quinta-feira, setembro 10, 2009

AUGUSTO NUNES

VEJA ON-LINE

Frei Betto sempre sabe como votará o ministro Joaquim

10 de setembro de 2009

“Saia à rua, ministro Gilmar!”, exortou Joaquim Barbosa no bate-boca famoso com o presidente do Supremo Tribunal Federal. “Saia à rua, faça o que eu faço!”. Barbosa não esclareceu se, antes de cada sessão, circula por aí perguntando aos transeuntes o que acham do tema que será discutido. O que se sabe é que sempre gostou de andar pelas ruas e prefere ir pessoalmente a mandar emissários. Foi graças a esse hábito que, em dezembro de 2002, apareceu na agência da Varig em Brasília. Queria comprar um bilhete aéreo. Acabou ganhando um ingresso para chegar ao STF pela via expressa.

Esperava sentado a chamada do atendente quando a mão do destino abriu a porta da agência para dar passagem a Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto, amigo e confessor do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. “Fui lá tratar do meu retorno a São Paulo, após a posse presidencial”, revela num trecho do livro Calendário do Poder. Enfrentou a fila enorme, pegou uma senha e procurou um lugar para acomodar-se.

Instalei-me no primeiro banco vazio, ao lado de um cidadão negro que nunca vira.

- Você é o Frei Betto? - indagou-me.

Confirmei. Apresentou-se: Joaquim Barbosa… Trocamos ideias e, ao me despedir, levei dele o cartão e a boa impressão.

Para concluir…

Em março, Márcio Thomaz Bastos indagou se eu conhecia um negro com perfil para ocupar vaga no STF. Lula pretendia nomear um para a suprema corte do país. Lembrei-me de Joaquim Barbosa”.

Procurador-regional da República no Rio de Janeiro, informava o cartão de visitas que repassou imediatamente ao ministro da Justiça. No dia seguinte, Márcio Thomaz Bastos também sabia que Barbosa nasceu em 1954, é mineiro de Paracatu, sabe tocar piano e violino desde os 16 anos, formou-se em Direito pela UnB, fez mestrado e virou doutor pela Universidade de Paris, deu aulas no Brasil e nos Estados Unidos e é fluente em inglês, francês, alemão e espanhol.

O bom currículo não teria serventia se não tivesse causado “boa impressão” a Frei Betto, que foi assessor especial de Lula nos dois primeiros anos de governo. “Temos um modo muito parecido de ver as coisas”, contou a um amigo. Decerto disse isso a Lula. Doutor em povo, o chefe nem precisou sair às ruas para resolver que o advogado que nunca julgara um processo seria juiz da corte suprema. O indicado já estava de toga quando emergiu a informação ausente do currículo: é um brigão vocacional.

Antes da discussão com Gilmar, desentendeu-se com quase todos os outros. Impaciente com quem dele diverge, capaz de descobrir provocações por trás de cumprimentos banais, pronto para enxergar relâmpagos racistas em céu de brigadeiro, vive à beira de um ataque de nervos. “Ô, Joaquim, tu tem de superar essa mania de perseguição”, aconselhou-o Lula, rindo, num jantar na casa do ministro Eros Grau. “Bola pra frente e para de se sentir vítima porque tu foi o primeiro negro a chegar lá. Eu só tenho quatro dedos, não tenho diploma universitário e não sou perseguido”.

Como Lula não lê, não sabe que o “primeiro negro a chegar lá” foi o terceiro. Antes dele, passaram pelo STF Hermenegildo de Barros (1919 a 1937) e Pedro Lessa (1907 a 1921). Isso também é bem menos relevante que a decisiva cadeia de amizades: Lula confia em Frei Betto, e Frei Betto se entende muito bem com o ministro. O ex-assessor criticou severamente o escândalo do mensalão. Relator do caso, Barbosa processou todo mundo. Frei Betto é contra a extradição de Cesare Battisti. O mais veemente defensor do bandido foi Barbosa.

Ele nunca diz o que pensa antes de votar. Mas é fácil adivinhar o que vai fazer. Basta saber a opinião do padrinho.

GOSTOSA


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ANCELMO GÓIS

Time de reservas

O GLOBO - 10/09/09


Já classificada para a Copa da África do Sul, a CBF resolveu que no jogo Brasil x Bolívia, dia 11 de outubro, em La Paz, não vão participar as estrelas da companhia, como Kaká, Júlio César, etc.
Vai um time de reservas, embora a confederação não goste de usar a palavra reserva para atletas da seleção.

Segue...

Na verdade, a CBF não se conforma com a conjuração feita pelas federações dos países hermanos, para manter jogos na altitude de cidades como La Paz, que fica a 3.600m do nível do mar. A Argentina foi um dos que ficaram a favor da Bolívia.
Isso antes de a sua seleção ser goleada por 6 a 1 pela frágil equipe boliviana nas eliminatórias, em abril.

Para concluir

Os principais astros do time de Dunga, entretanto, participarão do jogo seguinte, três dias depois, 14 de outubro, em Campo Grande, contra a Venezuela.

Mimo diplomático

No encontro com Ricardo Teixeira, terça em Brasília, Lula pediu novo estoque de camisas autografadas por nossos craques.
Vai levar dia 24 para distribuir entre os chefes de Estado, na reunião do G-20.

Petro-Sal não

Lula pode ter que achar outro nome para a estatal do pré-sal. É que Petro-Sal já tem dono.
Segundo o registro 828040109 do INPI, de 10 de abril de 2008, o nome pertence a uma empresa de sondas de Mossoró (RN), que se chama Petro-Sal Serviços Industriais

Salve a Mocidade

Elza Soares, a grande cantora, será a rainha de bateria da Mocidade Independente no carnaval de 2010.
Um grande sucesso dela, aliás, foi o clássico “Salve a Mocidade”, sobre a bateria da verde e branco de Padre Miguel.

Meio livro, meio site

Lançado ontem nos EUA, o romance policial “Grau 26 — a origem do mal”, de Anthony Zuiker, chega em novembro ao Brasil pela Editora Record.
O livro traz uma bossa. É que a cada 15 ou 20 páginas, o leitor é convidado a entrar em um site para assistir a um filme de minutos no qual a trama avança com atores representando personagens do romance de papel.

O filho do Brasil

O lançamento de “Lula, o filho do Brasil” nos cinemas é só no fim do ano, como se sabe. Mas o presidente vai ganhar de aniversário, dia 27 de outubro, uma cópia do filme que conta sua vida.
O longa também vai ser exibido na abertura, em novembro, do Festival de Brasília.

Sonho de consumo

A jogadora de futebol Marta realizou um sonho: comprou um carrão, um L200 da Mitsubishi.
Pegou o possante em Juiz de Fora (MG) e foi até a sua terra natal, Dois Riachos, em Alagoas.
Foram 48 horas de estrada até chegar em casa.

Último capítulo

O último capítulo de “Caminho das Índias”, amanhã, terá participação especial de Bibi Ferreira e Maria Bethânia.
Bethânia canta “O que é o que é”, de Gonzaguinha, no casamento de Tarso (Bruno Gagliasso) e Tônia (Marjorie Estiano).

