ZERO HORA - 03/11
Que honremos o fato de ter nascido, e que saibamos desde cedo que não basta rezar um Pai- Nosso para quitar as falhas que cometemos diariamente. Essa é uma forma preguiçosa de ser bom. O sagrado está na nossa essência, e se manifesta em nossos atos de boa-fé e generosidade, frutos de uma percepção profunda do universo, e não de ocasião. Se não estamos focados no bem, nossa aclamada religiosidade perde o sentido.
Que se perceba que quando estamos dançando, festejando, namorando, brindando, abraçando, sorrindo e fazendo graça, estamos homenageando a vida, e não a maculando. Que sejam muitos esses momentos de comemoração e alegria compartilhados, pois atraem a melhor das energias. Sentir-se alegre não deveria causar desconfiança, o espírito leve só enriquece o ser humano, pois é condição primordial para fazer feliz a quem nos rodeia.
Que estejamos sempre abertos, se não escancaradamente, ao menos de forma a possibilitar uma entrada de luz pelas frestas. Que nunca estejamos lacrados para receber o que a vida traz. Novidade não é sinônimo de invasão, deturpação ou violência. Acreditemos que o novo é elemento de reflexão: merece ser avaliado sem preconceito ou censura prévia.
Que tenhamos com a morte uma relação amistosa, já que ela não é apenas portadora de más notícias. Ela também ensina que não vale a pena se desgastar com pequenas coisas, pois no período de mais alguns anos estaremos todos com o destino sacramentado, invariavelmente. Perder tempo com picuinhas é só isso, perder tempo.
Que valorizemos nossos amigos mais íntimos, as verdadeiras relações pra sempre.
Que sejamos bem-humorados, porque o humor revela consciência da nossa insignificância – os que não sabem brincar se consideram superiores, porém não conquistam o respeito alheio que tanto almejam. Ria e engrandeça-se.
Que o mar esteja sempre azul, que o céu seja farto de estrelas, que o vinho nunca seja proibido, que o amor seja respeitado em todas as suas formas, que nossos sentimentos não sejam em vão, que saibamos apreciar o belo, que percebamos o ridículo das ideias estanques e inflexíveis, que leiamos muitos livros, que escutemos muita música, que amemos de corpo e alma, que sejamos mais práticos do que teóricos, mais fáceis do que difíceis, mais saudáveis do que neurastênicos, e que não tenhamos tanto medo da palavra felicidade, que designa apenas o conforto de estar onde se está, de ser o que se é e de não ter medo, já que o medo infecciona a mente.
Que nosso Deus, seja qual for, não nos condene, não nos exija penitências, seja um amigo para todas as horas, sem subtrair nossa inteligência, prazer e entrega às emoções que nos fazem sentir plenos.
A vida é um presente, e desfrutá-la com leveza, inteligência e tolerância é a melhor forma de agradecer – aliás, a única.
domingo, novembro 03, 2013
O feitiço contra o feiticeiro - FERREIRA GULLAR
FOLHA DE SP - 03/11
Há muito mais necessitados do que Lula pensava e todos passaram a querer também bolsa, casa, geladeira etc.
Sinceramente, você acha que Lula contava com tamanho descontentamento popular, após dez anos de governo petista?
Acredito que não. Pelo menos, é o que poderia deduzir dos tantos discursos que fez, quando presidente da República, e que foram repetidos depois por sua substituta, Dilma Rousseff, pelos ministros de ambos os governos e pelos dirigentes petistas. O Brasil nunca antes, em tempo algum, foi tão feliz. Por isso mesmo, insistem em fazer de conta que o descontentamento, que se manifesta todos os dias nas ruas, não tem nada a ver com eles.
Mas tudo tem limite. Por isso mesmo, Lula, esperto como é, veio a público dizer que, quando líder sindical, nunca participou de vandalismos. É verdade. Mas o problema maior, para ele, não é o vandalismo, que todo mundo condena.
O que é mais preocupante, para o governo, nessas manifestações, pelo que reivindicam e pelo que denunciam, é a demonstração de que algo deu errado nos governos petistas, que vieram para contentar os trabalhadores e o povão.
Não resta dúvida de que Lula, ao ampliar o assistencialismo com o Bolsa Família, ao aumentar o salário mínimo e tomar medidas estimuladoras do consumo, possibilitou a ascensão de um amplo número de pessoas a condições de vida um pouco melhores.
Esse fato teve reflexo positivo na vida econômica --mas no quadro social do país, como advertiram os economistas, tratava-se de uma melhoria momentânea, incapaz de ampliar-se e mesmo sustentar-se por muito tempo. É que os investimentos imprescindíveis em setores estruturais, de que depende o crescimento econômico efetivo, não foram feitos, certamente porque não trariam consigo o mesmo apelo eleitoral. Essa é uma característica do populismo, coisa antiga no Brasil.
A preocupação em conquistar o eleitor --e especialmente o eleitor mais carente e menos informado dos problemas do país-- foi desde o início a marca do governo petista. E não por acaso. Todos se lembram da declaração de José Dirceu, dada naquela época, garantindo que o PT ficaria no governo por 20 anos, pelo menos.
Dez anos, ele já ficou; quanto aos outros dez, pelo que se vê agora, restam sérias dúvidas. Mas, por isso mesmo, a preocupação essencial do governo Dilma é a mesma que a do governo Lula, mas com algumas concessões que foi obrigada a fazer, como privatizar aeroportos e, agora, permitir a participação de empresas privadas estrangeiras no leilão do campo de Libra.
Por suas raízes ideológicas, o PT nasceu sonhando com uma revolução do tipo cubana no Brasil e, consequentemente, contra o capitalismo. Foi difícil manter-se nessa posição, com as mudanças ocorridas no mundo, após queda do Muro de Berlim.
O radicalismo petista --que o levara a negar-se a assinar esta nova Constituição que está em vigor-- amainou-se após as sucessivas derrotas de Lula como candidato à Presidência da República. Ele obrigou o partido a recuar e passar a falar mais manso. Graças a isso, foi eleito e passou a viver um dilema: se se mantivesse esquerdista, não governaria. De qualquer modo, abraçava Bush e fazia questão de mostrar que sua verdadeira simpatia para Ahmadinejad.
Aqui dentro, a coisa era mais complicada: como privatizar os aeroportos se sempre condenara as privatizações? Mas tinha de fazê-lo e passou, então, a chamar as privatizações de "concessões" e pôr nelas exigências que as inviabilizavam. Agora, teve que recuar. Por outro lado, restava-lhe o caminho ambíguo do populismo chavista. E assim ampliou em vários milhões os beneficiados pelo Bolsa Família e financiou o consumismo das faixas mais pobres.
Sucede que, no Brasil, há muito mais necessitados do que Lula pensava e todos passaram a querer também bolsa, casa, geladeira, fogão, televisão de graça. Por outro lado, a economia exige que o Estado se abra à iniciativa privada. Ou faz isso, ou o país para de crescer. Aliás, já há quem preveja, para breve, crescimento zero.
Assim, Dilma abriu o leilão de Libra a empresas estrangeiras, o que foi certo, mas os operários do petróleo não pensam assim; pensam como Lula lhes ensinou: privatizar a exploração do petróleo é trair a pátria. Com essa ele não contava.
Há muito mais necessitados do que Lula pensava e todos passaram a querer também bolsa, casa, geladeira etc.
Sinceramente, você acha que Lula contava com tamanho descontentamento popular, após dez anos de governo petista?
Acredito que não. Pelo menos, é o que poderia deduzir dos tantos discursos que fez, quando presidente da República, e que foram repetidos depois por sua substituta, Dilma Rousseff, pelos ministros de ambos os governos e pelos dirigentes petistas. O Brasil nunca antes, em tempo algum, foi tão feliz. Por isso mesmo, insistem em fazer de conta que o descontentamento, que se manifesta todos os dias nas ruas, não tem nada a ver com eles.
Mas tudo tem limite. Por isso mesmo, Lula, esperto como é, veio a público dizer que, quando líder sindical, nunca participou de vandalismos. É verdade. Mas o problema maior, para ele, não é o vandalismo, que todo mundo condena.
O que é mais preocupante, para o governo, nessas manifestações, pelo que reivindicam e pelo que denunciam, é a demonstração de que algo deu errado nos governos petistas, que vieram para contentar os trabalhadores e o povão.
Não resta dúvida de que Lula, ao ampliar o assistencialismo com o Bolsa Família, ao aumentar o salário mínimo e tomar medidas estimuladoras do consumo, possibilitou a ascensão de um amplo número de pessoas a condições de vida um pouco melhores.
Esse fato teve reflexo positivo na vida econômica --mas no quadro social do país, como advertiram os economistas, tratava-se de uma melhoria momentânea, incapaz de ampliar-se e mesmo sustentar-se por muito tempo. É que os investimentos imprescindíveis em setores estruturais, de que depende o crescimento econômico efetivo, não foram feitos, certamente porque não trariam consigo o mesmo apelo eleitoral. Essa é uma característica do populismo, coisa antiga no Brasil.
A preocupação em conquistar o eleitor --e especialmente o eleitor mais carente e menos informado dos problemas do país-- foi desde o início a marca do governo petista. E não por acaso. Todos se lembram da declaração de José Dirceu, dada naquela época, garantindo que o PT ficaria no governo por 20 anos, pelo menos.
Dez anos, ele já ficou; quanto aos outros dez, pelo que se vê agora, restam sérias dúvidas. Mas, por isso mesmo, a preocupação essencial do governo Dilma é a mesma que a do governo Lula, mas com algumas concessões que foi obrigada a fazer, como privatizar aeroportos e, agora, permitir a participação de empresas privadas estrangeiras no leilão do campo de Libra.
Por suas raízes ideológicas, o PT nasceu sonhando com uma revolução do tipo cubana no Brasil e, consequentemente, contra o capitalismo. Foi difícil manter-se nessa posição, com as mudanças ocorridas no mundo, após queda do Muro de Berlim.
O radicalismo petista --que o levara a negar-se a assinar esta nova Constituição que está em vigor-- amainou-se após as sucessivas derrotas de Lula como candidato à Presidência da República. Ele obrigou o partido a recuar e passar a falar mais manso. Graças a isso, foi eleito e passou a viver um dilema: se se mantivesse esquerdista, não governaria. De qualquer modo, abraçava Bush e fazia questão de mostrar que sua verdadeira simpatia para Ahmadinejad.
Aqui dentro, a coisa era mais complicada: como privatizar os aeroportos se sempre condenara as privatizações? Mas tinha de fazê-lo e passou, então, a chamar as privatizações de "concessões" e pôr nelas exigências que as inviabilizavam. Agora, teve que recuar. Por outro lado, restava-lhe o caminho ambíguo do populismo chavista. E assim ampliou em vários milhões os beneficiados pelo Bolsa Família e financiou o consumismo das faixas mais pobres.
Sucede que, no Brasil, há muito mais necessitados do que Lula pensava e todos passaram a querer também bolsa, casa, geladeira, fogão, televisão de graça. Por outro lado, a economia exige que o Estado se abra à iniciativa privada. Ou faz isso, ou o país para de crescer. Aliás, já há quem preveja, para breve, crescimento zero.
Assim, Dilma abriu o leilão de Libra a empresas estrangeiras, o que foi certo, mas os operários do petróleo não pensam assim; pensam como Lula lhes ensinou: privatizar a exploração do petróleo é trair a pátria. Com essa ele não contava.
Cigarro - FÁBIO PORCHAT
O Estado de S.Paulo - 03/11
Sônia era fumante. Fumante inveterada. Três maços por dia era o exigido pelo corpo. Menos que isso e lá vinham as dores de cabeça, o mau humor e a impaciência. Dizia a todos que amava os filhos e o marido, mas que o cigarro era sua razão de viver. A família não apoiava, aliás, recriminava, e muito. Mas de nada adiantavam as reclamações. Os três a conheceram fumante e, no fim, era melhor ela feliz com do que irritada sem. Porque Sônia irritada era do tipo que magoava o próximo. Uns diziam que ela só entraria no céu com um cigarro aceso na mão, senão ia sobrar até pra Deus.
Certo dia, saindo do trabalho, ia caminhando pela calçada até o ponto de ônibus quando, de repente, um gol preto, cuspindo três pessoas encapuzadas, para em sua frente. Os três gritam: "Sequestro, sequestro".
Desesperada, obedeceu as ordens e entrou no carro. Tentou falar alguma coisa, mas foi interrompida pelos gritos de "cala a boca" dos sequestradores. Encapuzada, depois de algum tempo com o carro em movimento, engoliu o choro e pensou: "Meu Deus do céu, preciso de um cigarro. Não de um celular, não da policia, não da porra do Batman, mas de um cigarro." E, pior ainda, quanto tempo duraria essa confusão toda? Não, mesmo que durasse meses, sequestrador que é sequestrador fuma. No cinema, todo mundo que é mau fuma. Ficou mais tranquila. Na certa, chegando no cativeiro, dariam a ela comida, que facilmente poderia ser trocada por cigarro, como naqueles filmes americanos de cadeia.
Começou a imaginar todo o mercado negro de cigarros que iniciaria com os sequestradores. Por alguns momentos chegou a pensar até na venda do corpo, mas esse pensamento logo sumiu. Muito cedo para se pensar nessa possibilidade. Pensou, então, na família. No primeiro contato, avisaria que estava bem e que pagassem logo o resgate. Mas foi nesse momento que a ficha caiu e alguns pensamentos ruins tomaram conta de sua mente. E se eles a torturassem? Imaginou um poço, e ela lá embaixo, implorando por um cigarro, até que uma alma caridosa lhe atirasse um cigarro... Mas apagado. "Socorro, me tirem daqui!" Podia ouvir até o barulhinho das pedras batendo e ela, de cócoras, tentando fazer fogo sobre o cigarro.
O carro parou. Sônia ia dar um grito de desespero quando ouviu a voz do marido.
- Sônia, isso vai ser rápido. Só alguns dias.
- Jonas? - Falou, titubeante.
O capuz foi retirado. Conseguiu, então, ver os filhos e o marido fantasiados de sequestradores, já sem os capuzes. A luz do sol machucou seus olhos, mas não o suficiente para impedi-la de ver o que dizia a placa em frente a uma casa simples, com aparência de casa no campo:
"CASA DE RECUPERAÇÃO PARA FUMANTES"
- Nãããããããããããããooooooo!!!!!!
Preferia ter sido sequestrada.
***
Está em cartaz, nos cinemas, o meu filme Meu Passado me Condena, uma comédia romântica muito divertida! Estão todos convidados.
Sônia era fumante. Fumante inveterada. Três maços por dia era o exigido pelo corpo. Menos que isso e lá vinham as dores de cabeça, o mau humor e a impaciência. Dizia a todos que amava os filhos e o marido, mas que o cigarro era sua razão de viver. A família não apoiava, aliás, recriminava, e muito. Mas de nada adiantavam as reclamações. Os três a conheceram fumante e, no fim, era melhor ela feliz com do que irritada sem. Porque Sônia irritada era do tipo que magoava o próximo. Uns diziam que ela só entraria no céu com um cigarro aceso na mão, senão ia sobrar até pra Deus.
Certo dia, saindo do trabalho, ia caminhando pela calçada até o ponto de ônibus quando, de repente, um gol preto, cuspindo três pessoas encapuzadas, para em sua frente. Os três gritam: "Sequestro, sequestro".
Desesperada, obedeceu as ordens e entrou no carro. Tentou falar alguma coisa, mas foi interrompida pelos gritos de "cala a boca" dos sequestradores. Encapuzada, depois de algum tempo com o carro em movimento, engoliu o choro e pensou: "Meu Deus do céu, preciso de um cigarro. Não de um celular, não da policia, não da porra do Batman, mas de um cigarro." E, pior ainda, quanto tempo duraria essa confusão toda? Não, mesmo que durasse meses, sequestrador que é sequestrador fuma. No cinema, todo mundo que é mau fuma. Ficou mais tranquila. Na certa, chegando no cativeiro, dariam a ela comida, que facilmente poderia ser trocada por cigarro, como naqueles filmes americanos de cadeia.
Começou a imaginar todo o mercado negro de cigarros que iniciaria com os sequestradores. Por alguns momentos chegou a pensar até na venda do corpo, mas esse pensamento logo sumiu. Muito cedo para se pensar nessa possibilidade. Pensou, então, na família. No primeiro contato, avisaria que estava bem e que pagassem logo o resgate. Mas foi nesse momento que a ficha caiu e alguns pensamentos ruins tomaram conta de sua mente. E se eles a torturassem? Imaginou um poço, e ela lá embaixo, implorando por um cigarro, até que uma alma caridosa lhe atirasse um cigarro... Mas apagado. "Socorro, me tirem daqui!" Podia ouvir até o barulhinho das pedras batendo e ela, de cócoras, tentando fazer fogo sobre o cigarro.
O carro parou. Sônia ia dar um grito de desespero quando ouviu a voz do marido.
- Sônia, isso vai ser rápido. Só alguns dias.
- Jonas? - Falou, titubeante.
O capuz foi retirado. Conseguiu, então, ver os filhos e o marido fantasiados de sequestradores, já sem os capuzes. A luz do sol machucou seus olhos, mas não o suficiente para impedi-la de ver o que dizia a placa em frente a uma casa simples, com aparência de casa no campo:
"CASA DE RECUPERAÇÃO PARA FUMANTES"
- Nãããããããããããããooooooo!!!!!!
Preferia ter sido sequestrada.
***
Está em cartaz, nos cinemas, o meu filme Meu Passado me Condena, uma comédia romântica muito divertida! Estão todos convidados.
Concordo com Roberto Carlos - ADRIANA CALCANHOTTO
O GLOBO - 03/11
Em um ponto: diferentes pessoas vivendo a mesma coisa nunca contarão a mesma história, cada uma terá a sua versão
Em um ponto. Algumas passagens de uma biografia só mesmo o biografado é capaz de contar, só ele viveu aquilo daquele jeito.
Diferentes pessoas vivendo a mesma coisa nunca contarão a mesma história, cada uma terá a sua versão. Então acho que entendo o que Roberto Carlos quer dizer. Grande parte da minha biografia, por exemplo, contando ninguém acredita. Vamos a um episódio qualquer. Em 1987, em Porto Alegre, fiquei nua no show da Rita Lee no Gigantinho. Fato. Está nas páginas, na minha biografia e nas das milhares de pessoas que estavam no show. Está na biografia da minha mãe, embora ela na época não tenha achado a me-nor graça.
Na tarde do show ensaiei com a própria Rita, no palco vazio, a performance. Ela na frente dizendo:
— Sobe aqui, caminha por esta marcação no chão, tá vendo? Faz este caminho marcado com fita-crepe. Aqui nesta estrelinha desenhada no chão, você vem, bem na ponta do palco, abre a capa e fica nua pra 12 mil pessoas, falô?
— Só isso?
— Só, meu.
Disparei para arranjar uma capa. Sapato de saltão, ou sapatão de salto, se preferirem, gel pra espetar o cabelo blonde...
— O quê? Ah, sim, tô saindo sim. Vou ali no Gigantinho ficar pelada, não demoro, não.
Voltei para o ginásio. Nada foi muito complicado, calcei os sapatos e estava pronta. Fiquei assistindo debaixo do palco, à Rita cantando, inteiramente encapetada, incrível ver dali. Omitirei detalhes porque me basta o inevitável e não quero que advogados achem que estou publicando aqui parte da biografia dela e não da minha. Estou aqui humildemente inaugurando o gênero “autobiografias desautorizadas pela memória da própria escritora”.
Daqueles fatos lembro bem, ou melhor, jamais esqueceria. Rita fazendo um showzaço, Suely Aguiar, a melhor produtora do Brasil, ali ao lado… Já pensou? Um dia trabalhar com a Sue, ser uma dessas cantoras bem doidas com quem ela trabalha? Rita chamou a Miss Brasil 2000 ao palco. Subi, caminhei pela marcação, cheguei à estrelinha, fui até bem a ponta, abri a capa e fiquei nua para as 15, 12, 15, nunca sei, mil pessoas. Então virei para a banda e abri a capa para os músicos, não adianta, fui educada assim.
