção (que lutou com o tempo para ser devidamente amada), a história do Brasil, a história da nossa língua. A voz e a pronúncia de Zambujo eram mesoatlânticas. O canto de Carminho era purissimamente lusitano. Mas o acontecimento Carminho cantando assim nosso passarinho (nos dois gêneros: “uma sabiá” e “o meu sabiá”, como o dicionarismo de Tom conversou com o de Chico, trazendo de volta minhas lembranças de uso do nome da ave, em minha Santo Amaro natal, tanto no masculino quanto no feminino) era, no auge do arrebatamento das notas altas com arabescos ibéricos, a consolidação desse mesoatlântico que busco e que Zambujo anunciou. Não seria preciso conscientizar-se de tudo isso para vivenciar o todo da experiência: cada pessoa que foi arrebatada pelo momento desse breve milagre sabia, em sua carne, que todas essas implicações estavam em jogo.
A parte de que menos gosto em premiações são os prêmios propriamente ditos. Acompanho com interesse o suspense dos concorrentes e me animo com a alegria comovida de muitos que se descobrem premiados. Mas para mim isso é apenas o pretexto para que aconteçam coisas que realmente me interessam. Tanto é assim, que os momentos de entrega dos prêmios aos agraciados são os momentos de relativa desanimação da plateia. Há, claro, as comemorações particulares de grupos de amigos, parentes e apoiadores dos premiados. Mas as apresentadoras (ou os apresentadores, a depender de como está organizada a festa em cada ano), as pessoas que fisicamente entregam os troféus e os que os recebem, protagonizam instantes de mera espera — para que as pessoas saiam do palco, para que se rearrume a continuidade do show. Esses “buracos” não atrapalham o brilho da festa (embora possam ser mais bem planejados para evitar quebra de ritmo): eles são a motivação para que ela exista.
Quando Xexéo (e outros ainda menos engraçados) ridicularizavam os prêmios de música brasileira, eu chiava. Achava que uma noite em que eu podia apresentar Herivelto Martins a Cassiano era algo sagrado cuja grandeza só os tolos não viam. Hoje esse tipo de prêmio já é respeitado. O Brasil não precisa mais se depreciar para se aguentar. E Carminho elevou a festa modesta à sua verdadeira altura histórica. É claro que a música entranhada de Rosa Passos já continha tudo sem precisar dizer. Mas o sabiá de Carminho disse.
Sempre gostei de ver a festa do Prêmio da Música. Desde que ela levava um nome de empresa e eu a defendia das investidas de Xexéo. Agora — além de ver Cauby dar show de comportamento de estrela alto astral em passagem fugaz pelo palco (sob ovação com o público de pé); Ney Matogrosso, ao final de um solene “Se todos fossem iguais a você”, voltar-se para uma foto de Tom Jobim e, dando assim as costas para a plateia, citar, no ponto exato entre contenção e relaxamento, seus característicos movimentos andróginos de quase-dança; Leny Andrade, Tulipa Ruiz e Leila Pinheiro darem show de musicalidade a três vozes em suingue perfeito; João Bosco ir em cada nota de “Dindi” com a felicidade total de quem vive dentro da Música; Céu cantando “Insensatez” com um vestido a céu aberto; Nana fazendo-nos desmoronar como só pode uma força extraordinária da natureza; os arranjos de Jaquinho em elegância de frases e de timbres incomparáveis; tudo isso — e mais um pouco, que não estou listando tudo — depois de uma abertura com vários pianos arranjados por Wagner Tiso; sobretudo Rosa Passos, a mais bela expressão de musicalidade brasileira da noite, a espontaneidade mais sobrenatural no entendimento da função de cada nota cantada ou por cantar, de cada nota que, não sendo as que aparecem no canto, na superfície, se agrupam em blocos harmônicos — tivemos Carminho, prefaciada pela discrição mesoatlântica de António Zambujo, levando o sabiá de Tom Jobim e Chico Buarque ao lugar alto que lhe é de direito na história da língua portuguesa.
Foi uma noite de vários aplausos de pé. Mas o que saudou o evento Carminho/“Sabiá” dizia coisas de que as mesmas pessoas que se levantavam não tinham tempo de conscientizar-se. Carminho é a mais nova e a mais bela floração desse renascimento do fado entre jovens portugueses que já faz agora mais de década. Ouvi-la cantar essa canção de exílio brasileira com voz de quem mal atravessou o oceano para vir aqui nos ensinar tanto, foi de fazer chorar. A plateia se levantou crendo ser levada a isso pela exuberância vocal e musical da jovem cantora. Seria um aplauso entusiástico diante de uma interpretação virtuosística. Justo. Mas era claro que havia mais. Muito mais. As pessoas repassaram (era perceptível), num instante, a história da canção (que lutou com o tempo para ser devidamente amada), a história do Brasil, a história da nossa língua. A voz e a pronúncia de Zambujo eram mesoatlânticas. O canto de Carminho era purissimamente lusitano. Mas o acontecimento Carminho cantando assim nosso passarinho (nos dois gêneros: “uma sabiá” e “o meu sabiá”, como o dicionarismo de Tom conversou com o de Chico, trazendo de volta minhas lembranças de uso do nome da ave, em minha Santo Amaro natal, tanto no masculino quanto no feminino) era, no auge do arrebatamento das notas altas com arabescos ibéricos, a consolidação desse mesoatlântico que busco e que Zambujo anunciou. Não seria preciso conscientizar-se de tudo isso para vivenciar o todo da experiência: cada pessoa que foi arrebatada pelo momento desse breve milagre sabia, em sua carne, que todas essas implicações estavam em jogo.
A parte de que menos gosto em premiações são os prêmios propriamente ditos. Acompanho com interesse o suspense dos concorrentes e me animo com a alegria comovida de muitos que se descobrem premiados. Mas para mim isso é apenas o pretexto para que aconteçam coisas que realmente me interessam. Tanto é assim, que os momentos de entrega dos prêmios aos agraciados são os momentos de relativa desanimação da plateia. Há, claro, as comemorações particulares de grupos de amigos, parentes e apoiadores dos premiados. Mas as apresentadoras (ou os apresentadores, a depender de como está organizada a festa em cada ano), as pessoas que fisicamente entregam os troféus e os que os recebem, protagonizam instantes de mera espera — para que as pessoas saiam do palco, para que se rearrume a continuidade do show. Esses “buracos” não atrapalham o brilho da festa (embora possam ser mais bem planejados para evitar quebra de ritmo): eles são a motivação para que ela exista.
Quando Xexéo (e outros ainda menos engraçados) ridicularizavam os prêmios de música brasileira, eu chiava. Achava que uma noite em que eu podia apresentar Herivelto Martins a Cassiano era algo sagrado cuja grandeza só os tolos não viam. Hoje esse tipo de prêmio já é respeitado. O Brasil não precisa mais se depreciar para se aguentar. E Carminho elevou a festa modesta à sua verdadeira altura histórica. É claro que a música entranhada de Rosa Passos já continha tudo sem precisar dizer. Mas o sabiá de Carminho disse.
Palavras o vento leva... - SUELY CALDAS
O Estado de S.Paulo - 16/06
Depois de passar vinte anos condenando, o governo Dilma agora vai usar o dinheiro que arrecadar com privatizações para pagar a dívida pública. Não há nada de mais, não é pecado mortal nem venial aplicar dinheiro da venda de concessões públicas no pagamento de juros da dívida. O mundo inteiro faz isso. É uma questão de identificar e eleger prioridades. Quando a dívida pública de um país está sob controle, é bem administrada e não ameaça a saúde da economia, ótimo - despeja-se todo o dinheiro da venda de ativos em investimentos produtivos que geram emprego, renda, riqueza, bem estar e progresso para a população e para o país.
Obviamente esse não é o caso de Grécia, Portugal, Itália e Espanha, cujos governos assistiram passivos a suas dívidas multiplicarem, nada fizeram para contê-las e agora pedem socorro financeiro ao FMI e ao Banco Central Europeu, que os obrigam a impor trágicos sacrifícios à população, vender ativos, demitir funcionários, reduzir salários e aposentadorias, provocar depressão econômica, desemprego e empobrecimento e, assim, gerar condições para pagar suas gigantescas dívidas. A alternativa seria dar calote, decretar moratória unilateral, mas isso ninguém quer, a tragédia seria muito pior. Que o diga a Argentina, que enunciou moratória em 2001 e viu seu PIB desabar, o desemprego se espalhar e a população empobrecer a níveis jamais vistos em sua história. Mas o que acontece na Europa já foi passado no Brasil (nos anos 1980) e hoje deixou de ser pesadelo. É bem verdade que nossa dívida pública está acima da média dos países emergentes (a líquida em 35% do PIB e a bruta em 68%), mas longe, muito longe, do risco de crise, é perfeitamente administrável. Afinal, alguns dos países europeus têm dívidas que ultrapassam 100% do PIB. Então qual é o problema do Brasil? Por que Dilma, que tanto criticou o governo tucano por usar o dinheiro das privatizações para abater a dívida, agora faz o mesmo?
Nessa questão, o problema número um do Brasil de hoje se chama credibilidade. É verdade que temos uma meta de superávit primário (economia nas contas públicas para pagar os juros da dívida), essencial para garantir ao mundo financeiro (onde nossas empresas tomam dinheiro emprestado) que temos plenas condições de pagar nossos débitos. Tudo bem, não fosse um relevante detalhe: em quase três anos, o governo Dilma só conseguiu cumprir o superávit com truques, feitiçarias, alquimias em que nem a criança mais ingênua e desinformada acreditaria. O que o ex-ministro Delfim Netto chamou de "esculhambação nas contas públicas", em entrevista à Agência Estado.
O que a nota de rebaixamento da agência Standard & Poor's reflete é justamente a falta de confiança de que o Brasil vai continuar pagando o que deve no futuro sem criar problemas para a saúde de sua economia. Três fatores têm contribuído para isso: 1) os truques e as maquiagens minaram a credibilidade da equipe econômica de Dilma, mostraram que a intenção era enganar, dar um jeitinho (obviamente sem sucesso) e não equilibrar as contas públicas; 2) prestigiado pela presidente Dilma, o secretário do Tesouro, Arno Augustin, passou a defender abertamente a redução da meta fiscal; e 3) apesar do inchaço da inflação e da desvalorização do real, o governo não dá qualquer sinal de que vai ajustar seus gastos - muito pelo contrário, continua gastando mais do que pode.
