FOLHA DE SP - 23/07
A lista de negações dela é bem maior e mais grave do que a dele, como o consequente desastre
A negação é mecanismo de defesa essencial para que não enlouqueçamos (a morte só deve ser lembrada às vezes). Porém, como qualquer remédio, seu excesso é um veneno capaz de levar-nos ao desastre, ou à morte (quando se negam sintomas de uma doença e as providências não são tomadas).
O Professor acha que a seleção fez um bom trabalho, exceto nos seis minutos de apagão. Pensa que um passado de glórias põe a mão na Copa, junto a palestras motivacionais, dispensados a disciplina e o dever de casa. Some-se arrogância e não reconhecimento de erros, e terminamos nos 7x1 (e nos 3x0, em que não houve apagão).
Madame é semelhante, porém a coisa é mais séria, sua lista de negações é bem maior e mais grave, como o consequente desastre.
A saber: ela, seu Inventor e seu partido negam o passado, o Brasil começou em 2003. Antes havia a herança maldita. Palocci, com seus "métodos rudimentares", quase foi crucificado por elogiar Pedro Malan.
Cesare Batisti não é terrorista e merece asilo político. Pugilistas cubanos não queriam asilo, por isso foram rapidamente reenviados para Cuba.
Qual o problema de mudar a língua portuguesa? E não é para fins populistas que ela é presidente, gerente e pretendente à reeleição. O mensalão (que não houve) não foi substituído por loteamento de ministérios, em número "nunca antes neste país". Aparelhamento do estado? Substituição de cargos técnicos por políticos cúmplices? Nunca! Redução populista da taxa de energia elétrica empurrando a conta para 2015? Absurdo! Gastos máximos com a máquina e investimentos mínimos? Jamais! Controle da imprensa? Como? Madame tem reiterado a importância da mídia livre. O decreto de criação dos sovietes (perdão, em português é "Conselhos populares") não é golpe na democracia, ao contrário. Pegou em armas, não para implantar a ditadura do proletariado, mas "para defender a democracia".
Não tem inflação represada por preço artificialmente controlado, nem contabilidade criativa. Madame não dá moleza para a inflação. Não há insegurança jurídica e o país continua atraindo investimentos. Não, a balança comercial negativa não é pela importação de combustível caro para ser vendido barato, é pelas "zelite branca que viaja", por isso, imposto neles. E não se privatiza nada, fazem-se "concessões".
Tudo o que o ministro capacho diz tem credibilidade junto ao mercado, ele não insulta a inteligência de ninguém. Fazer um porto em Cuba é muito bom para o Brasil. Os caríssimos estádios de Manaus e Cuiabá não se tornarão elefantes brancos. O caos de transporte urbano durante a Copa não foi evitado pelos feriados que derrubaram o comércio. E qual o problema de Abreu e Lima custar 15 Pasadenas? São ambas bons negócios.
Dividir o país e estimular a luta entre elites brancas e povo pobre? Jamais! Isso seria atiçar ódio racial, e racismo é crime hediondo, ela governa para todos.
Pelo menos o trem-bala TAMBÉM não foi feito. É, entre tantas, sua maior não obra.
Depois disso tudo, o leitor pode tirar suas próprias conclusões sobre como votar.
quarta-feira, julho 23, 2014
Uma vida melhor que a encomenda - MARTHA MEDEIROS
ZERO HORA - 23/07
Que dias! Quantas baixas na nossa literatura. Lamentei a morte de João Ubaldo, pois sempre dói a partida de quem ainda tinha muito a contribuir (a morte de um grande escritor é sua obra inacabada), e estou compadecida com a fragilidade da situação do espetacular Ariano Suassuna (em coma até o momento em que escrevo), porém usarei esta coluna para falar de uma ausência que me tocou mais profundamente: a do mineiro Rubem Alves, por quem eu tinha enorme afeição não só pelo que escrevia, mas pelo seu jeito terno, sua desafetação, sua raridade como ser humano. Quanto mais se grita e esperneia por aí, mais atenção eu dou aos singulares que brilham em voz baixa.
Domingo passado, comentei sobre o documentário Eu Maior, em que Rubem Alves também participou com seu testemunho. Entre outras coisas, ele contou que certa vez um garoto se aproximou dele para perguntar como havia planejado sua vida para chegar onde chegou, qual foi a fórmula do sucesso. Rubem Alves respondeu que chegou onde chegou porque tudo que havia planejado deu errado.
Planejar serve para colocar a pessoa em movimento. Se não houver um objetivo, um desejo qualquer, ela acabará esperando sentada que alguma grande oportunidade caia do céu, possivelmente por merecimento cósmico.
É preciso querer alguma coisa – já alcançar é facultativo, explico por quê.
Uma vez determinado o rumo a seguir, entra a melhor parte: abrir-se para os acidentes de percurso. Você que sonha em ser um Rubem Alves, é possível que já tenha começado a escrever num blog (parabéns, pôs-se em ação). No entanto, esses escritos podem conduzi-lo a um caminho que não estava nos planos. Dependendo do conteúdo, seus posts podem levá-lo a um convite para lecionar no Interior, a ser sócio de um bar, a estagiar com um tio engenheiro, a fazer doce pra fora, a pegar a estrada com um amigo e acabar na Costa Rica, onde conhecerá a mulher da sua vida e com ela abrirá uma pousada, transformando-se num empresário do ramo da hotelaria.
Não é assim que as coisas acontecem, emendando uma circunstância na outra?
A vida está repleta de exemplos de arquiteta que virou estilista, enfermeiro que virou pastor evangélico, estudante de Letras que virou maquiadora, publicitário que virou chef de cozinha, professor que virou dono de pet shop, economista que virou fotógrafo. Tem até gente que almejava ser economista, virou economista, fez uma bela carreira como economista e morreu economista. A vida é surpreendente.
Ariano Suassuna largou a advocacia aos 27 anos, João Ubaldo também se formou em Direito, mas nem chegou a exercer o ofício, e Rubem Alves teve até restaurante. Tudo que dá errado pode dar muito certo. A vida joga os dados, dá as cartas, gira a roleta: a nós, cabe apenas continuar apostando.
Uns mais iguais do que outros - MARCELO DE PAIVA ABREU
O ESTADO DE S.PAULO - 23/07
A recente reunião do Brics realizada em Fortaleza mostrou que o bloco pode ir além das palavras, embora os resultados sejam bem mais modestos do que pretende o governo. Foram criados o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) e o Arranjo Contingente de Reservas (ACR). O banco, com capital de US$ 50 bilhões, financiará projetos de infraestrutura. O ACR, de US$ 100 bilhões, poderá ser usado pelos acionistas com saques baseados em diferentes múltiplos de seus aportes: US$ 41 bilhões para a China (limite de saque de 50%), US$ 5 bilhões para a África do Sul (200%) e US$ 18 bilhões para os demais (100%). Os saques estarão limitados a 30% do valor acordado, na dependência de acordo paralelo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). As limitadas possibilidades de saque só são relevantes no caso da África do Sul, cujas reservas internacionais são relativamente modestas.
A comparação de Fortaleza a Bretton Woods, quando foram criados o FMI e o Banco Mundial, é ridícula. Escala e abrangência são muito mais modestas. Tudo indica que o objetivo dos Brics seja explicitar sua insatisfação com a resposta dos países desenvolvidos à limitada redistribuição de poder no FMI. Mesmo a reforma já aprovada no âmbito do fundo está encalhada no Congresso norte-americano em meio ao tiroteio entre democratas e republicanos. Mas esse objetivo de sinalização dos Brics perde bastante eficácia com a restrição de saques do ACR dependendo em grande medida de programas com o próprio FMI.
Houve muita conversa sobre "poder igual" entre os acionistas do NBD, por causa da participação igual dos cinco países no seu capital. Mas a realidade é mais complicada. A dominância chinesa é clara e refletiu-se na escolha da sede em Xangai. A China é a maior economia entre os Brics e, de longe, o país com mais envolvimento comercial e financeiro com os outros integrantes do bloco. Para os russos foi importante mostrar que não estão isolados em meio à crise ucraniana, embora a queda do avião da Malaysia Airlines tenha cancelado boa parte desse efeito. A diplomacia indiana mais uma vez prevaleceu sobre a brasileira. Em 2008, em Genebra, a resistência protecionista indiana afundou um possível breakthrough na Rodada Doha relativo à agricultura no qual o Brasil tinha interesse. O Brasil teve agora de abrir mão de sua postulação à presidência do banco em benefício da Índia para evitar um impasse que impediria a boa foto de Dilma Rousseff no início da campanha eleitoral.
Mas, levando tudo em conta, diante dos inúmeros percalços diplomáticos brasileiros desde Lula, o resultado concreto de Fortaleza merece ser comemorado. Comedidamente.
Exatamente quando esse modesto sucesso foi alcançado, qualquer otimismo quanto aos rumos da política comercial foi posto em perspectiva pela aprovação pelo Senado, por iniciativa do governo, da prorrogação da Zona Franca de Manaus até 2073 (dez anos antes que expirasse o prazo) e da redução de pelo menos 70% do IPI sobre produtos de informática por 15 anos! Aécio Neves afirmou que há convergência clara entre governo e oposição sobre o assunto. Agripino Maia diz ter votado entusiasticamente a favor, pois a medida é importante para o Amazonas, o Brasil e o mundo. Nessa foto, ninguém saiu bem.
A sátira de George Orwell - "todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais do que outros" - pode ser aplicada tanto à distribuição de poder entre os países integrantes do Brics quanto à capacidade de extração de benesses públicas por diferentes segmentos da sociedade brasileira. A diferença entre as duas situações é que há relativamente pouco que se possa fazer no curto prazo para melhorar de forma significativa o poder de barganha do Brasil entre os Brics, porém abandonar as formas mais grotescas de protecionismo é algo que depende somente de nós. Mas é preciso botar as cabeças no lugar.
A recente reunião do Brics realizada em Fortaleza mostrou que o bloco pode ir além das palavras, embora os resultados sejam bem mais modestos do que pretende o governo. Foram criados o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) e o Arranjo Contingente de Reservas (ACR). O banco, com capital de US$ 50 bilhões, financiará projetos de infraestrutura. O ACR, de US$ 100 bilhões, poderá ser usado pelos acionistas com saques baseados em diferentes múltiplos de seus aportes: US$ 41 bilhões para a China (limite de saque de 50%), US$ 5 bilhões para a África do Sul (200%) e US$ 18 bilhões para os demais (100%). Os saques estarão limitados a 30% do valor acordado, na dependência de acordo paralelo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). As limitadas possibilidades de saque só são relevantes no caso da África do Sul, cujas reservas internacionais são relativamente modestas.
A comparação de Fortaleza a Bretton Woods, quando foram criados o FMI e o Banco Mundial, é ridícula. Escala e abrangência são muito mais modestas. Tudo indica que o objetivo dos Brics seja explicitar sua insatisfação com a resposta dos países desenvolvidos à limitada redistribuição de poder no FMI. Mesmo a reforma já aprovada no âmbito do fundo está encalhada no Congresso norte-americano em meio ao tiroteio entre democratas e republicanos. Mas esse objetivo de sinalização dos Brics perde bastante eficácia com a restrição de saques do ACR dependendo em grande medida de programas com o próprio FMI.
Houve muita conversa sobre "poder igual" entre os acionistas do NBD, por causa da participação igual dos cinco países no seu capital. Mas a realidade é mais complicada. A dominância chinesa é clara e refletiu-se na escolha da sede em Xangai. A China é a maior economia entre os Brics e, de longe, o país com mais envolvimento comercial e financeiro com os outros integrantes do bloco. Para os russos foi importante mostrar que não estão isolados em meio à crise ucraniana, embora a queda do avião da Malaysia Airlines tenha cancelado boa parte desse efeito. A diplomacia indiana mais uma vez prevaleceu sobre a brasileira. Em 2008, em Genebra, a resistência protecionista indiana afundou um possível breakthrough na Rodada Doha relativo à agricultura no qual o Brasil tinha interesse. O Brasil teve agora de abrir mão de sua postulação à presidência do banco em benefício da Índia para evitar um impasse que impediria a boa foto de Dilma Rousseff no início da campanha eleitoral.
Mas, levando tudo em conta, diante dos inúmeros percalços diplomáticos brasileiros desde Lula, o resultado concreto de Fortaleza merece ser comemorado. Comedidamente.
Exatamente quando esse modesto sucesso foi alcançado, qualquer otimismo quanto aos rumos da política comercial foi posto em perspectiva pela aprovação pelo Senado, por iniciativa do governo, da prorrogação da Zona Franca de Manaus até 2073 (dez anos antes que expirasse o prazo) e da redução de pelo menos 70% do IPI sobre produtos de informática por 15 anos! Aécio Neves afirmou que há convergência clara entre governo e oposição sobre o assunto. Agripino Maia diz ter votado entusiasticamente a favor, pois a medida é importante para o Amazonas, o Brasil e o mundo. Nessa foto, ninguém saiu bem.
A sátira de George Orwell - "todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais do que outros" - pode ser aplicada tanto à distribuição de poder entre os países integrantes do Brics quanto à capacidade de extração de benesses públicas por diferentes segmentos da sociedade brasileira. A diferença entre as duas situações é que há relativamente pouco que se possa fazer no curto prazo para melhorar de forma significativa o poder de barganha do Brasil entre os Brics, porém abandonar as formas mais grotescas de protecionismo é algo que depende somente de nós. Mas é preciso botar as cabeças no lugar.
Mea culpa, ainda que tardinho - VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 23/07
Gente do governo admite anonimamente erros na economia. Sinal de mudança ou de urna à vista?
POR TRÁS DOS PANOS, o governo diz a empresários e políticos aliados que reconhece erros de política econômica. É o relato extensivo de reportagem de ontem desta Folha e é o que tem pingado em entrevistas também anônimas de gente do governo para outros jornais.
"Errei, sim, manchei o meu nome", "devo, não nego", vou mudar, "não me deixem só" em palanques e sem dinheiro para a campanha, parecem dizer assessores de Dilma Rousseff.
Em certa medida, trata-se de um reconhecimento de que não colou a história de que o triste estado da economia foi resultado da crise mundial, do pessimismo doido de empresários ou de campanhas que contaminaram o humor da população ("guerra psicológica", disse a presidente).
Nos relatos desse mea culpa não há, porém, menção direta ao efeito da inflação sobre eleitores, empresas e negócios, erro que deriva do núcleo de um pensamento fundamentalmente equivocado sobre economia, o qual baseou todas as intervenções na economia que o governo admite agora erradas (tais como tabelamentos informais).
Não, não houve alta destrambelhada e crítica de preços, mas, dadas a situação da economia nos anos recentes e as novas expectativas da população, foi o bastante para desarranjar os negócios e pingar mais azedume no caldo de insatisfação evidente desde pelo menos meados do ano de 2013.
O governo em geral escarnecia de quem observava os problemas causados pela alta regular de preços, em torno de 6% ao ano, mesmo que o crítico não fosse um "economista neoliberal" ou tolice assim. Um "cidadão honesto e prestante", como dizia João Ubaldo Ribeiro, observaria no mínimo e de boa-fé que a inflação degradava, como de costume, a vida dos mais pobres e tirava mercado do produto nacional. Era uma crítica "nacional e popular", para dizê-lo de modo sarcástico, em tese dois temas de afeição do PT.
Note-se de passagem que jamais houve tal coisa como movimento articulado ou disseminado de alardes "catastrofistas" e "pessimistas", como até ontem dizia o governo.
Como se escrevia aqui em janeiro: "Nos três anos Dilma, os economistas em geral acreditavam que o país cresceria muito mais do que de fato cresceu, opinião otimista' que foi mantida mesmo passados dois terços de cada ano. A inflação do IPCA, a oficial', também seria menor, no cálculo dos economistas do Focus, economistas do mercado'".
Durante a onda de piadas amargas de abril de 2014 sobre a "inflação do tomate", metáfora para uma inflação de alimentos então muito alta, o governo acusava os críticos de terrorismo. O governo subestimava o efeito do preço da comida na vida do cidadão. Pode perceber o tamanho desse erro na inflação de mau humor que viria a seguir.
As pessoas sabem cuidar de suas vidas, na média, e entendem de economia na carne. Pesquisas mostram a insegurança causada pela carestia, do mesmo modo que mostram relativa tranquilidade a respeito de desemprego, de fato baixíssimo.