De catamarã

O povo de Niterói que usa a linha Charitas-Praça XV, da Barcas S/A, terá em outubro nova alternativa para cruzar a Baía.
Vai entrar em operação o catamarã Avatares, com capacidade para 450 pessoas

O Marcos é nosso

O rapper Jay-Z escolheu dia 11 de setembro para lançar, em Nova York, seu novo CD, “The Blueprint III”, com renda destinada às famílias dos mortos no atentado às torres do World Trade Center.
O CD tem uma faixa, chamada “Thank you”, parceria de JayZ com o nosso Marcos Valle.
Aqui é o Romário!
Romário ligou para dizer que não está comprando uma casa de Zeca Pagodinho, no condomínio Pedra de Itaúna, na Barra

Que nem Eva

Ontem, na Rua Voluntários da Pátria, em Botafogo, no Rio, por volta das 15h30m, uma mulher já de uns 40 anos caminhava, completamente... nua

ZONA FRANCA

Yara Maria Vieira Ferreira lança Coisas estranhas”, hoje, na Bienal.

Sandra Felzen e João Muller encerram no domingo exposição no Centro Cultural Correios.

Amanhã, Joaquim Redig lança o livro “Nossa Bandeira”, na Travessa de Ipanema.

O restaurante La Plancha abriu uma filial em Macaé, no Brisa Tropical.

Luiza Possi estreia “Bons Ventos Sempre Chegam”, no Vivo Rio.

A Pathisa abre loja no Cittá América.

Luiz Fernando Filgueiras lança hoje “Por uma noite”, na Argumento do Leblon.

VEJA QUE pecado o estado da Praça Antero de Quental, coração do Leblon. Bancos quebrados, sujeira espalhada, buracos... O descuido com os recantos que deveriam ser de lazer e convivência da população, aliás, faz a coluna iniciar mais uma cruzada cívico-carioca: toda quinta-feira, vamos publicar fotos de praças da cidade que precisam de mais atenção do poder público. Assim, os leitores estão convocados: mandem as fotos que a gente publica — e cobra uma solução das autoridades. Como no caso da Antero de Quental e de tantas outras

ANA PAULA, porta-bandeira da Viradouro, desfila sua beleza num ensaio para o Sambarazzo, seção de belezas carnavalescas do site Tudo de Samba

CASAL 20 da TV brasileira, Cauã Reymond e Grazi Massafera posam depois de um jantar no Porcão da Barra, no Rio

EUGÊNIO BUCCI

A TV pública não é do governo


O Estado de S. Paulo - 10/09/2009

Há pouco mais de dois anos integro o Conselho Curador da Fundação Padre Anchieta, à qual pertence a TV Cultura, de São Paulo. Sou membro eletivo, ou seja, fui eleito pelo voto dos demais conselheiros. Durante meu mandato tenho procurado evitar debates públicos sobre a instituição; dirijo minhas opiniões ao próprio conselho e assim tento cumprir o papel que me cabe. Em certas ocasiões, contudo, o debate público é inevitável. Foi assim quando os índices de audiência da TV Cultura foram duramente questionados dentro e fora do colegiado de que participo. Na época escrevi, aqui, neste espaço, o artigo Audiência em TV Pública (26/3/2009). Permanecer em silêncio seria omissão. Agora surge uma situação análoga, de igual gravidade. Novamente, não é hora de calar.

Desta vez, o que me motiva é o mal-estar causado pela transmissão ao vivo, na tela da Cultura, de uma fala do governador José Serra. Serra discursava numa solenidade oficial, na tarde de 26 de agosto de 2009, e suas palavras foram ao ar em flashes que interromperam a programação normal. É bem verdade que, para a Fundação Padre Anchieta, não se tratava de uma data qualquer. Exatamente naquela solenidade, ela anunciava o lançamento de dois novos canais digitais, o Univesp TV e o Multicultura: o primeiro, com três horas de programação diária inédita, dedicado ao ensino a distância e o segundo com as produções que a emissora paulista vem exibindo há 40 anos. A simples estreia dos dois canais digitais é um feito histórico: inaugura a chamada multiprogramação digital no País. Merecia comemorações. Acontece que, a título de transmitir um trecho da solenidade, foram veiculados quatro minutos ininterruptos de um pronunciamento político do governador. Ele falava em defesa do projeto da Univesp, a Universidade Virtual do Estado de São Paulo, e aproveitou para atacar os que se opõem à iniciativa - que, como é óbvio, não tiveram acesso ao microfone para expor seus argumentos. Com isso, os flashes - que, ao todo, foram três, somando quase sete minutos - assumiram o aspecto de rede oficial, dessas em que só a autoridade tem direito a voz. Durante aqueles minutos, a Cultura, tragicamente, pareceu uma emissora governamental. Nada mais descabido. Não é preciso ser especialista no assunto para saber que não consta da missão da nossa TV pública o dever de passar recados ao vivo do Poder Executivo.

Como conselheiro, estranhei o episódio. Já na semana passada, no dia 1º de setembro, durante a reunião do Comitê de Programação, órgão do Conselho Curador, expressei o meu estranhamento ao presidente, Jorge da Cunha Lima, e aos demais presentes. Até aquele momento, entretanto, eu só tivera conhecimento da história pelos jornais. Era preciso que eu analisasse a íntegra dos flashes para concluir o meu juízo. Há dois dias, finalmente, vi as imagens, numa cópia em DVD que recebi da direção da emissora, e confirmei minha impressão inicial: aquele foi um capítulo infeliz, atípico nos costumes da TV Cultura.

O que eu tinha lido na imprensa fazia sentido. A Folha de S.Paulo noticiou os flashes logo no dia 27 de agosto (Cultura corta programação para passar discurso de Serra). Pouco depois, no dia 30, a coluna de Elio Gaspari, na Folha e no jornal O Globo, registrou o fato e observou que a TV Brasil, do governo federal, não tem cometido o mesmo erro. Aliás, a pergunta é boa: o que aconteceria se um discurso do presidente da República interrompesse por quatro minutos a grade da TV Brasil? Tenho para mim que isso renderia notas de primeira página e, na sequência, um articulista iria brandir mais esse "escândalo" para pedir o fechamento da emissora. No caso de Serra, a reação até que foi moderada, mas algum barulho se ouviu. Agora, o debate interessa à sociedade e à causa da comunicação pública: não há motivos para fugir a ele.

As rádios e televisões não-comerciais carecem de legitimidade no Brasil. Desde muito tempo. A fonte do déficit de legitimidade é a alegre servidão com que elas se apressam a agradar aos governantes. Em todas as regiões do País. Nesse cenário, a TV Cultura sempre reluziu como um caso à parte. Com sua tradição diferenciada, ela não se tem caracterizado pelo vício da servidão promíscua. No dia 26 de agosto, porém, até a Cultura escorregou. Com aqueles três flashes, deixou no ar a impressão de que sua independência teria fraquejado. O saldo mostrou-se claramente negativo - não apenas para a Fundação Padre Anchieta, que viu manchado o anúncio de seus dois novos canais, mas para todas as televisões do campo público (para usar aqui a expressão de Gabriel Priolli), que têm nela a principal referência.

Sabemos que não basta combater os conflitos de interesse, é preciso repelir com vigor a mera aparência de que eles possam estar instalados. Nesse caso, a simples aparência de conflito de interesses é destruidora. Quando vê o ponto de vista do governador merecer tratamento privilegiado, o telespectador desconfia. Com razão. Permitir que o espaço editorial de uma emissora pública, que pertence à sociedade, seja abruptamente invadido por interesses governamentais é mais ou menos como abrir uma suíte VIP num hospital municipal para acomodar parentes do prefeito. Essa impressão não faz jus à história da TV Cultura. Muito menos ao seu futuro. Do governo, qualquer governo, a TV pública deve saber manter distância. Se não for crítica e independente, ela é apenas desnecessária, porque irrelevante.