Isso é o que consta na minha biografia, nas páginas, com muitas testemunhas.
Desci e já no corredor dos vestiários em direção ao camarim…
— Adriana, você é a Adriana?
— Sim, você sabe que sim, acabou de me ver no palco.
— Não tem roupa nenhuma mesmo aí debaixo dessa capa?
— Não, você sabe que não. Com licença, por favor?
— Olha, eu fui advogado da Elis Regina e de outras estrelas da mú…
— Dá licença, por favor?
— E tava pensando… se a gente…
Eu não via jeito de escapar. O homem era enorme, estava bêbado e me encurralava contra a parede. Meu camarim, o úuultimo do corredor. Segurando a capa com as mãos e com os saltos altíssimos, não tinha ângulo para dar um golpe, digamos, baixo, e continuar equilibrada. Todas as atenções voltadas para o palco.
Passou um vulto pelo corredor e pensei “estou salva”, mas, como não voltou, concluí “estou frita”. Poderia aparecer alguém agora, meu Deus, um segurança, um biógrafo dando sopa, sei lá. De repente, do nada, no começo do corredor, Suely acende as luzes e pergunta:
— Meu, tá tudo bem aí?
Corri pro camarim tentando não perder o equilíbrio, o topete e a pose, em vão. Nem “muito obrigada, Suely” eu disse. Mas ela virou o “meu anjo Suely”, e daquele monstro o que ela fez eu jamais soube. Dela também fiquei sem saber, mas nunca a esqueci.
Creio então que o rei está certo, há passagens sobre as quais só o biografado poderá falar, ou parecerão, se escritas por outra pessoa, no meu caso, por exemplo, ficção — científica.
Mas concordo mesmo é com Joaquim Barbosa e Ana Maria Machado (e o seu livrinho) e acho que o importante mesmo é a conversa. Precisamos debater, atualizar, aprimorar as leis e, sobretudo, cumpri-las. Calúnias, difamações, inverdades e afins devem pesar no bolso de quem as publica, são inaceitáveis.
P.S.
Anos depois, 2002 mais precisamente, no Rio, em reunião no escritório do meu novo empresário, depois de conversarmos, ele disse:
— Tô animado, vamos lá. Vou chamar a sua produtora…Vem cá, Sue!
Sue? Como Sue? Não tinha entendido que Leo e Sue trabalhavam juntos. No show da Rita estava ocupada abrindo a capa, não me detive a certos detalhes, e, aos que me detive, cala-te boca. Mas Sue seria aquela Sue, a Sue-ly Aguiar, o meu anjo Suely?
Ela aparece na porta com um sorriso:
— E aí, meu?
Não posso contar essa história que choro toda vez.
Em um ponto: diferentes pessoas vivendo a mesma coisa nunca contarão a mesma história, cada uma terá a sua versão
Em um ponto. Algumas passagens de uma biografia só mesmo o biografado é capaz de contar, só ele viveu aquilo daquele jeito.
Diferentes pessoas vivendo a mesma coisa nunca contarão a mesma história, cada uma terá a sua versão. Então acho que entendo o que Roberto Carlos quer dizer. Grande parte da minha biografia, por exemplo, contando ninguém acredita. Vamos a um episódio qualquer. Em 1987, em Porto Alegre, fiquei nua no show da Rita Lee no Gigantinho. Fato. Está nas páginas, na minha biografia e nas das milhares de pessoas que estavam no show. Está na biografia da minha mãe, embora ela na época não tenha achado a me-nor graça.
Na tarde do show ensaiei com a própria Rita, no palco vazio, a performance. Ela na frente dizendo:
— Sobe aqui, caminha por esta marcação no chão, tá vendo? Faz este caminho marcado com fita-crepe. Aqui nesta estrelinha desenhada no chão, você vem, bem na ponta do palco, abre a capa e fica nua pra 12 mil pessoas, falô?
— Só isso?
— Só, meu.
Disparei para arranjar uma capa. Sapato de saltão, ou sapatão de salto, se preferirem, gel pra espetar o cabelo blonde...
— O quê? Ah, sim, tô saindo sim. Vou ali no Gigantinho ficar pelada, não demoro, não.
Voltei para o ginásio. Nada foi muito complicado, calcei os sapatos e estava pronta. Fiquei assistindo debaixo do palco, à Rita cantando, inteiramente encapetada, incrível ver dali. Omitirei detalhes porque me basta o inevitável e não quero que advogados achem que estou publicando aqui parte da biografia dela e não da minha. Estou aqui humildemente inaugurando o gênero “autobiografias desautorizadas pela memória da própria escritora”.
Daqueles fatos lembro bem, ou melhor, jamais esqueceria. Rita fazendo um showzaço, Suely Aguiar, a melhor produtora do Brasil, ali ao lado… Já pensou? Um dia trabalhar com a Sue, ser uma dessas cantoras bem doidas com quem ela trabalha? Rita chamou a Miss Brasil 2000 ao palco. Subi, caminhei pela marcação, cheguei à estrelinha, fui até bem a ponta, abri a capa e fiquei nua para as 15, 12, 15, nunca sei, mil pessoas. Então virei para a banda e abri a capa para os músicos, não adianta, fui educada assim.
Isso é o que consta na minha biografia, nas páginas, com muitas testemunhas.
Desci e já no corredor dos vestiários em direção ao camarim…
— Adriana, você é a Adriana?
— Sim, você sabe que sim, acabou de me ver no palco.
— Não tem roupa nenhuma mesmo aí debaixo dessa capa?
— Não, você sabe que não. Com licença, por favor?
— Olha, eu fui advogado da Elis Regina e de outras estrelas da mú…
— Dá licença, por favor?
— E tava pensando… se a gente…
Eu não via jeito de escapar. O homem era enorme, estava bêbado e me encurralava contra a parede. Meu camarim, o úuultimo do corredor. Segurando a capa com as mãos e com os saltos altíssimos, não tinha ângulo para dar um golpe, digamos, baixo, e continuar equilibrada. Todas as atenções voltadas para o palco.
Passou um vulto pelo corredor e pensei “estou salva”, mas, como não voltou, concluí “estou frita”. Poderia aparecer alguém agora, meu Deus, um segurança, um biógrafo dando sopa, sei lá. De repente, do nada, no começo do corredor, Suely acende as luzes e pergunta:
— Meu, tá tudo bem aí?
Corri pro camarim tentando não perder o equilíbrio, o topete e a pose, em vão. Nem “muito obrigada, Suely” eu disse. Mas ela virou o “meu anjo Suely”, e daquele monstro o que ela fez eu jamais soube. Dela também fiquei sem saber, mas nunca a esqueci.
Creio então que o rei está certo, há passagens sobre as quais só o biografado poderá falar, ou parecerão, se escritas por outra pessoa, no meu caso, por exemplo, ficção — científica.
Mas concordo mesmo é com Joaquim Barbosa e Ana Maria Machado (e o seu livrinho) e acho que o importante mesmo é a conversa. Precisamos debater, atualizar, aprimorar as leis e, sobretudo, cumpri-las. Calúnias, difamações, inverdades e afins devem pesar no bolso de quem as publica, são inaceitáveis.
P.S.
Anos depois, 2002 mais precisamente, no Rio, em reunião no escritório do meu novo empresário, depois de conversarmos, ele disse:
— Tô animado, vamos lá. Vou chamar a sua produtora…Vem cá, Sue!
Sue? Como Sue? Não tinha entendido que Leo e Sue trabalhavam juntos. No show da Rita estava ocupada abrindo a capa, não me detive a certos detalhes, e, aos que me detive, cala-te boca. Mas Sue seria aquela Sue, a Sue-ly Aguiar, o meu anjo Suely?
Ela aparece na porta com um sorriso:
— E aí, meu?
Não posso contar essa história que choro toda vez.
Guinada à direita - ANTONIO PRATA
FOLHA DE SP - 03/11
Você, cidadão de bem: junte-se a mim nesta nova Marcha da Família com Deus pela Liberdade
Há uma década, escrevi um texto em que me definia como "meio intelectual, meio de esquerda". Não me arrependo. Era jovem e ignorante, vivia ainda enclausurado na primeira parte da célebre frase atribuída a Clemenceau, a Shaw e a Churchill, mas na verdade cunhada pelo próprio Senhor: "Um homem que não seja socialista aos 20 anos não tem coração; um homem que permaneça socialista aos 40 não tem cabeça". Agora que me aproximo dos 40, os cabelos rareiam e arejam-se as ideias, percebo que é chegado o momento de trocar as sístoles pelas sinapses.
Como todos sabem, vivemos num totalitarismo de esquerda. A rubra súcia domina o governo, as universidades, a mídia, a cúpula da CBF e a Comissão de Direitos Humanos e Minorias, na Câmara. O pensamento que se queira libertário não pode ser outra coisa, portanto, senão reacionário. E quem há de negar que é preciso reagir? Quando terroristas, gays, índios, quilombolas, vândalos, maconheiros e aborteiros tentam levar a nação para o abismo, ou os cidadãos de bem se unem, como na saudosa Marcha da Família com Deus pela Liberdade, que nos salvou do comunismo e nos garantiu 20 anos de paz, ou nos preparemos para a barbárie.
Se é que a barbárie já não começou... Veja as cotas, por exemplo. Após anos dessa boquinha descolada pelos negros nas universidades, o que aconteceu? O branco encontra-se escanteado. Para todo lado que se olhe, da direção das empresas aos volantes dos SUVs, das mesas do Fasano à primeira classe dos aviões, o que encontramos? Negros ricos e despreparados caçoando da meritocracia que reinava por estes costados desde a chegada de Cabral.
Antes que me acusem de racista, digo que meu problema não é com os negros, mas com os privilégios das "minorias". Vejam os índios, por exemplo. Não fosse por eles, seríamos uma potência agrícola. O Centro-Oeste produziria soja suficiente para a China fazer tofus do tamanho da Groenlândia, encheríamos nossos cofres e financiaríamos inúmeros estádios padrão Fifa, mas, como você sabe, esses ágrafos, apoiados pelo poderosíssimo lobby dos antropólogos, transformaram toda nossa área cultivável numa enorme taba. Lá estão, agora, improdutivos e nus, catando piolho e tomando 51.
Contra o poder desmesurado dado a negros, índios, gays e mulheres (as feias, inclusive), sem falar nos ex-pobres, que agora possuem dinheiro para avacalhar, com sua ignorância, a cultura reconhecidamente letrada de nossas elites, nós, da direita, temos uma arma: o humor. A esquerda, contudo, sabe do poder libertário de uma piada de preto, de gorda, de baiano, por isso tenta nos calar com o cabresto do politicamente correto. Só não jogo a toalha e mudo de vez pro Texas por acreditar que neste espaço, pelo menos, eu ainda posso lutar contra esses absurdos.
Peço perdão aos antigos leitores, desde já, se minha nova persona não lhes agradar, mas no pé que as coisas estão é preciso não apenas ser reacionário, mas sê-lo de modo grosseiro, raivoso e estridente. Do contrário, seguiremos dominados pelo crioléu, pelas bichas, pelas feministas rançosas e por velhos intelectuais da USP, essa gentalha que, finalmente compreendi, é a culpada por sermos um dos países mais desiguais, mais injustos e violentos sobre a Terra. Me aguardem.
Você, cidadão de bem: junte-se a mim nesta nova Marcha da Família com Deus pela Liberdade
Há uma década, escrevi um texto em que me definia como "meio intelectual, meio de esquerda". Não me arrependo. Era jovem e ignorante, vivia ainda enclausurado na primeira parte da célebre frase atribuída a Clemenceau, a Shaw e a Churchill, mas na verdade cunhada pelo próprio Senhor: "Um homem que não seja socialista aos 20 anos não tem coração; um homem que permaneça socialista aos 40 não tem cabeça". Agora que me aproximo dos 40, os cabelos rareiam e arejam-se as ideias, percebo que é chegado o momento de trocar as sístoles pelas sinapses.
Como todos sabem, vivemos num totalitarismo de esquerda. A rubra súcia domina o governo, as universidades, a mídia, a cúpula da CBF e a Comissão de Direitos Humanos e Minorias, na Câmara. O pensamento que se queira libertário não pode ser outra coisa, portanto, senão reacionário. E quem há de negar que é preciso reagir? Quando terroristas, gays, índios, quilombolas, vândalos, maconheiros e aborteiros tentam levar a nação para o abismo, ou os cidadãos de bem se unem, como na saudosa Marcha da Família com Deus pela Liberdade, que nos salvou do comunismo e nos garantiu 20 anos de paz, ou nos preparemos para a barbárie.
Se é que a barbárie já não começou... Veja as cotas, por exemplo. Após anos dessa boquinha descolada pelos negros nas universidades, o que aconteceu? O branco encontra-se escanteado. Para todo lado que se olhe, da direção das empresas aos volantes dos SUVs, das mesas do Fasano à primeira classe dos aviões, o que encontramos? Negros ricos e despreparados caçoando da meritocracia que reinava por estes costados desde a chegada de Cabral.
Antes que me acusem de racista, digo que meu problema não é com os negros, mas com os privilégios das "minorias". Vejam os índios, por exemplo. Não fosse por eles, seríamos uma potência agrícola. O Centro-Oeste produziria soja suficiente para a China fazer tofus do tamanho da Groenlândia, encheríamos nossos cofres e financiaríamos inúmeros estádios padrão Fifa, mas, como você sabe, esses ágrafos, apoiados pelo poderosíssimo lobby dos antropólogos, transformaram toda nossa área cultivável numa enorme taba. Lá estão, agora, improdutivos e nus, catando piolho e tomando 51.
Contra o poder desmesurado dado a negros, índios, gays e mulheres (as feias, inclusive), sem falar nos ex-pobres, que agora possuem dinheiro para avacalhar, com sua ignorância, a cultura reconhecidamente letrada de nossas elites, nós, da direita, temos uma arma: o humor. A esquerda, contudo, sabe do poder libertário de uma piada de preto, de gorda, de baiano, por isso tenta nos calar com o cabresto do politicamente correto. Só não jogo a toalha e mudo de vez pro Texas por acreditar que neste espaço, pelo menos, eu ainda posso lutar contra esses absurdos.
Peço perdão aos antigos leitores, desde já, se minha nova persona não lhes agradar, mas no pé que as coisas estão é preciso não apenas ser reacionário, mas sê-lo de modo grosseiro, raivoso e estridente. Do contrário, seguiremos dominados pelo crioléu, pelas bichas, pelas feministas rançosas e por velhos intelectuais da USP, essa gentalha que, finalmente compreendi, é a culpada por sermos um dos países mais desiguais, mais injustos e violentos sobre a Terra. Me aguardem.
Os párias do Caribe - MARIO VARGAS LLOSA
O Estado de S.Paulo - 03/11
Juliana Deguis Pierre nasceu há 29 anos, de pais haitianos, na República Dominicana, e nunca saiu de sua terra natal. Jamais aprendeu francês nem créole. Sua única língua é o belo e musical espanhol de sabor dominicano. Munida de certidão de nascimento, Juliana pediu seu documento de identidade à Junta Central Electoral (responsável pelo registro civil), mas o organismo se negou a concedê-lo e confiscou sua certidão, alegando que seus "sobrenomes eram suspeitos".
Juliana apelou da decisão e, no dia 23 de setembro de 2013, o Tribunal Constitucional dominicano emitiu uma sentença negando a nacionalidade dominicana a todos os que, como ela, sejam filhos ou descendentes de "imigrantes" irregulares.
A decisão da Justiça fez com que a República Dominicana fosse condenada pela opinião pública internacional e tornou Juliana Deguis Pierre um símbolo da tragédia de cerca de 200 mil dominicanos de origem haitiana - segundo Laura Bingham, da Open Society Justice Initiative. Desse modo, eles perdem a nacionalidade, em sua maioria de maneira retroativa, convertendo-se em apátridas.
A sentença do Tribunal Constitucional dominicano é uma aberração jurídica e parece diretamente inspirada nas famosas leis hitleristas dos anos 30, ditadas pelos juízes alemães nazistas para privar da cidadania alemã os judeus que há muitos anos (muitos séculos) haviam se estabelecido neste país e constituíam parte de sua sociedade.
Por enquanto, trata-se de uma insubordinação contra uma disposição legal da Corte Interamericana de Direitos Humanos (da qual a República Dominicana faz parte) que, em setembro de 2005, condenou o país por negar seu direito à nacionalidade às meninas Dilsia Yean e Violeta Bosico, dominicanas como Juliana e, como ela, filhas de haitianos.
Com o precedente, é óbvio que, se consultada, a Corte Interamericana voltará a reafirmar aquele direito e a República Dominicana terá de acatar a decisão, a não ser que decida - algo muito improvável - se retirar do sistema legal interamericano e tornar-se, por sua vez, um país pária.
É preciso assinalar, como fez a edição do New York Times do dia 24 de outubro, que dois membros do Tribunal Constitucional dominicano deram um voto dissidente e salvaram a honra da instituição e do país, opondo-se a uma medida claramente racista e discriminatória.
Crueldade. O argumento utilizado pelos membros da corte para negar a nacionalidade a pessoas como Juliana Deguis Pierre é que seus pais têm uma "situação irregular". Ou seja, será preciso que filhos (ou netos e bisnetos) paguem por um suposto crime que seus antepassados teriam cometido. Como na Idade Média e nos tribunais da Inquisição, segundo essa sentença, os crimes são hereditários e se transmitem de pais para filhos com o sangue.
À crueldade e à desumanidade de tais juízes soma-se a hipocrisia. Eles sabem muito bem que a imigração irregular ou ilegal dos haitianos para a República Dominicana, que começou no início do século 20, é um fenômeno social e econômico complexo, estimulado, em vários períodos - os de maior bonança, precisamente - por proprietários de terras e empresários dominicanos a fim de dispor de uma mão de obra barata para as safras da cana de açúcar, a construção ou trabalhos domésticos, com o pleno conhecimento e tolerância das autoridades, conscientes do proveito econômico que o país obtinha - pelo menos suas classes médias e altas - com a existência de uma massa de imigrantes em situação irregular, que, por isso mesmo, viviam em condições extremamente precárias, na grande maioria sem contratos de trabalho, nem seguridade social nem proteção legal alguma.
Um dos maiores crimes cometidos durante a tirania do generalíssimo Trujillo foi a matança indiscriminada de haitianos, em 1937, na qual teriam sido assassinadas várias dezenas de milhares desses miseráveis imigrantes por uma massa ensandecida instigada pelas invenções apocalípticas de grupos nacionalistas fanáticos.
Não menos grave é, do ponto de vista moral e cívico, a escandalosa sentença do Tribunal Constitucional. Minha esperança é que a oposição a ela, tanto interna quanto internacional, livre o Caribe de uma injustiça tão bárbara e flagrante.
Porque a decisão do Tribunal não se limita a pronunciar-se sobre o caso de Juliana Deguis Pierre, mas, para que não haja dúvida de que pretende estabelecer jurisprudência com a sentença, ordena às autoridades que submetam a um exame rigoroso todos os registros de nascimento no país desde 1929, a fim de determinar retroativamente quais são os que não têm direito a obter a nacionalidade dominicana e, portanto, de agora em diante, podem ser despojados dela.
Arbitrariedades. Se tal sofisma jurídico prevalecer, dezenas de milhares de famílias dominicanas de origem haitiana (próxima ou remota) se tornarão verdadeiros zumbis, não pessoas, seres incapacitados de obter um trabalho legal, matricular-se em uma escola ou universidade pública, ter direito a um seguro saúde, a uma aposentadoria, sair do país, e, portanto, vítimas potenciais de todos os abusos e arbitrariedades.
Em razão de que crime? Pelo mesmo dos judeus que Hitler privou de existência legal antes de mandá-los para os campos de extermínio: por pertencerem a uma raça inferior. Sei muito bem que o racismo é uma doença muito difundida e não há nenhuma sociedade nem país, ainda que civilizado e democrático, que esteja totalmente vacinado contra a doença. Ela sempre volta a aparecer, principalmente quando inexistem bodes expiatórios para distrair as pessoas dos verdadeiros problemas e dos verdadeiros culpados pela falta de solução desses mesmos problemas.
