sábado, novembro 03, 2012
Os postes saíram do armário - GUILHERME FIUZA
REVISTA ÉPOCA
O resultado da eleição em São Paulo confirma: se a economia brasileira não derrapar feio até lá - e nada indica que isso acontecerá -, Dilma Rousseff deverá ser reeleita em 2014. Nesse caso, o Brasil será governado pelo PT por 16 anos, no mínimo. Getúlio Vargas, com ditadura e tudo, só conseguiu ficar 15 anos seguidos. E não tinha Valério, Delúbio e companhia no Palácio. A ditadura Vargas era o Estado Novo. A democracia petista é o Estado Velho - e doente.
Poderia ser pior. Lula e Dilma mantiveram as instituições funcionando (até aqui), não tentaram nenhuma guinada autoritária explícita (só as dissimuladas, como o mensalão), cumpriram contratos e nao cairam na tentação dos calotes, como seus parceiros argentinos. Isso não é pouco. Ou melhor: é pouco, mas é essencial. Pior se o país tivesse caído nas mãos de franco-atiradores como Brizola, Ciro Gomes e outros inspirados por ideólogos da salvação, como Roberto Mangabeira Unger.
Em 2000, o PT discutia se valia a pena embarcar na quarta candidatura presidencial de Lula. O filho do Brasil ainda não tinha nascido. Quem existia era o bastardo, o perdedor, que a cada quatro anos repetia seu disco de reclamações contra tudo e era descartado pelo eleitorado. Lula trabalhara bravamente para desacreditar o Plano 11eal, que seu partido tentou sabotar no Congresso Nacional. Depois de sua terceira derrota como presidenciável, boa parte do PT queria outro candidato em 2002 - o nome do ex-governador Cristovam Buarque era o mais cotado.
Aí o Brasil foi abalroado pela crise da Rússia, que agravou a anterior, no Sudeste Asiático. José Dirceu teve a ideia de aparecer com o projeto Lulinha Paz e Amor. Em lugar do barbudo rancoroso - espécie de João Pedro Stédile urbano -, Lula apareceria como um conciliador, jogando fora suas próprias bandeiras de ruptura.
Foi um sucesso. A eleição foi ganha, e o perdedor ranzinza, que ninguém aguentava mais (nem o próprio PT), virou messias. Com a economia nacional arrumada e o início de um período sem tormentas externas, os brasileiros passaram a acreditar que a vida melhorava por que Lula era pobre e tinha consciência social. O PT ganhou na loteria - e está até hoje administrando o prêmio.
Prêmio que, vale lembrar, é colossal. O governo popular bateu seguidamente seus próprios recordes de arrecadação, com uma carga tributária entre as maiores do mundo. O país gigante deu a Lula e Dilma uma fortuna para administrar, e eles cumpriram sua missão: gastaram pesado com a máquina - que emprega os companheiros e os aliados dos companheiros (até terceiro grau ou onde a vista alcançar). Derramaram as bolsas gratuitas pelo território inteiro, enriqueceram a floresta de convênios picaretas com os ministérios.(como se viu no Esporte, no Turismo e no Trabalho), que servem para a manutenção de uma infinidade de boquinhas com altos dividendos eleitorais. Torraram dinheiro grosso com a propaganda do governo dos coitados.
Esse é o Estado Velho do PT, que o Brasil resolveu eternizar. Um Estado que não precisa se preocupar em planejar nada, porque o país não lhe cobra isso. Infraestrutura? A receita é a mesma: usina-dinossauro de Belo Monte, trem-bala imaginário, e o futuro empurrado com a barriga e o marketing. Não há ninguém trabalhando para modernizar um dos países mais próximo, burocratizados do mundo,ninguém gastando, neurônios com um planejamento tributário decente, ninguém projetando a organização das metrópoles caóticas que dependem do governo federal para os grandes projetos viários,mas que receberão a Copa do Mundo cheias de remendos e disfarces.
O prefeito eleito Fernando Haddad achou engraçado se dizer o segundo poste de Lula (Dilma é o primeiro) e perguntar quem será o próximo. Não há dúvida: haverá um próximo, ou mais de um, para continuar torrando o prêmio lotérico do messias. O crime é tão perfeito que os postes já estão resolvendo sair do armário.
A defesa de Dirceu pediu ao STF a redução de sua pena, considerando o alto "valor social" do réu que combateu a ditadura. Antes de discutir se esse valor social será cotado em reais ou em dólares, seria o caso de perguntar ao ex sequestrado e seus amigos: qual o valor do resgate do Estado sequestrado por eles?
Nova estratégia - RICARDO BOECHAT
REVISTA ISTO É
Com cerca de 800 processos na pauta, o STF acaba de mudar uma norma interna para acelerar o julgamento das ações. Agora, quem acompanhar o parecer do relator não precisará ler o voto nas sessões – sugestão do ministro Marco Aurélio Mello. A produtividade do órgão em 2012 está menor do que a de anos anteriores. No primeiro semestre, o Pleno do STF só se reuniu oito vezes.
Não gostou
O Cerimonial do Planalto mantém ainda silêncio se a presidenta da República, Dilma Rousseff, irá à posse de Joaquim Barbosa na chefia do STF, no dia 22 de novembro. Na abertura do Ano Judiciário, em fevereiro, o vice, Michel Temer, representou o Executivo. A presidenta quer boas relações com os outros poderes. Mas se irritou ao ter o nome citado no relatório do mensalão. Barbosa afirmou que Dilma ficou surpresa com a rapidez com que o Congresso votou a política nacional para o setor elétrico. Ela era ministra de Minas e Energia quando as denúncias do mensalão vieram a público.
Reciclagem
Para orientar o consumidor na hora de jogar o lixo fora e ajudar a indústria da reciclagem no País, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) discute colocar dois símbolos nas embalagens dos produtos: um indicando se a mesma é reaproveitável e outro com a matéria-prima da qual é feita. A iniciativa está em consulta pública no site da associação até 17 de dezembro. ONGs ligadas ao meio ambiente aplaudem a ideia.
Cruzada no Exterior
Famoso por suas cirurgias espirituais, inclusive em Lula, o médium João de Deus, 70 anos, viaja no dia 22 de novembro para a Europa, onde dará palestras e consultas. Sua primeira escala será na Áustria, onde ficará por três dias. De lá, ele irá à Alemanha, país de onde vêm muitos pacientes para se submeter a seu tratamento, na Casa de Dom Inácio, em Abadiânia, Goiás.
Novo líder
O deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP) vai se dedicar mais à política partidária em 2013. No início do ano, deixará o comando da Força Sindical, da qual foi um dos fundadores, nos anos 90. Irá sucedê-lo o metalúrgico Miguel Torres, hoje na vice-presidência.
Fase boa
Prefeito eleito de Salvador, ACM Neto festeja dentro e fora da política. Nas próximas semanas abre na capital baiana uma filial da Bodytech, uma das maiores redes de academia de ginástica do País. O deputado é sócio do negócio junto com o ex-tenista Guga, o técnico Bernardinho e o banco BTG Pactual. Em 2015, a empresa deve lançar ações na bolsa.
Linhas cruzadas
Caminhará em direções opostas o Judiciário a partir da segunda-feira 5. Número 1 do STF e do CNJ, o ministro Carlos Ayres Britto reunirá por dois dias em Maceió os presidentes dos tribunais superiores e estaduais para definir o planejamento estratégico de 2013. A ministra Cármen Lúcia, presidenta do TSE, fez uso de suas prerrogativas e convocou para Brasília, no mesmo período, os dirigentes dos Tribunais Regionais Eleitorais. E não quer ninguém ausente. O convite de Britto foi feito há meses.
Casa equipada
Uma pesquisa da Nielsen acaba de indicar céu azul para a indústria de eletrodomésticos no País. Num universo formado por 43 milhões de domicílios, só 24% tinham o conjunto completo de tevê, geladeira, fogão, microondas e lavadora de roupa. Segundo o coordenador do estudo, Jefferson Silva, há ainda milhões de lares que planejam trocar ou adquirir um bem de consumo durável, dentre os 17 pesquisados nos próximos seis meses.
“Help me, please!”
Um dos mais movimentados do País, o aeroporto de Brasília é internacional só no nome. As trocas dos locais para embarque e desembarque são constantes – e avisadas em português. Resultado: estrangeiros perdidos no terminal e pedindo tradução aos brasileiros, em vários idiomas. Imagine na Copa.
Contra golpes
A partir de novembro, as seguradoras passam a contar com uma ferramenta no auxílio à detecção de fraudes na hora de se fazer um seguro. Trata-se do Registro Nacional de Propostas e Apólices (RNPA Pessoas), uma base de dados sobre apólices contratadas desenvolvido pela Confederação das Seguradoras em parceria com o mercado.
Lá e cá
A Colômbia vai fiscalizar quem bebe e dirige. O Instituto de Metrologia daquele país comprou no Brasil unidades do Material de Referência Certificado (MRC), utilizado para calibrar etilômetros. Graças à Lei Seca, o Inmetro vendeu 500 MRCs este ano. Na Colômbia o limite para concentração de etanol no sangue também será zero.
Segue a vice
Na segunda-feira 5, Eliana Calmon assumirá a vice-presidência temporária do STJ. Nos últimos dias o decano do tribunal, Ari Pargendler, nada disse sobre a decisão da corte especial, que escolheu a ministra para o lugar do seu colega Gilson Dipp, doente. A direção do tribunal diz ter agido em sintonia com o artigo 51 do Regimento Interno. Em direito e na interpretação das normas, tudo é possível.
Só depois
Foram apresentadas 81 emendas ao projeto que cria o Instituto Nacional de Supervisão e Avaliação da Educação Superior, vinculado ao MEC, com 550 cargos públicos e custo anual da ordem de R$ 50 milhões aos cofres públicos. Apesar do afogadilho e pressão do governo para abertura do INSAEs, o Legislativo não discutirá a matéria este ano.
Em forma
Operada em julho para substituir a válvula aórtica, Claudia Jimenez é um exemplo de superação. A atriz de 53 anos já voltou a fazer ginástica com a supervisão de um cardiologista, além de procurar uma peça para encenar no ano que vem. Também está nos planos da artista voltar à tevê em 2013.
Não gostou
O Cerimonial do Planalto mantém ainda silêncio se a presidenta da República, Dilma Rousseff, irá à posse de Joaquim Barbosa na chefia do STF, no dia 22 de novembro. Na abertura do Ano Judiciário, em fevereiro, o vice, Michel Temer, representou o Executivo. A presidenta quer boas relações com os outros poderes. Mas se irritou ao ter o nome citado no relatório do mensalão. Barbosa afirmou que Dilma ficou surpresa com a rapidez com que o Congresso votou a política nacional para o setor elétrico. Ela era ministra de Minas e Energia quando as denúncias do mensalão vieram a público.
Reciclagem
Para orientar o consumidor na hora de jogar o lixo fora e ajudar a indústria da reciclagem no País, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) discute colocar dois símbolos nas embalagens dos produtos: um indicando se a mesma é reaproveitável e outro com a matéria-prima da qual é feita. A iniciativa está em consulta pública no site da associação até 17 de dezembro. ONGs ligadas ao meio ambiente aplaudem a ideia.
Cruzada no Exterior
Famoso por suas cirurgias espirituais, inclusive em Lula, o médium João de Deus, 70 anos, viaja no dia 22 de novembro para a Europa, onde dará palestras e consultas. Sua primeira escala será na Áustria, onde ficará por três dias. De lá, ele irá à Alemanha, país de onde vêm muitos pacientes para se submeter a seu tratamento, na Casa de Dom Inácio, em Abadiânia, Goiás.
Novo líder
O deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP) vai se dedicar mais à política partidária em 2013. No início do ano, deixará o comando da Força Sindical, da qual foi um dos fundadores, nos anos 90. Irá sucedê-lo o metalúrgico Miguel Torres, hoje na vice-presidência.
Fase boa
Prefeito eleito de Salvador, ACM Neto festeja dentro e fora da política. Nas próximas semanas abre na capital baiana uma filial da Bodytech, uma das maiores redes de academia de ginástica do País. O deputado é sócio do negócio junto com o ex-tenista Guga, o técnico Bernardinho e o banco BTG Pactual. Em 2015, a empresa deve lançar ações na bolsa.
Linhas cruzadas
Caminhará em direções opostas o Judiciário a partir da segunda-feira 5. Número 1 do STF e do CNJ, o ministro Carlos Ayres Britto reunirá por dois dias em Maceió os presidentes dos tribunais superiores e estaduais para definir o planejamento estratégico de 2013. A ministra Cármen Lúcia, presidenta do TSE, fez uso de suas prerrogativas e convocou para Brasília, no mesmo período, os dirigentes dos Tribunais Regionais Eleitorais. E não quer ninguém ausente. O convite de Britto foi feito há meses.
Casa equipada
Uma pesquisa da Nielsen acaba de indicar céu azul para a indústria de eletrodomésticos no País. Num universo formado por 43 milhões de domicílios, só 24% tinham o conjunto completo de tevê, geladeira, fogão, microondas e lavadora de roupa. Segundo o coordenador do estudo, Jefferson Silva, há ainda milhões de lares que planejam trocar ou adquirir um bem de consumo durável, dentre os 17 pesquisados nos próximos seis meses.
“Help me, please!”
Um dos mais movimentados do País, o aeroporto de Brasília é internacional só no nome. As trocas dos locais para embarque e desembarque são constantes – e avisadas em português. Resultado: estrangeiros perdidos no terminal e pedindo tradução aos brasileiros, em vários idiomas. Imagine na Copa.
