O GLOBO - 19/05
Terça, dia 22, a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça vai analisar um pedido que se arrasta desde 2004. Refere-se ao ex-marinheiro José Anselmo dos Santos, 70 anos, mais conhecido como Cabo Anselmo, que pede anistia.
Segue...
O pedido é visto como provocação. Afinal, a lei prevê reparação a vítimas da ditadura. E Anselmo foi agente do regime. Sua delação levou à morte muitos militantes da esquerda — inclusive, sua própria mulher, a paraguaia Soledad Viedma, grávida de sete meses.
Malhação de André
O BTG Pactual, do tijucano André Esteves, comprou 30% da rede de academias BodyTech. Coisa de uns R$ 200 milhões. Alexandre Accioly continua no controle do negócio.
O mundo como ele é
O Conselho Nacional dos Consumidores de Serviços de Telecomunicações moveu ação contra o “Big Brother Brasil” por “inadequação a normas pedagógicas, educativas e de lazer”. O juiz Dario Machado Jr., da 5+ Vara Federal do Rio, rejeitou por entender que ações não se prestam à veiculação de insatisfações com o mundo que nos cerca.
A la Zózimo
E o Vaccarezza, hein? É impressão minha ou o deputado petista é meio trapalhão? Com todo o respeito.
O invento do Millôr
Millôr Fernandes, falecido em março, era apontado por muitos como o inventor do... frescobol. Por isso, a Associação de Amigos do Frescobol e de Beach Tênis Copacabana prepara uma homenagem ao mestre dia 15 de julho, na praia.
ESTA ÁRVORE que desafia a lei da gravidade assusta quem passa em frente ao número 62 da Rua Padre Manoel da Nóbrega, em Piedade. Repare. A frondosa — toc, toc, toc — ameaça cair a qualquer momento. A Comlurb, responsável pela poda de árvores em áreas públicas, ainda não compareceu. Moradores contam que funcionários da Light estiveram ali e cortaram galhos enroscados na fiação elétrica. Alô, Paes! Tenha piedade de Piedade
Como tem Zé na BR
A Petrobras lembra aquela música de Jackson do Pandeiro que diz: “Vige, como tem Zé/Zé de baixo, Zé de riba/Desconjuro com tanto Zé, como tem Zé lá na Paraíba.” Com a posse, quarta, de José Antônio de Figueiredo como diretor de Engenharia, a cúpula da estatal passa a ter cinco Josés.
Os outros são...
O time de Zés se completa com José Eduardo Dutra (Corporativo), José Miranda Formigli (Exploração), José Alcides Santoro Martins (Gás e Energia) e José Carlos Cosenza (Abastecimento).
Calma, Eliana
De Eliana Pittman, ontem, no Teatro Sesi, no Centro do Rio, ao lembrar o início de sua carreira: — Toda vez que eu cantava “Free again” no Golden Room do Copa, minha calcinha ficava molhada, e gozava de tanta emoção.
O Rio melhorou
Chegou a Sérgio Cabral uma comparação entre os índices de homicídios no Rio na época da Eco-92 e, agora, perto da Rio+20. Em 1992, foram 57,9 assassinatos por 100 mil habitantes. Em 2011, 26,5 por 100 mil.
Julgamento já
O Movimento 31 de Julho monta amanhã, no Posto 9, em Ipanema, uma espécie de cadeia de frente para o mar. É para os réus do mensalão. A turma, como se sabe, criou o concurso Algemas de Ouro, vencido este ano por José Sarney.
O bonde do Nilo
Nilo Batista, o superadvogado, morador de Santa Teresa, no Rio, vai defender os funcionários da empresa dos bondes do bairro responsabilizados pelas mortes no acidente de agosto de 2011.
Pombos do crack
O secretário Rodrigo Bethlem, ontem, na ocupação da Favela Santo Amaro, no Rio, foi alvejado por... cocô de pombos. Teve de tirar o terno e pôr um colete da Assistência Social.
Rodolfo Potter
Chico Alencar, o deputado, encontrou ontem em Santa Teresa, no Rio, um conhecido do Morro dos Prazeres que, antenado, mandou: “Aí, seu Chico! Tô gostando de ver aquele senador de vocês, o Rodolfo! Tem voz fina, mas fala grosso com os pilantras! Referia-se a Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), o jovem senador apelidado de... Harry Potter.
sábado, maio 19, 2012
Escorando a história - RUY CASTRO
FOLHA DE SP - 19/05
RIO DE JANEIRO - Dobra-se uma esquina e, em certos bairros, a história recua 150, 200 anos. Voltamos ao tempo dos tus e vós, das perucas empoadas, dos salões de paredes acortinadas, dos sapatos de fivela. Um Rio neoclássico se abre para nós. Claro, pode acontecer de um daqueles casarões que abrigam mais história do que suas paredes suportam ruir à menor brisa.
Foi o que se deu há dias com um prédio do século 19, na esquina de Lavradio e Relação. Outros edifícios, com muito menos história, também caíram em passado recente.
Não quer dizer que caminhar pelo velho centro carioca seja uma aventura. Ando por ele o tempo todo, e só não o faço de olhos fechados porque não quero perder uma fachada, um friso, um florão -guardiões de uma época em que a vida se passava mais em casa do que nas ruas-, e gosto de me perguntar quem morou, sofreu, amou ou morreu ali.
Séculos se passaram e, por desinteresse do poder público ou inadimplência de seus proprietários, muitos daqueles prédios se esfarinharam e caíram. Outros se salvaram por esse mesmo desinteresse ou pobreza -como ninguém queria saber deles, ficaram de pé, sabe-se como, e continuam entre nós. A Lapa, por exemplo, foi beneficiária desse abandono.
Com raras exceções, seus casarões não foram derrubados para dar lugar a caixotes envidraçados, símbolos do mau gosto modernista. Como estavam válidos, particulares voltaram suas vistas para eles e, há 20 anos, a Lapa começou a renascer.
O poder público se tocou e, ainda que timidamente, passou a fazer o seu papel: reformar a infraestrutura das ruas, ordenar sua ocupação e restaurar prédios -não poucos, aliás, de sua propriedade.
Ainda hoje, há cerca de cem casarões históricos precisando de escoras em todo o centro do Rio.
Os mortos que neles vivem não querem ser soterrados.
RIO DE JANEIRO - Dobra-se uma esquina e, em certos bairros, a história recua 150, 200 anos. Voltamos ao tempo dos tus e vós, das perucas empoadas, dos salões de paredes acortinadas, dos sapatos de fivela. Um Rio neoclássico se abre para nós. Claro, pode acontecer de um daqueles casarões que abrigam mais história do que suas paredes suportam ruir à menor brisa.
Foi o que se deu há dias com um prédio do século 19, na esquina de Lavradio e Relação. Outros edifícios, com muito menos história, também caíram em passado recente.
Não quer dizer que caminhar pelo velho centro carioca seja uma aventura. Ando por ele o tempo todo, e só não o faço de olhos fechados porque não quero perder uma fachada, um friso, um florão -guardiões de uma época em que a vida se passava mais em casa do que nas ruas-, e gosto de me perguntar quem morou, sofreu, amou ou morreu ali.
Séculos se passaram e, por desinteresse do poder público ou inadimplência de seus proprietários, muitos daqueles prédios se esfarinharam e caíram. Outros se salvaram por esse mesmo desinteresse ou pobreza -como ninguém queria saber deles, ficaram de pé, sabe-se como, e continuam entre nós. A Lapa, por exemplo, foi beneficiária desse abandono.
Com raras exceções, seus casarões não foram derrubados para dar lugar a caixotes envidraçados, símbolos do mau gosto modernista. Como estavam válidos, particulares voltaram suas vistas para eles e, há 20 anos, a Lapa começou a renascer.
O poder público se tocou e, ainda que timidamente, passou a fazer o seu papel: reformar a infraestrutura das ruas, ordenar sua ocupação e restaurar prédios -não poucos, aliás, de sua propriedade.
Ainda hoje, há cerca de cem casarões históricos precisando de escoras em todo o centro do Rio.
Os mortos que neles vivem não querem ser soterrados.
Triiim de R$ 6 bi - SONIA RACY
O ESTADÃO - 19/05
Caso mude, o resultado será um passivo de mais de R$ 6 bilhões para as empresas – e consequente aumento de tarifas da telefonia celular para o consumidor.
Triiim 2
A última sessão foi interrompida, por um pedido de vista, no fim de abril. E o julgamento está programado para ser retomado na quarta-feira.
Ministro aposentado da Corte tem a sensação de que o Tribunal está agindo como “banana boat”: atirando os contribuintes para um lado e para o outro, sem transmitir-lhes segurança jurídica.
Unha e cutícula
Bastante prestigiado, André Esteves recebeu, anteontem à noite, o Prêmio Homem do Ano, em NY. Com direito a vídeo, como antecipou esta coluna, gravado por Lula.
O ex-presidente iniciou seus 25 minutos de fala dirigindo-se a Esteves. E terminou com um “meu amigo André”.
Vai e vem
Brasileiro gosta mesmo é de reciclar garrafas pet. Pesquisa CNI/Ibope afirmaque46%delas voltam a ser usadas.
Já no que diz respeito a pilhas (9%) e pneus (3%)... há um longo caminho pela frente.
Preto e branco
A Prefeitura de SP se mobiliza para adotar o código de identificação de cores para daltônicos – que, no Brasil, são cerca de oito milhões.
Criado pelo designer português Miguel Neiva, professor visitante da ESPM, o sistema deve ser implantado nas áreas de transportes, saúde e educação. E o COB estuda usá-lo nas Olimpíadas de 2016.
Lustro na Javari
E o Juventus será repaginado para tentar receber, durante a Copa, um Centro de Treinamento de Seleções. Alckmin se reuniu com a diretoria do clube da Mooca, ontem e anteontem, mas não definiu se haverá aporte de recursos financeiros.
Detalhe: a seleção do Irã manifestou interesse em ficar por lá, caso se classifique. Está cheia de esperança, já que caiu numa chave fraca nas eliminatórias da Ásia.
Especulação
Existe chance de o presidente do conselho da Previ, Robson Rocha, assumira direção da empresa – no lugar de Ricardo Flores.
Retomada
Selada a coligação, alta cúpula do PSDB-DEM fez as contas. A expectativa é de, pelo menos, “oituplicar” o número de prefeitos em capitais nestas eleições: dos atuais um (de São Luís, dos tucanos) para... oito.
Tocha baiana
Carlinhos Brown já está em ritmo olímpico. Vai se apresentar em Londres, dia 22 de julho, no palco principal do evento que antecede a abertura dos Jogos.
Pé na estrada
B.B. King, que volta ao Brasil em setembro, é pura energia. Fará todo o percurso entre as cidades de sua turnê via terrestre.
O Bourbon Street já está providenciando dois ônibus: um para ele e pessoas mais chegadas; outro para a equipe. Ambos percorrerão São Paulo, Rio e Curitiba.
“Just business”
O Poderoso Chefão virou inspiração de balada. Ideia da We Clap, que dividiu a festa The Godfather em três partes –- assim como a série de Francis Ford Coppola. Dia 25, no Leopolldo Itaim.
Todo dia
Andrés Sánchez não aguenta mais ouvir boato de queda iminente de Mano Menezes. O último é sobre possível troca do treinador por Muricy Ramalho (em caso de fracasso nos próximos amistosos da equipe).
Indagado pela coluna, o diretor de seleções da CBF desabafou: “Esse pessoal... parece até que torce contra o Brasil!”.
Na frente
Oscar Niemeyer recebeu alta de seu médico, Paulo Niemeyer, ontem pela manhã. Só estava decidindo se sairia ontem mesmo ou hoje.
Paula Raia apresenta novidades. Segunda, em sua loja.
O livro de fotos Crisálidas, de Madalena Schwartz, será lançado no Instituto Moreira Salles. Segunda-feira.
Jacqueline Terpins brinda nova coleção. Terça, em seu ateliê, no Pacaembu.
Freud, Jung e Spielrein –- O Método Perigoso é tema de curso que começa segunda-feira. Na Casa do Saber do Shopping Cidade Jardim.
Marcinho Eiras, guitarrista, se apresenta no Ao Vivo Music. Hoje.
Sabe o que Adriane Galisteu e José Celso Martinez Corrêa têm em comum? Os dois são fãs de Mart’nália. E estavam no show do novo CD da filha de Martinho da Vila. Anteontem, no HSBC Brasil.
Unidos pelo Nilismo - SÉRGIO AUGUSTO
O Estado de S.Paulo - 19/05
Domingo passado, uma dúzia de escritores e poetas russos se juntou numa praça de Moscou para o que chamaram de "marcha-teste". Queriam testar a vigilância e a repressão da polícia a uma passeata do grupo contra o governo cesarista de Vladimir Putin, cobrindo um itinerário, com perdão da palavra, emblemático: da estátua do poeta Pushkin (exilado pelo czar Alexandre I) até o monumento ao dramaturgo Aleksandr Griboyedov (cujas gozações na aristocracia moscovita só foram liberadas pela censura czarista depois da morte do autor).
A maior surpresa do grupo não foi passar incólume de uma praça à outra, mas a adesão espontânea de 10 mil pessoas, a maioria portando aquele emblema branco que identifica a oposição ao Putin. "Podemos ver por essa adesão em massa que a literatura ainda exerce uma autoridade em nossa sociedade", declarou, inflado de orgulho, o poeta Lev Rubinstein, um dos organizadores do protesto.
Tem sido assim há 200 anos. Os intelectuais se organizam contra a ordem vigente, incandescem a insatisfação pública, são presos, censurados, banidos, fuzilados, viram heróis e depois ganham estátuas, ruas e praças. Começaram com os czares, prosseguiram com Stalin e seus epígonos, e agora, ainda expostos a uma sociedade espiritualmente feudal, enfrentam mais um autoritário Vladimir.
Foram eles que inventaram a palavra intelligentsia, contemporânea do levante dezembrista de 1825, quando poetas românticos, aliados a militares e servidores públicos, conspiraram em vão para derrubar o imperador da vez (Nicolau I) e modernizar o império, com ideias importadas da Europa Ocidental, sobretudo da Alemanha.
Os ideólogos alemães fizeram a cabeça da intelligentsia europeia, no século 19, mas não com a mesma facilidade encontrada na Rússia, campo virgem para todas as radicalizações filosóficas e políticas, desde Pedro, o Grande. Hegel, por exemplo, enfeitiçou tanto os russos que um de seus bardos transfigurou em versos a Ciência da Lógica. Falava alemão o conceito de niilismo usado por Friedrich Jacobi para caracterizar, negativamente, o idealismo transcendental dos herdeiros de Kant, no início do século 19.
