quinta-feira, setembro 10, 2009

CLÓVIS ROSSI

São Paulo e a maldição

FOLHA DE SÃO PAULO - 10/09/09



SÃO PAULO - Carlos Eduardo Lins da Silva, o ombudsman desta Folha, é uma pessoa a quem nós, os pré-antigos, trataríamos como "cavalheiro de fino trato", elegante até na linguagem.
Por isso, quando ele, na crítica interna do jornal, chamou São Paulo de "cidade maldita", pensei baixinho: "a coisa está muito feia" Outra demonstração da "feiura" veio no texto de Rodrigo Fiume, editor-assistente de Cotidiano, que lamentava profundamente ter saído de carro apesar da chuva que caiu anteontem e pedia ao prefeito Gilberto Kassab que fizesse "algo nesta cidade maluca".
"Maldita", "maluca". Pobre São Paulo, a São Paulo que já foi "a cidade que não pode parar". Lamento desapontá-los, Carlos Eduardo e Rodrigo Fiume, mas sou mais antigo na arte de reconhecer as maldições e maluquices de São Paulo. Exemplo: em 1996, Duda Mendonça, marqueteiro então a serviço do malufismo, enchera a cidade de outdoors dizendo: "Não deixe São Paulo parar".
Parado, completamente parado, nos congestionamentos diários da avenida 23 de Maio, olhava o slogan do grande marqueteiro e pensava: "Como São Paulo já parou, essa é a típica propaganda enganosa".
O problema de São Paulo não é o de parar por causa de uma chuva excepcional como anteontem (parou ontem de novo, pelo menos de manhã, sem chuva extraordinária).
O problema de São Paulo é que parou faz tempo. Antes, o nível de congestionamento que autorizava voltar para casa era inferior a 100 quilômetros. Foi subindo, subindo, e hoje já está em 200, pouco mais, pouco menos.
Está próximo o momento (maldito) em que nem sair do trabalho os paulistanos sairão. Porque não conseguirão chegar.
E nos acostumaremos bovinamente, como ocorreu quando caíram sobre a cidade -e sobre nós- todas as "maldições" anteriores.

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