Contudo, já testemunhamos demasiados horrores em consequência do nacionalismo ignorante (desde sempre, a máscara do racismo) para que nos neguemos a enfrentá-lo quando ele aparece, a fim de evitar as tragédias que causa, mais cedo ou mais tarde.
Felizmente, na sociedade civil dominicana existem muitas vozes corajosas e democráticas - de intelectuais, associações de direitos humanos, jornalistas - que, assim como os juízes dissidentes do Tribunal Constitucional, denunciaram a medida e se mobilizam contra ela.
O mais doloroso é o silêncio cúmplice de tantos partidos políticos ou de formadores de opinião que se calam diante da iniquidade ou, como o pré-histórico cardeal arcebispo de Santo Domingo, Nicolás de Jesús López Rodríguez, que a apoia, cumulando de insultos os que a condenam.
Eu achava que nós, peruanos, tínhamos, com o cardeal Juan Luis Cipriani, o triste privilégio de contar com o arcebispo mais reacionário e antidemocrático da América Latina. No entanto, vejo que seu colega dominicano disputa com ele o cetro.
Amo a República Dominicana, desde que visitei o país pela primeira vez, em 1974, para fazer um documentário para a TV. Desde então, voltei muitas vezes e com alegria vi que o país se democratizou, se modernizou em todos esses anos, a um ritmo mais veloz do que o de vários outros países latino-americanos, sem que sua transformação seja sempre reconhecida como mereceria.
O segundo dos meus filhos vive e trabalha lá e procura apoiar de todas as maneiras os direitos humanos nessa nação, secundado por muitos dominicanos admiráveis. Por isso, sinto profundamente ver a tempestade de críticas que desabou sobre o Tribunal Constitucional e sua insensata sentença. Este é um dos momentos críticos que todos os países vivem, vez por outra, em sua história.
Solidariedade. Outro ocorreu por ocasião do terrível terremoto que devastou o vizinho Haiti, em janeiro de 2010, que matou mais de 300 mil pessoas. Como agiu a República Dominicana naquele momento? O presidente Leonel Fernández foi imediatamente para Porto Príncipe para oferecer ajuda, que se transformou numa abundância e generosidade formidáveis.
Lembro ainda dos hospitais dominicanos repletos de vítimas haitianas e os médicos e enfermeiras dominicanos que foram para o Haiti prestar seus serviços. Esse é o verdadeiro rosto da República Dominicana, que não pode ser deturpado pelos erros do seu Tribunal Constitucional. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA
Juliana Deguis Pierre nasceu há 29 anos, de pais haitianos, na República Dominicana, e nunca saiu de sua terra natal. Jamais aprendeu francês nem créole. Sua única língua é o belo e musical espanhol de sabor dominicano. Munida de certidão de nascimento, Juliana pediu seu documento de identidade à Junta Central Electoral (responsável pelo registro civil), mas o organismo se negou a concedê-lo e confiscou sua certidão, alegando que seus "sobrenomes eram suspeitos".
Juliana apelou da decisão e, no dia 23 de setembro de 2013, o Tribunal Constitucional dominicano emitiu uma sentença negando a nacionalidade dominicana a todos os que, como ela, sejam filhos ou descendentes de "imigrantes" irregulares.
A decisão da Justiça fez com que a República Dominicana fosse condenada pela opinião pública internacional e tornou Juliana Deguis Pierre um símbolo da tragédia de cerca de 200 mil dominicanos de origem haitiana - segundo Laura Bingham, da Open Society Justice Initiative. Desse modo, eles perdem a nacionalidade, em sua maioria de maneira retroativa, convertendo-se em apátridas.
A sentença do Tribunal Constitucional dominicano é uma aberração jurídica e parece diretamente inspirada nas famosas leis hitleristas dos anos 30, ditadas pelos juízes alemães nazistas para privar da cidadania alemã os judeus que há muitos anos (muitos séculos) haviam se estabelecido neste país e constituíam parte de sua sociedade.
Por enquanto, trata-se de uma insubordinação contra uma disposição legal da Corte Interamericana de Direitos Humanos (da qual a República Dominicana faz parte) que, em setembro de 2005, condenou o país por negar seu direito à nacionalidade às meninas Dilsia Yean e Violeta Bosico, dominicanas como Juliana e, como ela, filhas de haitianos.
Com o precedente, é óbvio que, se consultada, a Corte Interamericana voltará a reafirmar aquele direito e a República Dominicana terá de acatar a decisão, a não ser que decida - algo muito improvável - se retirar do sistema legal interamericano e tornar-se, por sua vez, um país pária.
É preciso assinalar, como fez a edição do New York Times do dia 24 de outubro, que dois membros do Tribunal Constitucional dominicano deram um voto dissidente e salvaram a honra da instituição e do país, opondo-se a uma medida claramente racista e discriminatória.
Crueldade. O argumento utilizado pelos membros da corte para negar a nacionalidade a pessoas como Juliana Deguis Pierre é que seus pais têm uma "situação irregular". Ou seja, será preciso que filhos (ou netos e bisnetos) paguem por um suposto crime que seus antepassados teriam cometido. Como na Idade Média e nos tribunais da Inquisição, segundo essa sentença, os crimes são hereditários e se transmitem de pais para filhos com o sangue.
À crueldade e à desumanidade de tais juízes soma-se a hipocrisia. Eles sabem muito bem que a imigração irregular ou ilegal dos haitianos para a República Dominicana, que começou no início do século 20, é um fenômeno social e econômico complexo, estimulado, em vários períodos - os de maior bonança, precisamente - por proprietários de terras e empresários dominicanos a fim de dispor de uma mão de obra barata para as safras da cana de açúcar, a construção ou trabalhos domésticos, com o pleno conhecimento e tolerância das autoridades, conscientes do proveito econômico que o país obtinha - pelo menos suas classes médias e altas - com a existência de uma massa de imigrantes em situação irregular, que, por isso mesmo, viviam em condições extremamente precárias, na grande maioria sem contratos de trabalho, nem seguridade social nem proteção legal alguma.
Um dos maiores crimes cometidos durante a tirania do generalíssimo Trujillo foi a matança indiscriminada de haitianos, em 1937, na qual teriam sido assassinadas várias dezenas de milhares desses miseráveis imigrantes por uma massa ensandecida instigada pelas invenções apocalípticas de grupos nacionalistas fanáticos.
Não menos grave é, do ponto de vista moral e cívico, a escandalosa sentença do Tribunal Constitucional. Minha esperança é que a oposição a ela, tanto interna quanto internacional, livre o Caribe de uma injustiça tão bárbara e flagrante.
Porque a decisão do Tribunal não se limita a pronunciar-se sobre o caso de Juliana Deguis Pierre, mas, para que não haja dúvida de que pretende estabelecer jurisprudência com a sentença, ordena às autoridades que submetam a um exame rigoroso todos os registros de nascimento no país desde 1929, a fim de determinar retroativamente quais são os que não têm direito a obter a nacionalidade dominicana e, portanto, de agora em diante, podem ser despojados dela.
Arbitrariedades. Se tal sofisma jurídico prevalecer, dezenas de milhares de famílias dominicanas de origem haitiana (próxima ou remota) se tornarão verdadeiros zumbis, não pessoas, seres incapacitados de obter um trabalho legal, matricular-se em uma escola ou universidade pública, ter direito a um seguro saúde, a uma aposentadoria, sair do país, e, portanto, vítimas potenciais de todos os abusos e arbitrariedades.
Em razão de que crime? Pelo mesmo dos judeus que Hitler privou de existência legal antes de mandá-los para os campos de extermínio: por pertencerem a uma raça inferior. Sei muito bem que o racismo é uma doença muito difundida e não há nenhuma sociedade nem país, ainda que civilizado e democrático, que esteja totalmente vacinado contra a doença. Ela sempre volta a aparecer, principalmente quando inexistem bodes expiatórios para distrair as pessoas dos verdadeiros problemas e dos verdadeiros culpados pela falta de solução desses mesmos problemas.
Contudo, já testemunhamos demasiados horrores em consequência do nacionalismo ignorante (desde sempre, a máscara do racismo) para que nos neguemos a enfrentá-lo quando ele aparece, a fim de evitar as tragédias que causa, mais cedo ou mais tarde.
Felizmente, na sociedade civil dominicana existem muitas vozes corajosas e democráticas - de intelectuais, associações de direitos humanos, jornalistas - que, assim como os juízes dissidentes do Tribunal Constitucional, denunciaram a medida e se mobilizam contra ela.
O mais doloroso é o silêncio cúmplice de tantos partidos políticos ou de formadores de opinião que se calam diante da iniquidade ou, como o pré-histórico cardeal arcebispo de Santo Domingo, Nicolás de Jesús López Rodríguez, que a apoia, cumulando de insultos os que a condenam.
Eu achava que nós, peruanos, tínhamos, com o cardeal Juan Luis Cipriani, o triste privilégio de contar com o arcebispo mais reacionário e antidemocrático da América Latina. No entanto, vejo que seu colega dominicano disputa com ele o cetro.
Amo a República Dominicana, desde que visitei o país pela primeira vez, em 1974, para fazer um documentário para a TV. Desde então, voltei muitas vezes e com alegria vi que o país se democratizou, se modernizou em todos esses anos, a um ritmo mais veloz do que o de vários outros países latino-americanos, sem que sua transformação seja sempre reconhecida como mereceria.
O segundo dos meus filhos vive e trabalha lá e procura apoiar de todas as maneiras os direitos humanos nessa nação, secundado por muitos dominicanos admiráveis. Por isso, sinto profundamente ver a tempestade de críticas que desabou sobre o Tribunal Constitucional e sua insensata sentença. Este é um dos momentos críticos que todos os países vivem, vez por outra, em sua história.
Solidariedade. Outro ocorreu por ocasião do terrível terremoto que devastou o vizinho Haiti, em janeiro de 2010, que matou mais de 300 mil pessoas. Como agiu a República Dominicana naquele momento? O presidente Leonel Fernández foi imediatamente para Porto Príncipe para oferecer ajuda, que se transformou numa abundância e generosidade formidáveis.
Lembro ainda dos hospitais dominicanos repletos de vítimas haitianas e os médicos e enfermeiras dominicanos que foram para o Haiti prestar seus serviços. Esse é o verdadeiro rosto da República Dominicana, que não pode ser deturpado pelos erros do seu Tribunal Constitucional. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA
Código - CAETANO VELOSO
O GLOBO - 03/11
RC só apareceu agora, quando da mudança de tom. Apanhamos muito da mídia e das redes, ele vem de Rei
É incrível que se queira dar agora a impressão de que os artistas reunidos na associação Procure Saber tenham mudado de posição quanto à questão das biografias. Se é para dizer que devemos equilibrar os dois princípios constitucionais — o do direito de livre expressão (na verdade o de informação) e o direito à privacidade —, isso já foi feito por Paula Lavigne em entrevista ao “Estadão” e em aparição no programa “Saia Justa”. O artigo de Gil que saiu no GLOBO ao lado de uma entrevista de Joaquim Barbosa (em que a edição enfatizava uma oposição que, se lidos os dois textos, era mais uma complementaridade na busca do fiel da balança) já apontava para o amadurecimento, entre nós, da discussão sobre o assunto. Eu próprio, em minhas afirmações mais definidoras, disse que os artigos 20 e 21 do Código Civil não eram bons e mereciam uma reescritura. Atribuí a Roberto Carlos o fato de ter sido obrigado a chegar até ali. Eu, que sempre me posicionara contra a exigência de aprovação prévia para biografias. Hoje (sexta) leio que um administrador de crises sugere que a Procure Saber seja desfeito, já que a mácula de atitude de censores pode sumir das imagens dos artistas, que são mais amados por grandes feitos ao longo de muitos anos do que odiados por uma campanha inglória, mas não da de uma associação. Bem, o mínimo que posso dizer é que justamente meu desprezo pela ideia de cuidar de minha imagem como quem a programa para obter aprovação é o mesmo que me leva a tender para a liberação das biografias e a olhar com desconfiança para o conselho do especialista.
O que me interessa nessa confusão toda é o avanço que nossa sociedade pode ter ao deparar-se com esse quase-impasse. O pequeno artigo de Ruy Castro (não apenas um biógrafo ilustre como o pioneiro na guerra pública contra a necessidade de autorização) na “Folha” de hoje mostra, em termos simples, a inutilidade do novo discurso moderado. Mais veemente do que ele, Jânio de Freitas, um jornalista de histórico glorioso, viu na recente virada estratégica um desrespeito pior aos princípios democráticos do que na radicalidade dos primeiros pronunciamentos: ambos, Castro e Freitas, veem sobretudo dissimulação. Para mim, ressalta o fato de que não há novidade conceitual nenhuma, como já disse no primeiro parágrafo. Pode-se dizer que Roberto Carlos esteja se dirigindo ao público num tom de quem admite que o tema seja discutido, não como quem veta a hipótese de qualquer relativização da obrigatoriedade de autorização prévia. Mas isso porque Roberto era tido e sabido como o inimigo número um da invasão da privacidade. É notório que não era o meu caso, mas também ficou claro não ser o de Gil, Paulinha ou Djavan, por exemplo.
A defesa da intimidade é assunto palpitante no mundo atual. Não apenas a facilidade de entrar em correspondência eletrônica exibida pelas novas tecnologias, mas também casos como o esforço inglês de conter os terríveis abusos a que chegou sua imprensa tradicionalmente bisbilhoteira. Claro que o princípios luminosos da liberdade de expressão e do direito à informação reagiriam, como reagiram e reagirão, à ameaça que esse mundo novo apresenta. A discussão está longe de ter chegado a um termo. Não seria a mera retirada dos dois artigos do Código Civil que daria a última palavra sobre o assunto entre nós. Felizmente estamos todos sofrendo por ter ousado abrir o diálogo. O mero reconhecimento da importância do tema nos deveria tornar tolerantes com os vacilos, as imprecisões, as atitudes suspeitas de quem quer que tente tratar do assunto. Mas, se o tom unilateral que tomou a imprensa me causou alguma revolta, as notas e matérias que deixam entrever manobras suspeitas provocam considerável mal-estar.
O artigo de Fernanda Torres na “Folha” diz o que eu gostaria de dizer, se minha cabeça fosse centrada como a dela. Ela diz: “Sou a favor da liberação”. Mas: “Por outro lado, alguns limites merecem atenção”. E, depois de afirmar não ser justo que um criminoso lucre com o crime que cometeu, conclui que o parágrafo que se queria adicionar ao artigo 20 demanda revisão. Já há propostas de mudança nisso. A coisa vai andar. Luta iniciada pel Procure Saber. Kakay é advogado de RC, não fala oficialmente pela associação. E RC só apareceu agora, quando da mudança de tom. Apanhamos muito da mídia e das redes, ele vem de Rei. É o normal da nossa vida. Chico era o mais próximo da posição dele; eu, o mais distante. De minha parte, apesar de toda a tensão, continuo achando que estamos progredindo. Assunto global quente, o Brasil não pode tratar tolamente.
RC só apareceu agora, quando da mudança de tom. Apanhamos muito da mídia e das redes, ele vem de Rei
É incrível que se queira dar agora a impressão de que os artistas reunidos na associação Procure Saber tenham mudado de posição quanto à questão das biografias. Se é para dizer que devemos equilibrar os dois princípios constitucionais — o do direito de livre expressão (na verdade o de informação) e o direito à privacidade —, isso já foi feito por Paula Lavigne em entrevista ao “Estadão” e em aparição no programa “Saia Justa”. O artigo de Gil que saiu no GLOBO ao lado de uma entrevista de Joaquim Barbosa (em que a edição enfatizava uma oposição que, se lidos os dois textos, era mais uma complementaridade na busca do fiel da balança) já apontava para o amadurecimento, entre nós, da discussão sobre o assunto. Eu próprio, em minhas afirmações mais definidoras, disse que os artigos 20 e 21 do Código Civil não eram bons e mereciam uma reescritura. Atribuí a Roberto Carlos o fato de ter sido obrigado a chegar até ali. Eu, que sempre me posicionara contra a exigência de aprovação prévia para biografias. Hoje (sexta) leio que um administrador de crises sugere que a Procure Saber seja desfeito, já que a mácula de atitude de censores pode sumir das imagens dos artistas, que são mais amados por grandes feitos ao longo de muitos anos do que odiados por uma campanha inglória, mas não da de uma associação. Bem, o mínimo que posso dizer é que justamente meu desprezo pela ideia de cuidar de minha imagem como quem a programa para obter aprovação é o mesmo que me leva a tender para a liberação das biografias e a olhar com desconfiança para o conselho do especialista.
O que me interessa nessa confusão toda é o avanço que nossa sociedade pode ter ao deparar-se com esse quase-impasse. O pequeno artigo de Ruy Castro (não apenas um biógrafo ilustre como o pioneiro na guerra pública contra a necessidade de autorização) na “Folha” de hoje mostra, em termos simples, a inutilidade do novo discurso moderado. Mais veemente do que ele, Jânio de Freitas, um jornalista de histórico glorioso, viu na recente virada estratégica um desrespeito pior aos princípios democráticos do que na radicalidade dos primeiros pronunciamentos: ambos, Castro e Freitas, veem sobretudo dissimulação. Para mim, ressalta o fato de que não há novidade conceitual nenhuma, como já disse no primeiro parágrafo. Pode-se dizer que Roberto Carlos esteja se dirigindo ao público num tom de quem admite que o tema seja discutido, não como quem veta a hipótese de qualquer relativização da obrigatoriedade de autorização prévia. Mas isso porque Roberto era tido e sabido como o inimigo número um da invasão da privacidade. É notório que não era o meu caso, mas também ficou claro não ser o de Gil, Paulinha ou Djavan, por exemplo.
A defesa da intimidade é assunto palpitante no mundo atual. Não apenas a facilidade de entrar em correspondência eletrônica exibida pelas novas tecnologias, mas também casos como o esforço inglês de conter os terríveis abusos a que chegou sua imprensa tradicionalmente bisbilhoteira. Claro que o princípios luminosos da liberdade de expressão e do direito à informação reagiriam, como reagiram e reagirão, à ameaça que esse mundo novo apresenta. A discussão está longe de ter chegado a um termo. Não seria a mera retirada dos dois artigos do Código Civil que daria a última palavra sobre o assunto entre nós. Felizmente estamos todos sofrendo por ter ousado abrir o diálogo. O mero reconhecimento da importância do tema nos deveria tornar tolerantes com os vacilos, as imprecisões, as atitudes suspeitas de quem quer que tente tratar do assunto. Mas, se o tom unilateral que tomou a imprensa me causou alguma revolta, as notas e matérias que deixam entrever manobras suspeitas provocam considerável mal-estar.
O artigo de Fernanda Torres na “Folha” diz o que eu gostaria de dizer, se minha cabeça fosse centrada como a dela. Ela diz: “Sou a favor da liberação”. Mas: “Por outro lado, alguns limites merecem atenção”. E, depois de afirmar não ser justo que um criminoso lucre com o crime que cometeu, conclui que o parágrafo que se queria adicionar ao artigo 20 demanda revisão. Já há propostas de mudança nisso. A coisa vai andar. Luta iniciada pel Procure Saber. Kakay é advogado de RC, não fala oficialmente pela associação. E RC só apareceu agora, quando da mudança de tom. Apanhamos muito da mídia e das redes, ele vem de Rei. É o normal da nossa vida. Chico era o mais próximo da posição dele; eu, o mais distante. De minha parte, apesar de toda a tensão, continuo achando que estamos progredindo. Assunto global quente, o Brasil não pode tratar tolamente.
Não existe dia ruim - FABRÍCIO CARPINEJAR
ZERO HORA - 03/11
Não existe dia ruim. Sempre há chance do dia ser feliz. Mesmo que seja tarde. Mesmo que seja de madrugada. Uma gentileza salva o dia. Um bife milanesa salva o dia. Uma gola branca e engomada salva o dia. Uma emoção involuntária salva o dia.
Nunca o dia está inteiramente perdido. Não devemos acreditar que uma tristeza chama a outra, que se algo acontece de errado tudo então vai dar errado. Lei de Murphy não foi aprovada pela Câmara dos Deputados.