Por tudo isso, Dilma Rousseff recorre ao dinheiro que vai arrecadar com as privatizações de estradas, portos, ferrovias, aeroportos e áreas de exploração de petróleo. É dinheiro extra, fora do orçamento, que poderia ser investido em saúde, educação, saneamento, e vai servir para pagar a dívida porque agora virou prioridade reconquistar a confiança na meta fiscal. E de nada adianta fazer vazar promessas de que o governo vai perseguir o déficit nominal zero nem o ministro Mantega vir a público se comprometer com meta de 2,1% do PIB, se as ações do governo se dirigem para o lado contrário. Promessas e palavras o vento leva...
Depois de passar vinte anos condenando, o governo Dilma agora vai usar o dinheiro que arrecadar com privatizações para pagar a dívida pública. Não há nada de mais, não é pecado mortal nem venial aplicar dinheiro da venda de concessões públicas no pagamento de juros da dívida. O mundo inteiro faz isso. É uma questão de identificar e eleger prioridades. Quando a dívida pública de um país está sob controle, é bem administrada e não ameaça a saúde da economia, ótimo - despeja-se todo o dinheiro da venda de ativos em investimentos produtivos que geram emprego, renda, riqueza, bem estar e progresso para a população e para o país.
Obviamente esse não é o caso de Grécia, Portugal, Itália e Espanha, cujos governos assistiram passivos a suas dívidas multiplicarem, nada fizeram para contê-las e agora pedem socorro financeiro ao FMI e ao Banco Central Europeu, que os obrigam a impor trágicos sacrifícios à população, vender ativos, demitir funcionários, reduzir salários e aposentadorias, provocar depressão econômica, desemprego e empobrecimento e, assim, gerar condições para pagar suas gigantescas dívidas. A alternativa seria dar calote, decretar moratória unilateral, mas isso ninguém quer, a tragédia seria muito pior. Que o diga a Argentina, que enunciou moratória em 2001 e viu seu PIB desabar, o desemprego se espalhar e a população empobrecer a níveis jamais vistos em sua história. Mas o que acontece na Europa já foi passado no Brasil (nos anos 1980) e hoje deixou de ser pesadelo. É bem verdade que nossa dívida pública está acima da média dos países emergentes (a líquida em 35% do PIB e a bruta em 68%), mas longe, muito longe, do risco de crise, é perfeitamente administrável. Afinal, alguns dos países europeus têm dívidas que ultrapassam 100% do PIB. Então qual é o problema do Brasil? Por que Dilma, que tanto criticou o governo tucano por usar o dinheiro das privatizações para abater a dívida, agora faz o mesmo?
Nessa questão, o problema número um do Brasil de hoje se chama credibilidade. É verdade que temos uma meta de superávit primário (economia nas contas públicas para pagar os juros da dívida), essencial para garantir ao mundo financeiro (onde nossas empresas tomam dinheiro emprestado) que temos plenas condições de pagar nossos débitos. Tudo bem, não fosse um relevante detalhe: em quase três anos, o governo Dilma só conseguiu cumprir o superávit com truques, feitiçarias, alquimias em que nem a criança mais ingênua e desinformada acreditaria. O que o ex-ministro Delfim Netto chamou de "esculhambação nas contas públicas", em entrevista à Agência Estado.
O que a nota de rebaixamento da agência Standard & Poor's reflete é justamente a falta de confiança de que o Brasil vai continuar pagando o que deve no futuro sem criar problemas para a saúde de sua economia. Três fatores têm contribuído para isso: 1) os truques e as maquiagens minaram a credibilidade da equipe econômica de Dilma, mostraram que a intenção era enganar, dar um jeitinho (obviamente sem sucesso) e não equilibrar as contas públicas; 2) prestigiado pela presidente Dilma, o secretário do Tesouro, Arno Augustin, passou a defender abertamente a redução da meta fiscal; e 3) apesar do inchaço da inflação e da desvalorização do real, o governo não dá qualquer sinal de que vai ajustar seus gastos - muito pelo contrário, continua gastando mais do que pode.
Por tudo isso, Dilma Rousseff recorre ao dinheiro que vai arrecadar com as privatizações de estradas, portos, ferrovias, aeroportos e áreas de exploração de petróleo. É dinheiro extra, fora do orçamento, que poderia ser investido em saúde, educação, saneamento, e vai servir para pagar a dívida porque agora virou prioridade reconquistar a confiança na meta fiscal. E de nada adianta fazer vazar promessas de que o governo vai perseguir o déficit nominal zero nem o ministro Mantega vir a público se comprometer com meta de 2,1% do PIB, se as ações do governo se dirigem para o lado contrário. Promessas e palavras o vento leva...
Já temos time - TOSTÃO
FOLHA DE SP - 16/06
Foi uma boa e segura atuação do Brasil. Já temos um time organizado, definido na maneira de jogar. Já temos um primeiro volante (Luiz Gustavo), que marca bem e tem um rápido passe. Já temos um time que pressiona o adversário e que recupera muita bola. Já temos um meia de cada lado (Oscar e Hulk), que voltam para marcar ao lado dos dois volantes. Já temos um time que troca mais passes, com zagueiros que raramente dão chutão.
Faltaram mais talento e organização no meio-campo. Como Luiz Gustavo passa e não avança, Paulinho se destaca por aparecer na área rival e não há um meia de ligação, já que Oscar atua mais pelo lado. As jogadas ofensivas dependem muito da habilidade e velocidade de Neymar, Oscar, Hulk e Marcelo, quase sempre pelos lados.
O Japão, como se esperava, mostrou um bom conjunto, quando chega à intermediária, não define as jogadas. Faltam técnica e habilidade. Vi, mais uma vez, o goleiro japonês falhar em um gol. O time correu menos e cansou na metade do segundo tempo, pois jogou no Qatar na terça, pelas eliminatórias, viajou 16 horas e não teve tempo de se adaptar ao fuso horário.
Já temos time, ainda não o suficiente para atuar no nível das melhores seleções, como Espanha, Alemanha, Argentina e Holanda.
DUAS ÓTIMAS PARTIDAS
Hoje, veremos Espanha, Itália, Uruguai e México.
Quando a Espanha ganhou a Eurocopa-2008, não havia dúvidas, o centroavante era Fernando Torres. Ele jogava bem e fez o gol do título. Já no Mundial de 2010, na Eurocopa-2012 e hoje, o técnico vive um dilema: colocar um fraco centroavante (Fernando Torres ou outro) ou improvisar um meia (Fàbregas). O técnico tem usado as duas opções. Não agradam.
Toda equipe precisa ter um atacante, artilheiro, o que não significa que tenha de ser, obrigatoriamente, um típico centroavante. O Barcelona não joga com um falso 9, como adoram dizer. Messi é um atacante, centroavante, já que atua mais à frente e mais pelo centro. Além de fazer gols, o argentino se movimenta, recua e dá excelentes passes. Já com Fàbregas, é uma improvisação.
A Itália, por ter surpreendido e vencido a Alemanha, na Eurocopa de 2012, e ter trocado o estilo defensivo e de bolas longas por mais troca de passes, tem sido bastante elogiada. Não merece tanto. A equipe tem atuado mal. Faltam melhores laterais e um companheiro para Balotelli. Os destaques são Buffon, De Rossi, o veterano Pirlo e Balotelli.
Foi uma boa e segura atuação do Brasil. Já temos um time organizado, definido na maneira de jogar. Já temos um primeiro volante (Luiz Gustavo), que marca bem e tem um rápido passe. Já temos um time que pressiona o adversário e que recupera muita bola. Já temos um meia de cada lado (Oscar e Hulk), que voltam para marcar ao lado dos dois volantes. Já temos um time que troca mais passes, com zagueiros que raramente dão chutão.
Faltaram mais talento e organização no meio-campo. Como Luiz Gustavo passa e não avança, Paulinho se destaca por aparecer na área rival e não há um meia de ligação, já que Oscar atua mais pelo lado. As jogadas ofensivas dependem muito da habilidade e velocidade de Neymar, Oscar, Hulk e Marcelo, quase sempre pelos lados.
O Japão, como se esperava, mostrou um bom conjunto, quando chega à intermediária, não define as jogadas. Faltam técnica e habilidade. Vi, mais uma vez, o goleiro japonês falhar em um gol. O time correu menos e cansou na metade do segundo tempo, pois jogou no Qatar na terça, pelas eliminatórias, viajou 16 horas e não teve tempo de se adaptar ao fuso horário.
Já temos time, ainda não o suficiente para atuar no nível das melhores seleções, como Espanha, Alemanha, Argentina e Holanda.
DUAS ÓTIMAS PARTIDAS
Hoje, veremos Espanha, Itália, Uruguai e México.
Quando a Espanha ganhou a Eurocopa-2008, não havia dúvidas, o centroavante era Fernando Torres. Ele jogava bem e fez o gol do título. Já no Mundial de 2010, na Eurocopa-2012 e hoje, o técnico vive um dilema: colocar um fraco centroavante (Fernando Torres ou outro) ou improvisar um meia (Fàbregas). O técnico tem usado as duas opções. Não agradam.
Toda equipe precisa ter um atacante, artilheiro, o que não significa que tenha de ser, obrigatoriamente, um típico centroavante. O Barcelona não joga com um falso 9, como adoram dizer. Messi é um atacante, centroavante, já que atua mais à frente e mais pelo centro. Além de fazer gols, o argentino se movimenta, recua e dá excelentes passes. Já com Fàbregas, é uma improvisação.
A Itália, por ter surpreendido e vencido a Alemanha, na Eurocopa de 2012, e ter trocado o estilo defensivo e de bolas longas por mais troca de passes, tem sido bastante elogiada. Não merece tanto. A equipe tem atuado mal. Faltam melhores laterais e um companheiro para Balotelli. Os destaques são Buffon, De Rossi, o veterano Pirlo e Balotelli.
O bom santo São Gonçalinho - JOÃO UBALDO RIBEIRO
O GLOBO - 16/06
Já passaram, um atrás do outro, o Dia dos Namorados e o dia de Santo Antônio. Não seriam mais assunto para este domingo e cheguei a pensar em escrever sobre a confusão criada pela descoberta (da pólvora) de que o governo americano bisbilhota a internet, com acesso a dados tidos como estritamente pessoais e invioláveis. Mas tratei muito disto aqui e sei que não adianta espernear, porque privacidade é mesmo coisa do passado e, muito em breve, todo mundo será monitorado de várias formas, inclusive em pensamentos antes íntimos. E não somente pelo governo americano, mas por praticamente todos os governos e por diversas entidades particulares. Agora mesmo, acabo de ler que, em Londres, já existem catorze câmeras de segurança e monitoramento para cada habitante. Isso por enquanto, porque o cômputo continua a aumentar e talvez as câmeras venham a ser mais numerosas que as pessoas.