Agora, a melhor forma de superar o episódio é debatê-lo. Debatê-lo para não repeti-lo. O deslize do dia 26 de agosto não é um atestado de governismo. Ele constitui um erro, sem dúvida, mas um erro menor se comparado aos acertos da atual gestão da Cultura. Que os acertos prevaleçam.

COMPRA DE VOTOS

VINÍCIUS TORRES FREIRE

Pré-sal e mamão com açúcar


Folha de S. Paulo - 10/09/2009



Lula recua, FGTS na compra de ações ganha apoio, Petrobras ataca parte das leis do pré-sal; pré-sal não será um pacote

O JOGO do pré-sal não vai ser o passeio "mamão com açúcar" imaginado pelo governo, que pretendia aprovar seu pacote de mudanças legais quase com a velocidade de um decreto.
Parece que Lula enfim aceitou uma tramitação normal para as leis do petróleo no Congresso. Mas há novidades para todos os participantes do jogo, não só para o governo: petroleiras estrangeiras, Petrobras, lobistas de todos os lados e, também, para as partes do governo que se confrontam na definição do pré-sal.
Partes interessadas, críticos e lobistas que procuram desmontar o projeto do governo por meio de avaliações pessimistas sobre o rendimento do pré-sal levaram um tiro. A Petrobras anunciou na noite de terça que a área de Guará pode ter de 1 bilhão a 2 bilhões de barris. É o dobro do campo descoberto no golfo do México, anúncio noticiado na semana passada com fanfarras pelo mundo. Guará é uma das quatro grandes áreas conhecidas do pré-sal.
O anúncio da Petrobras não ratifica o besteirol do "risco zero" na exploração. Mas desmoraliza urubus e reações estereotipadas aos projetos do governo ("afastar investidores estrangeiros, assusta o mercado, bla-bla-blá"). Dão vexame as petroleiras estrangeiras, que debatem muito mal e pobremente o problema do pré-sal -tal qual Lula e cia. As petroleiras morrem de medo de levar tunda ainda maior do governo e perder mais espaço no pré-sal. Por isso, dançam miudinho; no bastidor.
Os excessos tolos de estatismo decerto podem "afastar investidores". O Brasil sempre pode cometer besteiras históricas. Mas estatismo e primitivismo institucional, embora detestáveis, nem sempre são decisivos. Considerem o apetite das empresas de recursos naturais por esse progressista, ordenado e moderno país chamado Angola.
Decerto há dúvidas. A Petrobras vai ter dinheiro e capacidade administrativa para tocar tanto pré-sal?
A que custo? Em qual prazo? Estado em excesso vai redundar em quanta corrupção adicional? Mas onde estão os dados, estudos e argumentos de qualidade dos críticos?
Do lado da capitalização da Petrobras, mais notícias. A Força Sindical levou ao Congresso emenda para permitir o uso do FGTS na compra das novas ações da Petrobras, o que Dilma Rousseff não quer, mas que fica agora mais difícil de barrar.
O tremendo esgar do mercado diante da ainda suspeita capitalização da Petrobras levou o presidente da empresa, José Sergio Gabrielli, a dar entrevistas pelo mundo a fim de conter o temor de acionistas. Suspeita-se de que o governo possa superfaturar o preço das reservas de petróleo do pré-sal que pretende trocar por ações da Petrobras, com o que tomaria parte desproporcional e indevida das ações da empresa.
Gabrielli diz que o valor dos barris serão avaliados por "várias" empresas independentes (raras, aliás).
Por falar em Petrobras, a empresa começou o lobby a fim de estrangular no berço sua nova irmã, a Petro- -Sal, de modo a reduzir o poder da baby estatal nas decisões sobre a exploração do pré-sal.
Uma semana de notícias e a confusão já aumentou. Bom. Quanto mais confusão, melhor. Pacotes e decretos é que saem arrumadinhos, sem mudanças e sem discussão.

ROLF KUNTZ

Retrato de um país entravado


O Estado de S. Paulo - 10/09/2009

Se as empresas brasileiras dependessem mais do governo que do próprio esforço para competir no exterior, teriam imensa dificuldade para vender uma caixa de pregos ou um saco de soja. Também seriam muito menos capazes de criar empregos produtivos. O quadro geral do Brasil pode ter melhorado no último ano, mas o País continua atolado em velhos problemas. Para os brasileiros, este é o dado essencial do Relatório de Competitividade Global 2009-2010, lançado terça-feira pelo Fórum Econômico Mundial.

Houve um ganho de oito posições de um ano para outro, do 64º para o 56º lugar numa lista de 133 países. Nem todos os dados são negativos, mas os fatores dependentes da ação governamental, como os padrões educacionais, a qualidade das instituições, a tributação e a regulação dos negócios continuam muito ruins. Mesmo em setores onde ocorreram avanços a posição brasileira é de enorme desvantagem. Houve melhora de 14 posições na qualidade do sistema educacional, mas o avanço foi da 117ª para a 103ª posição, num conjunto de 133 países. Em relação à qualidade geral da infraestrutura, o salto foi do 98º lugar para o 81º. Se as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) fossem realizadas integralmente, o Brasil só conseguiria eliminar ou reduzir o atraso, comentou o professor Carlos Arruda, da Fundação Dom Cabral, coordenador da parte brasileira da pesquisa. Mas o PAC está emperrado e não há razão, neste momento, para esperar maior dinamismo em sua execução neste ou no próximo ano. O governo simplesmente não sabe como executar os investimentos sob sua responsabilidade e tem sido lento na mobilização do setor privado.

Os avanços conseguidos em alguns setores são pouco significativos, quando se considera a permanência dos problemas. Os anos passam e a lista dos principais entraves ao crescimento econômico e à competitividade permanecem. As instituições continuam ruins, de acordo com os empresários consultados na pesquisa. As leis atrapalham a atividade produtiva e nesse quesito o Brasil aparece no 132º posto. A carga tributária total é muito pesada e situa o País na 117ª posição, mas os efeitos da tributação (por sua baixa qualidade) são piores e deixam o Brasil no 133º lugar, o último da lista. O peso da burocracia e o desperdício de dinheiro público são alguns dos outros fatores críticos - e nenhum deles é novo. Se fosse eliminado o atraso em alguns desses itens, especialmente em educação e infraestrutura, o Brasil poderia aparecer em torno do 30º lugar na classificação geral, segundo o professor Carlos Arruda.

Mas alguns dos progressos detectados na pesquisa podem ser passageiros e são de certa forma ilusórios. A mudança da posição do Brasil é explicável, em parte, pelo ganho de 13 pontos no item "estabilidade macroeconômica" - da 122ª para a 109ª posição. O superávit primário do ano passado e a melhora da relação dívida/PIB foram importantes para o resultado. Mas essa evolução decorreu principalmente do aumento da receita, e não de uma administração mais prudente e mais competente do dinheiro público.

Além disso, o governo, como tem ocorrido regularmente, foi incapaz de aplicar toda a verba prevista para investimentos. A estrutura do gasto público piorou, com a elevação das despesas com pessoal e com os benefícios previdenciários. Continua piorando em 2009 e continuará em 2010, porque o inchaço da folha de pessoal não foi interrompido, mais dinheiro será destinado ao Bolsa-Família e as pensões superiores a um salário mínimo serão elevadas.