O niilismo, grosso modo, existe desde a Antiguidade, desde Demóstenes e Empédocles, precursores do ceticismo epistemológico. Nada é absoluto, os valores morais não têm qualquer validade, a verdade é sempre subjetiva, e o progresso da sociedade só será possível após a destruição do que socialmente existe - eis, em resumo, o credo niilista. Com o acréscimo de que Deus não existe e nenhuma espiritualidade deve ser levada a sério, chegamos ao Zaratustra de Nietzsche, o mais reverenciado corifeu da doutrina.
Zaratustra "nasceu" em 1883 e o niilismo, oficialmente, está comemorando nesta primavera setentrional o seu sesquicentenário. A efeméride é russa. Pushkin e Griboyedov já haviam morrido quando, nas páginas do romance Pais e Filhos, de Ivan Turgenev, editado em 1862, surgiu a figura de Yevgeny Bazarov. Se Dimitri Pisarev foi o teórico do niilismo russo, conforme assegura Albert Camus em O Homem Revoltado, ninguém tira de Bazarov o título de demo padroeiro do movimento.
Doutor por vocação, niilista por avocação, Bazarov pertencia, como o próprio Turgenev, a uma coterie de jovens intelectuais idealistas em choque permanente com a autocracia de Nicolau I. Repudiava tudo e a tudo almejava destruir. Só no décimo capítulo ele pronuncia pela primeira vez a palavra mágica. Turgenev criou um monstro, precursor de Zaratustra e também de um vasto elenco de terroristas, um Frankenstein moral que o próprio romancista, na falta de melhor alternativa, puniu com um final de vida terrível. Nietzsche admirava o personagem, mas não se aventurou a cumprimentar o escritor num parque de Baden-Baden, oito anos antes de Zaratustra começar a falar. Apenas trocaram olhares, segundo Lou Andreas-Salomé.
Espremidos entre um estado reacionário e um campesinato miserável e analfabeto, Turgenev e sua turma - Herzen, Bakunin, Belinsky, Ogarev - formavam o que Dostoievski chamou de "o proletariado dos bacharéis". Sofreram a durindana czarista de várias formas. Muitos, entre os quais Turgenev, morreram no exílio. Hoje, fiéis à tradição, estariam em todas as passeatas contra Putin.
Em março de 1848, poucas semanas depois da queda de Luís Filipe I, Turgenev e Bakunin encontravam-se em Paris. Não viram a queda porque estavam em Bruxelas quando ela ocorreu. Na segunda parte da trilogia The Coast of Utopia, que Tom Stoppard escreveu sobre as quimeras e andanças daquela turma para o teatro, os dois cupinchas de Moscou e São Petersburgo cruzam com outro rebelde que também perdera a chegada da Segunda República por estar, justamente, em Bruxelas: Karl Marx, que lá fora rodar a primeira fornada do Manifesto Comunista.
Turgenev pega um exemplar do Manifesto e lê em voz alta a exortação de abertura. Marx lhe pergunta se a expressão "espectro do comunismo" soa mal aos seus ouvidos de escritor. "Não quero dar a impressão de que o comunismo morreu", revela seu temor. Antes que Turgenev possa dar sua opinião, o poeta Georg Herwegh, ativo participante da Revolução de 1848 na Alemanha, entra em cena e interrompe a conversa.
As vidas de Turgenev e Marx se tangenciaram um bocado. Ambos nasceram e morreram no mesmo ano (1818-1883), estudaram na Universidade de Berlim, foram influenciados pela dialética hegeliana, estavam em Bruxelas na segunda derrubada da monarquia na França, foram espionados pela polícia secreta, tiveram filho ilegítimo, moraram e morreram no exílio. De certo modo, o espectro do niilismo igualmente os uniu.
O puritanismo de 1946 criou quadrilhas - NEY CARVALHO
FOLHA DE SP - 19/05
Assim como as empresas elaboram, ano a ano, suas contas de lucros e perdas, as sociedades deveriam fazer, de tempos em tempos, uma avaliação objetiva dos resultados das políticas que adotaram, seja democraticamente ou impostas em períodos autoritários.
O caso Carlinhos Cachoeira nos leva a refletir sobre as consequências da proibição do jogo no país. São notórias as raízes desse senhor no jogo do bicho, a diversão lúdica mais popular do Brasil.
O bicho e os demais jogos de sorte foram proibidos no país pelo decreto-lei 9.215 de 30 de abril de 1946, editado à sombra da Constituição de 1937, a mais despótica da história.
Completaram-se, mês passado, 66 anos de sua vigência. Já é tempo de avaliar quais ganhos e prejuízos teve o tecido social brasileiro com a marginalização dessas atividades, estabelecida por um ato de força.
Os objetivos da proibição do jogo eram de caráter puritano. O preâmbulo do decreto-lei considerava "que a tradição moral, jurídica e religiosa do povo brasileiro é contrária à prática e a exploração dos jogos de azar" e "que das exceções abertas à lei geral decorreram abrigos nocivos à moral e aos bons costumes".
No dia seguinte, quem comentou a lei foi o cardeal do Rio, Jaime Câmara, no jornal "A Manhã": "A medida se impunha para elevar o nível moral e social dos brasileiros".
Os resultados não condizem com as intenções expostas na ocasião.
Sob o ponto de vista de moral e bons costumes, as consequências foram desastrosas. Assistimos à formação de quadrilhas que exploram jogos clandestinos, tanto quanto os Estados Unidos presenciaram o florescimento da máfia e de Al Capone durante a proibição de bebidas alcoólicas, entre 1919 e 1933.
Os métodos de ação, inclusive, são em tudo semelhantes: disputa por territórios, eliminação de concorrentes, lavagem de dinheiro, infiltração na política e suborno em larga escala.
A corrupção se tornou endêmica nesse campo, com exibição periódica na imprensa da promiscuidade entre contraventores, policiais, parlamentares, governantes e demais agentes públicos.
Entretanto, há outros efeitos que passam despercebidos. Um deles é a qualidade de investimento dos lucros na exploração de jogo.
Quando as apostas eram livres no Brasil, o empresário do Cassino da Urca, Joaquim Rolla, edificou o Quitandinha, em Petrópolis (RJ), à época o maior complexo hoteleiro das Américas, num tempo em que Las Vegas mal engatinhava.
Rolla construiu também empreendimentos semelhantes em diversas cidades turísticas do país. A sua notável vida está descrita no recém-lançado livro "O Rei da Roleta" (de João Perdigão e Euler Corradi, pela Casa da Palavra).
Por sua vez, o concessionário de loterias A. J. Peixoto de Castro criou a refinaria de petróleo de Manguinhos, a petroquímica Prosint, uma fábrica de tubos de aço e inúmeras incorporações imobiliárias no Rio.
Hoje, o máximo que o Brasil obtém de quem explora o jogo é alguma meia-sola em quadras de escolas de samba.
Também perdemos recursos no fluxo de turistas, que se encaminham para qualquer das centenas de resorts no mundo que, entre outros atrativos, oferecem o jogo como um de seus chamarizes. Os cassinos uruguaios, argentinos e chilenos agradecem a pouca inteligência envolvida na decisão brasileira.
Os prejuízos já são imensos nestas quase sete décadas. É urgente regulamentar os jogos de azar no Brasil, exigindo requisitos financeiros sólidos e a ficha-limpa de possíveis concessionários, como se faz com dirigentes de instituições financeiras.
O caso Carlinhos Cachoeira nos leva a refletir sobre as consequências da proibição do jogo no país. São notórias as raízes desse senhor no jogo do bicho, a diversão lúdica mais popular do Brasil.
O bicho e os demais jogos de sorte foram proibidos no país pelo decreto-lei 9.215 de 30 de abril de 1946, editado à sombra da Constituição de 1937, a mais despótica da história.
Completaram-se, mês passado, 66 anos de sua vigência. Já é tempo de avaliar quais ganhos e prejuízos teve o tecido social brasileiro com a marginalização dessas atividades, estabelecida por um ato de força.
Os objetivos da proibição do jogo eram de caráter puritano. O preâmbulo do decreto-lei considerava "que a tradição moral, jurídica e religiosa do povo brasileiro é contrária à prática e a exploração dos jogos de azar" e "que das exceções abertas à lei geral decorreram abrigos nocivos à moral e aos bons costumes".
No dia seguinte, quem comentou a lei foi o cardeal do Rio, Jaime Câmara, no jornal "A Manhã": "A medida se impunha para elevar o nível moral e social dos brasileiros".
Os resultados não condizem com as intenções expostas na ocasião.
Sob o ponto de vista de moral e bons costumes, as consequências foram desastrosas. Assistimos à formação de quadrilhas que exploram jogos clandestinos, tanto quanto os Estados Unidos presenciaram o florescimento da máfia e de Al Capone durante a proibição de bebidas alcoólicas, entre 1919 e 1933.
Os métodos de ação, inclusive, são em tudo semelhantes: disputa por territórios, eliminação de concorrentes, lavagem de dinheiro, infiltração na política e suborno em larga escala.
A corrupção se tornou endêmica nesse campo, com exibição periódica na imprensa da promiscuidade entre contraventores, policiais, parlamentares, governantes e demais agentes públicos.
Entretanto, há outros efeitos que passam despercebidos. Um deles é a qualidade de investimento dos lucros na exploração de jogo.
Quando as apostas eram livres no Brasil, o empresário do Cassino da Urca, Joaquim Rolla, edificou o Quitandinha, em Petrópolis (RJ), à época o maior complexo hoteleiro das Américas, num tempo em que Las Vegas mal engatinhava.
Rolla construiu também empreendimentos semelhantes em diversas cidades turísticas do país. A sua notável vida está descrita no recém-lançado livro "O Rei da Roleta" (de João Perdigão e Euler Corradi, pela Casa da Palavra).
Por sua vez, o concessionário de loterias A. J. Peixoto de Castro criou a refinaria de petróleo de Manguinhos, a petroquímica Prosint, uma fábrica de tubos de aço e inúmeras incorporações imobiliárias no Rio.
Hoje, o máximo que o Brasil obtém de quem explora o jogo é alguma meia-sola em quadras de escolas de samba.
Também perdemos recursos no fluxo de turistas, que se encaminham para qualquer das centenas de resorts no mundo que, entre outros atrativos, oferecem o jogo como um de seus chamarizes. Os cassinos uruguaios, argentinos e chilenos agradecem a pouca inteligência envolvida na decisão brasileira.
Os prejuízos já são imensos nestas quase sete décadas. É urgente regulamentar os jogos de azar no Brasil, exigindo requisitos financeiros sólidos e a ficha-limpa de possíveis concessionários, como se faz com dirigentes de instituições financeiras.
Vertigem na Europa - EDITORIAL FOLHA DE SP
FOLHA DE SP - 19/05
Saída da Grécia da zona do euro, cada vez mais provável, abre novo capítulo de turbulência quanto ao futuro da união monetária
Saída da Grécia da zona do euro, cada vez mais provável, abre novo capítulo de turbulência quanto ao futuro da união monetária
O resultado das eleições gregas foi catastrófico para as perspectivas da receita de austeridade a fim de debelar a crise europeia.
A queda acumulada de 17% no PIB da Grécia desde 2010 e a ausência de um horizonte de melhoria levaram o eleitorado a emitir mensagem clara: está farto das medidas de ajuste e seduzido por partidos extremistas -como se isso representasse solução para as dificuldades criadas em vários anos de indisciplina nos gastos.
A expressiva votação do partido Syriza, adversário do programa de ajuste, inviabilizou a formação de um governo. Haverá novas eleições em junho, que devem se configurar como um plebiscito pela permanência do país na eurozona.
A rejeição aos duros cortes exigidos dificultará desembolsos de dinheiro novo pela Europa, o que levaria à insolvência grega. Sair do euro seria o resultado inevitável.
Os gregos parecem apostar que a Europa mostrará flexibilidade para abrandar o programa. Contam também com o medo dos europeus de que deixar a Grécia à deriva desencadearia uma crise financeira sem precedentes, com ataques do mercado a outros membros cambaleantes, como Portugal e Espanha.
A liderança europeia se vê compelida a lidar com uma agenda de crescimento, que ganhou peso com a eleição do socialista François Hollande na França. O próximo encontro de cúpula, em 29 de junho, debaterá sugestões francesas, como a capitalização do EIB (o BNDES europeu) e a emissão conjunta de títulos de dívida para custear investimentos. São passos importantes, mas insuficientes.
Há obstáculos políticos, em especial na Alemanha, para novas concessões à Grécia. Já se fala abertamente, porém, em salvaguardas para enfrentar sua saída do euro.
Elas implicariam provar de modo inequívoco que não haverá ruptura generalizada com a defecção grega. Os europeus precisarão dar passos mais audazes de integração para convencer os mercados de que a arquitetura incompleta da moeda única evoluirá rapidamente.
Entre as medidas que restaurariam confiança está uma maior velocidade na integração fiscal e na supervisão bancária.
O objetivo é evitar casos como o da Espanha, cujo governo não tem recursos para lidar com a insolvência de suas próprias instituições, drenadas pelo estouro da bolha imobiliária. Discute-se recorrer ainda mais aos fundos de resgate, hoje em 700 bilhões de euros, para socorrer os bancos ibéricos.
Quanto ao Banco Central Europeu, persistem as resistências alemãs ao uso pleno de seu arsenal. Mas, se a saída da Grécia revelar-se inevitável, será a única instituição capaz de evitar o colapso do euro.
A queda acumulada de 17% no PIB da Grécia desde 2010 e a ausência de um horizonte de melhoria levaram o eleitorado a emitir mensagem clara: está farto das medidas de ajuste e seduzido por partidos extremistas -como se isso representasse solução para as dificuldades criadas em vários anos de indisciplina nos gastos.
A expressiva votação do partido Syriza, adversário do programa de ajuste, inviabilizou a formação de um governo. Haverá novas eleições em junho, que devem se configurar como um plebiscito pela permanência do país na eurozona.
A rejeição aos duros cortes exigidos dificultará desembolsos de dinheiro novo pela Europa, o que levaria à insolvência grega. Sair do euro seria o resultado inevitável.
Os gregos parecem apostar que a Europa mostrará flexibilidade para abrandar o programa. Contam também com o medo dos europeus de que deixar a Grécia à deriva desencadearia uma crise financeira sem precedentes, com ataques do mercado a outros membros cambaleantes, como Portugal e Espanha.
