quarta-feira, junho 29, 2011

AUGUSTO NUNES - O balanço do semestre perdido comprova que o governo Dilma é o governo Lula sem serviço de som e sem efeitos especiais


O balanço do semestre perdido comprova que o governo Dilma é o governo Lula sem serviço de som e sem efeitos especiais
AUGUSTO NUNES

Depois de resolver que a obra mais importante de um presidente da República é eleger o sucessor, Lula dispensou-se de questões administrativas, abandonou o local de trabalho e passou seis meses fazendo um comício por dia. Ou dois. De 1° de julho a 31 de dezembro de 2010, o palanqueiro ambulante acampou nas cercanias de quadras esportivas já em funcionamento, creches inacabadas e buracos de pedras fundamentais, para induzir a plateia a acreditar que contemplava mais uma etapa da construção do Brasil Maravilha. Muito barulho por nada, avisa o balanço dos últimos seis meses do governo Lula. Além da eleição de Dilma Rousseff, não foi concluída nenhuma obra efetivamente importante. Administrativamente, foi um semestre perdido.

Tão perdido quanto o primeiro semestre do governo Dilma. Mãe do PAC e Madrinha do Pré-Sal, a candidata apresentou-se durante a campanha eleitoral como parteira do país mais que perfeito que Lula concebeu. Tinha tanta intimidade com a máquina administrativa que os retoques finais no Brasil Maravilha começariam já no dia da posse. Pura tapeação. Passados seis meses, continuam nos palanques de 2010 as 500 Unidades de Pronto Atendimento, as 8 mil Unidades Básicas de Saúde, as 800 Praças do PAC, os 2.800 postos de polícia comunitária e as escolas de educação infantil, fora o resto.

A transposição das águas do São Francisco não tem prazo para ficar pronta. O leilão do trem-bala será adiado pela terceira vez. Os canteiros de obras da Copa e da Olimpíada estão despovoados. Há seis anos no Palácio do Planalto, a superexecutiva acaba de descobrir que só a privatização livrará os aeroportos do completo colapso. A compra dos caças reivindicados pela Aeronáutica ficará para quando Deus quiser. As fronteiras seguem desprotegidas. Das 6 mil creches prometidas na campanha, apenas 54 foram entregues. Menos de 500 casas populares ficaram prontas. E os flagelados da Região Serrana do Rio não deixarão tão cedo os abrigos onde sobrevivem desde as tempestades de janeiro.

A diferença entre o primeiro semestre da afilhada e o último do padrinho é que o ilusionista teve de deixar o palco em que esgotou o estoque inteiro de truques. Livres da discurseira atordoante, os brasileiros puderam contemplar a paisagem mais atentamente. O que estão vendo não rima com o que ouviram durante oito anos. Milhões já sabem que o paraíso só existe no cartório. Descobriram que o governo Dilma é a continuação do governo Lula, mas sem som e sem efeitos especiais. Disso resulta a sensação de que a coisa conseguiu ficar pior. Mesmo que sejam ambos bisonhos, a versão falada parecerá sempre melhor que o filme mudo.

ANCELMO GÓIS - Dilma muda o tom

Dilma muda o tom
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 29/06/11

Há quem ache que, com Dilma lá, a Fifa e o COI não terãovida fácil. Ontem, o governo deu sinal verde à proposta do PT, articulada à noite por Alessandro Molon, para retirar da MP 527 um parágrafo do artigo 39, que dava, segundo o deputado, “superpoderes” às duas
entidades na Copa de 2014 e nos Jogos de 2016.

Tempos civilizados
Rui Moreira Lima, 92 anos, dará aula hoje no curso de formação de 150 oficiais da Aeronáutica, no Campo dos Afonsos. O brigadeiro, que comandou 94 missões de combate, em caças da FAB, na II Guerra, foi cassado pela ditadura militar.

Drag queens

FH, além da turma da fumaça, faz sucesso entre... drag queens. Isabelita dos Patins, que esteve internada, exibe com orgulho aos amigos um e-mail em que o ex-presidente deseja pronto restabelecimento.

Dupla nacionalidade 

Em “Insensato coração”, a novela da TV Globo, há uma cena que lembra o ex-banqueiro Salvatore Cacciola. É quando o banqueiro Cortez (Herson Capri) diz que vai fugir do Brasil, aproveitando-se de ter “dupla nacionalidade”.

O medo sobrevive

Pelo menos uma família foi expulsa da Mangueira, no Rio, semana passada, por dar apoio explícito à UPP que ocupou o morro. O clima na comunidade ainda é de certo medo.

Cocô voador

Em dias de marchas da maconha, de gays, da liberdade etc., um gaiato criou no Facebook o protesto... Dia do Cocô Voador. Propõe que todos acionem a descarga ao mesmo tempo, sexta, às 21h, “contra os impostos”. Veja em http://on.fb.me/iVIssA.

Ufa!

Chegou a Dilma a informação de que Hugo Chávez retornará a Caracas no fim de semana.

Morfina...
A informação, de uma fonte confiável, é que Chávez, na passagem pelo Equador, a caminho de Cuba, sentia dores tão fortes que teve de tomar morfina. Mas exames em Havana descartaram a possibilidade de câncer. Seria um abscesso grande, na região pélvica, ausado por uma bactéria que não tem cedido aos antibióticos.

Segue...
Chávez também tem problemas pulmonares, agravados porque voltou a fumar. A preocupação dos médicos era que o abscesso esembocasse numa infecção generalizada.

Portinari na Sapucaí

“Por ti, Portinari, rompendo a tela, a realidade” é o título do enredo criado pelo carnavalesco Alexandre Louzada para a Mocidade Independente. A verde e branco apresenta o tema sobre o grande pintor hoje à tarde, no seu barracão.

Boletim médico

Marcos Paulo, o ator e diretor de TV, está internado na Clínica São Vicente, na Gávea, no Rio.

Apagões no Rio 
A Defensoria Pública do Rio, a Light e a Ampla chegaram a um acordo em relação à ação civil pública movida por causa dos apagões na cidade em 2010. Se o fornecimento for interrompido, a Ampla deverá restabelecer a energia em até seis horas, nas áreas urbanas, e em até nove, nas rurais. O acordo foi fechado pela juíza Márcia Cunha.

Bodas imortais
Maria do Carmo e Marcos Vilaça festejam bodas de ouro, sexta. O casal não quer festas. Só missa e abraços.

Sumiço de ingressos
A promotora Cláudia Condack instaurou inquérito contra a organização do UFC, evento de luta marcado para agosto, na Barra, no Rio, que teve seus ingressos esgotados em 70 minutos. Segundo ela, há indícios de que não tenha sido disponibilizado ao público o número de bilhetes prometido.

País do celular 

De janeiro a maio, a TIM conquistou 385 mil novos clientes em 170 favelas cariocas.

ZUENIR VENTURA - O estado do governador


O estado do governador
ZUENIR VENTURA
O Globo - 29/06/2011

É compreensível o abatimento emocional em que se encontra o governador Sergio Cabral devido ao desastre aéreo que causou a morte de alguns amigos, inclusive da namorada de um filho seu. Talvez seja um dos momentos mais delicados de sua vida afetiva e profissional, em que se misturam questões sentimentais de foro íntimo, como crise conjugal, e razões de estado, como as circunstâncias que envolveram o trágico episódio. O trauma sofrido foi tão forte que pode ter tirado dele um pouco do gosto pelo poder e o apetite de governar - o que se espera ser uma indisposição psicológica passageira que não venha a prejudicar o seu importante projeto de pacificação do Rio de Janeiro. Só mesmo o fato de a vida privada de um homem público ser também pública sob vários aspectos autoriza invadir um território que é particular e reservado, mas onde cabem, além de uma sincera solidariedade, críticas a um incidente repleto de erros políticos e inconveniências morais - a começar pela decisão da insensata viagem num avião pedido emprestado a um empresário para uma festa de aniversário de um outro no Sul da Bahia. O detalhe é que ambos mantêm com o governo relações altamente comprometedoras. O primeiro foi doador da campanha eleitoral de Cabral e é copatrocinador de alguns de seus programas, beneficiando-se de incentivos fiscais que chegam a quase R$80 milhões. O segundo é um poderoso empreiteiro que só na gestão peemedebista foi contemplado com contratos de cerca de R$1 bilhão, alguns sem licitação.

Não se entende que não tenha aparecido alguém de bom senso no entorno do governador para desaconselhar a viagem, ou mesmo tentar impedi-la, e nem para, depois, advertir que um vôo de helicóptero Esquilo naquelas condições meteorológicas era quase um suicídio. Por que arriscar a vida num trajeto de 10 minutos que podia ser feito de carro levando um pouco mais de tempo? (uma resposta possível é que em certas camadas da sociedade parece que se perdeu o hábito de usar automóvel, mesmo quando não há pressa). Por último, como se explica que a assessoria do governador tenha distribuído a falsa informação de que ele teria se dirigido ao local para acompanhar as buscas, quando na verdade ele já se encontrava lá na sexta-feira, dia da tragédia - e por pouco não foi uma das vítimas?