A inflação tende a cair um tico. Isto é, a variação de preços será um tico menor. Mas mudou para cima o nível de preços de coisas básicas como comida, que agora levam um naco maior dos salários. A vida piorou. Ficou na memória do bolso.
Gente do governo admite anonimamente erros na economia. Sinal de mudança ou de urna à vista?
POR TRÁS DOS PANOS, o governo diz a empresários e políticos aliados que reconhece erros de política econômica. É o relato extensivo de reportagem de ontem desta Folha e é o que tem pingado em entrevistas também anônimas de gente do governo para outros jornais.
"Errei, sim, manchei o meu nome", "devo, não nego", vou mudar, "não me deixem só" em palanques e sem dinheiro para a campanha, parecem dizer assessores de Dilma Rousseff.
Em certa medida, trata-se de um reconhecimento de que não colou a história de que o triste estado da economia foi resultado da crise mundial, do pessimismo doido de empresários ou de campanhas que contaminaram o humor da população ("guerra psicológica", disse a presidente).
Nos relatos desse mea culpa não há, porém, menção direta ao efeito da inflação sobre eleitores, empresas e negócios, erro que deriva do núcleo de um pensamento fundamentalmente equivocado sobre economia, o qual baseou todas as intervenções na economia que o governo admite agora erradas (tais como tabelamentos informais).
Não, não houve alta destrambelhada e crítica de preços, mas, dadas a situação da economia nos anos recentes e as novas expectativas da população, foi o bastante para desarranjar os negócios e pingar mais azedume no caldo de insatisfação evidente desde pelo menos meados do ano de 2013.
O governo em geral escarnecia de quem observava os problemas causados pela alta regular de preços, em torno de 6% ao ano, mesmo que o crítico não fosse um "economista neoliberal" ou tolice assim. Um "cidadão honesto e prestante", como dizia João Ubaldo Ribeiro, observaria no mínimo e de boa-fé que a inflação degradava, como de costume, a vida dos mais pobres e tirava mercado do produto nacional. Era uma crítica "nacional e popular", para dizê-lo de modo sarcástico, em tese dois temas de afeição do PT.
Note-se de passagem que jamais houve tal coisa como movimento articulado ou disseminado de alardes "catastrofistas" e "pessimistas", como até ontem dizia o governo.
Como se escrevia aqui em janeiro: "Nos três anos Dilma, os economistas em geral acreditavam que o país cresceria muito mais do que de fato cresceu, opinião otimista' que foi mantida mesmo passados dois terços de cada ano. A inflação do IPCA, a oficial', também seria menor, no cálculo dos economistas do Focus, economistas do mercado'".
Durante a onda de piadas amargas de abril de 2014 sobre a "inflação do tomate", metáfora para uma inflação de alimentos então muito alta, o governo acusava os críticos de terrorismo. O governo subestimava o efeito do preço da comida na vida do cidadão. Pode perceber o tamanho desse erro na inflação de mau humor que viria a seguir.
As pessoas sabem cuidar de suas vidas, na média, e entendem de economia na carne. Pesquisas mostram a insegurança causada pela carestia, do mesmo modo que mostram relativa tranquilidade a respeito de desemprego, de fato baixíssimo.
A inflação tende a cair um tico. Isto é, a variação de preços será um tico menor. Mas mudou para cima o nível de preços de coisas básicas como comida, que agora levam um naco maior dos salários. A vida piorou. Ficou na memória do bolso.
Governo espera mudança do Copom - CRISTIANO ROMERO
VALOR ECONÔMICO - 23/07
BC já cortou juros com inflação em alta e expectativa deteriorada
O governo acredita que o Banco Central (BC) não está disposto a reduzir a taxa de juros (Selic) na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). A percepção é a de que a preocupação do BC "ainda é com a inflação". Uma importante fonte de Brasília diz, porém, que a "situação" forçará o Copom a mudar de opinião até 3 de setembro.
Uma das razões para apostar nisso está na atividade econômica. É provável que o PIB tenha recuado no segundo trimestre, depois de ter crescido apenas 0,2% entre janeiro e março. A equipe econômica, por dever de ofício, ainda acha que, entre abril e junho, o PIB cresceu alguma coisa. O BC tem a mesma crença, mas, no mercado, já há quem projete três trimestres de crescimento negativo, o que caracteriza uma recessão.
O outro dado a ser levado em conta é a inflação corrente. O IPCA-15 de julho, indicador que dá a prévia do mês, foi de apenas 0,17%, com deflação em quatro itens: alimentação e bebidas (-0,03%), transportes (-0,85%), educação (-0,07%) e comunicação (-0,10). Com o fim da Copa do Mundo, que inflacionou preços de passagens aéreas e hotéis, respondendo por 50% do IPCA de junho, os preços devem continuar recuando, inclusive, porque o governo não pretende autorizar reajustes dos combustíveis e de energia elétrica antes da eleição.
Um outro aspecto a considerar são os indicadores de confiança, que estão em níveis quase tão baixos quanto estavam no fim de 2008 e início de 2009, quando o Brasil passou por uma recessão em decorrência da crise mundial. Índices de confiança baixos sinalizam baixo consumo das famílias e retração de investimento das empresas.
Um dado que tem impressionado quem acompanha de perto a economia brasileira é o mercado de trabalho. A geração líquida de empregos, calculada a partir de dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho, mostra que, nos últimos quatro meses, o resultado líquido foi negativo (ver gráfico). É a primeira vez que isso ocorre desde abril de 2009. Nos 15 anos de vigência do regime de metas para inflação, esse fato só ocorreu antes duas vezes - em março de 2003 e entre julho e setembro de 1999, quando a economia também passou por recessão.
No comunicado da semana passada, o Copom repetiu o texto da reunião anterior, de maio, quando decidiu interromper o ciclo de alta da taxa de juros. Ao deixar claro que tomou a decisão de manter o juro inalterado "neste momento", o Comitê ensejou interpretações de que, no encontro de setembro, pode reduzir a Selic. Se não admitisse essa possibilidade, teria retirado do texto a locução adverbial de tempo.
Não se tenha dúvida de que é razoável a chance de o Copom cortar os juros em setembro. Há muito o Comitê vem trabalhando com a ideia de que suas decisões decorrem do estado da economia naquele momento. A locução "neste momento" deixa isso ainda mais claro.
Na prática, os diretores do BC têm 42 dias para reunir argumentos sólidos que justifiquem a necessidade de redução dos juros. Até lá, não se devem esperar dados animadores da atividade econômica, muito antes pelo contrário. A tendência é só piorar, como antecipam os indicadores de confiança e as expectativas do mercado.
No dia seguinte à leitura do mercado de que o Copom deixou a porta aberta para reduzir os juros em setembro, surgiram reações atribuídas à equipe econômica (que neste caso, obviamente, é o Banco Central), segundo as quais, essa interpretação é equivocada. Uma delas se refere ao fato de que, entre as últimas duas reuniões do Copom, a inflação acumulada em 12 meses aumentou e rompeu o teto de 6,5% e as expectativas para o ano fechado de 2014 e 2015 também pioraram.
Uma ponderação se faz necessária: a atual diretoria do BC já reduziu juros nas duas situações, ou seja, quando a inflação em 12 meses estava em alta e quando as expectativas se deterioravam. A rigor, desde meados de 2010, o BC não consegue controlar as expectativas dos agentes econômicos.
O que o BC tenta fazer, agora, é evitar que, diante da piora evidente da atividade econômica, seja obrigado a reduzir os juros num movimento que surpreenda o mercado, como fez em agosto de 2011. Quer evitar, portanto, um cavalo de pau. Como o mercado, movido por indicadores econômicos cada vez mais fracos, continuará apostando na queda dos juros no curto prazo, o Copom deve apenas sancionar essa visão.
A opinião do mercado, ao contrário do que se acredita, não mudou necessariamente em relação ao Copom de setembro. Nos últimos dias, o mercado de juros reagiu muito mais ao avanço do candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, nas pesquisas do segundo turno da eleição do que às ações do Banco Central. Os juros dos contratos mais longos estão caindo porque os operadores começam a acreditar na chance de Aécio derrotar Dilma Rousseff.
É bem provável que a ata da última reunião do Copom, que será divulgada amanhã, tenha um texto muito parecido com a do encontro de maio, refletindo uma maior preocupação do BC com a inflação. É um documento fadado, entretanto, a envelhecer técnica e politicamente ao longo dos próximos 40 dias.
O governo acredita que o Banco Central (BC) não está disposto a reduzir a taxa de juros (Selic) na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). A percepção é a de que a preocupação do BC "ainda é com a inflação". Uma importante fonte de Brasília diz, porém, que a "situação" forçará o Copom a mudar de opinião até 3 de setembro.
Uma das razões para apostar nisso está na atividade econômica. É provável que o PIB tenha recuado no segundo trimestre, depois de ter crescido apenas 0,2% entre janeiro e março. A equipe econômica, por dever de ofício, ainda acha que, entre abril e junho, o PIB cresceu alguma coisa. O BC tem a mesma crença, mas, no mercado, já há quem projete três trimestres de crescimento negativo, o que caracteriza uma recessão.
O outro dado a ser levado em conta é a inflação corrente. O IPCA-15 de julho, indicador que dá a prévia do mês, foi de apenas 0,17%, com deflação em quatro itens: alimentação e bebidas (-0,03%), transportes (-0,85%), educação (-0,07%) e comunicação (-0,10). Com o fim da Copa do Mundo, que inflacionou preços de passagens aéreas e hotéis, respondendo por 50% do IPCA de junho, os preços devem continuar recuando, inclusive, porque o governo não pretende autorizar reajustes dos combustíveis e de energia elétrica antes da eleição.
Um outro aspecto a considerar são os indicadores de confiança, que estão em níveis quase tão baixos quanto estavam no fim de 2008 e início de 2009, quando o Brasil passou por uma recessão em decorrência da crise mundial. Índices de confiança baixos sinalizam baixo consumo das famílias e retração de investimento das empresas.
Um dado que tem impressionado quem acompanha de perto a economia brasileira é o mercado de trabalho. A geração líquida de empregos, calculada a partir de dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho, mostra que, nos últimos quatro meses, o resultado líquido foi negativo (ver gráfico). É a primeira vez que isso ocorre desde abril de 2009. Nos 15 anos de vigência do regime de metas para inflação, esse fato só ocorreu antes duas vezes - em março de 2003 e entre julho e setembro de 1999, quando a economia também passou por recessão.
No comunicado da semana passada, o Copom repetiu o texto da reunião anterior, de maio, quando decidiu interromper o ciclo de alta da taxa de juros. Ao deixar claro que tomou a decisão de manter o juro inalterado "neste momento", o Comitê ensejou interpretações de que, no encontro de setembro, pode reduzir a Selic. Se não admitisse essa possibilidade, teria retirado do texto a locução adverbial de tempo.
Não se tenha dúvida de que é razoável a chance de o Copom cortar os juros em setembro. Há muito o Comitê vem trabalhando com a ideia de que suas decisões decorrem do estado da economia naquele momento. A locução "neste momento" deixa isso ainda mais claro.
Na prática, os diretores do BC têm 42 dias para reunir argumentos sólidos que justifiquem a necessidade de redução dos juros. Até lá, não se devem esperar dados animadores da atividade econômica, muito antes pelo contrário. A tendência é só piorar, como antecipam os indicadores de confiança e as expectativas do mercado.
No dia seguinte à leitura do mercado de que o Copom deixou a porta aberta para reduzir os juros em setembro, surgiram reações atribuídas à equipe econômica (que neste caso, obviamente, é o Banco Central), segundo as quais, essa interpretação é equivocada. Uma delas se refere ao fato de que, entre as últimas duas reuniões do Copom, a inflação acumulada em 12 meses aumentou e rompeu o teto de 6,5% e as expectativas para o ano fechado de 2014 e 2015 também pioraram.
Uma ponderação se faz necessária: a atual diretoria do BC já reduziu juros nas duas situações, ou seja, quando a inflação em 12 meses estava em alta e quando as expectativas se deterioravam. A rigor, desde meados de 2010, o BC não consegue controlar as expectativas dos agentes econômicos.
O que o BC tenta fazer, agora, é evitar que, diante da piora evidente da atividade econômica, seja obrigado a reduzir os juros num movimento que surpreenda o mercado, como fez em agosto de 2011. Quer evitar, portanto, um cavalo de pau. Como o mercado, movido por indicadores econômicos cada vez mais fracos, continuará apostando na queda dos juros no curto prazo, o Copom deve apenas sancionar essa visão.
A opinião do mercado, ao contrário do que se acredita, não mudou necessariamente em relação ao Copom de setembro. Nos últimos dias, o mercado de juros reagiu muito mais ao avanço do candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, nas pesquisas do segundo turno da eleição do que às ações do Banco Central. Os juros dos contratos mais longos estão caindo porque os operadores começam a acreditar na chance de Aécio derrotar Dilma Rousseff.
É bem provável que a ata da última reunião do Copom, que será divulgada amanhã, tenha um texto muito parecido com a do encontro de maio, refletindo uma maior preocupação do BC com a inflação. É um documento fadado, entretanto, a envelhecer técnica e politicamente ao longo dos próximos 40 dias.
Nossa democracia é pobre, mas nossas eleições são milionárias - MURILLO ARAGÃO
O TEMPO - 23/07
Os orçamentos apresentados pelos principais candidatos a presidente da República para as eleições de 2014 são um acinte, um despropósito, uma vergonha, um absurdo e um descalabro. Cabem outros tantos adjetivos à situação pornográfica que estamos vivendo em termos de campanhas eleitorais no Brasil.
A campanha de Dilma Rousseff (PT) à reeleição está orçada em R$ 298 milhões, valor do teto para as despesas. Nada menos do que 33% a mais do que na campanha de 2010. Aécio Neves (PSDB) é mais modesto, sua campanha prevê um gasto de até R$ 290 milhões. E Eduardo Campos (PSB) é o primo pobre dos três principais presidenciáveis: apenas R$ 150 milhões. Nos Estados, com a devida proporção, o descalabro prossegue.
De acordo com matéria do G1, o gasto previsto para todos os 169 candidatos a governador soma R$ 2,43 bilhões! São Paulo, obviamente, promoverá a campanha mais cara. Nove candidatos a governador no Estado gastarão, juntos, mais de R$ 320 milhões em suas campanhas. No Amapá, o custo total das campanhas dos candidatos a governador vai chegar perto dos R$ 30 milhões.
Tal situação tem no Congresso o maior culpado. A Lei das Eleições estabelece que o Congresso deve aprovar, até 10 de junho, uma lei definindo o limite de gastos com as eleições. Como isso não ocorreu, cada partido estabeleceu o teto de despesas a seu bel-prazer e de acordo com a sua conveniência.
Em Minas Gerais, as campanhas para deputado federal estão custando, em média, R$ 5 milhões. Basicamente, o dobro do que custa uma campanha para a Assembleia Legislativa. O custo tem assustado os candidatos, que preferem disputar uma vaga na Assembleia. Esse é um grande problema para os partidos, já que o montante de recursos do Fundo Partidário é dividido conforme o tamanho das bancadas federais.
Com custos estratosféricos, as campanhas tendem a ser redutos de abonados que podem se autofinanciar, de celebridades muito conhecidas e com potencial de voto, de lideranças setoriais que fazem a campanha dentro de seus nichos e de articuladores que conseguem mobilizar altas somas. O candidato normal, salvo exceções, está fora do jogo.
Duas questões emergem do problema. A primeira é a omissão do Congresso e do Poder Judiciário sobre o tema. Ambos silenciam sobre uma grave distorção de nosso sistema político: a ausência de limites razoáveis de gastos. Deixando aos partidos tal tarefa, promove-se uma liberalidade que trabalha contra os mais basilares princípios da democracia: a igualdade de oportunidades.
A segunda questão resulta das consequências dessa omissão: a representação da sociedade brasileira no Congresso é distorcida pelo poder do dinheiro. Quem tem mais, pode mais. Não deveria ser assim. Ou, pelo menos, os poderes constituídos deveriam estar atentos ao problema e tratar de limitar os efeitos danosos do poder econômico nas campanhas eleitorais. As eleições não deveriam ser competição de quem arrecada mais e de quem tem mais para gastar.
Com a situação que se apresenta, qualquer um com muito dinheiro tem imensa chance de se eleger. Em Minas Gerais, por exemplo, onde há desinteresse em ser candidato, basta ter os R$ 5 milhões para se tornar um candidato competitivo. Se tiver R$ 10 milhões, melhor ainda. Com R$ 15 milhões, pode-se fazer uma campanha com estrutura de candidato majoritário em uma simples campanha para deputado federal.