Confio no improviso, na casualidade, no movimento das cortinas na janela.
Até o último minuto antes da meia-noite, você pode resgatar o contentamento. É uma gargalhada do filho diante da papinha, transformando a cadeira num imenso prato. É algum amigo telefonando para confessar saudade. É sua mulher procurando beijar a orelha mandando sinais de seu desejo. É o barulho da chuva na calha, é o estardalhaço do sol na varanda. É encontrar - iniciando na tevê - um filme que adora e já assistiu cinco vezes. É oferecer colo ao seu gato. É planejar uma viagem de férias. É terminar um livro que abandonou pela metade. É ouvir sua coleção de LPs da adolescência. É comprar uma calça jeans em promoção. É adormecer no sofá e receber a coberta silenciosa de sua companhia. É a possibilidade feminina de passar um batom e pintar as unhas. É possibilidade masculina de devolver a bola quando ela sobe a cerca num jogo de crianças
A felicidade é pobre. A felicidade precisa de apenas um abraço bem feito.
Sigo esperançoso. Não coleciono tragédias. Sofro e apago. Sofro e mudo de assunto, abro espaço para palavras novas, para lembranças novas.
Vejo o esforço da abelha tentando sair do vidro, e não sou melhor do que ela. Vejo o esforço da formiga carregando uma casca de laranja, e não sou melhor do que ela. Viver é esforço e nos traz a paz de sonhar – querer não fazer nada é que cansa.
Não existe dia que não ganhe conserto. Não existe dia morto, dia de todo inútil.
Não desista da alegria somente porque ela se atrasou. Pode ter recebido esporro do chefe, ainda assim a hora está aberta. Comer um picolé de limão é capaz de restituir sua infância.
Não encerre o expediente com o escuro do céu. Pode não ter grana para pagar as contas e ter que escolher o que é menos importante para adiar, ainda assim é possível se divertir com o cachorro carregando seu chinelo para o quarto.
Quando acordo com o pé esquerdo, sou canhoto. Não existe dia derrotado.
Não existe dia ruim. Sempre há chance do dia ser feliz. Mesmo que seja tarde. Mesmo que seja de madrugada. Uma gentileza salva o dia. Um bife milanesa salva o dia. Uma gola branca e engomada salva o dia. Uma emoção involuntária salva o dia.
Nunca o dia está inteiramente perdido. Não devemos acreditar que uma tristeza chama a outra, que se algo acontece de errado tudo então vai dar errado. Lei de Murphy não foi aprovada pela Câmara dos Deputados.
Confio no improviso, na casualidade, no movimento das cortinas na janela.
Até o último minuto antes da meia-noite, você pode resgatar o contentamento. É uma gargalhada do filho diante da papinha, transformando a cadeira num imenso prato. É algum amigo telefonando para confessar saudade. É sua mulher procurando beijar a orelha mandando sinais de seu desejo. É o barulho da chuva na calha, é o estardalhaço do sol na varanda. É encontrar - iniciando na tevê - um filme que adora e já assistiu cinco vezes. É oferecer colo ao seu gato. É planejar uma viagem de férias. É terminar um livro que abandonou pela metade. É ouvir sua coleção de LPs da adolescência. É comprar uma calça jeans em promoção. É adormecer no sofá e receber a coberta silenciosa de sua companhia. É a possibilidade feminina de passar um batom e pintar as unhas. É possibilidade masculina de devolver a bola quando ela sobe a cerca num jogo de crianças
A felicidade é pobre. A felicidade precisa de apenas um abraço bem feito.
Sigo esperançoso. Não coleciono tragédias. Sofro e apago. Sofro e mudo de assunto, abro espaço para palavras novas, para lembranças novas.
Vejo o esforço da abelha tentando sair do vidro, e não sou melhor do que ela. Vejo o esforço da formiga carregando uma casca de laranja, e não sou melhor do que ela. Viver é esforço e nos traz a paz de sonhar – querer não fazer nada é que cansa.
Não existe dia que não ganhe conserto. Não existe dia morto, dia de todo inútil.
Não desista da alegria somente porque ela se atrasou. Pode ter recebido esporro do chefe, ainda assim a hora está aberta. Comer um picolé de limão é capaz de restituir sua infância.
Não encerre o expediente com o escuro do céu. Pode não ter grana para pagar as contas e ter que escolher o que é menos importante para adiar, ainda assim é possível se divertir com o cachorro carregando seu chinelo para o quarto.
Quando acordo com o pé esquerdo, sou canhoto. Não existe dia derrotado.
Jeitinho cubano - HUMBERTO WERNECK
O Estado de S.Paulo - 03/11
Há quem diga que a luta para sobreviver num país onde falta tudo estaria qualificando os cubanos para o salve-se quem puder do capitalismo. Será? Aqui vão, em todo caso, três vinhetas que este cronista trouxe de lá em outros tempos.
Joint venture
Atrasado para a entrevista, eu tentava pescar um táxi na caudalosa rua 23, no bairro de El Vedado, em Havana, empreitada nada fácil às 5 da tarde, horário em que a máquina do Estado derrama nas ruas grossos cardumes de servidores públicos. Já farto de bracejar qual flanelinha, consegui por fim o que buscava. Não um Fiat Uno da Turistaxi, então exclusivo para estrangeiros e cobrando em dólares: coube-me uma bañadera (banheira), um daqueles carrões americanos remanescentes da era capitalista que parecem estar lá para posar para os turistas.
Ao volante, o velhinho espigado com cara de trompetista do Buena Vista era um típico integrante da Anchar, a Asociación Nacional de los Choferes de Alquiler - dos poucos ramos da iniciativa privada que a revolução socialista não podou e no qual se empoleiravam senhorzinhos e suas não menos calejadas bañaderas, que, sem taxímetro, funcionavam como lotações.
Acertado o preço da corrida, dividi o banco traseiro com duas mocinhas de short, e o tremelicante Oldsmobile se pôs em marcha, num ritmo vagaroso mesmo para os padrões cubanos. Não tardei a me dar conta de que a lata velha, além de se arrastar, tomara rumo bem diverso do que eu solicitara. Talvez fosse levar primeiro as moças, pensei. Mas não, o trompetista notoriamente rodava a esmo - até que eu, num iracundo portuñol, o interpelasse, o que o fez, de cara amarrada, acelerar sem mais tardança para o endereço indicado.
Dois dias mais tarde, o que surpreendo no mesmo ponto de El Vedado? A mesma bañadera, o mesmo bigodinho e, você adivinhou, as mesmíssimas mocinhas oferecendo as coxas.
Café de segunda borra
Eu sabia do porco criado em apartamento, da maionese praticamente sem ovo, do bife de casca de banana da terra, das bicicletas que ganham capota e viram "bicitáxis", dos carros Lada que, espichados, se transformam em "ladalimusinas" e do vinho doméstico de coco, abacaxi, beterraba e até uva - sabia de tudo isso, até escrevi a respeito, mas não do que se poderia chamar de café de segunda borra. Conta-me um amigo que a avó dele, coado o café, põe a borra para secar - e a revende, pois descobriu que neste mundo há comprador até para aquele pó desbotado.
Stairways to heaven
Quando conheci Heitor, ele acabara de instalar-se num sobrado térreo de enorme pé-direito no Centro de Havana. Sua ideia fixa, a partir de então, foi acrescentar ao pardieiro um mezanino - uma barbacoa, se diz em Cuba.
Na minha viagem seguinte, já era realidade - com um problema: como chegar lá em cima, se não havia escada? Engarranchado, como tantos cubanos da velha geração, na estética da década de 50, a última antes do socialismo, o Heitor fizera questão daqueles degraus espetados na parede, sonho que o construtor, cioso da avançada idade do sobrado, não se arriscou a realizar. Restou a meu amigo providenciar os degraus e espetá-los ele mesmo. Um a um, e a largos intervalos: na impossibilidade de adquirir logo toda a madeira, o Heitor, com seu curto soldo de dentista, não teve saída senão ir comprando degrau por degrau. Comprar, seja dito, não é bem o verbo. Nas engrenagens do regime de escambo que faz rodar a vida dos cubanos, ele passou a cambiar por toras o material odontológico que subtraía à clínica onde trabalhava.
Já não me lembro quantos degraus eram necessários, mas em sucessivas viagens pude acompanhar o lento avanço das obras, tornadas ainda mais vagarosas depois que a aposentadoria compulsória cortou o acesso de meu amigo aos estoques estatais de pasta de dente, escova e fio dental. Faz um tempo que não vou a Havana nem falo com o Heitor, e me pergunto se ele já conseguiu descolar os cinco degraus que, na minha última visita, ainda o separavam do momento em que triunfalmente subiria ao céu, quer dizer, à barbacoa.
Há quem diga que a luta para sobreviver num país onde falta tudo estaria qualificando os cubanos para o salve-se quem puder do capitalismo. Será? Aqui vão, em todo caso, três vinhetas que este cronista trouxe de lá em outros tempos.
Joint venture
Atrasado para a entrevista, eu tentava pescar um táxi na caudalosa rua 23, no bairro de El Vedado, em Havana, empreitada nada fácil às 5 da tarde, horário em que a máquina do Estado derrama nas ruas grossos cardumes de servidores públicos. Já farto de bracejar qual flanelinha, consegui por fim o que buscava. Não um Fiat Uno da Turistaxi, então exclusivo para estrangeiros e cobrando em dólares: coube-me uma bañadera (banheira), um daqueles carrões americanos remanescentes da era capitalista que parecem estar lá para posar para os turistas.
Ao volante, o velhinho espigado com cara de trompetista do Buena Vista era um típico integrante da Anchar, a Asociación Nacional de los Choferes de Alquiler - dos poucos ramos da iniciativa privada que a revolução socialista não podou e no qual se empoleiravam senhorzinhos e suas não menos calejadas bañaderas, que, sem taxímetro, funcionavam como lotações.
Acertado o preço da corrida, dividi o banco traseiro com duas mocinhas de short, e o tremelicante Oldsmobile se pôs em marcha, num ritmo vagaroso mesmo para os padrões cubanos. Não tardei a me dar conta de que a lata velha, além de se arrastar, tomara rumo bem diverso do que eu solicitara. Talvez fosse levar primeiro as moças, pensei. Mas não, o trompetista notoriamente rodava a esmo - até que eu, num iracundo portuñol, o interpelasse, o que o fez, de cara amarrada, acelerar sem mais tardança para o endereço indicado.
Dois dias mais tarde, o que surpreendo no mesmo ponto de El Vedado? A mesma bañadera, o mesmo bigodinho e, você adivinhou, as mesmíssimas mocinhas oferecendo as coxas.
Café de segunda borra
Eu sabia do porco criado em apartamento, da maionese praticamente sem ovo, do bife de casca de banana da terra, das bicicletas que ganham capota e viram "bicitáxis", dos carros Lada que, espichados, se transformam em "ladalimusinas" e do vinho doméstico de coco, abacaxi, beterraba e até uva - sabia de tudo isso, até escrevi a respeito, mas não do que se poderia chamar de café de segunda borra. Conta-me um amigo que a avó dele, coado o café, põe a borra para secar - e a revende, pois descobriu que neste mundo há comprador até para aquele pó desbotado.
Stairways to heaven
Quando conheci Heitor, ele acabara de instalar-se num sobrado térreo de enorme pé-direito no Centro de Havana. Sua ideia fixa, a partir de então, foi acrescentar ao pardieiro um mezanino - uma barbacoa, se diz em Cuba.
Na minha viagem seguinte, já era realidade - com um problema: como chegar lá em cima, se não havia escada? Engarranchado, como tantos cubanos da velha geração, na estética da década de 50, a última antes do socialismo, o Heitor fizera questão daqueles degraus espetados na parede, sonho que o construtor, cioso da avançada idade do sobrado, não se arriscou a realizar. Restou a meu amigo providenciar os degraus e espetá-los ele mesmo. Um a um, e a largos intervalos: na impossibilidade de adquirir logo toda a madeira, o Heitor, com seu curto soldo de dentista, não teve saída senão ir comprando degrau por degrau. Comprar, seja dito, não é bem o verbo. Nas engrenagens do regime de escambo que faz rodar a vida dos cubanos, ele passou a cambiar por toras o material odontológico que subtraía à clínica onde trabalhava.
Já não me lembro quantos degraus eram necessários, mas em sucessivas viagens pude acompanhar o lento avanço das obras, tornadas ainda mais vagarosas depois que a aposentadoria compulsória cortou o acesso de meu amigo aos estoques estatais de pasta de dente, escova e fio dental. Faz um tempo que não vou a Havana nem falo com o Heitor, e me pergunto se ele já conseguiu descolar os cinco degraus que, na minha última visita, ainda o separavam do momento em que triunfalmente subiria ao céu, quer dizer, à barbacoa.
Obama! Onde está Wally? - JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 03/11
E os servidores do Kassab deixaram a Cidade Limpa mesmo. Limparam R$ 500 milhões!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Semana Macabra: Halloween e Finados! Chama a Sonia Abrão! Rarará!
E os servidores do Kassab deixaram a Cidade Limpa mesmo. Limparam R$ 500 milhões! E fantasma não assusta mais gritando "ÚÚÚ", agora grita "IPTÚÚÚ"!
E o Obama espiona o mundo inteiro, mas não sabe onde está Wally. Obama descobriu que a Dilma dorme de pijaminha do Che Guevara, aqueles de flanelinha com estampa do Che! E que a Angela Merkel não dorme, RONCA!
Ela deve ser aquela que dorme de barriga pra cima, com as mãozinhas cruzadas em cima da pança! Rarará!
E o Obama descobriu a idade da Glória Maria: ela nasceu há 10 mil anos atrás, junto com o Raul Seixas. Rarará. E um leitor quer saber: "Caro Obama, espero que o que eu fiz ontem com a minha secretária fique só entre nós três".
E outro: "Obama, a minha mulher vai três vezes por semana ao cabeleireiro ou é migué dela?". E a filosofia do Obama: quem espiona o que eu estou espionando é espionagem!
E o Roberto Carlos? Que é a favor da biografia não autorizada, desde que não seja a dele! E disse: "Ninguém melhor que eu pra saber da minha vida". Mas ele não tem vizinho? Se ele morasse no meu prédio, ele não ia dizer isso!
E sugestão de título pra autobiografia do Roberto: "Jesus Cristo, eu AINDA estou aqui". Rarará. E Finados? Finados é o Senado! Aqueles políticos que morreram e se esqueceram de cair. E diz que o Sarney é um finado-vivo! Rarará. E adorei a lápide do hipocondríaco: "Eu não falei que eu tava doente?". Rarará!
E Halloween? A Dilma parece uma abóbora. Só falta acender uma vela na boca! E todo dia o Serra se olha no espelho e o espelho grita: "Halloween de novo?". Pro espelho do Serra, todo dia é Halloween!
E o chargista Flavio revela a nova empresa do Eike: CALOTEX! Rarará. O Eike desmoralizou tanto a letra x' que até a Xuxa vai mudar de nome pra Chucha! Rarará.
É mole? É mole, mas sobe!
O Brasileiro é Cordial! Olha essa placa em Curitiba: "Você estacionou na calçada. Não se reproduza. Grata, a Humanidade".
E essa placa numa escolinha infantil: "Não vale jogar pedra nos colegas". Deve ser a escolinha dos black blocs. Maternal Black Bloc. Rarará.
Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
E os servidores do Kassab deixaram a Cidade Limpa mesmo. Limparam R$ 500 milhões!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Semana Macabra: Halloween e Finados! Chama a Sonia Abrão! Rarará!
E os servidores do Kassab deixaram a Cidade Limpa mesmo. Limparam R$ 500 milhões! E fantasma não assusta mais gritando "ÚÚÚ", agora grita "IPTÚÚÚ"!
E o Obama espiona o mundo inteiro, mas não sabe onde está Wally. Obama descobriu que a Dilma dorme de pijaminha do Che Guevara, aqueles de flanelinha com estampa do Che! E que a Angela Merkel não dorme, RONCA!
Ela deve ser aquela que dorme de barriga pra cima, com as mãozinhas cruzadas em cima da pança! Rarará!
E o Obama descobriu a idade da Glória Maria: ela nasceu há 10 mil anos atrás, junto com o Raul Seixas. Rarará. E um leitor quer saber: "Caro Obama, espero que o que eu fiz ontem com a minha secretária fique só entre nós três".
E outro: "Obama, a minha mulher vai três vezes por semana ao cabeleireiro ou é migué dela?". E a filosofia do Obama: quem espiona o que eu estou espionando é espionagem!
E o Roberto Carlos? Que é a favor da biografia não autorizada, desde que não seja a dele! E disse: "Ninguém melhor que eu pra saber da minha vida". Mas ele não tem vizinho? Se ele morasse no meu prédio, ele não ia dizer isso!
E sugestão de título pra autobiografia do Roberto: "Jesus Cristo, eu AINDA estou aqui". Rarará. E Finados? Finados é o Senado! Aqueles políticos que morreram e se esqueceram de cair. E diz que o Sarney é um finado-vivo! Rarará. E adorei a lápide do hipocondríaco: "Eu não falei que eu tava doente?". Rarará!
E Halloween? A Dilma parece uma abóbora. Só falta acender uma vela na boca! E todo dia o Serra se olha no espelho e o espelho grita: "Halloween de novo?". Pro espelho do Serra, todo dia é Halloween!
E o chargista Flavio revela a nova empresa do Eike: CALOTEX! Rarará. O Eike desmoralizou tanto a letra x' que até a Xuxa vai mudar de nome pra Chucha! Rarará.
É mole? É mole, mas sobe!
O Brasileiro é Cordial! Olha essa placa em Curitiba: "Você estacionou na calçada. Não se reproduza. Grata, a Humanidade".
E essa placa numa escolinha infantil: "Não vale jogar pedra nos colegas". Deve ser a escolinha dos black blocs. Maternal Black Bloc. Rarará.
Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
Os anticapitalistas estão contra nós - BRUNO GARSCHAGEN
GAZETA DO POVO - PR - 03/11
Defender o capitalismo é tarefa inglória. Por várias razões. Primeiro, porque as várias interpretações equivocadas e aplicações inadequadas do termo acabaram por dividi-lo numa expressão pluridimensional. Assim, temos o capitalismo de livre mercado, o capitalismo marxista, o capitalismo de Estado, o capitalismo de compadres etc.
Se Marx não foi o criador nem o primeiro a usar o termo, foi quem lhe atribuiu, no célebre O Capital, o sentido negativo mundialmente reconhecido e utilizado, e opôs de forma hábil a distinção entre capitalista e trabalhador. Converteu o empresário, o dono do capital, numa entidade diabólica que age para explorar a mão de obra do oprimido trabalhador.
Diante dessa carga simbólica infame, defender o capitalismo de livre mercado é entrar num debate no qual o anticapitalista entra tentando direcioná-lo contra o seu defensor, que mesmo antes de expor uma defesa conceitual, substantiva e material, com dados empíricos a sustentar a teoria, precisa previamente se defender das acusações pessoais de odiar os pobres e os beagles, e elencar justificativas (que o interlocutor nem sequer considerará) sobre o que o capitalismo não é. O crítico pretende conduzir o debate em sua zona de conforto, e assim ignorar estrategicamente o que diz o defensor do capitalismo de livre mercado.
É um erro muito comum supor que o anticapitalista é um interlocutor intelectualmente honesto. A ingênua boa-fé do defensor do capitalismo é utilizada pelo seu crítico como uma fraqueza a ser explorada; como um macete para atingir a cabeça do inimigo ideológico. E assim o “debate” se converte numa doutrinação e num instrumento de sedução dos incautos em busca de utopias perdidas.
Não é uma coincidência o fato de muitos anticapitalistas serem intelectuais e/ou indivíduos que constroem suas vidas fugindo da realidade. Essa fuga, justamente o vínculo entre ambos, é alicerçada numa teoria utópica (geralmente socialista ou comunista) que a estrutura, legitima e que pavimenta a construção idealizada de uma realidade abstrata na qual o mundo concreto e as pessoas reais não são o que eles veem, mas o que gostariam de ver, como bem apontou o economista americano Thomas Sowell em seu excelente Os Intelectuais e a Sociedade (p. 182-184).