A liderança europeia se vê compelida a lidar com uma agenda de crescimento, que ganhou peso com a eleição do socialista François Hollande na França. O próximo encontro de cúpula, em 29 de junho, debaterá sugestões francesas, como a capitalização do EIB (o BNDES europeu) e a emissão conjunta de títulos de dívida para custear investimentos. São passos importantes, mas insuficientes.
Há obstáculos políticos, em especial na Alemanha, para novas concessões à Grécia. Já se fala abertamente, porém, em salvaguardas para enfrentar sua saída do euro.
Elas implicariam provar de modo inequívoco que não haverá ruptura generalizada com a defecção grega. Os europeus precisarão dar passos mais audazes de integração para convencer os mercados de que a arquitetura incompleta da moeda única evoluirá rapidamente.
Entre as medidas que restaurariam confiança está uma maior velocidade na integração fiscal e na supervisão bancária.
O objetivo é evitar casos como o da Espanha, cujo governo não tem recursos para lidar com a insolvência de suas próprias instituições, drenadas pelo estouro da bolha imobiliária. Discute-se recorrer ainda mais aos fundos de resgate, hoje em 700 bilhões de euros, para socorrer os bancos ibéricos.
Quanto ao Banco Central Europeu, persistem as resistências alemãs ao uso pleno de seu arsenal. Mas, se a saída da Grécia revelar-se inevitável, será a única instituição capaz de evitar o colapso do euro.
Sono, obesidade e diabetes - DRAUZIO VARELLA
FOLHA DE SP - 19/05
Inquéritos epidemiológicos avaliaram os efeitos deletérios que a privação crônica de sono exerce
Vivemos numa cultura que tem orgulho de dormir pouco. Pessoas que dormem nove horas por dia são consideradas preguiçosas, enquanto admiramos as que em cinco ou seis já pularam da cama.
Nos 5 milhões de anos que nos precederam, nossa espécie viveu num mundo sem luz elétrica, em que a rotina de sono e vigília era organizada em conformidade com a alternância dos dias e das noites.
A claridade que chegava às células fotossensíveis da retina ao raiar do sol estimulava as áreas cerebrais responsáveis pelo controle da divisão celular, da produção dos hormônios e das proteínas envolvidas nas reações metabólicas necessárias para enfrentar a luta diária.
Ao contrário, a chegada da noite alterava o metabolismo de forma a sintetizar novas proteínas e hormônios, neurotransmissores, melatonina e outros mediadores para nos tornar mais contemplativos, com a musculatura mais relaxada e predispostos a achar um canto na caverna para entrarmos em modo de hibernação.
Na evolução, em respeito a essa ordem natural, o conjunto das reações bioquímicas responsáveis pelo metabolismo dos animais -e também das plantas, fungos e bactérias- organizou-se em ciclos diários com duração aproximada de 24 horas, característica que na década de 1950 recebeu o nome de ritmo circadiano (do latim: "circa diem", cerca de um dia).
Embora os ciclos circadianos sejam controlados por mecanismos endógenos autoajustáveis, independentes da consciência, fatores externos podem interferir na sua duração. Entre eles, o mais importante é a luz do sol ou de fontes artificiais, especialmente as que emitem a banda azul do espectro luminoso.
Seres humanos mantidos em penumbra silenciosa durante 28 horas não resistem em vigília. A interferência com a duração dos dias e das noites que subverte a alternância da exposição à claridade e à escuridão é a causa do fenômeno conhecido como jet lag.
Inquéritos epidemiológicos realizados nos últimos 20 anos avaliaram os efeitos deletérios que a privação crônica de sono exerce sobre a saúde humana. Alguns deles levantaram a suspeita de que dormir pouco encurtaria a longevidade.
Em 2010, um estudo realizado no Women's Hospital, em Boston, revelou que homens jovens mantidos em regime de privação de sono por apenas uma semana desenvolvem resistência à insulina, condição que leva ao aumento da concentração de glicose no sangue, característica do diabetes. Os autores desse estudo acabam de atualizá-lo em uma publicação na revista "Science Translational Medicine".
Durante seis semanas, mantiveram 21 participantes numa das suítes que o hospital transformou em laboratório de estudo do sono. Todos foram mantidos num regime que lhes permitia dormir apenas cinco, seis horas, a cada período de 24.
O horário de ir para cama mudava todos os dias. Para interferir com o ritmo circadiano, os quartos não tinham janelas, e os ciclos de luz e escuro foram programados para durar 28 horas, em vez das 24 habituais.
Com o objetivo de prevenir que o ritmo circadiano se reajustasse por conta própria, a iluminação era mantida em níveis equivalentes ao do entardecer. Não foi permitido acesso a TV, rádio ou internet.
Amostras de sangue colhidas em jejum acusaram concentrações mais baixas de insulina, associadas ao aumento das taxas de glicose, em todos os participantes. Em três deles, a glicemia atingiu a faixa que vai de cem a 120, rotulada de pré-diabetes.
A energia gasta em repouso (que quantifica quantas calorias consome o corpo parado) caiu em média 8%. Se esse nível de consumo energético mais econômico fosse mantido por um ano, causaria um aumento do peso corpóreo de quase seis quilos.
Depois de um período de dez dias de recuperação, em que os participantes permaneceram no laboratório, porém mantidos em ciclos de claro e escuro com duração de 24 horas, mas dormindo dez horas durante a noite, a secreção de insulina e os níveis de açúcar na circulação voltaram aos valores normais.
Para aqueles que o trabalho obriga a passar meses ou anos em ciclos de dia e noite irregulares, essas alterações seriam igualmente reversíveis?
Você consegue, leitor, dormir e acordar todos os dias na mesma hora? Eu, não.
Inquéritos epidemiológicos avaliaram os efeitos deletérios que a privação crônica de sono exerce
Vivemos numa cultura que tem orgulho de dormir pouco. Pessoas que dormem nove horas por dia são consideradas preguiçosas, enquanto admiramos as que em cinco ou seis já pularam da cama.
Nos 5 milhões de anos que nos precederam, nossa espécie viveu num mundo sem luz elétrica, em que a rotina de sono e vigília era organizada em conformidade com a alternância dos dias e das noites.
A claridade que chegava às células fotossensíveis da retina ao raiar do sol estimulava as áreas cerebrais responsáveis pelo controle da divisão celular, da produção dos hormônios e das proteínas envolvidas nas reações metabólicas necessárias para enfrentar a luta diária.
Ao contrário, a chegada da noite alterava o metabolismo de forma a sintetizar novas proteínas e hormônios, neurotransmissores, melatonina e outros mediadores para nos tornar mais contemplativos, com a musculatura mais relaxada e predispostos a achar um canto na caverna para entrarmos em modo de hibernação.
Na evolução, em respeito a essa ordem natural, o conjunto das reações bioquímicas responsáveis pelo metabolismo dos animais -e também das plantas, fungos e bactérias- organizou-se em ciclos diários com duração aproximada de 24 horas, característica que na década de 1950 recebeu o nome de ritmo circadiano (do latim: "circa diem", cerca de um dia).
Embora os ciclos circadianos sejam controlados por mecanismos endógenos autoajustáveis, independentes da consciência, fatores externos podem interferir na sua duração. Entre eles, o mais importante é a luz do sol ou de fontes artificiais, especialmente as que emitem a banda azul do espectro luminoso.
Seres humanos mantidos em penumbra silenciosa durante 28 horas não resistem em vigília. A interferência com a duração dos dias e das noites que subverte a alternância da exposição à claridade e à escuridão é a causa do fenômeno conhecido como jet lag.
Inquéritos epidemiológicos realizados nos últimos 20 anos avaliaram os efeitos deletérios que a privação crônica de sono exerce sobre a saúde humana. Alguns deles levantaram a suspeita de que dormir pouco encurtaria a longevidade.
Em 2010, um estudo realizado no Women's Hospital, em Boston, revelou que homens jovens mantidos em regime de privação de sono por apenas uma semana desenvolvem resistência à insulina, condição que leva ao aumento da concentração de glicose no sangue, característica do diabetes. Os autores desse estudo acabam de atualizá-lo em uma publicação na revista "Science Translational Medicine".
Durante seis semanas, mantiveram 21 participantes numa das suítes que o hospital transformou em laboratório de estudo do sono. Todos foram mantidos num regime que lhes permitia dormir apenas cinco, seis horas, a cada período de 24.
O horário de ir para cama mudava todos os dias. Para interferir com o ritmo circadiano, os quartos não tinham janelas, e os ciclos de luz e escuro foram programados para durar 28 horas, em vez das 24 habituais.
Com o objetivo de prevenir que o ritmo circadiano se reajustasse por conta própria, a iluminação era mantida em níveis equivalentes ao do entardecer. Não foi permitido acesso a TV, rádio ou internet.
Amostras de sangue colhidas em jejum acusaram concentrações mais baixas de insulina, associadas ao aumento das taxas de glicose, em todos os participantes. Em três deles, a glicemia atingiu a faixa que vai de cem a 120, rotulada de pré-diabetes.
A energia gasta em repouso (que quantifica quantas calorias consome o corpo parado) caiu em média 8%. Se esse nível de consumo energético mais econômico fosse mantido por um ano, causaria um aumento do peso corpóreo de quase seis quilos.
Depois de um período de dez dias de recuperação, em que os participantes permaneceram no laboratório, porém mantidos em ciclos de claro e escuro com duração de 24 horas, mas dormindo dez horas durante a noite, a secreção de insulina e os níveis de açúcar na circulação voltaram aos valores normais.
Para aqueles que o trabalho obriga a passar meses ou anos em ciclos de dia e noite irregulares, essas alterações seriam igualmente reversíveis?
Você consegue, leitor, dormir e acordar todos os dias na mesma hora? Eu, não.
Apocalipse logo - PAUL KRUGMAN
FOLHA DE SP - 19/05
A resposta europeia para a crise econômica foram medidas de austeridade, cortes ferozes de gastosSubitamente se tornou fácil perceber como o euro -aquela grande e equivocada experiência de construção de uma união monetária desacompanhada de união política- pode se desmantelar.
Não estamos falando de uma perspectiva distante, aliás.
Isso não precisa acontecer. O euro (ou a maior parte dele) ainda pode ser salvo. Mas a tarefa requereria que os líderes europeus, especialmente os da Alemanha e do BCE (Banco Central Europeu), começassem a agir de modo muito diferente do que vêm fazendo nos últimos anos. Precisam deixar de dar lições de moral e enfrentar a realidade; precisam deixar de contemporizar e, pelo menos uma vez, agir antes da crise.
Eu bem que gostaria de me declarar otimista.
A história, até aqui: Quando o euro foi criado, surgiu uma grande onda de otimismo na Europa. A Espanha e outros países passaram a ser vistos como investimentos seguros e começaram a receber grandes influxos de capital; essa entrada de dinheiro alimentou imensas bolhas no setor de habitação e imensos deficit comerciais. E então veio a crise financeira de 2008 e o capital desapareceu, causando severas contrações em diversos países que vinham em expansão até ali.
A resposta europeia foram medidas de austeridade; cortes ferozes de gastos em um esforço para reassegurar os mercados de títulos. Mas, como qualquer economista sensato poderia ter dito (e o fizemos, o fizemos), esses cortes aprofundaram a depressão nas economias europeias em crise, o que tanto solapou a confiança dos investidores quanto resultou em crescente instabilidade política.
E agora finalmente surge o momento da verdade.
A Grécia é o ponto focal, por enquanto. Os eleitores, compreensivelmente irritados com políticas que resultaram em desemprego de 22%, voltaram-se contra os partidos que as propuseram. E porque toda a elite política grega foi, na prática, forçada a endossar uma ortodoxia econômica fadada ao fracasso, a repulsa dos eleitores resultou em um ganho de poder para os extremistas.
Mesmo que as pesquisas estejam erradas e a coalizão governista de algum modo conquiste maioria na próxima votação, a partida está basicamente perdida. A Grécia não quer e não pode manter as políticas que a Alemanha e o BCE exigem.
O que acontece agora? No momento, a Grécia está passando por uma chamada "corridinha aos bancos". O BCE está, na prática, financiando essa corrida aos bancos, ao emprestar os euros de que a Grécia precisa para honrar os saques; se e (provavelmente) quando o Banco Central decidir que não pode mais fazê-lo, a Grécia se verá forçada a abandonar o euro e voltar a emitir uma moeda própria.
A demonstração de que o euro é de fato reversível resultaria, por sua vez, em corridas aos bancos espanhóis e italianos. O BCE teria de uma vez mais decidir se vai oferecer financiamento irrestrito; caso não o faça, o euro pode simplesmente estourar por completo.
Todos nós, portanto, temos grande interesse no sucesso europeu -mas cabe aos europeus conquistar esse sucesso.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
A resposta europeia para a crise econômica foram medidas de austeridade, cortes ferozes de gastosSubitamente se tornou fácil perceber como o euro -aquela grande e equivocada experiência de construção de uma união monetária desacompanhada de união política- pode se desmantelar.
Não estamos falando de uma perspectiva distante, aliás.
Isso não precisa acontecer. O euro (ou a maior parte dele) ainda pode ser salvo. Mas a tarefa requereria que os líderes europeus, especialmente os da Alemanha e do BCE (Banco Central Europeu), começassem a agir de modo muito diferente do que vêm fazendo nos últimos anos. Precisam deixar de dar lições de moral e enfrentar a realidade; precisam deixar de contemporizar e, pelo menos uma vez, agir antes da crise.
Eu bem que gostaria de me declarar otimista.
A história, até aqui: Quando o euro foi criado, surgiu uma grande onda de otimismo na Europa. A Espanha e outros países passaram a ser vistos como investimentos seguros e começaram a receber grandes influxos de capital; essa entrada de dinheiro alimentou imensas bolhas no setor de habitação e imensos deficit comerciais. E então veio a crise financeira de 2008 e o capital desapareceu, causando severas contrações em diversos países que vinham em expansão até ali.
A resposta europeia foram medidas de austeridade; cortes ferozes de gastos em um esforço para reassegurar os mercados de títulos. Mas, como qualquer economista sensato poderia ter dito (e o fizemos, o fizemos), esses cortes aprofundaram a depressão nas economias europeias em crise, o que tanto solapou a confiança dos investidores quanto resultou em crescente instabilidade política.
E agora finalmente surge o momento da verdade.
A Grécia é o ponto focal, por enquanto. Os eleitores, compreensivelmente irritados com políticas que resultaram em desemprego de 22%, voltaram-se contra os partidos que as propuseram. E porque toda a elite política grega foi, na prática, forçada a endossar uma ortodoxia econômica fadada ao fracasso, a repulsa dos eleitores resultou em um ganho de poder para os extremistas.