Contra golpes
A partir de novembro, as seguradoras passam a contar com uma ferramenta no auxílio à detecção de fraudes na hora de se fazer um seguro. Trata-se do Registro Nacional de Propostas e Apólices (RNPA Pessoas), uma base de dados sobre apólices contratadas desenvolvido pela Confederação das Seguradoras em parceria com o mercado.
Lá e cá
A Colômbia vai fiscalizar quem bebe e dirige. O Instituto de Metrologia daquele país comprou no Brasil unidades do Material de Referência Certificado (MRC), utilizado para calibrar etilômetros. Graças à Lei Seca, o Inmetro vendeu 500 MRCs este ano. Na Colômbia o limite para concentração de etanol no sangue também será zero.
Segue a vice
Na segunda-feira 5, Eliana Calmon assumirá a vice-presidência temporária do STJ. Nos últimos dias o decano do tribunal, Ari Pargendler, nada disse sobre a decisão da corte especial, que escolheu a ministra para o lugar do seu colega Gilson Dipp, doente. A direção do tribunal diz ter agido em sintonia com o artigo 51 do Regimento Interno. Em direito e na interpretação das normas, tudo é possível.
Só depois
Foram apresentadas 81 emendas ao projeto que cria o Instituto Nacional de Supervisão e Avaliação da Educação Superior, vinculado ao MEC, com 550 cargos públicos e custo anual da ordem de R$ 50 milhões aos cofres públicos. Apesar do afogadilho e pressão do governo para abertura do INSAEs, o Legislativo não discutirá a matéria este ano.
Em forma
Operada em julho para substituir a válvula aórtica, Claudia Jimenez é um exemplo de superação. A atriz de 53 anos já voltou a fazer ginástica com a supervisão de um cardiologista, além de procurar uma peça para encenar no ano que vem. Também está nos planos da artista voltar à tevê em 2013.
O grande vencedor - LEONARDO ATTUCH
REVISTA ISTO É
Ninguém sai tão forte das eleições quanto o prefeito "derrotado" Gilberto Kassab
Terminadas as eleições municipais, é hora de fazer contas e apontar vencedores. O PT foi o partido mais votado e, com a conquista de São Paulo, administrará a maior parte do orçamento municipal (R$ 77,7 bilhões). Venceu, portanto. O PMDB, com mais de mil prefeituras, manteve-se como maior partido brasileiro, honrando sua tradição. O PSB, com as 434 prefeituras que irá administrar, deu um bom salto. E a oposição, formada por PSDB e DEM, comemora sua reinserção no Norte e no Nordeste.
Todos esses fenômenos podem ser classificados como orgânicos, e o melhor exemplo é a evolução do PT a cada eleição, ou pendulares, como a volta do PSDB e do DEM a algumas capitais do Nordeste, com o destaque simbólico que merece a vitória de ACM Neto em Salvador, dado o peso do "carlismo" na tradição baiana. Mas, até aí, são apenas coisas naturais da política.
O que pode ser classificado como espetacular, no entanto, é o desempenho de Gilberto Kassab. Até ontem, ele era um prefeito com alta rejeição em São Paulo. Hoje, é "dono" de um partido com 494 prefeitos (o quarto maior do País), a maior taxa de vitórias nas eleições que disputou (45,5%), uma capital (Florianópolis), algumas "capitais do interior" (como é o caso de Ribeirão Preto), além dos dois governos estaduais (Amazonas e Santa Catarina), e quase 50 deputados federais. Com tudo isso, o PSD terá um gigantesco fundo partidário e também um ministério relevante em Brasília.
Kassab foi tão cordial nas primeiras aparições com Fernando Haddad que há até quem suspeite que ele tenha votado no candidato petista, e não no aliado José Serra. Todos os vereadores do PSD na Câmara Municipal já empenharam seu apoio ao futuro prefeito de São Paulo e Kassab já procura até uma casa em Brasília - ou seja, não esperou nem 72 horas para rezar a missa de sétimo dia de Serra.
Paradoxalmente, o partido de Kassab, que se posiona no chamado "centro responsável", é hoje a maior ameaça tanto ao PT quanto ao PSDB. Ele pode tornar mais suave a articulação do governo Dilma Rousseff no Congresso, reduzindo o espaço de aliados mais desgastados, e também continuar com as portas abertas do "ônibus" para todos os oposicionistas dispostos a aderir à base aliada.
Kassab talvez não tenha sido o melhor prefeito do País nos últimos anos, mas foi, certamente, o melhor político.
Ninguém sai tão forte das eleições quanto o prefeito "derrotado" Gilberto Kassab
Terminadas as eleições municipais, é hora de fazer contas e apontar vencedores. O PT foi o partido mais votado e, com a conquista de São Paulo, administrará a maior parte do orçamento municipal (R$ 77,7 bilhões). Venceu, portanto. O PMDB, com mais de mil prefeituras, manteve-se como maior partido brasileiro, honrando sua tradição. O PSB, com as 434 prefeituras que irá administrar, deu um bom salto. E a oposição, formada por PSDB e DEM, comemora sua reinserção no Norte e no Nordeste.
Todos esses fenômenos podem ser classificados como orgânicos, e o melhor exemplo é a evolução do PT a cada eleição, ou pendulares, como a volta do PSDB e do DEM a algumas capitais do Nordeste, com o destaque simbólico que merece a vitória de ACM Neto em Salvador, dado o peso do "carlismo" na tradição baiana. Mas, até aí, são apenas coisas naturais da política.
O que pode ser classificado como espetacular, no entanto, é o desempenho de Gilberto Kassab. Até ontem, ele era um prefeito com alta rejeição em São Paulo. Hoje, é "dono" de um partido com 494 prefeitos (o quarto maior do País), a maior taxa de vitórias nas eleições que disputou (45,5%), uma capital (Florianópolis), algumas "capitais do interior" (como é o caso de Ribeirão Preto), além dos dois governos estaduais (Amazonas e Santa Catarina), e quase 50 deputados federais. Com tudo isso, o PSD terá um gigantesco fundo partidário e também um ministério relevante em Brasília.
Kassab foi tão cordial nas primeiras aparições com Fernando Haddad que há até quem suspeite que ele tenha votado no candidato petista, e não no aliado José Serra. Todos os vereadores do PSD na Câmara Municipal já empenharam seu apoio ao futuro prefeito de São Paulo e Kassab já procura até uma casa em Brasília - ou seja, não esperou nem 72 horas para rezar a missa de sétimo dia de Serra.
Paradoxalmente, o partido de Kassab, que se posiona no chamado "centro responsável", é hoje a maior ameaça tanto ao PT quanto ao PSDB. Ele pode tornar mais suave a articulação do governo Dilma Rousseff no Congresso, reduzindo o espaço de aliados mais desgastados, e também continuar com as portas abertas do "ônibus" para todos os oposicionistas dispostos a aderir à base aliada.
Kassab talvez não tenha sido o melhor prefeito do País nos últimos anos, mas foi, certamente, o melhor político.
O mensalão e as eleições municipais - ROBERTO DaMATTA
REVISTA ÉPOCA
As eleições municipais, como os campeonatos de futebol, fazem surgir novos personagens e sepultam outros. Como temos 5.568 municípios com milhões de eleitores, há um verdadeiro firmamento de supernovas, velhos cometas que jamais saem do céu e muitos astros que simplesmente se apagam - ou dão a impressão de que desaparecem.
Se tomarmos as duas cidades mais importantes do país, há, no Rio de Janeiro, a emergência do jovem Eduardo Paes (PMDB)., que desenha uma nova liderança. Em São Paulo, venceu Fernando Haddad, do PT, com e por meio de Lula. Isso pode criar um novo padrão eleitoral baseado no voluntarismo pessoal do ex-presidente. Lula escolhe uma pessoa - você ou eu, caro leitor -, nos lança pelo PT (que serve como uma embalagem ou veículo) e, com a ajuda de seu carisma e poder simbólico de falar às massas eleitorais que não assinam nem leem jornais, somos - salvo erro de cálculo - eleitos! Nesse desenho, estaríamos retornando aos tempos do populismo, que falava precisamente o que cada qual queria ouvir, prometendo ganho para todos.
Mas isso não é tudo. Em Belo Horizonte, no Recife e em Porto Alegre tivemos as vitórias de Márcio Lacerda (PSB), Geraldo Júlio (PSB) e José Fortunati (PDT). Que são, além de caras novas, representantes de partidos com um novo protagonismo no cenário nacional. Essas cidades terão nos proximos anos um peso decisivo no cenário político e cultural brasileiro que hoje elimina, graças à comunicação instantânea e globalizada, a velha hierarquia dualística do café com leite predominante na Velha República e incondicional no Rio de Janeiro da Corte e dos tempos em que era a Cidade Maravilhosa e capital da República.
Esses novos atores juntam-se ao retorno de personalidades importantes, mas postas no ostracismo político pelo poder do governo federal e pela vontade de Lula, como o ex-senador Arthur Virgílio, um político de peso e novo prefeito de Manaus. Dirão que cito uma cidade sem importância, mas falo na coletividade que, ao lado de Belém e outras comunidades, será uma peça importante do futuro deste nosso universo planetário, todo ele conectado em rede e totalmente condicionado pelas descobertas e pela humanização ecológica, cujo centro mundial é a Amazônia brasileira. A vitória em Belo Horizonte projeta, além disso, Aécio Neves - isso, claro, se o PSDB não atrapalhar com seu notório ideologismo acadêmico e sua notória ausência de ânimo oposicionista.
Estaríamos no mato sem cachorro ou diante de grandes esperanças? Penso que vivemos um hiato ou uma pausa. Tomo como prova disso os votos em branco que, obviamente, são o grande fantasma eleitoral deste nosso Brasil. Eles exprimem um profundo desgosto pelos candidatos, uma grave decepção com os políticoss Chega - dizem esses não votos - de calhordas que apenas roubam ou desperdiçam recursos públicos! Eles são igualmente o sinal do final das fórmulas ideológicas fáceis com raízes no populismo salvacionista e messiânico de esquerda e direita. Se você soma messianismo e ideologia numa luta contra uma ditadura militar, como fazia o PT quando Lula era um operário com cara colérica, tem uma esperança. Só que carisma vira rotina e oposição corajosa transforma-se em poder estabelecido.
Pois, no poder, o líder oposicionista é devidamente socializado por nossa elite republicana. Que dá, logo de pelos ritos de posse, um palácio, um cartão corporativo com crédito ilimitado, mais de 100 puxa-sacos, entre mordomos e guarda-costas - para não falar nos 22 mil cargos de confiança que ele pode preencher de sua cabeça. Afora, ainda, os ministérios que ele pode aumentar ou diminuir e, por fim, mas medidas provisórias. Isso transforma o raivoso operário num sorridente presidente. Ou faz um raivoso varredor de corruptos virar um projeto de ditador cujas "forças ocultas" inventaram uma renúncia que era um protogolpe, como ocorreu com Jânio Quadros. Ou um dramático e admirável suicídio de honra para redimir a nome do "mar de lama" da corrupção política, como ocorreu com Getúlio Vargas. Algo impensável para quem é, hoje, eleito em nome do povo com a ideologia da caridade, toma vinhos de US$ 500 e tem centenas de gravatas. Para quem montou um mensalão e até hoje tem problemas com um fato que fala alto nesse nosso novo momento: a exigência de clareza e transparência que o governo deve à sociedade - a todos nós que somos o povo (constituído de todo o tipo de gente) - que, afinal, elege, concede e legitima cargos a esses, digamos com candura, candidatos.
Há, penso, sinais claros de uma desilusão com as fórmulas feitas, mesmo porque ninguém mais voltará dos Estados Unidos, da França, da Alemanha, da Inglaterra ou da Rússia com a"última palavra"em termos de receitas. Hoje elas chegam de locais impensáveis como uma China e de umaÁsia incompatíveis com nosso forte eurocentrismo e, mais ainda, com nosso estatismo legalista e paquidérmico, forjado em Coimbra,e com nosso tradicionalsindicalismopetebista,cuja força de zumbi deverá ser estudada com afinco pelos politicólogos. Na ausência de receitas tanto do lado liberal quanto do lado messiânico-stalinista, seremos obrigados - eis aí a enorme novidade - a fazer o que estamos fazendo: resolvendo nossos graves problemas na vivência de nosso dia a dia.
E encontro, aqui, talvez a novidade final. Uma espécie de paisagem em que se desenrola a mudança, sempre humilde como um mendigo. Quero rne referir à tendência pouco percebida de gente interessada em fazer política local, em pensar ou repensar as rotinas de suas comunidades no que elas têm de bom e desastroso, de modo mais prático que ideológico.
Menos que novas propostas no papel, o povo quer gerentes e administradores presentes, eficientes e capazes de resolver ou melhorar suas vidas de trabalho e particularidades. Essas coisas que são como a chuva miúda e não precisam de grandes discursos e demagogos. Necessitam apenas de.trabalho ao lado do povo, e não contra ele. Nisso, o julgamento do mensalão e o papel que nele tem tido o Supremo Tribunal Federal são decisivos. Porque, como as revoluções, ele só será efetivamente sentido com o tempo. O tempo de estabelecer um Brasil igualitário. Um Brasil governado pela lei que vale para todos, mesmo para o partido dominante. Eis, quem sabe, o fim de uma época.
As eleições municipais, como os campeonatos de futebol, fazem surgir novos personagens e sepultam outros. Como temos 5.568 municípios com milhões de eleitores, há um verdadeiro firmamento de supernovas, velhos cometas que jamais saem do céu e muitos astros que simplesmente se apagam - ou dão a impressão de que desaparecem.