Com a sua peculiar definição de capitalismo, esses ideólogos militantes, muitas vezes disfarçados de professores, atribuem todos os males sociais, políticos e econômicos do mundo a um sistema que, ao contrário da imagem caricatural de estar a serviço das grandes corporações, bancos etc., é, na verdade, formado por todos nós que atuamos na iniciativa privada, do pipoqueiro ao megaempresário. Um sistema que, a despeito da representação ficcional, tem suas virtudes e vicissitudes, e que foi capaz de permitir que as pessoas pudessem se alimentar, empreender, prosperar, ter tempo para o lazer, ter acesso a produtos e a confortos inimagináveis séculos atrás.
Sempre que um anticapitalista exibir o arsenal de equívocos contra o capitalismo, tenha a certeza de que o prejudicado com a alternativa política e econômica que defende não será ele nem os seus companheiros de ideologia e/ou de partido.
Defender o capitalismo é tarefa inglória. Por várias razões. Primeiro, porque as várias interpretações equivocadas e aplicações inadequadas do termo acabaram por dividi-lo numa expressão pluridimensional. Assim, temos o capitalismo de livre mercado, o capitalismo marxista, o capitalismo de Estado, o capitalismo de compadres etc.
Se Marx não foi o criador nem o primeiro a usar o termo, foi quem lhe atribuiu, no célebre O Capital, o sentido negativo mundialmente reconhecido e utilizado, e opôs de forma hábil a distinção entre capitalista e trabalhador. Converteu o empresário, o dono do capital, numa entidade diabólica que age para explorar a mão de obra do oprimido trabalhador.
Diante dessa carga simbólica infame, defender o capitalismo de livre mercado é entrar num debate no qual o anticapitalista entra tentando direcioná-lo contra o seu defensor, que mesmo antes de expor uma defesa conceitual, substantiva e material, com dados empíricos a sustentar a teoria, precisa previamente se defender das acusações pessoais de odiar os pobres e os beagles, e elencar justificativas (que o interlocutor nem sequer considerará) sobre o que o capitalismo não é. O crítico pretende conduzir o debate em sua zona de conforto, e assim ignorar estrategicamente o que diz o defensor do capitalismo de livre mercado.
É um erro muito comum supor que o anticapitalista é um interlocutor intelectualmente honesto. A ingênua boa-fé do defensor do capitalismo é utilizada pelo seu crítico como uma fraqueza a ser explorada; como um macete para atingir a cabeça do inimigo ideológico. E assim o “debate” se converte numa doutrinação e num instrumento de sedução dos incautos em busca de utopias perdidas.
Não é uma coincidência o fato de muitos anticapitalistas serem intelectuais e/ou indivíduos que constroem suas vidas fugindo da realidade. Essa fuga, justamente o vínculo entre ambos, é alicerçada numa teoria utópica (geralmente socialista ou comunista) que a estrutura, legitima e que pavimenta a construção idealizada de uma realidade abstrata na qual o mundo concreto e as pessoas reais não são o que eles veem, mas o que gostariam de ver, como bem apontou o economista americano Thomas Sowell em seu excelente Os Intelectuais e a Sociedade (p. 182-184).
Com a sua peculiar definição de capitalismo, esses ideólogos militantes, muitas vezes disfarçados de professores, atribuem todos os males sociais, políticos e econômicos do mundo a um sistema que, ao contrário da imagem caricatural de estar a serviço das grandes corporações, bancos etc., é, na verdade, formado por todos nós que atuamos na iniciativa privada, do pipoqueiro ao megaempresário. Um sistema que, a despeito da representação ficcional, tem suas virtudes e vicissitudes, e que foi capaz de permitir que as pessoas pudessem se alimentar, empreender, prosperar, ter tempo para o lazer, ter acesso a produtos e a confortos inimagináveis séculos atrás.
Sempre que um anticapitalista exibir o arsenal de equívocos contra o capitalismo, tenha a certeza de que o prejudicado com a alternativa política e econômica que defende não será ele nem os seus companheiros de ideologia e/ou de partido.
Mal do século - HÉLIO SCHWARTSMAN
FOLHA DE SP - 03/11
SÃO PAULO - Nos EUA, a polarização entre republicanos e democratas paralisou a administração federal. Por aqui, temos "black blocs", o "nós contra eles" de petistas e oposicionistas e o que parece ser uma tolerância cada vez menor para com opiniões divergentes.
Estamos ficando mais radicais? Não vejo como responder objetivamente a essa pergunta. Falta-nos o essencial, que é uma definição mensurável de radicalização e dados empíricos. Evidências anedóticas, porém, sugerem que algo assim pode estar ocorrendo, em certos nichos.
Tendo a ser cético sempre que alguém identifica uma epidemia qualquer e a atribui aos meios de comunicação. Se os homicídios aumentam, a culpa é dos games violentos. Se algumas meninas estão magras demais, ataque a ditadura da moda.
No caso específico da radicalização, entretanto, é possível que a internet desempenhe um papel relevante, muito mais por suas virtudes do que seus vícios. Ao possibilitar que pessoas, às vezes separadas por grandes distâncias geográficas e sociais, identifiquem interesses comuns e interajam --avanço que melhorou a vida de muitos solitários e incompreendidos--, a rede também abre espaço para uma das piores facetas da natureza humana.
Como mostrou o psicólogo Irving Janis, o desejo de manter a coesão e a harmonia do grupo faz com que seus membros tentem agir sempre em bloco e de maneira às vezes patológica.
Uma série de experimentos sugere que juntar muitas pessoas que pensam de forma parecida, numa sala ou na rede de computadores, resulta em maior polarização (radicalização das ideias), mais animosidade (sensação de onipotência em relação a outros grupos) e conformidade (supressão de dissensos internos).
O remédio contra isso está na própria internet: exposição a teorias diferentes. A pegadinha é que, quando o sujeito acha sua turma, ele foge das ideias de que seu grupo discorda.
SÃO PAULO - Nos EUA, a polarização entre republicanos e democratas paralisou a administração federal. Por aqui, temos "black blocs", o "nós contra eles" de petistas e oposicionistas e o que parece ser uma tolerância cada vez menor para com opiniões divergentes.
Estamos ficando mais radicais? Não vejo como responder objetivamente a essa pergunta. Falta-nos o essencial, que é uma definição mensurável de radicalização e dados empíricos. Evidências anedóticas, porém, sugerem que algo assim pode estar ocorrendo, em certos nichos.
Tendo a ser cético sempre que alguém identifica uma epidemia qualquer e a atribui aos meios de comunicação. Se os homicídios aumentam, a culpa é dos games violentos. Se algumas meninas estão magras demais, ataque a ditadura da moda.
No caso específico da radicalização, entretanto, é possível que a internet desempenhe um papel relevante, muito mais por suas virtudes do que seus vícios. Ao possibilitar que pessoas, às vezes separadas por grandes distâncias geográficas e sociais, identifiquem interesses comuns e interajam --avanço que melhorou a vida de muitos solitários e incompreendidos--, a rede também abre espaço para uma das piores facetas da natureza humana.
Como mostrou o psicólogo Irving Janis, o desejo de manter a coesão e a harmonia do grupo faz com que seus membros tentem agir sempre em bloco e de maneira às vezes patológica.
Uma série de experimentos sugere que juntar muitas pessoas que pensam de forma parecida, numa sala ou na rede de computadores, resulta em maior polarização (radicalização das ideias), mais animosidade (sensação de onipotência em relação a outros grupos) e conformidade (supressão de dissensos internos).
O remédio contra isso está na própria internet: exposição a teorias diferentes. A pegadinha é que, quando o sujeito acha sua turma, ele foge das ideias de que seu grupo discorda.
Sob nova orientação - JOÃO UBALDO RIBEIRO
O GLOBO - 03/11
Talvez a tarde amena e clara, que se firmou depois de uns chuvisquinhos matinais, tenha contribuído para a placidez quase silenciosa, então reinante entre os frequentadores do boteco. Nenhuma novidade. O pessoal do cânter, já disposto nas mesas mais próximas da calçada, apreciava, com animação discreta, a passagem de moças e senhoras indo e vindo da praia, “potrancas esplendorosas, cujo baloiçar de ancas sublimes transporta o homem aos píncaros do delírio erótico, ai se eu pudesse dar uma alisadinha em cada uma”, no dizer arrebatado do doutor Amoroso, que não por acaso ostenta este cognome. Em mesas bem próximas, Dick Primavera, diante de um notebook e três celulares, harmonizava, com a desenvoltura costumeira, seus múltiplos afazeres comerciais com o atendimento à extensa rede de admiradoras, sempre em busca de alguns minutos de seu tempo; Coração de Leão descrevia em minúcias seus mais recentes achaques, que incluem quase todas as doenças do catálogo médico que ele sempre consulta; doutor Leo Bom Gogó anunciava que vai puxar dois sambas e uma marchinha no próximo carnaval e ainda dispunha de um dia livre na agenda.
Tudo, portanto, na mesma de sempre, com a importante exceção da ausência, já pelo terceiro domingo consecutivo, do sempre aguerrido comandante Borges. Andaria, talvez, às voltas com o aperfeiçoamento do notório Plano Borges? Envolvera-se em algum duelo, dos muitos para os quais desafiara os insolentes? Ainda se dedicava a estudar os prós e contras da forca e da guilhotina, como métodos de combate à corrupção na vida pública?
— Nada disso — disse ele, com um risinho maroto, depois de cumprimentar todos individualmente e beijar com elegância as mãos das senhoras. — Eu tirei um tempo para namorar, tinha até esquecido como é, perdi ritmo de jogo. E eu sou velho, mas ainda tenho mercado, não envergonho.
— Mas que grande notícia! Vai trazer a namorada aqui, para apresentar?
— Não, não vou, já desisti, a degenerescência é total.
— A degenerescência? As mulheres...
— Não quero entrar em detalhes, os detalhes são inúmeros e de ordem muito diversa. Por exemplo, eu tenho posição firmada e fundamentada, quanto a essa questão dos pelos pubianos. Parece besteira, mas não é, é muito importante para a simbologia do amor, eu acho isso que está acontecendo uma irresponsabilidade muito séria, estão mexendo com a sobrevivência da espécie.
— Mas não há um certo exagero nisso? Quer dizer...
— Não pode raspar tudo e fazer plástica! Descaracteriza toda a área, como se fosse a casa da mãe Joana, aquilo ali não é qualquer lugar, pense bem, é patrimônio da Humanidade! É muito pior que construção sem licença ambiental, muitíssimo pior! Abala todo o inconsciente humano! Não pode! Não pode, é um crime! Chega! A testa é falsificada, o queixo é falsificado, a boca é falsificada, o pescoço é falsificado, os peitos são falsificados, a bunda é falsificada, as panturrilhas são falsificadas, as coxas são falsificadas e agora a zona básica de operações é falsificada! Não pode! Esse território é importante demais para ficar a cargo das mulheres, elas não entendem nada disso! Ainda mais essas mulheres irresponsáveis e inconsequentes, cujo primeiro gesto é patolar o indivíduo e cujo primeiro papo é sobre as preferências dela na cama! Todo mundo já viu todas as mulheres nuas, mostrando até as amídalas, não está certo! Não se pode aceitar uma coisa destas sem revolta! É caso de revolta popular! Revolta! Sedição! Fuzilamento! Às galés! Não pode, eu, eu...
— Calma, comandante, tome fôlego, olhe a apoplexia outra vez.
— Vocês me provocam. Não falo mais no assunto, sou um cavalheiro.
— É verdade. Acho que esta é a primeira vez em que você entrou aqui sem abordar os grandes problemas brasileiros.
— Ah, isso é passado. Esse negócio de falar no Brasil, me aborrecer à toa, não, isso é passado. Outro dia eu pensei e vi que não tem mais Brasil, a gente acha que tem porque se viciou, mas não tem mais. Veja esse rapaz sergipano que agora recusou a seleção brasileira e vai jogar pela Espanha. Você já pensou isso em 1960? Ele só não seria linchado porque todo mundo ia concluir que era um louco. Agora não, agora não tem mais país mesmo, não tem seleção como antes, todo mundo joga igual, não tem nem país do futebol, é tudo repetição besta, futebol aqui dá prejuízo, lá fora dá muito lucro e futebol é grana e grana não tem nacionalidade. Não tem essa besteira de Brasil-Brasil-Brasil, isso é coisa para os iludidos de minha marca, que agora estão abrindo os olhos. Agora tem o Brasil das mulheres e o Brasil dos homens até nos discursos das autoridades, o Brasil dos negros, o Brasil dos brancos e o Brasil dos pardos, o Brasil dos héteros e o Brasil dos gays, o Brasil dos evangélicos e o Brasil dos católicos, Brasil com bolsa família e Brasil sem bolsa família e nem sei mais quantas categorias, tudo dividido direitinho e entremeado de animosidades, todo mundo agora dispõe de várias categorias para odiar! A depender do caso, o sujeito está mais para uma delas do que para essa conversa de Brasil, esquece esse negócio de Brasil, não tem mais nada disso!
— Também não é assim, comandante. Lembre-se das manifestações.
— Por que é que eu vou me lembrar, se ninguém mais se lembra? Ninguém me pega com isso, já estou em outra. Agora estou escolhendo em qual dos Brasis vou ficar, não posso mais perder tempo.
— Já tem algum em vista?
— Já. O dos ladrões. Tem muita concorrência, mas é o que oferece mais futuro e segurança. Você entende alguma coisa de formação de quadrilha?
Talvez a tarde amena e clara, que se firmou depois de uns chuvisquinhos matinais, tenha contribuído para a placidez quase silenciosa, então reinante entre os frequentadores do boteco. Nenhuma novidade. O pessoal do cânter, já disposto nas mesas mais próximas da calçada, apreciava, com animação discreta, a passagem de moças e senhoras indo e vindo da praia, “potrancas esplendorosas, cujo baloiçar de ancas sublimes transporta o homem aos píncaros do delírio erótico, ai se eu pudesse dar uma alisadinha em cada uma”, no dizer arrebatado do doutor Amoroso, que não por acaso ostenta este cognome. Em mesas bem próximas, Dick Primavera, diante de um notebook e três celulares, harmonizava, com a desenvoltura costumeira, seus múltiplos afazeres comerciais com o atendimento à extensa rede de admiradoras, sempre em busca de alguns minutos de seu tempo; Coração de Leão descrevia em minúcias seus mais recentes achaques, que incluem quase todas as doenças do catálogo médico que ele sempre consulta; doutor Leo Bom Gogó anunciava que vai puxar dois sambas e uma marchinha no próximo carnaval e ainda dispunha de um dia livre na agenda.
Tudo, portanto, na mesma de sempre, com a importante exceção da ausência, já pelo terceiro domingo consecutivo, do sempre aguerrido comandante Borges. Andaria, talvez, às voltas com o aperfeiçoamento do notório Plano Borges? Envolvera-se em algum duelo, dos muitos para os quais desafiara os insolentes? Ainda se dedicava a estudar os prós e contras da forca e da guilhotina, como métodos de combate à corrupção na vida pública?
— Nada disso — disse ele, com um risinho maroto, depois de cumprimentar todos individualmente e beijar com elegância as mãos das senhoras. — Eu tirei um tempo para namorar, tinha até esquecido como é, perdi ritmo de jogo. E eu sou velho, mas ainda tenho mercado, não envergonho.
— Mas que grande notícia! Vai trazer a namorada aqui, para apresentar?
— Não, não vou, já desisti, a degenerescência é total.
— A degenerescência? As mulheres...
— Não quero entrar em detalhes, os detalhes são inúmeros e de ordem muito diversa. Por exemplo, eu tenho posição firmada e fundamentada, quanto a essa questão dos pelos pubianos. Parece besteira, mas não é, é muito importante para a simbologia do amor, eu acho isso que está acontecendo uma irresponsabilidade muito séria, estão mexendo com a sobrevivência da espécie.
— Mas não há um certo exagero nisso? Quer dizer...
— Não pode raspar tudo e fazer plástica! Descaracteriza toda a área, como se fosse a casa da mãe Joana, aquilo ali não é qualquer lugar, pense bem, é patrimônio da Humanidade! É muito pior que construção sem licença ambiental, muitíssimo pior! Abala todo o inconsciente humano! Não pode! Não pode, é um crime! Chega! A testa é falsificada, o queixo é falsificado, a boca é falsificada, o pescoço é falsificado, os peitos são falsificados, a bunda é falsificada, as panturrilhas são falsificadas, as coxas são falsificadas e agora a zona básica de operações é falsificada! Não pode! Esse território é importante demais para ficar a cargo das mulheres, elas não entendem nada disso! Ainda mais essas mulheres irresponsáveis e inconsequentes, cujo primeiro gesto é patolar o indivíduo e cujo primeiro papo é sobre as preferências dela na cama! Todo mundo já viu todas as mulheres nuas, mostrando até as amídalas, não está certo! Não se pode aceitar uma coisa destas sem revolta! É caso de revolta popular! Revolta! Sedição! Fuzilamento! Às galés! Não pode, eu, eu...
— Calma, comandante, tome fôlego, olhe a apoplexia outra vez.
— Vocês me provocam. Não falo mais no assunto, sou um cavalheiro.
— É verdade. Acho que esta é a primeira vez em que você entrou aqui sem abordar os grandes problemas brasileiros.
— Ah, isso é passado. Esse negócio de falar no Brasil, me aborrecer à toa, não, isso é passado. Outro dia eu pensei e vi que não tem mais Brasil, a gente acha que tem porque se viciou, mas não tem mais. Veja esse rapaz sergipano que agora recusou a seleção brasileira e vai jogar pela Espanha. Você já pensou isso em 1960? Ele só não seria linchado porque todo mundo ia concluir que era um louco. Agora não, agora não tem mais país mesmo, não tem seleção como antes, todo mundo joga igual, não tem nem país do futebol, é tudo repetição besta, futebol aqui dá prejuízo, lá fora dá muito lucro e futebol é grana e grana não tem nacionalidade. Não tem essa besteira de Brasil-Brasil-Brasil, isso é coisa para os iludidos de minha marca, que agora estão abrindo os olhos. Agora tem o Brasil das mulheres e o Brasil dos homens até nos discursos das autoridades, o Brasil dos negros, o Brasil dos brancos e o Brasil dos pardos, o Brasil dos héteros e o Brasil dos gays, o Brasil dos evangélicos e o Brasil dos católicos, Brasil com bolsa família e Brasil sem bolsa família e nem sei mais quantas categorias, tudo dividido direitinho e entremeado de animosidades, todo mundo agora dispõe de várias categorias para odiar! A depender do caso, o sujeito está mais para uma delas do que para essa conversa de Brasil, esquece esse negócio de Brasil, não tem mais nada disso!
— Também não é assim, comandante. Lembre-se das manifestações.
— Por que é que eu vou me lembrar, se ninguém mais se lembra? Ninguém me pega com isso, já estou em outra. Agora estou escolhendo em qual dos Brasis vou ficar, não posso mais perder tempo.
— Já tem algum em vista?
— Já. O dos ladrões. Tem muita concorrência, mas é o que oferece mais futuro e segurança. Você entende alguma coisa de formação de quadrilha?
As urnas da Argentina - MAC MARGOLIS
O Estado de S.Paulo - 03/11
A derrota dos aliados da presidente argentina, Cristina Kirchner, nas eleições da semana passada, mexeu com o país. Uns viram na escolha dos eleitores uma guinada importante na nação superpolitizada. Outros, vislumbraram uma trégua entre a Casa Rosada e os empresários, que há anos vivem à ponta de faca. E houve quem enxergasse mais. O tombo da dinastia Kirchner seria o início do fim de toda uma geração de caudilhos latino-americanos.
Melhor seria procurar tofu na parrilha. Ninguém dúvida, a eleição foi um golpe nas ambições da líder argentina. Adoentada e afastada da campanha, ela acompanhou em silêncio a sangria de seus preferidos. A começar pela Província de Buenos Aires, domicílio de 38% dos eleitores, onde o governista Martín Insaurralde foi humilhado pelo oposicionista Sergio Massa, ex-chefe de gabinete da própria presidente.