Mesmo que as pesquisas estejam erradas e a coalizão governista de algum modo conquiste maioria na próxima votação, a partida está basicamente perdida. A Grécia não quer e não pode manter as políticas que a Alemanha e o BCE exigem.
O que acontece agora? No momento, a Grécia está passando por uma chamada "corridinha aos bancos". O BCE está, na prática, financiando essa corrida aos bancos, ao emprestar os euros de que a Grécia precisa para honrar os saques; se e (provavelmente) quando o Banco Central decidir que não pode mais fazê-lo, a Grécia se verá forçada a abandonar o euro e voltar a emitir uma moeda própria.
A demonstração de que o euro é de fato reversível resultaria, por sua vez, em corridas aos bancos espanhóis e italianos. O BCE teria de uma vez mais decidir se vai oferecer financiamento irrestrito; caso não o faça, o euro pode simplesmente estourar por completo.
Todos nós, portanto, temos grande interesse no sucesso europeu -mas cabe aos europeus conquistar esse sucesso.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
"Nós somos teu" - FERNANDO RODRIGUES
FOLHA DE SP - 19/05
BRASÍLIA - Atire a primeira pedra quem nunca cometeu um erro de português ao escrever uma mensagem no celular. Não é esse o ponto principal no curioso torpedo redigido pelo deputado federal Cândido Vaccarezza, do PT de São Paulo, para o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, do PMDB.
Na sessão de anteontem da CPI do Cachoeira, quando foram engavetados vários pedidos de convocação de gatos gordos da política, Vaccarezza enviou o seguinte SMS para Cabral: "A relação com o PMDB vai azedar na CPI. Mas não se preocupe você é nosso e nós somos teu (sic)".
O petista poderia muito bem ter escrito "é nóis, mano" ou "tá tudo dominado". Seria o mesmo. A relação de compadrio deletério revelada só escancara o que todos já sabem, mas nunca custa dizer de novo: o PT protege o PMDB e recebe em troca blindagem equivalente.
Partidos aliados se comportam assim desde que a política é política. Continuará sendo desse modo em todas as CPIs, como no passado recente também o PSDB protegia o PFL (hoje DEM) e vice-versa.
Graças à imagem mostrada pelo telejornal "SBT Brasil", a operação abafa na CPI do Cachoeira perdeu a ambiguidade. Ontem, Vaccarezza explicou sua mensagem: "O Cabral não é investigado, não é citado, [eu] não poderia estar blindando. O que o blinda é a inocência dele".
Sérgio Cabral é amigo do dono da empreiteira Delta, Fernando Cavendish. Ambos aparecem se refestelando num restaurante no exterior. Essa empresa tem contratos com governos pelo país inteiro. Nos inquéritos do caso Cachoeira, a Delta aparece como peça vital do esquema.
Nada disso seria indício suficiente para convocar Cabral. A CPI só tem uma regra de ouro, expressa no solecismo de Vaccarezza: "Você é nosso e nós somos teu". E os brasileiros que pagam impostos e os salários dessa turma? Estamos à deriva. Nós não somos de ninguém.
Na sessão de anteontem da CPI do Cachoeira, quando foram engavetados vários pedidos de convocação de gatos gordos da política, Vaccarezza enviou o seguinte SMS para Cabral: "A relação com o PMDB vai azedar na CPI. Mas não se preocupe você é nosso e nós somos teu (sic)".
O petista poderia muito bem ter escrito "é nóis, mano" ou "tá tudo dominado". Seria o mesmo. A relação de compadrio deletério revelada só escancara o que todos já sabem, mas nunca custa dizer de novo: o PT protege o PMDB e recebe em troca blindagem equivalente.
Partidos aliados se comportam assim desde que a política é política. Continuará sendo desse modo em todas as CPIs, como no passado recente também o PSDB protegia o PFL (hoje DEM) e vice-versa.
Graças à imagem mostrada pelo telejornal "SBT Brasil", a operação abafa na CPI do Cachoeira perdeu a ambiguidade. Ontem, Vaccarezza explicou sua mensagem: "O Cabral não é investigado, não é citado, [eu] não poderia estar blindando. O que o blinda é a inocência dele".
Sérgio Cabral é amigo do dono da empreiteira Delta, Fernando Cavendish. Ambos aparecem se refestelando num restaurante no exterior. Essa empresa tem contratos com governos pelo país inteiro. Nos inquéritos do caso Cachoeira, a Delta aparece como peça vital do esquema.
Nada disso seria indício suficiente para convocar Cabral. A CPI só tem uma regra de ouro, expressa no solecismo de Vaccarezza: "Você é nosso e nós somos teu". E os brasileiros que pagam impostos e os salários dessa turma? Estamos à deriva. Nós não somos de ninguém.
Abandonado - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 19/05
Cheiro de enrolação
A defesa de Carlos Cachoeira mal está pesquisando os autos do processo na sala-cofre do Senado. Nesta semana, advogados estiveram terça-feira, por apenas 30 minutos. Quarta-feira, dois advogados fizeram pesquisa, um por 31 minutos e, outro, por cerca de duas horas e meia. Um deles, Augusto Botelho, saiu reclamando que o material estava bagunçado e que seria melhor ler os autos de sua própria casa. Se a defesa tem os autos, para que pedir protelação de prazo? O presidente da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), enviou essas informações ao ministro Celso de Mello, do STF, para mostrar que o pedido de habeas cor-pus da defesa de Cachoeira é uma chicana protelatória.
“ O problema do PT com o PMDB na CPI é que nós não concordamos com a proposta do (senador Fernando) Collor de investigar a imprensa” —Henrique Alves, líderdo PMDB na Câmara (PMDB-RN)
DIPLOMACIA PRESIDENCIAL. A presidente Dilma conversou pelo telefone durante cerca de uma hora, na quinta-feira, com o presidente da China, Hu Jintao. Insistiu para que ele viesse para o Brasil durante a Conferência Rio+20. Trataram também da crise mundial. Segundo relato feito por Dilma aos seus ministros, o chinês afirmou que as exportações do Brasil para seu país não serão afetadas pela desaceleração da economia chinesa.
Contra a parede
Foi por orientação da presidente Dilma que o Executivo decidiu tornar público o salário de todos os seus funcionários. Os poderes Legislativo e Judiciário, que costumam pagar salários mais polpudos, foram colocados numa saia justa.
Mordomia
Atendendo a pedido corporativo da OAB, o líder do Bloco PTB/PR, senador Gim Argello (PTB-DF), apresentou um projeto de lei estabelecendo que 5% de todas as vagas nos prédios públicos sejam reservadas para uso dos advogados.
Vem aí a superterça
Agenda cheia na próxima terça-feira. Na CPI está previsto o depoimento do contraventor Carlos Cachoeira; no Conselho de Ética, tem o depoimento da primeira testemunha de defesa de Demóstenes Torres, o advogado Ruy Cruvinel; na Câmara, está marcada a votação da PEC do Trabalho Escravo; no TSE, existe a perspectiva de conclusão do pedido do PSD para receber recursos do Fundo Partidário; e, no STF, os ministros fazem nova sessão administrativa para debater ritos e procedimentos do julgamento do mensalão.
De olho nas urnas
A direção do PSDB decidiu dar uma mãozinha aos seus candidatos a prefeito nas capitais. Vai distribuir as inserções nacionais na televisão, previstas para o mês de junho, para dividir entre seus principais candidatos nos estados.
Impasse
Os partidos que não são de esquerda da base do governo Dilma estão cobrando o envio de um projeto de lei regulamentando com clareza o trabalho escravo. Alegam que a sociedade não pode ficar à mercê da interpretação dos fiscais.
DEPOIS do pito, o líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR), subiu à tribuna para defender o governador de Goiás: “Temem a presença de Marconi Perillo nessa CPI. Temem o que ele possa dizer.”
CARTEIRAÇO. Virou lugar comum. Cada vez que os petistas defendem uma tese polêmica, invocam o ex-presidente Lula e dizem que o fazem em seu nome.
GUERRILHA. Ex-jornalistas, que trabalham para empresas de “gestão de crise” a serviço dos investigados pela CPI do Cachoeira, misturam-se com os repórteres nas entrevistas para cavar informações sobre os rumos da investigação.
Dessemelhanças - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 19/05
Desde abril é possível acompanhar um julgamento aqui nos Estados Unidos que parece impossível acontecer em terras brasileiras, e, no entanto, por tudo que se conhece, deveria ser frequente. Trata-se do júri popular a que está submetido o ex-senador John Edwards, candidato a vice na chapa democrata de John Kerry em 2004 e várias vezes candidato a candidato à Presidência da República, acusado de seis crimes, todos relacionados ao uso de dinheiro de campanha eleitoral para esconder e sustentar uma amante com a qual teve um filho.
O julgamento de John Edwards ocorre na pequena cidade de Greensboro, de 270 mil habitantes, na Carolina do Norte, estado pelo qual Edwards foi senador.
A história tem todos os ingredientes de uma novela, sem direito a final feliz, com doses de dramalhão mexicano que vão desde a mulher com câncer à exploração de uma herdeira milionária de 101 anos.
Na campanha de 2008, quando mais uma vez tentou ser indicado candidato do Partido Democrata à Presidência, Edwards se envolveu com Rielle Hunter, uma especialista em videografia que trabalhava em sua campanha, e a revelação desse caso fez com que ele tivesse que abandonar a campanha eleitoral.
Antes, porém, tentou escondê-lo, negando que o filho fosse seu, e chegou a gravar uma entrevista no programa Nightline, um dos mais importantes jornalísticos da rede de televisão ABC, admitindo o caso, mas garantindo que ele havia terminado e que o filho não era seu.
Ao mesmo tempo, Andrew Young, um assessor de sua campanha, apresentou-se como o pai da criança, mesmo sendo casado com três filhos.
Descobriu-se depois que o assessor assumiu a paternidade por dinheiro, originário basicamente de dois doadores milionários da campanha: Rachel Mellon, a herdeira de 101 anos do banqueiro e filantropo Paul Mellon, e o advogado texano Fred Baron, tesoureiro da campanha de Edwards que fez sua fortuna defendendo vítimas de exposição ao amianto.
A fortuna de Rachel (Bunny) Lambert Mellon vem dos dois lados: antes do casamento com o banqueiro Paul Mellon tinha fortuna própria. Seu pai foi presidente da Gillete, seu avô, um químico que inventou o Listerine, um produto para higiene bucal.
Sempre foi uma admiradora de John Edwards e financiava suas campanhas oficialmente. Desta vez, doou secretamente, por meio de um decorador, US$ 725 mil para resolver o que achava ser um problema pessoal de Edwards, sem saber que se tratava de um caso extraconjugal.
O advogado de Bunny Mellon, Alex Forger, testemunhou no julgamento e disse que ela se ligou a Edwards por afeição, e não porque ele era um candidato a presidente.
Tinha poucos amigos a esta altura de sua vida, depois que seu marido morreu e a filha ficou doente, e foi apresentada ao senador pelo decorador Bryan Huffman, a quem agradeceu o fato em uma carta de 2008, mostrada no julgamento como uma prova de que o encontro com a milionária fez parte de uma conspiração.
Já Fred Baron sabia bem porque estava dando o dinheiro para o senador John Edwards. Além de US$ 801.318 em dinheiro vivo, ele prestou outros tipos de favores, inclusive uma mesada de US$ 9 mil para a amante, um carro BMW, estadias em hotéis de luxo, voos em jatos privados e o aluguel de uma vila em Santa Bárbara, na Califórnia, onde a amante e a família de Andrew Young - mulher e três filhos - hospedaram-se para se esconder da imprensa depois que ele assumiu a paternidade.
A acusação diz que a família Young aproveitou-se da situação para lucrar, enquanto a defesa alega que o dinheiro não foi para influenciar a campanha, mas para esconder o caso da sua família.
Um ponto fundamental para a acusação é demonstrar que o candidato Edwards considerava que o dinheiro da campanha era seu, e o usava para fins pessoais. Para tanto, foi apresentado um hoje já famoso recibo de um corte de cabelo que custou US$ 400, e que o candidato classificou como gasto de campanha.
Na ocasião esse corte de cabelo já criara problemas para John Edwards, e agora voltou a se transformar em uma peça de acusação contra ele.
Durante as últimas três semanas a equipe de acusação, tendo à frente o advogado David Harbach, da Divisão de Integridade Pública do Departamento de Justiça, descreveu com detalhes particularidades dos momentos cruciais do caso, como visitas secretas e telefonemas à amante no meio da noite, enquanto sua mulher lutava contra um câncer que acabou por matá-la.
As descrições foram tão vívidas que em certos momentos testemunhas choraram, e Cate Edwards, sua filha que esteve presente todos os dias do julgamento, pelo menos uma vez saiu correndo do recinto, não suportando a situação.
O depoimento mais comovente foi o de Jennifer Palmieri, que trabalhou na campanha de Edwards e tornou-se amiga de sua mulher Elizabeth, com quem estava no momento da morte.
Ela disse no julgamento que a mulher de Edwards fez "uma ginástica mental" para não acreditar que seu marido havia tido um filho fora do casamento. E pediu a ele que ficasse calado sobre o caso e abandonasse a campanha para preservar a família.
Mesmo depois que ele admitiu o caso e de o casal ter se separado, Palmieri disse que Elizabeth queria que Edwards estivesse junto quando ela morresse, o que foi feito.
Se o caso lhe parece semelhante ao de um certo senador, há outras semelhanças em outros casos. Dois senadores democratas do estado de Nova York, por exemplo, perderam o emprego acusados de várias falcatruas e foram condenados à prisão por receberem suborno de hospitais e lobistas da saúde. Eles eram adeptos do "é dando que se recebe" e antes de serem apanhados tentaram vender caro a fidelidade ao partido, ameaçando apoiar os republicanos em votações importantes.
Nenhum deles teve sua vida privada poupada. As semelhanças são muitas, e a diferença é uma só: todos foram a julgamento.
Para inflar o PIB, o governo estimula a inadimplência - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S.Paulo - 19/05
O governo parece estimular a inadimplência, é o que se pode concluir de duas medidas em estudo: a primeira, visando a transferir créditos podres da Caixa Econômica Federal (CEF), BNDES e Banco do Nordeste para uma instituição criada pelo Ministério da Fazenda; e a segunda, isentando do IOF os créditos destinados à compra de carros de passeio para reduzir os estoques das montadoras.