Se tomarmos as duas cidades mais importantes do país, há, no Rio de Janeiro, a emergência do jovem Eduardo Paes (PMDB)., que desenha uma nova liderança. Em São Paulo, venceu Fernando Haddad, do PT, com e por meio de Lula. Isso pode criar um novo padrão eleitoral baseado no voluntarismo pessoal do ex-presidente. Lula escolhe uma pessoa - você ou eu, caro leitor -, nos lança pelo PT (que serve como uma embalagem ou veículo) e, com a ajuda de seu carisma e poder simbólico de falar às massas eleitorais que não assinam nem leem jornais, somos - salvo erro de cálculo - eleitos! Nesse desenho, estaríamos retornando aos tempos do populismo, que falava precisamente o que cada qual queria ouvir, prometendo ganho para todos.
Mas isso não é tudo. Em Belo Horizonte, no Recife e em Porto Alegre tivemos as vitórias de Márcio Lacerda (PSB), Geraldo Júlio (PSB) e José Fortunati (PDT). Que são, além de caras novas, representantes de partidos com um novo protagonismo no cenário nacional. Essas cidades terão nos proximos anos um peso decisivo no cenário político e cultural brasileiro que hoje elimina, graças à comunicação instantânea e globalizada, a velha hierarquia dualística do café com leite predominante na Velha República e incondicional no Rio de Janeiro da Corte e dos tempos em que era a Cidade Maravilhosa e capital da República.
Esses novos atores juntam-se ao retorno de personalidades importantes, mas postas no ostracismo político pelo poder do governo federal e pela vontade de Lula, como o ex-senador Arthur Virgílio, um político de peso e novo prefeito de Manaus. Dirão que cito uma cidade sem importância, mas falo na coletividade que, ao lado de Belém e outras comunidades, será uma peça importante do futuro deste nosso universo planetário, todo ele conectado em rede e totalmente condicionado pelas descobertas e pela humanização ecológica, cujo centro mundial é a Amazônia brasileira. A vitória em Belo Horizonte projeta, além disso, Aécio Neves - isso, claro, se o PSDB não atrapalhar com seu notório ideologismo acadêmico e sua notória ausência de ânimo oposicionista.
Estaríamos no mato sem cachorro ou diante de grandes esperanças? Penso que vivemos um hiato ou uma pausa. Tomo como prova disso os votos em branco que, obviamente, são o grande fantasma eleitoral deste nosso Brasil. Eles exprimem um profundo desgosto pelos candidatos, uma grave decepção com os políticoss Chega - dizem esses não votos - de calhordas que apenas roubam ou desperdiçam recursos públicos! Eles são igualmente o sinal do final das fórmulas ideológicas fáceis com raízes no populismo salvacionista e messiânico de esquerda e direita. Se você soma messianismo e ideologia numa luta contra uma ditadura militar, como fazia o PT quando Lula era um operário com cara colérica, tem uma esperança. Só que carisma vira rotina e oposição corajosa transforma-se em poder estabelecido.
Pois, no poder, o líder oposicionista é devidamente socializado por nossa elite republicana. Que dá, logo de pelos ritos de posse, um palácio, um cartão corporativo com crédito ilimitado, mais de 100 puxa-sacos, entre mordomos e guarda-costas - para não falar nos 22 mil cargos de confiança que ele pode preencher de sua cabeça. Afora, ainda, os ministérios que ele pode aumentar ou diminuir e, por fim, mas medidas provisórias. Isso transforma o raivoso operário num sorridente presidente. Ou faz um raivoso varredor de corruptos virar um projeto de ditador cujas "forças ocultas" inventaram uma renúncia que era um protogolpe, como ocorreu com Jânio Quadros. Ou um dramático e admirável suicídio de honra para redimir a nome do "mar de lama" da corrupção política, como ocorreu com Getúlio Vargas. Algo impensável para quem é, hoje, eleito em nome do povo com a ideologia da caridade, toma vinhos de US$ 500 e tem centenas de gravatas. Para quem montou um mensalão e até hoje tem problemas com um fato que fala alto nesse nosso novo momento: a exigência de clareza e transparência que o governo deve à sociedade - a todos nós que somos o povo (constituído de todo o tipo de gente) - que, afinal, elege, concede e legitima cargos a esses, digamos com candura, candidatos.
Há, penso, sinais claros de uma desilusão com as fórmulas feitas, mesmo porque ninguém mais voltará dos Estados Unidos, da França, da Alemanha, da Inglaterra ou da Rússia com a"última palavra"em termos de receitas. Hoje elas chegam de locais impensáveis como uma China e de umaÁsia incompatíveis com nosso forte eurocentrismo e, mais ainda, com nosso estatismo legalista e paquidérmico, forjado em Coimbra,e com nosso tradicionalsindicalismopetebista,cuja força de zumbi deverá ser estudada com afinco pelos politicólogos. Na ausência de receitas tanto do lado liberal quanto do lado messiânico-stalinista, seremos obrigados - eis aí a enorme novidade - a fazer o que estamos fazendo: resolvendo nossos graves problemas na vivência de nosso dia a dia.
E encontro, aqui, talvez a novidade final. Uma espécie de paisagem em que se desenrola a mudança, sempre humilde como um mendigo. Quero rne referir à tendência pouco percebida de gente interessada em fazer política local, em pensar ou repensar as rotinas de suas comunidades no que elas têm de bom e desastroso, de modo mais prático que ideológico.
Menos que novas propostas no papel, o povo quer gerentes e administradores presentes, eficientes e capazes de resolver ou melhorar suas vidas de trabalho e particularidades. Essas coisas que são como a chuva miúda e não precisam de grandes discursos e demagogos. Necessitam apenas de.trabalho ao lado do povo, e não contra ele. Nisso, o julgamento do mensalão e o papel que nele tem tido o Supremo Tribunal Federal são decisivos. Porque, como as revoluções, ele só será efetivamente sentido com o tempo. O tempo de estabelecer um Brasil igualitário. Um Brasil governado pela lei que vale para todos, mesmo para o partido dominante. Eis, quem sabe, o fim de uma época.
Novela dos caças - ANCELMO GOIS
O GLOBO - 03\11
Encontro em Paris
A questão também deve ser tema do encontro entre François e Dilma, em dezembro, em Paris, na volta da viagem da presidente à Rússia.
Aliás...
Dilma, que faz 65 anos dia 14 de dezembro, vai passar o aniversário em Moscou, aonde chega dia 13.
Boletim médico
A cirurgia a que Ney Latorraca, 68 anos, se submeteu não foi tão simples quanto se imaginava. O que parecia ser apenas a extração de cálculos na vesícula demorou sete horas. O querido ator passa bem. Mas não tem previsão de alta da Casa de Saúde São José.
Paciência com Kirchner
É grande a preocupação do governo brasileiro com a Argentina.
Em reuniões com empresários, Dilma tem dito que é necessário ter “paciência” com Cristina Kirchner e não pressioná-la num momento delicado.
Asa branca
Elba Ramalho, além de receber de Dilma a Ordem do Mérito Cultural, segunda agora vai cantar “Asa branca”, de Luiz Gonzaga, ao lado do pianista Miguel Proença.
Inclusive...
No ano do centenário do Rei do Baião impressiona como o filme de Breno Silveira emociona também o público mais jovem e as crianças.
Livro pirata
As editoras estão preocupadas com uma exigência do MEC no último edital de compra de livros didáticos para 2013, sob responsabilidade do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).
É que terão de entregar uma cópia em PDF de cada obra adquirida, para exibição em computador na sala de aula, mas o MEC não se responsabiliza por “eventuais violações imprevistas” — ou seja, pirataria.
Segue...
O mal-estar é grande no setor. As editoras de livros infantis temem se manifestar, pois as compras do MEC têm um peso enorme em sua sobrevivência.
A presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livros, Sônia Jardim, procurada por algumas filiadas, pediu esclarecimentos ao MEC.
Trilogia safadinha
Os dois primeiros livros da trilogia-sensação “Cinquenta tons de cinza” alcançaram a marca de um milhão de livros vendidos no Brasil.
O último livro da trilogia, que chega às livrarias no dia 8 com 600 mil exemplares vendidos, já bateu o recorde de pré-venda.
Só a rede de livrarias Saraiva encomendou 25 mil exemplares.
Novos tempos
O choque de ordem de Eduardo Paes vai subir o morro. A UPP Social e a CET-Rio iniciam segunda, no Morro do Turano, na Tijuca, o projeto Rua+Legal, de organização do trânsito e do estacionamento. Além de 15 placas, folhetos serão espalhados na comunidade com as novas regras.
No primeiro mês, quem parar em lugar proibido será advertido. A partir de 5 de dezembro, começa a fiscalização.
Nó na madeira
Dia 12 agora, quando João Nogueira (1941-2000) faria 71 anos, seus parceiros e amigos mais chegados vão homenageá-lo com samba e caruru, prato que o saudoso artista sempre servia nos seus aniversários.
Será no antigo Imperator, no Méier, no Rio, que hoje leva o nome de João. O samba será comandado, entre outros, por sua irmã Gisa e Moacyr Luz, com convidados como Monarco e Wilson Moreira. A entrada é franca.
Grande Hotel
Um grupo inglês acaba de comprar um prédio no Leme. Fará um hotel.
O outro lado
Em relação às críticas do governador Eduardo Campos sobre as obras da Adutora do Pajeú, a Neoenergia, controladora da Celpe, esclarece que os recursos materiais para as obras da Adutora já estão na região e que estas serão iniciadas com o contrato celebrado quinta com o Dnocs.
A Neoenergia diz que é uma empresa de maioria de capital nacional e que investiu no Brasil R$ 18 bilhões, bem acima do resultado da empresa.
Filme pornô
A 8ª Câmara Cível do Rio condenou um motel chique do interior fluminense a pagar multa de R$ 27.250 por ter hospedado uma adolescente para filmagens de cenas de saliência com adultos.
Inveja - MARCELO RUBENS PAIVA
O ESTADÃO - 03\11
Você não fica devastado quando vê alguém feliz, que diz que gosta de si mesmo, não se arrepende de nada, entende o mundo e o sentido da vida, não fica desgraçadamente arrasado quando escuta que alguém é casado com a namorada da faculdade e é suuuuper feliz, foi fiel durante décadas, tem a vida sexual como as de alguns personagens mitológicos, que chegou a ter um caso no vigésimo ano de casado, mas foi perdoado e amado como nunca, você não entra em pânico quando descobre que um amigo comprou móveis na baixa que hoje valem 20 vezes mais, ações na baixa que vendeu antes da crise dos derivativos, que aplicou numa empresa chamada Apple quando ainda se usavam máquinas de escrever, que herdou uma fattoria à beira do mar na ponta da Bota, de um tio italiano gay que foi o único a ficar na terrinha, não emigrar e que não teve filhos, em que se colhem trufas brancas, que milagrosamente nascem ali, e produz um vinho premiado por toda a Europa, não se choca quando sabe que alguém foi promovido e passou a ganhar benefícios como cartão corporativo, plano de saúde com helicóptero, carro do ano, secretária e sala com vista, ou que tem gente que não precisa estudar para passar de ano porque basta prestar atenção, ou que tem facilidade com línguas e fala entre outras russo correntemente, entrou no vestibular sem cursinho, dorme como uma pedra, nunca toma remédios na vida nem nunca fica doente, tem colesterol, glicemia, pressão e batimentos cardíacos abaixo dos alertas, vai ao banheiro duas vezes ao dia, não engorda, nem se jantasse pizza com borda recheada todas as noites, pois tem um bom metabolismo, fuma eventualmente um cigarro a cada dois meses e nunca extrapola esse cálculo, não tem cálculos renais, nem na vesícula, gordura no fígado, artroses, bursites, tendinites, joga tênis com a galera mais jovem do clube, porque sempre ganha dos tiozinhos da sua idade, tem um cachorro que não late para visitas, nem tem pulgas, mas ataca todos os gatunos que se aventuraram por seu bairro, que a casa em que mora nunca foi assaltada, a única da rua que nunca foi, que não tem rugas, cabelos brancos, cera de ouvido, caspa, calos, pele oleosa, unhas encravadas, joelhos tortos, pé chato, pernas em xis, joanete, flatulência, hérnia de disco, herpes, mau hálito, incontinência, enxerga sem óculos - nada de miopia, estrabismo ou estigmatismo -, lê bulas de remédio, menus de restaurantes praianos especialistas em luaus iluminados por tochas, partidas e chegadas de aviões, placas nas estradas, comprou casualmente quadros de pintores brasileiros iniciantes que hoje estão expostos alguns na Tate e outros no MoMA, costuma ser convidado para dar palestras motivacionais no Caribe, Ilhas Fiji, Bali, Ilhas Maurício, Córsega, que comprou um apezinho no Marrais quando o euro não valia nada, entrou de sócio numa fábrica coreana de carros e numa fazenda de produtos orgânicos, leu Ulisses na escola, Proust no original, quando terminou o curso de francês e se envolveu com seu caso extraconjugal parisiense, toda obra de Balzac, A Divina Comédia, exemplar raríssimo que encontrou empoeirado na sede da fattoria que herdou aparentemente autografado pelo autor, Os Irmãos Karamazov, para praticar o russo, quando entrou de sócio de uma petrolífera com um ex-agente da KGB, que hoje tem um time de futebol no Reino Unido e partes de uma equipe de Fórmula 1, que se tornou seu melhor amigo e é credenciado pela Fifa e Uefa a frequentar estádios da Copa do Mundo e da Liga de Campeões da Europa, na tribuna dos dirigentes máximos da entidade, e sempre sobra convites, você não fica absurdamente destroçado quando tem alguém com bom senso para não entrar em brigas de trânsito, que dá passagem, que jamais para em vagas de idosos e deficientes, que acena para ajudar apressados na ultrapassagem, que não se importa quando o motorista de trás aciona a buzina assim que o farol de trânsito muda do vermelho para o verde, que nunca foi multado - e nas três vezes em que foi parado na blitz do bafômetro tinha bebido suco de tomate, porque tivera um mau pressentimento -, que não se estressa quando vê alguém furando a fila do cinema e simplesmente indica outro caixa livre, que salga a pipoca como se cálcio em excesso fizesse bem para a circulação, que tolera frutose, glicose e glúten, não tira a fatia de gordura da picanha, que não se importa com a turma de garotos que erraram de filme e, num denso drama argentino, comenta a baladinha da noite anterior e marca o ponto de encontro da baladinha posterior, moços e moças que chacoalham sacos de pipocas para misturar o sal como se estivessem na ala de chocalhos da bateria de uma escola de samba do primeiro grupo, que não colocam celulares no silencioso e que, ultimamente, você neurótico reparou, as telas touchscreen dos celulares e tablets estão mais luminosas, porque nós, estressados, não aguentamos filme fora de foco, ar-condicionado glacial em salas de cinema e teatro, atores que cospem uns nos outros enquanto representam, muito menos o barulho de um saquinho de delicado ou jujuba aberto, mas fica arruinado quando encontra alguém que saiba configurar computadores em diferentes sistemas operacionais, até aquele gratuito, que entende tudo de formulário da Receita Federal e está em dia com ela, com o Estado e a prefeitura, com o condomínio e o da casa de praia, que consegue tuitar e responder a e-mails ao mesmo tempo, tem Face Book, Instagram, G+, Linkedin, What’s Up, as últimas versões dos aplicativos essenciais atualizados, você não inveja absolutamente aquele que não tem cáries, canais, implantes, dentes amarelados, que nunca ouviram que seria melhor consultar um ortodontista, ou que escutaram "quando casar passa", e passou? Relaxa.