Com todo respeito ao seu estado de ânimo e com a torcida pela continuidade de sua política de segurança, não se pode deixar de cobrar respostas a essas perguntas. Ainda que Sergio Cabral não tenha cometido ilícitos tipificados em lei, houve no incidente um grave conflito de interesses público e privado e uma incompatibilidade ética que afetam seriamente a imagem de seu governo.

GOSTOSA

ELIO GASPARI - Dilma fez um gol na banda larga

Dilma fez um gol na banda larga
ELIO GASPARI 
O GLOBO - 29/06/06

Em seis meses de governo, uma negociação com as teles levará a internet ao andar de baixo



O GOVERNO DESATOU o nó da expansão do acesso à internet de banda larga em todos os municípios brasileiros. No anedotário de Brasília, essa iniciativa era conhecida como "Xodó 2.0" de Dilma Rousseff. É boa notícia para ninguém botar defeito. Depois de uma negociação com as operadoras, chegou-se a um acordo pelo qual até 2014 todas as cidades brasileiras terão conexões rápidas. Cumprida a meta, será uma das joias da coroa do atual governo. O serviço, com 1 megabyte de velocidade, custará R$ 35 por mês, ou R$ 29, caso os governos estaduais abram mão da cobrança do ICMS.
A internet brasileira vive num estado de apagão geográfico, social e econômico. De cada quatro municípios, um não tem conexão de cabo. Ela só atende a 27% dos domicílios e, quando o faz, a ligação custa na média R$ 48 por mês, segundo o sindicato das operadoras. Há pelo menos seis anos o governo tentava expandir essa rede, mostrando que ela traça uma linha de exclusão, deixando de fora regiões, bairros e domicílios do andar de baixo.
Embrulhadas na bandeira da infalibilidade do mercado, as operadoras diziam que não havia como investir onde não há retorno. Para resolver esse problema, queriam avançar sobre uma parte dos R$ 9 bilhões entesourados pelo Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações.
Enquanto o governo aceitou passivamente as leis da privataria, o apagão persistiu. Repentinamente, mudou-se a conversa. Se a iniciativa privada não podia fazer o serviço, a Telebrás voltaria ao mercado, fazendo-o. Mais: havia empresas estrangeiras interessadas no negócio. Nesse cenário, as teles ficariam no pior dos mundos, carregando a urucubaca da ineficiência produzida pela ganância. Fez-se um acordo e todo mundo ganha, sobretudo o brasileiro que não tem acesso ao serviço.
Quando o governo faz seu serviço, as coisas acontecem. Em 1995, a Embratel estatal tinha o monopólio do acesso à internet. Havia 30 mil pessoas na fila, e os teletecas prometiam zerá-la no ano seguinte. Era o tempo das estatais que faziam o que bem entendiam. O tucano Sérgio Motta jogou detergente no dilema, liberou o mercado e a rede aconteceu. Passaram-se 11 anos e a situação inverteu-se: as concessionárias privadas fazem o que bem entendem, mas, no caso da banda larga, a ação do Estado induziu-as a mudar seus costumes. Ficam na fila os concessionários de energia elétrica e de transportes.
A conexão de R$ 35 não chegará de uma vez e pode-se temer que venha com velocidades inferiores ao megabyte prometido. (Quem quiser mais velocidade continuará pagando caro, mas esse limite dá para o gasto de um usuário médio.) O que parece ser um problema será uma solução, pois a patuleia ganhará o direito de cobrar. Se a rede não chegar a um bairro ou a um município, o governo ficará na posição de ter feito propaganda enganosa. Se chegar, mas for lenta, a operadora terá que se explicar.
O mais importante está feito: pelas regras do jogo, o brasileiro terá acesso à banda larga, sem estar amaldiçoado por ter pouca renda ou por viver numa localidade pobre. Hoje há 14 milhões de pontos de banda larga no país. Se eles chegarem a 20 milhões, o Brasil encostará nos números franceses de 2009.

ILIMAR FRANCO - Segura, peão

Segura, peão
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 29/06/11
 
O ministro Edison Lobão (Minas e Energia) foi integrado à coordenação política do governo. Na segundafeira, estreou na reunião semanal do Planalto e ontem cumpriu sua primeira missão. No fim da tarde, chamou o líder do PMDB, Henrique Alves (RN), o comandante da rebelião dos restos a pagar de 2009, para conversar. Lobão pediu que Alves se alinhasse com a presidente Dilma e argumentou que o governo não pode passar para o mercado uma sinalização de afrouxamento do ajuste fiscal e do controle da inflação.

Eu li nos jornais que vai ter uma rebelião. Mas, em nome da credibilidade do meu governo, eu não vou abrir mão. Não é possível, nós vencemos a crise e precisamos manter a austeridade, senão volta tudo” — Dilma Rousseff, presidente, para senadores aliados

Com companheiros assim não precisa...

A história está sendo contada nos gabinetes do Planalto. Tudo começou com um dossiê do ex-deputado Carlos Abicalil contra a ex-senadora Serys Slhessarenko, ambos petistas, nas eleições de 2010 em Mato Grosso. Para se vingar, Serys teria armado a conversa com o também petista Expedito Veloso, em que ele implica no escândalo dos aloprados Abicalil e o ministro Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia). A gravação da fala do ex-diretor do BB e atual secretário-adjunto de DesenvolvimentoEconômico do Distrito Federal teria sido feita por um assessor de Serys. Os petistas serviram o prato feito para a oposição.

CHINELADA. 
Ao defender o ministro Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia) no caso dos aloprados, ontem, no Senado, Francisco
Dornelles (PP-RJ) deu um puxão de orelhas no petista. Dizendo que tinha uma atitude diferente da de Mercadante, bateu: “Vossa
Excelência (na legislatura anterior), sem que existisse qualquer prova, subiu na tribuna e pediu a cassação do mandato de dois
senadores e o afastamento da presidência de um dos senadores”. Dornelles foi muito cumprimentado.

Olimpíadas
Com sabatina no Senado marcada para terça-feira, Márcio Fortes, indicado para a presidência da Autoridade Pública Olímpica (APO), circulava ontem pela Casa em busca de apoio dos senadores.

Tenho a força

O líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR), refutou tese governista de que a oposição pretendia parar o país explorando o caso dos aloprados: “Somos tão poucos, somos frágeis, somos impotentes”.

Pisando em ovos

Depois de colocar na pauta a PEC 300, que cria um piso nacional para policiais e bombeiros, e se estranhar com a presidente Dilma, o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), diz agora que é preciso arranjar uma fonte de financiamento para a proposta. A orientação da presidente Dilma para seus líderes: a PEC 300 não pode passar de jeito algum. Se for aprovada, cria uma despesa de R$ 46 bilhões para os estados.

Na corrida
Os candidatos com mais apoio na disputa pela vaga no TCU, que será aberta em setembro com a aposentadoria do ministro Ubiratan Aguiar, são os deputados Átila Lins (PMDBAM) e Jovair Arantes (PTB-GO).

Norma

Não é apenas a MP das obras da Copa e das Olimpíadas que cria o Regime Diferenciado de Contratações (RDC). Os ministros do governo Dilma têm feito consultas informais sistemáticas ao TCU.

 MOTIVO. Sobre a disputa no PV, políticos experientes do Congresso dizem que a briga é pelo controle do Fundo Partidário. O PV recebeu no ano passado R$ 7 milhões e, neste, já entraram R$ 5,7 milhões.
 O LEITOR Marcio Candau escreve para lembrar que, antes de José Graziano na FAO, o médico Marcolino Gomes Candau foi diretor-geral da OMS de 53 a 73.
● HOMENAGEM. A torre de escritórios que surgirá com a implosão de um antigo moinho no porto do Rio, ocorrida no domingo, vai se chamar Ed. Port Corporate Luiz Paulo Conde, ex-prefeito do Rio.

RUY CASTRO - Tudo por fazer

Tudo por fazer
RUY CASTRO
FOLHA DE SÃO PAULO - 29/06/11


RIO DE JANEIRO - Reportagem de Breno Costa, de Brasília, na Folha de domingo, informa que o ministro do Turismo, Pedro Novais Lima, precisou completar seis meses no emprego para assinar, há dias, seu primeiro ato oficial. Não por acaso, dois convênios (no valor de R$ 22,6 milhões) com o governo do Maranhão, seu Estado, governado por Roseana Sarney (PMDB), cuja família foi responsável por sua nomeação pela presidente Dilma.

O fato de o ministro Novais Lima ter 80 anos não o desabilita para controlar uma área tão moderna como o turismo. Se ele for uma autoridade no assunto, com vasta experiência internacional, qual é o problema? Acontece que o ministro, renitente deputado e quase contemporâneo de Gonçalves Dias, nunca foi do ramo. Sua única relação com o turismo se deu há pouco, quando, ao assumir o cargo, pediu reembolso ao Tesouro de R$ 2.000 gastos num motel.

No futuro, os historiadores nos dirão tudo sobre a dívida que o Estado brasileiro deve ter com a família Sarney e que parece impossível de pagar -ou não se justificaria sua inesgotável influência, sai década, entra década, para pôr tanta gente de sua confiança nos postos mais surpreendentes. Um desses, o Ministério do Turismo. Para Sarney, o Brasil é um enorme Maranhão.

Seria interessante saber o que o ministro Novais está fazendo pela modernização da indústria hoteleira, pelo incremento do turismo gay -a grande novidade no setor- ou pela divulgação do Brasil no exterior. Ou de seus planos para a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016.