Não se cortaram gastos de custeio para compensar esses aumentos e o nível de desperdício provavelmente não será reduzido. Ao contrário, deverá subir, como ocorre normalmente em períodos eleitorais. Além disso, novas facilidades concedidas para devedores do Tesouro pesarão nas contas públicas. Detalhes como esses não parecem ter sido considerados pelos autores do relatório na avaliação fiscal de 2008.

Apesar disso, o Brasil ainda aparece bem no retrato. Nenhum outro país, numa lista de 25, sairá da crise com um balanço tão bom de efeitos positivos e negativos, segundo a avaliação de 16 especialistas de várias nacionalidades. Nessa lista, somente Índia, China, Austrália e Canadá aparecem também com saldos positivos. Mas, passada a crise, o Brasil continuará travado pelos fatores críticos de sempre - todos associados à baixa qualidade das políticas e a deficiências de gestão. O empenho do governo na recriação da CPMF, seus compromissos eleitorais e o retorno às políticas dos anos 50, nos planos para o pré-sal, não são prenúncios animadores.

GOSTOSA


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JANIO DE FREITAS

TRAMAS E MENTIRAS


Folha de S. Paulo - 10/09/2009

Os mal embaralhados negócios de compras de armas chegam ao ponto em que suas muitas inverdades precisam cair



A COMPRA DE armamentos pesados toma ares de escândalo, com tantas tramas escusas, esboços estratégicos caóticos, volume fantástico e arbitrário de dinheiro e endividamento, e muitas inverdades como argumentos. A essa mixórdia, cujo conhecimento se vai extraindo a fórceps, agora os Estados Unidos sobrepõem um lance muito embaraçoso para o governo brasileiro. À parte o aspecto de negócio, que não faltaria em uma iniciativa norte-americana, o lance é deliberadamente embaraçoso para Lula e para a diplomacia brasileira.
Trata-se da nota pública em que a Embaixada dos EUA, e portanto o Departamento de Estado, comunica ao governo brasileiro a disposição de também ceder as informações tecnológicas de construção do caça F-18E, caso o Brasil compre esse avião produzido pela Boeing. De qualidade aprovada no teste realista das guerras, e de preço muito menor que o Rafale francês escolhido a priori por Lula, o F-18 foi aqui descartado de um modo simplório que não poderá mais se manter. O governo Lula vai reconhecer para os Estados Unidos que não confia na geopolítica de Washington, como evidencia o desvio da conexão militar para a Europa, e quer disputar-lhe a primazia da influência na região e em algo mais? Imaginaria contentar os norte-americanos com pretensos motivos técnicos para preteri-los?
Os mal embaralhados negócios de compras chegam ao ponto em que suas muitas inverdades precisam cair. Já está claro que toda a transação foi armada com antecedência para o negócio com fabricantes franceses. Associação que não é má em si, mas se torna inaceitável por seus componentes próprios das tramoias. Com a demonstração definitiva, nesse sentido, que é a aberração da empreiteira Odebrecht metida na transação dos submarinos, para um negócio gigantesco sem licitação. E que não é pago pelos franceses, como pretende Nelson Jobim, mas pelos brasileiros, apenas com intermediação francesa. Há mentiras demais e escamoteios demais nessa corrida a armamentos pesados.
Frequentador habitual do "Painel dos Leitores", o capitão-de-mar-e-guerra reformado Paulo Marcos G. Lustoza é outra vez bem-vindo para dizer, agora, que "esqueço de mencionar", nos "artigos contra os submarinos franceses", que "os alemães não transferiram toda a tecnologia do submarino IKL", cujos sobressalentes custam ao Brasil 30% mais e cada revisão custa "quase outro submarino".
Não é esse ou aquele submarino que importa. É o negócio montado, são os aspectos civis da transação, e não os militares. E eu não esqueceria a informação que o missivista transmite. Se a Marinha não a escondesse, se a ela me desse algum modo de acesso. Mas é compreensível que não o faça. O custo de manutenção dos nossos cinco IKL, dando-se como precisas as afirmações da carta, atesta a compra incompetente feita pela Marinha: pagou pelo que não recebeu e paga pelo que não previu em contrato. O que estaria a reclamar providências bastante sérias, porque a coisa vem de longe.
Neste 2009 completam-se 50 anos de compra do porta-aviões aqui batizado de "Minas Gerais". Foi um escândalo no governo Juscelino, pelo preço pago aos ingleses, pelo ferro velho (como o chamavam) encostado desde a Segunda Guerra, pelo custo da reforma na Inglaterra e na Holanda, e pela quantidade de oficiais que passou um belo ano na Europa esperando o navio. O qual nunca se prestou no Brasil a decolagem/pouso de aviões, mas só a panes sucessivas, com folclórico arrombamento do casco para um reparo definitivamente ruinoso. Já no governo Fernando Henrique, houve a compra do atual porta-aviões, "Foch" na França e "São Paulo" aqui, cuja venda a Marinha francesa decidiu por causa do custo excessivo de manutenção do navio.
É melhor o escândalo do que a repetição do que já foi feito com os piores resultados.

DIRETO DA FONTE

No ar...

SONIA RACY

O ESTADO DE SÃO PAULO - 10/09/09


Uma comissão composta pelo prefeito de Caravelas, Davi Oliveira, recebeu domingo, na cidade, representantes do governo Jaques Wagner. O motivo? Dar curso a um desejo de Lula, manifestado quando ele visitou, em junho, o Parque de Abrolhos.
Reativar o aeroporto local, fechado há dois anos, para retomar o turismo por ali.

...e NO MAR

Mas, antes que esse turismo seja recriado, as unidades de conservação têm que estar preparadas para o movimento. Afinal, ele tem ser sustentável, para preservar a "floresta amazônica" que existe debaixo d"água.

A mesma água, aliás, que abriga a melhor qualidade de petróleo brasileiro.

FUNDO DO MAR

Recursos? Não há. A SOS Mata Atlântica e a Conservação Internacional selaram aliança marinha para criar um fundo que renderá para sempre.
Os recursos daí decorrentes ficarão ao dispor da União, que se encarregará de gerenciar essas unidades de conservação.
Às ONGs caberá a tarefa de acompanhar de perto o andamento dos trabalhos. A SOS fez isto, antes, no Atol das Rocas.

Ela ou ela

Não foi só a queda "eleitoral" de Dilma Rousseff na pesquisa Sensus que deixou o Planalto preocupado.
No bate-boca com Lina Vieira ela também perdeu. Ficaram com a ministra 23,6% dos consultados, contra 35,90% que apóiam a ex-secretária da Receita.

Bola na trave

Os mineiros não chegaram a comemorar ao saber que a Fifa reprovou o Morumbi.
É que a reforma do Mineirão - que quer tomar de São Paulo o jogo de abertura da Copa de 2014 - está mal parada. O projeto inicial, de R$ 1,6 bilhão, valia em um cenário pré-crise.
Agora, está na repescagem.


Chuvômetro

A Prefeitura não aceita as comparações entre a chuva da terça, que fez o Tietê transbordar, com a de maio de 2005, que foi bem maior e... sem transbordamento.
Em 2005, alegam os técnicos, os 140 milímetros de água caíram regularmente, o dia todo. E os 62 mm da terça desabaram em uma hora.

Chuvômetro 2

E a chuva surpreendeu a produção do longa de Bruna Surfistinha, que não conseguiu "surfar" na água. Correram todos para uma fábrica, mas o material... Afundou.

O "S" da questão


Clima tenso na Confederação Nacional do Comércio. Uma comissão do Senado decide, dia 15, sobre a criação de um novo "Sistema S", para a Confederação Nacional do Turismo.
Para a CNC, isso significa perder boa parte dos R$ 2 bilhões do "seu" Sistema S.