A boa notícia, e que nos dá um enorme consolo, é que essa pessoa não existe. E a baixa filosofia ensina: se existisse, não teria a sensação inigualável e prazerosa de aprender com os erros.
Como dizem os invejosos, errar é humano, e a perfeição não existe.
Internet gera crise - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 03\11
Dilma quer barrar toma lá dá cá
A reforma ministerial virou assunto proibido no Planalto. A presidente Dilma não quer incentivar conversas sobre esse assunto para não se tornar refém do Congresso nos próximos dois meses. Quatro projetos complexos serão votados na Câmara e no Senado — as duas MPs do setor elétrico, royalties e fator previdenciário —, e Dilma teme que, na falta de apoio, comece a pressão de deputados e senadores sobre ela e o vice Michel Temer pela troca de cargos por votos. Interlocutores do Planalto estão encarregados de avisar aos líderes da base aliada que, neste governo, primeiro se cobra a fatura e só depois se pensa em eventuais agrados.
“A manutenção da cota de emendas parlamentares representa a participação do Congresso no esforço pela responsabilidade fiscal”
Romero Jucá
Senador (PMDB-RR) e relator do Orçamento
Aliança com PSD exclui Suplicy
O prefeito de São Paulo e presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, articula com a direção do PT concorrer a vice-governador ou ao Senado, numa aliança que excluiria o senador Eduardo Suplicy (SP) da chapa de 2014.
PMDB x PMDB
O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) deverá
enfrentar um companheiro de partido na eleição pela presidência do Senado. O grupo dos “independentes”, liderado por PSOL e PDT, quer lançar a candidatura do senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) para não deixar Renan vencer por WO. A oposição tem poucos votos, mas quer barulho.
RSVP
A presidente Dilma oferecerá um jantar segunda-feira, no Alvorada, para os homenageados com a medalha Mérito Cultural 2012. Entre os convidados estão Silvio Santos, Marieta Severo, Regina Casé e Aguinaldo Silva.
2014 sem ilusões
O Planalto não tem ilusões sobre alguns partidos que integram a base aliada. Interlocutores da presidente Dilma avaliam que, se o governador Eduardo Campos (PSB-PE) concorrer a presidente em 2014, levará o apoio do PTB e do PDT. Dilma contará com PMDB e PCdoB, enquanto PP, PR e PSD deverão ficar soltos por causa dos acordos regionais.
Os mais pedidos
O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), vai colocar em votação os projetos mais pedidos pelo 0800 da Casa: o fator previdenciário e o fim da contribuição previdenciária aos aposentados do setor público. Ambos sem aval do governo.
Apoio psicológico
Um aluno do programa Ciência Sem Fronteiras morreu há alguns dias durante curso na Alemanha. A presidente Dilma entrou em contato com a família, e o Itamaraty providenciou auxílio psicológico a todos os colegas.
NO DEM, dois deputados disputam a vaga de líder que será deixada por ACM Neto: Ronaldo Caiado (GO) e Pauderney Avelino (AM).
DILMA: ‘ESSA DILMA AI NAO SOU EU!’ - JORGE BASTOS MORENO
O GLOBO - 03\11
A presidente Dilma — esclarece fonte autorizada —nunca cogitou
ausentar-se da posse de Joaquim Barbosa na presidência do STF no próximo dia 22.
Em nenhum momento, diz a fonte, a hipótese sequer circundou o Palácio do Planalto, por dois motivos óbvios. Primeiro, trata-se de um rito de Estado. E ponto.
Como se não bastasse, alega a fonte, não faz parte do estilo da Dilma.
Aliás, Dilma tem um estilo muito peculiar no trato com as especulações. Não se deixa
contaminar por elas, alimentando desmentidos. Simplesmente as ignora, solenemente. O máximo a que se permite é, quando se vê falando ou agindo na mídia, na boca de terceiros, fazer algum comentário jocoso, do tipo “Essa Dilma aí não sou eu”.
A especulação de que a presidente não iria à posse foi disseminada por alguns petistas graúdos, para os quais, o fato de o STF estar julgando o mensalão representa motivos mais do que suficientes para o governo entrar de greve contra a nação.
Motivo
Evidentemente que, onde há fumaça, há fogo. A especulação foi alimentada pelo fato de a posse de Joaquim quase coincidir com a viagem que a presidente faz à Espanha entre os dias 16 e 19 próximos.
Pedido
Dilma, amiga, faça uma caridade: tire o Mercadante da Educação o mais rápido possível. Não que ele não tenha estatura para o cargo.
Muito pelo contrário. É o cargo que não tem estatura para Mercadante.
Nem o movimentado Enem está lhe tirando o tédio.
Rejeição
Em vez de trocar, Manuela D’Ávila devolveu, antes do 1º turno, a aliança a Rodrigo Marrone, com quem pretendia se casar em janeiro.
Desempenho igual, só o do PT, na mesma eleição.
Joana D’Arc
Com a autoridade de primeiro crítico, tomo agora a defesa do secretário sobrevivente Sérgio CÓrtes.
É que o radicalismo político acabou tirando a razão dos seus críticos.
É irrefutável o argumento de que Cortes não deveria ter usado ambulância pública para conduzi-lo a hospital particular.
É inquestionável também o exagero do aparato móvel e humano que o socorreu.
Mas daí a oposição querer que ele tivesse permanecido impassível diante das
labaredas que queimavam seu apartamento já é um pouquinho de exagero.
Acusá-lo de ter tossido enquanto engolia fumaças, tudo bem.
Faz parte da política.
Só fama!
Lindbergh acha que voto biométrico em 2014 pode favorecer Pezão. Bobagem, Lindinho! Ali, só o pé.
Cidade bonita
Conversei com prefeito eleito de Pelotas, o tucano Eduardo Leite, de 27 anos, sucesso na internet por ter sido fotografado sem camisa.
Falamos de tudo. Pinço algumas respostas:
— Eu, bonito? Bonito é o trabalho que pretendo fazer.
— Estou solteiro. Perdi as namoradas durante as campanhas. É difícil encontrar pessoas dispostas a compartilhar vida mais pública que privada.
— Mudar imagem de Pelotas? É um folclore da época em que pais mandavam filhos estudarem na Europa, e esses vinham mais refinados. Combater esse folclore, por si só, já é homofobia.
— Minhas relações institucionais com os governos estadual e federal serão boas, além do fato de o PT ser um dos cinco partidos do governo que me apoiaram.
— Aécio, que esteve duas vezes aqui na campanha, é candidato natural do PSDB à Presidência da República.
Na moral, Bial!
Poucas vezes, como repórter, deparei-me com um jovem tão determinado. E, no final, ainda levei esta:
— Sei que o senhor tenta fazer um jornalismo com humor. Acho bom. Sem humor, a vida não tem graça. Só é ruim quando a pessoa não é suficientemente inteligente para distinguir humor de deboche!
Inteligência
Kassab disse a um amigo de um amigo meu que o PSD só aceita ministério se for como consequência natural do projeto de reeleição da Dilma que implica estar afinado com o governo inclusive nas eleições dos comandos do Congresso.
No Congresso
PT e oposição querem melar eleições das Mesas.
ausentar-se da posse de Joaquim Barbosa na presidência do STF no próximo dia 22.
Em nenhum momento, diz a fonte, a hipótese sequer circundou o Palácio do Planalto, por dois motivos óbvios. Primeiro, trata-se de um rito de Estado. E ponto.
Como se não bastasse, alega a fonte, não faz parte do estilo da Dilma.
Aliás, Dilma tem um estilo muito peculiar no trato com as especulações. Não se deixa
contaminar por elas, alimentando desmentidos. Simplesmente as ignora, solenemente. O máximo a que se permite é, quando se vê falando ou agindo na mídia, na boca de terceiros, fazer algum comentário jocoso, do tipo “Essa Dilma aí não sou eu”.
A especulação de que a presidente não iria à posse foi disseminada por alguns petistas graúdos, para os quais, o fato de o STF estar julgando o mensalão representa motivos mais do que suficientes para o governo entrar de greve contra a nação.
Motivo
Evidentemente que, onde há fumaça, há fogo. A especulação foi alimentada pelo fato de a posse de Joaquim quase coincidir com a viagem que a presidente faz à Espanha entre os dias 16 e 19 próximos.
Pedido
Dilma, amiga, faça uma caridade: tire o Mercadante da Educação o mais rápido possível. Não que ele não tenha estatura para o cargo.
Muito pelo contrário. É o cargo que não tem estatura para Mercadante.
Nem o movimentado Enem está lhe tirando o tédio.
Rejeição
Em vez de trocar, Manuela D’Ávila devolveu, antes do 1º turno, a aliança a Rodrigo Marrone, com quem pretendia se casar em janeiro.
Desempenho igual, só o do PT, na mesma eleição.
Joana D’Arc
Com a autoridade de primeiro crítico, tomo agora a defesa do secretário sobrevivente Sérgio CÓrtes.
É que o radicalismo político acabou tirando a razão dos seus críticos.
É irrefutável o argumento de que Cortes não deveria ter usado ambulância pública para conduzi-lo a hospital particular.
É inquestionável também o exagero do aparato móvel e humano que o socorreu.
Mas daí a oposição querer que ele tivesse permanecido impassível diante das
labaredas que queimavam seu apartamento já é um pouquinho de exagero.
Acusá-lo de ter tossido enquanto engolia fumaças, tudo bem.
Faz parte da política.
Só fama!
Lindbergh acha que voto biométrico em 2014 pode favorecer Pezão. Bobagem, Lindinho! Ali, só o pé.
Cidade bonita
Conversei com prefeito eleito de Pelotas, o tucano Eduardo Leite, de 27 anos, sucesso na internet por ter sido fotografado sem camisa.
Falamos de tudo. Pinço algumas respostas:
— Eu, bonito? Bonito é o trabalho que pretendo fazer.
— Estou solteiro. Perdi as namoradas durante as campanhas. É difícil encontrar pessoas dispostas a compartilhar vida mais pública que privada.
— Mudar imagem de Pelotas? É um folclore da época em que pais mandavam filhos estudarem na Europa, e esses vinham mais refinados. Combater esse folclore, por si só, já é homofobia.
— Minhas relações institucionais com os governos estadual e federal serão boas, além do fato de o PT ser um dos cinco partidos do governo que me apoiaram.
— Aécio, que esteve duas vezes aqui na campanha, é candidato natural do PSDB à Presidência da República.
Na moral, Bial!
Poucas vezes, como repórter, deparei-me com um jovem tão determinado. E, no final, ainda levei esta:
— Sei que o senhor tenta fazer um jornalismo com humor. Acho bom. Sem humor, a vida não tem graça. Só é ruim quando a pessoa não é suficientemente inteligente para distinguir humor de deboche!
Inteligência
Kassab disse a um amigo de um amigo meu que o PSD só aceita ministério se for como consequência natural do projeto de reeleição da Dilma que implica estar afinado com o governo inclusive nas eleições dos comandos do Congresso.
No Congresso
PT e oposição querem melar eleições das Mesas.
Autor da bula - RUY CASTRO
FOLHA DE SP - 03\11
RIO DE JANEIRO - Quando me pedem um breve currículo profissional, alinhavo alguns dados básicos e acrescento que nunca fiz outra coisa senão escrever -que, de enciclopédias a biscoitinhos da sorte, já escrevi em todos os gêneros, estilos, formatos, veículos e tamanhos. E, para resumir, informo que, a rigor, só me falta escrever bulas de remédio.
É verdade. De 1967 para cá, fui repórter, redator, editor, diretor, colunista ou colaborador de jornais do RJ e de SP e de uma infinidade de revistas semanais, mensais, trimestrais e de periodicidades exóticas, quase todas lindas, modernas, sofisticadas e extintas. Nesses veículos, cobri de bailes de Carnaval a revoluções, fiz entrevistas e perfis, e escrevi reportagens, críticas, textos de humor, consultório sentimental e horóscopo -os dois últimos, com covardes pseudônimos.