Países como a Espanha e a Grécia, hoje pulando miudinho para fechar as contas, têm no turismo uma de suas principais receitas. Acontece que, neles, o turismo já pode ter atingido o seu limite de excelência. No Brasil, não. O potencial é enorme e -com ministros como este- literalmente resta tudo por fazer.

CELSO MING - A Europa compra tempo


A Europa compra tempo
CELSO MING 
O Estado de S. Paulo - 29/06/2011

Enquanto os manifestantes fazem protestos no Sintagma de Atenas (praça da Constituição) e prossegue a greve geral de 48 horas, o Congresso da Grécia se reúne de hoje até o final desta semana para examinar o plano de sacrifícios negociado pelo primeiro-ministro George Papandreou com o Fundo Monetário Internacional e os chefes de Estado da área do euro.

Esse duro plano de austeridade se resume a aumento da arrecadação (com elevação de impostos e privatizações) e redução das despesas, especialmente com demissões de funcionários públicos. Uma Taxa Solidária incrementará os impostos sobre a renda entre 1% e 5% e reduzirá em 33,3% o limite de isenção. A taxação de bares e restaurantes aumentará de 13% para 23% e os bens de luxo também serão sobretaxados. Os principais portos (o do Pireu e o de Salonica) serão privatizados. O total arrecadado com a privatização deverá alcançar 50 bilhões de euros até 2015. Nos próximos quatro anos será colocada em marcha as demissões de 150 mil funcionários públicos (20% do total). Além disso, os salários dos funcionários que permanecerão a postos serão submetidos a cortes, cujas proporções ainda serão anunciadas. As aposentadorias, pensões e outros benefícios sociais também serão reduzidos.

Os analistas apostam em que, apesar dos protestos e da atual demonstração de má vontade por parte dos políticos, esse plano de austeridade acabará passando no Congresso.

A maioria com que hoje conta o governo de Papandreou é frágil. Bastaria que cinco ou seis mudassem de lado para que o plano fosse rejeitado. Por isso, imagina-se que o governo já deva ter providenciado algum novo argumento capaz de convencer os representantes do povo.

Enquanto isso, os governos da França e da Alemanha seguem enquadrando os seus bancos para que aceitem "voluntariamente" a rolagem, por mais 30 anos e a juros camaradas, de pelo menos 70% dos seus ativos em títulos da Grécia.

Se o plano passar no Congresso e se os bancos forem voluntariamente convencidos - sabe-se lá a troco de que compensações - a Grécia, que perdeu o acesso aos financiamentos bancários, receberá os 12 bilhões de euros em empréstimos novos correspondentes à nova tranche do primeiro resgate de 110 bilhões de euros. E, em 2013, novo pacote em empréstimos de US$ 100 bilhões de euros terá de ser providenciado, desta vez pelo Mecanismo Europeu de Estabilidade (ESM, na sigla em inglês).

Apesar de tudo, não dá para contar com a volta definitiva do equilíbrio fiscal para a Grécia. Essa operação tem por objetivo manter a respiração da economia. Apesar dos sacrifícios do povo grego, do aumento da arrecadação e das operações de privatização, não ficará garantida ainda receita suficiente para o pagamento da dívida hoje, de 160% do PIB.

Tudo se passa como se a União Europeia (e não apenas o bloco do euro) esteja se empenhando para montar um enorme aparato que dê a impressão de que algo de substancial está sendo feito para evitar uma quebra descontrolada da Grécia e, dessa maneira, evitar a contaminação e manter à tona também as economias de Portugal, Irlanda e, possivelmente, também de Itália e Espanha.

Enfim, trata-se de ganhar tempo e, assim, evitar um desastre imediato, para que os dirigentes consigam montar esquemas que, mais à frente, possam dar um mínimo de consistência à área do euro.

CONFIRA

Não há concentração?
Independentemente de como se meça a fatia de mercado da nova empresa que resultar da fusão entre o Grupo Pão de Açúcar e o Carrefour, haverá enorme concentração de mercado. Se isso não é concentração excessiva, então não há mais concentração excessiva. Por falar nisso, o anúncio da fusão entre o Pão de Açúcar e a Casas Bahia já tem quase dois anos e, até agora, essa operação não foi julgada pelo Cade.

Dinheirama pública
Tão ou ainda mais esquisito é o BNDES repassar nada menos de 2 bilhões de euros para calçar uma operação que não trará nenhum avanço ao desenvolvimento do País.

Balela
O argumento de que o BNDES abrirá mercado para produtos brasileiros no varejo da França é escandalosamente esfarrapado. O Grupo Casino, concorrente do Carrefour no país, tem uma sociedade 50%/50% com o Grupo Pão de Açúcar e, no entanto, ainda não garantiu mercado para nenhum produto brasileiro.

ROLF KUNTZ - Sigilo para incompetência?


Sigilo para incompetência?
ROLF KUNTZ
O Estado de S. Paulo - 29/06/2011


O Ministério da Saúde adverte: informação pode causar preocupações e deixar os cidadãos mais tensos. O governo poderia recomendar a difusão desse aviso em todos os meios de comunicação. É seu melhor argumento a favor do sigilo dos orçamentos da Copa 2014 e de quaisquer outros documentos oficiais. Os demais argumentos, como o da prevenção de fraudes em licitações, são na melhor hipótese engraçados e até servem para alegrar o ambiente. A inquietação da presidente Dilma Rousseff e de seus companheiros seria especialmente compreensível no caso das obras da Copa. As últimas informações têm representado grave ameaça ao estado de espírito dos leitores. Dois bons exemplos tiveram destaque no site da organização Contas Abertas, em menos de sete dias.



Primeiro: os valores estimados para as despesas com a Copa aumentaram muito desde a apresentação da candidatura brasileira, em 2007. O custo apontado para a reformas e construções de estádios saltou de R$ 2,1 bilhões para cerca de R$ 7 bilhões e ainda faltam três anos para os jogos. Durante o percurso já havia ocorrido um aumento - para R$ 4,3 bilhões. O site resumiu as conclusões de um levantamento realizado por Alexandre Sidnei Guimarães, consultor legislativo do Senado.

Impossível, segundo o autor do trabalho, determinar se a mudança de valores indica uma passagem de subestimação para superfaturamento. Impossível saber, argumenta o consultor, porque faltam informações suficientes sobre as condições das obras e sobre os custos associados às condições impostas pela Fifa. São bons motivos, de acordo com ele, para os contribuintes se mobilizarem na defesa de maior transparência e de mais intensa fiscalização do andamento das obras.

Segundo exemplo: o Ministério do Esporte propôs a ocultação de informações sobre as despesas, de acordo com relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) aprovado pelo plenário do órgão no dia 15 de junho.

O relator dos assuntos ligados à Copa 2014, ministro Valmir Campelo, chama a atenção, no documento, para dois problemas graves. Um deles é a recomendação do ministro do Esporte, Orlando Silva, sobre a elaboração da Matriz de Responsabilidades, um instrumento de registro das ações e despesas. As ações, de acordo com sua proposta, citada pelo relator, seriam registradas ou omitidas segundo a conveniência do Executivo.

O outro problema é o atraso na elaboração da própria matriz. O registro de ações e despesas deveria contemplar três ciclos de planejamento e execução: 1) "infraestrutura de base", com foco em estádios, mobilidade urbana, portos e aeroportos; 2) previsões de serviços complementares, como segurança, hotelaria, sustentabilidade ambiental, saúde, energia e telecomunicações; e 3) ações de execução imediata, programadas para pouco antes das competições, como preparação de controles e atendimento nos aeroportos.

O primeiro ciclo é o único já concluído, mas suas informações são incompletas e desatualizadas. Faltam, por exemplo, dados sobre obras na BR 163/MT, estimadas inicialmente em R$ 357 milhões, e sobre a ampliação da pista do aeroporto de Porto Alegre, "avaliada em mais de R$ 100 milhões". Não há sequer projeto básico aprovado para essa obra - e o relator ainda lembra o atraso dos planos para os estádios.

O atraso na maior parte das grandes obras é bem conhecido. Entre janeiro e abril a Infraero investiu R$ 144 milhões, apenas 6,5% dos R$ 2,2 bilhões orçados para este ano. Pela previsão inicial, os aeroportos deveriam estar prontos no fim de 2013 para atender à demanda maior gerada pelos jogos. Essa meta jamais será alcançada, se for mantido o ritmo de investimento observado até agora. A privatização de alguns aeroportos poderá diminuir o risco de um enorme fiasco, mas nem isso está garantido, porque ainda é preciso resolver o problema das licitações.

A previsão de gastos bem maiores que os estimados inicialmente já se confirmou. Mas o aumento de custos será bem maior, se a elaboração e a execução dos projetos continuar tão lenta quanto foi nos últimos quatro anos, desde a escolha do Brasil para hospedar a Copa.

Com o sigilo, o governo poderá ocultar dados importantes pelo menos durante algum tempo, mas para quê? Não evitará as cobranças da Fifa, se o atraso das obras se prolongar, nem poupará o País de um enorme vexame, se a incompetência continuar dominando a preparação dos jogos. Além do mais, os desvios orçamentários acabarão sendo revelados, como têm sido tantos esqueletos fiscais. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cometeu uma evidente irresponsabilidade ao comprometer o Brasil com esses eventos. O governo estava e continua despreparado para a tarefa. Nenhum sigilo resolverá esse problema.

