CORREIO BRAZILIENSE - 16/06
Aos partidos que se encheram de esperanças em angariar mais espaço no governo Dilma Rousseff para reforçar os alicerces das alianças para 2014, os arautos do Planalto avisam que a presidente não recuou um milímetro sequer na disposição de manter alguns locais fechados às indicações partidárias, em especial, agências reguladoras. Ainda que esteja no terceiro ano de mandato e tenha enfrentado uma baixa na popularidade, a avaliação é a de que ela não precisa ceder, como fez Lula em 2005, diante do estouro do escândalo do mensalão. E por um motivo muito simples: ela tem uma rede que serve de anteparo. Tem Lula.
No plano político, a diferença de cenário entre hoje e 2005 é o de que o segundo colocado nas pesquisas de intenção de voto é do próprio PT. Lula não tinha ninguém em seu partido que pudesse colocar como candidato forte em seu lugar, caso o projeto desabasse. Por isso, amarrou o PMDB e outros partidos ao seu governo e substituiu ministros petistas por integrantes de outras legendas. Abriu, por exemplo, Minas e Energia e Saúde.
Hoje, Dilma pode dispensar essas substituições. Ela pode esticar mais a corda porque tem Luiz Inácio Lula da Silva para lançar. Essa candidatura de Lula, entretanto, seria apenas em último caso. Aos olhos de hoje, os petistas consideram que a situação de ter Lula ali, na retaguarda, dizendo “olha que um dia eu volto”, é para lá de confortável, no sentido de deixar a presidente num relacionamento mais discreto com os políticos de modo geral.
Essa eleição de 2014 aparece hoje como a última em que os petistas terão essa chance, de ter dois personagens em posição de destaque. Daí, o fato de não estarem dispostos a ceder, seja espaço no governo, seja nos palanques dos principais estados do país. E quem estiver insatisfeito, paciência.
Enquanto isso, no Rio de Janeiro…
Nesse sentido, os petistas planejam manter a candidatura do senador Lindbergh Farias ao governo do estado do Rio. As contas indicam que, se não lançar um nome agora — ainda mais alguém bem posicionado nas pesquisas, como Lindbergh —, o PT jamais tomará aquela cidadela. Afinal, depois de Luiz Fernando Pezão, o vice-govenador, o PMDB tem o atual prefeito, Eduardo Paes, promessa forte para 2018. Ou seja, as chances do PT viriam remotas apenas para 2022, algo muito distante em se tratando de projeto partidário de poder (ainda que os políticos sempre façam os cálculos futuros observando duas eleições subsequentes).
E no Alvorada…
Os presidentes de partido estão cientes de que Dilma não vai impedir o PT de lançar candidato em estados estratégicos, como o Rio de Janeiro e São Paulo. Silenciosamente, ela conversou com quase todos nesse primeiro semestre em reuniões fechadas no Palácio da Alvorada. E àqueles que aconselharam o retorno do Conselho Político, a presidente tem sido direta: “Vocês acreditam que posso conversar sobre política com 30 pessoas numa sala?”
Esse estilo mais reservado está diretamente relacionado à história da presidente. Ela viveu a política numa época em que as conversas eram feitas em células, nas quais poucos tinham conhecimento do todo. Lula, ao contrário, foi forjado no clima de assembleia geral dos sindicatos. Ou seja, é outra lógica. Até nisso, se as células de Dilma falharem, virá o jeitão de assembleia de Lula.
E no PT…
A semana política teve momentos que merecem uma profunda reflexão. O primeiro deles, visível a olho nu, são as manifestações pelo país afora, prova do despreparo da força policial para lidar com protestos numa nação que se desacostumou com essa prática. O outro momento vem dos discursos de Curitiba. Em especial, o do presidente do PT, Rui Falcão, quando fala dos “quatro grandes monopólios ou oligopólios que urge desmontar: o monopólio do dinheiro, controlado pelo capital financeiro; o monopólio da terra, em mãos dos latifundiários que se opõem à reforma agrária; o monopólio do voto, garantido pelo financiamento privado e o poder econômico; e o monopólio da opinião e da informação, dominado pelos barões da mídia”.
A frase de Falcão deixou os próprios petistas meio constrangidos. Os bancos lucraram bastante no governo do presidente Lula e não perderam essa prerrogativa no governo Dilma, apesar da queda na taxa de juros (que agora volta a subir). No caso da terra, a maioria hoje está nas mãos do agronegócio, que sustenta a economia brasileira, a ponto de receber homenagens dentro do Palácio do Planalto há uma semana, quando do lançamento do Plano Safra. Quanto aos votos, 51% se mostram dispostos a ficar com o PT. E a mídia sempre é acusada de todas as mazelas governamentais mesmo. Não é privilégio deste governo. Pelo visto, o discurso raivoso de Falcão está tão desatualizado quanto a visão dos aliados de que Dilma vai abrir a guarda.
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