Em outras épocas, escrevi disquinhos infantis, programas de rádio e TV, shows de "stand-up", encartes de CDs e DVDs e trabalhei até em publicidade -fui o pior redator que já passou por uma agência. E, ah, sim, nos intervalos dos livros que me dediquei a publicar, os amigos me obrigam a cometer os prefácios, orelhas e quartas capas de seus próprios livros. Enfim, já escrevi de tudo, menos bulas de remédios. Mas isso agora é passado.
Há meses, meu querido dentista mostrou-me um texto manuscrito sobre uma novidade que iria implantar no consultório: uma espécie de lente de contato dental, capaz de produzir belos sorrisos sem broca ou anestesia. Pediu-me que desse uma lida. Por vício profissional, fiz isso de Bic na mão, cortando palavras, trocando outras e ajeitando o ritmo e a pontuação. Devolvi-lhe o papel. Ele disse: "Bom!".
Ao abrir uma revista outro dia, lá estava o anúncio -na verdade, uma bula das lentes- com o meu texto. Pronto. Mais uma virgindade perdida.
RIO DE JANEIRO - Quando me pedem um breve currículo profissional, alinhavo alguns dados básicos e acrescento que nunca fiz outra coisa senão escrever -que, de enciclopédias a biscoitinhos da sorte, já escrevi em todos os gêneros, estilos, formatos, veículos e tamanhos. E, para resumir, informo que, a rigor, só me falta escrever bulas de remédio.
É verdade. De 1967 para cá, fui repórter, redator, editor, diretor, colunista ou colaborador de jornais do RJ e de SP e de uma infinidade de revistas semanais, mensais, trimestrais e de periodicidades exóticas, quase todas lindas, modernas, sofisticadas e extintas. Nesses veículos, cobri de bailes de Carnaval a revoluções, fiz entrevistas e perfis, e escrevi reportagens, críticas, textos de humor, consultório sentimental e horóscopo -os dois últimos, com covardes pseudônimos.
Em outras épocas, escrevi disquinhos infantis, programas de rádio e TV, shows de "stand-up", encartes de CDs e DVDs e trabalhei até em publicidade -fui o pior redator que já passou por uma agência. E, ah, sim, nos intervalos dos livros que me dediquei a publicar, os amigos me obrigam a cometer os prefácios, orelhas e quartas capas de seus próprios livros. Enfim, já escrevi de tudo, menos bulas de remédios. Mas isso agora é passado.
Há meses, meu querido dentista mostrou-me um texto manuscrito sobre uma novidade que iria implantar no consultório: uma espécie de lente de contato dental, capaz de produzir belos sorrisos sem broca ou anestesia. Pediu-me que desse uma lida. Por vício profissional, fiz isso de Bic na mão, cortando palavras, trocando outras e ajeitando o ritmo e a pontuação. Devolvi-lhe o papel. Ele disse: "Bom!".
Ao abrir uma revista outro dia, lá estava o anúncio -na verdade, uma bula das lentes- com o meu texto. Pronto. Mais uma virgindade perdida.
Aquele jantar fatídico - SÉRGIO AUGUSTO
O ESTADÃO - 03\11
Paris, 1925. Gil Pender embarra num jantar com William Faulkner e encanta-se com uma observação do escritor sobre a onipresença do passado. Pender é aquele delirante roteirista de cinema que na comédia de Woody Allen, Meia-Noite em Paris, viaja no tempo até a Paris dos anos 1920. Faulkner não fazia parte da turma de Hemingway nem aparece no filme, mas como passou alguns meses na capital francesa justamente no ano em que Fitzgerald lá se estabeleceu, não soa absurdo que Pender (Owen Wilson) o tenha ouvido dizer de viva voz a frase que usaria como argumento para justificar seu obsessivo interesse pela Geração Perdida: "O passado não está morto; na verdade, nem sequer passou".
Allen a extraiu de uma obra menor do escritor, Requiem for a Nun (aqui, Réquiem Para uma Negra), editada em 1951. Ou melhor, adaptou-a. Em sua forma original, o passado "nunca morre" (is never dead), está sempre a nos cobrar coisas, é "algo como uma promissória". O alter ego de Allen, portanto, emprestou-lhe outro sentido. Até por ser sutil, a diferença não configura falta grave.
Inclusive por tê-la tirado de seu contexto, o cineasta irritou a sociedade que administra os direitos autorais do escritor, a Faulkner Literary Rights, que há oito dias abriu um processo no Mississippi contra a Sony Pictures Classics, distribuidora do filme, e dezenas de exibidores, acusando-os de haver infligido os direitos do autor, apropriando-se de sua obra sem pedir autorização. No filme, o protagonista cita Faulkner nominalmente e não lhe sonega a autoria da frase. Poderia tê-la atribuído a um escritor anônimo, livrando-se de uma eventual acusação de plágio, já que Faulkner, afinal de contas, escreveu algo que não corresponde ao conceito captado pelo passadista Pendel, naquele fatídico jantar, mas, honestamente, não o fez.
Frívolo, mal-intencionado e estapafúrdio, o processo contra Meia-Noite em Paris desrespeita o direito à citação, a licença poética, e é passível de um revertério, com a Sony e os demais imputados movendo uma ação indenizatória contra os representantes dos herdeiros, que deles exigem reparação em dinheiro, um bom quinhão dos US$ 116 milhões que o filme faturou até agora.
Por que os advogados da família Faulkner (hoje reduzida a três netos e uma sobrinha) demoraram 17 meses para entrar com o processo? Presumo que ficaram esperando o comportamento do filme nas bilheterias, e que se Meia-Noite em Paris não tivesse feito tanto sucesso, aceitariam de bom grado a homenagem ao escritor, como fizeram quando Barack Obama, em 2008, citou a mesma frase num discurso sobre o racismo na América.
Até porque foi homem de cinema, roteirista em Hollywood quando não estava inteiramente de porre, Faulkner morreria de vergonha do que os advogados de seus herdeiros aprontaram com a Sony. Recentemente eles levaram aos tribunais a empreiteira Northrop Grumann, por "apropriação comercial" de outra frase do escritor, num anúncio de página inteira publicado no Washington Post, também incluído na ação judicial. É preciso ser muito obtuso para nivelar os interesses comerciais de uma empreiteira com os interesses artísticos de um diretor de cinema.
Quem dirige a Faulkner Literary Rights é um produtor de filmes sem pedigree chamado Lee Caplin, há tempos envolvido numa adaptação para a tela de Enquanto Agonizo (As I Lay Dying). Deveria entender melhor a diferença entre citação e apropriação indébita. Allen faz muitas citações em seus filmes; se obrigado a pedir autorização para cada uma delas, suas produções andariam a passo de cágado e em alguns casos se inviabilizariam. A menos que só citasse autores em domínio público, como, por exemplo, Shakespeare, de quem Faulkner, aliás, chupou sem problemas o título de O Som e a Fúria.
Encerrada essa patética disputa forense, Allen bem que poderia nos brindar com uma sátira à cupidez dos que vivem da gigolagem de direitos autorais, de direitos de imagem, quase sempre faturando muito mais com a obra do defunto do que este quando a produzia. No mundo artístico, herdeiro virou sinônimo de parasita, de sanguessuga. É praga universal, que pelo menos um ensaio em forma de livro já inspirou - Familles, Je Vous Hais!, Les Héritiers d’Auteurs (Famílias, Eu Vos Odeio!, Os Herdeiros de Autores) -, escrito por um especialista em propriedade intelectual, Emmanuel Pierrat.
Já que herdeiro virou profissão, o bibliófilo José Mindlin sugeriu que os familiares de escritores se identificassem como tal no cartão de visitas. O grau de parentesco é irrelevante. Viúvas, filhos, netos, sobrinhos, todos querem mamar; e costumam brigar mais entre si que os Karamazov. No afã de preservar e explorar seus copyrights ao máximo, acabam prejudicando o protegido e a difusão de sua obra. Entre nós, virou um bicho de sete cabeças reeditar os livros de Guimarães Rosa, Monteiro Lobato, Nelson Rodrigues, Oswald de Andrade, Graciliano Ramos, Manuel Bandeira, Cecília Meireles, ou montar um simples catálogo sobre a obra de Volpi e Di Cavalcanti.
Há quem diga que as viúvas são ainda mais gananciosas que os filhos. E quanto maior a diferença de idade entre elas e os falecidos, maior a cobiça. A reedição da obra completa de Borges pela Pléiade recebeu marcação cerrada de Maria Kodama. A viúva do espanhol Camilo José Cela, morto há dez anos, passou a perna na primeira mulher e no filho do escritor, e embolsou tudo. A segunda mulher do espanhol Rafael Alberti conseguiu alijar a filha do poeta, Aitana Alberti, do espólio familiar. A viúva de Stieg Larsson é uma exceção. Foi passada para trás pelo sogro e pelo cunhado, os únicos a se beneficiar do sucesso póstumo do escritor sueco.
Torniquete na CPI - EDITORIAL FOLHA DE SP
FOLHA DE SP - 03\11
Comissão parlamentar do caso Cachoeira encerrará trabalhos sem aprofundar investigações sobre teia de gastos da construtora Delta
Alguns congressistas bem que tentaram, mas restaram infrutíferos os esforços para colocar a CPI do caso Cachoeira num caminho capaz de impedir que as investigações dessem em nada.
Em minoria na Casa, partidos da oposição não conseguiram, em reunião nesta semana, prorrogar por seis meses a CPI. Prevaleceu a vontade da base governista, comandada por PT e PMDB, de manter os trabalhos por mais 45 dias apenas, nos quais nada se fará, salvo finalizar o relatório final.
Novos pedidos de informação ou convocações ficam fora da pauta. PT e PMDB, assim, não precisarão mais, como vinham fazendo, barrar requerimentos que buscam avançar as investigações.
A manobra visa dar cabo de uma CPI que, embora tenha nascido com o propósito de fustigar a oposição e criar uma cortina de fumaça às vésperas do julgamento do mensalão, deu sinais de que poderia incomodar o próprio governo federal e alguns de seus aliados.
Na maquinação petista -inspirada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva-, o inquérito se restringiria a apurar as ligações de oposicionistas com Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, preso há meses sob acusação de explorar jogo ilegal. Os alvos prioritários eram Demóstenes Torres, ex-senador pelo DEM, e o tucano Marconi Perillo, governador de Goiás.
Logo se viu, porém, que a rede de influência de Cachoeira era mais ampla. Escutas telefônicas feitas pela Polícia Federal mostraram que um dos personagens centrais era a empreiteira Delta -atulhada de contratos com o governo federal- e que o esquema não fazia distinção entre partidos.
De acordo com a PF, Carlinhos Cachoeira é sócio oculto da Delta. Nesse cenário, uma investigação séria atingiria também o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), e o do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB).
Por assim dizer ecumênica, a CPI estava destinada a sofrer uma "operação abafa". A inapetência parlamentar interrompeu os trabalhos por mais de um mês, e uma peça importante como a Delta nem teve suas contas abertas; até a oposição parecia pouco convicta da urgência de escrutiná-las.
O relatório final da CPI do Cachoeira só deverá ser conhecido no próximo dia 20. O documento dificilmente incomodará algum congressista, mas certamente acrescentará nova mácula à já desgastada reputação do Poder Legislativo.
Comissão parlamentar do caso Cachoeira encerrará trabalhos sem aprofundar investigações sobre teia de gastos da construtora Delta
Alguns congressistas bem que tentaram, mas restaram infrutíferos os esforços para colocar a CPI do caso Cachoeira num caminho capaz de impedir que as investigações dessem em nada.
Em minoria na Casa, partidos da oposição não conseguiram, em reunião nesta semana, prorrogar por seis meses a CPI. Prevaleceu a vontade da base governista, comandada por PT e PMDB, de manter os trabalhos por mais 45 dias apenas, nos quais nada se fará, salvo finalizar o relatório final.
Novos pedidos de informação ou convocações ficam fora da pauta. PT e PMDB, assim, não precisarão mais, como vinham fazendo, barrar requerimentos que buscam avançar as investigações.
A manobra visa dar cabo de uma CPI que, embora tenha nascido com o propósito de fustigar a oposição e criar uma cortina de fumaça às vésperas do julgamento do mensalão, deu sinais de que poderia incomodar o próprio governo federal e alguns de seus aliados.
Na maquinação petista -inspirada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva-, o inquérito se restringiria a apurar as ligações de oposicionistas com Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, preso há meses sob acusação de explorar jogo ilegal. Os alvos prioritários eram Demóstenes Torres, ex-senador pelo DEM, e o tucano Marconi Perillo, governador de Goiás.
Logo se viu, porém, que a rede de influência de Cachoeira era mais ampla. Escutas telefônicas feitas pela Polícia Federal mostraram que um dos personagens centrais era a empreiteira Delta -atulhada de contratos com o governo federal- e que o esquema não fazia distinção entre partidos.
De acordo com a PF, Carlinhos Cachoeira é sócio oculto da Delta. Nesse cenário, uma investigação séria atingiria também o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), e o do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB).
Por assim dizer ecumênica, a CPI estava destinada a sofrer uma "operação abafa". A inapetência parlamentar interrompeu os trabalhos por mais de um mês, e uma peça importante como a Delta nem teve suas contas abertas; até a oposição parecia pouco convicta da urgência de escrutiná-las.
O relatório final da CPI do Cachoeira só deverá ser conhecido no próximo dia 20. O documento dificilmente incomodará algum congressista, mas certamente acrescentará nova mácula à já desgastada reputação do Poder Legislativo.