Não, achei melhor não ficar mexendo nessas assombrações. Espero que esteja fazendo um belo domingo lá fora e não vamos estragá-lo com conjeturas soturnas. Isso fica para depois do Fantástico, quando toca aquela musiquinha que prenuncia desumanamente a segunda-feira. Prefiro então homenagear, apesar do pequeno atraso, Santo Antônio e São Gonçalo, dois portugueses admiráveis, que sem dúvida merecem a grande popularidade de que desfrutam. Faço a homenagem a ambos, mas me ocupo de São Gonçalo, que, aliás, não tem o título oficial de santo e, sim, de beato. O povo, porém, não toma conhecimento dessas minúcias técnicas e persiste em tratá-lo como santo.
Peço licença para dirigir-me especialmente às encantadoras e gentis leitoras. As mulheres sempre foram maioria na veneração e no diálogo com esses dois santos, muito invocados quando se trata de conseguir marido ou o genérico adequado. Claro que nenhuma das leitoras tem problema nessa área, nem precisa de ajuda, mas nunca é demais informar-se sobre a valiosa assistência que os santos podem prestar às eventuais necessitadas — quem sabe uma amiga, uma parenta, uma vizinha. De vez em quando, escuto comentários sobre como o homem anda difícil hoje em dia, mercadoria disputada às vezes até no tapa e conservada a duras penas.
Não sei se isso é verdade, mas São Gonçalo com certeza ajuda. No Recôncavo Baiano, antigamente, as festas de São Gonçalo (São Gonçalo do Amarante, que não se deve confundir com outro português do mesmo nome, São Gonçalo de Lagos, que é do Algarve e também beato) eram meio avançadinhas, mesmo para os padrões de hoje. Nunca assisti a uma dessas observâncias, mas os mais velhos contavam que se tratava de um furdunço de alta categoria, na maior gandaia imaginável. Havia uma procissão em que o santo era carregado numa charola de cores berrantes, ao som de instrumentos profanos e modinhas mais ainda, com as mulheres aos remelexos por todo o percurso e provocando os homens. A maior parte dos fiéis não o chamava de São Gonçalo, mas de São Gonçalinho, ou então apenas Gonçalinho, e era um foguetório que levava o dia todo, sempre com vivas a Gonçalinho, que por sinal até fartura de pescado providenciava para o dez de janeiro, seu dia, e ninguém passava fome. Diz o povo que a imagem de Gonçalinho no andor era vestida numa roupa de pano e não de madeira mesmo, como os outros santos, porque — sei que escandalizo, mas o primeiro dever do repórter é para com a verdade — ele ficava nu, por baixo de uma espécie de camisolão, claro que sem cueca ou ceroula. Aí, diz ainda esse povo falador, volta e meia uma das desfilantes ia lá, levantava a saia do santo e puxava um tal cordão que ele tinha nas costas, cordão este que acionava — como direi? — um falo deste tamanho, o qual, se afagado brevemente pela devota, asseguraria a concessão do benefício pedido. É voz geral que, quando feito com fé, não houve caso de pedido desatendido.
E, enfim, a coisa era de tal sorte que alguns padres se recusavam a participar, embora se creia que a maioria deles fosse multiculturalista e ecumênica e não fizesse grandes objeções a essas práticas nativas, chegando mesmo, com certeza para reforçar a catequização da turba, a dar uma saracoteada ou outra, mas tudo muito inocente. No entanto, talvez os mais conservadores tivessem razão, porque, conhecendo como conheço aquelas plagas, sei que é possível a coisa ter passado um pouco dos limites, uma vez ou outra. Este talvez seja o caso do que se segue. Atenção! Vou divulgar, creio que em primeiríssima mão na imprensa diária deste país, a quadrinha chave que as fiéis solteironas, ou em regime de animação suspensa, declamavam com fervor. É da lavra popular, todos podem usá-la livremente. Diz outra vez o povo que até hoje, se bem recitada e, melhor ainda, combinada com alguma simpatia de confiança, é praticamente tiro e queda. Pode ser que os mais austeros entre vocês queiram retirar as crianças da sala neste momento, porque a singela quadrinha reza o seguinte: “São Gonçalo do Amarante,/Casai-me, que bem podeis,/Pois tenho teias d’aranha/No lugar que bem sabeis.” Sussurrados imperceptivelmente diante da pessoa amada, os versos, pelo que me relataram de seu desempenho, rendem pelo menos uma ficada de terceiro grau.
Esse pungente apelo, repetido há séculos em Portugal e no Brasil, também tem fama de infalível. Santo Antônio, que atende a vários outros departamentos e até oficial do Exército português já foi, quando chegou a ser rebaixado de posto e tomar esbregue do padre Antônio Vieira, está sempre muito assoberbado, Gonçalinho tem bem mais tempo e disposição para certas empreitadas. Fico contente por ter encontrado uma oportunidade de chamar a atenção para os serviços dele, que andavam meio esquecidos. Creio que ainda há tempo para aproveitá-los, antes que o governo os regulamente.
Já passaram, um atrás do outro, o Dia dos Namorados e o dia de Santo Antônio. Não seriam mais assunto para este domingo e cheguei a pensar em escrever sobre a confusão criada pela descoberta (da pólvora) de que o governo americano bisbilhota a internet, com acesso a dados tidos como estritamente pessoais e invioláveis. Mas tratei muito disto aqui e sei que não adianta espernear, porque privacidade é mesmo coisa do passado e, muito em breve, todo mundo será monitorado de várias formas, inclusive em pensamentos antes íntimos. E não somente pelo governo americano, mas por praticamente todos os governos e por diversas entidades particulares. Agora mesmo, acabo de ler que, em Londres, já existem catorze câmeras de segurança e monitoramento para cada habitante. Isso por enquanto, porque o cômputo continua a aumentar e talvez as câmeras venham a ser mais numerosas que as pessoas.
Não, achei melhor não ficar mexendo nessas assombrações. Espero que esteja fazendo um belo domingo lá fora e não vamos estragá-lo com conjeturas soturnas. Isso fica para depois do Fantástico, quando toca aquela musiquinha que prenuncia desumanamente a segunda-feira. Prefiro então homenagear, apesar do pequeno atraso, Santo Antônio e São Gonçalo, dois portugueses admiráveis, que sem dúvida merecem a grande popularidade de que desfrutam. Faço a homenagem a ambos, mas me ocupo de São Gonçalo, que, aliás, não tem o título oficial de santo e, sim, de beato. O povo, porém, não toma conhecimento dessas minúcias técnicas e persiste em tratá-lo como santo.
Peço licença para dirigir-me especialmente às encantadoras e gentis leitoras. As mulheres sempre foram maioria na veneração e no diálogo com esses dois santos, muito invocados quando se trata de conseguir marido ou o genérico adequado. Claro que nenhuma das leitoras tem problema nessa área, nem precisa de ajuda, mas nunca é demais informar-se sobre a valiosa assistência que os santos podem prestar às eventuais necessitadas — quem sabe uma amiga, uma parenta, uma vizinha. De vez em quando, escuto comentários sobre como o homem anda difícil hoje em dia, mercadoria disputada às vezes até no tapa e conservada a duras penas.
Não sei se isso é verdade, mas São Gonçalo com certeza ajuda. No Recôncavo Baiano, antigamente, as festas de São Gonçalo (São Gonçalo do Amarante, que não se deve confundir com outro português do mesmo nome, São Gonçalo de Lagos, que é do Algarve e também beato) eram meio avançadinhas, mesmo para os padrões de hoje. Nunca assisti a uma dessas observâncias, mas os mais velhos contavam que se tratava de um furdunço de alta categoria, na maior gandaia imaginável. Havia uma procissão em que o santo era carregado numa charola de cores berrantes, ao som de instrumentos profanos e modinhas mais ainda, com as mulheres aos remelexos por todo o percurso e provocando os homens. A maior parte dos fiéis não o chamava de São Gonçalo, mas de São Gonçalinho, ou então apenas Gonçalinho, e era um foguetório que levava o dia todo, sempre com vivas a Gonçalinho, que por sinal até fartura de pescado providenciava para o dez de janeiro, seu dia, e ninguém passava fome. Diz o povo que a imagem de Gonçalinho no andor era vestida numa roupa de pano e não de madeira mesmo, como os outros santos, porque — sei que escandalizo, mas o primeiro dever do repórter é para com a verdade — ele ficava nu, por baixo de uma espécie de camisolão, claro que sem cueca ou ceroula. Aí, diz ainda esse povo falador, volta e meia uma das desfilantes ia lá, levantava a saia do santo e puxava um tal cordão que ele tinha nas costas, cordão este que acionava — como direi? — um falo deste tamanho, o qual, se afagado brevemente pela devota, asseguraria a concessão do benefício pedido. É voz geral que, quando feito com fé, não houve caso de pedido desatendido.
E, enfim, a coisa era de tal sorte que alguns padres se recusavam a participar, embora se creia que a maioria deles fosse multiculturalista e ecumênica e não fizesse grandes objeções a essas práticas nativas, chegando mesmo, com certeza para reforçar a catequização da turba, a dar uma saracoteada ou outra, mas tudo muito inocente. No entanto, talvez os mais conservadores tivessem razão, porque, conhecendo como conheço aquelas plagas, sei que é possível a coisa ter passado um pouco dos limites, uma vez ou outra. Este talvez seja o caso do que se segue. Atenção! Vou divulgar, creio que em primeiríssima mão na imprensa diária deste país, a quadrinha chave que as fiéis solteironas, ou em regime de animação suspensa, declamavam com fervor. É da lavra popular, todos podem usá-la livremente. Diz outra vez o povo que até hoje, se bem recitada e, melhor ainda, combinada com alguma simpatia de confiança, é praticamente tiro e queda. Pode ser que os mais austeros entre vocês queiram retirar as crianças da sala neste momento, porque a singela quadrinha reza o seguinte: “São Gonçalo do Amarante,/Casai-me, que bem podeis,/Pois tenho teias d’aranha/No lugar que bem sabeis.” Sussurrados imperceptivelmente diante da pessoa amada, os versos, pelo que me relataram de seu desempenho, rendem pelo menos uma ficada de terceiro grau.
Esse pungente apelo, repetido há séculos em Portugal e no Brasil, também tem fama de infalível. Santo Antônio, que atende a vários outros departamentos e até oficial do Exército português já foi, quando chegou a ser rebaixado de posto e tomar esbregue do padre Antônio Vieira, está sempre muito assoberbado, Gonçalinho tem bem mais tempo e disposição para certas empreitadas. Fico contente por ter encontrado uma oportunidade de chamar a atenção para os serviços dele, que andavam meio esquecidos. Creio que ainda há tempo para aproveitá-los, antes que o governo os regulamente.