Foi o governo que estimulou os bancos públicos a aumentar seus empréstimos com menores taxas de juros para forçar os bancos privados a seguirem o exemplo. A CEF foi a mais audaciosa na sua política de expansão dos créditos, quando sua carteira já tinha muitos créditos podres, situação parecida com a do Banco do Nordeste e, num grau menor, do BNDES.
Estuda-se agora que o Tesouro Nacional adquira os créditos podres e os repasse para a Empresa de Gestão de Ativos (Emgea), que procuraria recuperar parte da dívida existente. Por exemplo, no caso da CEF, que aumentou seus créditos no 1.º trimestre do ano em 41%, sem muito critério de se enquadrar nas normas de Basileia para voltar a crescer livre das suas operações podres. Situação igual se verifica, embora em grau menor, em outras instituições de crédito públicas.
Trata-se de uma solução que obrigará o Tesouro a aumentar sua dívida, sem saber o que pode recuperar por meio da Emgea. Além de ser uma operação desleal com os bancos privados, que não têm a mesma facilidade para limpar suas carteiras - aliás, de melhor qualidade -, ela constitui um estímulo à inadimplência, por causa da facilidade com que os bancos públicos se livram do excesso de créditos podres.
Parece que a preocupação do governo com as vendas de carro se inscreve na mesma direção. O crédito para compra de carros foi reduzido diante do aumento da inadimplência no setor, que fazia operações de até cinco anos de prazo. Não nos parece que o corte de IOF será suficiente para convencer os interessados a trocar o seu carro. Estamos diante de um duplo problema: uma saturação do mercado e um forte aumento do endividamento das famílias.
A nova classe C adquiriu um carro com sacrifícios, mas não pretende trocá-lo a cada ano. É esta mesma classe que se aproveitou dos incentivos do governo para comprar uma casa. Isso significa uma prestação mensal, por muito anos, que exige a redução de outras despesas, especialmente quando começam a aparecer ameaças de desemprego. Não se entende por que o governo estimula agora maior endividamento.
Não é por aí - MÍRIAM LEITÃO
O GLOBO - 19/05
O PIB ficou estagnado no primeiro trimestre. É isso que mostraram os dados divulgados ontem pelo Banco Central. O governo vai agir e de novo pensa em medidas casuísticas e que beneficiem a indústria automobilística. A lei da oferta e da procura deveria valer para as montadoras. Se há carro demais no pátio, as empresas deveriam dar desconto, oferecer vantagens para atrair o consumidor, em vez de pedir socorro ao governo.
O Brasil não tem política industrial, tem política para a indústria automobilística. A cada engasgada da economia, os ministérios da Fazenda e do Desenvolvimento desenham medidas para ajudar as montadoras, e a presidente aprova. O que está sendo pensado agora é uma sucessão de erros. A Fazenda quer a redução do recolhimento compulsório ao Banco Central, para haver mais dinheiro para financiamento de automóveis; determinou que a Caixa e o Banco do Brasil facilitem os empréstimos; quer ampliar para mais de 60 meses as prestações para compra de carros. Vai conversar com os bancos para que eles ofereçam mais crédito.
O que está errado aí? Tudo! Recolhimento compulsório é para fazer política monetária. Quem deve decidir qual o volume de dinheiro que os bancos precisam manter no Banco Central é o Banco Central. É um regulador que ele sobe ou desce dependendo da necessidade de combater a inflação ou reativar a economia. Não pode ter como objetivo vender carro.
A carteira de financiamento de automóveis teve um aumento de mais de 100% na inadimplência. Saiu, no começo do ano passado, de 2,5% de atrasos com mais de 90 dias para 5,7%. Não é muito, mas o ritmo do crescimento assusta. É natural que os bancos - todos eles, inclusive os públicos - sejam mais seletivos na concessão dessa carteira até entender o que está acontecendo.
Cinco anos para comprar um automóvel é um prazo mais do que razoável. Incentivar o superendividamento das famílias por prazo longo demais apenas para esvaziar o pátio das montadoras é insensatez.
Banco do Brasil e Caixa não devem ser empurrados para aumentar a concessão de crédito. Devem fazê-lo se for o caso. A Fazenda tem que demonstrar que confia nos executivos aos quais delegou a administração dos dois bancos, ou então demiti-los. Mas o ministro da Fazenda não pode ser o executivo dos dois bancos. Só os administradores têm a visão global completa do que acontece nas instituições. A excessiva interferência já deu problemas.
No movimento de redução de juros, o governo acertou. Conversei com banqueiros privados que admitem que o spread estava alto demais. "Estávamos acomodados", disse-me um. Hoje, todos estão reduzindo as taxas. A decisão do governo quebrou a inércia e a acomodação, mas é preciso muito cuidado para evitar os excessos dos bancos públicos que os levem a desequilíbrios que já tiveram no passado. As bondades feitas pelos bancos públicos por ordem do governo no período inflacionário exigiram grandes capitalizações da Caixa e do Banco do Brasil no governo Fernando Henrique. As instituições foram saneadas com o seu, o meu, o nosso dinheiro. A Caixa passará por nova limpeza de ativos por decisões tomadas recentemente.
A briga com os bancos é boa quando travada no campo técnico. Politizada e formatada para enfeitar palanques, vira um risco. Que o governo fique apenas na trincheira técnica, onde tem ido muito bem. Os altos spreads começaram a ser enfrentados no período Armínio Fraga, no Banco Central, quando o órgão começou a dar mais transparência às taxas, apostando que isso levaria à maior competição. Não deu o resultado desejado, ainda que a informação tenha ajudado o país a tomar mais consciência do problema.
O governo Lula, com o consignado e várias mudanças regulatórias na área do crédito imobiliário e na carteira de veículos, abriu o caminho para o aumento do crédito em relação ao PIB, que foi de 25% para 49%. Isso ajudou a começar a derrubar as taxas dos juros bancários. Mesmo assim, permaneceram altas demais. O governo Dilma, ao debater o tema abertamente e - aí sim - incentivar os bancos públicos a tomarem a dianteira na redução das taxas, criou um círculo virtuoso que já provocou frutos.
É fácil saber que o spread é alto demais, basta olhar as estatísticas. Há duas formas de medir o spread no Brasil - essa diferença entre o que os bancos pagam pelo capital que entregamos a eles e o que cobram quando pedimos dinheiro a eles. A primeira marca 28% e é divulgada na Nota de Política Monetária, mensalmente, pelo Banco Central. É ela que vale, porque abrange o crédito livre, que são as transações definidas livremente pelos bancos com pessoas físicas e jurídicas. Não entram na conta, por exemplo, o crédito imobiliário, que faz parte do Sistema Financeiro Habitacional, ou o crédito concedido pelo BNDES. Esse tipo de dinheiro é direcionado, tem taxa de juros pré-definidas. No caso do BNDES, o spread é negativo porque o banco empresta a uma taxa menor do que capta. A segunda metodologia, que marca 10%, é apenas regulatória, abrange todo o sistema financeiro, incluindo o crédito direcionado. É divulgada pelo BC de seis em seis meses no Relatório de Estabilidade Financeira, com o objetivo principal de medir a qualidade do sistema financeiro.
O país está crescendo pouco e o crédito é uma das ferramentas para reativar a economia. Mas ela tem que ser usada com precisão. Do contrário, cria problemas no futuro.
O PIB ficou estagnado no primeiro trimestre. É isso que mostraram os dados divulgados ontem pelo Banco Central. O governo vai agir e de novo pensa em medidas casuísticas e que beneficiem a indústria automobilística. A lei da oferta e da procura deveria valer para as montadoras. Se há carro demais no pátio, as empresas deveriam dar desconto, oferecer vantagens para atrair o consumidor, em vez de pedir socorro ao governo.
O Brasil não tem política industrial, tem política para a indústria automobilística. A cada engasgada da economia, os ministérios da Fazenda e do Desenvolvimento desenham medidas para ajudar as montadoras, e a presidente aprova. O que está sendo pensado agora é uma sucessão de erros. A Fazenda quer a redução do recolhimento compulsório ao Banco Central, para haver mais dinheiro para financiamento de automóveis; determinou que a Caixa e o Banco do Brasil facilitem os empréstimos; quer ampliar para mais de 60 meses as prestações para compra de carros. Vai conversar com os bancos para que eles ofereçam mais crédito.
O que está errado aí? Tudo! Recolhimento compulsório é para fazer política monetária. Quem deve decidir qual o volume de dinheiro que os bancos precisam manter no Banco Central é o Banco Central. É um regulador que ele sobe ou desce dependendo da necessidade de combater a inflação ou reativar a economia. Não pode ter como objetivo vender carro.
A carteira de financiamento de automóveis teve um aumento de mais de 100% na inadimplência. Saiu, no começo do ano passado, de 2,5% de atrasos com mais de 90 dias para 5,7%. Não é muito, mas o ritmo do crescimento assusta. É natural que os bancos - todos eles, inclusive os públicos - sejam mais seletivos na concessão dessa carteira até entender o que está acontecendo.
Cinco anos para comprar um automóvel é um prazo mais do que razoável. Incentivar o superendividamento das famílias por prazo longo demais apenas para esvaziar o pátio das montadoras é insensatez.
Banco do Brasil e Caixa não devem ser empurrados para aumentar a concessão de crédito. Devem fazê-lo se for o caso. A Fazenda tem que demonstrar que confia nos executivos aos quais delegou a administração dos dois bancos, ou então demiti-los. Mas o ministro da Fazenda não pode ser o executivo dos dois bancos. Só os administradores têm a visão global completa do que acontece nas instituições. A excessiva interferência já deu problemas.
No movimento de redução de juros, o governo acertou. Conversei com banqueiros privados que admitem que o spread estava alto demais. "Estávamos acomodados", disse-me um. Hoje, todos estão reduzindo as taxas. A decisão do governo quebrou a inércia e a acomodação, mas é preciso muito cuidado para evitar os excessos dos bancos públicos que os levem a desequilíbrios que já tiveram no passado. As bondades feitas pelos bancos públicos por ordem do governo no período inflacionário exigiram grandes capitalizações da Caixa e do Banco do Brasil no governo Fernando Henrique. As instituições foram saneadas com o seu, o meu, o nosso dinheiro. A Caixa passará por nova limpeza de ativos por decisões tomadas recentemente.
A briga com os bancos é boa quando travada no campo técnico. Politizada e formatada para enfeitar palanques, vira um risco. Que o governo fique apenas na trincheira técnica, onde tem ido muito bem. Os altos spreads começaram a ser enfrentados no período Armínio Fraga, no Banco Central, quando o órgão começou a dar mais transparência às taxas, apostando que isso levaria à maior competição. Não deu o resultado desejado, ainda que a informação tenha ajudado o país a tomar mais consciência do problema.
O governo Lula, com o consignado e várias mudanças regulatórias na área do crédito imobiliário e na carteira de veículos, abriu o caminho para o aumento do crédito em relação ao PIB, que foi de 25% para 49%. Isso ajudou a começar a derrubar as taxas dos juros bancários. Mesmo assim, permaneceram altas demais. O governo Dilma, ao debater o tema abertamente e - aí sim - incentivar os bancos públicos a tomarem a dianteira na redução das taxas, criou um círculo virtuoso que já provocou frutos.
É fácil saber que o spread é alto demais, basta olhar as estatísticas. Há duas formas de medir o spread no Brasil - essa diferença entre o que os bancos pagam pelo capital que entregamos a eles e o que cobram quando pedimos dinheiro a eles. A primeira marca 28% e é divulgada na Nota de Política Monetária, mensalmente, pelo Banco Central. É ela que vale, porque abrange o crédito livre, que são as transações definidas livremente pelos bancos com pessoas físicas e jurídicas. Não entram na conta, por exemplo, o crédito imobiliário, que faz parte do Sistema Financeiro Habitacional, ou o crédito concedido pelo BNDES. Esse tipo de dinheiro é direcionado, tem taxa de juros pré-definidas. No caso do BNDES, o spread é negativo porque o banco empresta a uma taxa menor do que capta. A segunda metodologia, que marca 10%, é apenas regulatória, abrange todo o sistema financeiro, incluindo o crédito direcionado. É divulgada pelo BC de seis em seis meses no Relatório de Estabilidade Financeira, com o objetivo principal de medir a qualidade do sistema financeiro.
O país está crescendo pouco e o crédito é uma das ferramentas para reativar a economia. Mas ela tem que ser usada com precisão. Do contrário, cria problemas no futuro.
Dilemas da Justiça - HÉLIO SCHWARTSMAN
FOLHA DE SP - 19/05
SÃO PAULO - É com imenso atraso que comento a decisão doSuperior Tribunal de Justiça (STJ) de obrigar um pai a indenizar a filha em R$ 200 mil por abandono afetivo. O que me interessa aqui não é o caso concreto, mas a concepção filosófica de direito que está soprando em Brasília.
Com esse acórdão, o STJ está dizendo que é função do Judiciárioinduzir os cidadãos a ser virtuosos (prover os filhos com afeto e não só com os meios de subsistência). É uma afirmação complicada e com importantes implicações.
Demorei tanto a discutir o caso porque quis antes terminar de ler "Justiça: O Que É Fazer a Coisa Certa", de Michael Sandel, em que o autor defende justamente que adotemos uma ética baseada na virtude.
O livro é excelente, mas não me convenceu inteiramente. Sandel expõe com maestria os pontos fortes e os problemas de vários sistemas éticos e teorias da justiça, com destaque para o utilitarismo e as visões de Immanuel Kant e John Rawls.
Sandel sustenta que esses modelos pecam por tentar aplicar ao Estado e à Justiça uma neutralidade impossível, que evita emitir juízos morais. Um exemplo: não se discute se o casamento homossexual é certo ou errado, mas, sim, se os gays devem ter ou não direito a ele. Para o autor, precisamos, como ensinava Aristóteles há quase 2.500 anos, julgar as coisas segundo os seus propósitos, isto é, segundo uma ética da virtude.
Em termos puramente filosóficos, Sendel tem razão. É impossível renunciar aos juízos de valor e nós não o fazemos na maioria de nossas interações sociais. Quando se trata de legislar e sentenciar, porém, acho que vale a pena insistir na neutralidade, isto é, na ideia de que não cabe ao Estado determinar como o cidadão deve viver sua vida. Ainda que ela tenha algo de ficcional, incute um pouco de prudência a parlamentares e juízes, o que tende a reduzir o ímpeto daqueles que pretendem impor suas verdades pessoais a todos.