De Sandy a Deus - WALTER CENEVIVA
FOLHA DE SP - 03\11
Algo me diz que a aproximação de Brasil, África do Sul e Austrália será boa para os três países
SE HOUVESSE um supremo tribunal interplanetário para julgar a culpa pelos efeitos dramáticos do furacão Sandy, gerados pelos habitantes da Terra contra a natureza, talvez a decisão fosse condenatória. As mortes e a destruição decorrentes do Sandy justificariam uma pergunta hoje de uso comum: como ficaria a dosimetria? Quem foi, e em que grau, responsável pelo mau uso da superfície, do ar e das entranhas do planeta no hemisfério norte?
O limite da pergunta se explica. Nós, do hemisfério sul, começamos a intervir na vida dos continentes há menos de 600 anos. Os do norte assinalaram sua presença há uns 12.000 anos -boa parte do hemisfério sul era desconhecida pelo menos até o século 16.
Esses 600 anos marcaram a ocupação de todo planeta. Mesmo assim, só no século 20 surgiram muitas das duas centenas de nações novas, com independência ao menos formal. Desapareceram colônias de países europeus e asiáticos nos cinco continentes.
O avanço dos conquistadores eurasiáticos nessa área marcou a história da Terra. O remanescente apenas alcançou o nível de vida civilizada, segundo os padrões ocidentais, quando conquistadores europeus se instalaram no México e nos Estados Unidos e igualmente com a verificação da terra que se sabia existir na latitude atingida por Pedro Álvares Cabral.
Percebo a pergunta do leitor: por qual a razão uma coluna jurídica precisa dar tantas referências geográficas? Simples: a Constituição brasileira enuncia princípios que, favorecendo relações internacionais, preservam, no art. 4º, a independência nacional; garantem regras de autodeterminação dos povos e de não intervenção. O mesmo resulta do art. 21, I (relações com outros Estados e organizações internacionais), colocando sob o presidente da República a condução do relacionamento externo.
O aprofundamento do exame impõe o conhecimento das áreas envolvidas. Existem três países de grande extensão territorial ao sul do Equador -Austrália, África do Sul e Brasil- com expressão bem marcada no cenário internacional. Os 50 milhões de sul-africanos ocupam 1,2 milhões de quilômetros quadrados, muito menos que os 7,7 milhões da amplitude australiana, mas de população rarefeita e modesta, na casa dos 21 milhões. Ambos menores que o Brasil nos dois quesitos, pois somos 192 milhões espalhados em 8,3 milhões de quilômetros quadrados, com milhares de cidades.
Dois outros pontos diferenciam os três países: hoje se pode dizer que o território brasileiro está inteiramente ocupado. Não a Austrália, nem tanto por ser o país mais plano do mundo, mas pelos seus quatro grandes desertos. A África do Sul ainda vive consequências da política da separação entre brancos a negros, até a segunda metade do século 20.
Dentre os três, se for o caso de composição uniforme dos interesses multinacionais, nosso país tem presença marcante, o que não obsta a associação dos três para percorrer caminho mais adequado para o futuro comum. A composição dos instrumentos legais para viabilizar a aproximação tem a vantagem de facilitar o acesso marítimo, pelo Oceano Atlântico e pelo Indico, só no hemisfério sul. Algo me diz que, de Sandy a Deus, a aproximação do sul será boa para os três na linha reta do trópico de Capricórnio.
Algo me diz que a aproximação de Brasil, África do Sul e Austrália será boa para os três países
SE HOUVESSE um supremo tribunal interplanetário para julgar a culpa pelos efeitos dramáticos do furacão Sandy, gerados pelos habitantes da Terra contra a natureza, talvez a decisão fosse condenatória. As mortes e a destruição decorrentes do Sandy justificariam uma pergunta hoje de uso comum: como ficaria a dosimetria? Quem foi, e em que grau, responsável pelo mau uso da superfície, do ar e das entranhas do planeta no hemisfério norte?
O limite da pergunta se explica. Nós, do hemisfério sul, começamos a intervir na vida dos continentes há menos de 600 anos. Os do norte assinalaram sua presença há uns 12.000 anos -boa parte do hemisfério sul era desconhecida pelo menos até o século 16.
Esses 600 anos marcaram a ocupação de todo planeta. Mesmo assim, só no século 20 surgiram muitas das duas centenas de nações novas, com independência ao menos formal. Desapareceram colônias de países europeus e asiáticos nos cinco continentes.
O avanço dos conquistadores eurasiáticos nessa área marcou a história da Terra. O remanescente apenas alcançou o nível de vida civilizada, segundo os padrões ocidentais, quando conquistadores europeus se instalaram no México e nos Estados Unidos e igualmente com a verificação da terra que se sabia existir na latitude atingida por Pedro Álvares Cabral.
Percebo a pergunta do leitor: por qual a razão uma coluna jurídica precisa dar tantas referências geográficas? Simples: a Constituição brasileira enuncia princípios que, favorecendo relações internacionais, preservam, no art. 4º, a independência nacional; garantem regras de autodeterminação dos povos e de não intervenção. O mesmo resulta do art. 21, I (relações com outros Estados e organizações internacionais), colocando sob o presidente da República a condução do relacionamento externo.
O aprofundamento do exame impõe o conhecimento das áreas envolvidas. Existem três países de grande extensão territorial ao sul do Equador -Austrália, África do Sul e Brasil- com expressão bem marcada no cenário internacional. Os 50 milhões de sul-africanos ocupam 1,2 milhões de quilômetros quadrados, muito menos que os 7,7 milhões da amplitude australiana, mas de população rarefeita e modesta, na casa dos 21 milhões. Ambos menores que o Brasil nos dois quesitos, pois somos 192 milhões espalhados em 8,3 milhões de quilômetros quadrados, com milhares de cidades.
Dois outros pontos diferenciam os três países: hoje se pode dizer que o território brasileiro está inteiramente ocupado. Não a Austrália, nem tanto por ser o país mais plano do mundo, mas pelos seus quatro grandes desertos. A África do Sul ainda vive consequências da política da separação entre brancos a negros, até a segunda metade do século 20.
Dentre os três, se for o caso de composição uniforme dos interesses multinacionais, nosso país tem presença marcante, o que não obsta a associação dos três para percorrer caminho mais adequado para o futuro comum. A composição dos instrumentos legais para viabilizar a aproximação tem a vantagem de facilitar o acesso marítimo, pelo Oceano Atlântico e pelo Indico, só no hemisfério sul. Algo me diz que, de Sandy a Deus, a aproximação do sul será boa para os três na linha reta do trópico de Capricórnio.
ARMA DE COMBATE - MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 03\11
Sara Winter, 20, líder do grupo de feministas Femen, que protestam de topless contra exploração sexual, posou para a revista "RG" de novembro. "O seio como uma arma de combate, como um nu político, assusta", diz.
AS ÁGUAS DE OUTUBRO
Depois de um agosto seco, com 0,3 mm de água de chuva, contra 46 mm no mesmo mês do ano passado, e nenhum raio, a umidade volta a SP. O índice pluviométrico da cidade em outubro foi de 128 mm (contra 149 mm do mesmo período em 2011). Do céu caíram 600 raios.
RÉGUA
A medição de raios é feita pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). O volume de chuvas é registrado pelo Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia).
ESTILO MARTA
Imagens de Luiz Gonzaga vão ser projetadas no Congresso Nacional na segunda-feira, 5, Dia Nacional da Cultura. A ministra Marta Suplicy combinou a instalação com a presidência do Senado. É que o rei do baião será homenageado, em seu centenário, na entrega da OMC (Ordem do Mérito Cultural), no mesmo dia, no Palácio do Planalto, em Brasília.
ESTILO MARTA 2
A presidente Dilma Rousseff receberá os agraciados e convidados da OMC com tapete vermelho no Planalto, num caminho ornamentado por flores de cactos. Dois atores vestidos de Lampião e Maria Bonita vão recitar trechos do cordel "Luiz Lua Alegria", de Paulo Matricó.
BRASEIRO
José de Abreu e Elisa Lucinda serão os apresentadores. A música "Asa Branca", de Luiz Gonzaga, será interpretada pelo pianista Miguel Proença.
Com voz dos cantores Elba Ramalho, Alceu Valença e Daniel Gonzaga.
É PARA JÁ
O PV (Partido Verde) de SP deve se juntar mesmo ao bloco de PSD e PSB na Câmara dos Vereadores.
Com cerca de 15 parlamentares eleitos, vão dar apoio ao novo prefeito, Fernando Haddad (PT-SP). Com as bênçãos do antecessor, Gilberto Kassab (PSD-SP).
JAZZ NA FRENTE
O clube Jazz nos Fundos abrirá uma segunda unidade em SP. Será no centro, no local onde era o Bar B, na rua General Jardim.
A nova casa se chamará Jazz B. A inauguração estava prevista para novembro, mas foi adiada e o lugar só passa a funcionar no próximo ano. Um restaurante servirá comida mediterrânea.
BARULHO DO CÃO
Seis cachorros, vindos de canis públicos, serão treinados por 18 detentas do presídio de São Miguel Paulista. A iniciativa faz parte do piloto do projeto em que presidiárias viram adestradoras de cães-guias para deficientes auditivos. A proposta, aprovado pelo governo Geraldo Alckmin por sugestão do deputado Fernando Capez (PSDB), vai chegar depois a Tremembé e Butantã.
DESERTO DA ARTE
O estilista Dudu Bertholini e a artista plástica Ana Prata foram à abertura da mostra "Deserto-Modelo", de Lucas Arruda, na quarta. Também foram à galeria Mendes Wood, nos Jardins, o estudante Lucas Cimino, o ilustrador e artista Fábio Gurjão e o arquiteto Eduardo Chalabi e a fotógrafa Liu Lage.
É O FIM DA MODA
Reinaldo Lourenço fez na Faap o desfile que fechou a SPFW, dirigida por Paulo Borges. Alexandre Herchcovitch e Fernanda de Goeye foram prestigiar o colega de ofício. Pedro Lourenço, que desfila em Paris, viu a apresentação do pai na manhã da quinta.
CURTO-CIRCUITO
A peça "Colapsos Mentais e o Declínio dos Sistemas de Produção de Sentido" será exibida hoje, às 23h30, no festival Satyrianas. 18 anos.
Hélio Flanders e Cida Moreira fazem show do disco "Harvest", de Neil Young, no projeto 72 Rotações, hoje, às 21h, no Sesc Santana. 12 anos.
Tulipa Ruiz se apresenta amanhã, às 16h, na praça Victor Civita, em Pinheiros. Gratuito.
A Lindt lança nova coleção no dia 6, às 11h, no Lounge One do shopping Iguatemi.
Começa na segunda e vai até dia 18 a Semana Ticket Cultura e Esporte, com atividades gratuitas no Masp, Memorial da América Latina, Conjunto Nacional, Auditório Ibirapuera, praça Victor Civita e em 26 CEUs.
O governo inibe a nossa competitividade - PAULO PAIVA
O Estado de S.Paulo - 03\11
O conjunto de instituições, políticas e fatores que determinam a produtividade de uma economia, segundo o World Economic Forum, é o índice de competitividade, que esta organização publica regularmente para 144 países. Sua última edição relativa ao biênio 2012-2013 mostra que o Brasil subiu 10 posições na escala nos últimos anos, e figura agora entre as 50 mais competitivas economias do mundo. Todavia, ainda muito distante do invejável 6.º lugar no ranking que considera o tamanho da economia. Há, ainda, muito que avançar para reduzir o hiato nas duas escalas.
Examinando os dados, observa-se que os ganhos do Brasil são, principalmente, derivados do desempenho do setor privado (comunidade econômica sofisticada, extenso mercado que oferece ganhos de escala e facilidade de financiamento) e do ambiente macroeconômico (estabilidade monetária).
O que impede a competitividade são, sobretudo, os fatores relacionados à participação do governo - exceto a política macroeconômica -, como a ineficiência do governo derivada de elevada e mal distribuída carga tributária, dos desperdícios nos gastos públicos e do excesso de regulação, que pode ser exemplificada pelo longo tempo para abrir uma empresa. Somam-se ainda os gargalos de infraestrutura de logística e a baixa qualidade da educação. Por que o governo é um obstáculo à competitividade da economia? Essa questão merece ampla discussão e não tem resposta simples. Aponto, a seguir, alguns aspectos relativos à gestão pública que contribuem para a ineficiência do governo emperrando os ganhos de competitividade.
O modelo de gestão pública carrega uma cultura de burocratismo cujas origens vêm da tradição portuguesa e do Estado Novo. O serviço público no Brasil, em geral, está preparado para "não deixar fazer", quer para defender o Estado de sua privatização, quer para proteger a própria burocracia.
A organização política também não contribui para a eficiência da gestão. Dada a combinação de alto grau de regulação com as atribuições quase parlamentaristas do Congresso pós-Constituição de 1988 e com um sistema pluripartidário amplo, os custos de negociação entre Executivo e Legislativo são muito excessivos. Desnecessário mencionar a origem do mensalão. Em consequência, reformas, até as mais simples, são demoradas e dependem de complexas e custosas negociações. O calendário eleitoral ainda impõe agenda política aos governantes que prioriza resultados no curto prazo, desprezando temas cujos efeitos só virão mais tarde. Há uma dissintonia entre o timing político e o timing de uma agenda de reformas visando ao aumento da competitividade.
Por fim e por causa do tempo político, não há estratégia visando a resolver as principais questões que impedem avançar a competitividade. As reformas microeconômicas estão fora da agenda. Quem ainda fala em "custo Brasil"?