Nos bastidores da política de hoje, a questão do financiamento das campanhas é crucial. Sem limite para os gastos, os partidos abriram a porteira para uma competição que nada tem de democrática.
Os orçamentos apresentados pelos principais candidatos a presidente da República para as eleições de 2014 são um acinte, um despropósito, uma vergonha, um absurdo e um descalabro. Cabem outros tantos adjetivos à situação pornográfica que estamos vivendo em termos de campanhas eleitorais no Brasil.
A campanha de Dilma Rousseff (PT) à reeleição está orçada em R$ 298 milhões, valor do teto para as despesas. Nada menos do que 33% a mais do que na campanha de 2010. Aécio Neves (PSDB) é mais modesto, sua campanha prevê um gasto de até R$ 290 milhões. E Eduardo Campos (PSB) é o primo pobre dos três principais presidenciáveis: apenas R$ 150 milhões. Nos Estados, com a devida proporção, o descalabro prossegue.
De acordo com matéria do G1, o gasto previsto para todos os 169 candidatos a governador soma R$ 2,43 bilhões! São Paulo, obviamente, promoverá a campanha mais cara. Nove candidatos a governador no Estado gastarão, juntos, mais de R$ 320 milhões em suas campanhas. No Amapá, o custo total das campanhas dos candidatos a governador vai chegar perto dos R$ 30 milhões.
Tal situação tem no Congresso o maior culpado. A Lei das Eleições estabelece que o Congresso deve aprovar, até 10 de junho, uma lei definindo o limite de gastos com as eleições. Como isso não ocorreu, cada partido estabeleceu o teto de despesas a seu bel-prazer e de acordo com a sua conveniência.
Em Minas Gerais, as campanhas para deputado federal estão custando, em média, R$ 5 milhões. Basicamente, o dobro do que custa uma campanha para a Assembleia Legislativa. O custo tem assustado os candidatos, que preferem disputar uma vaga na Assembleia. Esse é um grande problema para os partidos, já que o montante de recursos do Fundo Partidário é dividido conforme o tamanho das bancadas federais.
Com custos estratosféricos, as campanhas tendem a ser redutos de abonados que podem se autofinanciar, de celebridades muito conhecidas e com potencial de voto, de lideranças setoriais que fazem a campanha dentro de seus nichos e de articuladores que conseguem mobilizar altas somas. O candidato normal, salvo exceções, está fora do jogo.
Duas questões emergem do problema. A primeira é a omissão do Congresso e do Poder Judiciário sobre o tema. Ambos silenciam sobre uma grave distorção de nosso sistema político: a ausência de limites razoáveis de gastos. Deixando aos partidos tal tarefa, promove-se uma liberalidade que trabalha contra os mais basilares princípios da democracia: a igualdade de oportunidades.
A segunda questão resulta das consequências dessa omissão: a representação da sociedade brasileira no Congresso é distorcida pelo poder do dinheiro. Quem tem mais, pode mais. Não deveria ser assim. Ou, pelo menos, os poderes constituídos deveriam estar atentos ao problema e tratar de limitar os efeitos danosos do poder econômico nas campanhas eleitorais. As eleições não deveriam ser competição de quem arrecada mais e de quem tem mais para gastar.
Com a situação que se apresenta, qualquer um com muito dinheiro tem imensa chance de se eleger. Em Minas Gerais, por exemplo, onde há desinteresse em ser candidato, basta ter os R$ 5 milhões para se tornar um candidato competitivo. Se tiver R$ 10 milhões, melhor ainda. Com R$ 15 milhões, pode-se fazer uma campanha com estrutura de candidato majoritário em uma simples campanha para deputado federal.
Nos bastidores da política de hoje, a questão do financiamento das campanhas é crucial. Sem limite para os gastos, os partidos abriram a porteira para uma competição que nada tem de democrática.
Caiu a ficha - CELSO MING
O ESTADO DE S.PAULO - 23/07
As mudanças acontecem tão rapidamente que até mesmo expressões corriqueiras vão perdendo sentido para as novas gerações.
A moçada desconhece, por exemplo, o que seja mata-borrão, telegrama, anil, anágua - coisas que nem são de tão antigamente. Mas há também expressões bem mais recentes que vão ficando incompreensíveis. É preciso explicar para a nova geração digitalizada o que significa, por exemplo, "cair a ficha". Que ficha? Cair onde?
Pois só agora, no governo da presidente Dilma, está caindo a ficha de que os próximos meses, justamente os mais quentes da campanha eleitoral, são de uma terrível coincidência entre estagnação econômica e inflação alta.
A simples divulgação da Pesquisa Focus, do Banco Central, que na segunda-feira dava conta de que o mercado financeiro - e aí há pelo menos cem instituições diferentes - aposta em um crescimento do PIB abaixo de 1% neste ano, disparou alarmes que deveriam ter disparado muito antes. Por que é outro assunto, outros quinhentos, dizia-se até recentemente.
Tantas vezes as autoridades deste governo recorreram a truques de linguagem e à contabilidade criativa que parecem ter acreditado nisso. A cada número desfavorável divulgado pelo IBGE e pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), respondiam com argumentos que supostamente serviam de contraponto para sentimentos negativos. O baixo crescimento econômico, por exemplo, teria a ver com a recuperação lenta demais da atividade das economias maduras e com a pouca disposição dos bancos em ativar o crédito - e não com problemas nossos.
A incapacidade de entregar o superávit primário (sobra de arrecadação para pagar a dívida), combinado muito antes, era um episódio parcial que exigia apenas um pouco mais de paciência e menos aflição, porque os resultados positivos logo viriam.
E a inflação, por exemplo, foi sempre o resultado de choques de oferta, e não de despesas excessivas do Tesouro. Os investimentos também já estavam a caminho, como se poderia conferir nas projeções apontadas nos arquivos de PowerPoint do ministro da Fazenda, Guido Mantega.
No entanto, as encomendas não chegam. O horizonte que gira na cabeça dos brasileiros não é mais o dos resultados de 2014, mas o que vem depois.
Como planejar as atividades em 2015 e 2016, se o ponto de referência é apenas o que aconteceu nos últimos três anos, com os resultados conhecidos? Se for para acatar os argumentos do governo, nada deve melhorar substancialmente porque não há nenhuma perspectiva de rápida recuperação da economia global e a economia brasileira continua sujeita a choques de oferta e rebordosas inflacionárias, já que há tanto preço administrado para atualizar.
Não há mais tempo, antes das eleições, para providências destinadas a reverter a situação desfavorável. Mas sempre é hora para reconquistar pelo menos um pedaço da confiança perdida. O então candidato Lula editou sua Carta ao Povo Brasileiro apenas três meses antes das eleições de 2002 e foi o suficiente para desfazer um clima de forte desconfiança. Mas essa ficha ainda não caiu.
As mudanças acontecem tão rapidamente que até mesmo expressões corriqueiras vão perdendo sentido para as novas gerações.
A moçada desconhece, por exemplo, o que seja mata-borrão, telegrama, anil, anágua - coisas que nem são de tão antigamente. Mas há também expressões bem mais recentes que vão ficando incompreensíveis. É preciso explicar para a nova geração digitalizada o que significa, por exemplo, "cair a ficha". Que ficha? Cair onde?
Pois só agora, no governo da presidente Dilma, está caindo a ficha de que os próximos meses, justamente os mais quentes da campanha eleitoral, são de uma terrível coincidência entre estagnação econômica e inflação alta.
A simples divulgação da Pesquisa Focus, do Banco Central, que na segunda-feira dava conta de que o mercado financeiro - e aí há pelo menos cem instituições diferentes - aposta em um crescimento do PIB abaixo de 1% neste ano, disparou alarmes que deveriam ter disparado muito antes. Por que é outro assunto, outros quinhentos, dizia-se até recentemente.
Tantas vezes as autoridades deste governo recorreram a truques de linguagem e à contabilidade criativa que parecem ter acreditado nisso. A cada número desfavorável divulgado pelo IBGE e pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), respondiam com argumentos que supostamente serviam de contraponto para sentimentos negativos. O baixo crescimento econômico, por exemplo, teria a ver com a recuperação lenta demais da atividade das economias maduras e com a pouca disposição dos bancos em ativar o crédito - e não com problemas nossos.
A incapacidade de entregar o superávit primário (sobra de arrecadação para pagar a dívida), combinado muito antes, era um episódio parcial que exigia apenas um pouco mais de paciência e menos aflição, porque os resultados positivos logo viriam.
E a inflação, por exemplo, foi sempre o resultado de choques de oferta, e não de despesas excessivas do Tesouro. Os investimentos também já estavam a caminho, como se poderia conferir nas projeções apontadas nos arquivos de PowerPoint do ministro da Fazenda, Guido Mantega.
No entanto, as encomendas não chegam. O horizonte que gira na cabeça dos brasileiros não é mais o dos resultados de 2014, mas o que vem depois.
Como planejar as atividades em 2015 e 2016, se o ponto de referência é apenas o que aconteceu nos últimos três anos, com os resultados conhecidos? Se for para acatar os argumentos do governo, nada deve melhorar substancialmente porque não há nenhuma perspectiva de rápida recuperação da economia global e a economia brasileira continua sujeita a choques de oferta e rebordosas inflacionárias, já que há tanto preço administrado para atualizar.
Não há mais tempo, antes das eleições, para providências destinadas a reverter a situação desfavorável. Mas sempre é hora para reconquistar pelo menos um pedaço da confiança perdida. O então candidato Lula editou sua Carta ao Povo Brasileiro apenas três meses antes das eleições de 2002 e foi o suficiente para desfazer um clima de forte desconfiança. Mas essa ficha ainda não caiu.
Bricsbanco - ALEXANDRE SCHWARTSMAN
FOLHA DE SP - 23/07
Esse é um projeto de poder do qual o país tem pouco a ganhar; pagaremos muito por um pouco de marketing
Nunca curti muito essa história de Brics. Como marketing, reconheço, é fantástico, mas, vamos falar a verdade, há pouco em comum entre os países que fazem parte do grupo, fora seu tamanho (já a África do Sul, que lá entrou só para formar o plural, nem isso tem).
As discrepâncias são enormes: a Rússia apresenta PIB per capita (já ajustado a diferença de custo de vida) na casa de US$ 20.000, seguida pelo Brasil, com US$ 11.000, mesmo nível da África do Sul, enquanto China e Índia, bem mais pobres, têm PIB per capita na fai- xa de US$ 8.000 e US$ 3.000, respectivamente.
Já o perfil demográfico não poderia ser mais distinto: metade da população de Índia e África do Sul tem menos de 25 anos, comparados a 38 anos no caso da Rússia e a 34 anos na China (no Brasil, no meio do caminho, metade da população tem menos de 29 anos). Temos, portanto, países jovens, países envelhecidos e o Brasil no meio da sua transição demográfica.
Do ponto de vista político, o grupo varia de democracias vibrantes a países autoritários, quando não abertamente ditatoriais.
Por fim, ainda sem esgotar o assunto, no que respeita ao comércio exterior, falamos de países cujas exportações se baseiam em commodities (África do Sul, Brasil e Rússia) assim como de outros cuja maior ênfase está em manufaturas e, mesmo nesse caso, o espectro vai de produtos tecnologicamente simples, como têxteis, a sofisticados, como eletrônicos ou máquinas.
Em suma, o que une esse grupo não são suas afinidades econômicas (muito menos as culturais), e sim um desejo de afirmar seu posicionamento na esfera global.
A China, em particular, guarda ambições hegemônicas, enquanto a Rússia, poder decadente, aferra-se a seu antigo status de principal adversária dos EUA.
Não por acaso, até recentemen- te as reuniões do grupo geravam mais calor que luz, o que, cá en- tre nós, não era de todo mau: a imprensa dava destaque, mas nada de particularmente danoso costumava ocorrer.
Não se pode dizer o mesmo da reunião mais recente. Na semana passada, em Fortaleza, os dirigentes dos Brics aprovaram a criação de um fundo em comum para socorrer países em dificuldade, assim como um novo banco de desenvolvimento, para concorrer, respectivamente, com o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial.
É, por um lado, compreensível a frustração dos países emergentes acerca das dificuldades de mudança na governança dessas instituições: a mudança de seu peso econômico não está refletida na estrutura de poder do FMI e do Banco Mundial, apesar de longas discussões a respeito. Daí, porém, à resolução de montar novas instituições, duplicando o que essas já fazem, é um longo passo.
Digamos, por exemplo, que um país, cujo pedido de crédito tenha sido rejeitado pelo FMI, bata à porta do Fundo Brics; quem estará disposto a tomar um risco de crédito já recusado pelo FMI? Só se for por razões políticas, arriscando dinheiro do contribuinte para tal.
Da mesma forma, alguém realmente acredita que os critérios que orientariam potenciais empréstimos do Bricsbanco serão apenas técnicos? Ou --como sugerido pela experiência dos países que compõem o grupo-- prevalecerão juízos políticos (geopolíticos inclusive)?
Se o problema fosse realmente a esclerose da estrutura de governança das instituições de Bretton Woods, os Brics poderiam, em conjunto com outros países emergentes, achar soluções diplomáticas para isso. Bastaria ter paciência e trabalhar de forma persistente.
No caso, utilizou-se como pretexto esse problema para justificar a criação de estruturas de poder que põem em risco o meu, o seu, o nosso dinheiro, para, em última análise, um projeto de poder do qual o Brasil tem pouco a ganhar. Outro tanto dos recursos públicos passará a ser gerido fora do Orçamento, agravando o quadro da deterioração institucional do lado fiscal. Pagaremos muito por um pouco de marketing.
Esse é um projeto de poder do qual o país tem pouco a ganhar; pagaremos muito por um pouco de marketing
Nunca curti muito essa história de Brics. Como marketing, reconheço, é fantástico, mas, vamos falar a verdade, há pouco em comum entre os países que fazem parte do grupo, fora seu tamanho (já a África do Sul, que lá entrou só para formar o plural, nem isso tem).
As discrepâncias são enormes: a Rússia apresenta PIB per capita (já ajustado a diferença de custo de vida) na casa de US$ 20.000, seguida pelo Brasil, com US$ 11.000, mesmo nível da África do Sul, enquanto China e Índia, bem mais pobres, têm PIB per capita na fai- xa de US$ 8.000 e US$ 3.000, respectivamente.
Já o perfil demográfico não poderia ser mais distinto: metade da população de Índia e África do Sul tem menos de 25 anos, comparados a 38 anos no caso da Rússia e a 34 anos na China (no Brasil, no meio do caminho, metade da população tem menos de 29 anos). Temos, portanto, países jovens, países envelhecidos e o Brasil no meio da sua transição demográfica.
Do ponto de vista político, o grupo varia de democracias vibrantes a países autoritários, quando não abertamente ditatoriais.
Por fim, ainda sem esgotar o assunto, no que respeita ao comércio exterior, falamos de países cujas exportações se baseiam em commodities (África do Sul, Brasil e Rússia) assim como de outros cuja maior ênfase está em manufaturas e, mesmo nesse caso, o espectro vai de produtos tecnologicamente simples, como têxteis, a sofisticados, como eletrônicos ou máquinas.
Em suma, o que une esse grupo não são suas afinidades econômicas (muito menos as culturais), e sim um desejo de afirmar seu posicionamento na esfera global.
A China, em particular, guarda ambições hegemônicas, enquanto a Rússia, poder decadente, aferra-se a seu antigo status de principal adversária dos EUA.
Não por acaso, até recentemen- te as reuniões do grupo geravam mais calor que luz, o que, cá en- tre nós, não era de todo mau: a imprensa dava destaque, mas nada de particularmente danoso costumava ocorrer.
Não se pode dizer o mesmo da reunião mais recente. Na semana passada, em Fortaleza, os dirigentes dos Brics aprovaram a criação de um fundo em comum para socorrer países em dificuldade, assim como um novo banco de desenvolvimento, para concorrer, respectivamente, com o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial.
É, por um lado, compreensível a frustração dos países emergentes acerca das dificuldades de mudança na governança dessas instituições: a mudança de seu peso econômico não está refletida na estrutura de poder do FMI e do Banco Mundial, apesar de longas discussões a respeito. Daí, porém, à resolução de montar novas instituições, duplicando o que essas já fazem, é um longo passo.