Os ungidos de Cristina também perderam terreno em Córdoba, Chubut, Santa Fé, Mendoza e Santa Cruz. Hoje, nem os mais fiéis cristinistas apostam em um terceiro mandato para a presidente, que depende da aprovação de dois terços do Parlamento.
Na política argentina, no entanto, um terremoto não necessariamente leva à revolução. Mesmo que acabe a era Kirchner, as eleições deixaram intocada a pedra fundamental do país, o peronismo. O novo astro da política, Massa pode ser rival moral da presidente, com perfil moderado e até simpático à pauta do empresariado, mas é da mesma flâmula de seu desafeto: o Partido Justicialista, fundado por Juan Domingo Perón, cuja sombra ainda encobre a tempestuosa política azul-celeste.
Eis uma das grandes diferenças entre a Argentina e os países bolivarianos. Sim, todos são tocados por populistas carismáticos e igualmente autoritários. Governam - uns mais exaltados que outros - com uma mão no microfone e outra enfiada no erário.
Nos países andinos, porém, a causa se confunde com o caudilho. Evo Morales é a cara e o cacique do socialismo "plurinacional" boliviano, assim como Rafael Correa é sócio-fundador, chefe e animador da "revolução cidadã" do Equador.
Por mais que Hugo Chávez tenha negado que o seu socialismo do século 21 dependa de uma só pessoa, a agonia de seu sucessor, Nicolás Maduro, o desmente a cada dia. Maduro até tenta vestir o manto do mentor, mas lhe falta ombro.
Já na Argentina, o sistema sobreviveu ao líder. Perón foi, ao mesmo tempo, um caudilho personalista e um exímio operador político, sempre de olho no futuro. Com apoio de sindicalistas, do empresariado amigo e de uma sempre comprável bancada legislativa, institucionalizou seu poder.
No entanto, criou um poder com molejo. E sucessores. Alguns peronistas são nacionalistas ou intervencionistas, outros chegados à livre iniciativa. "São como a Coca-Cola", disse um líder peronista ao correspondente do Estado, Ariel Palacios. "Ora light, ora tradicional. Mas são todos peronistas."
Nenhum deles é Juan Domingo, claro. Mas todos fazem juras ao fiador. Assim, o peronismo renova-se, criando novos caciques e tendências, sem perder a hegemonia. Cristina, embora derrotada, não está acabada. Seus aliados na grande gincana peronista continuam com maioria simples, no Senado e na Câmara. Ela continua controlando o Legislativo e, graças a reformas anteriores, dispõe de poderes de decreto.
Quem imagina que a derrota eleitoral possa levá-la à moderação, pode ficar sonhando. Apenas 48 horas depois de a Suprema Corte dar ao governo ganho de causa na ruidosa briga com o Grupo Clarín, um enviado da Casa Rosada entregou pessoalmente a ordem judicial ao jornal. Assim, Cristina deflagrou o desmonte do mais poderoso grupo de mídia do país. É a revanche, no estilo K.
A derrota dos aliados da presidente argentina, Cristina Kirchner, nas eleições da semana passada, mexeu com o país. Uns viram na escolha dos eleitores uma guinada importante na nação superpolitizada. Outros, vislumbraram uma trégua entre a Casa Rosada e os empresários, que há anos vivem à ponta de faca. E houve quem enxergasse mais. O tombo da dinastia Kirchner seria o início do fim de toda uma geração de caudilhos latino-americanos.
Melhor seria procurar tofu na parrilha. Ninguém dúvida, a eleição foi um golpe nas ambições da líder argentina. Adoentada e afastada da campanha, ela acompanhou em silêncio a sangria de seus preferidos. A começar pela Província de Buenos Aires, domicílio de 38% dos eleitores, onde o governista Martín Insaurralde foi humilhado pelo oposicionista Sergio Massa, ex-chefe de gabinete da própria presidente.
Os ungidos de Cristina também perderam terreno em Córdoba, Chubut, Santa Fé, Mendoza e Santa Cruz. Hoje, nem os mais fiéis cristinistas apostam em um terceiro mandato para a presidente, que depende da aprovação de dois terços do Parlamento.
Na política argentina, no entanto, um terremoto não necessariamente leva à revolução. Mesmo que acabe a era Kirchner, as eleições deixaram intocada a pedra fundamental do país, o peronismo. O novo astro da política, Massa pode ser rival moral da presidente, com perfil moderado e até simpático à pauta do empresariado, mas é da mesma flâmula de seu desafeto: o Partido Justicialista, fundado por Juan Domingo Perón, cuja sombra ainda encobre a tempestuosa política azul-celeste.
Eis uma das grandes diferenças entre a Argentina e os países bolivarianos. Sim, todos são tocados por populistas carismáticos e igualmente autoritários. Governam - uns mais exaltados que outros - com uma mão no microfone e outra enfiada no erário.
Nos países andinos, porém, a causa se confunde com o caudilho. Evo Morales é a cara e o cacique do socialismo "plurinacional" boliviano, assim como Rafael Correa é sócio-fundador, chefe e animador da "revolução cidadã" do Equador.
Por mais que Hugo Chávez tenha negado que o seu socialismo do século 21 dependa de uma só pessoa, a agonia de seu sucessor, Nicolás Maduro, o desmente a cada dia. Maduro até tenta vestir o manto do mentor, mas lhe falta ombro.
Já na Argentina, o sistema sobreviveu ao líder. Perón foi, ao mesmo tempo, um caudilho personalista e um exímio operador político, sempre de olho no futuro. Com apoio de sindicalistas, do empresariado amigo e de uma sempre comprável bancada legislativa, institucionalizou seu poder.
No entanto, criou um poder com molejo. E sucessores. Alguns peronistas são nacionalistas ou intervencionistas, outros chegados à livre iniciativa. "São como a Coca-Cola", disse um líder peronista ao correspondente do Estado, Ariel Palacios. "Ora light, ora tradicional. Mas são todos peronistas."
Nenhum deles é Juan Domingo, claro. Mas todos fazem juras ao fiador. Assim, o peronismo renova-se, criando novos caciques e tendências, sem perder a hegemonia. Cristina, embora derrotada, não está acabada. Seus aliados na grande gincana peronista continuam com maioria simples, no Senado e na Câmara. Ela continua controlando o Legislativo e, graças a reformas anteriores, dispõe de poderes de decreto.
Quem imagina que a derrota eleitoral possa levá-la à moderação, pode ficar sonhando. Apenas 48 horas depois de a Suprema Corte dar ao governo ganho de causa na ruidosa briga com o Grupo Clarín, um enviado da Casa Rosada entregou pessoalmente a ordem judicial ao jornal. Assim, Cristina deflagrou o desmonte do mais poderoso grupo de mídia do país. É a revanche, no estilo K.
A mãe de todas as batalhas - FREDDY LEPAGE
O GLOBO - 03/11
Recente pesquisa da empresa Keller y Asociados dá conta do que mais preocupa os venezuelanos. Chama a atenção que temas que anteriormente não apareciam, ou o faziam com uma percentagem muito baixa, agora adquirem relevância. A delinquência continua sendo o maior problema, para 80% dos entrevistados; em seguida vem o custo de vida (74%), a corrupção (70%), o narcotráfico com 65%, mesmo número atribuído ao desemprego e às preocupações com a economia. Vale notar que o participante podia marcar mais de uma opção.
É de se notar que esses problemas se tornaram mais agudos durante a gestão do presidente Maduro. Sabemos, por experiência, que esses resultados serão considerados pelo governo como mais uma arremetida de setores da oposição, inimigos jurados da revolução bolivariana. No entanto, são realidades que não podem ser ocultadas, por mais piruetas que façam os principais porta-vozes da cúpula governante.
O certo é que quanto mais se empenhem em negar ou distorcer o que sucede diariamente aos cidadãos pior será. A reação do povo, cansado de tantos atropelos e mentiras, deve ser levada em conta. Temo que sua paciência esteja se esgotando e que, cedo ou tarde, se as correções necessárias não forem aplicadas a tempo, a raiva contida explodirá na cara dos que se empenham em negar-lhes respostas eficientes e oportunas sobre as dificuldades presentes. O regime não pode continuar atuando com a prepotência e a impunidade garantidas pelo monopólio da força e o controle absoluto das instituições.
Aos temas abordados na pesquisa da Keller y Asociados há que agregar muitas outras circunstâncias que complicam o delicado cenário nacional. O próprio Banco Central da Venezuela destaca o agravamento da escassez e o desabastecimento de muitos produtos da dieta básica do cidadão venezuelano. Eles não dão sinal de vida em lugar algum, a não ser nas mesas dos que usufruem de altos cargos governamentais; mas o resto dos mortais tem que fazer das tripas coração para levar comida a suas famílias. Nem se fale de outros produtos de consumo diário.
De tal maneira que o governo, em vez de inventar guerras, conspirações, inimigos internos e externos, o que tem a fazer é levar a sério e enfrentar a grave crise; isto é, governar com seriedade a favor de toda a sociedade (priorizando, é claro, os setores mais vulneráveis da população), sem exclusões aberrantes que só fazem dividir ainda mais o já dividido povo venezuelano.
A mãe de todas as batalhas é derrotar a inflação, que coloca contra a parede as famílias e converte os salários em insuficientes e vis; normalizar o mercado de câmbio e deixar de lado tantas improvisações e contradições, que acabam por empastelar ainda mais o que já é, por si mesmo, complicado. O governo deve deixar de tretas e lutar de verdade contra o narcotráfico, a corrupção, a insegurança e a estupidez na gestão pública. Enfim, governar em função do desenvolvimento.
Uma pergunta, amigo leitor: você acha que Maduro será capaz de fazer tudo isto? Não creio. Por isso, é preciso levar a sério o voto nas eleições municipais de 8 de dezembro. Não há outra forma de se conseguir mudar o rumo das coisas.
É de se notar que esses problemas se tornaram mais agudos durante a gestão do presidente Maduro. Sabemos, por experiência, que esses resultados serão considerados pelo governo como mais uma arremetida de setores da oposição, inimigos jurados da revolução bolivariana. No entanto, são realidades que não podem ser ocultadas, por mais piruetas que façam os principais porta-vozes da cúpula governante.
O certo é que quanto mais se empenhem em negar ou distorcer o que sucede diariamente aos cidadãos pior será. A reação do povo, cansado de tantos atropelos e mentiras, deve ser levada em conta. Temo que sua paciência esteja se esgotando e que, cedo ou tarde, se as correções necessárias não forem aplicadas a tempo, a raiva contida explodirá na cara dos que se empenham em negar-lhes respostas eficientes e oportunas sobre as dificuldades presentes. O regime não pode continuar atuando com a prepotência e a impunidade garantidas pelo monopólio da força e o controle absoluto das instituições.
Aos temas abordados na pesquisa da Keller y Asociados há que agregar muitas outras circunstâncias que complicam o delicado cenário nacional. O próprio Banco Central da Venezuela destaca o agravamento da escassez e o desabastecimento de muitos produtos da dieta básica do cidadão venezuelano. Eles não dão sinal de vida em lugar algum, a não ser nas mesas dos que usufruem de altos cargos governamentais; mas o resto dos mortais tem que fazer das tripas coração para levar comida a suas famílias. Nem se fale de outros produtos de consumo diário.
De tal maneira que o governo, em vez de inventar guerras, conspirações, inimigos internos e externos, o que tem a fazer é levar a sério e enfrentar a grave crise; isto é, governar com seriedade a favor de toda a sociedade (priorizando, é claro, os setores mais vulneráveis da população), sem exclusões aberrantes que só fazem dividir ainda mais o já dividido povo venezuelano.
A mãe de todas as batalhas é derrotar a inflação, que coloca contra a parede as famílias e converte os salários em insuficientes e vis; normalizar o mercado de câmbio e deixar de lado tantas improvisações e contradições, que acabam por empastelar ainda mais o que já é, por si mesmo, complicado. O governo deve deixar de tretas e lutar de verdade contra o narcotráfico, a corrupção, a insegurança e a estupidez na gestão pública. Enfim, governar em função do desenvolvimento.
Uma pergunta, amigo leitor: você acha que Maduro será capaz de fazer tudo isto? Não creio. Por isso, é preciso levar a sério o voto nas eleições municipais de 8 de dezembro. Não há outra forma de se conseguir mudar o rumo das coisas.
O populismo é pop - CLÓVIS ROSSI
FOLHA DE SP - 03/11
Pesquisa 'Latinobarômetro' mostra que os regimes mais criticados como populistas são os de maior aceitação
O tão criticado populismo é muito querido na América Latina, demonstra o "Latinobarômetro 2013", divulgado na sexta-feira, com a exclusividade de praxe pela revista britânica "The Economist".
A pesquisa deixa o Brasil em uma posição simplesmente horrível, apesar de o governo Dilma Rousseff ser rotulado de populista por tanta gente.
De fato, quando a pergunta é se "o país é governado para o benefício de todos", menos de 30% dos brasileiros respondem que sim. O Brasil é o 15º nesse ranking, ganhando apenas de três países (Costa Rica, Honduras e Paraguai).
Pior: quando a pergunta é quão satisfeito o consultado está com a maneira como funciona a democracia em seu país, pouco mais de 20% dos brasileiros se dizem "muito" ou "algo" satisfeitos. É uma porcentagem inferior à encontrada, para a mesma questão, em 2003, o ano em que Luiz Inácio Lula da Silva chegou à Presidência.
Pelos números da pesquisa, não dá para deixar de atribuir a culpa pela insatisfação à gestão Dilma Rousseff, pela simples e boa razão de que, em 2011 (penúltimo ano do governo Lula), os "muito" ou "algo" satisfeitos com o funcionamento da democracia eram 40% --o dobro, portanto, do que se verifica agora.
Dá para dizer que a satisfação com a maneira como a democracia funcionou foi subindo durante a era Lula, para, de repente, começar a cair com Dilma. É um dado contraditório com a popularidade de que continua a gozar a presidente, mas congruente com a eclosão dos protestos de junho, que deram margem ao lançamento da criativa frase segundo a qual "éramos infelizes e não sabíamos".
Brasil à parte, o dado que mais chama a atenção no "Latinobarômetro 2013" é o prestígio dos regimes ditos populistas de esquerda.
De fato, a média latino-americana de satisfação com a maneira como funciona a democracia é de 40% dos consultados (quase o dobro da porcentagem encontrada para o Brasil).
Acima dessa média, figuram três dos países que se autointitulam "bolivarianos": Equador (segundo colocado, atrás do Uruguai), Nicarágua e Venezuela (sim, a Venezuela do desabastecimento, da insegurança e de uma das inflações mais altas do mundo).
Figura também a Argentina, que é considerada mais próxima do "bolivarianismo" do que do moderado "lulismo".
A "Economist", que não tem a mais remota simpatia por regimes do gênero, explica que a satisfação "depende menos do crescimento econômico ou da qualidade das instituições do que do sentimento de que o governo está atuando em favor de todos, em vez de uns poucos privilegiados".
A revista tem razão, a julgar pelo item da pesquisa que pergunta se o país é governado para o benefício de todos: dos seis países que ficam acima da baixa média latino-americana (inferior a 30%), quatro são os mais acusados de populismo de esquerda (Equador, Nicarágua, Bolívia e Venezuela). Uruguai e El Salvador completam a lista.
Seria mais correto trocar o rótulo "populista" por "popular", certo?
Pesquisa 'Latinobarômetro' mostra que os regimes mais criticados como populistas são os de maior aceitação
O tão criticado populismo é muito querido na América Latina, demonstra o "Latinobarômetro 2013", divulgado na sexta-feira, com a exclusividade de praxe pela revista britânica "The Economist".
A pesquisa deixa o Brasil em uma posição simplesmente horrível, apesar de o governo Dilma Rousseff ser rotulado de populista por tanta gente.
De fato, quando a pergunta é se "o país é governado para o benefício de todos", menos de 30% dos brasileiros respondem que sim. O Brasil é o 15º nesse ranking, ganhando apenas de três países (Costa Rica, Honduras e Paraguai).
Pior: quando a pergunta é quão satisfeito o consultado está com a maneira como funciona a democracia em seu país, pouco mais de 20% dos brasileiros se dizem "muito" ou "algo" satisfeitos. É uma porcentagem inferior à encontrada, para a mesma questão, em 2003, o ano em que Luiz Inácio Lula da Silva chegou à Presidência.
Pelos números da pesquisa, não dá para deixar de atribuir a culpa pela insatisfação à gestão Dilma Rousseff, pela simples e boa razão de que, em 2011 (penúltimo ano do governo Lula), os "muito" ou "algo" satisfeitos com o funcionamento da democracia eram 40% --o dobro, portanto, do que se verifica agora.
Dá para dizer que a satisfação com a maneira como a democracia funcionou foi subindo durante a era Lula, para, de repente, começar a cair com Dilma. É um dado contraditório com a popularidade de que continua a gozar a presidente, mas congruente com a eclosão dos protestos de junho, que deram margem ao lançamento da criativa frase segundo a qual "éramos infelizes e não sabíamos".
Brasil à parte, o dado que mais chama a atenção no "Latinobarômetro 2013" é o prestígio dos regimes ditos populistas de esquerda.
De fato, a média latino-americana de satisfação com a maneira como funciona a democracia é de 40% dos consultados (quase o dobro da porcentagem encontrada para o Brasil).
Acima dessa média, figuram três dos países que se autointitulam "bolivarianos": Equador (segundo colocado, atrás do Uruguai), Nicarágua e Venezuela (sim, a Venezuela do desabastecimento, da insegurança e de uma das inflações mais altas do mundo).
Figura também a Argentina, que é considerada mais próxima do "bolivarianismo" do que do moderado "lulismo".
A "Economist", que não tem a mais remota simpatia por regimes do gênero, explica que a satisfação "depende menos do crescimento econômico ou da qualidade das instituições do que do sentimento de que o governo está atuando em favor de todos, em vez de uns poucos privilegiados".
A revista tem razão, a julgar pelo item da pesquisa que pergunta se o país é governado para o benefício de todos: dos seis países que ficam acima da baixa média latino-americana (inferior a 30%), quatro são os mais acusados de populismo de esquerda (Equador, Nicarágua, Bolívia e Venezuela). Uruguai e El Salvador completam a lista.
Seria mais correto trocar o rótulo "populista" por "popular", certo?
A estreia da primeira IPO humana - DORRIT HARAZIM
O GLOBO - 03/11
Anovidade tem tudo para dar errado. Ser uma arapuca para investidores ofuscados por nomes de famosos e implodir como quintessência de aventura de marketing financeiro. Ainda assim, seu lançamento no início deste mês pode ser considerado uma marca na história do capitalismo moderno.
Devidamente credenciada pela Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC, na sigla em inglês), a recém-criada Fantex Holding de São Francisco, financiada por investidores de Wall Street e por grandes operadores do mundo dos esportes, lançou a primeira IPO de um bípede. Trata-se do astro do futebol americano Arian Foster, um dos mais populares e eletrizantes running backs da National Football League (NFL), a poderosa dona do esporte. De ascendência mexicana, americana e negra, Foster é um showman nato, além de ter tido desempenho eletrizante em duas das três ultimas temporadas. Tem contrato de cinco anos assinado com o Houston Texans, no valor de US$ 43,5 milhões.
A ideia da Fantex é vender US$ 10,5 milhões em ações do atleta. Atingida a meta, Foster recebe de uma só vez um adiantamento de US$ 10 milhões e a partir daí ele se compromete a pagar à corretora, até o fim da vida, 20% sobre todos os seus rendimentos — contratos com clubes, patrocínios, campanhas com publicidade, cachês, direitos autorais, participação em filmes, seja o que for que venha a ter.
Os 1.055.000 de ações colocadas à venda estão abertos a qualquer investidor de mais de 18 anos que resida nos Estados Unidos, com lance mínimo de dez dólares. Mas ninguém poderá adquirir mais de 1% do total. E quem quiser renegociar suas ações no futuro deverá pagar 1% de comissão à Fantex. “Estamos unindo esporte e negócio de uma forma até então impensável”, celebrou Buck French, o cofundador e CEO da empresa. “Construímos uma plataforma poderosa para alavancar a marca de atletas. E, no futuro, de celebridades em geral”, diz o ex-aluno da Harvard Business School.