Não quero dizer que o governo atual não tenha uma agenda para a competitividade. Ao contrário, pode-se relacionar o controle do câmbio, a expansão do crédito subsidiado do BNDES, as isenções tributárias e as elevações de alíquotas para impedir importações como medidas visando a aumentar a competitividade. Esse conjunto de ações é a volta ao passado, ao período de industrialização via substituição de importações, modelo que procura estimular o crescimento da economia no curto prazo, mas inadequado para enfrentar as questões cruciais que impõem elevados obstáculos à competitividade no século 21.
Gastos correntes crescendo mais que o PIB, ganhos reais de salário no governo acima da variação da produtividade da economia, alta carga tributária e corrupção generalizada são barreiras que têm de ser urgentemente superadas. Ademais, é necessário melhorar a gestão dos serviços de infraestrutura.
O Brasil carece de uma estratégia de gestão pública que tenha como um de seus pilares o aumento da competitividade de sua economia. Corre-se o risco de usar o protecionismo para encobrir a ineficiência do governo. De que vale ser grande, se não for eficiente?
O plano contra Marina Silva - LEONARDO CAVALCANTI
CORREIO BRAZILIENSE - 03\11
Os 19,6 milhões de votos recebidos pela candidata do PV assombraram assessores palacianos. Afinal, a marca era inimaginável no início da campanha de 2010. A displicência petista, entre outros fatores, levou a eleição presidencial ao segundo turno, atrapalhando os planos de Dilma e oferecendo algum fôlego para José Serra. O erro involuntário, admitido tempos depois pelos integrantes da campanha de Lula, deu a Marina o primeiro lugar aqui, no Distrito Federal, por exemplo. E mais: a transformou positivamente ao fim da campanha.
Tirando o fato da atração do discurso da candidata nos eleitores mais jovens e o cansaço de parte do eleitorado com a guerra entre o PT e o PSDB, aliados próximos a Lula acreditam hoje que, na época, seria possível inviabilizar a candidatura de Marina com o oferecimento de cargos aos caciques do PV. Por mais absurda aos olhos do público, a prática é corriqueira. Vide os exemplos recentes com as idas de Marcelo Crivella (PRB) e Marta Suplicy (PT) aos ministérios da Pesca e da Cultura, respectivamente, para ajudar Fernando Haddad em São Paulo. Se Lula e o governo — e até a oposição — não se prepararam para Marina há dois anos, agora inventaram uma armadilha para limar maiores pretensões da ex-senadora.
Um projeto elaborado e com tramitação recorde no Congresso praticamente acaba com a possibilidade de criação de um novo partido, o que deixaria Marina distante de 2014. O texto, que recebeu o apoio e as assinaturas de todos os líderes partidários, começou a tramitar em 19 de setembro e deve chegar ao plenário da Câmara em 29 de novembro. Uma atenção poucas vezes vistas entre os congressistas, capazes de atrasar a aprovação de propostas urgentes, como a que propõe o fim dos 14º e 15º salários dos parlamentares, que, assim, teimam em atacar o bolso do contribuinte — uma das maiores trambicagens da política brasileira. Mas voltemos à Marina.
Pretensões
Marina largou o PV em julho do ano passado depois de divergências sérias com os integrantes do partido. Desde então percorre o país fazendo palestras com um mantra pouco convincente sobre a formação de um grupo ambientalista suprapartidário. E nega a todo momento qualquer tentativa de criar a curtíssimo prazo um partido. Os principais interlocutores da ex-senadora, entretanto, garantem que será inevitável Marina tentar formar uma nova legenda para manter os seguidores ou mesmo se aproveitar do capital político conquistado em 2012. O fato é que, com o Projeto de Lei 4.470/2012 aprovado pelo Congresso e sancionado pelo Executivo, Marina perde antes mesmo de jogar.
A proposta pretende impedir que os parlamentares que migrem para partidos novos levem junto as verbas do fundo partidário e o tempo da propaganda partidária em rádio e tevê. Adeus candidatura da ex-ministra do Meio Ambiente. Por mais que o projeto possa a ter a intenção inicial de vetar ações de políticos aventureiros e aproveitadores, como ocorreu na criação do PSD de Gilberto Kassab, a proposta tira da campanha uma personagem que qualifica o debate presidencial com temas caros à sociedade.
Goste-se ou não da salada discursória de Marina, ela, caso não dispute, deverá fazer falta. Com as urnas abertas na semana passada, as listas de apostas dos políticos para 2014 incluíram governistas e líderes da oposição, mas deixaram de fora uma candidata que obteve mais de 19% dos votos válidos em 2010. A armadilha foi montada, por mais que Marina ainda possa se aproveitar da força de seguidores nas redes sociais. A dificuldade é que nada garante a manutenção ou mesmo o aumento do capital político conquistado quatro anos antes. Os cânticos das torcidas adversárias já podem ser ouvidos nos corredores do Congresso Nacional, onde tramita, tal qual um raio, o PL nº 4.470/2012.
Ueba! Chegou a UPP Delivery! - JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 03\11
E aquelas minhas amigas sapatas fizeram a festa de todo ano de Halloween: Rala-o-Hímen! Rarará!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto de NY! Tava demorando: "Fundamentalistas evangélicos culpam os gays pelo furacão Sandy". Mentira! Os gays preferem a Preta Gil! Rarará! E gay gosta de frescura, não de furacão!
E esta: "Neymar diz que foi intimidado por juiz e desabafa: 'Me mandou ficar em pé!'". Ficar em pé pro Neymar é prisão perpétua! Rarará! E Finados é o Palmeiras!
E um amigo estava passando o feriadão em Santiago do Chile quando recebeu o cartão: "Alberto Machuca Pinto, Citytour"! Além de machucar, ele leva o teu pinto pra passear em Valparaíso e Viña del Mar!
E um outro amigo está passando o feriadão na casa da sogra e saboreou três tipos de comida: congelada, enlatada e queimada! Rarará!
E atenção! Cuidado! Todos para o abrigo! São Paulo under attack! O PCC tá bombando! Paraisópolis vira Infernópolis! Vão mandar UPP pra São Paulo! UPP DELIVERY! Guerra de Siglas: UPP X PCC em SP!
E o PCC decreta até toque de recolher! PCC quer dizer Pode Circular em Casa! Os bandidos pertencem ao PCC: Primeiro Comando da Capital. O Alckmin pertence ao SCC: Segundo Comando da Capital. E o chefe da Bagurança Pública pertence ao TCC: Terceiro Comando da Capital.
E UPP em novela é União das Periguetes Perigosas! E UPP pro Cabral é União das Partidas pra Paris. E UPP pro Lula é: União do Partido dos Postes. União Pacificadora da Pinga! Eu tenho a foto duma faixa: "1@ UPP da Baixada! União Pacificadora da Pinga! Jurubeba, Genebra, Pitu e 51!".
E como diz um amigo: "Quando eles vêm aqui em casa tirar a minha sogra e instalar uma UPP?". UPP a Domicílio! UPP Delivery! E aqui em casa PCC quer dizer Pum Com Cheiro. Um atentado após o outro!
E, quando você entra no banco com um celular, a porta toda apita. Quando você entra no presídio com um celular, a galera toda grita! E esta: "Adriano pede folga até terça porque precisa pensar na vida". Eu também preciso! Rarará! É mole? É mole, mas sobe!
E mesmo em finados os gays fizeram uma festa chamada A Ressaca dos Mortos. Ou seja, gay não deixa de festejar nem morta!
E aquelas minhas amigas sapatas fizeram a festa de todo ano de Halloween: Rala-o-Hímen! Rarará! Ou seja, elas não deixam de ralar nem mortas! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza! Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
E aquelas minhas amigas sapatas fizeram a festa de todo ano de Halloween: Rala-o-Hímen! Rarará!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto de NY! Tava demorando: "Fundamentalistas evangélicos culpam os gays pelo furacão Sandy". Mentira! Os gays preferem a Preta Gil! Rarará! E gay gosta de frescura, não de furacão!
E esta: "Neymar diz que foi intimidado por juiz e desabafa: 'Me mandou ficar em pé!'". Ficar em pé pro Neymar é prisão perpétua! Rarará! E Finados é o Palmeiras!
E um amigo estava passando o feriadão em Santiago do Chile quando recebeu o cartão: "Alberto Machuca Pinto, Citytour"! Além de machucar, ele leva o teu pinto pra passear em Valparaíso e Viña del Mar!
E um outro amigo está passando o feriadão na casa da sogra e saboreou três tipos de comida: congelada, enlatada e queimada! Rarará!
E atenção! Cuidado! Todos para o abrigo! São Paulo under attack! O PCC tá bombando! Paraisópolis vira Infernópolis! Vão mandar UPP pra São Paulo! UPP DELIVERY! Guerra de Siglas: UPP X PCC em SP!
E o PCC decreta até toque de recolher! PCC quer dizer Pode Circular em Casa! Os bandidos pertencem ao PCC: Primeiro Comando da Capital. O Alckmin pertence ao SCC: Segundo Comando da Capital. E o chefe da Bagurança Pública pertence ao TCC: Terceiro Comando da Capital.
E UPP em novela é União das Periguetes Perigosas! E UPP pro Cabral é União das Partidas pra Paris. E UPP pro Lula é: União do Partido dos Postes. União Pacificadora da Pinga! Eu tenho a foto duma faixa: "1@ UPP da Baixada! União Pacificadora da Pinga! Jurubeba, Genebra, Pitu e 51!".
E como diz um amigo: "Quando eles vêm aqui em casa tirar a minha sogra e instalar uma UPP?". UPP a Domicílio! UPP Delivery! E aqui em casa PCC quer dizer Pum Com Cheiro. Um atentado após o outro!
E, quando você entra no banco com um celular, a porta toda apita. Quando você entra no presídio com um celular, a galera toda grita! E esta: "Adriano pede folga até terça porque precisa pensar na vida". Eu também preciso! Rarará! É mole? É mole, mas sobe!
E mesmo em finados os gays fizeram uma festa chamada A Ressaca dos Mortos. Ou seja, gay não deixa de festejar nem morta!
E aquelas minhas amigas sapatas fizeram a festa de todo ano de Halloween: Rala-o-Hímen! Rarará! Ou seja, elas não deixam de ralar nem mortas! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza! Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
Deus salve o Mercadante! - TUTTY VASQUES
O Estado de S.Paulo - 03\11
Aloizio Mercadante não sentia nada igual desde a juventude: ansiedade, insônia, dor de barriga, agitação, tudo igualzinho àqueles dias da véspera de seu vestibular para a Faculdade de Economia da USP. A diferença é que, na idade dele, isso pesa!
Não sei se serve de consolo a quem se preparou o ano inteiro para o Enem deste fim de semana, mas não há ninguém tão nervoso e preocupado com o exame do que o ministro da Educação!
Se algo der errado na prova em seu primeiro ano no cargo - coisa que, convenhamos, já é uma tradição no sistema de avaliação do ensino médio no Brasil -, ele sairá do teste amanhã vaiado por quase 6 milhões de estudantes para tomar bomba nas manchetes dos jornais de segunda-feira.
O que lhe resta de unha para roer foi preservada pelos raros momentos em que o ministro considera pra valer - e por que não? - a possibilidade de tudo funcionar como na Finlândia, o que daria a seu bigode a mesma projeção da barriga do Ronaldo Fenômeno no Fantástico deste domingo!
Os candidatos, neste caso - sem querer aqui com isso aumentar o nervosismo de ninguém -, não teriam desculpa para não fazer bem a parte deles! Relaxa aí, garotão!
Fogo cruzado
Algumas das batalhas na guerra entre mocinhos e bandidos em São Paulo têm características de briga de quadrilhas.
Nada a ver
"O Palhaço" que Dilma Rousseff vai ver na próxima quinta-feira não é este que você está pensando. A presidente assistirá ao filme de Selton Mello no Palácio da Alvorada.
"Pega ladrão!"
O brasileiro é engraçado: está literalmente roubado, em todos os sentidos, mas só reclama quando isso prejudica seu time! O cara paga preços exorbitantes, impostos abusivos, juros escorchantes, é assaltado na esquina, enganado pelos corruptos, mas só grita quando juiz apita - ou não apita, né?
Muito azar!
Os nova-iorquinos que marcaram férias para novembro e já estavam com viagem para Veneza marcada muito antes do anúncio do furação Sandy passeavam ontem na Praça de São Marcos com água pelos joelhos. A boa notícia é que não ventava!
Departamento médico
Confirmado: Joaquim Barbosa voltará a atuar antes de Adriano!
Rehab
Não importa que tipo de droga pesada estaria usando o maluco que invadiu a casa de Amy Winehouse para roubar o vestido de noiva que a cantora usou no casamento com Blake Fielder-Civil, o cara precisa de ajuda!
Trauma de infância
Quem viu Reynaldo Gianecchini fazendo papel de bêbado no capítulo de quinta-feira da novela Guerra dos Sexos ficou com a impressão de que Marília Gabriela o proibia de beber na juventude! Depois que o casamento acabou, o ator decerto já tinha perdido a vontade! Daí a falta de jeito pra coisa!
Não sei se serve de consolo a quem se preparou o ano inteiro para o Enem deste fim de semana, mas não há ninguém tão nervoso e preocupado com o exame do que o ministro da Educação!
Se algo der errado na prova em seu primeiro ano no cargo - coisa que, convenhamos, já é uma tradição no sistema de avaliação do ensino médio no Brasil -, ele sairá do teste amanhã vaiado por quase 6 milhões de estudantes para tomar bomba nas manchetes dos jornais de segunda-feira.
O que lhe resta de unha para roer foi preservada pelos raros momentos em que o ministro considera pra valer - e por que não? - a possibilidade de tudo funcionar como na Finlândia, o que daria a seu bigode a mesma projeção da barriga do Ronaldo Fenômeno no Fantástico deste domingo!