Digamos, por exemplo, que um país, cujo pedido de crédito tenha sido rejeitado pelo FMI, bata à porta do Fundo Brics; quem estará disposto a tomar um risco de crédito já recusado pelo FMI? Só se for por razões políticas, arriscando dinheiro do contribuinte para tal.
Da mesma forma, alguém realmente acredita que os critérios que orientariam potenciais empréstimos do Bricsbanco serão apenas técnicos? Ou --como sugerido pela experiência dos países que compõem o grupo-- prevalecerão juízos políticos (geopolíticos inclusive)?
Se o problema fosse realmente a esclerose da estrutura de governança das instituições de Bretton Woods, os Brics poderiam, em conjunto com outros países emergentes, achar soluções diplomáticas para isso. Bastaria ter paciência e trabalhar de forma persistente.
No caso, utilizou-se como pretexto esse problema para justificar a criação de estruturas de poder que põem em risco o meu, o seu, o nosso dinheiro, para, em última análise, um projeto de poder do qual o Brasil tem pouco a ganhar. Outro tanto dos recursos públicos passará a ser gerido fora do Orçamento, agravando o quadro da deterioração institucional do lado fiscal. Pagaremos muito por um pouco de marketing.
O que diz a balança - MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 23/07
A balança comercial deste ano, até agora, está registrando queda da corrente de comércio pela primeira vez desde 2009, quando a crise internacional estava no auge. O cenário externo atual não atrapalha, pelo contrário. Os juros são zero no Japão, Estados Unidos e Europa, e as economias estão se recuperando. Apesar da calmaria, o Brasil está exportando e importando menos.
As exportações caíram 3,4% de janeiro a junho, em relação ao mesmo período do ano passado. Já as importações ficaram 3,8% menores. Com isso, a corrente de comércio encolheu 3,6%. O período terminou com déficit comercial de US$ 2,5 bilhões.
As exportações sofreram muito com a crise na Argentina, que é nosso terceiro principal parceiro e grande consumidor de produtos industriais. No primeiro semestre, vendemos 20% a menos para eles. As vendas de material de transporte e componentes despencaram 30% no total exportado para o mundo e somente isso representa uma perda de US$ 4 bilhões.
A crise argentina explica uma parte do problema. Cinco dos dez maiores parceiros do Brasil compraram menos de nós neste primeiro semestre, em comparação ao mesmo período do ano passado. O que acontece é que o Brasil vem perdendo competitividade. Além da retração para os argentinos, em parte reflexo da crise deles, caíram também as vendas externas para Holanda (-2,4%), Japão (-14,33%), Alemanha (-0,5%) e Itália (-1,89%). Fora dessa lista dos dez maiores, caíram também as exportações para a Coreia do Sul (-23%), Espanha (-1,6%) e México (-7,79%). Ou seja, a redução foi espalhada.
Tudo isso fez com que a nossa dependência comercial da China ficasse maior. Houve aumento das exportações em 4%, e a China já representa 21% de tudo que vendemos para o exterior. O que significa que qualquer redução do crescimento deles nos afetará A economia chinesa continua sendo a que mais cresce no mundo, mas está numa fase de lenta desaceleração do ritmo.
Entre as empresas, a Vale já sente esses efeitos. Com a queda do preço do minério de ferro nos mercados internacionais, as vendas da empresa recuaram em 7,4%, de US$ 12,1 bilhões para US$ 11,2 bi. A Petrobras exportou 2% a mais e chegou a US$ 6 bilhões, enquanto a Bunge Alimentos teve desempenho 9,2% menor, de US$ 3,7 bilhões para US$ 3,3 bi. Entre as 10 principais empresas, seis delas exportaram menos no primeiro semestre.
As importações também têm caído, tanto pelo consumo mais fraco, quanto pelo menor investimento no Brasil. As compras de bens de capital caíram 5,85%. Os bens de consumo foram menores em 1% e as matérias-primas, em 1,8%.
Uma boa notícia foi a redução do déficit bilionário da conta petróleo. A exportação de combustíveis e lubrificantes deu um salto de 25%, de US$ 7,2 bilhões para US$ 9 bi; enquanto as importações caíram 8,8%, de US$ 20,8 bilhões para US$ 19 bilhões. Com isso, o rombo — que continua enorme — ficou um pouco menor. Era de US$ 13,6 bilhões no primeiro semestre do ano passado e ficou em US$ 10 bi nos primeiros seis meses de 2014.
Ontem, o Ministério da Fazenda reduziu sua projeção de crescimento do PIB brasileiro, de 2,5% para 1,8%. A estratégia do governo é ir descendo devagar, porque a verdade que já se sabe é que a alta do PIB em 2014 será bem menor. As projeções do mercado financeiro, na pesquisa feita pelo Banco Central, registraram esta semana, pela primeira vez, um número abaixo de 1%. O comércio exterior poderia ajudar numa fase de desaceleração interna do consumo se o Brasil não estivesse perdendo competitividade.
A balança comercial deste ano, até agora, está registrando queda da corrente de comércio pela primeira vez desde 2009, quando a crise internacional estava no auge. O cenário externo atual não atrapalha, pelo contrário. Os juros são zero no Japão, Estados Unidos e Europa, e as economias estão se recuperando. Apesar da calmaria, o Brasil está exportando e importando menos.
As exportações caíram 3,4% de janeiro a junho, em relação ao mesmo período do ano passado. Já as importações ficaram 3,8% menores. Com isso, a corrente de comércio encolheu 3,6%. O período terminou com déficit comercial de US$ 2,5 bilhões.
As exportações sofreram muito com a crise na Argentina, que é nosso terceiro principal parceiro e grande consumidor de produtos industriais. No primeiro semestre, vendemos 20% a menos para eles. As vendas de material de transporte e componentes despencaram 30% no total exportado para o mundo e somente isso representa uma perda de US$ 4 bilhões.
A crise argentina explica uma parte do problema. Cinco dos dez maiores parceiros do Brasil compraram menos de nós neste primeiro semestre, em comparação ao mesmo período do ano passado. O que acontece é que o Brasil vem perdendo competitividade. Além da retração para os argentinos, em parte reflexo da crise deles, caíram também as vendas externas para Holanda (-2,4%), Japão (-14,33%), Alemanha (-0,5%) e Itália (-1,89%). Fora dessa lista dos dez maiores, caíram também as exportações para a Coreia do Sul (-23%), Espanha (-1,6%) e México (-7,79%). Ou seja, a redução foi espalhada.
Tudo isso fez com que a nossa dependência comercial da China ficasse maior. Houve aumento das exportações em 4%, e a China já representa 21% de tudo que vendemos para o exterior. O que significa que qualquer redução do crescimento deles nos afetará A economia chinesa continua sendo a que mais cresce no mundo, mas está numa fase de lenta desaceleração do ritmo.
Entre as empresas, a Vale já sente esses efeitos. Com a queda do preço do minério de ferro nos mercados internacionais, as vendas da empresa recuaram em 7,4%, de US$ 12,1 bilhões para US$ 11,2 bi. A Petrobras exportou 2% a mais e chegou a US$ 6 bilhões, enquanto a Bunge Alimentos teve desempenho 9,2% menor, de US$ 3,7 bilhões para US$ 3,3 bi. Entre as 10 principais empresas, seis delas exportaram menos no primeiro semestre.
As importações também têm caído, tanto pelo consumo mais fraco, quanto pelo menor investimento no Brasil. As compras de bens de capital caíram 5,85%. Os bens de consumo foram menores em 1% e as matérias-primas, em 1,8%.
Uma boa notícia foi a redução do déficit bilionário da conta petróleo. A exportação de combustíveis e lubrificantes deu um salto de 25%, de US$ 7,2 bilhões para US$ 9 bi; enquanto as importações caíram 8,8%, de US$ 20,8 bilhões para US$ 19 bilhões. Com isso, o rombo — que continua enorme — ficou um pouco menor. Era de US$ 13,6 bilhões no primeiro semestre do ano passado e ficou em US$ 10 bi nos primeiros seis meses de 2014.
Ontem, o Ministério da Fazenda reduziu sua projeção de crescimento do PIB brasileiro, de 2,5% para 1,8%. A estratégia do governo é ir descendo devagar, porque a verdade que já se sabe é que a alta do PIB em 2014 será bem menor. As projeções do mercado financeiro, na pesquisa feita pelo Banco Central, registraram esta semana, pela primeira vez, um número abaixo de 1%. O comércio exterior poderia ajudar numa fase de desaceleração interna do consumo se o Brasil não estivesse perdendo competitividade.
Mudanças na demografia e os juros - JOAQUIM LEVY
VALOR ECONÔMICO - 23/07
O grande fato de 2014 não será a Copa da Fifa, que já está resolvida, mas o encaminhamento da normalização da política monetária americana.
Após o ensaio em 2013, para a saída do então presidente Ben Bernanke, o Federal Reserve (Fed, o BC americano) tem sido bastante cuidadoso, para diminuir o risco de se repetirem as turbulências do ano passado, e dos juros subirem antes do tempo. O Fed tem chamado a atenção de que o desemprego ainda está alto, apesar da recuperação da economia americana, e tem procurado reforçar a ideia de que a taxa de juros longa não precisa apresentar um salto assim que a taxa curta ameaçar subir, como ocorreu em 2013.
O desemprego de longo prazo continua alto, o que pode ser cíclico ou estrutural. No segundo caso, o número de postos de trabalho abertos deveria ser mais alto do que o observado agora. Mas talvez haja algo de estrutural, já que o crescimento do emprego entre os jovens tem sido maior do que entre os mais idosos, o que poderia sugerir que a mudança tecnológica ou que a maior oferta de empregos de tempo parcial esteja tornando mais difícil para idosos se inserirem no mercado de trabalho.
É cada vez mais difícil encontrar postos com salários de "classe média" que não requerem alto nível educacional, situação reconhecida até por baluartes republicanos, como o senador Rubio, da Florida. Ele tem proposto medidas de apoio ao emprego por reconhecer que hoje é impossível sustentar uma família com o tipo de emprego que seus pais tinham - em bar e em empresas tipo Walmart -, mesmo que os cônjuges trabalhem em tempo integral. A dúvida é se a política monetária é a forma mais eficiente de lidar com esse tipo de problema, ou se apenas criaria outros.
O temor do Fed de se movimentar rápido demais em um ambiente com a demanda agregada ainda frágil é alimentado por situações como a da Suécia, que apertou a sua política monetária durante a crise do euro, quando sua economia (que tem moeda própria) ia bem. De lá para cá, com a Europa patinando, apesar de a moeda única sobreviver, a economia sueca esfriou de tal maneira que a inflação está perto de zero e o Banco Central acabou voltando à taxa de juros de 0,25%.
Finalmente, apesar de pressões inflacionárias já serem vislumbradas nos EUA, o Fed insiste em que uma inflação temporariamente acima de 2% não é problema e, se ajudar a diminuir o desemprego, é compatível com seu mandato. A comunicação do Fed também tem insistido que a taxa de juros no (ou do) longo prazo não deveria necessariamente voltar aos patamares do passado recente, acima de 4%.
Para aqueles que não viveram antes da era Kennedy, taxas de juros americanas nos 4% parecem ficção. Mas, até o avanço do "keynesianismo" e a expansão fiscal na segunda metade dos anos 60, com os gastos da guerra do Vietnã e da expansão dos programas sociais ("great society"), esse era praticamente o teto das taxas, com uma inflação também modesta. Depois, o progresso da ideia de que um pouco de inflação ajudaria o crescimento levou à deterioração da economia americana após os choques do petróleo, que teve como reação a teoria das "expectativas racionais" e da curva de Phillips vertical, e o super choque monetário da era Volcker, com taxas de juros próximas a 20% ao ano.
Nos anos 90, a taxa de juros curta beirou 7% e a longa, além. A forte redução após a recuperação fiscal do período Clinton levou aos anos dourados em que títulos de renda fixa de longo prazo apresentaram apreciação sistemática. A crise de 2008 e a redução da taxa curta a zero encerraram o período. Daqui para frente, os juros só poderão subir. Mas, talvez, não muito.
A aposta de alguns diretores do Fed é que, com o envelhecimento da população e o menor dinamismo da oferta de mão de obra, o crescimento do PIB potencial decresceria e, como os juros reais de equilíbrio são correlacionados com esse crescimento, eles ficariam baixos.
A aposta depende bastante de haver um grande volume de capital e menos trabalhadores, tornando o trabalho o fator escasso, o que mudaria o retorno do capital, levando a maiores salários e talvez inflação, mas a juro s de equilíbrio menores. Evidentemente, isso contraria a previsão do recente livro Capital, que prevê um aumento do retorno do capital pelo progresso tecnológico e menor demanda por trabalho, que mais que compensaria a queda da sua oferta, especialmente nas economias avançadas.
O setor imobiliário pode ilustrar como os retornos do capital podem ser persistentemente deprimidos pela demografia. Se houver relativamente poucos jovens para comprar as casas dos numerosos "baby boomers", quando estes forem velhos, o preço deve cair. Mesmo que haja mais jovens vivendo sozinhos, a economia positiva sugere que é porque as casas estão efetivamente mais baratas, senão a tendência seria as pessoas casarem para viver juntas.
Talvez o mais importante para saber se o futuro será inflacionário ou deflacionário, e onde estarão as taxas de juros, seja verificar como as aposentadorias serão financiadas. Para tanto, parte-se da hipótese de que mudanças de preços permitirão à economia encontrar endogenamente um limite para a quantidade da produção global que será absorvida pelos mais idosos. No caso em que a maior parte da renda dos idosos vier de aposentadorias públicas, o peso fiscal de garantir essa renda, refletido na pressão sobre a dívida pública, acabará acomodado por meio da inflação.
No caso em que a renda venha principalmente de ativos poupados explicitamente, a acomodação tenderia a vir de preços e retornos menores dos ativos, e uma taxa de juros baixa, refletindo, como no caso imobiliário, o quanto os mais jovens estarão dispostos a pagar pelo uso do capital acumulado pela geração mais velha.
Esses mecanismos poderão ser influenciados ou postergados por leis que protejam determinados grupos, mas seus efeitos, ainda que incipientes, já devem estar sendo sentidos em todos os mercados financeiros.
O grande fato de 2014 não será a Copa da Fifa, que já está resolvida, mas o encaminhamento da normalização da política monetária americana.
Após o ensaio em 2013, para a saída do então presidente Ben Bernanke, o Federal Reserve (Fed, o BC americano) tem sido bastante cuidadoso, para diminuir o risco de se repetirem as turbulências do ano passado, e dos juros subirem antes do tempo. O Fed tem chamado a atenção de que o desemprego ainda está alto, apesar da recuperação da economia americana, e tem procurado reforçar a ideia de que a taxa de juros longa não precisa apresentar um salto assim que a taxa curta ameaçar subir, como ocorreu em 2013.
O desemprego de longo prazo continua alto, o que pode ser cíclico ou estrutural. No segundo caso, o número de postos de trabalho abertos deveria ser mais alto do que o observado agora. Mas talvez haja algo de estrutural, já que o crescimento do emprego entre os jovens tem sido maior do que entre os mais idosos, o que poderia sugerir que a mudança tecnológica ou que a maior oferta de empregos de tempo parcial esteja tornando mais difícil para idosos se inserirem no mercado de trabalho.
É cada vez mais difícil encontrar postos com salários de "classe média" que não requerem alto nível educacional, situação reconhecida até por baluartes republicanos, como o senador Rubio, da Florida. Ele tem proposto medidas de apoio ao emprego por reconhecer que hoje é impossível sustentar uma família com o tipo de emprego que seus pais tinham - em bar e em empresas tipo Walmart -, mesmo que os cônjuges trabalhem em tempo integral. A dúvida é se a política monetária é a forma mais eficiente de lidar com esse tipo de problema, ou se apenas criaria outros.
O temor do Fed de se movimentar rápido demais em um ambiente com a demanda agregada ainda frágil é alimentado por situações como a da Suécia, que apertou a sua política monetária durante a crise do euro, quando sua economia (que tem moeda própria) ia bem. De lá para cá, com a Europa patinando, apesar de a moeda única sobreviver, a economia sueca esfriou de tal maneira que a inflação está perto de zero e o Banco Central acabou voltando à taxa de juros de 0,25%.
Finalmente, apesar de pressões inflacionárias já serem vislumbradas nos EUA, o Fed insiste em que uma inflação temporariamente acima de 2% não é problema e, se ajudar a diminuir o desemprego, é compatível com seu mandato. A comunicação do Fed também tem insistido que a taxa de juros no (ou do) longo prazo não deveria necessariamente voltar aos patamares do passado recente, acima de 4%.