MOSAICO DO BEM


Seiscentos portadores do HIV e familiares estão sendo recrutados pelo Ministério da Saúde. Farão parte de um mosaico humano a ser clicado gratuitamente por Vik Muniz, sob o mote "Não ao estigma e ao preconceito".
A imagem será apresentada a 1º de dezembro, Dia Mundial de Luta contra a Aids.
E será doada a um museu ainda a ser escolhido.

QUATRO PATAS


Rodrigo Pessoa e Doda Miranda são os únicos cavaleiros brasileiros no Spruce Meadows.
Competição que começou ontem, em Calgary, Canadá.


Voo cego

Sujou para a Clean Air.
A nova empresa de aviação civil - que vem fazendo alarde de sua existência - não pediu, até agora, na Anac, autorização para operar.

SEM CARNAVAL

A Cervejaria Petrópolis entrou na F-1. Vai estampar, com a cerveja Itaipava, os capacetes e carros de Jenson Button e Rubens Barrichello no GP Brasil.

Na FReNTe

Simulando um banho de rio no Pantanal, o jacaré criado pelos irmãos Campana, para a Lacoste, vai ser mote da campanha mundial da marca.

Amy Winehouse e Bebel Gilberto agora têm algo em comum: o produtor inglês Mark Ronson. Ele se encantou com a voz da brasileira e fez questão de assinar o hit The Real Thing, de seu novo CD.

Em tempos de Ano da França no Brasil, Eike Batista ganhou encarte especial na revista francesa Paris Match.

A Escola da Vila recebeu aprovação do Ministério da Educação para abrir cursos de Pós-Graduação Lato Sensu.

Vem aí o Brazil Florida Week. Calma, não se trata mais um evento de moda, e sim de um intercâmbio imobiliário para potenciais clientes brasileiros. Organizado pela Sotheby"s International Realty.

O diretor do grupo de teatro Parlapatões, Hugo Possolo, lança amanhã, na Praça Roosevelt, o livro Palhaço-Bomba, com artigos e crônicas.

Uma colecionadora bateu recorde de agilidade: comprou a primeira foto da SP Arte/Foto. Por telefone, arrematou uma das imagens estampadas no convite da feira, que... abre hoje, no Shopping Iguatemi.

A quem interessar: portadores de coxas com circunferência superior a 60 cm têm menor risco de doenças cardíacas. Descoberta de pesquisadores da Universidade de Copenhague.

GOSTOSA


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FERNANDO BARROS

Vai ser bom, não foi?


O Globo - 10/09/2009

Temos que admitir: o brasileiro tem mesmo uma tendência muito forte de mimetizar os americanos. Sobretudo se o assunto é marketing. E, principalmente, marketing político. Depois do fenômeno Obama, então, virou moda importar os guys, que vêm pra cá, desovam um bocado de obviedades, ganham sua grana (em US$, é claro) e naturalmente se mandam.


Dez entre dez políticos brasileiros candidatos às próximas eleições já estão encomendando às suas agências e “marqueteiros” (como detesto esse selo!) campanhas “tipo a do Obama”. É isso que, humildemente, gostaria de trazer à discussão, o exagero de se copiar tudo o que se fez lá e trazer para cá.

Defendo obsessivamente é o pensamento estratégico que deve reger campanhas. Além e acima do uso de ferramentas, porque os meios digitais estão na moda, mas os “analógicos” ainda existem e resistem, sendo imprescindíveis para um país plural e continental como o nosso.

A franca opção da equipe de Obama para concentrar seu esforço privilegiando a internet deu-se por uma única e exclusiva razão: falta de recursos.

Tanto assim que, quando eles rechearam seu caixa (captado principalmente via internet, e nesse capítulo eles verdadeiramente brilharam), foram às compras arrematando muito espaço nas “velhas” mídias. É.

Quando o dinheiro deu, ele foi lá para a TV, jornais, usou outros meios, ficou multimídia.

E fez certo.

O fascínio da internet é a possibilidade de fazer a interlocução direta com o eleitor, estabelecendo uma via de mão dupla. O grande saque da equipe de Obama foi traduzir isso na prática. Foram recrutados profissionais geniais, como Chris Hughes, um dos fundadores do Facebook, buscando comunicarse com os distintos grupos sociais de forma segmentada e customizada.

Tornaram-se pioneiros na utilização inteligente das chamadas novas redes sociais, como o Twitter.

A ação estratégica via WEB tinha como objetivo abordar e conquistar os segmentos e, a partir daí, fazê-los ativos na campanha, cada qual a disseminando do seu jeito. Criou-se assim um poderoso exército de militantes on-line, que seguiam o candidato, protegiamno, praticavam eles mesmos o mais autêntico bateu-levou, o que de certa forma evitou que Obama tivesse que ser mais ácido em seus discursos nos momentos dos ataques mais corrosivos.

Ele só coroava e pontificava com sua emocionante oratória.

O resto se sabe, e não vou me perder listando o quanto eles acertaram via internet.

Lembro-me de um depoimento de uma militante fisgada numa destas novas redes sociais. “Fui arrebatada; a mensagem dele parecia feita diretamente pra mim. Então, não consegui mais parar de trabalhar para ajudá-lo.” Sustento, apenas imitar o Obama não garante êxito a ninguém. Aqui é o Brasil e, embora sejamos impressionantes no uso da WEB, há ainda um formidável contingente de eleitores que ainda não tem acesso a esse meio. Ademais, de Obama para cá muita coisa mudou, a própria internet agregou uma boa quantidade de novas ferramentas. Fazer uma campanha apenas plasmada na dele já ficou ultrapassado.

Cada eleição é uma história, estamos cansados de saber. As pesquisas, sobretudo as qualitativas, são imprescindíveis e reveladoras do comportamento das pessoas e conhecimento da atitude de voto para as próximas eleições. Isso sim deve guiar as campanhas e os profissionais de comunicação.

A construção de uma boa estratégia, um sedutor conceito e sua aplicação a todas as plataformas de mídia, continua sendo a maneira mais eficiente de ganhar o clique final na confirmação do voto e a vitória nas eleições.