Com seus 85 milhões de autoproclamados fãs “fanáticos” e uma audiência televisiva sem paralelo no esporte mundial, o futebol americano serviu de celeiro ideal onde pinçar um ídolo e formatá-lo em commodity. Não apenas para investidores em busca de ações passíveis de se valorizarem, como para torcedores e fãs apaixonados — à falta de um autógrafo, que tal poder dizer que tem ações de Neymar, Usain Bolt ou (que Felipão não nos ouça) do atacante Diego Costa?
De acordo com o registro da Fantex na SEC, a cada atleta ou celebridade transformado em mercado de ações será alocado um gerente de marca encarregado de aumentar o valor do “produto”. Na avaliação do valor desse bípede entram variáveis bastante elásticas — além de contratos já assinados e desempenho atlético, entram variáveis como idade, número de seguidores no Twitter, ambição, carisma, drive pessoal.
Muitos lutadores de boxe emergentes, jogadores de futebol, tenistas e cavalos já tiveram donos, sócios ou investidores privados no passado. De vários tipos e caracteres. O caso mais célebre é o do boxeador americano Sugar Ray Leonard, que, depois de conquistar o ouro nos Jogos Olímpicos de Montreal, em 1976, precisou tornar-se atleta profissional para sustentar a família. Orientado por um advogado, fundou a empresa Sugar Ray Leonard Inc, da qual era único acionista, e teve por investidores 24 amigos que lhe emprestaram US$ 21 mil por quatro anos, a juros de 8%. Já na primeira luta como profissional, porém, ressarciu todos. Acabou tornando-se o primeiro lutador profissional a embolsar mais de US$ 100 mil em luvas.
Também já houve apostas ligadas a celebridades fora da arena esportiva. Nos anos 1990 um financista chegou a criar um modesto negócio de ações com o valor futuro de 25 discos do roqueiro David Bowie — os chamados “Bowie Bonds”. Só que a cotação do valor dessas músicas não dependia da disposição, da popularidade ou do estado de saúde futuros do cantor. Não dependia sequer de ele estar vivo ou morto.
No caso da IPO humana de agora, a corretora precisa turbinar ao máximo não apenas a carreira do atleta como o leque de atividades posteriores a ela. Só que a segunda parte desta equação depende, perigosamente, da primeira.
E os riscos da primeira são, per se, colossais. Tome-se o caso do próprio ídolo do Houston Texans. Três dias depois do anúncio da IPO, Arian Foster teve um de seus piores desempenhos em cinco anos de NFL. Pegou na bola só quatro vezes antes de sair de campo na primeira metade do jogo, com um estiramento da panturrilha. Desde o início da temporada seu desempenho já não vinha sendo cintilante e a ele vieram se juntar rumores não confirmados de alguma anomalia cardíaca.
Na NFL, bem mais do que em outros esportes, lesões são consideradas parte do jogo — tanto assim que numa única temporada a média de concussões cerebrais sofridas por cada jogador, dependendo da posição que ocupa em campo, oscila entre 420 e 2.492. Outra peculiaridade da NFL em relação a outros esportes é que contratos não são garantidos, maus desempenhos repetidos condenam o atleta ao banco de reservas e não raro dali para procurar emprego em outro time.
Cabe perguntar se a perspectiva de receber um adiantamento vultoso que lhe sirva de garantia para a vida não levará um atleta a melhorar artificialmente seu desempenho, recorrendo ao doping, ou a suportar danos físicos irreparáveis para poderem ser alvo de uma IPO salvadora.
Para o investidor, o alerta de que se trata de uma aposta de alto grau especulativo consta do próprio material de divulgação da operadora: “Investir nas ações da Fantex só deve ser cogitado por quem pode arriscar a perda total do seu investimento”, diz o texto de lançamento do novo empreendimento.
Pouco importa, a semente está lançada. Surpreende apenas que a primeira IPO humana não tenha sido de Eike Batista.
Anovidade tem tudo para dar errado. Ser uma arapuca para investidores ofuscados por nomes de famosos e implodir como quintessência de aventura de marketing financeiro. Ainda assim, seu lançamento no início deste mês pode ser considerado uma marca na história do capitalismo moderno.
Devidamente credenciada pela Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC, na sigla em inglês), a recém-criada Fantex Holding de São Francisco, financiada por investidores de Wall Street e por grandes operadores do mundo dos esportes, lançou a primeira IPO de um bípede. Trata-se do astro do futebol americano Arian Foster, um dos mais populares e eletrizantes running backs da National Football League (NFL), a poderosa dona do esporte. De ascendência mexicana, americana e negra, Foster é um showman nato, além de ter tido desempenho eletrizante em duas das três ultimas temporadas. Tem contrato de cinco anos assinado com o Houston Texans, no valor de US$ 43,5 milhões.
A ideia da Fantex é vender US$ 10,5 milhões em ações do atleta. Atingida a meta, Foster recebe de uma só vez um adiantamento de US$ 10 milhões e a partir daí ele se compromete a pagar à corretora, até o fim da vida, 20% sobre todos os seus rendimentos — contratos com clubes, patrocínios, campanhas com publicidade, cachês, direitos autorais, participação em filmes, seja o que for que venha a ter.
Os 1.055.000 de ações colocadas à venda estão abertos a qualquer investidor de mais de 18 anos que resida nos Estados Unidos, com lance mínimo de dez dólares. Mas ninguém poderá adquirir mais de 1% do total. E quem quiser renegociar suas ações no futuro deverá pagar 1% de comissão à Fantex. “Estamos unindo esporte e negócio de uma forma até então impensável”, celebrou Buck French, o cofundador e CEO da empresa. “Construímos uma plataforma poderosa para alavancar a marca de atletas. E, no futuro, de celebridades em geral”, diz o ex-aluno da Harvard Business School.
Com seus 85 milhões de autoproclamados fãs “fanáticos” e uma audiência televisiva sem paralelo no esporte mundial, o futebol americano serviu de celeiro ideal onde pinçar um ídolo e formatá-lo em commodity. Não apenas para investidores em busca de ações passíveis de se valorizarem, como para torcedores e fãs apaixonados — à falta de um autógrafo, que tal poder dizer que tem ações de Neymar, Usain Bolt ou (que Felipão não nos ouça) do atacante Diego Costa?
De acordo com o registro da Fantex na SEC, a cada atleta ou celebridade transformado em mercado de ações será alocado um gerente de marca encarregado de aumentar o valor do “produto”. Na avaliação do valor desse bípede entram variáveis bastante elásticas — além de contratos já assinados e desempenho atlético, entram variáveis como idade, número de seguidores no Twitter, ambição, carisma, drive pessoal.
Muitos lutadores de boxe emergentes, jogadores de futebol, tenistas e cavalos já tiveram donos, sócios ou investidores privados no passado. De vários tipos e caracteres. O caso mais célebre é o do boxeador americano Sugar Ray Leonard, que, depois de conquistar o ouro nos Jogos Olímpicos de Montreal, em 1976, precisou tornar-se atleta profissional para sustentar a família. Orientado por um advogado, fundou a empresa Sugar Ray Leonard Inc, da qual era único acionista, e teve por investidores 24 amigos que lhe emprestaram US$ 21 mil por quatro anos, a juros de 8%. Já na primeira luta como profissional, porém, ressarciu todos. Acabou tornando-se o primeiro lutador profissional a embolsar mais de US$ 100 mil em luvas.
Também já houve apostas ligadas a celebridades fora da arena esportiva. Nos anos 1990 um financista chegou a criar um modesto negócio de ações com o valor futuro de 25 discos do roqueiro David Bowie — os chamados “Bowie Bonds”. Só que a cotação do valor dessas músicas não dependia da disposição, da popularidade ou do estado de saúde futuros do cantor. Não dependia sequer de ele estar vivo ou morto.
No caso da IPO humana de agora, a corretora precisa turbinar ao máximo não apenas a carreira do atleta como o leque de atividades posteriores a ela. Só que a segunda parte desta equação depende, perigosamente, da primeira.
E os riscos da primeira são, per se, colossais. Tome-se o caso do próprio ídolo do Houston Texans. Três dias depois do anúncio da IPO, Arian Foster teve um de seus piores desempenhos em cinco anos de NFL. Pegou na bola só quatro vezes antes de sair de campo na primeira metade do jogo, com um estiramento da panturrilha. Desde o início da temporada seu desempenho já não vinha sendo cintilante e a ele vieram se juntar rumores não confirmados de alguma anomalia cardíaca.
Na NFL, bem mais do que em outros esportes, lesões são consideradas parte do jogo — tanto assim que numa única temporada a média de concussões cerebrais sofridas por cada jogador, dependendo da posição que ocupa em campo, oscila entre 420 e 2.492. Outra peculiaridade da NFL em relação a outros esportes é que contratos não são garantidos, maus desempenhos repetidos condenam o atleta ao banco de reservas e não raro dali para procurar emprego em outro time.
Cabe perguntar se a perspectiva de receber um adiantamento vultoso que lhe sirva de garantia para a vida não levará um atleta a melhorar artificialmente seu desempenho, recorrendo ao doping, ou a suportar danos físicos irreparáveis para poderem ser alvo de uma IPO salvadora.
Para o investidor, o alerta de que se trata de uma aposta de alto grau especulativo consta do próprio material de divulgação da operadora: “Investir nas ações da Fantex só deve ser cogitado por quem pode arriscar a perda total do seu investimento”, diz o texto de lançamento do novo empreendimento.
Pouco importa, a semente está lançada. Surpreende apenas que a primeira IPO humana não tenha sido de Eike Batista.
Carnaval investigado - ANCELMO GOIS
O GLOBO - 03/11
O MP do Rio abriu processo contra o prefeito Eduardo Paes, o presidente da Riotur, Antonio Pedro Figueira de Mello, dois ex-diretores da empresa e 13 escolas de samba. A investigação, que contou com os promotores Glaucia Santana, Eduardo Carvalho e Flavio Bonazza, durou sete anos.
Segue...
O MP acusa a prefeitura de não fazer licitação para organizar os desfiles e deixar tudo com a Liesa.
O processo relata que a prefeitura dá cerca de R$1 milhão, por ano, a cada agremiação. Só que as escolas, ainda segundo o MP, prestam contas com “notas fiscais inidôneas”.
Um exemplo...
Veja o caso da Mangueira. Em 2010, a verde e rosa apresentou uma nota de R$ 43 mil, da Nivio Rio Comércio, e outra de R$155.884, da Pangola Distribuidora de Papéis e Plásticos.
Só que, naquele carnaval, as duas já estavam inativas há anos e anos.
As greves da Copa
O pessoal da Polícia Federal ameaça cruzar os braços durante a Copa do Mundo.
Em 2010, na África do Sul, também ocorreu isso. Com a proximidade da Copa, cresceu a ameaça de greves em setores envolvidos com o evento.
O cafezinho do chefão
Bernie Ecclestone, o inglês chefão da Fórmula 1, de 83 anos, comprou uma fazenda na miúda Amparo, a 140 km da capital de São Paulo. Deve plantar café por lá.
O suspense de Allende
A Editora Bertrand Brasil lança, em janeiro agora, “Ripper”, novo livro de Isabel Allende. Trata-se do primeiro suspense escrito pela chilena.
Amor impossível?
Por causa de uma diverticulite, FH não foi terça a Brasília receber, ao lado de Lula, a medalha Ulysses Guimarães. Agora, um grupo de corintianos ilustres tenta levar Lula e FH para visitarem juntos a obra da Arena Corinthians. Os dois ex-presidentes são torcedores do time paulista.
Mas...
Se vai conseguir é outra história.
Escolta especial
O clima está pesado entre o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e Antônio Ferreira Pinto, depois que o ex-secretário de Segurança acusou o governador de faturar politicamente com as supostas ameaças de morte feitas por integrantes da facção criminosa PCC.
Só que...
Com o argumento de que também é ameaçado pelo PCC, o ex-secretário pediu escolta especial assim que deixou o governo, há um ano.Andam com ele 12 PMs e dois carros que se dividem em três turnos.
São tantas emoções
No meio desta polêmica das biografias, Roberto Carlos encarou um ano conturbado no prédio onde mora, na Urca, em frente à Baía de Guanabara.
Nos últimos meses, o Rei foi a cinco reuniões de condomínio para discutir um problema financeiro nas contas do prédio. A última foi semana passada.
Já deu saudade
Um grupo de ciclistas marcou pelo Facebook um passeio ciclístico no Elevado da Perimetral, hoje, às 10h, antes que ele seja demolido.
Outra turma está combinando de apreciar a implosão, de uma laje no Morro da Providência, com direito a cerveja e comida caseira.
Aliás...
O Hospital do Câncer II, que fica nos fundos da Rodoviária, já prepara uma operação de guerra para a segunda parte da demolição da Perimetral, prevista para dezembro.
A ideia do Inca é diminuir no dia da implosão o número de funcionários e pacientes. Estes últimos, hoje, são 65 — seis deles internados no CTI.
Duas feras
Eumir Deodato, que vive nos EUA desde os anos 1960, e Al Jarreau, premiado sete vezes pelo Grammy, vão se apresentar juntos no Rio, dia 16 agora.Os dois fazem sucesso nas rádios americanas com a música “Double face”. O show será no Parque dos Patins, de graça, no festival Sesc Amplifica.
Cena carioca
No início da noite de quinta, uma carioca fazia compras na C&A, na Praça Saens Peña, na Tijuca, quando uma adolescente, de uns 14 anos, pediu que ela comprasse algo pra ela.
A jovem disse que não podia, mas a menina insistiu.
— O que você quer?
— Isso ó...
Era uma calcinha fio dental.
Há testemunhas.
Segue...
O MP acusa a prefeitura de não fazer licitação para organizar os desfiles e deixar tudo com a Liesa.
O processo relata que a prefeitura dá cerca de R$1 milhão, por ano, a cada agremiação. Só que as escolas, ainda segundo o MP, prestam contas com “notas fiscais inidôneas”.
Um exemplo...
Veja o caso da Mangueira. Em 2010, a verde e rosa apresentou uma nota de R$ 43 mil, da Nivio Rio Comércio, e outra de R$155.884, da Pangola Distribuidora de Papéis e Plásticos.
Só que, naquele carnaval, as duas já estavam inativas há anos e anos.
As greves da Copa
O pessoal da Polícia Federal ameaça cruzar os braços durante a Copa do Mundo.
Em 2010, na África do Sul, também ocorreu isso. Com a proximidade da Copa, cresceu a ameaça de greves em setores envolvidos com o evento.
O cafezinho do chefão
Bernie Ecclestone, o inglês chefão da Fórmula 1, de 83 anos, comprou uma fazenda na miúda Amparo, a 140 km da capital de São Paulo. Deve plantar café por lá.
O suspense de Allende
A Editora Bertrand Brasil lança, em janeiro agora, “Ripper”, novo livro de Isabel Allende. Trata-se do primeiro suspense escrito pela chilena.
Amor impossível?
Por causa de uma diverticulite, FH não foi terça a Brasília receber, ao lado de Lula, a medalha Ulysses Guimarães. Agora, um grupo de corintianos ilustres tenta levar Lula e FH para visitarem juntos a obra da Arena Corinthians. Os dois ex-presidentes são torcedores do time paulista.
Mas...
Se vai conseguir é outra história.
Escolta especial
O clima está pesado entre o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e Antônio Ferreira Pinto, depois que o ex-secretário de Segurança acusou o governador de faturar politicamente com as supostas ameaças de morte feitas por integrantes da facção criminosa PCC.
Só que...
Com o argumento de que também é ameaçado pelo PCC, o ex-secretário pediu escolta especial assim que deixou o governo, há um ano.Andam com ele 12 PMs e dois carros que se dividem em três turnos.
São tantas emoções
No meio desta polêmica das biografias, Roberto Carlos encarou um ano conturbado no prédio onde mora, na Urca, em frente à Baía de Guanabara.
Nos últimos meses, o Rei foi a cinco reuniões de condomínio para discutir um problema financeiro nas contas do prédio. A última foi semana passada.
Já deu saudade
Um grupo de ciclistas marcou pelo Facebook um passeio ciclístico no Elevado da Perimetral, hoje, às 10h, antes que ele seja demolido.
Outra turma está combinando de apreciar a implosão, de uma laje no Morro da Providência, com direito a cerveja e comida caseira.
Aliás...
O Hospital do Câncer II, que fica nos fundos da Rodoviária, já prepara uma operação de guerra para a segunda parte da demolição da Perimetral, prevista para dezembro.
A ideia do Inca é diminuir no dia da implosão o número de funcionários e pacientes. Estes últimos, hoje, são 65 — seis deles internados no CTI.
Duas feras
Eumir Deodato, que vive nos EUA desde os anos 1960, e Al Jarreau, premiado sete vezes pelo Grammy, vão se apresentar juntos no Rio, dia 16 agora.Os dois fazem sucesso nas rádios americanas com a música “Double face”. O show será no Parque dos Patins, de graça, no festival Sesc Amplifica.
Cena carioca
No início da noite de quinta, uma carioca fazia compras na C&A, na Praça Saens Peña, na Tijuca, quando uma adolescente, de uns 14 anos, pediu que ela comprasse algo pra ela.
A jovem disse que não podia, mas a menina insistiu.
— O que você quer?
— Isso ó...
Era uma calcinha fio dental.
Há testemunhas.
Oriente-se - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 03/11
Na esteira do cancelamento da viagem de Estado que faria aos EUA em outubro e do acordo com a Alemanha para uma ação conjunta contra a espionagem norte-americana, Dilma Rousseff reforçará a guinada em sua política externa. A presidente acertou a primeira visita oficial ao Brasil do presidente da China, Xi Jinping, em abril. Assessores do Planalto lembram que foi com Xi que a presidente acertou a entrada das petroleiras chinesas no leilão de Libra, que ocorreu no mês passado.
In loco
O detalhamento da agenda de Xi Jinping no Brasil será um dos temas da viagem que o vice-presidente da República, Michel Temer, fará à China nesta semana.
Para fotos
Apesar da movimentação de aliados de Aécio Neves para antecipar a formalização de sua candidatura ao Planalto, o time de José Serra mantém no calendário previsão de evento em março para demonstrar "unidade" do PSDB e dar saída honrosa ao ex-governador.
Cada um...
Enquanto isso, Serra continuará viajando pelo país e Aécio manterá suas visitas a São Paulo. O PSDB paulista organiza um ato com o senador mineiro em Bauru, ainda neste mês.
... na sua
Geraldo Alckmin, por ora, prefere continuar distante da pré-campanha nacional e articular a própria aliança à reeleição.
Vipões
Lula e Dilma serão as estrelas do congresso do PC do B, que acontece entre os dias 14 e 16, em São Paulo. O partido fará a troca no comando nacional: depois de 12 anos, Renato Rabelo será substituído pela ex-prefeita de Olinda Luciana Santos.
Vipinho
Uma saia-justa cerca a festa do partido comunista: uma ala quer convidar Eduardo Campos, dada a aliança histórica entre a sigla e o PSB. Outros, porém, temem melindrar a presidente colocando a seu lado na mesa o potencial adversário na eleição de 2014.
Quem é vivo...
O embaixador José Viegas Filho é mais um ex-ministro de Lula a engrossar o time de colaboradores da dupla Eduardo Campos e Marina Silva.
... sempre aparece
Viegas, que foi ministro da Defesa no primeiro mandato do petista, participou na semana passada do seminário do PSB e da Rede. Disse que mantém boa relação com Lula, mas atendeu convite dos ex-colegas de Esplanada.
Foto oficial
Campos e Marina têm canal aberto ainda com Roberto Rodrigues e Luiz Furlan, ex-titulares da Agricultura e do Desenvolvimento na gestão petista. O trânsito dos novos rivais de Dilma com seus antigos colaboradores incomoda Lula.
A jato 1
A Frente Nacional de Prefeitos começou a pressionar o Senado para levar a plenário na terça-feira o projeto que define novos indexadores da dívida de Estados e municípios. Antes, no mesmo dia, o texto deve passar por duas comissões.
A jato 2
Prefeitos telefonaram para pedir pressa ao senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), que preside a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), que vai avaliar o projeto. Seu reduto eleitoral, Campina Grande, é um dos municípios beneficiados pela mudança no indexador.