Para aqueles que não viveram antes da era Kennedy, taxas de juros americanas nos 4% parecem ficção. Mas, até o avanço do "keynesianismo" e a expansão fiscal na segunda metade dos anos 60, com os gastos da guerra do Vietnã e da expansão dos programas sociais ("great society"), esse era praticamente o teto das taxas, com uma inflação também modesta. Depois, o progresso da ideia de que um pouco de inflação ajudaria o crescimento levou à deterioração da economia americana após os choques do petróleo, que teve como reação a teoria das "expectativas racionais" e da curva de Phillips vertical, e o super choque monetário da era Volcker, com taxas de juros próximas a 20% ao ano.
Nos anos 90, a taxa de juros curta beirou 7% e a longa, além. A forte redução após a recuperação fiscal do período Clinton levou aos anos dourados em que títulos de renda fixa de longo prazo apresentaram apreciação sistemática. A crise de 2008 e a redução da taxa curta a zero encerraram o período. Daqui para frente, os juros só poderão subir. Mas, talvez, não muito.
A aposta de alguns diretores do Fed é que, com o envelhecimento da população e o menor dinamismo da oferta de mão de obra, o crescimento do PIB potencial decresceria e, como os juros reais de equilíbrio são correlacionados com esse crescimento, eles ficariam baixos.
A aposta depende bastante de haver um grande volume de capital e menos trabalhadores, tornando o trabalho o fator escasso, o que mudaria o retorno do capital, levando a maiores salários e talvez inflação, mas a juro s de equilíbrio menores. Evidentemente, isso contraria a previsão do recente livro Capital, que prevê um aumento do retorno do capital pelo progresso tecnológico e menor demanda por trabalho, que mais que compensaria a queda da sua oferta, especialmente nas economias avançadas.
O setor imobiliário pode ilustrar como os retornos do capital podem ser persistentemente deprimidos pela demografia. Se houver relativamente poucos jovens para comprar as casas dos numerosos "baby boomers", quando estes forem velhos, o preço deve cair. Mesmo que haja mais jovens vivendo sozinhos, a economia positiva sugere que é porque as casas estão efetivamente mais baratas, senão a tendência seria as pessoas casarem para viver juntas.
Talvez o mais importante para saber se o futuro será inflacionário ou deflacionário, e onde estarão as taxas de juros, seja verificar como as aposentadorias serão financiadas. Para tanto, parte-se da hipótese de que mudanças de preços permitirão à economia encontrar endogenamente um limite para a quantidade da produção global que será absorvida pelos mais idosos. No caso em que a maior parte da renda dos idosos vier de aposentadorias públicas, o peso fiscal de garantir essa renda, refletido na pressão sobre a dívida pública, acabará acomodado por meio da inflação.
No caso em que a renda venha principalmente de ativos poupados explicitamente, a acomodação tenderia a vir de preços e retornos menores dos ativos, e uma taxa de juros baixa, refletindo, como no caso imobiliário, o quanto os mais jovens estarão dispostos a pagar pelo uso do capital acumulado pela geração mais velha.
Esses mecanismos poderão ser influenciados ou postergados por leis que protejam determinados grupos, mas seus efeitos, ainda que incipientes, já devem estar sendo sentidos em todos os mercados financeiros.
Reforma política - ANTONIO DELFIM NETTO
FOLHA DE SP - 23/07
Quando se discute o grave problema da ameaça ao sistema democrático representado pelo financiamento privado das campanhas eleitorais é preciso considerar três fatos preliminares: 1º) não sabemos os efeitos do longo prazo do financiamento público; 2º) é necessário reduzir os seus crescentes custos, o que sugere a utilização de alguma forma de voto distrital, onde o pretendente, além de gastar menos, é submetido a um rígido controle moral e material e, talvez, à ameaça do "recall" e, 3º) é preciso eliminar o "spoil system", onde o vencedor leva as batatas: nomeia milhares de correligionários com competência duvidosa para empregos públicos transitórios.
Todos os partidos (mesmo os que se pensam "virtuosos") têm quadros permanentes que transferem para onde conquistam o poder (federal, estadual ou municipal). Criaram, assim, castas de funcionários flutuantes que, onde desembarcam, comprometem a eficiência, a qualidade e, frequentemente, a honestidade na prestação dos serviços públicos.
Uma leitura fundamental sobre as dificuldades de se construir uma administração pública competente e neutra é "Reforming Bureaucracy" (Knott, J. & Miller, G., 1987). O grande economista russo, Victor Polterovich, escreveu o verbete "Armadilhas Institucionais", do "Novo Dicionário de Economia Palgrave", inspirado nela. Não resisto à tentação de traduzir livremente um pequeno trecho para mostrar o eterno retorno:
"Encontram-se armadilhas institucionais na história de muitos países. Os EUA do século 19 é um exemplo. Entre 1815 e 1840 houve uma intensa modificação política. Deu-se, por exemplo, voto aos não-proprietários, o que é um objetivo saudável. As reformas democráticas tiveram, entretanto, consequências não antecipadas. As máquinas partidárias tornaram-se instrumento de enriquecimento efetivo de alguns de seus chefes. Estes alocavam posições no serviço público para os seus companheiros de campanha, sem nenhuma consideração quando à sua competência ou habilidade. Os trabalhadores de "colarinho branco" eram forçados a contribuir com uma percentagem dos seus salários (e talvez o amealhado na corrupção) para partido político que os nomeara".
O problema terminou quando, sobre a pressão da opinião pública, os escândalos foram explorados pela imprensa independente que sobrevivera.
Não há nada de novo sob o sol! Qualquer semelhança com a situação a que chegamos ano Brasil é, obviamente, pura imitação. O que nos resta é eliminar a atual trajetória eleitoral substituindo-a por um caminho moral, social e econômico mais eficiente para construir a sociedade civilizada ínsita na Constituição de 1988.
Quando se discute o grave problema da ameaça ao sistema democrático representado pelo financiamento privado das campanhas eleitorais é preciso considerar três fatos preliminares: 1º) não sabemos os efeitos do longo prazo do financiamento público; 2º) é necessário reduzir os seus crescentes custos, o que sugere a utilização de alguma forma de voto distrital, onde o pretendente, além de gastar menos, é submetido a um rígido controle moral e material e, talvez, à ameaça do "recall" e, 3º) é preciso eliminar o "spoil system", onde o vencedor leva as batatas: nomeia milhares de correligionários com competência duvidosa para empregos públicos transitórios.
Todos os partidos (mesmo os que se pensam "virtuosos") têm quadros permanentes que transferem para onde conquistam o poder (federal, estadual ou municipal). Criaram, assim, castas de funcionários flutuantes que, onde desembarcam, comprometem a eficiência, a qualidade e, frequentemente, a honestidade na prestação dos serviços públicos.
Uma leitura fundamental sobre as dificuldades de se construir uma administração pública competente e neutra é "Reforming Bureaucracy" (Knott, J. & Miller, G., 1987). O grande economista russo, Victor Polterovich, escreveu o verbete "Armadilhas Institucionais", do "Novo Dicionário de Economia Palgrave", inspirado nela. Não resisto à tentação de traduzir livremente um pequeno trecho para mostrar o eterno retorno:
"Encontram-se armadilhas institucionais na história de muitos países. Os EUA do século 19 é um exemplo. Entre 1815 e 1840 houve uma intensa modificação política. Deu-se, por exemplo, voto aos não-proprietários, o que é um objetivo saudável. As reformas democráticas tiveram, entretanto, consequências não antecipadas. As máquinas partidárias tornaram-se instrumento de enriquecimento efetivo de alguns de seus chefes. Estes alocavam posições no serviço público para os seus companheiros de campanha, sem nenhuma consideração quando à sua competência ou habilidade. Os trabalhadores de "colarinho branco" eram forçados a contribuir com uma percentagem dos seus salários (e talvez o amealhado na corrupção) para partido político que os nomeara".
O problema terminou quando, sobre a pressão da opinião pública, os escândalos foram explorados pela imprensa independente que sobrevivera.
Não há nada de novo sob o sol! Qualquer semelhança com a situação a que chegamos ano Brasil é, obviamente, pura imitação. O que nos resta é eliminar a atual trajetória eleitoral substituindo-a por um caminho moral, social e econômico mais eficiente para construir a sociedade civilizada ínsita na Constituição de 1988.
A clava forte da justiça - OCTÁVIO COSTA
BRASIL ECONÔMICO - 23/07
Para impedir a realização de atos violentos durante a Copa do Mundo, o juiz Flávio Itabaiana de Oliveira Nicolau, da 27ª Vara Criminal do Rio, determinou a prisão preventiva de 23 dos 26 ativistas que são investigados pela polícia desde de junho do ano passado
Há fartas evidências e até gravações que não deixam qualquer dúvida sobre a natureza do movimento. Nos diálogos, são comemorados ataques a tropas de choque e trocam-se informações sobre futuras ações. Algumas conversas, em código, tratam especificamente da compra de combustível para produzir coquetéis molotov. O juiz, portanto, fez o que se esperava: aplicou o Direito para para coibir a afronta às instituições. Alguns parlamentares do PSOL e do PCdoB, porém, viram na decisão abuso de autoridade e entraram com reclamação disciplinar no Conselho Nacional de Justiça. A prisão é arbitrária, dizem.
Entre os signatários da reclamação, estão os experientes Chico Alencar (PSOL-RJ) e Jandira Feghali (PCdoB-RJ), deputados federais que conhecem bem a história e as leis do país. Exatamente por isso, causa estranheza que tenham apresentado queixa ao CNJ, sob a alegação de que houve excesso no pedido de prisão. Habituados a sair em defesa de humilhados e ofendidos, Alencar e Feghali, desta vez, se envolveram numa causa equivocada.
O juiz Flavio Nicolau agiu estritamente dentro dos limites do Direito. Tanto assim que recebeu imediata solidariedade do Tribunal de Justiça e da Associação dos Magistrados do Rio de Janeiro, que divulgaram nota de repúdio aos parlamentares. Amaerj e TJ entendem que o juiz tomou decisão de rotina, dentro do princípio do devido processo legal.
Os nobres deputados, de fato, confundiram alhos com bugalhos. Sempre que chamados, eles entram em campo para defender minorias que têm seus direitos ameaçados. Com a Constituição na mão, sobem à tribuna e encabeçam moções a favor, por exemplo, de índios e de agricultores sem terra. Fiéis às raízes, perfilam-se ao lado da UNE e de movimentos estudantis. Mas, agora, não estão em jogo garantias democráticas ou demandas sociais. Nada disso.
Trata-se de um grupo de ativistas que, desde o ano passado, resolveu dar combate às instituições e ao aparato de segurança pública. Ao fim de manifestações pacíficas, partem para o quebra-quebra e o enfrentamento com a polícia. O motivo do vandalismo é incerto e não sabido. Há quem diga que se inspiram em manuais anarquistas. Aqui do meu lado, um colega diz que são fascistas. Afinal, vestem-se de preto, como os monstros da Gestapo.
A hipótese mais complacente vê traços de anarquismo nos atos de violência praticados por Sininho (Elisa Quadros) e seus colegas de agitação. O objetivo do grupo, no qual há professores e estudantes, é afrontar e desmoralizar o Estado democrático. Trava-se com a polícia uma espécie de guerrilha urbana. Obviamente, o Estado não deixaria sem resposta os ataques e o vandalismo. Cedo ou tarde, iria acionar a principal arma ao seu alcance: a clava forte da Justiça. O que aconteceu. Desde outubro do ano passado, foram abertas investigações. O processo está em andamento e a Justiça concluiu que os envolvidos devem ir para a cadeia, pelo menos preventivamente. Por primários que sejam, os ativistas sabem os crimes que cometeram. Apesar do jogo de cena, seus advogados também sabem.
Para impedir a realização de atos violentos durante a Copa do Mundo, o juiz Flávio Itabaiana de Oliveira Nicolau, da 27ª Vara Criminal do Rio, determinou a prisão preventiva de 23 dos 26 ativistas que são investigados pela polícia desde de junho do ano passado
Há fartas evidências e até gravações que não deixam qualquer dúvida sobre a natureza do movimento. Nos diálogos, são comemorados ataques a tropas de choque e trocam-se informações sobre futuras ações. Algumas conversas, em código, tratam especificamente da compra de combustível para produzir coquetéis molotov. O juiz, portanto, fez o que se esperava: aplicou o Direito para para coibir a afronta às instituições. Alguns parlamentares do PSOL e do PCdoB, porém, viram na decisão abuso de autoridade e entraram com reclamação disciplinar no Conselho Nacional de Justiça. A prisão é arbitrária, dizem.
Entre os signatários da reclamação, estão os experientes Chico Alencar (PSOL-RJ) e Jandira Feghali (PCdoB-RJ), deputados federais que conhecem bem a história e as leis do país. Exatamente por isso, causa estranheza que tenham apresentado queixa ao CNJ, sob a alegação de que houve excesso no pedido de prisão. Habituados a sair em defesa de humilhados e ofendidos, Alencar e Feghali, desta vez, se envolveram numa causa equivocada.
O juiz Flavio Nicolau agiu estritamente dentro dos limites do Direito. Tanto assim que recebeu imediata solidariedade do Tribunal de Justiça e da Associação dos Magistrados do Rio de Janeiro, que divulgaram nota de repúdio aos parlamentares. Amaerj e TJ entendem que o juiz tomou decisão de rotina, dentro do princípio do devido processo legal.
Os nobres deputados, de fato, confundiram alhos com bugalhos. Sempre que chamados, eles entram em campo para defender minorias que têm seus direitos ameaçados. Com a Constituição na mão, sobem à tribuna e encabeçam moções a favor, por exemplo, de índios e de agricultores sem terra. Fiéis às raízes, perfilam-se ao lado da UNE e de movimentos estudantis. Mas, agora, não estão em jogo garantias democráticas ou demandas sociais. Nada disso.
Trata-se de um grupo de ativistas que, desde o ano passado, resolveu dar combate às instituições e ao aparato de segurança pública. Ao fim de manifestações pacíficas, partem para o quebra-quebra e o enfrentamento com a polícia. O motivo do vandalismo é incerto e não sabido. Há quem diga que se inspiram em manuais anarquistas. Aqui do meu lado, um colega diz que são fascistas. Afinal, vestem-se de preto, como os monstros da Gestapo.
A hipótese mais complacente vê traços de anarquismo nos atos de violência praticados por Sininho (Elisa Quadros) e seus colegas de agitação. O objetivo do grupo, no qual há professores e estudantes, é afrontar e desmoralizar o Estado democrático. Trava-se com a polícia uma espécie de guerrilha urbana. Obviamente, o Estado não deixaria sem resposta os ataques e o vandalismo. Cedo ou tarde, iria acionar a principal arma ao seu alcance: a clava forte da Justiça. O que aconteceu. Desde outubro do ano passado, foram abertas investigações. O processo está em andamento e a Justiça concluiu que os envolvidos devem ir para a cadeia, pelo menos preventivamente. Por primários que sejam, os ativistas sabem os crimes que cometeram. Apesar do jogo de cena, seus advogados também sabem.
O 9 de Julho, de Getúlio ao PT - FERNÃO LARA MESQUITA
O ESTADO DE S.PAULO - 23/07
São Paulo comemorou este mês o 82.º aniversário da Revolução Constitucionalista de 1932, que muito pouca gente, neste Estado e no resto do Brasil, sabe o que foi. É impróprio, aliás, usar verbos no passado para tratar deste assunto, pois a luta de 1932, que começara pelo menos 50 anos antes com o Movimento Abolicionista, que desaguou na República e se confunde com a história deste jornal, é exatamente a mesma de hoje.
Gira em torno da seguinte pergunta: onde se quer instalar a sociedade brasileira emancipada, no campo da civilização ou no da barbárie? No Estado de Direito, com a lei igual para todos, ou nas variações do caudilhismo populista, onde fala quem pode e obedece quem tem juízo? Numa meritocracia, em que só a educação e a dedicação no trabalho legitimam a diferença, ou no sistema em que a cooptação e a cumplicidade com a corrupção são os únicos caminhos para o poder e para a afluência?