AMIR KHAIR - Pra frente, Brasil!


Pra frente, Brasil!
AMIR KHAIR
O Estado de S. Paulo - 29/06/2011

O cenário internacional sofreu sensível piora nos últimos dois meses. As perspectivas para a Europa são sombrias, com a Grécia sob forte pressão para não cair em default e expor a quantidade ignorada de títulos podres do Banco Central Europeu, usados para salvar os bancos de Irlanda, Portugal, Espanha e Grécia na crise de 2008. A nova "ajuda" em perspectiva só vai protelar e agravar o problema. A esperança de recuperação nos EUA vai-se dissipando, sob forte tensão política para elevar o limite de endividamento público atingido em maio, com exigências dos republicanos de só concordar com nova elevação mediante reduções nas despesas fiscais, cujo déficit atinge 10% do PIB. O Japão, estagnado e sem perspectivas, e a China, locomotiva do mundo, buscando reduzir o ritmo de crescimento às voltas com ameaças crescentes de inflação.

Em face dessa realidade se pode pisar no freio do crescimento e elevar a Selic, sob a avaliação de que há excesso de demanda e perspectivas de inflação; ou estimular o crescimento, sem o pavor da inflação, pois ela ajusta o poder aquisitivo.

A primeira opção é a defendida pelo mercado financeiro, que lucra com a política de juros elevados. Não reduz despesa, pois o aumento dos juros com a elevação da Selic supera a contenção de despesas, amarradas que estão a dispositivos legais. A segunda tem a vantagem de maior proteção diante do imprevisível cenário externo, aproveitando o potencial interno de consumo, mola mestra para atrair investimentos e elevar a arrecadação pela maior atividade econômica e redução da inadimplência. Essa arrecadação é que poderá garantir a constituição dos excedentes fiscais, junto com a redução das despesas com juros, para atender aos pesados investimentos no pré-sal, em infraestrutura e nos eventos esportivos de 2014 e 2016.

O aumento do salário mínimo em 14%, em 2012, ao contrário do que se difunde, causará surpresa, pois no nível do setor público a arrecadação proporcionada pela maior atividade, formalização e menor inadimplência superará com folga as despesas. É para conferir.

Felizmente, o governo foi ágil ao lançar programas de fortalecimento do mercado interno: com mais recursos para o Bolsa-Família, o lançamento do Plano Brasil sem Miséria, a segunda fase do Minha Casa, Minha Vida, e está em vias de novo plano de estímulo ao setor produtivo. Mas falhou na política monetária - nosso calcanhar de aquiles. O Banco Central abdicou do uso das medidas macroprudenciais e elevou a Selic. Continuará refém do mercado financeiro, enquanto não usar amostra representativa das expectativas inflacionárias do mercado, e não do mercado financeiro, que responde por só 7% dele.

Enquanto isso não mudar, o País não se vai livrar da chantagem inflacionária, que justifica as maiores taxas de juros do mundo, pagas pelo governo (no fundo você, contribuinte), na malfadada Selic, e pelas empresas e consumidores, nas escorchantes taxas de juros bancárias, que fazem do Brasil o paraíso da agiotagem legalizada.

Felizmente, existem medidas que podem ajudar nesta travessia da crise mundial. Seguem quatro sugestões.

1) Para o controle da inflação, a dosagem do crédito é a mais eficaz, pois age nas prestações, o que não ocorre com a Selic.

2) Isso permite reduzir a Selic ao nível internacional no prazo de um ano. Vantagens: superávit nas contas públicas, queda acelerada da relação dívida/PIB, contenção da sobrevalorização cambial, melhora nas contas externas, redução do custo de carregamento das reservas e maiores competitividade e investimento nas empresas.

3) Fixar limites às exorbitantes taxas de juros e tarifas bancárias. Isso reduz a inadimplência e a agiotagem imposta pelos bancos à sociedade. A mídia é fundamental para essa mudança.

4) Compensar o custo Brasil, com estímulos às micro e pequenas empresas, via linhas de crédito a juros favorecidos pelas instituições financeiras oficiais, e desonerações fiscais a setores que empregam mais mão de obra.

Pra frente, Brasil!

MARCO AURÉLIO NOGUEIRA - Marchas, abraços e contramarchas


Marchas, abraços e contramarchas
MARCO AURÉLIO NOGUEIRA
O Estado de S.Paulo - 29/06/11


Foram três manifestações distintas. Todas na cidade de São Paulo e na mesma semana, como que encadeadas. A coincidência delas, ainda que não seja inusitada, sugere alguma reflexão.

Quarta-feira, dia 22, foi o dia do abraço coletivo na Paulista, concebido como "um gesto de amor à cidade e respeito ao próximo", além de um repúdio aos atos de violência contra homossexuais ocorridos recentemente na região. Centenas de pessoas deram-se às mãos ao meio-dia, caminhando simbolicamente na contramão da avenida, um dos maiores ícones da cidade e expressão perfeita da vida frenética, tensa e impessoal que tem feito a fama dos paulistanos. Bela demonstração de que por aqui também há ações cívicas no sentido mais básico da expressão, qual seja, o da conduta que busca compartilhar o desafio de construir uma ordem social justa, igualitária e governada por todos e para todos.

No dia seguinte, sob o embalo do Corpus Christi, foi a vez da Marcha para Jesus, promovida por igrejas e congregações evangélicas com o intuito de expressar publicamente a fé, o amor e a exaltação do nome do filho de Deus, que precisaria ser mais valorizado. Muitos milhares de pessoas foram às ruas proclamar "o Senhorio de Jesus", cantar e dançar ao som de bandas e cantores gospel. Diversas famílias aproveitaram para agradecer os milagres e as dádivas recebidas.

Pelo andar da carruagem, porém, o que se viu na manifestação foram mais trevas do que luz. Valendo-se do nome e da imagem de Jesus, a caminhada desfilou uma sucessão de ataques aos que são considerados os atuais piores "inimigos" da cristandade, verdadeiros aliados do demônio: os homossexuais, atacados em si, em seus direitos e em suas reivindicações. Puxada por pastores-políticos, a passeata não perdoou algumas instituições do País (o STF, antes de tudo) que, por se mostrarem sensíveis a temas tidos como tabus, deveriam ser vistas como auxiliares do processo de entronização de Satanás na Terra.

O ato foi festivo e familiar na formatação geral, mas teve um subtexto que lhe deu o tom de marcha fúnebre, uma contramarcha, triste na evolução e reacionária no objetivo. Deixou claro que a fé muitas vezes caminha abraçada com o fanatismo e o fervor obscurantista, veículos certos da intolerância e da discriminação. Para piorar, a marcha forneceu palco para campanhas políticas explícitas, deixando-se arrastar por elas.

Por último, fechando a semana, o domingo assistiu à 15.ª Parada Gay, festa alternativa que há anos contagia a cidade e a insere no circuito das mais avançadas lutas por direitos. São Paulo se acostumou e se identificou tanto com ela que chegam a surpreender as manifestações homofóbicas que ainda ocorrem entre os paulistanos. Os gays dão vazão em alto e bom som, de modo espalhafatoso, irreverente e alegre, muitas vezes chocante, a uma agenda sintonizada com o modo de vida atual, em cujo centro está um sempre mais ampliado desejo de liberdade. Põem-se no meio da democratização social em curso, processo que encontra resistência em hábitos seculares, manifestações de fé cega e fanática, postulações machistas de autoridade, fundamentalismos de todo tipo. A parada por eles organizada proclama um mundo estruturado pela diversidade, pela tolerância, pelo respeito à liberdade de cada um e aos direitos de todos, mundo que não existe de modo pleno, mas já dá mostras de sua potência civilizacional. O tema da parada 2011 fala por si: "Amai-vos uns aos outros: basta de homofobia!".

O registro das três manifestações mostra uma São Paulo de múltiplas comunidades e agendas, uma cidade plural, marcada pela diversidade - uma terra onde todos têm voz e se podem manifestar. A Marcha pela Descriminalização da Maconha, realizada semanas atrás, deve ser igualmente lembrada. A cidade condensa essa pluralidade em sua própria dinâmica, em seus bairros étnicos, em seu multiculturalismo, nos milhões de imigrantes europeus, escravos africanos, brasileiros de outros Estados, latino-americanos, que ajudaram a construí-la e cujos descendentes aqui permaneceram, amalgamados e pouco segmentados entre si. Uma cidade plural e sem guetos.

Com o passar do tempo São Paulo se tornou uma cidade hipermoderna, globalizada, que deslocou a vida tradicional, que prevalecia soberana, ainda que não com exclusividade. Basta lembrar que foi aqui que se realizou a Semana de Arte Moderna, em 1922, com a qual se anunciou o destino que estaria reservado à futura metrópole. Hoje a cidade avança sob os fluxos de uma vida mais "líquida", tecnológica, pouco controlável e dificilmente governada. Não deixou, porém, de ser capitalista nem conseguiu civilizar seu capitalismo, que continua responsável pela reiteração do que há de desigualdade, pobreza e alienação na cidade. A "vida líquida" prevalecente também não soterrou a "vida sólida" de antes, que encontra muitas maneiras de se reproduzir, recebendo oxigênio até mesmo do que a hipermodernidade produz de mais típico. A liberdade e a tolerância incentivadas pela "vida líquida", por exemplo, fazem a fé cega e as convicções rígidas da "vida sólida" se encrespar e sobreviver.

