O ESTADÃO - 16/06
Ao longo da semana passada, as cotações do câmbio enfrentaram uma volatilidade como há muito tempo não se via, apesar dos 4 leilões de compra no câmbio futuro (swap cambial) realizados pelo Banco Central.
Desta vez, a deterioração das contas do Brasil com o exterior (contas correntes), cujo déficit em apenas quatro meses saltou de 2,4% para 3,0% do PIB, não foi o principal fator do treme-treme. No mundo inteiro, as cotações do dólar soluçaram.
A rigor, a novidade ainda não ocorreu. Bastou que Ben Bernanke, presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), admitisse, em depoimento ao Congresso no dia 22 de maio, que poderá reduzir a emissão de moeda destinada à compra de títulos, para que os mercados entrassem em turbulência: as bolsas caíram, o dólar se valorizou em relação às outras moedas e os juros saltaram.
Ao longo do ano passado e deste ano, a presidente Dilma e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, temeram que essas operações, conhecidas como afrouxamento quantitativo, provocassem sérios problemas para o Brasil. Hoje, o perigo mudou de lado.
Apenas para reavivar a memória, essas operações consistem em compra de títulos no mercado dos Estados Unidos com emissão de dólares para que mais dinheiro na economia reative o crédito, o consumo e a produção.
Foram objeto de denúncias seguidas da presidente Dilma e do ministro Mantega, que as chamaram de “tsunami monetário” e de “guerra cambial”, respectivamente. Consideraram-nas prejudiciais à economia dos países emergentes porque provocam inundação de moeda estrangeira e valorização das moedas locais, fator que tira a competitividade e alija as indústrias nacionais do mercado global. O governo brasileiro levou a questão às cúpulas do Grupo dos 20 e ameaçou entrar com representações na Organização Mundial do Comércio (OMC) contra os países ricos, especialmente Estados Unidos e Japão, por praticarem jogo desleal no comércio com os vizinhos.
A simples perspectiva de suspensão das políticas de afrouxamento quantitativo já estão apontando para uma ameaça oposta: a de causar escassez de moeda estrangeira nos mercados, justamente quando o Brasil mais precisa de entrada de capitais para complementar a cobertura dos investimentos.
Mais ainda, diante da perspectiva de forte derrubada dos preços do gás natural e dos custos da energia em seu mercado interno, os Estados Unidos tendem agora a atrair centenas de bilhões de dólares que vinham pingando no câmbio dos países emergentes.
A tendência se inverteu e passou a ser de desvalorização do real, com todo o impacto que pode exercer sobre a inflação. Claro, há US$ 375 bilhões em reservas que podem ser utilizadas para frear a saída de dólares (ou a redução de entrada). Mas, dependendo da pressão sobre o câmbio, essas reservas podem ser exauridas em apenas alguns meses.
Essa foi a principal razão pela qual o governo Dilma suspendeu todas as barreiras contra a entrada de capitais, erguidas quando os fluxos tinham outra direção. Além do crescimento econômico insignificante (certamente abaixo de 3% em 2013), da inflação elevada demais, e do baixo nível dos investimentos, a economia brasileira começa a enfrentar outro foco de deterioração.
Mais cautela. O FMI recomendou, na sexta-feira, que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) só faça alterações em sua política monetária em meados de 2014, reduzindo de forma “gradual” as compras mensais de ativos. O problema é que são pontos de vista distintos: enquanto o FMI está preocupado com os efeitos globais do fim do afrouxamento monetário, os interesses do Fed estão voltados principalmente para o mercado interno dos Estados Unidos.
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