16 de junho - LUIS FERNANDO VERÍSSIMO
O GLOBO - 16/06
Hoje, 16 de junho, é o “Bloomsday”, um dia na vida de Leopold Bloom em Dublin, narrado por James Joyce no seu Ulysses. Estive uma vez em Dublin. De certa maneira, conhecer Dublin é trair James Joyce. Stephen Dedalus, o herói autobiográfico de Joyce, precisou trocar a familiaridade de Dublin pelo silêncio e a sabedoria do exílio – “silence, exile and cunning” – para começar a forjar, na usina da sua alma, a consciência ainda por criar da sua raça, como anunciou, com típica grandiloquência irlandesa, no fim de Retrato do artista quando jovem. Dedalus/Joyce voltou a Dublin na memória e a transformou num lugar mítico, uma das cidades-chave da literatura moderna, em Ulysses e Finnegans wake.
Mas você não chega à Dublin transfigurada de Joyce, chega a apenas outra capital do McMundo. O Rio Liffey, mesmo com uma simbólica lua cheia em cima, é apenas um rio que divide a cidade, não é o rio recorrente da vida que passa pelo Éden e deságua em si mesmo, ou Anna Livia Plurabelle, a mulher-rio de Finnegans wake. Nem o homem sentado ao seu lado no pub é a condição humana incorporada na última versão do Leopold Bloom. Aliás, provavelmente é um turista alemão, nada mais longe da condição humana.
A cidade dá a devida atenção a Joyce. Há uma estátua dele numa rua central, um centro de estudos e um museu com seu nome e um Hotel Bloom (com um previsível Molly Bar, em homenagem à lânguida sra. Bloom, cujo stream of consciousness em Ulysses fez história literária e escândalo e levou o livro a ser proibido em vários países). Imagino que o dia 16 de junho em que se passa toda a ação de Ulysses seja comemorado de algum modo na cidade. Mas é impossível evitar a sensação de que Joyce representa para Dublin o mesmo problema que Freud representa para Viena. São dois filhos complicados, com ideias e obras não facilmente reduzíveis para folhetos turísticos, e que têm pouco a ver com o espírito do lugar. Em Viena o desconforto é maior. A Dublin mitificada de Joyce, afinal, não era um lugar lúgubre. Já Freud lembra tudo que a cidade da valsa e da torta de chocolate nem quer saber.
Mas a Dublin que a gente espera é a vista do exílio, o que quer dizer que chega-se lá para desconhecê-la. Depois de passar quatro dias em Dublin e gostar da sua jovialidade e alegre familiaridade, você se sente tentado a pedir desculpas a Joyce. Por confraternizar com o inimigo.
Hoje, 16 de junho, é o “Bloomsday”, um dia na vida de Leopold Bloom em Dublin, narrado por James Joyce no seu Ulysses. Estive uma vez em Dublin. De certa maneira, conhecer Dublin é trair James Joyce. Stephen Dedalus, o herói autobiográfico de Joyce, precisou trocar a familiaridade de Dublin pelo silêncio e a sabedoria do exílio – “silence, exile and cunning” – para começar a forjar, na usina da sua alma, a consciência ainda por criar da sua raça, como anunciou, com típica grandiloquência irlandesa, no fim de Retrato do artista quando jovem. Dedalus/Joyce voltou a Dublin na memória e a transformou num lugar mítico, uma das cidades-chave da literatura moderna, em Ulysses e Finnegans wake.
Mas você não chega à Dublin transfigurada de Joyce, chega a apenas outra capital do McMundo. O Rio Liffey, mesmo com uma simbólica lua cheia em cima, é apenas um rio que divide a cidade, não é o rio recorrente da vida que passa pelo Éden e deságua em si mesmo, ou Anna Livia Plurabelle, a mulher-rio de Finnegans wake. Nem o homem sentado ao seu lado no pub é a condição humana incorporada na última versão do Leopold Bloom. Aliás, provavelmente é um turista alemão, nada mais longe da condição humana.
A cidade dá a devida atenção a Joyce. Há uma estátua dele numa rua central, um centro de estudos e um museu com seu nome e um Hotel Bloom (com um previsível Molly Bar, em homenagem à lânguida sra. Bloom, cujo stream of consciousness em Ulysses fez história literária e escândalo e levou o livro a ser proibido em vários países). Imagino que o dia 16 de junho em que se passa toda a ação de Ulysses seja comemorado de algum modo na cidade. Mas é impossível evitar a sensação de que Joyce representa para Dublin o mesmo problema que Freud representa para Viena. São dois filhos complicados, com ideias e obras não facilmente reduzíveis para folhetos turísticos, e que têm pouco a ver com o espírito do lugar. Em Viena o desconforto é maior. A Dublin mitificada de Joyce, afinal, não era um lugar lúgubre. Já Freud lembra tudo que a cidade da valsa e da torta de chocolate nem quer saber.
Mas a Dublin que a gente espera é a vista do exílio, o que quer dizer que chega-se lá para desconhecê-la. Depois de passar quatro dias em Dublin e gostar da sua jovialidade e alegre familiaridade, você se sente tentado a pedir desculpas a Joyce. Por confraternizar com o inimigo.
Fifa! Vá tomar no fuleco! - JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 16/06
E a sigla Fifa quer dizer: "Faça Isso, Faça Aquilo". "Faça Isso, Faça Assim". "Faça Isso, Faça AGORA!"
Buemba! Buemba! Macaco Simão urgente! O esculhambador-geral da República!
Copa das Confederações! Ameaça nuclear! Terrorismo! Manchete do Sensacionalista: "Aproveitando a Copa das Confederações, Vanusa gravará CD com os hinos de TODOS os países participantes".
E a Copa começou animada: Espanha 2 X Irlanda 0. Gols de Soldado e Mata! O Pedro Soldado e o Juan Mata!
E continuo encafifado com a Fifa! Um amigo diz que padrão Fifa quer dizer: Faturamos Imensamente Fabricando Arenas.
E a sigla Fifa quer dizer: "Faça Isso, Faça Aquilo". "Faça Isso, Faça Assim". "Faça Isso, Faça AGORA!". Pentelhos! Eu vou mandar essa Fifa tomar no fuleco! Fifa! Vá tomar no fuleco!
E que nome pra esse mascote! Tadinho do tatu-bola, isso não é nome, é bullying! E eu descobri a cor do cabelo do Marin: mistura de Silvio Santos com Nelson Rubens.
E sabe o que é galvanização? Galvanização: processo de corrosão do ouvido humano quando exposto aos comentários do Galvão! Rarará.
E adorei a placa bilíngue em Fortaleza pra Copa das Confederações: "Praia de Iracema". "Praia de Iracema Beach". Rarará!
E um amigo postou no Twitter que "o PMDB é o partido mais quenga da política desde os tempos de Salomé".
E a Dilma no Dia dos Namorados acordou "romântega". A Dilma não é romântica, é romântega! E tô adorando essa família da novela das nove: a filha não é filha da mãe e o neto é filho do avô. Pra acabar com essa balela de família Doriana. "Amor à Vida" detonou a família Doriana!
E essa piada pronta! "Mulher de decote e saia curta não entra em fórum de São Paulo, determina o juiz Mauricio Campos VELHO". Olha, pode ser velho, mas não pode ser antigo! Rarará!
O Brasil é lúdico! Olha essa faixa num bar em Ilhéus: "Vendemos todos os cigarros. Menos aquele". Rarará. E em Campo Maior, no Piauí, tem um mercadinho com a placa: "Vendemos ovos e outras frutas". Rarará. Sensacional.
E um amigo estava em Porto Seguro, entrou num supermercado, foi direto pra gôndola das cervejas e fotografou o cartaz: "Promoção! Cerveja Curacu". Deve ser a cerveja do Feliciano. Rarará.
Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
E a sigla Fifa quer dizer: "Faça Isso, Faça Aquilo". "Faça Isso, Faça Assim". "Faça Isso, Faça AGORA!"
Buemba! Buemba! Macaco Simão urgente! O esculhambador-geral da República!
Copa das Confederações! Ameaça nuclear! Terrorismo! Manchete do Sensacionalista: "Aproveitando a Copa das Confederações, Vanusa gravará CD com os hinos de TODOS os países participantes".
E a Copa começou animada: Espanha 2 X Irlanda 0. Gols de Soldado e Mata! O Pedro Soldado e o Juan Mata!
E continuo encafifado com a Fifa! Um amigo diz que padrão Fifa quer dizer: Faturamos Imensamente Fabricando Arenas.
E a sigla Fifa quer dizer: "Faça Isso, Faça Aquilo". "Faça Isso, Faça Assim". "Faça Isso, Faça AGORA!". Pentelhos! Eu vou mandar essa Fifa tomar no fuleco! Fifa! Vá tomar no fuleco!
E que nome pra esse mascote! Tadinho do tatu-bola, isso não é nome, é bullying! E eu descobri a cor do cabelo do Marin: mistura de Silvio Santos com Nelson Rubens.
E sabe o que é galvanização? Galvanização: processo de corrosão do ouvido humano quando exposto aos comentários do Galvão! Rarará.
E adorei a placa bilíngue em Fortaleza pra Copa das Confederações: "Praia de Iracema". "Praia de Iracema Beach". Rarará!
E um amigo postou no Twitter que "o PMDB é o partido mais quenga da política desde os tempos de Salomé".
E a Dilma no Dia dos Namorados acordou "romântega". A Dilma não é romântica, é romântega! E tô adorando essa família da novela das nove: a filha não é filha da mãe e o neto é filho do avô. Pra acabar com essa balela de família Doriana. "Amor à Vida" detonou a família Doriana!
E essa piada pronta! "Mulher de decote e saia curta não entra em fórum de São Paulo, determina o juiz Mauricio Campos VELHO". Olha, pode ser velho, mas não pode ser antigo! Rarará!
O Brasil é lúdico! Olha essa faixa num bar em Ilhéus: "Vendemos todos os cigarros. Menos aquele". Rarará. E em Campo Maior, no Piauí, tem um mercadinho com a placa: "Vendemos ovos e outras frutas". Rarará. Sensacional.
E um amigo estava em Porto Seguro, entrou num supermercado, foi direto pra gôndola das cervejas e fotografou o cartaz: "Promoção! Cerveja Curacu". Deve ser a cerveja do Feliciano. Rarará.
Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
O interesse do saber desinteressado - CELSO LAFER
O Estado de S.Paulo - 16/06
Uma das características do mundo contemporâneo é a velocidade com a qual a cultura científica e tecnológica amplia os horizontes do conhecimento, transpõe barreiras antes tidas como naturais e inalteráveis e altera as condições de vida de todos. Por isso, a capacitação científica e tecnológica é uma variável crítica para uma sociedade poder ter um papel de controle do seu próprio destino e encaminhar problemas que desafiam a vida nacional.
São Paulo foi pioneiro, no nosso país, no reconhecimento da importância do apoio à pesquisa e a pesquisadores que tornam possível gerar novos conhecimentos em todos os campos e, assim, lidar com essa variável crítica. A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) foi concebida e criada com esse objetivo e vem contribuindo para aprimorar os paradigmas da organização da pesquisa de instituições públicas e privadas no nosso Estado. Desse aprimoramento, que eleva o nível de qualidade da pesquisa, o melhor exemplo são os Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids).
No dia 6 de junho, o governador Geraldo Alckmin presidiu a cerimônia de apresentação dos 17 novos Cepids, segunda safra de um projeto que teve início no ano 2000, quando São Paulo era governado pelo saudoso estadista Mário Covas. O governador Alckmin dá, assim, sequência a um programa do qual participou desde o início, pois ele era vice de Covas em 2000.
Eles são uma confirmação de que a pesquisa e a geração de conhecimento têm o seu tempo próprio, diverso da instantaneidade do mundo das finanças e dos meios de comunicação, ou do tempo político dos calendários eleitorais, ou mesmo do tempo mais ou menos longo, dependendo do setor, dos investimentos e da produção. Cada Cepid é criado para trabalhar durante 11 anos, para as hipóteses serem devidamente testadas e conclusões sólidas, alcançadas.
A interdependência entre pesquisa básica e aplicada se verifica nos Cepids desde sua denominação: entre suas prioridades está a inovação, ou seja, a criação de produtos e processos novos utilizáveis por cidadãos, instituições e empresas.
Como seu nome também indica, os Cepids têm de se preocupar com a difusão, ou seja, a informação à sociedade sobre o conteúdo de seu trabalho e a utilidade pública do que produz.
Os primeiros 11 Cepids tiveram impacto importante para o avanço do conhecimento no Estado. Por exemplo, o Centro Antonio Prudente para Pesquisa e Tratamento do Câncer tem dado significativa contribuição para o tratamento dessa doença.
O mesmo pode ser dito sobre todos os demais em relação a suas áreas específicas de atuação, do estudo do sono ao do genoma humano, da terapia celular à toxinologia aplicada aos problemas das metrópoles e a violência, da óptica e fotônica aos materiais cerâmicos e à biotecnologia molecular estrutural.
O financiamento dos novos 17 Cepids (10 dos quais sediados no interior do Estado) soma, em 11 anos, R$ 1,4 bilhão, R$ 760 milhões dos quais desembolsados pela Fapesp e R$ 640 milhões em pagamento de salários a pesquisadores e técnicos.
Os Cepids são expressão da densidade do conhecimento produzido pela excelente infraestrutura universitária no Estado, mais uma demonstração de que sem pesquisa básica de boa qualidade não se criam as bases para futuras aplicações.
O índice de dispêndio do Estado de São Paulo em pesquisa em relação a seu produto interno bruto é superior ao de Espanha, Itália e Rússia e comparável ao de China, Reino Unido e França.
Parte desse fenômeno se explica pelo investimento do setor privado em pesquisa e tecnologia, que só se justifica em regiões que dispõem de universidades e institutos com alto nível de excelência.
Cerca de 60% do que se investe em pesquisa em São Paulo vem das empresas, proporção similar à dos países desenvolvidos, muito superior à registrada nos demais Estados brasileiros.
Essas peculiaridades do nosso Estado têm feito com que a Fapesp dê cada vez mais atenção à cooperação com o setor produtivo, como já ocorre com os programas Pipe, de apoio à pesquisa inovativa em pequenas empresas, e Pite, de apoio à pesquisa em parceria para inovação tecnológica.
Por isso, a Fapesp tem se preocupado em trabalhar projetos que, à semelhança da concepção dos Cepids, mas adaptados às necessidades e peculiaridades do setor produtivo, aproximem as empresas privadas das universidades e institutos de pesquisa paulistas para criarem centros cofinanciados por indústrias e pela Fapesp para desenvolver programas de longo prazo.
Uma dessas ideias já resultou num acordo com a PSA Peugeot-Citroën, que vai criar um Centro de Pesquisas em Engenharia por pelo menos dez anos para desenvolver projetos sobre motores de combustão interna, adaptados ou desenvolvidos especificamente para biocombustíveis e a sustentabilidade dos biocombustíveis.
Outros estão em negociações, como os com a farmacêutica GSK e as aeroespaciais Boeing e Embraer, demonstração de entrosamento entre o setor produtivo e a Fapesp, em benefício do nosso Estado.
São Paulo reúne todas as condições para ser um centro cada vez mais importante de atração para esse tipo de entrosamento.
A Fapesp está dando sua contribuição nesse sentido, sem nunca se esquecer do papel do saber, em todos os campos, tido como desinteressado, pois, como diz Antonio Candido, "só ele permite aprofundar a investigação, que faz progredir o conhecimento e, portanto, a sua eventual aplicação". É por isso que a ciência chamada "básica" não pode jamais ser descuidada, porque é dela que surgem, às vezes de formas totalmente inesperadas e não previsíveis, as aplicações práticas que produzem enormes melhorias à qualidade de vida das pessoas e o desenvolvimento econômico e social das comunidades.
Uma das características do mundo contemporâneo é a velocidade com a qual a cultura científica e tecnológica amplia os horizontes do conhecimento, transpõe barreiras antes tidas como naturais e inalteráveis e altera as condições de vida de todos. Por isso, a capacitação científica e tecnológica é uma variável crítica para uma sociedade poder ter um papel de controle do seu próprio destino e encaminhar problemas que desafiam a vida nacional.
São Paulo foi pioneiro, no nosso país, no reconhecimento da importância do apoio à pesquisa e a pesquisadores que tornam possível gerar novos conhecimentos em todos os campos e, assim, lidar com essa variável crítica. A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) foi concebida e criada com esse objetivo e vem contribuindo para aprimorar os paradigmas da organização da pesquisa de instituições públicas e privadas no nosso Estado. Desse aprimoramento, que eleva o nível de qualidade da pesquisa, o melhor exemplo são os Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids).
No dia 6 de junho, o governador Geraldo Alckmin presidiu a cerimônia de apresentação dos 17 novos Cepids, segunda safra de um projeto que teve início no ano 2000, quando São Paulo era governado pelo saudoso estadista Mário Covas. O governador Alckmin dá, assim, sequência a um programa do qual participou desde o início, pois ele era vice de Covas em 2000.
Eles são uma confirmação de que a pesquisa e a geração de conhecimento têm o seu tempo próprio, diverso da instantaneidade do mundo das finanças e dos meios de comunicação, ou do tempo político dos calendários eleitorais, ou mesmo do tempo mais ou menos longo, dependendo do setor, dos investimentos e da produção. Cada Cepid é criado para trabalhar durante 11 anos, para as hipóteses serem devidamente testadas e conclusões sólidas, alcançadas.
A interdependência entre pesquisa básica e aplicada se verifica nos Cepids desde sua denominação: entre suas prioridades está a inovação, ou seja, a criação de produtos e processos novos utilizáveis por cidadãos, instituições e empresas.
Como seu nome também indica, os Cepids têm de se preocupar com a difusão, ou seja, a informação à sociedade sobre o conteúdo de seu trabalho e a utilidade pública do que produz.
Os primeiros 11 Cepids tiveram impacto importante para o avanço do conhecimento no Estado. Por exemplo, o Centro Antonio Prudente para Pesquisa e Tratamento do Câncer tem dado significativa contribuição para o tratamento dessa doença.
O mesmo pode ser dito sobre todos os demais em relação a suas áreas específicas de atuação, do estudo do sono ao do genoma humano, da terapia celular à toxinologia aplicada aos problemas das metrópoles e a violência, da óptica e fotônica aos materiais cerâmicos e à biotecnologia molecular estrutural.
O financiamento dos novos 17 Cepids (10 dos quais sediados no interior do Estado) soma, em 11 anos, R$ 1,4 bilhão, R$ 760 milhões dos quais desembolsados pela Fapesp e R$ 640 milhões em pagamento de salários a pesquisadores e técnicos.
Os Cepids são expressão da densidade do conhecimento produzido pela excelente infraestrutura universitária no Estado, mais uma demonstração de que sem pesquisa básica de boa qualidade não se criam as bases para futuras aplicações.
O índice de dispêndio do Estado de São Paulo em pesquisa em relação a seu produto interno bruto é superior ao de Espanha, Itália e Rússia e comparável ao de China, Reino Unido e França.
Parte desse fenômeno se explica pelo investimento do setor privado em pesquisa e tecnologia, que só se justifica em regiões que dispõem de universidades e institutos com alto nível de excelência.
Cerca de 60% do que se investe em pesquisa em São Paulo vem das empresas, proporção similar à dos países desenvolvidos, muito superior à registrada nos demais Estados brasileiros.
Essas peculiaridades do nosso Estado têm feito com que a Fapesp dê cada vez mais atenção à cooperação com o setor produtivo, como já ocorre com os programas Pipe, de apoio à pesquisa inovativa em pequenas empresas, e Pite, de apoio à pesquisa em parceria para inovação tecnológica.
Por isso, a Fapesp tem se preocupado em trabalhar projetos que, à semelhança da concepção dos Cepids, mas adaptados às necessidades e peculiaridades do setor produtivo, aproximem as empresas privadas das universidades e institutos de pesquisa paulistas para criarem centros cofinanciados por indústrias e pela Fapesp para desenvolver programas de longo prazo.
Uma dessas ideias já resultou num acordo com a PSA Peugeot-Citroën, que vai criar um Centro de Pesquisas em Engenharia por pelo menos dez anos para desenvolver projetos sobre motores de combustão interna, adaptados ou desenvolvidos especificamente para biocombustíveis e a sustentabilidade dos biocombustíveis.
Outros estão em negociações, como os com a farmacêutica GSK e as aeroespaciais Boeing e Embraer, demonstração de entrosamento entre o setor produtivo e a Fapesp, em benefício do nosso Estado.
São Paulo reúne todas as condições para ser um centro cada vez mais importante de atração para esse tipo de entrosamento.