Gays e evangélicos, com suas marchas e contramarchas, mostram uma São Paulo em transição. O predomínio de um modo "líquido" de vida não produz imediatamente uma boa sociedade, nem mesmo uma sociedade melhor, pois oculta demasiadas distorções e injustiças, obriga a que se viva no risco e na incerteza, de maneira excessivamente frenética e fora de controle. Nem sequer facilita a mobilização social. Mas a "vida sólida" de antes não tem mais como nos dar segurança ou nos orientar, o que faz com que tenhamos de viver entre dois mundos, um que ainda não se afirmou plenamente e outro que pena para sobreviver.

Assim com São Paulo, assim com a maior do planeta. Bem-vindos ao século 21, no correr do qual estaremos imersos numa batalha para saber que eixo, que ética e que ideias estruturarão a "vida líquida" em que passaremos a viver.

ROBERTO DaMATTA - Crônica ou parábola?


Crônica ou parábola?
ROBERTO DaMATTA
 O Estado de S.Paulo - 29/06/11


Quando dizem que a crônica é uma invenção brasileira, eu vejo meu amigo norte-americano Richard Moneygrand me garantindo que a pizza foi inventada em Chicago.

A globalização põe tudo entre parêntesis. Aquilo que os antropólogos antigos sabiam e nutriam como um segredo profissional - o fato de tudo o que é humano é em todo lugar reinventado, inclusive a noção do que é ser humano - foi desmascarado e, neste mundo onde viajar passou de aventura, turismo, exploração ou incumbência religiosa, política ou guerreira, a uma trivialidade. As viagens que o maior antropólogo do século passado, Claude Lévi-Strauss, no seu livro mais íntimo, Tristes Trópicos, diz paradoxalmente odiar na sua linha de abertura, não têm mais sentido hoje, quando todos estão em movimento, a maioria sem rumo ou bússola e - parece - não há mais o que descobrir. Demos a volta em torno de nós mesmos, percorrendo muitas vezes o globo ou a esfera terrestre. Mas continuamos esquecidos de que um mundo esférico não tem início ou fim. Ele é infinito e, num sentido especial, inesgotável. O ponto de partida acaba numa estranha fronteira: o próprio ponto de partida. Daí o axioma: se a pizza foi inventada em Chicago, a crônica é bíblica. E nós, brasileiros, dela gostamos porque preferimos os ensinamentos eternos mais do que as narrativas que ensinam "como fazer".

* * *

Quando cheguei, em 1963, ao famoso Departamento de Relações Sociais da Universidade de Harvard, onde ensinavam Talcott Parsons, Robert Bellah, Cora DuBois e George Homans, entre outros, esperava um prédio mais grandioso do que o do Museu Nacional de onde vinha e, no entanto, deparei-me com uma modesta (e decepcionante) casa de madeira. As tábuas da varandinha tremiam, apesar de minha sensação de estar em pleno ar. Hoje, visito pela internet os lugares aonde vou. Sei o que me espera e não tenho mais surpresas. Também não tenho mais um coração disparado por decepções. Eis uma das atrações das parábolas. Como nas anedotas, você pensa uma coisa e ocorre outra. Tal como faz o governo que tributa todos os produtos e não nos dá nada de volta. Retribuir o que se recebe é, sabiam os antigos, um belo projeto...

* * *

No livro Ardil 22, Joseph Heller fala de um certo coronel Cargill, marqueteiro convocado para a guerra, cuja especialidade era promover prejuízos em empresas que queriam pagar menos imposto de renda. Ou seja, o marketing de Cargill, ao contrário de alguns de nossos mais bem-sucedidos políticos - esses marqueteiros do povo pobre -, era vender fracasso num universo oficialmente marcado pela honestidade, pela competência e pelo progresso. Cargill perdia um tempo considerável planejando como fazer um empreendimento perder dinheiro para pagar menos imposto e multiplicava seu patrimônio porque, conforme se sabe, o fracasso - exceto, reitero, no submundo dos balcões que irmanam negócios e política no Brasil - não é fácil. Não é simples trilhar o caminho de cima para baixo. Ou seja: no tal "capitalismo avançado" e no mundo digital - armado em redes sem punho, onde balançamos todos solitariamente em frenética comunicação com um falso-outro que obedece à nossa vontade, podendo ser desligado (ou deletado) a nosso bel-prazer -, o fracasso deliberado pode ser o caminho do sucesso.

* * *

A biografia de Machado de Assis, esplendidamente reinventada por Daniel Piza, surpreende e se destaca pelos exemplos de um Machado nada alienado como um mulato precursor do politicamente correto (como seus críticos de "esquerda" cansaram de apontar e por isso não li Machado na faculdade). Escritor consciente do sentido da parábola, algumas de suas histórias são máquinas de supressão do tempo como dizia Lévi-Strauss ao falar do sentido profundo dos mitos. Em Esaú e Jacó, por exemplo, temos uma definição estrutural do dilema brasileiro nos heróis gêmeos Pedro e Paulo. Um, dir-se-ia hoje em dia, de direita (e aristocrático), porque monarquista; o outro de esquerda (e igualitário), porque republicano. Mas como não há na sociedade o impulso da decisão, pois o que se aspira é ficar complementariamente com dois, não há a apoteose confessional que chega com a escolha. Movimento que equivale a tomar partido, admitir culpa e virar a página da História. Nossa revolução estaria na supressão dos adjetivos. Afinal, como diz Machado: "Os adjetivos passam e os substantivos ficam".

* * *

Tal apoteose surge no caso noticiado pelo Globo e escrito pelo próprio autor no The New York Times, mas lá, nos Estados Unidos. Refiro-me à confissão calvinista do jornalista ianque-filipino Jose Antonio Vargas, premiado com a maior láurea da imprensa americana, o Prêmio Pulitzer. Num texto à la Frank Capra, ele narra sua saga como imigrante ilegal. Um burlador das leis de americanidade que são mais severas do que as que governam a vida mais recôndita. Lá, dizem eles, existem duas coisas certas no mundo: pagar imposto e morrer. Dizem também que mentir é o pior caminho e que ser honesto é o melhor negócio. É o único país do mundo com um primeiro mandatário que jamais mentiu, pois tal é o mito que cerca a figura do seu presidente inaugural, George Washington. Hoje, com tanta água suja correndo por baixo da ponte, poucos ainda creem nisso, mas as apoteoses confessionais que dramatizam o mito do "somente a verdade e nada mais do que verdade" continuam existindo.

O fato é que todo grupo tem suas parábolas, suas causas perdidas e, por meio delas, faz suas crônicas. Ou o inverso. Como um modesto observador da vida social, sei apenas que ninguém escapa dessas coerções que nos atingem como raios, de dentro para fora.

GOSTOSA

JOSÉ SERRA - Regime diferenciado e imoral


Regime diferenciado e imoral
JOSÉ SERRA
O Globo - 29/06/2011

A imprensa, a oposição e os meios jurídicos têm enfatizado o caráter perverso da tentativa do governo de estabelecer o sigilo dos preços máximos de obras que balizam a apresentação de propostas nas concorrências públicas. O Planalto se defende dizendo que esse sigilo criaria mais incerteza para as empresas concorrentes, dificultando eventuais conluios entre elas. Assegura-se, ainda, que os referidos preços seriam registrados pelos órgãos de controle - presumo que sejam os tribunais de contas.

Sinceramente, não consigo compreender por que essa medida produziria ganhos significativos para o governo, mas posso, sim, entender o valor que teria um vazamento seletivo de informações para o setor privado, a manipulação a que isso se presta e o incentivo que representaria para a corrupção no governo.

Do mesmo modo, não será difícil prever a sombra de suspeições que tornaria ainda menos transparente do que já é todo o processo de licitações de obras nas três esferas de governo no Brasil.

Digo "três esferas de governo" e mencionei acima "tribunais de contas", no plural, porque as mudanças que o governo pretende na lei de licitações valerão ou acabarão valendo, também, para todos os estados e municípios do Brasil, cujos investimentos públicos, somados, são superiores aos do governo federal. Isso não tem sido levado em sua devida conta.

Outra mudança, alarmante, enfraquecerá ao infinito a possibilidade de fiscalização de obras, o controle da sua qualidade e dos seus custos. Isto porque o novo regime de concorrência elimina a necessidade da apresentação de projetos básicos para as obras licitadas e, evidentemente, de projetos executivos.

Mais ainda, acreditem: cada uma das empresas concorrentes pode apresentar o seu projeto, propor as suas soluções - um estádio quadrado, trapezoidal, espiralado, elíptico, oval, aéreo, subterrâneo -, que envolverão custos diferentes. E o poder público poderá escolher aquele de que mais gostar, mesmo que o preço seja mais elevado.