Vem pra rua
A Prefeitura de São Paulo tenta acordo para abrir as 800 vagas do estacionamento da Assembleia Legislativa para os frequentadores do Parque do Ibirapuera aos domingos, quando a entrada de carros é proibida.
Mergulho
A Secretaria do Verde também estuda a instalação de piscinas de lona e jatos de água nessas áreas de estacionamento aos domingos durante o verão.
Tiroteio
Padilha aceita enviar médicos reprovados para o interior. Vão se somar a postos de saúde sem equipamento e sem material.
DO DEPUTADO ESTADUAL PEDRO TOBIAS (PSDB-SP), sobre os 48 profissionais que foram reprovados no Revalida, mas que participarão do Mais Médicos.
Contraponto
Soprando velinhas
O senador Magno Malta (PR-ES) apareceu alegre na sessão da Comissão de Constituição e Justiça de 16 de outubro, seu aniversário. O parlamentar aproveitou a data para conseguir pequenos privilégios com os colegas.
-V. Exa. me concede a palavra, em nome do meu aniversário? -solicitou o senador ao presidente, brincando.
Malta pediu até que um de seus colegas se curvasse um pouco para que pudesse enxergar um interlocutor.
-Vou gastar todos os pedidos hoje, porque amanhã...
-Ainda bem que aniversário é só uma vez por ano, ou ninguém aguentaria! -disse Vital do Rêgo (PMDB-PB).
Na esteira do cancelamento da viagem de Estado que faria aos EUA em outubro e do acordo com a Alemanha para uma ação conjunta contra a espionagem norte-americana, Dilma Rousseff reforçará a guinada em sua política externa. A presidente acertou a primeira visita oficial ao Brasil do presidente da China, Xi Jinping, em abril. Assessores do Planalto lembram que foi com Xi que a presidente acertou a entrada das petroleiras chinesas no leilão de Libra, que ocorreu no mês passado.
In loco
O detalhamento da agenda de Xi Jinping no Brasil será um dos temas da viagem que o vice-presidente da República, Michel Temer, fará à China nesta semana.
Para fotos
Apesar da movimentação de aliados de Aécio Neves para antecipar a formalização de sua candidatura ao Planalto, o time de José Serra mantém no calendário previsão de evento em março para demonstrar "unidade" do PSDB e dar saída honrosa ao ex-governador.
Cada um...
Enquanto isso, Serra continuará viajando pelo país e Aécio manterá suas visitas a São Paulo. O PSDB paulista organiza um ato com o senador mineiro em Bauru, ainda neste mês.
... na sua
Geraldo Alckmin, por ora, prefere continuar distante da pré-campanha nacional e articular a própria aliança à reeleição.
Vipões
Lula e Dilma serão as estrelas do congresso do PC do B, que acontece entre os dias 14 e 16, em São Paulo. O partido fará a troca no comando nacional: depois de 12 anos, Renato Rabelo será substituído pela ex-prefeita de Olinda Luciana Santos.
Vipinho
Uma saia-justa cerca a festa do partido comunista: uma ala quer convidar Eduardo Campos, dada a aliança histórica entre a sigla e o PSB. Outros, porém, temem melindrar a presidente colocando a seu lado na mesa o potencial adversário na eleição de 2014.
Quem é vivo...
O embaixador José Viegas Filho é mais um ex-ministro de Lula a engrossar o time de colaboradores da dupla Eduardo Campos e Marina Silva.
... sempre aparece
Viegas, que foi ministro da Defesa no primeiro mandato do petista, participou na semana passada do seminário do PSB e da Rede. Disse que mantém boa relação com Lula, mas atendeu convite dos ex-colegas de Esplanada.
Foto oficial
Campos e Marina têm canal aberto ainda com Roberto Rodrigues e Luiz Furlan, ex-titulares da Agricultura e do Desenvolvimento na gestão petista. O trânsito dos novos rivais de Dilma com seus antigos colaboradores incomoda Lula.
A jato 1
A Frente Nacional de Prefeitos começou a pressionar o Senado para levar a plenário na terça-feira o projeto que define novos indexadores da dívida de Estados e municípios. Antes, no mesmo dia, o texto deve passar por duas comissões.
A jato 2
Prefeitos telefonaram para pedir pressa ao senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), que preside a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), que vai avaliar o projeto. Seu reduto eleitoral, Campina Grande, é um dos municípios beneficiados pela mudança no indexador.
Vem pra rua
A Prefeitura de São Paulo tenta acordo para abrir as 800 vagas do estacionamento da Assembleia Legislativa para os frequentadores do Parque do Ibirapuera aos domingos, quando a entrada de carros é proibida.
Mergulho
A Secretaria do Verde também estuda a instalação de piscinas de lona e jatos de água nessas áreas de estacionamento aos domingos durante o verão.
Tiroteio
Padilha aceita enviar médicos reprovados para o interior. Vão se somar a postos de saúde sem equipamento e sem material.
DO DEPUTADO ESTADUAL PEDRO TOBIAS (PSDB-SP), sobre os 48 profissionais que foram reprovados no Revalida, mas que participarão do Mais Médicos.
Contraponto
Soprando velinhas
O senador Magno Malta (PR-ES) apareceu alegre na sessão da Comissão de Constituição e Justiça de 16 de outubro, seu aniversário. O parlamentar aproveitou a data para conseguir pequenos privilégios com os colegas.
-V. Exa. me concede a palavra, em nome do meu aniversário? -solicitou o senador ao presidente, brincando.
Malta pediu até que um de seus colegas se curvasse um pouco para que pudesse enxergar um interlocutor.
-Vou gastar todos os pedidos hoje, porque amanhã...
-Ainda bem que aniversário é só uma vez por ano, ou ninguém aguentaria! -disse Vital do Rêgo (PMDB-PB).
Sem autonomia - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 03/11
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), não vai pôr em votação o projeto de autonomia do Banco Central. A presidente Dilma é contra, mas ele diz que “a oposição interditou o debate”. Na terça-feira, tendo como testemunha o senador José Sarney, o ex-presidente Lula advertiu Renan de que ele não devia embarcar nessa canoa. O enterro será amanhã, quando Dilma o receberá.
Acordo costurado
O ministro Paulo Bernardo (Comunicações) e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), firmaram um acordo na Anatel. O ministro encaminhou ao Planalto a indicação de Igor Vilas Boas, sugerido pelo senador, para a vaga de conselheiro da agência. Renan, por sua vez, assumiu o compromisso de apoiar a recondução de João Rezende para a presidência do organismo, como é o desejo de Paulo Bernardo. A intenção é enviar as duas indicações na mesma data para o Senado. Mas a de Rezende, cujo mandato vence na próxima sexta-feira, pode ser enviada antes. O nome de Igor está na fase da triagem na Secretaria de Segurança Institucional.
“A polarização (PT x PSDB) é óbvia, Onde está dito que a disputa não será Aécio e Eduardo? O imponderável acontece. Veja o Collor”
Marcus Pestana
Presidente do PSDB de Minas Gerais e deputado federal
No mundo da espionagem
Os ministérios da Justiça, das Comunicações e da Defesa trabalham na criação de mecanismos de defesa cibernética. Já foi definido que o ideal é o Brasil ter satélites próprios e sua rede de cabos submarinos. Hoje, o país aluga esses serviços.
O preferido
A ex-deputada Luciana Genro (RS) e o senador Randolfe Rodrigues (AP) estão medindo forças no PSOL para concorrer à Presidência. Em 2006, Heloísa Helena fez 6,8% dos votos. Já a oposição torce para que o candidato seja o deputado Chico Alencar (RJ). Aposta que ele retiraria percentual relevante de votos da presidente Dilma.
Arrebentando a boca do balão
A secretária Izolda Cela Coelho, candidata do governador Cid Gomes (CE) à sua sucessão, está sendo cantada em prosa e verso no MEC. Ela é apontada, graças aos indicadores do estado, como a melhor secretária de Educação do país.
Luta federativa por terras
O Piauí está em guerra com o Ceará para redefinir seus limites territoriais. A primeira pendência vem do reinado de D. Pedro II (1840) e envolve 13 municípios, reclamados pelo Piauí, numa área equivalente ao território de Sergipe. Em junho, o Piauí acionou a AGU porque descobriu que o Ceará fez um assentamento rural de quatro mil hectares na cidade de São Miguel do Tapuio (PI).
Favoritos
O governador Renato Casagrande (PSB) está estourando a fita no Espírito Santo, com 50% de intenções de voto. Seu único adversário é Paulo Hartung (PMDB), por ora candidato ao Senado, que, no Ibope, tem 70% das intenções de voto.
Mudando a regra
Pela primeira vez, a presidente Dilma pode levar o PT a uma vitória em Santa Catarina. Desde que passou a ter o apoio do governador Raimundo Colombo (PSD), Dilma lidera todas as pesquisas de intenções de votos à reeleição no estado.
TUDO AZUL. Congresso, Planalto e ministérios serão iluminados de azul nesta segunda-feira, em campanha pela prevenção do câncer de próstata.
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), não vai pôr em votação o projeto de autonomia do Banco Central. A presidente Dilma é contra, mas ele diz que “a oposição interditou o debate”. Na terça-feira, tendo como testemunha o senador José Sarney, o ex-presidente Lula advertiu Renan de que ele não devia embarcar nessa canoa. O enterro será amanhã, quando Dilma o receberá.
Acordo costurado
O ministro Paulo Bernardo (Comunicações) e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), firmaram um acordo na Anatel. O ministro encaminhou ao Planalto a indicação de Igor Vilas Boas, sugerido pelo senador, para a vaga de conselheiro da agência. Renan, por sua vez, assumiu o compromisso de apoiar a recondução de João Rezende para a presidência do organismo, como é o desejo de Paulo Bernardo. A intenção é enviar as duas indicações na mesma data para o Senado. Mas a de Rezende, cujo mandato vence na próxima sexta-feira, pode ser enviada antes. O nome de Igor está na fase da triagem na Secretaria de Segurança Institucional.
“A polarização (PT x PSDB) é óbvia, Onde está dito que a disputa não será Aécio e Eduardo? O imponderável acontece. Veja o Collor”
Marcus Pestana
Presidente do PSDB de Minas Gerais e deputado federal
No mundo da espionagem
Os ministérios da Justiça, das Comunicações e da Defesa trabalham na criação de mecanismos de defesa cibernética. Já foi definido que o ideal é o Brasil ter satélites próprios e sua rede de cabos submarinos. Hoje, o país aluga esses serviços.
O preferido
A ex-deputada Luciana Genro (RS) e o senador Randolfe Rodrigues (AP) estão medindo forças no PSOL para concorrer à Presidência. Em 2006, Heloísa Helena fez 6,8% dos votos. Já a oposição torce para que o candidato seja o deputado Chico Alencar (RJ). Aposta que ele retiraria percentual relevante de votos da presidente Dilma.
Arrebentando a boca do balão
A secretária Izolda Cela Coelho, candidata do governador Cid Gomes (CE) à sua sucessão, está sendo cantada em prosa e verso no MEC. Ela é apontada, graças aos indicadores do estado, como a melhor secretária de Educação do país.
Luta federativa por terras
O Piauí está em guerra com o Ceará para redefinir seus limites territoriais. A primeira pendência vem do reinado de D. Pedro II (1840) e envolve 13 municípios, reclamados pelo Piauí, numa área equivalente ao território de Sergipe. Em junho, o Piauí acionou a AGU porque descobriu que o Ceará fez um assentamento rural de quatro mil hectares na cidade de São Miguel do Tapuio (PI).
Favoritos
O governador Renato Casagrande (PSB) está estourando a fita no Espírito Santo, com 50% de intenções de voto. Seu único adversário é Paulo Hartung (PMDB), por ora candidato ao Senado, que, no Ibope, tem 70% das intenções de voto.
Mudando a regra
Pela primeira vez, a presidente Dilma pode levar o PT a uma vitória em Santa Catarina. Desde que passou a ter o apoio do governador Raimundo Colombo (PSD), Dilma lidera todas as pesquisas de intenções de votos à reeleição no estado.
TUDO AZUL. Congresso, Planalto e ministérios serão iluminados de azul nesta segunda-feira, em campanha pela prevenção do câncer de próstata.
MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO
FOLHA DE SP - 03/11
Construtora aporta R$ 690 milhões no interior de SP
Seguindo uma tendência do mercado, a construtora e incorporadora MZM investirá em dois empreendimentos no interior de São Paulo.
O maior deles, em um terreno de 113 mil m² em Ribeirão Preto, receberá um aporte de R$ 660 milhões.
A obra terá torres para uso comercial e residencial, hotéis e um espaço para abrigar uma rede varejista.
"É um espaço que nos chamou atenção devido ao seu tamanho e à sua localização, em uma das áreas mais nobres da cidade", afirma Francisco Diogo Magnani, presidente da construtora.
"Pela potencialidade da região e o volume construtivo possível, acreditamos que o VGV poderá chegar a R$ 1,1 bilhão", diz o executivo.
O empreendimento deverá ser lançado no mercado no segundo semestre de 2014.
"Em um momento oportuno, podemos eventualmente nos compor com algum parceiro, mas, por ora, estamos sozinhos", afirma.
Em Piracicaba, a empresa vai alocar cerca de R$ 30 milhões na construção de uma torre residencial --um "projeto-piloto com um investimento modesto" para testar o mercado da cidade, segundo o executivo.
O empreendimento, com 2.050 metros quadrados de área, tem lançamento previsto para o primeiro trimestre de 2014.
"Piracicaba era uma cidade bastante desejada por nós devido à geração de empregos com a chegada da montadora da Hyundai", diz.
"Já estamos negociando outras três áreas de 6.000 metros quadrados para dar continuidade a esse projeto na cidade", acrescenta.
SACOLAS CHEIAS NA EUROPA
A Espanha foi o país onde mais cresceram as compras isentas de impostos feitas por estrangeiros no terceiro trimestre deste ano, na comparação com o mesmo período de 2012.
A alta foi de 39%, segundo dados da Global Blue (empresa que presta serviços de devolução de tributos pagos pelos viajantes).
A expansão é consequência do maior movimento de turistas no país, principalmente de russos, que ultrapassaram os americanos em número de visitantes.
Os viajantes da Rússia também compensaram a queda no volume de entrada de brasileiros, venezuelanos e marroquinos --nacionalidades tradicionais entre os turistas na Espanha.
O segundo país europeu com maior expansão no comércio isento de impostos foi a Itália (15%). Em seguida, ficou o Reino Unido, com uma diferença inferior a um ponto percentual.
Frotas devem crescer 55% em 3 anos, diz pesquisa
O mercado de frotas de empresas com mais de 100 funcionários pode crescer 55% nos próximos três anos no Brasil e 10% na Europa, segundo a pesquisa global Corporate Vehicle Observatory.
O levantamento foi promovido pela francesa Arval em três continentes.
Em relação a métodos de financiamento, o estudo identificou que 57% das grandes empresas no Brasil adquirem suas frotas com recursos próprios. Na Europa, o método predominante (36%) é o leasing operacional.
"No Brasil, a maioria das empresas compra seus veículos, historicamente, por causa da inflação. Mas as maiores tendem a passar para a locação", diz Arnault Leglaye, CEO da empresa especializada em terceirização de frota.
"Cerca de 10% alugam, por isso, ainda há um grande potencial para o segmento que atendemos." Para 2014, a empresa espera um crescimento de 15% no país.
"Há, porém, o risco de que muitas decisões venham a ser adiadas em razão da Copa e das eleições",afirma. "Acreditamos muito na alta da demanda das empresas menores." A pesquisa entrevistou 4.863 companhias.
Vaga no navio
A resolução que ampliou de 180 dias para dois anos a validade dos vistos de estrangeiros que trabalham em navios de turismo poderá colaborar para que o setor cresça 20% nas próximas temporadas, projeta a consultoria Emdoc.
"A ampliação do prazo vai reduzir custos para as empresas de cruzeiro, além de desburocratizar", afirma Fátima Kaiser, sócia da consultoria de mobilidade global.
Cada navio chega a ter cerca de 700 tripulantes. Na temporada deste ano, que vai até abril, serão 12 embarcações no litoral brasileiro.
Construtora aporta R$ 690 milhões no interior de SP
Seguindo uma tendência do mercado, a construtora e incorporadora MZM investirá em dois empreendimentos no interior de São Paulo.
O maior deles, em um terreno de 113 mil m² em Ribeirão Preto, receberá um aporte de R$ 660 milhões.
A obra terá torres para uso comercial e residencial, hotéis e um espaço para abrigar uma rede varejista.
"É um espaço que nos chamou atenção devido ao seu tamanho e à sua localização, em uma das áreas mais nobres da cidade", afirma Francisco Diogo Magnani, presidente da construtora.
"Pela potencialidade da região e o volume construtivo possível, acreditamos que o VGV poderá chegar a R$ 1,1 bilhão", diz o executivo.
O empreendimento deverá ser lançado no mercado no segundo semestre de 2014.
"Em um momento oportuno, podemos eventualmente nos compor com algum parceiro, mas, por ora, estamos sozinhos", afirma.
Em Piracicaba, a empresa vai alocar cerca de R$ 30 milhões na construção de uma torre residencial --um "projeto-piloto com um investimento modesto" para testar o mercado da cidade, segundo o executivo.
O empreendimento, com 2.050 metros quadrados de área, tem lançamento previsto para o primeiro trimestre de 2014.
"Piracicaba era uma cidade bastante desejada por nós devido à geração de empregos com a chegada da montadora da Hyundai", diz.
"Já estamos negociando outras três áreas de 6.000 metros quadrados para dar continuidade a esse projeto na cidade", acrescenta.
SACOLAS CHEIAS NA EUROPA
A Espanha foi o país onde mais cresceram as compras isentas de impostos feitas por estrangeiros no terceiro trimestre deste ano, na comparação com o mesmo período de 2012.
A alta foi de 39%, segundo dados da Global Blue (empresa que presta serviços de devolução de tributos pagos pelos viajantes).
A expansão é consequência do maior movimento de turistas no país, principalmente de russos, que ultrapassaram os americanos em número de visitantes.
Os viajantes da Rússia também compensaram a queda no volume de entrada de brasileiros, venezuelanos e marroquinos --nacionalidades tradicionais entre os turistas na Espanha.
O segundo país europeu com maior expansão no comércio isento de impostos foi a Itália (15%). Em seguida, ficou o Reino Unido, com uma diferença inferior a um ponto percentual.
Frotas devem crescer 55% em 3 anos, diz pesquisa
O mercado de frotas de empresas com mais de 100 funcionários pode crescer 55% nos próximos três anos no Brasil e 10% na Europa, segundo a pesquisa global Corporate Vehicle Observatory.
O levantamento foi promovido pela francesa Arval em três continentes.
Em relação a métodos de financiamento, o estudo identificou que 57% das grandes empresas no Brasil adquirem suas frotas com recursos próprios. Na Europa, o método predominante (36%) é o leasing operacional.
"No Brasil, a maioria das empresas compra seus veículos, historicamente, por causa da inflação. Mas as maiores tendem a passar para a locação", diz Arnault Leglaye, CEO da empresa especializada em terceirização de frota.
"Cerca de 10% alugam, por isso, ainda há um grande potencial para o segmento que atendemos." Para 2014, a empresa espera um crescimento de 15% no país.
"Há, porém, o risco de que muitas decisões venham a ser adiadas em razão da Copa e das eleições",afirma. "Acreditamos muito na alta da demanda das empresas menores." A pesquisa entrevistou 4.863 companhias.
Vaga no navio
A resolução que ampliou de 180 dias para dois anos a validade dos vistos de estrangeiros que trabalham em navios de turismo poderá colaborar para que o setor cresça 20% nas próximas temporadas, projeta a consultoria Emdoc.
"A ampliação do prazo vai reduzir custos para as empresas de cruzeiro, além de desburocratizar", afirma Fátima Kaiser, sócia da consultoria de mobilidade global.
Cada navio chega a ter cerca de 700 tripulantes. Na temporada deste ano, que vai até abril, serão 12 embarcações no litoral brasileiro.
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