Fogo amigo: grana, fama e você - MARCELO RUBENS PAIVA
O ESTADÃO - 19/05
Só pode ter sido uma piada a Newsweek designar na capa Obama com um halo sobre a cabeça da cor do arco-íris como O Primeiro Presidente Gay, na semana em que o mesmo defendeu a união entre pessoas do mesmo sexo – em plena acirrada e nada definida campanha eleitoral.
Meses antes, insinuaram no Washington Post que Richard Nixon tinha um relacionamento de natureza homossexual com seu melhor amigo, Charles "Bebe" Rebozo.
Prova? Don Fulsom, repórter de rádio que cobriu a Casa Branca de Lyndon Johnson a Bill Clinton, lançou suspeitas depois de ver fotos dos dois "guys" de mãos dadas.
O site do History Chanel postou texto do sociólogo Jim Loewen que afirma que James Buchanan, o 15.º presidente (1857–1861), foi o primeiro e viveu muitos anos em Washington com o senador do Alabama, William Rufus King. Eram tão grudados que os chamavam de irmãos siameses.
Prova? Uma carta que Buchanan escreveu para a senhora Theodore Roosevelt, descoberta pelo historiador John Howard (de Men Like That) reclamando que sua vida social se deteriorou depois que King mudou para a França.
"Eu estou agora sozinho e solitário, sem nenhuma companhia nesta casa comigo. Tenho ido cortejar vários cavaleiros, mas não sou bem-sucedido com nenhum deles. Acho que não é bom para um homem ficar sozinho; e não ficarei surpreso comigo mesmo se me encontrar casado com uma velha empregada que pode cuidar de mim quando eu ficar doente, fazer bons jantares e não esperar nenhuma afeição romântica ou muito ardente."
Gay? E daí? Parte da sociedade americana relevava e chamava seu parceiro de "Cara-Metade" e "Tia Chique".
O que levou a Newsweek, publicação nem muito à direita, a, como diria o personagem Carlos Massaranduba (Casseta & Planeta), duvidar da masculinidade do senhor Michelle Obama? Vender revistas.
O educado gesto editorial de indicar as fontes e apurar a notícia com o maior número de provas desceu os degraus do inferno. O que vale é a informação chegar primeiro aos olhos e ouvidos do maior número possível de pessoas, falsa ou verdadeira, e causar um bas-fond. Com técnicas de espionagem até.
Isenção? Qualquer manual de teoria da comunicação e semiologia prova que é impossível isenção quando existe emissor na mensagem.
Durante muito tempo eu preferi preencher "jornalista" como profissão em formulários ou fichas de hotéis. Não só porque "escritor" não tem pinta de profissão, mas de estado de pobreza, como achava digno me apresentar como colega daqueles caras que derrubaram Nixon, Collor, cobriram guerras, foram censurados e perseguidos por ditadores facínoras.
Hoje, nos tumultuados almoços da família, passo mais tempo dando explicações do que saboreando as novas receitas. Graças às redes sociais, até as tias descobriram a relação faustiana secular entre jornalistas & poder e se indigna. Me acusam agora de trabalhar há mais de 30 anos para uma facção golpista.
A imprensa está em pé de guerra. Bandeiras já foram proibidas. Logo, logo, a bebida alcoólica também será, em encontros da classe. Como nos estádios. Aliás, também tenho que defender colegas acusados pelos meus primos de serem simpáticos a este ou aquele time de futebol.
No Brasil, há suspeitas de que bicheiros, banqueiros e empreiteiros pautem jornalistas, indiquem em qual página ou coluna deve ir uma nota. No Twitter, uma militância animada costuma enquadrar a revista semanal 1 no trending topics, lista de assuntos mais debatidos, e defender a coragem da revista 2, que denunciou a primeira.
Revistas se acusam de manipulação e associação com o crime organizado. Jornalistas são acusados de espionarem para a CIA, KGB, MI6, Mossad, Abin, para a oposição, empreiteiras, telefônicas e o diabo.
Até um grupo de esquerda, a União da Juventude Socialista, fez manifestação em frente da sede da editora da revista 1 na semana passada, pedindo que a mesma fosse ouvida na CPI instalada recentemente.
E publicou no seu site: "Crime é fazer grampos e gravações ilegais, armar licitações públicas, plantar falsas denúncias em meios de comunicação de massa. Isso tudo apenas para garantir os interesses de bicheiros, donos da mídia e empreiteiros."
A independência que a rede possibilita (e possibilita a rede) leva um número grande de jornalistas a relatar os desvios das redações, acusar ex-patrões, a falta de democratização do meio e provar, mais do que tudo, que a classe nunca esteve tão desunida.
Nem Clark Kent, que hoje deve trabalhar num site de celebridades, conseguiria argumentos que defendessem desvios dos colegas. E voltei a ser "escritor" em formulários e fichas de hotéis. Mais simples assim.
***
Enquanto o mercado se pega antes do páreo, tem cavalo que já largou e corre sossegado. O site Huffingtonpost descobriu como poucos a usar a chamada hiperconectividade.
O portal de notícias fundado por Arianna Huffington agrega blogueiros independentes de todos os credos. Na coluna da esquerda da capa, há links para mais de 40 blogs. Obama, Hillary Clinton, Norman Mailer, Saskia Sassen, John Cusack e Bill Mahern são alguns dos "colunistas".
Já tem mais acesso do que o "sólido" New York Times. Foi vendido em 2011 para o AOL por R$ 630 milhões. O mais incrível? O site não pagar um mísero centavo aos colaboradores, enquanto Arianna ganha R$ 8 milhões por ano. Isso, sim, é um negócio da China. Ou a malandragem da rede.
***
Não existe romantismo no jornalismo. Com a transformação do ??formado do que conhecíamos como imprensa, o atual bate-boca lembra o empurra-empurra para os poucos botes do Titanic. Se está ruim, neguinho sentirá saudades dos tempos em que, por incrível que pareça, havia uma relativa ética.
Muita gente se surpreendeu esta semana com a foto grotesca de um garoto de 10 anos de Uganda, que sofre de elefantíase, cujas pernas cresceram mais do que o esperado, na capa do Mail Online, site do tradicional e caretão jornal inglês Daily Mail.
Meu colega de USP e editor do Fantástico, Álvaro Pereira Júnior, escreveu na Ilustrada sobre a fórmula do sucesso do site, que também derrubou a audiência do New York Times:
"1) Mandou para o quinto dos infernos regras básicas de diagramação e edição. A home page é uma zona, cheia de títulos compridos, quase sempre em azul, e praticamente sem hierarquia de assuntos. 2) O Mail Online, da internet, não tem quase nada a ver com o Daily Mail impresso. É feito por outra equipe, com outro editor-chefe e outra pegada."
Álvaro compara a cria ao criador. Enquanto a versão das bancas fala de política e cobre celebridades com certa discrição, a online se lixa para política e prioriza as fofocas numa longa coluna fixa à direita. "É divertido, leve. Seus textos, tantos deles irresistíveis, são reproduzidos no mundo inteiro, nem sempre com o devido crédito", comenta.
A que preço? Como cantava Plebe Rude, banda de Brasília: "Você me comprou, pôs meu talento à venda. Você me ensinou que o importante é a renda. Contrato milionário, grana, fama e mulheres. A música não importa, o importante é a renda! Ambição: grana, fama e você."
A oportunidade diante de nós - ROQUE MESQUITA
O Estado de S.Paulo - 19/05
Acelerar o trabalho do Judiciário sem perda de qualidade é a meta a que se propôs todo o corpo da Justiça, envolvendo magistrados, escreventes e os demais funcionários lotados nas estruturas dos Tribunais de Justiça espalhados por todo o Brasil. O principal beneficiário desse esforço conjunto de todos os servidores da Justiça, indiferentemente à sua posição no organograma, é o cidadão, que merece atendimento de qualidade e no tempo adequado ao século em que vivemos.
Rapidez e qualidade devem andar de mãos dadas, a bem da justiça. E em São Paulo estamos diante de uma oportunidade de ouro para dar um grande salto nesse sentido.
Verdade seja dita: desde a chegada do desembargador Ivan Sartori à presidência do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), em matéria de qualidade o relógio tem corrido apressado e com precisão, recuperando tempo perdido e buscando acertar cada vez mais em suas decisões. Mas voltemos ao tempo presente e a essa oportunidade que surgiu de modernizar o nosso Judiciário. Com a aprovação pela Assembleia Legislativa da criação de 2.199 vagas de assistente judiciário para atender aos tribunais de primeira instância criou-se um problema, que pode ser transformado em solução, beneficiando o conjunto da sociedade. Vamos examiná-lo atentamente.
A medida aprovada pelos deputados estaduais e sancionada pelo governador Geraldo Alckmin é excelente e soluciona um problema antigo ao dar suporte mais que merecido aos juízes de primeiro grau, ação bastante aplaudida pela Associação Paulista de Magistrados (Apamagis) como representante de todos os juízes. Para quem não conhece a Justiça por dentro é bom saber que as condições atuais de trabalho desses magistrados impressiona.
Nas mãos de cada um desses juízes estão mais de 9 mil processos, que ganharão o suporte do assistente judiciário, um funcionário de confiança do magistrado que estuda cada processo que entra, pesquisa a jurisprudência correspondente e produz um relatório dando seu parecer sobre o caminho que poderá seguir a ação. O juiz, de posse desse trabalho, lê o relatório e a partir da reunião das informações contidas nos autos e da sugestão do parecer do assistente jurídico toma sua decisão, formulando a sentença final.
Em resumo, o assistente judiciário dinamiza o andamento da Justiça, em benefício da sociedade. Funciona assim com os desembargadores, funcionará assim com os juízes de primeira instância. Seria um passo importante para reduzir o tempo de espera do cidadão pela resposta da Justiça à sua demanda. Seria, talvez não seja. Porque é aí também que surge o problema.
A lei sancionada pelo governador determina que os 2.199 cargos sejam preenchidos exclusivamente por escreventes já concursados, o que reduziria os custos de contratação, porque eles receberão uma comissão a mais pelo novo trabalho. É lícito imaginar que, dada a importância da tarefa, os juízes de primeiro grau escolherão os melhores e mais experientes escreventes de suas equipes, desfalcando os cartórios em 2.199 profissionais. Cumpre lembrar que, mesmo que fosse adotado o critério que rege esse tipo de contratação na segunda instância - bacharel à escolha livre do desembargador -, a seleção dos juízes obedeceria a critérios técnicos rigorosos, porque não se trata de um cargo de prestígio político, e sim de muito trabalho duro. De qualquer forma, o efeito colateral imediato do desfalque de pessoal nos cartórios será a queda da produtividade nessas repartições por falta de pessoal qualificado, e - examinando a estatística do TJSP - sem a menor esperança de melhorar.
Em 2010 deram entrada 4,6 milhões de novos casos em primeira instância, ante 3,9 milhões de processos no ano anterior. Isso representa um acréscimo de 700 mil casos. Em resumo, como se diz na Praça da Sé, será um cobertor de pobre, cobrindo a cabeça e descobrindo o pé. Resfriado na certa.
A solução em que muitos pensam de imediato passa pela realização de uma nova rodada de concurso - que custa dinheiro organizar - e pela nomeação de mais 2.199 escreventes para as vagas abertas. Um inchaço na estrutura do Estado, que muitos se podem perguntar se é compatível com o São Paulo que queremos no século 21.
Porém, onde alguns enxergam crise, outros vislumbram oportunidade, no caso específico, a de tornar o aparelho judiciário de São Paulo mais moderno e mais eficiente. Curiosamente, é justamente na falta de mais de 2 mil escreventes que reside a chance para o governo do Estado fazer do Judiciário paulista uma referência de modernidade para todo o País.
A solução passa pela informatização dos Fóruns. Há alguns anos isso poderia soar como teoria ou ficção. Mas uma volta pelo Fórum de São Luís do Paraitinga - um dos poucos digitais do nosso Estado - prova que o Judiciário vive bem com a tecnologia do século 21. Todo o andamento dos processos no cartório e no gabinete do juiz está mais ágil, o acesso à informação ficou mais preciso e, com isso, a estrutura se tornou mais enxuta e o tempo de resposta à justa demanda do cidadão também se reduziu. E o número de escreventes caiu pela metade, mas ninguém perdeu o emprego: as pessoas foram remanejadas para outras funções dentro do próprio Judiciário. Em outras palavras, ganhou-se eficiência.
No mundo atual o tempo tornou-se um bem muito precioso e o Judiciário precisa adaptar-se à expectativa da sociedade. Temos de ter a infraestrutura necessária para corresponder à expectativa do cidadão que vem à Justiça em busca do seu direito. A oportunidade está diante de nós e o governo do Estado de São Paulo pode ser, mais uma vez, o protagonista de um grande avanço e, como no passado, balizar o caminho dos demais Estados da União. Basta apertar o botão certo.
Comissão parlamentar em foco - WALTER CENEVIVA
FOLHA DE SP - 19/05
Se o Congresso se dispuser a apurar condutas irregulares, será possível o encontro da verdade
DOIS FATOS legais chamam nossa atenção nestes dias. O primeiro, sobre o mensalão, com a denúncia pelo Ministério Público a ser julgada no STF (Supremo Tribunal Federal). A preocupação maior está na esperança de ver inocentados os inocentes e punidos os culpados, no julgamento pela Justiça, sem que ninguém seja beneficiado pela prescrição de delitos comprovados. O segundo fato é o da comissão parlamentar, no começo de seus trabalhos, ainda centrados nas relações do duo Demóstenes e Cachoeira, com as dúvidas noticiadas. A agitação política tende a perturbar a compreensão da população, com a pluralidade das versões proclamadas.
Paira no ar o perigo da prescrição, no primeiro caso. No segundo, a semana tratou o rol dos envolvidos e dos liberados por acertos políticos. Não há deficiência da lei. A norma constitucional, reguladora das comissões parlamentares de inquérito, é rigorosa. Observada por inteiro, mesmo com a presença de membros dos partidos dos acusados, há meios para chegar à verdade, se afastada a política pela maioria.
No trabalho das comissões parlamentares permanentes (Constituição, art. 58), o andamento é geralmente estranho à atenção pública, mesmo sendo formadas sob o critério essencial de acolher "tanto quanto possível a representação proporcional dos partidos ou dos blocos parlamentares" em cada Casa do Congresso.
A comissão parlamentar de inquérito não é permanente. No passado os interesses políticos preponderavam, pondo dúvida sobre a seriedade do Poder Legislativo, levado, muitas vezes, pelas pressões externas. Em meu livro "Direito Constitucional Brasileiro" (Saraiva, 475 páginas) escrevi que "distintas das comissões ordinárias, as comissões parlamentares de inquérito, demais dos poderes investigatórios próprios das autoridades judiciais, têm outros, especiais e compatíveis com sua finalidade, previstos no regimento interno da Casa respectiva".