Corresponde à liberdade que você teria, leitor, se estivesse construindo uma casa, com uma ligeira diferença: você estaria fazendo isso com o seu próprio dinheiro, não com o dinheiro dos contribuintes; você, sim, é livre para satisfazer o seu próprio interesse; o governo tem de atender ao interesse público.

O que começa a ficar claro é que as obras da Copa e das Olimpíadas estão servindo de pretexto para a instauração de um sistema absolutamente arbitrário, que acabará valendo para todas as obras contratadas pelos poderes públicos no Brasil: de estradas em qualquer parte a projetos alucinados, como o do trem-bala. Com um aditivo: o ingresso no tal do Regime Diferenciado de Contratações Públicas terá um preço monetário ou político, ou ambos, evidentemente.

Creio que, apesar das críticas enfáticas de muitos, a abrangência do desastre institucional da medida provisória do governo federal está sendo subestimado.

Essa verdadeira tsunami jurídica nos levaria ao padrão das antigas republiquetas da América Central e Caribe, governos à moda Somoza ou Trujillo. Ou será que se imagina que o regime brasileiro poderá seguir o modelo chinês, onde, supostamente, o Estado é o patrão de tudo e faz uma hidrelétrica como os leitores fazem suas casas?

Não custa notar: vigora lá uma ditadura. Felizmente, esse mal ainda não temos aqui.

DORA KRAMER - Indecentes úteis

Indecentes úteis
DORA KRAMER
O ESTADÃO - 29/06/11
Mercadante confirmou o que o PT sempre nega: há correntes que adotam a prática da ilegalidade para anarquizar com adversários.”
Contundente, como havia sido combinado com seus companheiros de partido, o ministro de Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, saiu-se razoavelmente bem da exposição que fez na manhã de ontem no Senado sobre as acusações de que teria sido o mentor do chamado “dossiê dos aloprados”.
Não acrescentou nada, negou as acusações, centrou carga na impossibilidade de ter-se aliado a Orestes Quércia  impedido à eternidade de desmenti-lo  para conseguir financiamento ao dossiê e ao menos naquela instância, livrou a própria pele de maiores constrangimentos.
Já o PT não figurou tão bem na fotografia. Ao repudiar o que alegou ter sido uma tentativa no partido de fazê-lo usar na campanha para o governo de São Paulo, em 2006, reportagem da revista Isto É sobre o envolvimento do então adversário, José Serra, com fraudes no Ministério da Saúde, foi textual: “Como eu me recusei a fazer isso eles tomaram outro caminho”.
Por “eles”, subentende-se que seja gente com acesso e liberdade suficientes para sugerir a ele o que fazer na campanha. Por “outro caminho” a referência clara era a divulgação daquelas mesmas acusações por outros meios.
Por mais que já se saiba disso, Mercadante confirmou o que o PT sempre nega quando confrontado com os fatos: há correntes no partido que adotam a prática da ilegalidade como meio para justificar o fim de anarquizar com adversários.
O ministro disse e confirmou quando o senador Aloysio Nunes lhe perguntou se sabia por que os fraudadores haviam feito aquilo: “Essa militância acha que é assim que se combate a corrupção, acha que tem uma missão heroica”.
Isso foi dito em tom de condenação. Como, de resto, na retórica já se condenaram outros petistas envolvidos em dossiês, chantagens e fraudes em geral.
Não basta, porém, para que o PT considere a hipótese de bani-los da convivência partidária. Estão todos de volta às hostes petistas.
Expedito Veloso, o “aloprado” que acusa Mercadante e que ele só não vai processar agora porque não costuma “prejulgar” (desmentindo aí uma longa carreira de serviços prestados ao prejulgamento quando estava na oposição), está confortavelmente instalado no governo petista do Distrito Federal.
Seria de se esperar que o partido tomasse uma providência. Como cala, consente em compartilhar a vida político-partidária com indecentes úteis dispostos a assumir temporariamente a pecha de malfeitores na certeza de que o fazem impunemente. Em nome da causa.
Para poucos
Inicia-se discretamente uma dissidência no PMDB da Câmara. Dos 80 deputados, cerca de 20 andam contrariados com o líder Henrique Eduardo Alves e com o deputado Eduardo Cunha.
Eles estão convictos de que Alves atua exclusivamente voltado para se eleger presidente da Câmara, em 2013. Os deputados se queixam de que nos embates com o governo o líder sempre recua na hora H a fim de não consolidar qualquer mal-estar com o Planalto, deixando os interesses da bancada em segundo plano.
Com Cunha o problema é a dobradinha com o líder do governo no Senado, Romero Jucá, para atuações da conveniência exclusiva de ambos.
Exemplo mais recente, o “contrabando” na medida provisória que concede benefícios a banqueiros falidos e impõe um prejuízo de R$ 8,7 bilhões aos cofres do público.
A perdurar, a contrariedade mais adiante pode vir a comprometer a unidade do PMDB nas votações.
De mestre
Virou praxe supervalorizar qualquer manifestação de boa educação por parte do governo Dilma como se os gestos fossem algo extraordinário, quando fora do comum era a falta de educação vigente no governo do antecessor.
A presidente cumpre o ritual. Precipitam-se os que enxergam nisso sinal de distensão. Prova são as pesadas acusações que se fazem à oposição, buscando atribuir a ela responsabilidade por escândalos cuja origem é o próprio PT.
A maestria do PT está em conseguir transformar a formalidade em excepcionalidade a seu favor.

MARCELO COELHO - Mexendo com o passado


Mexendo com o passado
MARCELO COELHO
FOLHA DE SÃO PAULO - 29/06/11

"Saiu finalmente no Brasil um documentário em DVD, feito há mais de 40 anos, sobre a colaboração dos franceses com o nazismo. Chama-se "A Tristeza e a Piedade" ("Le Chagrin et la Piété" Videofilmes), tem mais de quatro horas e foi filmado por Marcel Ophüls em 1969. A história desse filme já daria, ela própria, um documentário.
Feito para ser transmitido pela televisão, "A Tristeza e a Piedade" teve de se acomodar a uma pequena circulação nos cinemas, e com sua transmissão pelas TVs alemã e suíça, porque as autoridades francesas viram uma série de problemas em sua exibição.
"A Tristeza e a Piedade" remexia uma série de traições, cumplicidades, calhordices e heroísmos envolvendo a memória e a autoimagem dos franceses.
A França, como se sabe, foi derrotada vergonhosamente pelos nazistas em 1940.
Reconhecendo a derrota, um velho herói da Primeira Guerra Mundial, o marechal Philippe Pétain, dispôs-se a fazer um armistício com Adolf Hitler, e comandou um regime fantoche até o final da guerra. Do outro lado, sem reconhecer a derrota, Charles de Gaulle refugiou-se em Londres, lançando pelo rádio conclamações à resistência. Dizia ele que era preciso, por três razões, continuar lutando contra Hitler.
Primeiro, a honra: a França não poderia abandonar seus aliados (na época, só a Inglaterra, a Holanda e menos de meia dúzia de países pequenos) na guerra contra a Alemanha.
Segundo, o bom senso: nenhuma guerra está perdida quando toda a Marinha de um país e seu vasto império colonial ainda não foram atingidos.
Terceiro, o interesse nacional: a guerra contra Hitler envolveria num futuro próximo os Estados Unidos e a União Soviética. Seria péssimo para as aspirações da França como potência mundial abandonar o jogo antes dessa segunda rodada.
Entre o "bom senso" de Pétain (perdemos a guerra, é melhor nos acomodarmos aos fatos) e o "bom senso" de De Gaulle (é loucura entregar tudo a Hitler, quando a guerra ainda mal começou), os franceses se dividiram.
O filme de Marcel Ophüls mostra, sem desrespeito para nenhum dos lados, o que estava em jogo. Há entrevistas com pessoas bem simples, que logo viram o absurdo de colaborar com os alemães. Dois irmãos agricultores, com total bonomia popular, contam sua óbvia opção pela guerrilha.
Há entrevistas com ex-oficiais alemães, que embora lamentando o fanatismo nazista, continuavam achando que os franceses eram desorganizados, sujos, desprezíveis -e que só a Alemanha os salvaria.
Ophüls trata com honestidade e lisura todos os seus entrevistados. Um ricaço francês, que no final da guerra resolveu envergar o uniforme da SS nazista (ao lado de outros 8.000 compatriotas seus) encontra tempo para justificar, sem má-fé, seus erros de juventude.
Ressalta, nessas entrevistas, a figura de Pierre Mendès-France, político judeu que o regime de Pétain quis condenar por deserção. Na verdade, Mendès-France estava fugindo do país para se aliar à resistência. O governo francês, traidor da França até os cabelos, chamava de traidores os que se engajavam contra Hitler. Chama a atenção, no DVD, a hábil desimportância que Mendès-France atribui a tudo isso. Fala como vitorioso, e perdoa, com algum desprezo, os derrotados.
De Gaulle entregou-se a um esforço de conciliação no pós-Guerra. Disse que a resistência a Hitler foi "a espada", enquanto os colaboradores de Pétain "foram o escudo" durante a invasão alemã. O fato é que "o escudo" mandava judeus para Auschwitz, e matava sob tortura os heróis da resistência, enquanto "a espada" tratava de lutar contra isso.
Pouco importavam tais fatos, numa situação em que o conflito com o comunismo levou De Gaulle a sucessivas alianças com a direita.
Não foi fácil para Marcel Ophüls, tantos anos depois, mexer naquela ferida. Colocou novamente na pauta uma divisão política terrível: "De que lado você estava em 1942?"
. Ao passo que, na prática, todos os esforços de união nacional no pós-Guerra cuidavam de tornar desimportante essa questão.
Em escala menor, a história da ditadura brasileira -com seus Sarneys, Collors, Lobões e Malufs- tem sido esquecida também, a favor de conveniências políticas imediatas, e de uma notável ausência de rancor.
Ausência de honra, diríamos no vocabulário de De Gaulle. Marcel Ophüls entrevistando Dilma Rousseff: eis um belo documentário que jamais será feito. Talvez ela saiba o que não está fazendo."