Os candidatos, neste caso - sem querer aqui com isso aumentar o nervosismo de ninguém -, não teriam desculpa para não fazer bem a parte deles! Relaxa aí, garotão!
Fogo cruzado
Algumas das batalhas na guerra entre mocinhos e bandidos em São Paulo têm características de briga de quadrilhas.
Nada a ver
"O Palhaço" que Dilma Rousseff vai ver na próxima quinta-feira não é este que você está pensando. A presidente assistirá ao filme de Selton Mello no Palácio da Alvorada.
"Pega ladrão!"
O brasileiro é engraçado: está literalmente roubado, em todos os sentidos, mas só reclama quando isso prejudica seu time! O cara paga preços exorbitantes, impostos abusivos, juros escorchantes, é assaltado na esquina, enganado pelos corruptos, mas só grita quando juiz apita - ou não apita, né?
Muito azar!
Os nova-iorquinos que marcaram férias para novembro e já estavam com viagem para Veneza marcada muito antes do anúncio do furação Sandy passeavam ontem na Praça de São Marcos com água pelos joelhos. A boa notícia é que não ventava!
Departamento médico
Confirmado: Joaquim Barbosa voltará a atuar antes de Adriano!
Rehab
Não importa que tipo de droga pesada estaria usando o maluco que invadiu a casa de Amy Winehouse para roubar o vestido de noiva que a cantora usou no casamento com Blake Fielder-Civil, o cara precisa de ajuda!
Trauma de infância
Quem viu Reynaldo Gianecchini fazendo papel de bêbado no capítulo de quinta-feira da novela Guerra dos Sexos ficou com a impressão de que Marília Gabriela o proibia de beber na juventude! Depois que o casamento acabou, o ator decerto já tinha perdido a vontade! Daí a falta de jeito pra coisa!
O dilema do prisioneiro - HÉLIO SCHWARTSMAN
FOLHA DE SP - 03\11
SÃO PAULO - Leitores ficaram bravos com a Folha por causa do editorial em que ela defendia que os mensaleiros não fossem para a cadeia, já que seus crimes não envolveram violência física. Acompanho a posição do jornal, mas admito que a questão é espinhosa. Tratamos aqui de um dos mais complicados problemas filosóficos da atualidade.
Por que prendemos alguém? De uma perspectiva racional, há dois objetivos. A reclusão tira o criminoso de circulação, impedindo-o de voltar a delinquir, e serve de exemplo para que outros não o imitem. O problema é que, na maioria dos casos, podemos obter o mesmo efeito sem recorrer à prisão. Banir o sujeito do mercado evita que ele volte a cometer fraudes financeiras, e multas milionárias são um bom freio a imitadores.
Essa hipotética solução, porém, não satisfaz à maioria. Aqui saímos do terreno da racionalidade para adentrar no reino das intuições morais. Em nossas mentes, o facínora que comete o delito intencionalmente merece um castigo especial.
A dificuldade é que ainda não conhecemos suficientemente bem o cérebro para definir o que leva alguém a perpetrar um crime, mas já sabemos o bastante para dizer que a noção de intencionalidade com a qual nosso senso comum opera está errada. Uma série de experimentos neurocientíficos nos deixa perto de concluir que o livre-arbítrio é uma ilusão. Se aceitamos essa tese, a pena reservada ao sujeito que assassina a mulher não deveria ser diferente da do que a mata acidentalmente, e contra isso nossas mentes se revoltam.
O paradoxo é inevitável. Um direito que ignore as intuições de seus jurisdicionados seria um fracasso, mas tampouco podemos abandonar a missão civilizacional de reduzir o sofrimento evitável. Resta lapidar o paradigma, tornando cada vez mais raras as penas privativas de liberdade, que não se distinguem muito da vingança, mas num ritmo que não destrua a credibilidade da Justiça.
SÃO PAULO - Leitores ficaram bravos com a Folha por causa do editorial em que ela defendia que os mensaleiros não fossem para a cadeia, já que seus crimes não envolveram violência física. Acompanho a posição do jornal, mas admito que a questão é espinhosa. Tratamos aqui de um dos mais complicados problemas filosóficos da atualidade.
Por que prendemos alguém? De uma perspectiva racional, há dois objetivos. A reclusão tira o criminoso de circulação, impedindo-o de voltar a delinquir, e serve de exemplo para que outros não o imitem. O problema é que, na maioria dos casos, podemos obter o mesmo efeito sem recorrer à prisão. Banir o sujeito do mercado evita que ele volte a cometer fraudes financeiras, e multas milionárias são um bom freio a imitadores.
Essa hipotética solução, porém, não satisfaz à maioria. Aqui saímos do terreno da racionalidade para adentrar no reino das intuições morais. Em nossas mentes, o facínora que comete o delito intencionalmente merece um castigo especial.
A dificuldade é que ainda não conhecemos suficientemente bem o cérebro para definir o que leva alguém a perpetrar um crime, mas já sabemos o bastante para dizer que a noção de intencionalidade com a qual nosso senso comum opera está errada. Uma série de experimentos neurocientíficos nos deixa perto de concluir que o livre-arbítrio é uma ilusão. Se aceitamos essa tese, a pena reservada ao sujeito que assassina a mulher não deveria ser diferente da do que a mata acidentalmente, e contra isso nossas mentes se revoltam.
O paradoxo é inevitável. Um direito que ignore as intuições de seus jurisdicionados seria um fracasso, mas tampouco podemos abandonar a missão civilizacional de reduzir o sofrimento evitável. Resta lapidar o paradigma, tornando cada vez mais raras as penas privativas de liberdade, que não se distinguem muito da vingança, mas num ritmo que não destrua a credibilidade da Justiça.
Fiasco de CPI - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 03\11
A CPI do Cachoeira nasceu de estratégia equivocada do ex-presidente Lula e de José Dirceu, na tentativa de, se não impedir, ao menos tumultuar o julgamento do mensalão no STF. Já que o adiamento para as calendas gregas não foi obtido com o assédio pessoal de Lula a ministros, dos quais o mais vistosamente frustrado foi a Gilmar Mendes, que denunciou a tentativa de chantageá-lo, partiram os petistas para montar uma CPI que colocaria a oposição contra a parede.
Os alvos principais eram os oposicionistas de maneira geral, o governador de Goiás, Marconi Perillo, em particular, o procuradorgeral da República, pelo atrevimento das acusações contra o PT, e a imprensa livre, representada pela revista “Veja”.
O rolo compressor governista, no entanto, não foi suficiente para fazer da CPI uma cortina de fumaça para o julgamento do mensalão, e políticos independentes impediram que a estratégia petista desse certo. Ao contrário, o feitiço voltou-se contra o feiticeiro, e o surgimento da empreiteira Delta com seus vínculos com o bicheiro Carlinhos Cachoeira colocou o governismo numa sinuca de bico. Frustradas todas as investidas contra seus inimigos, viram- se os petistas na perspectiva de ser a CPI usada contra seus parceiros caso a investigação sobre o empreiteiro Fernando Cavendish fosse adiante. A CPI virou palco de uma batalha, fora do controle, até que oposição e situação viram que era melhor exterminá-la sem dar tempo para novos embates.
O GLOBO fez um levantamento nos 533 requerimentos que não serão votados e constatou uma “troca de chumbo” entre governistas e oposicionistas que poderia atingir a todos. A oposição propôs uma prorrogação da CPI por seis meses, mas a situação aprovou apenas até o fim do ano, mesmo assim sem nenhuma nova investigação.
Para o deputado Miro Teixeira, um dos líderes da ala independente, os dois lados queriam mesmo esse desfecho, só que alguns posam para a plateia defendendo maiores investigações, mas internamente trabalham pelo fim da CPI. Seria a “bancada do cancã”, que distrai o público com suas danças, na mordaz definição do parlamentar do Rio.
Tem razão Miro quando diz que de nada valeria dar sobrevida à CPI se não fosse para quebrar os sigilos de empresas-fantasmas do esquema de Cachoeira que receberam dinheiro da Delta. Mas essa quebra não interessava a governistas de vários matizes.
Peculiaridade da trama criminosa do bicheiro Cachoeira é que ela é pluripartidária, perfeitamente adaptada aos tempos pragmáticos de coalizões amplíssimas e sem nenhum nexo programático entre tais partidos abrigados pelo generoso guarda-chuva governista.
Cachoeira ia além e unia governistas e oposicionistas, sem distinção. O ex-senador Demóstenes Torres, expulso do DEM, e o governador Marconi Perillo, do PSDB de Goiás, que deve ser indiciado pela CPI, são exemplos goianos desse multipartidarismo. Assim como o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, representa o petismo e, se não for também indiciado, será devido à maioria esmagadora do governo na CPI.
O fato é que a construtora Delta tinha ramificações em todos os estados e por todos os partidos, sendo a mais notória ligação com o governador do Rio, Sérgio Cabral, do PMDB, que teve todo o apoio do governo federal para impedir que o sigilo da construtora fosse quebrado. A CPI do Cachoeira vai se encerrar sem nenhuma contribuição a dar e enviará os dados que recebeu sob sigilo ao Ministério Público, que investiga o esquema. Mesmo assim porque parlamentares independentes procuraram por conta própria o Ministério Público em Goiás para combinar a remessa desse material, para que não se perdesse.
Mais um fiasco a confirmar que o Congresso precisa se reciclar para não continuar com a imagem negativa que tem diante da opinião pública.
Um sinal de que a inflação está saindo do controle: alguns restaurantes e lojas já estão “dando descontos” se o pagamento é em dinheiro. No cartão de crédito, o freguês perde o “desconto”, isto é, a conta vem acrescida de cerca de 5%.
A CPI do Cachoeira nasceu de estratégia equivocada do ex-presidente Lula e de José Dirceu, na tentativa de, se não impedir, ao menos tumultuar o julgamento do mensalão no STF. Já que o adiamento para as calendas gregas não foi obtido com o assédio pessoal de Lula a ministros, dos quais o mais vistosamente frustrado foi a Gilmar Mendes, que denunciou a tentativa de chantageá-lo, partiram os petistas para montar uma CPI que colocaria a oposição contra a parede.
Os alvos principais eram os oposicionistas de maneira geral, o governador de Goiás, Marconi Perillo, em particular, o procuradorgeral da República, pelo atrevimento das acusações contra o PT, e a imprensa livre, representada pela revista “Veja”.
O rolo compressor governista, no entanto, não foi suficiente para fazer da CPI uma cortina de fumaça para o julgamento do mensalão, e políticos independentes impediram que a estratégia petista desse certo. Ao contrário, o feitiço voltou-se contra o feiticeiro, e o surgimento da empreiteira Delta com seus vínculos com o bicheiro Carlinhos Cachoeira colocou o governismo numa sinuca de bico. Frustradas todas as investidas contra seus inimigos, viram- se os petistas na perspectiva de ser a CPI usada contra seus parceiros caso a investigação sobre o empreiteiro Fernando Cavendish fosse adiante. A CPI virou palco de uma batalha, fora do controle, até que oposição e situação viram que era melhor exterminá-la sem dar tempo para novos embates.
O GLOBO fez um levantamento nos 533 requerimentos que não serão votados e constatou uma “troca de chumbo” entre governistas e oposicionistas que poderia atingir a todos. A oposição propôs uma prorrogação da CPI por seis meses, mas a situação aprovou apenas até o fim do ano, mesmo assim sem nenhuma nova investigação.
Para o deputado Miro Teixeira, um dos líderes da ala independente, os dois lados queriam mesmo esse desfecho, só que alguns posam para a plateia defendendo maiores investigações, mas internamente trabalham pelo fim da CPI. Seria a “bancada do cancã”, que distrai o público com suas danças, na mordaz definição do parlamentar do Rio.
Tem razão Miro quando diz que de nada valeria dar sobrevida à CPI se não fosse para quebrar os sigilos de empresas-fantasmas do esquema de Cachoeira que receberam dinheiro da Delta. Mas essa quebra não interessava a governistas de vários matizes.
Peculiaridade da trama criminosa do bicheiro Cachoeira é que ela é pluripartidária, perfeitamente adaptada aos tempos pragmáticos de coalizões amplíssimas e sem nenhum nexo programático entre tais partidos abrigados pelo generoso guarda-chuva governista.
Cachoeira ia além e unia governistas e oposicionistas, sem distinção. O ex-senador Demóstenes Torres, expulso do DEM, e o governador Marconi Perillo, do PSDB de Goiás, que deve ser indiciado pela CPI, são exemplos goianos desse multipartidarismo. Assim como o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, representa o petismo e, se não for também indiciado, será devido à maioria esmagadora do governo na CPI.
O fato é que a construtora Delta tinha ramificações em todos os estados e por todos os partidos, sendo a mais notória ligação com o governador do Rio, Sérgio Cabral, do PMDB, que teve todo o apoio do governo federal para impedir que o sigilo da construtora fosse quebrado. A CPI do Cachoeira vai se encerrar sem nenhuma contribuição a dar e enviará os dados que recebeu sob sigilo ao Ministério Público, que investiga o esquema. Mesmo assim porque parlamentares independentes procuraram por conta própria o Ministério Público em Goiás para combinar a remessa desse material, para que não se perdesse.
Mais um fiasco a confirmar que o Congresso precisa se reciclar para não continuar com a imagem negativa que tem diante da opinião pública.
Um sinal de que a inflação está saindo do controle: alguns restaurantes e lojas já estão “dando descontos” se o pagamento é em dinheiro. No cartão de crédito, o freguês perde o “desconto”, isto é, a conta vem acrescida de cerca de 5%.
Assinar:
Postagens (Atom)