A expressão "poderes investigatórios próprios das autoridades judiciais" aponta a predominância da ação de levantar fatos e identificar seus autores, respeitada a ampla defesa e assegurado o contraditório, para identificar os culpados e preservar os não culpados. Tudo sob as regras do direito. Exemplo: na jurisprudência ficou admitido que a testemunha compromissada em dizer a verdade pode omiti-la ou manter-se em silêncio para não revelar fato que a incrimine. É um direito constitucional do interrogado.
O poder investigatório das comissões é limitado a fatos determinados. No livro mencionado escrevi que "se no trabalho investigativo afloram irregularidades não relacionadas com os elementos justificadores de sua criação, outra ou outras comissões poderão ser formadas para os averiguar. A requisição de informações bancárias e a quebra do sigilo incluem-se no rol dos direitos fundamentais". É bom que seja assim, por mais decepcionantes que sejam os acertos políticos dos interessados.
As regras constitucionais dão garantia de que, se o Congresso se dispuser a apurar condutas irregulares, será possível o encontro da verdade, para separar o joio do trigo e elogiar a apuração de culpas e inocências. Se houver erros ou distorções, a culpa será dos aplicadores da lei e não da própria lei.
Se o Congresso se dispuser a apurar condutas irregulares, será possível o encontro da verdade
DOIS FATOS legais chamam nossa atenção nestes dias. O primeiro, sobre o mensalão, com a denúncia pelo Ministério Público a ser julgada no STF (Supremo Tribunal Federal). A preocupação maior está na esperança de ver inocentados os inocentes e punidos os culpados, no julgamento pela Justiça, sem que ninguém seja beneficiado pela prescrição de delitos comprovados. O segundo fato é o da comissão parlamentar, no começo de seus trabalhos, ainda centrados nas relações do duo Demóstenes e Cachoeira, com as dúvidas noticiadas. A agitação política tende a perturbar a compreensão da população, com a pluralidade das versões proclamadas.
Paira no ar o perigo da prescrição, no primeiro caso. No segundo, a semana tratou o rol dos envolvidos e dos liberados por acertos políticos. Não há deficiência da lei. A norma constitucional, reguladora das comissões parlamentares de inquérito, é rigorosa. Observada por inteiro, mesmo com a presença de membros dos partidos dos acusados, há meios para chegar à verdade, se afastada a política pela maioria.
No trabalho das comissões parlamentares permanentes (Constituição, art. 58), o andamento é geralmente estranho à atenção pública, mesmo sendo formadas sob o critério essencial de acolher "tanto quanto possível a representação proporcional dos partidos ou dos blocos parlamentares" em cada Casa do Congresso.
A comissão parlamentar de inquérito não é permanente. No passado os interesses políticos preponderavam, pondo dúvida sobre a seriedade do Poder Legislativo, levado, muitas vezes, pelas pressões externas. Em meu livro "Direito Constitucional Brasileiro" (Saraiva, 475 páginas) escrevi que "distintas das comissões ordinárias, as comissões parlamentares de inquérito, demais dos poderes investigatórios próprios das autoridades judiciais, têm outros, especiais e compatíveis com sua finalidade, previstos no regimento interno da Casa respectiva".
A expressão "poderes investigatórios próprios das autoridades judiciais" aponta a predominância da ação de levantar fatos e identificar seus autores, respeitada a ampla defesa e assegurado o contraditório, para identificar os culpados e preservar os não culpados. Tudo sob as regras do direito. Exemplo: na jurisprudência ficou admitido que a testemunha compromissada em dizer a verdade pode omiti-la ou manter-se em silêncio para não revelar fato que a incrimine. É um direito constitucional do interrogado.
O poder investigatório das comissões é limitado a fatos determinados. No livro mencionado escrevi que "se no trabalho investigativo afloram irregularidades não relacionadas com os elementos justificadores de sua criação, outra ou outras comissões poderão ser formadas para os averiguar. A requisição de informações bancárias e a quebra do sigilo incluem-se no rol dos direitos fundamentais". É bom que seja assim, por mais decepcionantes que sejam os acertos políticos dos interessados.
As regras constitucionais dão garantia de que, se o Congresso se dispuser a apurar condutas irregulares, será possível o encontro da verdade, para separar o joio do trigo e elogiar a apuração de culpas e inocências. Se houver erros ou distorções, a culpa será dos aplicadores da lei e não da própria lei.
O marisco e a borboleta - NILSON DE SOUZA
ZERO HORA - 19/05
A batalha final, como gostava de prognosticar o saudoso Scliar, será provavelmente entre os catastrofistas e os céticos do meio ambiente. Sou marisco nesta história, mas tenho lido e ouvido coisas que confundem qualquer cabeça - mesmo a de um crustáceo, ou molusco, se é que eles a têm. A última, do lado dos ambientalistas, vem da organização Fundo Mundial para a Natureza (WWF), entidade internacional reconhecida por suas preocupações com a conservação global. Dizem os senhores da biodiversidade que, se continuarmos poluindo, desmatando e amontoando gente nas cidades, no ritmo que fazemos agora, precisaremos de três planetas em 2050. No caso de ficarmos só neste, a previsão é funesta: vão faltar comida, água, energia, e os coalas irão desaparecer.
Do outro lado, de parte dos descrentes, assisti outro dia a uma entrevista que Jô Soares fez com o climatologista Ricardo Augusto Felício, professor da Universidade de São Paulo, que em poucos minutos derrubou uma a uma todas as teses predatórias. Disse que o efeito estufa é a maior falácia científica da história, que o aquecimento global é uma invenção, que a tal camada de ozônio sequer existe e que não há prova científica de derretimento do gelo dos polos. Já tinha ouvido um outro ambientalista, o irmão do falecido Bussunda, dizer que é muita pretensão do ser humano achar que pode prejudicar o clima do planeta. Ele disse que sequer fazemos cócega na Terra com os nossos desmatamentos e o nosso desleixo, que o tempo do universo é muito diferente do tempo da humanidade e que o máximo que podemos fazer é mal a nós mesmos - do que não pode ter dúvida quem bebe água de um rio transformado em esgoto cloacal pela população que vive às suas margens.
Jô Soares, fazendo graça, perguntou ao seu entrevistado se os puns dos carneiros da Nova Zelândia não produziriam um "apuncalipse", provocando gargalhadas.
Também ri, evidentemente, mas o deboche me acendeu aquele medo atávico do tempo em que minha mãe cobria os espelhos nos dias de tempestade. Depois de ver aquele tsunami que alagou meio Japão, não duvido de mais nada. Como vou saber se tudo aquilo não foi provocado por uma borboleta que bateu as asas com força demais em algum cafundó do Judas, como apregoa a célebre teoria do caos?
Dos cientistas e dos ambientalistas, pela mostra acima, é que não virá uma resposta convincente, pois eles divergem em gênero, número e gracinhas. E sequer são capazes de encontrar logo os outros dois planetas que poderão nos salvar em 2050.
Do outro lado, de parte dos descrentes, assisti outro dia a uma entrevista que Jô Soares fez com o climatologista Ricardo Augusto Felício, professor da Universidade de São Paulo, que em poucos minutos derrubou uma a uma todas as teses predatórias. Disse que o efeito estufa é a maior falácia científica da história, que o aquecimento global é uma invenção, que a tal camada de ozônio sequer existe e que não há prova científica de derretimento do gelo dos polos. Já tinha ouvido um outro ambientalista, o irmão do falecido Bussunda, dizer que é muita pretensão do ser humano achar que pode prejudicar o clima do planeta. Ele disse que sequer fazemos cócega na Terra com os nossos desmatamentos e o nosso desleixo, que o tempo do universo é muito diferente do tempo da humanidade e que o máximo que podemos fazer é mal a nós mesmos - do que não pode ter dúvida quem bebe água de um rio transformado em esgoto cloacal pela população que vive às suas margens.
Jô Soares, fazendo graça, perguntou ao seu entrevistado se os puns dos carneiros da Nova Zelândia não produziriam um "apuncalipse", provocando gargalhadas.
Também ri, evidentemente, mas o deboche me acendeu aquele medo atávico do tempo em que minha mãe cobria os espelhos nos dias de tempestade. Depois de ver aquele tsunami que alagou meio Japão, não duvido de mais nada. Como vou saber se tudo aquilo não foi provocado por uma borboleta que bateu as asas com força demais em algum cafundó do Judas, como apregoa a célebre teoria do caos?
Dos cientistas e dos ambientalistas, pela mostra acima, é que não virá uma resposta convincente, pois eles divergem em gênero, número e gracinhas. E sequer são capazes de encontrar logo os outros dois planetas que poderão nos salvar em 2050.
Fala, Dilma! - CRISTOVAM BUARQUE
O GLOBO - 19/05
Em debate na UnB, o embaixador Correa do Lago pediu dez sugestões para o discurso que a presidente Dilma fará na abertura da Rio+20. As minhas sugestões foram:
1. O discurso deve começar pela frase: "A Humanidade está em risco." As crises ambiental e financeira estão mostrando que se esgotou o casamento promovido pela civilização industrial entre a democracia, a justiça social, o crescimento econômico e o avanço técnico-científico. Durante a Guerra Fria, havia forças que tentavam parar a marcha da insensatez para a guerra nuclear. Agora, a marcha da insensatez parece não ter adversários. A voracidade do lucro e do consumo se alinha, conduzindo o mundo para o aquecimento global, o desemprego, a migração e a desigualdade.
2. Se nesta reunião os chefes de Estado e de governo pensarem apenas como políticos, olhando para os problemas do curto prazo e do local, e não como líderes da Humanidade, olhando adiante, estaremos sacrificando uma imensa oportunidade. A Humanidade não pode continuar definindo seu futuro com base no tamanho do PIB de seus países. É preciso redefinir o conceito de progresso, encontrar novos critérios e índices que meçam de fato o bem-estar, a paz, o emprego e a harmonia .
3. Precisamos de uma Política Fiscal Verde Internacional. Não faz sentido que impostos sobre produtos fósseis tenham as mesmas alíquotas que produtos harmônicos com a natureza. Mas a gravidade de um mundo global exige que a Política Fiscal Verde seja resultado de um acordo mundial. A Rio+20 deve ser o momento para esta ideia ser considerada.
4. Certos patrimônios, como grandes florestas, oceanos e os polos geográficos devem ser protegidos da ganância e ficar livres de depredação. Nossos países são partes do Condomínio Terra. Acordos internacionais devem limitar a própria soberania nacional no que se refere ao uso dos patrimônios nacionais que tenham impacto sobre a vida e o bem-estar .
5. O mundo tem um Tribunal em Haia para julgar os crimes cometidos por ditadores contra a Humanidade. Precisamos de um tribunal para julgar os crimes contra a Humanidade cometidos por agentes econômicos.
6. Em 1945, os estadistas foram capazes de um plano econômico que canalizou recursos para a reconstrução industrial da Europa devastada pela Segunda Guerra. É hora de uma nova ousadia para evitar a devastação que se avizinha, criada pelo próprio tipo de progresso depredador, concentrador e instável. Só uma geração com uma nova educação vai barrar a marcha da insensatez da degradação ambiental e da desigualdade social. O mundo precisa fazer uma radical reforma educacional em todos seus níveis e em todos os países. Precisamos de um Plano Marshall Global para a educação das crianças.
7. Não podemos adiar a criação de um Fundo Mundial, com base na Taxa Tobin, para apoio à educação, ao meio ambiente e à pobreza. Além de mais estabilidade ao sistema financeiro enlouquecido, este fundo servirá para captar recursos necessários para os projetos em direção a um novo tipo de desenvolvimento.
8. É preciso implantar um Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento Humano, capaz de acompanhar e influir no desenvolvimento, incluindo o equilíbrio ecológico e a educação por toda a vida como partes do conceito de direitos humanos.
9. Além disso, deve-se instalar no Rio, como legado da Rio+20, um Instituto Internacional para Estudos sobre o Futuro da Humanidade, de preferência dentro da família da Universidade da ONU.
10. A Humanidade não pode continuar assistindo à vergonha de um avanço científico e tecnológico que amplia a desigualdade. Sem limitar o avanço que se consegue graças ao incentivo das patentes privadas, é preciso criar um fundo público que permita financiar o acesso de toda a Humanidade às descobertas científicas, especialmente na área da saúde.
Fala por nós, presidente. Mesmo que os líderes mundiais não a ouçam hoje. Politicamente, a força moral de sua fala, em nosso nome, ficará para o futuro, como um grito pela sensatez no mundo.
1. O discurso deve começar pela frase: "A Humanidade está em risco." As crises ambiental e financeira estão mostrando que se esgotou o casamento promovido pela civilização industrial entre a democracia, a justiça social, o crescimento econômico e o avanço técnico-científico. Durante a Guerra Fria, havia forças que tentavam parar a marcha da insensatez para a guerra nuclear. Agora, a marcha da insensatez parece não ter adversários. A voracidade do lucro e do consumo se alinha, conduzindo o mundo para o aquecimento global, o desemprego, a migração e a desigualdade.
2. Se nesta reunião os chefes de Estado e de governo pensarem apenas como políticos, olhando para os problemas do curto prazo e do local, e não como líderes da Humanidade, olhando adiante, estaremos sacrificando uma imensa oportunidade. A Humanidade não pode continuar definindo seu futuro com base no tamanho do PIB de seus países. É preciso redefinir o conceito de progresso, encontrar novos critérios e índices que meçam de fato o bem-estar, a paz, o emprego e a harmonia .
3. Precisamos de uma Política Fiscal Verde Internacional. Não faz sentido que impostos sobre produtos fósseis tenham as mesmas alíquotas que produtos harmônicos com a natureza. Mas a gravidade de um mundo global exige que a Política Fiscal Verde seja resultado de um acordo mundial. A Rio+20 deve ser o momento para esta ideia ser considerada.
4. Certos patrimônios, como grandes florestas, oceanos e os polos geográficos devem ser protegidos da ganância e ficar livres de depredação. Nossos países são partes do Condomínio Terra. Acordos internacionais devem limitar a própria soberania nacional no que se refere ao uso dos patrimônios nacionais que tenham impacto sobre a vida e o bem-estar .
5. O mundo tem um Tribunal em Haia para julgar os crimes cometidos por ditadores contra a Humanidade. Precisamos de um tribunal para julgar os crimes contra a Humanidade cometidos por agentes econômicos.