O Movimento Abolicionista é o primeiro na História do Brasil a surgir nas ruas, não nos palácios, e a tomar o País inteiro numa avassaladora mobilização cívica. Nasceu sob inspiração direta da Revolução Americana. Muitos de seus principais líderes brancos e negros frequentaram as mesmas "lojas maçônicas" lá, nos Estados Unidos, onde a elite do Iluminismo fugida do absolutismo monárquico europeu, regime sob o qual viviam o Brasil e o resto do mundo de então, iniciou o debate que resultaria no desenho das instituições da democracia moderna.
Tratava-se de uma humanidade escaldada por 2 mil anos dormindo sob o risco de sua majestade acordar de mau humor e mandar torturá-la até a morte sem ter de dar explicações a ninguém. Para garantir que nunca mais fosse assim aqueles conspiradores estabeleceram os princípios fundamentais da democracia que até hoje não se instalou por aqui: o império incontestável da lei, inclusive e principalmente sobre os governantes; a vontade popular, democraticamente aferida, como única fonte de legitimação dessa lei, e o mérito no trabalho como única fonte de legitimação do poder econômico; a descentralização do poder para garantir a fiscalização mais direta possível dos representados sobre os representantes, concentrando nos municípios todas as decisões e os serviços públicos que pudessem ser prestados no âmbito deles; nos Estados, apenas as que se referissem aos assuntos que envolvessem mais de um município; e na União, só as que não pudessem ser resolvidos por essas duas instâncias, mais as relações internacionais.
Para reduzir ainda mais o espaço para que as tentações do mando não produzissem os efeitos que sempre produzem no caráter dos homens, determinou-se que cada uma dessas instâncias de governo fosse dividida em três Poderes autônomos e independentes entre si, uns encarregados de fiscalizar os atos dos outros.
Não foi à toa, portanto, que os brasileiros oprimidos que testemunharam esse verdadeiro milagre se tivessem encantado a ponto de dedicar sua vida a fazê-lo acontecer também no Brasil.
Foi em nome desses princípios que nasceu a República. E foi para preservá-los que foram feitas a Revolução de 1930, a Revolução de 1932, a redemocratização de 1945, o contragolpe de 1964 e a redemocratização de 1985.
Getúlio traiu, como Lula, a bandeira da "ética na política", que levou os dois ao poder, em 1930 e em 2002. Getúlio, adiando a convocação de uma Constituinte e nomeando títeres como governadores dos Estados até que São Paulo se levantasse contra a sua ditadura não declarada, em 1932; Lula, aliando-se a todos os "carcomidos" da política, que se elegeu atacando, para se perenizar no poder.
Foram 87 dias de uma guerra desigual contra os Exércitos da União. São Paulo foi derrotado militarmente, mas teve uma vitória moral tão indiscutível que Getúlio, depois de devolver o governo do Estado a lideranças paulistas (na pessoa de Armando Salles de Oliveira), sentiu-se constrangido a convocar finalmente a Constituinte que deu ao Brasil, em 1934, a única Constituição verdadeiramente democrática que o País teve.
Tão democrática que o caudilho não conseguiu conviver com ela e "fechou" o País, em 1937, impondo a sua própria lei e reinstalando a ditadura. Um movimento semelhante ao que o PT repetiu agora com o Decreto 8.243, que segue vigendo, recorde-se, e determina que nossas leis passarão a ser feitas não mais exclusivamente por um Congresso legitimado pelo voto de todos os brasileiros, mas pelos "movimentos sociais" que o partido escolher.
Um dos primeiros atos da ditadura varguista foi queimar cerimonialmente as bandeiras dos Estados da Federação. O PT também trata de centralizar o poder, mas por meio de uma sucessão de medidas provisórias e outros expedientes sub-reptícios que, passo a passo, vão tirando atribuições e fontes de arrecadação dos Estados e municípios, de modo a deixá-los totalmente dependentes da União.
Getúlio fechou o Congresso; o PT subornou o Congresso. Getúlio instalou um Poder Judiciário teleguiado; o PT criou um Poder Judiciário colonizado. Getúlio instituiu o regime em que "para os amigos, (o Estado dava) tudo; para os inimigos, (o Estado aplicava) a lei"; o PT instituiu o sistema dos vazamentos seletivos para a imprensa dos "podres" de seus adversários políticos, verdadeiros ou falsos, de par com as suítes especiais nos presídios para os poucos "amigos" condenados antes da desmontagem do Poder Judiciário. Getúlio criou a indústria de base e a distribuiu entre os "amigos" que financiavam o regime; o PT reverteu a economia democratizada que recebeu na política dos "campeões nacionais" donos de monopólios financiados com dinheiro público, hoje os maiores contribuintes de suas campanhas. Getúlio seduziu o povão com a outorga de direitos sem a contrapartida de deveres; o PT seduziu o povão com os salários sem a contrapartida do trabalho. Getúlio criou os sindicatos pelegos sustentados pelo Estado; Lula e o PT são o produto direto deles.
São Paulo resistiu sozinho a Getúlio; São Paulo vem resistindo quase sozinho ao PT. A luta de 1932, portanto, ainda não acabou. E em outubro próximo haverá mais uma batalha decisiva.
São Paulo comemorou este mês o 82.º aniversário da Revolução Constitucionalista de 1932, que muito pouca gente, neste Estado e no resto do Brasil, sabe o que foi. É impróprio, aliás, usar verbos no passado para tratar deste assunto, pois a luta de 1932, que começara pelo menos 50 anos antes com o Movimento Abolicionista, que desaguou na República e se confunde com a história deste jornal, é exatamente a mesma de hoje.
Gira em torno da seguinte pergunta: onde se quer instalar a sociedade brasileira emancipada, no campo da civilização ou no da barbárie? No Estado de Direito, com a lei igual para todos, ou nas variações do caudilhismo populista, onde fala quem pode e obedece quem tem juízo? Numa meritocracia, em que só a educação e a dedicação no trabalho legitimam a diferença, ou no sistema em que a cooptação e a cumplicidade com a corrupção são os únicos caminhos para o poder e para a afluência?
O Movimento Abolicionista é o primeiro na História do Brasil a surgir nas ruas, não nos palácios, e a tomar o País inteiro numa avassaladora mobilização cívica. Nasceu sob inspiração direta da Revolução Americana. Muitos de seus principais líderes brancos e negros frequentaram as mesmas "lojas maçônicas" lá, nos Estados Unidos, onde a elite do Iluminismo fugida do absolutismo monárquico europeu, regime sob o qual viviam o Brasil e o resto do mundo de então, iniciou o debate que resultaria no desenho das instituições da democracia moderna.
Tratava-se de uma humanidade escaldada por 2 mil anos dormindo sob o risco de sua majestade acordar de mau humor e mandar torturá-la até a morte sem ter de dar explicações a ninguém. Para garantir que nunca mais fosse assim aqueles conspiradores estabeleceram os princípios fundamentais da democracia que até hoje não se instalou por aqui: o império incontestável da lei, inclusive e principalmente sobre os governantes; a vontade popular, democraticamente aferida, como única fonte de legitimação dessa lei, e o mérito no trabalho como única fonte de legitimação do poder econômico; a descentralização do poder para garantir a fiscalização mais direta possível dos representados sobre os representantes, concentrando nos municípios todas as decisões e os serviços públicos que pudessem ser prestados no âmbito deles; nos Estados, apenas as que se referissem aos assuntos que envolvessem mais de um município; e na União, só as que não pudessem ser resolvidos por essas duas instâncias, mais as relações internacionais.
Para reduzir ainda mais o espaço para que as tentações do mando não produzissem os efeitos que sempre produzem no caráter dos homens, determinou-se que cada uma dessas instâncias de governo fosse dividida em três Poderes autônomos e independentes entre si, uns encarregados de fiscalizar os atos dos outros.
Não foi à toa, portanto, que os brasileiros oprimidos que testemunharam esse verdadeiro milagre se tivessem encantado a ponto de dedicar sua vida a fazê-lo acontecer também no Brasil.
Foi em nome desses princípios que nasceu a República. E foi para preservá-los que foram feitas a Revolução de 1930, a Revolução de 1932, a redemocratização de 1945, o contragolpe de 1964 e a redemocratização de 1985.
Getúlio traiu, como Lula, a bandeira da "ética na política", que levou os dois ao poder, em 1930 e em 2002. Getúlio, adiando a convocação de uma Constituinte e nomeando títeres como governadores dos Estados até que São Paulo se levantasse contra a sua ditadura não declarada, em 1932; Lula, aliando-se a todos os "carcomidos" da política, que se elegeu atacando, para se perenizar no poder.
Foram 87 dias de uma guerra desigual contra os Exércitos da União. São Paulo foi derrotado militarmente, mas teve uma vitória moral tão indiscutível que Getúlio, depois de devolver o governo do Estado a lideranças paulistas (na pessoa de Armando Salles de Oliveira), sentiu-se constrangido a convocar finalmente a Constituinte que deu ao Brasil, em 1934, a única Constituição verdadeiramente democrática que o País teve.
Tão democrática que o caudilho não conseguiu conviver com ela e "fechou" o País, em 1937, impondo a sua própria lei e reinstalando a ditadura. Um movimento semelhante ao que o PT repetiu agora com o Decreto 8.243, que segue vigendo, recorde-se, e determina que nossas leis passarão a ser feitas não mais exclusivamente por um Congresso legitimado pelo voto de todos os brasileiros, mas pelos "movimentos sociais" que o partido escolher.
Um dos primeiros atos da ditadura varguista foi queimar cerimonialmente as bandeiras dos Estados da Federação. O PT também trata de centralizar o poder, mas por meio de uma sucessão de medidas provisórias e outros expedientes sub-reptícios que, passo a passo, vão tirando atribuições e fontes de arrecadação dos Estados e municípios, de modo a deixá-los totalmente dependentes da União.
Getúlio fechou o Congresso; o PT subornou o Congresso. Getúlio instalou um Poder Judiciário teleguiado; o PT criou um Poder Judiciário colonizado. Getúlio instituiu o regime em que "para os amigos, (o Estado dava) tudo; para os inimigos, (o Estado aplicava) a lei"; o PT instituiu o sistema dos vazamentos seletivos para a imprensa dos "podres" de seus adversários políticos, verdadeiros ou falsos, de par com as suítes especiais nos presídios para os poucos "amigos" condenados antes da desmontagem do Poder Judiciário. Getúlio criou a indústria de base e a distribuiu entre os "amigos" que financiavam o regime; o PT reverteu a economia democratizada que recebeu na política dos "campeões nacionais" donos de monopólios financiados com dinheiro público, hoje os maiores contribuintes de suas campanhas. Getúlio seduziu o povão com a outorga de direitos sem a contrapartida de deveres; o PT seduziu o povão com os salários sem a contrapartida do trabalho. Getúlio criou os sindicatos pelegos sustentados pelo Estado; Lula e o PT são o produto direto deles.
São Paulo resistiu sozinho a Getúlio; São Paulo vem resistindo quase sozinho ao PT. A luta de 1932, portanto, ainda não acabou. E em outubro próximo haverá mais uma batalha decisiva.
Estabilidade enganosa - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 23/07
A boa notícia para a presidente Dilma que a pesquisa do Ibope Inteligência, feita a pedido da TV Globo e do jornal O Estado de São Paulo , traz é a estabilidade da corrida presidencial, embora sua tendência de queda tenha sido registrada, assim como o crescimento da candidatura oposicionista de Aécio Neves, ambas dentro da margem de erro.
Os indícios de que o futuro não guarda boas notícias para a incumbente estão, porém, registrados na pesquisa, assim como o noticiário econômico reforça a ideia de que ela não tem boas notícias daqui até a eleição. O fato de o próprio governo já estar admitindo uma inflação mais alta, próxima do teto da meta de 6,5% no ano, e o crescimento mais baixo, de 1,9%, já indica que dificilmente a situação econômica ajudará o projeto de reeleição.
A perspectiva de que entremos em uma recessão técnica, com dois trimestres negativos, é uma realidade que o governo terá que enfrentar. Esses dados têm como consequência a má avaliação do governo Dilma, com apenas 31% dos eleitores considerando-o bom ou ótimo, quando as pesquisas mostram que dificilmente um candidato à reeleição consegue êxito se tem avaliação de ótimo e bom abaixo de 35%.
A situação para um eventual 2º turno, que a pesquisa do Ibope indica ser provável, mostra Dilma com uma distância pequena, mas consistente, contra seu principal adversário, o candidato tucano Aécio Neves.
Melhor situação que o empate técnico apontado pelas pesquisas do Datafolha e do Sensus, mas sendo reduzida ao longo da campanha. Todos os gráficos mostram um crescimento dos oposicionistas e um decréscimo da presidente. Ela é escolhida por 41% dos eleitores, enquanto o candidato do PSDB recebe 33%. É sintomático que Dilma cresça apenas três pontos em relação ao 1º turno, e que Aécio acrescente 11 pontos percentuais. Até o candidato do PSB Eduardo Campos, que não cresce na pesquisa do 1º turno, na simulação de um 2º turno contra Dilma aumenta incríveis 20 pontos percentuais, enquanto Dilma fica nos mesmos 41%.
A resiliência de Dilma é uma força de sua candidatura. Independentemente de em quem irão votar, o Ibope constatou que mais da metade dos eleitores (54%) acredita na reeleição. Isso não impede que Dilma continue sendo a candidata mais rejeitada de todos os que concorrem à Presidência. Tem 36% de rejeição, contra 16% de Aécio e 8% de Campos.
A maneira como Dilma está governando o país é desaprovada por metade (50%) dos eleitores, e aprovada por 44%. São números que mostram uma estabilidade enganosa, mas destacam também a dificuldade que os candidatos de oposição estão tendo para convencer que são capazes de realizar as mudanças desejadas por nada menos que 70% dos eleitores.
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O tal mercado
A propósito da coluna que escrevi recentemente sobre a influência dos mercados na política e vice-versa, recebi do cientista político Nelson Paes Leme interessantes comentários que podem esclarecer melhor os leitores. Mercado e democracia sempre andaram juntos desde os primórdios da civilização. Era no Ágora grego, no Século de Péricles, onde se discutiam as grandes questões econômicas, filosóficas e sociais. É tão forte essa relação entre democracia e mercado que esse fenômeno se intensifica depois nas praças medievais florentinas, genovesas e venezianas e avança pela Renascença.
Quem viaja a Bruges, no antigo condado de Flandres, atual Bélgica, ou a Fribourg, na Suíça, pode ainda visitar sempre a ´praça do mercado´, precursora das bolsas de valores e das assembleias legislativas, como em inúmeras outras cidades medievais da Europa.
Era lá, na praça, onde se discutia política, economia e finanças, simultaneamente com o pregão que depois vai, comportadamente, para dentro das bolsas de valores. Até hoje, no cantão de Appenzell, na Suíça, vota-se na praça as grandes questões administrativas, financeiras e econômicas cantonais.
Os termos ´cheque desta praça´ e ´quebrar a banca´ vêm desse momento muito rico. Neste último caso, o conjunto dos comerciantes e mercadores, com o placet popular, literalmente ´quebravam´, em público, a banca do comerciante que não cumpria com seus compromissos, como emblema de que ali, naquela praça, não mais poderia vender suas mercadorias. Daí vem o termo ´quebrar´ para designar ´falir´, utilizado até os nossos dias.
Na hora do aperto - DORA KRAMER
O ESTADO DE S.PAULO - 23/07
Uma grande reunião estava marcada para o final da tarde de ontem, no Palácio da Alvorada, com todos os partidos aliados para discutir os rumos da campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff.
Os jornais de hoje naturalmente trazem os resultados. Antes de entrarmos no mérito, cumpre mais uma vez apontar o demérito da questão: o governo continua a usar dependências oficiais para fins eleitorais sem ser legalmente admoestado.
Vai ver em algum momento revogaram-se as disposições em vigor e não fomos avisados de que já é permitido a todos nos locupletarmos. De qualquer modo, melhor andar na linha ainda que governantes não o façam.
O toque de reunir da presidente à sua tropa não quer dizer que o PT pretenda transferir nem dividir com os parceiros (PMDB, PDT, PC do B, PSD, PRB, PROS e PRB) o comando da campanha. As decisões fundamentais continuam nas mãos do núcleo original: Lula, Rui Falcão, Edinho Silva, Franklin Martins, João Santana e Gilles Azevedo.
Portanto, de fundamental seguramente nada de novo surgiu naquele front. A razão do chamamento é a necessidade de manter unida a tropa, ou o que resta dela. Até agora era relegada a um plano totalmente subalterno.