A Fapesp está dando sua contribuição nesse sentido, sem nunca se esquecer do papel do saber, em todos os campos, tido como desinteressado, pois, como diz Antonio Candido, "só ele permite aprofundar a investigação, que faz progredir o conhecimento e, portanto, a sua eventual aplicação". É por isso que a ciência chamada "básica" não pode jamais ser descuidada, porque é dela que surgem, às vezes de formas totalmente inesperadas e não previsíveis, as aplicações práticas que produzem enormes melhorias à qualidade de vida das pessoas e o desenvolvimento econômico e social das comunidades.
A fervura é geral - DORRIT HARAZIM
O GLOBO - 16/06
A versão itinerante da aclamada conferência de ideias TED, realizada anualmente nos Estados Unidos e cuja participação custa US$ 7.500 (R$ 16.500) por cabeça, atende pelo nome de TEDGlobal. É um pouco menos salgada - US$ 6.000 por quatro dias de apresentações e palestras de 18 minutos. A edição 2013 foi encerrada esta semana em Edimburgo, capital da Escócia, e a próxima ocorrerá no Rio, em outubro de 2014.
A intervenção de um dos palestrantes surpreendeu pela franqueza. "Não me surpreende que tantos líderes políticos, e não me excluo desta lista, perderam a confiança de seu povo. Quando tropas de choque da polícia precisam ser chamadas para proteger [prédios públicos] e o Parlamento é porque algo está muito errado com nossas democracias", disse Georgios Papandreou, terceiro da dinastia de políticos que governaram a Grécia.
Papandreou, como se sabe, estava no poder em 2009 quando seu país foi a primeira nação europeia a degringolar ruína abaixo, puxando o fio da meada do desemprego, da insolvência e da bancarrota que ronda boa parte da zona do euro. Papandreou foi, também, o primeiro chefe de governo desses novos tempos de bloco na rua a ter meio milhão de cidadãos manifestando na principal praça de Atenas contra os planos de austeridade que se anunciavam. Era maio de 2011, a primeira passeata-monstro brotara de forma espontânea, da vontade de se fazer ouvir. Vieram outras mais, a rotina urbana interrompeu-se. Seis meses depois, com as ruas falando sozinhas, Papandreou renunciou.
Quase à mesma época, nascia na Espanha igualmente depauperada o movimento social mais importante desde o final do franquismo: o "Indignados". Politicamente organizado e astuto no uso das redes sociais, passou a fazer parte do teste de governabilidade das principais cidades espanholas, onde o desemprego entre os jovens de 25 a 29 anos atingiu o obsceno índice de quase 60%. Também as forças da ordem tiveram de se moldar ao teste de governabilidade.
Do mesmo modo na França, Chipre, Itália, Inglaterra, Alemanha - todos países democráticos - a rua tem servido de ponto dentro da curva da insatisfação crescente com a surdez dos governantes eleitos. Passeatas são cada vez mais frequentes, elas provocam transtornos consideráveis na vida dos munícipes, mas os governantes e seus instrumentos de ordem foram obrigados a aprender a conviver dentro destes parâmetros.
Vale lembrar que durante quase dois meses de 2011 um pedaço do cartão-postal financeiro mais conhecido do mundo - Wall Street, em Manhattan - permaneceu sob ocupação de um movimento de protesto particularmente incômodo e ruidoso. Era a turma do Occupy Wall Street, que acabou dando filhotes mundo afora. Montaram barracas numa das áreas mais valorizadas de Nova York, e dali não arredaram pé em protesto contra a ganância financeira, a corrupção e a desigualdade social. Durante o dia chegavam a reunir de 5 a 10 mil manifestantes no entorno da Bolsa de Nova York. À noite, algumas centenas de empedernidos dormiam no assentamento montado num parque próximo. Ali também cozinhavam, lavavam roupa, defecavam.
Quando as condições sanitárias se tornaram insustentáveis, o prefeito Michael Bloomberg recorreu à tropa de choque para a dura retirada forçada. A tentativa de reocupação recebeu repressão mais dura ainda, com imagens de violência que correram mundo. Só que o recurso a tropas de choque para controlar um movimento de desobediência civil que saiu de controle acabou sinalizando mais fraqueza de planejamento do que força do prefeito.
De todo modo, o protesto continuou sob outra roupagem. Está entendido que se trata de um movimento legítimo. Para o presidente Barack Obama, ele "exprime as frustrações do povo americano... que vê os protagonistas da maior crise financeira desde a Grande Depressão... tentando manter as mesmas práticas irresponsáveis".
Na Turquia, o despertar político do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan só ocorreu depois de duas semanas de monólogo dos cidadãos nas ruas, respondido com uma truculência policial que causou quatro mortos e fez perto de cinco mil feridos.
É arrogância temerária para um político achar que, hoje em dia, por ter sido democraticamente eleito (mesmo que por três vezes, como Erdogan) ele está dispensado de acompanhar as miudezas, anseios, teimosias ou alegrias que fazem pulsar o seu país - sintonias que passam pelas redes sociais, não por pesquisas de marqueteiro.
Uma democracia que não é forte o suficiente para aguentar períodos de descontentamento público sem recorrer a medidas repressivas desmesuradas acaba se encrencando. É provável, portanto, que o primeiro-ministro turco tenha percebido a armadilha na qual ele mesmo se colocara. Anunciou, na tarde de sexta-feira, que seu governo aceitava suspender a construção do polêmico shopping center que originou os primeiros protestos na Praça Taksim até que uma Corte analise as objeções urbanísticas dos manifestantes ao projeto. Caso haja divergência entre a avaliação da Corte e o veto dos manifestantes, será realizado um plebiscito, e a população de Istambul decidirá o que prefere fazer com esta única área verde da principal praça da cidade.
A ideia de que munícipes possam decidir o destino que querem dar a uma área de seu interesse cotidiano foi saudada com entusiasmo. Não é garantido, porém, que, de uma só penada, tudo volte a ser como antes e o descontentamento acumulado contra o estilo impositivo de Erdogan saia das ruas. Vai depender, e muito, do uso futuro que ele pretende fazer de sua tropa de choque.
Em tempo: para impedir a "tomada" da Avenida Paulista por um grupo pequeno de mascarados e arruaceiros exógenos à manifestação grande e ordeira da quinta-feira, o governo de São Paulo recorreu à Tropa de Choque, à Força Tática e à Cavalaria. Da próxima vez, também drones?
O fracasso da democracia - CLÓVIS ROSSI
FOLHA DE SP - 16/06
O sistema está sendo incapaz de processar os grandes atos de protesto, na Paulista ou na Europa
Começo por onde esse excelente Hélio Schwartsmann terminou sua coluna de sexta-feira na Folha:
"Mesmo rejeitando o vandalismo, deve-se reconhecer que protestos por vezes tonificam a democracia".
De acordo, Hélio. Pena que essa indiscutível verdade teórica esteja sendo desmentida na prática nos últimos muitos anos --e não só nem principalmente no Brasil.
Desde os primeiros grandes protestos contra a globalização, adquiri vastíssima quilometragem na cobertura de manifestações de massa em diferentes países e por diferentes motivos. São mais de 20 anos de gás lacrimogêneo ingerido e de incontáveis vidraças de McDonald's quebradas (não por mim, que fique claro), o suficiente para poder afirmar que a democracia está sendo incapaz de processar os protestos que deveriam tonificá-la.
Tome-se o caso dos protestos contra a globalização: perseguiam cada reunião internacional, qualquer que fosse o local de sua realização.
Uma das maiores (Seattle, 1999) conseguiu a nada desprezível proeza de impedir que a secretária de Estado norte-americana, Madeleine Albright à época, fizesse o discurso inaugural de uma conferência ministerial da Organização Mundial do Comércio.
Nunca me esqueci de uma jovem estudante a quem eu tentava convencer de me deixar passar para o centro de imprensa, argumentando que precisava contar ao mundo o que eles estavam fazendo. E ela: "Fuck you. Não precisamos de vocês para isso".
Parecia absolutamente segura de que as mídias alternativas relatariam a marcha triunfal rumo ao sucesso dos grupos que a direita batizou de "globalifóbicos" para tentar ridicularizá-los.
A marcha triunfal foi interrompida pelo 11 de Setembro e pela malandra equiparação dos protestos a terrorismo (muito pior do que acusar os manifestantes apenas de vândalos, certo?).
Mais recentemente, vieram os "indignados". Multidões em praças públicas que fazem parecer meros convescotes em família os grupos reunidos na avenida Paulista. Obtiveram resultados? Nenhum. O "austericídio" prossegue impávido, enquanto os "indignados" submergem. Estão por aí, mas não conseguem traduzir sua força numérica em propostas que a democracia possa processar com seus mecanismos convencionais.
A consequência desse descompasso pode ser terrível, escrevem para "El País" José Ramón Montero e Mariano Torcal, catedráticos de Ciência Política em Madri e Barcelona, respectivamente:
"Se os protestos se mantiverem ante a incompetência, a acomodação ou a frivolidade das elites políticas, o descontentamento poderia radicalizar-se e chegar ao âmbito eleitoral, com consequências imprevisíveis. E, se os protestos forem sistematicamente descartados e não forem acompanhados de mudanças relevantes, o desamor poderia agravar os sentimentos de frustração entre os que por fim exercem sua voz".
Vale para a Espanha, vale para o resto da Europa, vale para o Brasil. Cá como lá, a democracia está flácida em vez de tonificada.
O sistema está sendo incapaz de processar os grandes atos de protesto, na Paulista ou na Europa
Começo por onde esse excelente Hélio Schwartsmann terminou sua coluna de sexta-feira na Folha:
"Mesmo rejeitando o vandalismo, deve-se reconhecer que protestos por vezes tonificam a democracia".
De acordo, Hélio. Pena que essa indiscutível verdade teórica esteja sendo desmentida na prática nos últimos muitos anos --e não só nem principalmente no Brasil.
Desde os primeiros grandes protestos contra a globalização, adquiri vastíssima quilometragem na cobertura de manifestações de massa em diferentes países e por diferentes motivos. São mais de 20 anos de gás lacrimogêneo ingerido e de incontáveis vidraças de McDonald's quebradas (não por mim, que fique claro), o suficiente para poder afirmar que a democracia está sendo incapaz de processar os protestos que deveriam tonificá-la.
Tome-se o caso dos protestos contra a globalização: perseguiam cada reunião internacional, qualquer que fosse o local de sua realização.
Uma das maiores (Seattle, 1999) conseguiu a nada desprezível proeza de impedir que a secretária de Estado norte-americana, Madeleine Albright à época, fizesse o discurso inaugural de uma conferência ministerial da Organização Mundial do Comércio.
Nunca me esqueci de uma jovem estudante a quem eu tentava convencer de me deixar passar para o centro de imprensa, argumentando que precisava contar ao mundo o que eles estavam fazendo. E ela: "Fuck you. Não precisamos de vocês para isso".