6. Em 1945, os estadistas foram capazes de um plano econômico que canalizou recursos para a reconstrução industrial da Europa devastada pela Segunda Guerra. É hora de uma nova ousadia para evitar a devastação que se avizinha, criada pelo próprio tipo de progresso depredador, concentrador e instável. Só uma geração com uma nova educação vai barrar a marcha da insensatez da degradação ambiental e da desigualdade social. O mundo precisa fazer uma radical reforma educacional em todos seus níveis e em todos os países. Precisamos de um Plano Marshall Global para a educação das crianças.
7. Não podemos adiar a criação de um Fundo Mundial, com base na Taxa Tobin, para apoio à educação, ao meio ambiente e à pobreza. Além de mais estabilidade ao sistema financeiro enlouquecido, este fundo servirá para captar recursos necessários para os projetos em direção a um novo tipo de desenvolvimento.
8. É preciso implantar um Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento Humano, capaz de acompanhar e influir no desenvolvimento, incluindo o equilíbrio ecológico e a educação por toda a vida como partes do conceito de direitos humanos.
9. Além disso, deve-se instalar no Rio, como legado da Rio+20, um Instituto Internacional para Estudos sobre o Futuro da Humanidade, de preferência dentro da família da Universidade da ONU.
10. A Humanidade não pode continuar assistindo à vergonha de um avanço científico e tecnológico que amplia a desigualdade. Sem limitar o avanço que se consegue graças ao incentivo das patentes privadas, é preciso criar um fundo público que permita financiar o acesso de toda a Humanidade às descobertas científicas, especialmente na área da saúde.
Fala por nós, presidente. Mesmo que os líderes mundiais não a ouçam hoje. Politicamente, a força moral de sua fala, em nosso nome, ficará para o futuro, como um grito pela sensatez no mundo.
Tá feia a coisa! - TUTTY VASQUES
O Estado de S.Paulo - 19/05
Se somar o futebol de Vasco, Corinthians, Fluminense e Santos na rodada de meio de semana da Libertadores, não dá um time decente! Ninguém jogou absolutamente nada! A má fase dos brasileiros em campo parece que se agrava à medida que 2014 se aproxima!
Papo de moleque
Tem gente por aí maldando o torpedo que Cândido Vaccarezza mandou pro celular de Sérgio Cabral declarando que "você é nosso e nós somos teu". Bobagem! O deputado e o governador são amigos de infância. Pulavam carniça juntos e tudo!
Primeira pedra
Sem querer aqui defender o ministro Fernando Pimentel, se a gente for condenar toda autoridade que já brincou de aviãozinho com João Dória Júnior, vai precisar fazer um puxadinho na Papuda. O empresário, como se sabe, é o melhor amigo dos homens!
Austeridade total
União Europeia já fala em cortar até o colchão dos gregos. Em Atenas, como se sabe, ninguém mais guarda dinheiro no banco.
CCAG de rir
Como homem de rádio, profissional da palavra falada, Anthony Garotinho devia repensar a sigla do centro cultural que leva seu nome. CCAG, francamente, pode ser de rir, mas também de medo, de nome sujo na praça ou simples dor de barriga.
Não vai acontecer, mas que bom seria se a certa altura da CPI do Cachoeira seu relator, o deputado mineiro Odair Cunha, convocasse João Emanuel Carneiro para lhe conferir uma supervisão autoral: "Não estou dando conta desse trem aqui, não, sô!" - o deputado precisaria reconhecer tal limitação para pedir ajuda ao teledramaturgo da novela das 9.
Falta à CPI um roteiro como o de Avenida Brasil (TV Globo) para prender a atenção do brasileiro pelos próximos meses de exposição diária do assunto nas manchetes do noticiário. João Emanuel é craque nesse negócio!
No Congresso, como na televisão, não é fácil montar uma história que logo de cara põe em cena 51 personagens, 36 deles com sigilo quebrado, sugerindo uma intrincada rede de intrigas, maldades, conspirações, traições e mistério.
Lamentavelmente, o Brasil não produz CPIs com os mesmos cuidados de suas novelas. Nos folhetins de TV, como se sabe, o bandido quase sempre se dá mal no final: quando não vai preso, morre ou fica doido de pedra.
A ideia de recorrer ao auxílio luxuoso do melhor autor de novelas da atualidade chegou à internet na campanha "Chama o João, Odair!" Participe!
Já viu este filme
Alguém precisa tirar aquele copo d'água da frente do Pedro Simon na bancada parlamentar da CPI do Cachoeira. Ou o senador vai acabar ferindo a testa numa daquelas cabeçadas secas, pra frente, de cima pra baixo, que todo mundo dá quando cochila sentado.
Se somar o futebol de Vasco, Corinthians, Fluminense e Santos na rodada de meio de semana da Libertadores, não dá um time decente! Ninguém jogou absolutamente nada! A má fase dos brasileiros em campo parece que se agrava à medida que 2014 se aproxima!
Papo de moleque
Tem gente por aí maldando o torpedo que Cândido Vaccarezza mandou pro celular de Sérgio Cabral declarando que "você é nosso e nós somos teu". Bobagem! O deputado e o governador são amigos de infância. Pulavam carniça juntos e tudo!
Primeira pedra
Sem querer aqui defender o ministro Fernando Pimentel, se a gente for condenar toda autoridade que já brincou de aviãozinho com João Dória Júnior, vai precisar fazer um puxadinho na Papuda. O empresário, como se sabe, é o melhor amigo dos homens!
Austeridade total
União Europeia já fala em cortar até o colchão dos gregos. Em Atenas, como se sabe, ninguém mais guarda dinheiro no banco.
CCAG de rir
Como homem de rádio, profissional da palavra falada, Anthony Garotinho devia repensar a sigla do centro cultural que leva seu nome. CCAG, francamente, pode ser de rir, mas também de medo, de nome sujo na praça ou simples dor de barriga.
Não vai acontecer, mas que bom seria se a certa altura da CPI do Cachoeira seu relator, o deputado mineiro Odair Cunha, convocasse João Emanuel Carneiro para lhe conferir uma supervisão autoral: "Não estou dando conta desse trem aqui, não, sô!" - o deputado precisaria reconhecer tal limitação para pedir ajuda ao teledramaturgo da novela das 9.
Falta à CPI um roteiro como o de Avenida Brasil (TV Globo) para prender a atenção do brasileiro pelos próximos meses de exposição diária do assunto nas manchetes do noticiário. João Emanuel é craque nesse negócio!
No Congresso, como na televisão, não é fácil montar uma história que logo de cara põe em cena 51 personagens, 36 deles com sigilo quebrado, sugerindo uma intrincada rede de intrigas, maldades, conspirações, traições e mistério.
Lamentavelmente, o Brasil não produz CPIs com os mesmos cuidados de suas novelas. Nos folhetins de TV, como se sabe, o bandido quase sempre se dá mal no final: quando não vai preso, morre ou fica doido de pedra.
A ideia de recorrer ao auxílio luxuoso do melhor autor de novelas da atualidade chegou à internet na campanha "Chama o João, Odair!" Participe!
Já viu este filme
Alguém precisa tirar aquele copo d'água da frente do Pedro Simon na bancada parlamentar da CPI do Cachoeira. Ou o senador vai acabar ferindo a testa numa daquelas cabeçadas secas, pra frente, de cima pra baixo, que todo mundo dá quando cochila sentado.
SOM E IMAGEM - MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 19/05
Já começaram a ser veiculados na Venezuela os filmes da propaganda eleitoral de Hugo Chávez dirigidos pelo brasileiro João Santana, marqueteiro de Lula e de Dilma Rousseff. O presidente venezuelano não aparece nas imagens -só a sua voz. Chávez está recolhido por conta do tratamento contra o câncer.
EXPORTAÇÃO
O marqueteiro brasileiro, por sinal, está na República Dominicana, que elege seu novo presidente amanhã. Santana fez campanha para Danilo Medina, que disputou com Hipólito Mejía.
REFORÇO
O publicitário Duda Mendonça contratou o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, para defendê-lo no julgamento do mensalão no STF (Supremo Tribunal Federal).
LIMITE
Duda, acusado de lavagem de dinheiro e evasão de divisas, está entre os réus que, se condenados, não teriam direito a penas alternativas, só à de prisão. É que, em seu caso, elas variariam de 8 a 32 anos -e a sanção alternativa é dada para período menor que quatro anos.
MEU PRESIDENTE
Val Marchiori, de "Mulheres Ricas", está "lançando" Geraldo Alckmin à sucessão de Dilma Rousseff. "Eu sou sua fã, você tem que ser o nosso presidente!", disse ela ao governador num evento anteontem. "Gosto da Dilma, mas sou fã é dele", afirma a rica. Val diz que acompanha as eleições "depois de perder muuuuuito dinheiro" no governo de Fernando Collor.
NEGÓCIO PRÓPRIO
Olin Batista, 17, filho caçula de Eike Batista com Luma de Oliveira, será o DJ de hoje da boate Sirena, em Maresias. O rapaz não vai mais à escola: cursa o segundo ano do ensino médio na empresa do pai. E diz ainda não pensar em vestibular.
Quer focar em sua carreira musical.
O HOMEM DO REI
Dieter Wiesner, empresário de Michael Jackson entre 1990 e 2000, vem a São Paulo na semana que vem para falar sobre o ex-cliente e lançar um novo dispositivo musical.
Ele ficará num hotel no Guarujá e usará um helicóptero para se locomover entre as duas cidades.
OSCAR DE CANÇÃO
Rodrigo Rodrigues, ex-apresentador do "Vitrine", da TV Cultura, e atualmente no comando do "Bate-Bola", da ESPN, lança em junho o "Almanaque da Música Pop no Cinema" (Lua de Papel). Entre as curiosidades narradas, está o desejo do diretor James Cameron em ter a cantora Enya na trilha sonora de "Titanic". Por causa de contratempos, Celine Dion a substituiu. A canção "My Heart Will Go On" virou um hit.
VIVA SEGALL
A mostra "Visões de Guerra", de Lasar Segall, foi inaugurada anteontem no Centro da Cultura Judaica. A curadora Suely Rolnik, a artista Elena Galvão e Benjamin Seroussi, diretor de programação do centro, circularam pelo evento.
CINQUENTINHA
O paisagista Marcelo Faisal lançou o livro "Fotos-Síntese" e comemorou seus 50 anos com festa em seu escritório, no Alto de Pinheiros. O chef Olivier Anquier e a namorada, a atriz Adriana Alves, passaram por lá.
CURTO-CIRCUITO
O Museu de Arte Sacra de São Paulo abre hoje a mostra "Luz da Fé - Fotógrafos Brasileiros Anos 80".
Elke Maravilha canta em cinco idiomas em show gratuito hoje, no Centro Cultural da Juventude Ruth Cardoso. 12 anos.
O Museu da Imagem e do Som promove amanhã sua Maratona Infantil, às 10h.
A BrazilFoundation ganha evento de gala hoje no Festival de Cannes.
com ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER e LÍGIA MESQUITA
Já começaram a ser veiculados na Venezuela os filmes da propaganda eleitoral de Hugo Chávez dirigidos pelo brasileiro João Santana, marqueteiro de Lula e de Dilma Rousseff. O presidente venezuelano não aparece nas imagens -só a sua voz. Chávez está recolhido por conta do tratamento contra o câncer.
EXPORTAÇÃO
O marqueteiro brasileiro, por sinal, está na República Dominicana, que elege seu novo presidente amanhã. Santana fez campanha para Danilo Medina, que disputou com Hipólito Mejía.
REFORÇO
O publicitário Duda Mendonça contratou o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, para defendê-lo no julgamento do mensalão no STF (Supremo Tribunal Federal).
LIMITE
Duda, acusado de lavagem de dinheiro e evasão de divisas, está entre os réus que, se condenados, não teriam direito a penas alternativas, só à de prisão. É que, em seu caso, elas variariam de 8 a 32 anos -e a sanção alternativa é dada para período menor que quatro anos.
MEU PRESIDENTE
Val Marchiori, de "Mulheres Ricas", está "lançando" Geraldo Alckmin à sucessão de Dilma Rousseff. "Eu sou sua fã, você tem que ser o nosso presidente!", disse ela ao governador num evento anteontem. "Gosto da Dilma, mas sou fã é dele", afirma a rica. Val diz que acompanha as eleições "depois de perder muuuuuito dinheiro" no governo de Fernando Collor.
NEGÓCIO PRÓPRIO
Olin Batista, 17, filho caçula de Eike Batista com Luma de Oliveira, será o DJ de hoje da boate Sirena, em Maresias. O rapaz não vai mais à escola: cursa o segundo ano do ensino médio na empresa do pai. E diz ainda não pensar em vestibular.
Quer focar em sua carreira musical.
O HOMEM DO REI
Dieter Wiesner, empresário de Michael Jackson entre 1990 e 2000, vem a São Paulo na semana que vem para falar sobre o ex-cliente e lançar um novo dispositivo musical.
Ele ficará num hotel no Guarujá e usará um helicóptero para se locomover entre as duas cidades.
OSCAR DE CANÇÃO
Rodrigo Rodrigues, ex-apresentador do "Vitrine", da TV Cultura, e atualmente no comando do "Bate-Bola", da ESPN, lança em junho o "Almanaque da Música Pop no Cinema" (Lua de Papel). Entre as curiosidades narradas, está o desejo do diretor James Cameron em ter a cantora Enya na trilha sonora de "Titanic". Por causa de contratempos, Celine Dion a substituiu. A canção "My Heart Will Go On" virou um hit.
VIVA SEGALL
A mostra "Visões de Guerra", de Lasar Segall, foi inaugurada anteontem no Centro da Cultura Judaica. A curadora Suely Rolnik, a artista Elena Galvão e Benjamin Seroussi, diretor de programação do centro, circularam pelo evento.
CINQUENTINHA
O paisagista Marcelo Faisal lançou o livro "Fotos-Síntese" e comemorou seus 50 anos com festa em seu escritório, no Alto de Pinheiros. O chef Olivier Anquier e a namorada, a atriz Adriana Alves, passaram por lá.
CURTO-CIRCUITO
O Museu de Arte Sacra de São Paulo abre hoje a mostra "Luz da Fé - Fotógrafos Brasileiros Anos 80".
Elke Maravilha canta em cinco idiomas em show gratuito hoje, no Centro Cultural da Juventude Ruth Cardoso. 12 anos.
O Museu da Imagem e do Som promove amanhã sua Maratona Infantil, às 10h.
A BrazilFoundation ganha evento de gala hoje no Festival de Cannes.
com ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER e LÍGIA MESQUITA
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