DORA KRAMER

Guardas da esquina

O ESTADO DE SÃO PAULO - 10/09/09

A impressão dá é que o Legislativo quer coibir de algum modo o uso da internet durante períodos pré-eleitorais, mas não sabe direito como nem por quê. A Câmara pelo menos foi clara: propôs a imposição da censura à internet em períodos pré-eleitorais e ponto final. Quem não gostou gostasse. Ou, então, recorra ao Supremo Tribunal Federal para restabelecer os ditames da Constituição no que tange a garantia legal à liberdade de expressão.
Já o Senado percebeu o absurdo da coisa, afrouxou um pouco, “deixou” livres as manifestações em blogs de pessoas físicas e redes sociais, como twitter, Orkut e YouTube, mas, até o início da noite de ontem quando começaram a discutir o assunto em plenário, estava de pé a ideia de proibir. Gratuita, como se percebe pelo conteúdo da proposta que, se aprovada ontem, voltaria para nova votação na Câmara.
Os senadores ficaram perdidos na discussão. Foram e vieram ao sabor de críticas e pressões. Primeiro, haviam decidido acabar com a restrição a opiniões e debates, tal como ocorre (de maneira absurda) no rádio e na televisão. Depois, ensaiaram um recuo por conta da posição dos deputados, que querem a manutenção do texto original, e ontem já não se sabia mais o que, afinal, queriam os senadores.
A prova esteve na quantidade de dúvidas que os parlamentares levantaram a respeito da matéria no início da sessão, vários deles proporcionando a grata surpresa de contestar as restrições propostas pelo relator Eduardo Azeredo.
Ele alega que não se trata de censura. Quer apenas “organizar” as coisas a fim de “assegurar o equilíbrio” de tratamento para todos os candidatos. Evidentemente, não convence. Inclusive porque a emenda ao projeto da Câmara garante a “livre manifestação de pensamento” em blogs e redes sociais. Em português claro isso significa admitir que em outras formas de comunicação na internet essa mesma liberdade é subtraída.
O objetivo subjacente a todo palavrório é não abrir brecha que possa dar margem ao questionamento das regras restritivas à manifestação de opiniões no rádio e na televisão. A ideia por trás do argumento racional do “equilíbrio” é a concepção do guarda da esquina, cujo maior tesouro é sua autoridade. Por mais diminuta que seja.
O texto proposto à discussão do Senado é confuso e contraditório Proíbe os sites noticiosos mantidos por empresas de comunicação de “dar tratamento privilegiado a candidato, partido ou coligação, sem motivo jornalístico que justifique”.
O que seria “motivo jornalístico” justificável? Suas excelências não especificam. Nem lhes caberia especificar, uma vez que as razões jornalísticas de veículos de comunicação são da alçada das empresas, não do Parlamento. A menos que os senadores pretendam legislar sobre critérios para a publicação de notícias, artigos e reportagens.
O texto, vago, tanto se presta a julgamentos restritivos quanto à mais absoluta inutilidade. Segue a proposta, proibindo a divulgação de pesquisas eleitorais com “manipulação de dados”, ainda que sob forma de entrevista jornalística.
Desconhece-se se em algum outro tipo de veículo seja permitida a manipulação de dados. Mesmo que a intenção do legislador tenha sido a de inovar, ficou faltando detalhar quais seriam os indícios de manipulação, acompanhados da definição exata do termo no que tange à cobertura jornalística das campanhas eleitorais.
Aqui também a proposta foi redigida de forma genérica, dando margem a questionamentos de resultados que podem ser até mais restritivos que o agora pretendido. Qualquer um poderá se considerar prejudicado por qualquer motivo.
A situação mantida como está, regulada pelo direito de resposta assegurado em lei às vítimas de calúnias, economizaria tempo, energia e muita tolice. Depois de levar merecida surra de críticas pela condução errática no episódio das acusações contra o presidente do Senado, José Sarney, o líder do PT, Aloizio Mercadante, é um sério candidato à remissão.
O único a se posicionar de forma precisa e sem rodeios, propõe a retirada dessa burlesca tentativa de controle, com um argumento meridiano: “O homem público que teme sofrer crítica na internet é como o guarda noturno que teme trabalhar de noite. Tem que mudar de profissão.” Faltou incluir os que repudiam a crítica ao ponto de dispensar a leitura dos jornais a fim de evitar sofrer de azia.

ALGO SE MOVE
Aécio Neves já não repudia com ênfase a hipótese da composição de uma chapa “puro-sangue” com José Serra e passou a admitir a escolha do candidato do PSDB a presidente por exame das pesquisas e não mais por meio de prévias.
Em compensação, quer que sejam levados em conta outros aspectos além dos índices de intenção de votos: baixa rejeição, capacidade de agregar e potencial de crescimento. Ou seja, o mineiro anda. Mas vai devagar.

GOSTOSA


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TODA MÍDIA

Culpa da natureza

NELSON DE SÁ

FOLHA DE SÃO PAULO - 10/09/09

Por internet e televisão, manchetes para Santa Catarina e Osasco, não mais São Paulo. Mas o governador apareceu, falou à Folha Online e foi parar no alto do UOL, com o enunciado "Para Serra, enchente em SP é culpa da natureza". Mais precisamente, "é culpa da natureza que se rebela, temos que rezar para que não se repita". Defendeu a ampliação da marginal Tietê, dizendo que "todas as árvores que foram retiradas dali foram plantadas em outro lugar".
Na Folha Online, Gilberto Dimenstein postou "O maior erro de José Serra", dizendo que "o caos em que se transformou a cidade ajudou a mostrar o maior erro de toda a gestão Serra: torrar milhões para ampliar a marginal, obra absolutamente estúpida e, suspeito, com fundo eleitoral da pior espécie".


EUA VS. LULA
BrasiliaEMBEUA@state.gov

O e-mail chegou ao meio-dia, com o selo acima para download, e a "Declaração da Embaixada dos EUA sobre a concorrência do FX-2". Nos enunciados on-line, pouco depois, "EUA rebatem Lula e dizem concordar com a transferência de tecnologia na venda de caças".
Mais algum tempo e Lula brincou, "ao ser questionado sobre a oferta". Na chamada "+ lida" da Folha Online, no meio da tarde, "Lula ironiza a disputa entre EUA e França e diz que país receberá caças de graça".


LULA RECUA
De Fátima Bernardes, entrando no intervalo, "O presidente da Câmara, Michel Temer, anunciou agora há pouco que o presidente Lula vai retirar o pedido de urgência dos projetos do pré-sal", porque "foi feito um acordo com os partidos de oposição para que sejam votados em plenário a partir de 10 de novembro". Na manchete do G1, "Lula aceitou retirar urgência".
Na chamada da Folha Online, "Lula recua", depois do "compromisso firmado de colocar a matéria em votação no dia 10 de novembro".

"FT" FESTEJA
Após dias de ataque ao marco do pré-sal, o "Financial Times" saudou no alto da home, "Descoberta do Brasil pode ter dois bilhões de barris". O poço de Guará, com participação da britânica BG, teria "o dobro" da descoberta da britânica BP, no Golfo do México. O britânico "FT" brincou em coluna com a disputa, vantajosa para ambas.
Ao fundo, o presidente da Petrobras detalhou ao "Wall Street Journal" o marco, anunciando avaliadores "reconhecidos" para os direitos sobre a produção.


MAIS FRANÇA
Para além da cobertura do acordo militar, o francês "Le Monde" noticiou ontem que, "Diante de um mercado europeu saturado, a Vivendi vai buscar seu crescimento no Brasil". Foi destaque do Valor Online ao site Teletime, com a oferta de compra da GVT que, no valor de R$ 5,4 bilhões, "poderia mudar o setor de telecomunicações no Brasil" -segundo o "WSJ", que chamou na home. No título da análise do Merril Lynch, "Quem iria imaginar?". Segundo o site Tele.Síntese, "analistas aguardam resposta da Telefônica", agora.


"QUEM VENCEU?"
Doug Mills/nytimes.com
Obama diante da imagem do âncora da CBS, ontem
Barack Obama discursou na cerimônia em memória de Walter Cronkite, ontem em destaque por "NYT" e outros. Criticou que muito do que passa por jornalismo, hoje em dia, é "opinião instantânea, fofoca sobre celebridades e as histórias leves que Walter desdenhava, em vez da notícia e do jornalismo investigativo que defendia". Muitas vezes na mídia, prosseguiu o presidente americano, "O que aconteceu hoje?" é substituído por "Quem venceu hoje?". Lamentou "o momento difícil para o jornalismo", com "redações fechando" e baixos padrões.

HORA DE VOTAR
Com o discurso de ontem no Congresso e pela TV, Obama procurou encerrar o debate da reforma na saúde -enquanto, nas manchetes on-line nos EUA, a liderança democrata anunciava a votação, com ou sem republicanos, pois "chegou a hora".