GOSTOSA

JOSÉ SIMÃO - Ueba! Juiz Pinto casa dois pintos!


Ueba! Juiz Pinto casa dois pintos! 
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 29/06/11

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
Festival de Predestinados! "Juiz de Jacareí autoriza o primeiro casamento gay." Como é o nome do juiz? Luiz Henrique PINTO. Palmas pro juiz Pinto. Que casou dois pintos. O antibolsonaro! E sabe como se chama o vice-presidente da Venezuela? Temir PORRA! Ou seja, se o Chávez bater las buetas vai dar porra na Venezuela. Rarará! Isso que é porra: no Brasil, Temer, na Venezuela, Temir! Rarará!
E os efeitos da Marcha da Maconha: "Pinguim se perde no caminho pra Antártida e vai parar na Nova Zelândia". E sabe o nome da veterinária que tirou areia da barriga do pinguim? Lisa Argilla! Rarará!
E um amigo são-paulino me disse que um corintiano foi chamá-lo na casa dele e tocou cinco vezes a campainha. Rarará! Filho duma quenga! Pior, tão dizendo que o Rogério Senil bambiou na defesa. Deu aquela bambiada! Rarará! E sabe o que o Rogério Chicken gritou quando estava no chão após o quinto? "Alguém anotou a placa?" Rarará!
E o frio? Vou me enfiar numa garrafa térmica. Não consigo nem digitar a minha coluna. O dedo fica duro e o pingolim, encolhido. Não devia ser o contrário? E a minha diarista falou que pobre no frio se veste como palhaço. Vai botando o que tem: collant de bolas, suéter laranja, casaco rosa e gorro azul. Aí um estilista vê, copia, e no próximo Fashion Week aparece uma modelo na passarela de collant de bolas, suéter laranja, casaco rosa e gorro azul.
Falando em frio, olha esta: "Cidade gaúcha suspende aulas por causa do frio". São José dos Ausentes. Nem o santo tá indo! E um amigo meu aproveita o frio pra praticar seu esporte preferido: soltar pum embaixo do cobertor. Rarará! E reparou que igreja evangélica só tem ex? Ex-gay, ex-drogado e ex-bebum. Eu vou abrir uma igreja evangélica para ex-evangélicos! Rarará! É mole? É mole, mas sobe!
O Brasileiro é Cordial! Mais uma placa do Gervásio na empresa em São Bernardo: "Se eu descobrir quem foi o flibusteiro daqui que sumiu com o CD do meu amado Roberto Carlos, vou pegar esse cleptomaníaco de novela e amarrar um arame farpado no pingolim. Conto com todos. Assinado: Gervásio". Amado Roberto Carlos? Tô achando que o Gervásio é são-paulino. Rarará!
Nóis sofre, mas nóis goza.
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Guerra de estrategistas
SONIA RACY
O ESTADÃO - 29/06/11

Depois de esperar mais de 30 horas, Abilio Diniz voltou ontem de Paris para São Paulo sem conseguir ser recebido por Jean-Charles Naouri, do Casino, grupo francês de varejo sócio do Pão de Açúcar. "Eu queria ter apresentado a proposta, em relação ao Carrefour, como uma coisa boa para todos os acionistas", lamentou Diniz à coluna, antes de embarcar em seu avião.

Próximos passos? Diniz não quis especificar.

Guerra 2

O fato é que as relações entre o Pão de Açúcar e o Casino vêm se deteriorando há mais de um ano. Diferentemente do que muitos acreditam, a briga entre Abilio e Jean-Charles não começou com as conversas mantidas pelo Pão de Açúcar e Carrefour Brasil.
Elas são sim resultado da intransigência, segundo se apurou junto a fontes que conhecem o caso, de Naouri em sentar-se com Diniz.
Que queria discutir mudanças no contrato original.

Guerra 3

Este contrato, datado de 2006, dita que o Casino tem direito de assumir, em 2012, o controle da Wilkes (empresa que abriga o Casino e a família Diniz) comprando uma única ação do Pão de Açúcar.

Acontece que nesses anos pós associação, o Grupo Pão de Açúcar acabou crescendo muito mais que o esperado e o Casino muito menos que o projetado. O que tornou os termos do acordo obsoletos para os sócios brasileiros.

E assim, Diniz procurou alternativas, encontrando no Carrefour uma oportunidade de expandir o grupo sem perder o mando. Vai longe, a novela.

Para dentro
O BTG, de Andre Esteves, está de olho na carteira de veículos do HSBC. Tudo para rechear o Panamericano?

Bolinhas divididas


O SPFC é o dono oficial da Taça das Bolinhas, depois de julgamento do TJ-RJ, conforme antecipou esta coluna, ontem, em seu blog.

Os advogados do tricolor conseguiram derrubar a única decisão favorável ao Flamengo, com quem o clube disputa a posse do troféu. Cabe recurso.

Em tempo: a taça foi criada pela CEF, em 1975, para premiar o primeiro pentacampeão do Campeonato Brasileiro.

Filha da floresta

Sandra Werneck começa testes, em duas semanas, para escolher a sua Marina Silva: "Para fazer esta cinebiografia, não basta a atriz ser só famosa", conta a diretora. Wagner Moura, convidado para fazer o papel de Chico Mendes, ainda não respondeu.

A cineasta acaba de voltar de Paris, onde costurou parceria de coprodução com a Films d''Ici.

Filha do Brasil

Consultada, Marieta Severo quer ler antes o roteiro do filme sobre Dilma proposto pelo produtor Antônio de Assis. Fora disso, nada feito.

Kramer vs Kramer
Os Gradin, em pé de guerra com os Odebrecht, não vão receber dividendos da holding do grupo Odebrecht referentes a 2010.A empresa Kieppe, controlada pela família Odebrecht, entrou com petição solicitando na Justiça da Bahia a retenção do pagamento, enquanto as ações judiciais não forem julgadas em definitivo.

E para dar exemplo, a Kieppe abriu mão de receber também a parte dos dividendos que lhe é devida.

Kramer 2

Está marcada para dia 14 a audiência de conciliação entre os Odebrecht e os Gradin. Caso ela seja mesmo realizada, há esperança da reunião resultar em definição para o caso. Será?

Na frente


Bono Vox, fã do trabalho de Oscar Niemeyer, ganhará de presente um livro do arquiteto. Autografado pelo próprio e por Lula.

Rose e Gary Neelaman lançam o livro Trilhos na Selva - O Dia a Dia dos Trabalhadores da Ferrovia Madeira- Mamoré. Amanhã, na Saraiva do Morumbi.

Celso Kamura e Fause Haten confirmam presença no júri do Color Trophy, da L''Oréal. Em setembro.

Priscilla Simonsen Biancalana pilota Festival de Carnes Exóticas, no Freddy. De nada menos que rã, vitelo, javali a avestruz. Até agosto.

José Luiz Herencia autografa o livro de poemas Água Furtada. Hoje, na Livraria da Vila da Fradique Coutinho.

Para comemorar os 30 anos da Cristal, Carlos Rios convocou Marcelo Faisal, Luiz Lara, Luiza Trajano, Rogério Fasano, entre outros, para atacarem de pizzaiolos da festa. Hoje.

Carlos Tufvesson ligou para José Junior. Queria informar ao coordenador executivo do AfroReggae que ele ganhou prêmio da secretaria carioca que dirige, a de Diversidade Sexual. Por sua vasta atuação contra o preconceito sexual.

Carta a Myrian
A fala de Myrian Rios no plenário na Assembleia Legislativa carioca deixou Wanderley Nunes revoltado. Ao ilustrar o porquê quer ter o direito de não empregar um homossexual, a deputada citou o exemplo da contratação de uma babá lésbica para cuidar de duas meninas e da certeira futura dificuldade de mandá-la embora, caso a PEC vetando discriminação sexual seja aprovada. E incluiu, no seu discurso, uma frase infeliz: "E sabe Deus se ela não vai cometer pedofilia."
Irado, o cabeleireiro heterossexual escreveu ontem carta para a ex-mulher de Roberto Carlos. Conta nela que seu filho sempre conviveu com todos os seus colaboradores homossexuais e sempre foi muito respeitado. "O caráter da pessoa não está em sua sexualidade."

Na redação, Nunes revelou triste passagem de sua vida. "Aos cinco anos, fui molestado sexualmente por um homem de 25 anos, fabricante de instrumentos musicais- que não era gay". E emendou: "Estou aqui expressando minha experiência como forma de alerta. Me preocupo com isso, com a pedofilia que está até dentro da Igreja Católica".