Mas, como a coisa começa a ficar muito apertada, e não só nas pesquisas, mas no mundo bastante real da economia em que o governo um eterno otimista já vê sinais de recessão, um dos jeitos é recorrer aos parceiros para pedir socorro. Legítimo, pois não seria aos inimigos que o governo poderia apelar.
Há um detalhe de ordem prática, porém: Talvez seja um pouco tarde. Não do ponto de vista dos caciques, os líderes que se reuniram ontem com a presidente no Alvorada. Com certeza saíram de lá respondendo ao toque de reunir com discurso de ordem unida.
O problema está nas bases. Estão fazendo o que bem entendem, conforme pudemos observar pela peculiar mescla de alianças. Consequência da lei eleitoral permissiva, da fragilidade dos partidos, mas também - e muito provavelmente, sobretudo - do tratamento recebido nos últimos anos.
Da presidente em particular e do PT em geral. Na época em que se começou a conversar sobre a formação de alianças nos Estados Dilma não estava nessa situação em termos de avaliação popular. Sua popularidade estava em queda (desde o ano passado), mas a oposição ainda não havia dado sinal de vida.
Com a situação relativamente tranquila no plano federal, o PT tratou de se garantir no âmbito estadual que é de onde sai a formação do Congresso. Precisava eleger muitos deputados federais e o maior número possível de senadores para "quebrar" a força no PMDB no Parlamento.
Movimento mais que legítimo, porém. Ocorre que o PMDB achou por bem reagir em legítima defesa quando foi esnobado (assim como vários outros partidos da aliança) pelo PT que decidiu lançar candidatos próprios aos governos dos Estados onde os aliados reivindicavam o apoio como contrapartida ao tempo de televisão dado à candidatura de Dilma.
Isso provocou a dispersão dos parceiros que se aproximaram da oposição no plano regional. Exemplo mais vistoso é o do Rio de Janeiro. O PMDB pediu que o PT não lançasse candidato; depois passou a exigir e, em seguida, ameaçou romper. A seção fluminense não conseguiu desfazer a aliança nacional, mas pede votos de maneira aberta para Aécio Neves.
Em São Paulo agora o PT quer propor um acordo ao PMDB para que o partido ajude Dilma "para valer". Mas isso só depois que o candidato do partido, Paulo Skaf, ficou numa posição muito melhor que a de Alexandre Padilha do PT.
Tais apelos devem se repetir em outras localidades onde haja os tais palanques duplos, triplos ou múltiplos. Em 2010, aliados nessa situação foram abandonados pelo PT no curso da campanha. Agora são eles que decidem se relevam ou se devolvem o menosprezo.
Uma grande reunião estava marcada para o final da tarde de ontem, no Palácio da Alvorada, com todos os partidos aliados para discutir os rumos da campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff.
Os jornais de hoje naturalmente trazem os resultados. Antes de entrarmos no mérito, cumpre mais uma vez apontar o demérito da questão: o governo continua a usar dependências oficiais para fins eleitorais sem ser legalmente admoestado.
Vai ver em algum momento revogaram-se as disposições em vigor e não fomos avisados de que já é permitido a todos nos locupletarmos. De qualquer modo, melhor andar na linha ainda que governantes não o façam.
O toque de reunir da presidente à sua tropa não quer dizer que o PT pretenda transferir nem dividir com os parceiros (PMDB, PDT, PC do B, PSD, PRB, PROS e PRB) o comando da campanha. As decisões fundamentais continuam nas mãos do núcleo original: Lula, Rui Falcão, Edinho Silva, Franklin Martins, João Santana e Gilles Azevedo.
Portanto, de fundamental seguramente nada de novo surgiu naquele front. A razão do chamamento é a necessidade de manter unida a tropa, ou o que resta dela. Até agora era relegada a um plano totalmente subalterno.
Mas, como a coisa começa a ficar muito apertada, e não só nas pesquisas, mas no mundo bastante real da economia em que o governo um eterno otimista já vê sinais de recessão, um dos jeitos é recorrer aos parceiros para pedir socorro. Legítimo, pois não seria aos inimigos que o governo poderia apelar.
Há um detalhe de ordem prática, porém: Talvez seja um pouco tarde. Não do ponto de vista dos caciques, os líderes que se reuniram ontem com a presidente no Alvorada. Com certeza saíram de lá respondendo ao toque de reunir com discurso de ordem unida.
O problema está nas bases. Estão fazendo o que bem entendem, conforme pudemos observar pela peculiar mescla de alianças. Consequência da lei eleitoral permissiva, da fragilidade dos partidos, mas também - e muito provavelmente, sobretudo - do tratamento recebido nos últimos anos.
Da presidente em particular e do PT em geral. Na época em que se começou a conversar sobre a formação de alianças nos Estados Dilma não estava nessa situação em termos de avaliação popular. Sua popularidade estava em queda (desde o ano passado), mas a oposição ainda não havia dado sinal de vida.
Com a situação relativamente tranquila no plano federal, o PT tratou de se garantir no âmbito estadual que é de onde sai a formação do Congresso. Precisava eleger muitos deputados federais e o maior número possível de senadores para "quebrar" a força no PMDB no Parlamento.
Movimento mais que legítimo, porém. Ocorre que o PMDB achou por bem reagir em legítima defesa quando foi esnobado (assim como vários outros partidos da aliança) pelo PT que decidiu lançar candidatos próprios aos governos dos Estados onde os aliados reivindicavam o apoio como contrapartida ao tempo de televisão dado à candidatura de Dilma.
Isso provocou a dispersão dos parceiros que se aproximaram da oposição no plano regional. Exemplo mais vistoso é o do Rio de Janeiro. O PMDB pediu que o PT não lançasse candidato; depois passou a exigir e, em seguida, ameaçou romper. A seção fluminense não conseguiu desfazer a aliança nacional, mas pede votos de maneira aberta para Aécio Neves.
Em São Paulo agora o PT quer propor um acordo ao PMDB para que o partido ajude Dilma "para valer". Mas isso só depois que o candidato do partido, Paulo Skaf, ficou numa posição muito melhor que a de Alexandre Padilha do PT.
Tais apelos devem se repetir em outras localidades onde haja os tais palanques duplos, triplos ou múltiplos. Em 2010, aliados nessa situação foram abandonados pelo PT no curso da campanha. Agora são eles que decidem se relevam ou se devolvem o menosprezo.
A economia e a eleição - FERNANDO RODRIGUES
FOLHA DE SP - 23/07
BRASÍLIA - O noticiário está inundado de informações negativas sobre a economia brasileira. O país vai crescer em 2014 menos do que em 2013. O Brasil terá, de novo, um desempenho pior que o de vários vizinhos sul-americanos.
A oposição está salivando. O cenário negativo abre uma janela pela qual pode ser empurrado o PT para fora do poder. O governo reage. Reconhece erros e promete um 2015 diferente --sempre com um substrato de medo no discurso do Planalto: se não está muito bom agora, uma troca de forças na administração representará um período de paralisia até o novo presidente tomar pé das coisas.
É impossível saber qual narrativa prevalecerá na cabeça do eleitor no primeiro domingo de outubro. Tudo dependerá da percepção geral dos brasileiros sobre como de fato está a economia.
A história de eleições presidenciais é farta de exemplos de todos os tipos. Em 1992, a economia dos Estados Unidos patinava. O então presidente George Bush (o pai) havia tomado muitas medidas necessárias para corrigir os rumos. Não adiantou. O humor do eleitor norte-americano estava deteriorado. O candidato de oposição Bill Clinton venceu --a economia deslanchou quando ele tomou posse muito por conta do trabalho deixado pelo seu antecessor.
Em 1998, o Brasil estava quase quebrado. O real sobrevivia artificialmente ancorado ao dólar. Era insustentável. Só que os eleitores não viam assim. Pensavam ainda no fantasma da hiperinflação. O então presidente Fernando Henrique Cardoso foi reeleito. Ao tomar posse de seu segundo mandato, em 1999, tentou segurar moeda brasileira com um sistema esdrúxulo chamado banda diagonal endógena. Deu tudo errado. A economia atolou no brejo, mas FHC já estava reeleito.
O sucesso de Dilma agora depende de ela conseguir ser mais FHC-1998 e menos Bush-1992. É possível. Só não é simples.
BRASÍLIA - O noticiário está inundado de informações negativas sobre a economia brasileira. O país vai crescer em 2014 menos do que em 2013. O Brasil terá, de novo, um desempenho pior que o de vários vizinhos sul-americanos.
A oposição está salivando. O cenário negativo abre uma janela pela qual pode ser empurrado o PT para fora do poder. O governo reage. Reconhece erros e promete um 2015 diferente --sempre com um substrato de medo no discurso do Planalto: se não está muito bom agora, uma troca de forças na administração representará um período de paralisia até o novo presidente tomar pé das coisas.
É impossível saber qual narrativa prevalecerá na cabeça do eleitor no primeiro domingo de outubro. Tudo dependerá da percepção geral dos brasileiros sobre como de fato está a economia.
A história de eleições presidenciais é farta de exemplos de todos os tipos. Em 1992, a economia dos Estados Unidos patinava. O então presidente George Bush (o pai) havia tomado muitas medidas necessárias para corrigir os rumos. Não adiantou. O humor do eleitor norte-americano estava deteriorado. O candidato de oposição Bill Clinton venceu --a economia deslanchou quando ele tomou posse muito por conta do trabalho deixado pelo seu antecessor.
Em 1998, o Brasil estava quase quebrado. O real sobrevivia artificialmente ancorado ao dólar. Era insustentável. Só que os eleitores não viam assim. Pensavam ainda no fantasma da hiperinflação. O então presidente Fernando Henrique Cardoso foi reeleito. Ao tomar posse de seu segundo mandato, em 1999, tentou segurar moeda brasileira com um sistema esdrúxulo chamado banda diagonal endógena. Deu tudo errado. A economia atolou no brejo, mas FHC já estava reeleito.
O sucesso de Dilma agora depende de ela conseguir ser mais FHC-1998 e menos Bush-1992. É possível. Só não é simples.
De volta ao clima ruim - ZUENIR VENTURA
O GLOBO - 23/07
Violência é tentativa de desmoralizar política de pacificação às vésperas das eleições, cabendo aos candidatos a responsabilidade de ajudar a fortalecer o projeto
No atacado e no varejo, o crime voltou a agir, se é que algum dia deixou de fazê-lo, mas é que durante a Copa houve uma espécie de trégua. A partir da semana passada, porém, os bandidos realizaram vários tipos de ação violenta, algumas ousadas, como o incêndio do trailer de uma UPP no Morro do Alemão, onde um soldado da PM foi baleado. Esse recrudescimento é uma tentativa de desmoralizar a política de pacificação às vésperas das eleições, cabendo aos candidatos a responsabilidade de, com suas propostas, ajudar a fortalecer um projeto que ainda é a melhor solução para o problema.
Se no atacado os moradores de toda uma comunidade se sentiram ameaçados, no varejo dos pequenos assaltos de rua e das saidinhas de banco o caso mais traumático foi o assassinato da sócia do restaurante Guimas, na Praça Santos Dumont, na Gávea.
Maria Cristina Bettencourt Mascarenhas, a Tintim, sai de uma agência bancária carregando uma bolsa com R$ 13 mil, para junto à barraca de um camelô, uma moto com dois homens se aproxima, um deles desce, puxa a bolsa com o dinheiro, ela tenta segurar e leva uma gravata. O assaltante poderia dar-lhe um empurrão, e ela cairia. Afinal, era uma senhora de 66 anos. Ou então um tiro no braço ou na perna, se quisesse demonstrar seu poder de fogo. Mas não, ele quis exibir toda sua gratuita maldade: atirou na cabeça, sem precisar. Tudo isso à uma da tarde, num local movimentado, a menos de 300 metros do seu restaurante. Joaquim Ferreira dos Santos almoçava no Guimas àquela hora e, ao sair, passou pelo local do crime, vendo ainda o corpo estendido no chão. A cena inspirou-lhe uma sentida crônica, “O último quintal”, que terminava assim: “A Gávea tinha mudado para sempre. Não havia mais quintal, mas a barbárie e o horror.”
A professora Vera de Paula e o cineasta Zelito Viana tiveram mais sorte — e essa é a trágica ironia. Quando você sai vivo, quase se sente na obrigação de agradecer aos assaltantes. No dia seguinte à morte de Tintim, a residência do casal foi assaltada pela quarta vez. “A primeira foi pior”, e isso agora lhes deu calma para conversar com os dois quase meninos, pelo menos até serem amarrados e amordaçados, com a empregada e a secretária da empresa do marido, que funciona em casa. “Você é uma coroa abusada”, disse um deles, perguntando: “Já passou fome?” “Não, mas sempre lutei para que as pessoas não passassem.” De fato, Vera trabalhou num órgão de ações socioeducativas para jovens infratores, e chegou a pensar: “Será que não conheci esses meninos lá?”
Justiça seja feita, eles não cometeram violência, se se pode dizer assim. E insistiam em enfatizar: “Não estamos fazendo nada.” Ao contrário do covarde assassino de Tintim, esses eram bandidos “civilizados”.
Violência é tentativa de desmoralizar política de pacificação às vésperas das eleições, cabendo aos candidatos a responsabilidade de ajudar a fortalecer o projeto
No atacado e no varejo, o crime voltou a agir, se é que algum dia deixou de fazê-lo, mas é que durante a Copa houve uma espécie de trégua. A partir da semana passada, porém, os bandidos realizaram vários tipos de ação violenta, algumas ousadas, como o incêndio do trailer de uma UPP no Morro do Alemão, onde um soldado da PM foi baleado. Esse recrudescimento é uma tentativa de desmoralizar a política de pacificação às vésperas das eleições, cabendo aos candidatos a responsabilidade de, com suas propostas, ajudar a fortalecer um projeto que ainda é a melhor solução para o problema.
Se no atacado os moradores de toda uma comunidade se sentiram ameaçados, no varejo dos pequenos assaltos de rua e das saidinhas de banco o caso mais traumático foi o assassinato da sócia do restaurante Guimas, na Praça Santos Dumont, na Gávea.
Maria Cristina Bettencourt Mascarenhas, a Tintim, sai de uma agência bancária carregando uma bolsa com R$ 13 mil, para junto à barraca de um camelô, uma moto com dois homens se aproxima, um deles desce, puxa a bolsa com o dinheiro, ela tenta segurar e leva uma gravata. O assaltante poderia dar-lhe um empurrão, e ela cairia. Afinal, era uma senhora de 66 anos. Ou então um tiro no braço ou na perna, se quisesse demonstrar seu poder de fogo. Mas não, ele quis exibir toda sua gratuita maldade: atirou na cabeça, sem precisar. Tudo isso à uma da tarde, num local movimentado, a menos de 300 metros do seu restaurante. Joaquim Ferreira dos Santos almoçava no Guimas àquela hora e, ao sair, passou pelo local do crime, vendo ainda o corpo estendido no chão. A cena inspirou-lhe uma sentida crônica, “O último quintal”, que terminava assim: “A Gávea tinha mudado para sempre. Não havia mais quintal, mas a barbárie e o horror.”
A professora Vera de Paula e o cineasta Zelito Viana tiveram mais sorte — e essa é a trágica ironia. Quando você sai vivo, quase se sente na obrigação de agradecer aos assaltantes. No dia seguinte à morte de Tintim, a residência do casal foi assaltada pela quarta vez. “A primeira foi pior”, e isso agora lhes deu calma para conversar com os dois quase meninos, pelo menos até serem amarrados e amordaçados, com a empregada e a secretária da empresa do marido, que funciona em casa. “Você é uma coroa abusada”, disse um deles, perguntando: “Já passou fome?” “Não, mas sempre lutei para que as pessoas não passassem.” De fato, Vera trabalhou num órgão de ações socioeducativas para jovens infratores, e chegou a pensar: “Será que não conheci esses meninos lá?”
Justiça seja feita, eles não cometeram violência, se se pode dizer assim. E insistiam em enfatizar: “Não estamos fazendo nada.” Ao contrário do covarde assassino de Tintim, esses eram bandidos “civilizados”.
Radicais de rua: crime não político - ALOÍSIO DE TOLEDO CÉSAR
O ESTADO DE S.PAULO -23/07
Crime político, sim, crime político. Aqueles radicais de rua do Rio de Janeiro que jogaram bombas, coquetéis molotov, contra policiais, assassinaram um cinegrafista da TV Bandeirantes, quiseram incendiar a Câmara Municipal, arrebentaram bancos e outras propriedades privadas, com a maior caradura, pretendem que os seus crimes sejam considerados políticos.