"TESTE MIDIÁTICO"
Já o site Politico destacou que chegou "a hora da verdade" para a capacidade midiática de Obama, com as lideranças partidárias e parlamentares em declínio e a ascensão da opinião via internet, rádio e canais de notícias, que comandou o debate.


"IGUAIS", NÃO
O dia foi de pressão, em portais como G1, contra restrições à cobertura na internet, na reforma eleitoral votada no Senado. Mas o destaque no fim do dia, do Congresso em Foco ao "Jornal Nacional", foi que o Estatuto da Igualdade Racial passou na Câmara sem a expressão "iguais", no artigo sobre empregos em publicidade e TV. Sem "pontos polêmicos", no dizer da Globo.

SAMUEL PESSOA

Pré-sal, mudar para quê?


O Estado de S. Paulo - 10/09/2009

Desde a descoberta das reservas petrolíferas nos campos da Bacia de Santos na camada pré-sal, o governo sinaliza que alterará o marco regulatório do setor. Alega que o grande volume dessas reservas reduziu o risco exploratório e criou, portanto, uma nova situação, que requer alteração no marco institucional criado pela Lei nº 9.478, de 1997.

A discussão suscita duas questões de naturezas totalmente distintas. Primeiro, o governo avalia que a forma contratual entre a empresa que explora a reserva e a União tem de ser alterada. Ele considera a forma de partilha a mais adequada, em oposição à concessão. Segundo, o governo julga que a forma de repartição da renda pública gerada pela exploração deva ser repactuada. As rendas cresceram em demasia e não é justo que poucos entes federativos abocanhem parcelas tão expressivas. A repactuação federativa da renda petrolífera constitui questão distributiva. No momento oportuno o Congresso se pronunciará. E não há vínculo entre a forma contratual que a União celebrará com as empresas petrolíferas e a distribuição federativa da renda gerada.

Por sua vez, a forma de contratação mais adequada aos interesses nacionais suscita três outras questões: 1) se a propriedade das reservas é transferida à empresa privada - pelo tempo de vigência da concessão e segundo as condições contratuais - ou se essa propriedade continua da União; 2) qual será o mecanismo utilizado para remunerar o Estado e qual será o valor da remuneração; e 3) o grau de controle que o Estado terá do ritmo de exploração com o objetivo de resguardar a melhor estratégia de lavra do ponto de vista do interesse coletivo.

No marco institucional vigente há a transferência à empresa concessionária da propriedade sobre as reservas. Essa transferência não me parece perigosa. Por um lado, é muito simples o governo controlar a quantidade produzida. Por outro, os preços dos recursos extraídos são de conhecimento público. A conversão das unidades físicas produzidas em receita depende de uma simples conta de multiplicação das quantidades pela cotação. É simples o Estado determinar o valor da renda que lhe cabe.

No que se refere às diversas formas de remuneração do setor público, o marco vigente no Brasil é bem flexível. A Lei nº 9.478 estabelece três: o bônus que é pago no momento da assinatura do contrato de concessão, o royalty que é calculado sobre o faturamento da atividade e a participação especial que é calculada sobre a receita líquida. A única rigidez da lei atual é a obrigatoriedade do pagamento de royalty. Por isso não é possível um contrato puro de partilha.

Se o óbice que o governo tem com relação ao atual marco institucional é este, basta uma emenda que desobrigue esse pagamento na lavra na camada pré-sal.

Tem sido corrente a alegação de representantes do governo de que a forma contratual precisa ser alterada por causa da necessidade de garantir que o Estado se aproprie de uma maior parcela das receitas. Ora, a participação especial pode ser calibrada para atingir essa meta. A nova realidade do pré-sal pode ser acomodada com uma simples alteração do Decreto presidencial 2.705, de 3/8/1998, que estabelece os termos da participação especial.

Finalmente, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) está dotada de instrumentos para garantir que o ritmo de exploração do pré-sal atenda ao interesse público. Além de controlar a velocidade de concessão de blocos nos leilões, cabe à ANP verificar se as empresas estão observando as melhores práticas da indústria, que garantem as melhores taxas de aproveitamento das reservas.

A diferença essencial entre o contrato de partilha de produção e o de concessão, como praticado no Brasil, é que na partilha o Estado é proprietário de parcela da produção física de óleo ou gás, enquanto no contrato de concessão o Estado tem direito a parcela da renda gerada. A propriedade do petróleo permite que o Estado se lance na atividade de comercialização do óleo. Discordo que essa deva ser uma atividade pública.

O marco institucional vigente capacita a ANP de amplos instrumentos regulatórios para que a agência possa defender o interesse público. Não parece haver vantagens na alteração regulatória do setor. A afirmação de que a descoberta de expressivas reservas nos campos petrolíferos da camada de pré-sal justifica essa alteração é um claro non sectur.

É preciso que o governo demonstre à sociedade que o marco vigente não é aparelhado para regular elevados volumes de produção. Isso ainda não ocorreu.

COMENDO CAÇA

CARLOS HEITOR CONY

O ovo na galinha


Folha de S. Paulo - 10/09/2009

Num romance que teve sua época, Vicente Blasco Ibañez desenvolveu um raciocínio sobre os gastos militares num país mais ou menos como o Brasil: forte, poderoso em certo sentido, mas sem capacidade militar para um conflito com potência superior.
Em "A Catedral", diz ele a propósito das verbas e equipamentos da Espanha no tempo em que se passa a história: "Para tempos de paz, o dinheiro é muito. Para tempos de guerra, é pouco".
Bem, há a questão da soberania nacional, que cada país cultiva a seu modo. "Se ergues da justiça a clava forte, verás que um filho teu não foge à luta nem teme quem te adora a própria morte". É isso aí. Os poloneses defenderam-se dos tanques alemães com a cavalaria: a guerra durou menos de um mês. Mas os patriotas cumpriram sua missão de defender a pátria.
O Brasil está comprando aviões e submarinos, uma fatura astronômica, que, parece, será paga com o petróleo do pré-sal. Para funções de polícia, os aviões são muitos. Para o caso de uma guerra com um rival, são poucos.
Esse é o drama da maioria das nações. É bem verdade que uma guerra nem sempre se decide com a quantidade e eficiência do armamento, mas com a garra de quem se defende: o Vietnã foi prova disso.
O lado positivo da recente compra é a tecnologia, que, mais cedo ou mais tarde, transcende dos equipamentos militares. Além de reaparelhar Marinha e Aeronáutica -motivo de eterna queixa dos militares-, que ainda utilizam sobras da última guerra mundial.
Parece que Lula tomou a decisão da compra sem ouvir o lado técnico da FAB -o que seria um erro. Fez média com a França e em especial fez média com Sarkozy -de quem se tornou amigo de infância. Quanto ao pré-sal, ainda é um ovo a espera da galinha a cacarejar, anunciando um novo produto.

PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.