Parecia absolutamente segura de que as mídias alternativas relatariam a marcha triunfal rumo ao sucesso dos grupos que a direita batizou de "globalifóbicos" para tentar ridicularizá-los.
A marcha triunfal foi interrompida pelo 11 de Setembro e pela malandra equiparação dos protestos a terrorismo (muito pior do que acusar os manifestantes apenas de vândalos, certo?).
Mais recentemente, vieram os "indignados". Multidões em praças públicas que fazem parecer meros convescotes em família os grupos reunidos na avenida Paulista. Obtiveram resultados? Nenhum. O "austericídio" prossegue impávido, enquanto os "indignados" submergem. Estão por aí, mas não conseguem traduzir sua força numérica em propostas que a democracia possa processar com seus mecanismos convencionais.
A consequência desse descompasso pode ser terrível, escrevem para "El País" José Ramón Montero e Mariano Torcal, catedráticos de Ciência Política em Madri e Barcelona, respectivamente:
"Se os protestos se mantiverem ante a incompetência, a acomodação ou a frivolidade das elites políticas, o descontentamento poderia radicalizar-se e chegar ao âmbito eleitoral, com consequências imprevisíveis. E, se os protestos forem sistematicamente descartados e não forem acompanhados de mudanças relevantes, o desamor poderia agravar os sentimentos de frustração entre os que por fim exercem sua voz".
Vale para a Espanha, vale para o resto da Europa, vale para o Brasil. Cá como lá, a democracia está flácida em vez de tonificada.
A caminho do 2º turno - JOÃO BOSCO RABELO
O Estado de S.Paulo - 16/06
Economia se apresenta em números e desmenti-los é tarefa inglória, ainda que comum a todos os governos em dificuldades. Geralmente reagem aos analistas e críticos com analogias que tentam rotulá-los de derrotistas. Em tempos de campanha eleitoral antecipada esse tipo de reação é mais agressiva e, mais das vezes, primária.
Atacar os críticos não muda os resultados, mas a contaminação do processo político pelo eleitoral induz à prática, porque é preciso apontar culpados, ainda que apenas pela repercussão que dão aos maus resultados de um governo. Assim, a semana passada foi de negação, com o governo na defensiva, preso a uma política de desonerações ineficiente, a desmentir o que os números insistem em confirmar.
Ainda com a presidente firme nas pesquisas, seus próprios adversários reconheciam que evitar sua reeleição seria tarefa viável somente se acompanhada por uma queda da economia e, mesmo assim, com efeito real no bolso do eleitor. Pois bem, a inflação está aí, "resistente", como definiu o Banco Central, a produzir a queda do índice de aprovação da presidente. Os investimentos prosseguem estagnados, apesar dos esforços do governo para reverter o quadro, aumentando inclusive a margem de lucros de empresários.
Mas o problema continua sendo o clima de desconfiança gerado pela percepção de que o governo não tem uma política econômica clara, titubeia ante os índices negativos e consolida gradativamente a expectativa negativa de futuro - a pior de todas, pelo seu efeito paralisante no presente.
A pressão por mudanças de pessoas, que começa a ficar clara sobre o ministro da Fazenda, Guido Mantega, por exemplo, resulta exatamente da percepção de que é preciso renovar expectativas, muito embora isso não resolva o problema por si só.
O contexto fica mais difícil com as dificuldades de articulação das alianças eleitorais nos Estados, que produz pressão da base aliada sobre a presidente, agora mais fragilizada com a queda nas pesquisas. Seu poder impositivo diminui na proporção que o de seus interlocutores, principalmente do PMDB, aumenta.
O desarranjo da economia aumenta a consistência dos candidatos que disputarão 2014: Aécio Neves (PSDB), com um programa que enfatizou a inflação, cresceu e se juntou a Marina Silva (Rede) na casa dos 15%, enquanto Eduardo Campos, do PSB consolida-se na casa dos 7%, com viés de alta.
Tantos candidatos eleitoralmente fortes, em cenário adverso, respondem pela convicção geral, inclusive a não admitida pelo Planalto, de que a reeleição no primeiro turno, como previu o PT em tempos mais favoráveis, é, hoje, um sonho cada vez mais distante.
Economia se apresenta em números e desmenti-los é tarefa inglória, ainda que comum a todos os governos em dificuldades. Geralmente reagem aos analistas e críticos com analogias que tentam rotulá-los de derrotistas. Em tempos de campanha eleitoral antecipada esse tipo de reação é mais agressiva e, mais das vezes, primária.
Atacar os críticos não muda os resultados, mas a contaminação do processo político pelo eleitoral induz à prática, porque é preciso apontar culpados, ainda que apenas pela repercussão que dão aos maus resultados de um governo. Assim, a semana passada foi de negação, com o governo na defensiva, preso a uma política de desonerações ineficiente, a desmentir o que os números insistem em confirmar.
Ainda com a presidente firme nas pesquisas, seus próprios adversários reconheciam que evitar sua reeleição seria tarefa viável somente se acompanhada por uma queda da economia e, mesmo assim, com efeito real no bolso do eleitor. Pois bem, a inflação está aí, "resistente", como definiu o Banco Central, a produzir a queda do índice de aprovação da presidente. Os investimentos prosseguem estagnados, apesar dos esforços do governo para reverter o quadro, aumentando inclusive a margem de lucros de empresários.
Mas o problema continua sendo o clima de desconfiança gerado pela percepção de que o governo não tem uma política econômica clara, titubeia ante os índices negativos e consolida gradativamente a expectativa negativa de futuro - a pior de todas, pelo seu efeito paralisante no presente.
A pressão por mudanças de pessoas, que começa a ficar clara sobre o ministro da Fazenda, Guido Mantega, por exemplo, resulta exatamente da percepção de que é preciso renovar expectativas, muito embora isso não resolva o problema por si só.
O contexto fica mais difícil com as dificuldades de articulação das alianças eleitorais nos Estados, que produz pressão da base aliada sobre a presidente, agora mais fragilizada com a queda nas pesquisas. Seu poder impositivo diminui na proporção que o de seus interlocutores, principalmente do PMDB, aumenta.
O desarranjo da economia aumenta a consistência dos candidatos que disputarão 2014: Aécio Neves (PSDB), com um programa que enfatizou a inflação, cresceu e se juntou a Marina Silva (Rede) na casa dos 15%, enquanto Eduardo Campos, do PSB consolida-se na casa dos 7%, com viés de alta.
Tantos candidatos eleitoralmente fortes, em cenário adverso, respondem pela convicção geral, inclusive a não admitida pelo Planalto, de que a reeleição no primeiro turno, como previu o PT em tempos mais favoráveis, é, hoje, um sonho cada vez mais distante.
Padilha na cabeça - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 16/06
A cúpula do PT e o ex-presidente Lula chegaram à conclusão que, diante da antecipação da campanha eleitoral, será preciso definir até, no máximo agosto, o candidato ao governo de São Paulo. O favorito é o ministro Alexandre Padilha (Saúde). Pesquisas internas do partido mostram que, apesar da área espinhosa que atua, ele tem uma boa imagem.
Fim do romantismo
Na avaliação do governo Dilma, aquela imagem dos irmãos Villas-Bôas percorrendo o Brasil para identificar os nossos índios e demarcar suas terras é coisa do passado. O Serviço de Inteligência detectou que, além da Igreja Católica e de organizações ambientais, "garimpeiros e madeireiros ilegais" também sustentam as manifestações favoráveis à causa indígena. Há relatos de policiais federais que atuaram nas últimas reintegrações, de que os índios, quando informados previamente das ações da polícia, unem-se aos que agem ilegalmente para resistir.
Bonde da Rússia
A Câmara estará vazia esta semana. O presidente Henrique Alves irá à missão oficial na Rússia. Na comitiva, os líderes do governo, Arlindo Chinaglia (PT); do DEM, Ronaldo Caiado; do PMDB, Eduardo Cunha; e do MD, Roberto Freire.
Não é hora
Sobre eventuais divergências com o presidente da Infraero, Gustavo do Valle, o ministro Moreira Franco (Aviação Civil) desconversa. Explica que às vésperas da Copa das Confederações não se pode criar "ambiente de conflito". Diz: "O momento é despropositado para reflexões dessa natureza (substituição de Valle)".
Fundo para Minha Casa Minha Vida
O PP apresentou projeto que mantém a multa de 10% do FGTS aos empregadores e carimba esse dinheiro, com a criação do Fundo Nacional de Habitação. Será votado com urgência, passando na frente do PLP 200, que extingue a cobrança.
O Solidariedade quase lá
Ao menos 300 mil assinaturas do Solidariedade já foram validadas pelos cartórios eleitorais. A coordenação do novo partido, que tem como principal organizador o deputado e presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), garante ter coletado 700 mil assinaturas e que ele está em condições de ser constituído em oito estados. Falta apenas um para cumprir a regra.
Inversão de pauta
O governo vai retirar a urgência do projeto dos royalties para a Educação, que tranca a pauta nesta semana e sequer começou a ser discutido na Câmara. A comissão foi recém criada, e será relator o líder do PDT, André Figueiredo.
Palanque para todos os gostos
O PSB paulista quer fazer o vice do governador Geraldo Alckmin, candidato à reeleição pelo PSDB. O deputado Márcio França (PSB-SP) é o nome. Os socialistas querem dividir o palanque entre Aécio Neves e Eduardo Campos.
SERÁ LANÇADA quarta-feira no Senado campanha contra uso exclusivo do domínio "amazon", pleiteado pela multinacional Amazon.com.
A cúpula do PT e o ex-presidente Lula chegaram à conclusão que, diante da antecipação da campanha eleitoral, será preciso definir até, no máximo agosto, o candidato ao governo de São Paulo. O favorito é o ministro Alexandre Padilha (Saúde). Pesquisas internas do partido mostram que, apesar da área espinhosa que atua, ele tem uma boa imagem.
Fim do romantismo
Na avaliação do governo Dilma, aquela imagem dos irmãos Villas-Bôas percorrendo o Brasil para identificar os nossos índios e demarcar suas terras é coisa do passado. O Serviço de Inteligência detectou que, além da Igreja Católica e de organizações ambientais, "garimpeiros e madeireiros ilegais" também sustentam as manifestações favoráveis à causa indígena. Há relatos de policiais federais que atuaram nas últimas reintegrações, de que os índios, quando informados previamente das ações da polícia, unem-se aos que agem ilegalmente para resistir.