Encerrou recomendando a Myrian: "Avalie o espírito e o caráter da pessoas e não a sexualidade". PAULA BONELLI

NICOLAU DA ROCHA CAVALCANTI - Estado laico e sociedade livre


Estado laico e sociedade livre
NICOLAU DA ROCHA CAVALCANTI
O ESTADÃO - 29/06/11


O Brasil vem apresentando uma maturidade institucional que surpreende até os mais otimistas. Obviamente, a Constituição de 1988 não resolveu todos os problemas brasileiros, muitos ainda graves; mas há de se reconhecer que os caminhos institucionais para o desenvolvimento social, cultural e econômico estão abertos. Não é mais necessária uma revolução; faz falta agora trabalharmos, continuarmos trabalhando.

Neste mês de junho, um passo a mais nesse processo civilizatório foi dado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que organizou um seminário internacional sobre o Estado laico, em Brasília. Esse evento pode ser o marco simbólico de um olhar mais republicano sobre o poder público, informado por dois critérios básicos: Estado laico e sociedade livre.

Por um lado, um Estado que de fato seja neutro, isento, isonômico. Não apenas formalmente, mas que na sua atuação não se baseie em determinadas pretensões de verdade em matéria religiosa (por exemplo, punir uma conduta em razão de uma religião classificá-la como pecado). O Estado deve se valer de critérios de justiça política, de razões públicas (generalizáveis para todos os cidadãos), e não de visões compreensivas (específicas para determinados grupos).

Viver essa neutralidade exige um contínuo aprendizado, especialmente dos homens públicos e dos líderes religiosos. Perceberem na prática que são âmbitos diversos, esferas com autonomias próprias. Esse profundo respeito pela pluralidade se manifesta no diálogo, na capacidade de ouvir o outro e também na completa separação entre os direitos do cidadão e a prática religiosa. A adesão a determinado credo religioso não pode acarretar nem privilégio, nem discriminação.

Por outro lado, deve-se encarar o caráter laico do Estado como meio para uma sociedade livre. A laicidade estatal não é um projeto de valores, para tornar a sociedade "laica", para "protegê-la" das religiões. O Estado é - e deve ser cada dia mais - laico, mas a sociedade em si não é laica. Ela será o que os seus cidadãos quiserem ser.

O Estado laico é instrumento para criar um espaço de liberdade e de pluralismo, e não para impor valores considerados "laicos". A laicidade é um meio, e não um fim. Essa afirmação não significa uma mitigação da neutralidade do Estado. É a proteção para que continue sendo laico. Caso contrário, o Estado ainda estaria atuando por visões compreensivas não generalizáveis.

O caráter laico do Estado não decorre de uma substituição de referenciais - antes, uma visão religiosa; agora, uma visão ateia ou agnóstica da vida -, mas de uma revisão do seu âmbito e das suas competências. O Estado laico não diz que as religiões são falsas, e sim que é incompetente para qualquer declaração nesse âmbito.

É um Estado com objetivos - em certo sentido - mais modestos. Ele não pretende ditar como os cidadãos se devem portar para ter uma vida feliz (assumiu esse papel durante muito tempo); agora, deseja "apenas" criar um ethos de paz e de liberdade. Cada um buscará a felicidade ao seu modo, com as suas escolhas, com a sua visão de mundo.

Alguém pode questionar: pouco realista essa teoria, não? Ela conseguirá resolver as divisões da sociedade brasileira, cada dia mais notórias, principalmente por causa da atividade social e política de grupos minoritários, antes invisíveis e que agora lutam não apenas por uma "não discriminação", mas pelo pleno acolhimento da sua diversidade? Refiro-me aos homoafetivos, aos de religiões com matriz africana, etc. Será possível, de fato, uma convivência harmoniosa entre esses grupos e a "maioria" brasileira, de corte conservador?

Infelizmente, ainda não foi descoberta uma receita que garanta a convivência harmoniosa num cenário de multiculturalismo sistemático. Para a real existência de uma comunidade continua sendo necessário um vínculo comum, por menor que seja, entre os seus membros.

Não vejo, no entanto, a pluralidade brasileira como um obstáculo para esse núcleo comum, que pode e deve nascer de um profundo respeito pelo outro. De ambos os lados! Não se pode ver no outro apenas um "diferente" ou um "retrógrado". Com essas visões parciais não há espaço para o diálogo, já que não se vê o outro como pessoa. Batalhemos por essa profunda compreensão mútua, a começar por nós mesmos, respeitando os nossos "diversos".

Será essa uma atitude ingênua? Respondo com outra pergunta: por que as posturas imobilistas (ou pessimistas) são as mais adequadas para lidar com a realidade social? Parece-me que por trás desse pessimismo social há uma forte dose de arrogância e, por consequência, de irrazoabilidade: "Eu respeito os outros, mas eles não têm a mínima condição de me respeitar". É exatamente o oposto: se eu consigo, imagine os outros! Fá-lo-ão com muito mais facilidade e elegância.

Um último ponto. Esse novo paradigma para as relações entre Estado e religiões não implica o fim das tensões entre os dois âmbitos. Sempre haverá conflitos. As religiões são fonte de valores para a sociedade e, inevitavelmente, há discordância entre os "fatos políticos" e os "critérios de valor". Mas esse dualismo entre dados de fato e critérios, como defendeu Karl Popper, é extremamente saudável para uma sociedade. Permite o seu aperfeiçoamento, ao impedir que a vontade política num determinado momento adquira status de critério último de valor. Daí, por exemplo, a extrema relevância da decisão do Supremo Tribunal Federal de permitir as marchas a favor da maconha (mesmo que seja difícil - a meu ver - encontrar razões públicas que justifiquem a liberação do tóxico).

Este é o desafio. Um Estado laico no qual todo brasileiro possa sentir-se em casa, uma vez que é "em casa" que uma pessoa é mais livre - para pensar, falar e ser o que quiser.

BRAZIU: O PUTEIRO

ANTONIO PRATA - Jogando pela janela


Jogando pela janela
ANTONIO PRATA
FOLHA DE SÃO PAULO - 29/06/11

"Curiosos são os caminhos do engenho humano. Tome o caso do futebol e das janelas, por exemplo. Por mais de cem anos, os dois viveram isolados, sem que nenhum torcedor percebesse o potencial lúdico e ofensivo desta união. Eis então que, em algum momento da década de 90 do século passado, a centelha da inventividade espocou nos neurônios de um boleiro, trazendo-lhe a brilhante ideia de escancarar as persianas, cravar as mãos na esquadria e dividir com o quarteirão suas fantasias mais íntimas: "Chuuuuuuupa porco!". Estava criada, assim, uma nova forma de comunicação: o insulto-futebolístico-intercondominial.
Embora já faça mais de uma década que, pelas janelas do meu bairro, porcos, bambis, peixes e gambás intimem-se mutuamente à felação, ainda não consegui me acostumar com o fenômeno. Toda quarta e domingo, salto do sofá ao primeiro grito, deixando cair das mãos o livro ou o controle remoto, crente que está pegando fogo no prédio, que estão assaltando o apartamento de cima. Fecho as janelas, aumento o volume, mas é difícil me concentrar com as imagens que cruzam o céu da cidade, dignas de um quadro de Bosch, de um dos "Caprichos de Goya", de uma versão hardcore da Arca de Noé, por Robert Crumb: homens com camisetas de seus times, as calças arriadas, recebendo fellatios de peixes, porcos, de gambás, do Bambi.
A relação entre o esporte bretão, a zoofilia e o sexo oral é um mistério a ser desvendado por psicólogos, cientistas sociais e semiólogos. A este modesto cronista cabe apenas levantar perguntas mais simples. Por exemplo: se desde o início da humanidade há janelas e discórdias, por que foi somente o futebol que deu às fenestras o atual status de arena?
Ou estarei errado, e nas noites estreladas da Grécia antiga ecoavam provocações como "chuuuuuupa, tebano frouxo!", "cala a boca, espartano maloqueiro!"? Terão as vozes se levantado entre os muros dos castelos, defendendo protestantes e católicos: "Vaaaaaai Luteroooo!", "Eô, eô, torquemada é um terror!"?
Acredito que não. Se a comunicação intercondominial já existisse no passado, teriam chegado até nós outros exemplos, para além das tranças de Rapunzel. Ao que parece, o fenômeno é recente e está só começando. Pelo que noto aqui em Perdizes, já não se restringe ao ludopédio. Várias vezes por semana, alunos do Mackenzie urram, de forma nada polida, sua superioridade sobre os estudantes da PUC, ao que os filhos da PUC respondem, na mesma altura e baixeza; um tal de Arthur tem sido constantemente insultado, e há também meras manifestações de júbilo, encarnadas neste gritinho tão irritante que, desde o surgimento do Big Brother, disseminou-se como uma praga pelo país: "Uhu!".
Faz algumas semanas, li neste caderno que uns prédios já estão multando seus condôminos berrões. Acho bom. E iria além: em caso de reincidência, o linguarudo deveria perder o direito à janela, assim como um motorista inábil perde a habilitação. Acimentem-se as fenestras: o sujeito terá que viver para sempre num cubo sombrio, ouvindo o eco das próprias palavras e refletindo sobre seus obscuros significados".