O Brasil brilhou


Folha de S. Paulo - 10/09/2009

Confesso que fiquei orgulhoso, até emocionado, com o desempenho do país na reunião dos Brics em Londres


LEITOR, LEITORA , hoje não sei realmente por onde começar.
Normalmente, gosto de separar material, estatísticas, estruturar o artigo etc. Hoje, não dá tempo para nada disso. O horário-limite da
Folha se aproxima -é sentar na frente do computador e escrever. Isso a título de desculpa. Bem.
Retomo o assunto da semana passada. Como previ no artigo da última quinta, para nós o aspecto mais importante das reuniões do G20 em Londres acabou sendo mesmo o encontro dos Brics (Brasil, Rússia, Índia e China) na sexta-feira. A reunião de sábado, dos ministros de Finanças e de presidentes de BCs do G20, terminou em 0 a 0.
Dentro da rotação estabelecida entre os quatro países, cabia ao Brasil presidir a reunião dos Brics. Posso ser franco? O Brasil brilhou.
Tudo funcionou dentro do planejado. Desde a preparação do comunicado, passando pela cuidadosa negociação do texto entre as quatro delegações, por toda a logística e infraestrutura do encontro a cargo da nossa embaixada em Londres, até a condução das discussões pelo ministro da Fazenda do Brasil, terminando na coletiva de imprensa da qual participaram os quatro ministros -tudo saiu muito bem.
Como foi noticiado, o secretário do Tesouro dos EUA pediu para comparecer à parte final da reunião -um reconhecimento da importância crescente que vêm adquirindo os Brics. O diálogo com o representante americano foi conduzido com grande habilidade pelos quatro países, em especial pelo Brasil, que comandava o encontro.
O leitor sabe que o brasileiro, apesar de tudo, é um pobre e humilde ser. O complexo de vira-lata -não adianta negar- está sempre à nossa espreita. Assim sendo, confesso lisamente: fiquei orgulhoso.
Posso confessar que fiquei até emocionado? Pois fiquei. Pode ter sido -quem sabe?- apenas um efeito do esgotamento decorrente do excesso de trabalho e viagens.
Em todo caso, saí da reunião dos Brics com a esperança de que se consiga fazer progresso na reunião dos líderes do G20 em Pittsburgh, nos próximos dias 24 e 25 -em especial no que diz respeito à reforma do FMI que é, como expliquei no artigo da semana passada, uma das prioridades (talvez a prioridade) do Brasil para Pittsburgh.
Paro e releio o que escrevi. Não quero cortar nada, mas devo fazer algumas ressalvas. Primeiro, vale lembrar a advertência de Chamfort, filósofo francês do século 18: "A esperança não passa de um charlatão que não para de nos enganar; para mim, a felicidade só teve início quando a abandonei". E acrescentou: "De bom grado, colocaria na porta do Paraíso as palavras que Dante colocou na do Inferno: "Lasciate ogni speranza, voi ch'entrate" (abandonai toda esperança, vós que entrais)". Temos uma árdua escalada pela frente. A resistência da Europa será um obstáculo difícil de transpor. A coordenação com Rússia, Índia, China e outros países em desenvolvimento é uma batalha quase diária. Com os EUA e outros países desenvolvidos temos interesses comuns em matéria de G20 e FMI, mas será preciso usar todos os nossos recursos de persuasão e argumentação.
Quem quiser ter uma ideia mais precisa dos objetivos que buscaremos em Pittsburgh pode consultar o comunicado dos Brics, cuja íntegra está em
www.fazenda.gov.br. Demorei a encontrar um título para o artigo. Espero que a escolha não pareça ufanista. De todo modo, o que importa mesmo é saber se conseguiremos sustentar a performance nas próximas semanas.

GOSTOSA


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BRASÍLIA - DF

Precisa-se de ministro


Correio Braziliense - 10/09/2009


Passou a hora de o governo substituir o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro (PTB-PE), que é candidato a uma vaga no Tribunal de Contas da União (TCU). O responsável pela coordenação da base do governo no Congresso já foi abduzido pelo órgão e não entra em bola dividida, seja para não contrariar os aliados, seja para não criar arestas com o núcleo duro do Palácio do Planalto. Resultado: o governo passou a ter uma atuação errática no Congresso.


O vai e vem no pedido de urgência para votação dos quatro projetos do pré-sal, cujo desfecho foi um segundo passo atrás do presidente Luiz Inácio Lula da Silva — o primeiro foi restabelecer a participação especial dos estados na partilha dos royalties —, convenceu o Palácio do Planalto de que é preciso encontrar logo um substituto para Múcio. O subchefe dos Assuntos Federativos, Alexandre Padilha, andou cotado para o seu lugar, mas não tem cancha no Congresso. A estrela que sobe é a do líder do PT, Cândido Vaccarezza (SP), que foge da tarefa porque é candidato à reeleição.

Recuou// Temendo um cisma com os professores da rede estadual, que prometiam transformar todas as cerimônias oficiais num ato de protesto, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), voltou atrás na proposta de reduzir os aumentos dos quinquênios do magistério de 12% para 7%. Fica como está.

Talião



Aprovado na Câmara, o tratado com a Santa Sé pode empacar no Senado. Ressabiados com a campanha da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) contra candidaturas de políticos de ficha suja, senadores que se consideram atingidos querem dar o troco na CNBB. Pra complicar, o senador Marcelo Crivella (foto),
do PRB-RJ, da Igreja Universal, quer isonomia para as instituições evangélicas.

Setentrional


O Supremo Tribunal Federal tem três ministros paulistas: o decano Celso de Mello, Cezar Peluso e Ricardo Lewandowski; dois cariocas: Marco Aurélio e Ellen Gracie; dois mineiros: Joaquim Barbosa e Cármen Lúcia; um gaúcho: Eros Grau; um matogrossense: Gilmar Mendes e um sergipano, Carlos Ayres Britto. Não será surpresa se a vaga aberta com a morte do ministro Carlos Alberto Direito for preenchida por Lula com a indicação de um jurista do Norte ou Nordeste.

Capoeira

Presidente da Comissão de Segurança Pública da Câmara, Marina Maggessi (PPS-RJ) acompanhará de perto os episódios de violência na Bahia. Com um grupo de parlamentares, a investigadora carioca se deslocará até Salvador, onde dezenas de postos policiais, carros oficiais, ônibus e prédios públicos foram queimados por traficantes cujo chefe foi transferido para Campo Grande.

Rua



O deputado federal Geraldo Pudim (PMDB-RJ) e a vereadora Clarissa Garotinho, líder do PMDB na Câmara do Rio, foram gentilmente convidados a deixar a legenda pela porta da frente pelo presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, Jorge Picciani, que comanda o PMDB fluminense. Os dois descem o sarrafo em Cabral e apoiam a candidatura do ex-governador Anthony Garotinho (foto), que trocou a legenda pelo PR.


Susto/ Quem acompanhou o anúncio da intenção de compra dos caças Rafale, no Palácio Alvorada, notou o espanto do comandante da Aeronáutica, Juniti Saito. Ele não havia sido avisado do acerto entre o presidente Lula e o presidente francês, Nicolas Sarkozy.

Calhamaço/ Tem cerca de 900 páginas o relatório da Força Aérea Brasileira do programa FX-2, que lista prós e contras dos derrotados F-18 Super Hornet e Gripen NG e o vitorioso Rafale F3. O comando da Aeronáutica agora teme ter de jogar o material no lixo.

Teco-teco/ Na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara, o assunto foi os jatos franceses Rafale. Francófilo, Raul Jungman (PPS-PE) defendeu a tese de que o assunto é de alçada do Executivo. “Não sei nem distinguir um teco-teco de um jato”, brincou. Levou a invertida da deputada Maria Lúcia Cardoso (PMDB-MG): “Não temos participação na compra, mas temos o dever de fiscalizar”.

No/ O ex advogado-geral do Senado Alberto Cascais, exonerado por elaborar um parecer que legitimava casos de nepotismo na Casa, pediu licença para passar três meses no Canadá estudando inglês. O pedido, porém, foi negado pela direção da Casa por motivo de contenção de gastos.