"Não há falta de nomes no PT. Nosso foco é definir candidatos sem brigas e sem prévias"
Rui Falcão Presidente nacional do PT
Bonde da Rússia
A Câmara estará vazia esta semana. O presidente Henrique Alves irá à missão oficial na Rússia. Na comitiva, os líderes do governo, Arlindo Chinaglia (PT); do DEM, Ronaldo Caiado; do PMDB, Eduardo Cunha; e do MD, Roberto Freire.
Não é hora
Sobre eventuais divergências com o presidente da Infraero, Gustavo do Valle, o ministro Moreira Franco (Aviação Civil) desconversa. Explica que às vésperas da Copa das Confederações não se pode criar "ambiente de conflito". Diz: "O momento é despropositado para reflexões dessa natureza (substituição de Valle)".
Fundo para Minha Casa Minha Vida
O PP apresentou projeto que mantém a multa de 10% do FGTS aos empregadores e carimba esse dinheiro, com a criação do Fundo Nacional de Habitação. Será votado com urgência, passando na frente do PLP 200, que extingue a cobrança.
O Solidariedade quase lá
Ao menos 300 mil assinaturas do Solidariedade já foram validadas pelos cartórios eleitorais. A coordenação do novo partido, que tem como principal organizador o deputado e presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), garante ter coletado 700 mil assinaturas e que ele está em condições de ser constituído em oito estados. Falta apenas um para cumprir a regra.
Inversão de pauta
O governo vai retirar a urgência do projeto dos royalties para a Educação, que tranca a pauta nesta semana e sequer começou a ser discutido na Câmara. A comissão foi recém criada, e será relator o líder do PDT, André Figueiredo.
Palanque para todos os gostos
O PSB paulista quer fazer o vice do governador Geraldo Alckmin, candidato à reeleição pelo PSDB. O deputado Márcio França (PSB-SP) é o nome. Os socialistas querem dividir o palanque entre Aécio Neves e Eduardo Campos.
SERÁ LANÇADA quarta-feira no Senado campanha contra uso exclusivo do domínio "amazon", pleiteado pela multinacional Amazon.com.
Vacina eleitoral - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 16/06
A queda na popularidade de Dilma Rousseff e o aumento das críticas aos resultados da economia levaram a presidente a adotar nos discursos o mantra de que o "Brasil real" não está em crise. Interlocutores do governo dizem que a estratégia foi traçada em reunião no Alvorada entre a petista, João Santana e Aloizio Mercadante (Educação), na última quarta-feira. A avaliação é que a "crise não existe para o eleitor", uma vez que o país tem baixo desemprego e renda preservada.
Alerta No Planalto, a ordem é monitorar os protestos não só em São Paulo como em demais capitais e tentar detectar outros assuntos, que não as tarifas, que estejam catalisando a insatisfação da população, com riscos à imagem de Dilma.
Fogo amigo Felipe De Andrea Gomes, presidente do diretório do PSDB em Pinheiros, e Fernando Guimarães, presidente municipal do Instituto Teotonio Vilela, devem ser enquadrados pela sigla amanhã. Ambos criticaram a PM e publicaram convites para os atos nas redes sociais.
Dobradinha Além de fazer fartos elogios a Fernando Henrique Cardoso em evento empresarial em Minas, na sexta-feira, Eduardo Campos contou com claque tucana. Diante da ausência de Aécio Neves, seu aliado Marcus Pestana brincou: "Está bem representado pelo Eduardo''.
Leilão Além de negociar com o PT, o ministro Fernando Bezerra Coelho (Integração), da cota do PSB no governo, conversou na semana passada com o ex-prefeito Gilberto Kassab (SP) sobre uma possível filiação ao PSD.
Versões Campos e Coelho conversarão neste fim de semana sobre o futuro político do ministro, que quer ser candidato ao governo. O aliado disse ao governador que foi procurado pelo PSD, mas interlocutores de Kassab dizem que a iniciativa partiu do ministro, e que o ex-prefeito foi reticente sobre a filiação.
Ex-verdes? Dois representantes do PV paulista se aproximam discretamente da Rede, de Marina Silva. O vereador Gilberto Natalini recolheu 5 mil assinaturas para formar o partido e pensa em migrar para a sigla. Já o ex-secretário Eduardo Jorge teve conversa reservada com um representante da legenda.
Lobby 1 Luiz Marinho (PT), prefeito de São Bernardo e braço-direito de Lula, viaja hoje a Paris para participar de uma feira aeronáutica a convite da Saab, fabricante do caça sueco Gripen.
Lobby 2 O prefeito petista defende a compra da aeronave pela Força Aérea Brasileira, numa disputa com outros concorrentes que ainda será arbitrada por Dilma.
O futuro... A Prefeitura de São Paulo estabeleceu como prioridade a aprovação do novo desenho da Operação Urbana Água Branca, que será estendida até bairros da zona norte. O presidente da Câmara, José Américo (PT), quer votar o projeto antes do recesso.
... do Arco O objetivo é autorizar a venda de títulos para a construção de prédios no entorno do rio Tietê, dando o primeiro passo para a implementação do Arco do Futuro, promessa de campanha de Fernando Haddad.
Auditório Os planos de renovação do PSDB paulistano passam por atrair celebridades para o partido. Na mira do partido está a apresentadora Patricia Abravanel, filha caçula de Silvio Santos.
Arrastão PT e PSDB dividem uma preocupação em São Paulo: as bancadas que serão eleitas na esteira de puxadores de votos de perfil popular, como Tiririca (PR), Marco Feliciano (PSC) e Celso Russomanno (PRB).
tiroteio
Esse comportamento da PM sob o comando de Alckmin não está fora da curva. Já vimos essa repressão na USP e no Pinheirinho.
DO EX-PREFEITO DE OSASCO EMÍDIO DE SOUZA (PT), sobre a ação da polícia de São Paulo no protesto contra a alta das tarifas de transportes, na quinta-feira.
Contraponto
Hora do recreio
O ministro Alexandre Padilha (Saúde) participava por mais de três horas de audiência pública na Câmara sobre médicos com diploma estrangeiro quando o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) assumiu o microfone. Ainda sem almoço, como os colegas, o parlamentar protestou:
-O ministro está comendo uma rosquinha e não ofereceu para ninguém! - reclamou, em tom de brincadeira.
Bolsonaro, que é conhecido por suas posições conservadoras, completou:
-Tenho certeza de que o ministro não é homofóbico... Nós queremos a rosquinha dele!
A queda na popularidade de Dilma Rousseff e o aumento das críticas aos resultados da economia levaram a presidente a adotar nos discursos o mantra de que o "Brasil real" não está em crise. Interlocutores do governo dizem que a estratégia foi traçada em reunião no Alvorada entre a petista, João Santana e Aloizio Mercadante (Educação), na última quarta-feira. A avaliação é que a "crise não existe para o eleitor", uma vez que o país tem baixo desemprego e renda preservada.
Alerta No Planalto, a ordem é monitorar os protestos não só em São Paulo como em demais capitais e tentar detectar outros assuntos, que não as tarifas, que estejam catalisando a insatisfação da população, com riscos à imagem de Dilma.
Fogo amigo Felipe De Andrea Gomes, presidente do diretório do PSDB em Pinheiros, e Fernando Guimarães, presidente municipal do Instituto Teotonio Vilela, devem ser enquadrados pela sigla amanhã. Ambos criticaram a PM e publicaram convites para os atos nas redes sociais.
Dobradinha Além de fazer fartos elogios a Fernando Henrique Cardoso em evento empresarial em Minas, na sexta-feira, Eduardo Campos contou com claque tucana. Diante da ausência de Aécio Neves, seu aliado Marcus Pestana brincou: "Está bem representado pelo Eduardo''.
Leilão Além de negociar com o PT, o ministro Fernando Bezerra Coelho (Integração), da cota do PSB no governo, conversou na semana passada com o ex-prefeito Gilberto Kassab (SP) sobre uma possível filiação ao PSD.
Versões Campos e Coelho conversarão neste fim de semana sobre o futuro político do ministro, que quer ser candidato ao governo. O aliado disse ao governador que foi procurado pelo PSD, mas interlocutores de Kassab dizem que a iniciativa partiu do ministro, e que o ex-prefeito foi reticente sobre a filiação.
Ex-verdes? Dois representantes do PV paulista se aproximam discretamente da Rede, de Marina Silva. O vereador Gilberto Natalini recolheu 5 mil assinaturas para formar o partido e pensa em migrar para a sigla. Já o ex-secretário Eduardo Jorge teve conversa reservada com um representante da legenda.
Lobby 1 Luiz Marinho (PT), prefeito de São Bernardo e braço-direito de Lula, viaja hoje a Paris para participar de uma feira aeronáutica a convite da Saab, fabricante do caça sueco Gripen.
Lobby 2 O prefeito petista defende a compra da aeronave pela Força Aérea Brasileira, numa disputa com outros concorrentes que ainda será arbitrada por Dilma.
O futuro... A Prefeitura de São Paulo estabeleceu como prioridade a aprovação do novo desenho da Operação Urbana Água Branca, que será estendida até bairros da zona norte. O presidente da Câmara, José Américo (PT), quer votar o projeto antes do recesso.
... do Arco O objetivo é autorizar a venda de títulos para a construção de prédios no entorno do rio Tietê, dando o primeiro passo para a implementação do Arco do Futuro, promessa de campanha de Fernando Haddad.
Auditório Os planos de renovação do PSDB paulistano passam por atrair celebridades para o partido. Na mira do partido está a apresentadora Patricia Abravanel, filha caçula de Silvio Santos.
Arrastão PT e PSDB dividem uma preocupação em São Paulo: as bancadas que serão eleitas na esteira de puxadores de votos de perfil popular, como Tiririca (PR), Marco Feliciano (PSC) e Celso Russomanno (PRB).
tiroteio
Esse comportamento da PM sob o comando de Alckmin não está fora da curva. Já vimos essa repressão na USP e no Pinheirinho.
DO EX-PREFEITO DE OSASCO EMÍDIO DE SOUZA (PT), sobre a ação da polícia de São Paulo no protesto contra a alta das tarifas de transportes, na quinta-feira.
Contraponto
Hora do recreio
O ministro Alexandre Padilha (Saúde) participava por mais de três horas de audiência pública na Câmara sobre médicos com diploma estrangeiro quando o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) assumiu o microfone. Ainda sem almoço, como os colegas, o parlamentar protestou:
-O ministro está comendo uma rosquinha e não ofereceu para ninguém! - reclamou, em tom de brincadeira.
Bolsonaro, que é conhecido por suas posições conservadoras, completou:
-Tenho certeza de que o ministro não é homofóbico... Nós queremos a rosquinha dele!
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