RIO DE JANEIRO - Dobra-se uma esquina e, em certos bairros, a história recua 150, 200 anos. Voltamos ao tempo dos tus e vós, das perucas empoadas, dos salões de paredes acortinadas, dos sapatos de fivela. Um Rio neoclássico se abre para nós. Claro, pode acontecer de um daqueles casarões que abrigam mais história do que suas paredes suportam ruir à menor brisa.
Foi o que se deu há dias com um prédio do século 19, na esquina de Lavradio e Relação. Outros edifícios, com muito menos história, também caíram em passado recente.
Não quer dizer que caminhar pelo velho centro carioca seja uma aventura. Ando por ele o tempo todo, e só não o faço de olhos fechados porque não quero perder uma fachada, um friso, um florão -guardiões de uma época em que a vida se passava mais em casa do que nas ruas-, e gosto de me perguntar quem morou, sofreu, amou ou morreu ali.
Séculos se passaram e, por desinteresse do poder público ou inadimplência de seus proprietários, muitos daqueles prédios se esfarinharam e caíram. Outros se salvaram por esse mesmo desinteresse ou pobreza -como ninguém queria saber deles, ficaram de pé, sabe-se como, e continuam entre nós. A Lapa, por exemplo, foi beneficiária desse abandono.
Com raras exceções, seus casarões não foram derrubados para dar lugar a caixotes envidraçados, símbolos do mau gosto modernista. Como estavam válidos, particulares voltaram suas vistas para eles e, há 20 anos, a Lapa começou a renascer.
O poder público se tocou e, ainda que timidamente, passou a fazer o seu papel: reformar a infraestrutura das ruas, ordenar sua ocupação e restaurar prédios -não poucos, aliás, de sua propriedade.
Ainda hoje, há cerca de cem casarões históricos precisando de escoras em todo o centro do Rio.
Os mortos que neles vivem não querem ser soterrados.
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