sábado, novembro 03, 2012

O plano contra Marina Silva - LEONARDO CAVALCANTI


CORREIO BRAZILIENSE - 03\11

Ao escolher Dilma Rousseff como candidata ao Palácio do Planalto, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva pensou ter avaliado todos os riscos. Até mesmo a campanha plebiscitária, entre os governos petista e tucano, chegou a ser estudada por antecipação. Mas um detalhe escapou dos cálculos: Marina Silva.

Os 19,6 milhões de votos recebidos pela candidata do PV assombraram assessores palacianos. Afinal, a marca era inimaginável no início da campanha de 2010. A displicência petista, entre outros fatores, levou a eleição presidencial ao segundo turno, atrapalhando os planos de Dilma e oferecendo algum fôlego para José Serra. O erro involuntário, admitido tempos depois pelos integrantes da campanha de Lula, deu a Marina o primeiro lugar aqui, no Distrito Federal, por exemplo. E mais: a transformou positivamente ao fim da campanha.

Tirando o fato da atração do discurso da candidata nos eleitores mais jovens e o cansaço de parte do eleitorado com a guerra entre o PT e o PSDB, aliados próximos a Lula acreditam hoje que, na época, seria possível inviabilizar a candidatura de Marina com o oferecimento de cargos aos caciques do PV. Por mais absurda aos olhos do público, a prática é corriqueira. Vide os exemplos recentes com as idas de Marcelo Crivella (PRB) e Marta Suplicy (PT) aos ministérios da Pesca e da Cultura, respectivamente, para ajudar Fernando Haddad em São Paulo. Se Lula e o governo — e até a oposição — não se prepararam para Marina há dois anos, agora inventaram uma armadilha para limar maiores pretensões da ex-senadora.

Um projeto elaborado e com tramitação recorde no Congresso praticamente acaba com a possibilidade de criação de um novo partido, o que deixaria Marina distante de 2014. O texto, que recebeu o apoio e as assinaturas de todos os líderes partidários, começou a tramitar em 19 de setembro e deve chegar ao plenário da Câmara em 29 de novembro. Uma atenção poucas vezes vistas entre os congressistas, capazes de atrasar a aprovação de propostas urgentes, como a que propõe o fim dos 14º e 15º salários dos parlamentares, que, assim, teimam em atacar o bolso do contribuinte — uma das maiores trambicagens da política brasileira. Mas voltemos à Marina.

Pretensões
Marina largou o PV em julho do ano passado depois de divergências sérias com os integrantes do partido. Desde então percorre o país fazendo palestras com um mantra pouco convincente sobre a formação de um grupo ambientalista suprapartidário. E nega a todo momento qualquer tentativa de criar a curtíssimo prazo um partido. Os principais interlocutores da ex-senadora, entretanto, garantem que será inevitável Marina tentar formar uma nova legenda para manter os seguidores ou mesmo se aproveitar do capital político conquistado em 2012. O fato é que, com o Projeto de Lei 4.470/2012 aprovado pelo Congresso e sancionado pelo Executivo, Marina perde antes mesmo de jogar.

A proposta pretende impedir que os parlamentares que migrem para partidos novos levem junto as verbas do fundo partidário e o tempo da propaganda partidária em rádio e tevê. Adeus candidatura da ex-ministra do Meio Ambiente. Por mais que o projeto possa a ter a intenção inicial de vetar ações de políticos aventureiros e aproveitadores, como ocorreu na criação do PSD de Gilberto Kassab, a proposta tira da campanha uma personagem que qualifica o debate presidencial com temas caros à sociedade.

Goste-se ou não da salada discursória de Marina, ela, caso não dispute, deverá fazer falta. Com as urnas abertas na semana passada, as listas de apostas dos políticos para 2014 incluíram governistas e líderes da oposição, mas deixaram de fora uma candidata que obteve mais de 19% dos votos válidos em 2010. A armadilha foi montada, por mais que Marina ainda possa se aproveitar da força de seguidores nas redes sociais. A dificuldade é que nada garante a manutenção ou mesmo o aumento do capital político conquistado quatro anos antes. Os cânticos das torcidas adversárias já podem ser ouvidos nos corredores do Congresso Nacional, onde tramita, tal qual um raio, o PL nº 4.470/2012.

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