Enfim, a exemplo daquele homicida sem nenhum escrúpulo chamado Cesare Battisti, pretendem que seus atos criminosos sejam reconhecidos como crimes políticos, na esperança, talvez, de que surja outra pessoa inculta, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para escandalizar o País e absolvê-los. Chegaram ao extremo de pedir asilo ao Uruguai, como se fosse usual asilar criminosos comuns, que naquele país certamente também estariam na cadeia.
A diferença que se procura fazer entre crime comum e crime político não é muito diferente daquela que se faz entre blenorragia e gonorreia. São a mesma coisa. Sempre que a ordem jurídica é violada por uma conduta tipificada, prevista na legislação penal, configura-se a ocorrência de crime.
A adjetivação que se dá - seja passional, hediondo, político ou outros - vai ao gosto do freguês e não apaga a conduta criminosa nem os efeitos danosos ao patrimônio público e pessoal, ou até mesmo ao Estado. É verdade que a Constituição de 1988 selecionou algumas espécies de delitos reconhecendo a sua criminalização, como os hediondos, o tráfico ilícito de entorpecentes, o terrorismo e a tortura, com a ressalva de serem eles inafiançáveis e insusceptíveis de graça ou anistia.
A prática de racismo e a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado democrático são igualmente consideradas crimes inafiançáveis e imprescritíveis. Porém a mesma Carta Magna de 1988 mencionou a figura dos crimes políticos e de responsabilidade, sem, no entanto, conceituá-los ou defini-los, de tal forma que cabe aos intérpretes e doutrinadores fazê-lo diante do caso concreto.
Não se haverá de admitir que alguém, além dos parlamentares radicais do PSOL, possa entender que matar, fabricar e atirar bombas, arrebentar e destruir o patrimônio público sejam considerados crimes políticos. O juiz carioca com competência para julgamento do processo envolvendo aqueles radicais, tristemente jovens e sem miolo, entendeu, com razão, ser inaceitável a tentativa que se faz de politizar a decisão judicial, tendo em vista tratar-se de crimes corriqueiros, previstos pela legislação penal.
Os professores da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco sempre entenderam que crime político é aquele capaz de lesar a soberania, a integridade, a estrutura constitucional ou o regime político do País. Essa conceituação pode variar conforme o doutrinador, mas, sem nenhuma dúvida, o ato de baderna, de atirar bombas contra policiais, cometer homicídio com o uso de rojões não será jamais reconhecido como crime político.
Como a Constituição federal, no artigo 4.º, proclama o seu repúdio ao terrorismo, atos de feição terrorista não poderão jamais alcançar a qualificação de políticos, nem se prestar a livrar da pena criminosos comuns, como o caso dos radicais do Rio de Janeiro. A tentativa de ver admitidos como políticos os crimes praticados por aquele grupo é um ato de esperteza e tem o claro propósito de livrá-los das penas, como se isso fosse possível.
Com a adoção de princípios liberais pelos Estados modernos, nos séculos 18 e 19, verificou-se a tendência de uma Justiça mais indulgente, com a previsão de um sistema penitenciário de feição profilática, corretiva, disciplinadora e punitiva. Essa foi uma tentativa de oferecer alternativa à pena de morte, que vigorava antes dos juristas iluministas, como Beccaria. Assim, ao invés do crime de lesa-majestade, pouco abrangente e impreciso, surgiu a figura do crime político, mais compatível com a complacência da sociedade moderna.
Essa complacência, na maioria dos casos, costuma assumir a feição de impunidade e leva à repetição, em progressão geométrica, dos delitos. Assim, os baderneiros da atualidade, na medida em que percebem a ausência de punição para os delitos praticados, assumem repetidamente a mesma conduta delitiva, com enorme desprezo pelo sistema de segurança.
Exemplo disso está no movimento dessas infelizes pessoas chamadas de "sem-teto" que servem de massa de manobra para políticos espertos, os quais as usam com claros propósitos de alcançar notoriedade. Sim, em São Paulo os mais necessitados, sem se darem conta disso, são usados por esses políticos para obstruir as ruas e estradas da cidade e, dessa forma, chamar a atenção.
Essas pessoas chegaram ao extremo de alegar que fazem o movimento de obstruir as ruas porque os sinais de telefonia celular estão muito ruins. Ou seja, acabam substituindo o propósito inicial de obter moradia por outros temas de interesse de espertalhões, mas certamente não delas. A exemplo dos sem-terra arregimentados por políticos, décadas atrás, alcançam notoriedade, mas não a necessária atenção do Estado e da Prefeitura.
O lado grave desses movimentos está na violação do direito das maiorias, que ficam privadas de transporte e de trabalho. Enfim, sofrem prejuízos crescentes. Todos os dias se vê que a liberdade de expressão desses grupos não se restringe ao direito de manifestarem seu inconformismo, ultrapassando, ao contrário, os limites da tolerância.
O ideal é que continuem a exprimir as suas discordâncias sem a violência representada por interromper o trânsito e causar prejuízos a pessoas e empresas. Ainda não foi possível entender as razões por que os órgãos paulistas de segurança até o momento não fixaram esses limites. Até mesmo porque isso pode e deve ser feito sem a menor violência.
Crime político, sim, crime político. Aqueles radicais de rua do Rio de Janeiro que jogaram bombas, coquetéis molotov, contra policiais, assassinaram um cinegrafista da TV Bandeirantes, quiseram incendiar a Câmara Municipal, arrebentaram bancos e outras propriedades privadas, com a maior caradura, pretendem que os seus crimes sejam considerados políticos.
Enfim, a exemplo daquele homicida sem nenhum escrúpulo chamado Cesare Battisti, pretendem que seus atos criminosos sejam reconhecidos como crimes políticos, na esperança, talvez, de que surja outra pessoa inculta, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para escandalizar o País e absolvê-los. Chegaram ao extremo de pedir asilo ao Uruguai, como se fosse usual asilar criminosos comuns, que naquele país certamente também estariam na cadeia.
A diferença que se procura fazer entre crime comum e crime político não é muito diferente daquela que se faz entre blenorragia e gonorreia. São a mesma coisa. Sempre que a ordem jurídica é violada por uma conduta tipificada, prevista na legislação penal, configura-se a ocorrência de crime.
A adjetivação que se dá - seja passional, hediondo, político ou outros - vai ao gosto do freguês e não apaga a conduta criminosa nem os efeitos danosos ao patrimônio público e pessoal, ou até mesmo ao Estado. É verdade que a Constituição de 1988 selecionou algumas espécies de delitos reconhecendo a sua criminalização, como os hediondos, o tráfico ilícito de entorpecentes, o terrorismo e a tortura, com a ressalva de serem eles inafiançáveis e insusceptíveis de graça ou anistia.
A prática de racismo e a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado democrático são igualmente consideradas crimes inafiançáveis e imprescritíveis. Porém a mesma Carta Magna de 1988 mencionou a figura dos crimes políticos e de responsabilidade, sem, no entanto, conceituá-los ou defini-los, de tal forma que cabe aos intérpretes e doutrinadores fazê-lo diante do caso concreto.
Não se haverá de admitir que alguém, além dos parlamentares radicais do PSOL, possa entender que matar, fabricar e atirar bombas, arrebentar e destruir o patrimônio público sejam considerados crimes políticos. O juiz carioca com competência para julgamento do processo envolvendo aqueles radicais, tristemente jovens e sem miolo, entendeu, com razão, ser inaceitável a tentativa que se faz de politizar a decisão judicial, tendo em vista tratar-se de crimes corriqueiros, previstos pela legislação penal.
Os professores da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco sempre entenderam que crime político é aquele capaz de lesar a soberania, a integridade, a estrutura constitucional ou o regime político do País. Essa conceituação pode variar conforme o doutrinador, mas, sem nenhuma dúvida, o ato de baderna, de atirar bombas contra policiais, cometer homicídio com o uso de rojões não será jamais reconhecido como crime político.
Como a Constituição federal, no artigo 4.º, proclama o seu repúdio ao terrorismo, atos de feição terrorista não poderão jamais alcançar a qualificação de políticos, nem se prestar a livrar da pena criminosos comuns, como o caso dos radicais do Rio de Janeiro. A tentativa de ver admitidos como políticos os crimes praticados por aquele grupo é um ato de esperteza e tem o claro propósito de livrá-los das penas, como se isso fosse possível.
Com a adoção de princípios liberais pelos Estados modernos, nos séculos 18 e 19, verificou-se a tendência de uma Justiça mais indulgente, com a previsão de um sistema penitenciário de feição profilática, corretiva, disciplinadora e punitiva. Essa foi uma tentativa de oferecer alternativa à pena de morte, que vigorava antes dos juristas iluministas, como Beccaria. Assim, ao invés do crime de lesa-majestade, pouco abrangente e impreciso, surgiu a figura do crime político, mais compatível com a complacência da sociedade moderna.
Essa complacência, na maioria dos casos, costuma assumir a feição de impunidade e leva à repetição, em progressão geométrica, dos delitos. Assim, os baderneiros da atualidade, na medida em que percebem a ausência de punição para os delitos praticados, assumem repetidamente a mesma conduta delitiva, com enorme desprezo pelo sistema de segurança.
Exemplo disso está no movimento dessas infelizes pessoas chamadas de "sem-teto" que servem de massa de manobra para políticos espertos, os quais as usam com claros propósitos de alcançar notoriedade. Sim, em São Paulo os mais necessitados, sem se darem conta disso, são usados por esses políticos para obstruir as ruas e estradas da cidade e, dessa forma, chamar a atenção.
Essas pessoas chegaram ao extremo de alegar que fazem o movimento de obstruir as ruas porque os sinais de telefonia celular estão muito ruins. Ou seja, acabam substituindo o propósito inicial de obter moradia por outros temas de interesse de espertalhões, mas certamente não delas. A exemplo dos sem-terra arregimentados por políticos, décadas atrás, alcançam notoriedade, mas não a necessária atenção do Estado e da Prefeitura.
O lado grave desses movimentos está na violação do direito das maiorias, que ficam privadas de transporte e de trabalho. Enfim, sofrem prejuízos crescentes. Todos os dias se vê que a liberdade de expressão desses grupos não se restringe ao direito de manifestarem seu inconformismo, ultrapassando, ao contrário, os limites da tolerância.
O ideal é que continuem a exprimir as suas discordâncias sem a violência representada por interromper o trânsito e causar prejuízos a pessoas e empresas. Ainda não foi possível entender as razões por que os órgãos paulistas de segurança até o momento não fixaram esses limites. Até mesmo porque isso pode e deve ser feito sem a menor violência.
Economia não precisa de medidas salvadoras - EDITORIAL O GLOBO
O GLOBO - 23/07
Os índices mais recentes mostram a inflação menos vigorosa, mas dentro num cenário de desaceleração que pode motivar pirotecnias de efeito eleitoral
Acumulada em doze meses, a inflação para os consumidores, medida pelo IPCA-15 (índice que serve como uma prévia para a variação que o IBGE apura no mês cheio), ficou em 6,51%. Acima do teto da meta, portanto. Mas, considerando-se apenas o percentual mensal, limitou-se a 0,17%.
Já era esperado que os alimentos dessem uma contribuição para o recuo da inflação nesse período do ano, porém outros itens também vêm colaborando, o que é positivo. A política monetária restritiva, com juros básicos elevados para o patamar de 11% ao ano, está funcionando, ao que tudo indica.
O outro lado da moeda é que o ritmo da atividade econômica desacelerou. Os prognósticos do mercado financeiro apontam para um crescimento abaixo de 1% em 2014.
Tratando-se de um ano eleitoral, o governo pode se sentir tentado a recorrer a pirotecnias, para ostentar um resultado melhor e não ser criticado pelos adversários por erros cometidos anteriormente na condução da política econômica. Medidas “salvadoras”, na atual conjuntura, podem reacender a fogueira (já incandescente) da inflação e ainda pôr a perder ajustes feitos até aqui e que serão úteis para recuperação da economia a partir do ano que vem.
Mesmo com baixo crescimento, a economia brasileira vem convivendo com níveis baixos de desemprego e manutenção da massa salarial. É um trunfo que o governo tem em mãos. Para que a economia retorne ao caminho da recuperação, será preciso reconquistar a confiança dos que produzem, investem, poupam e consomem. Se os responsáveis pela política econômica não caírem na tentação de medidas salvacionistas, terão dado um bom passo nessa direção, pois assim darão provas de que reviram equívocos.
Há uma extensa agenda de iniciativas, no plano microeconômico, que podem ser adotadas nos meses restantes do atual governo. A simplificação tributária prevista na ampliação do SuperSimples é uma delas, por exemplo. As autoridades acenam com a possibilidade de remover obstáculos burocráticos que atravancam a vida econômica do país; se avançarem nesse campo, não serão acusadas de demagogia política e nem acentuarão desequilíbrios macroeconômicos.
O debate sobre os rumos futuros da economia brasileira será inevitável, e necessário, no decorrer da campanha eleitoral. O país precisa saber o que os pretendentes a governar o Brasil a partir de 2015 pensam sobre o tema. Mas o debate será pobre se ficar restrito aos dados conjunturais. Para o país, o mais importante é que na atual administração a política econômica não seja conduzida a prejudicar ainda mais um processo de recuperação a partir do ano que vem. É o que se espera de um governo que se candidata à reeleição.
Os índices mais recentes mostram a inflação menos vigorosa, mas dentro num cenário de desaceleração que pode motivar pirotecnias de efeito eleitoral
Acumulada em doze meses, a inflação para os consumidores, medida pelo IPCA-15 (índice que serve como uma prévia para a variação que o IBGE apura no mês cheio), ficou em 6,51%. Acima do teto da meta, portanto. Mas, considerando-se apenas o percentual mensal, limitou-se a 0,17%.
Já era esperado que os alimentos dessem uma contribuição para o recuo da inflação nesse período do ano, porém outros itens também vêm colaborando, o que é positivo. A política monetária restritiva, com juros básicos elevados para o patamar de 11% ao ano, está funcionando, ao que tudo indica.
O outro lado da moeda é que o ritmo da atividade econômica desacelerou. Os prognósticos do mercado financeiro apontam para um crescimento abaixo de 1% em 2014.
Tratando-se de um ano eleitoral, o governo pode se sentir tentado a recorrer a pirotecnias, para ostentar um resultado melhor e não ser criticado pelos adversários por erros cometidos anteriormente na condução da política econômica. Medidas “salvadoras”, na atual conjuntura, podem reacender a fogueira (já incandescente) da inflação e ainda pôr a perder ajustes feitos até aqui e que serão úteis para recuperação da economia a partir do ano que vem.
Mesmo com baixo crescimento, a economia brasileira vem convivendo com níveis baixos de desemprego e manutenção da massa salarial. É um trunfo que o governo tem em mãos. Para que a economia retorne ao caminho da recuperação, será preciso reconquistar a confiança dos que produzem, investem, poupam e consomem. Se os responsáveis pela política econômica não caírem na tentação de medidas salvacionistas, terão dado um bom passo nessa direção, pois assim darão provas de que reviram equívocos.
Há uma extensa agenda de iniciativas, no plano microeconômico, que podem ser adotadas nos meses restantes do atual governo. A simplificação tributária prevista na ampliação do SuperSimples é uma delas, por exemplo. As autoridades acenam com a possibilidade de remover obstáculos burocráticos que atravancam a vida econômica do país; se avançarem nesse campo, não serão acusadas de demagogia política e nem acentuarão desequilíbrios macroeconômicos.
O debate sobre os rumos futuros da economia brasileira será inevitável, e necessário, no decorrer da campanha eleitoral. O país precisa saber o que os pretendentes a governar o Brasil a partir de 2015 pensam sobre o tema. Mas o debate será pobre se ficar restrito aos dados conjunturais. Para o país, o mais importante é que na atual administração a política econômica não seja conduzida a prejudicar ainda mais um processo de recuperação a partir do ano que vem. É o que se espera de um governo que se candidata à reeleição.
Os gatos da política energética - EDITORIAL O ESTADÃO
O ESTADO DE S.PAULO - 23/07
O governo transformou a política energética num poste cheio de gatos - uma confusão de fios ligados de forma clandestina e improvisada - e a cada dia tem maior dificuldade para desfazer as trapalhadas. Os problemas para montar um novo financiamento às distribuidoras de energia formam o mais novo capítulo dessa história. A baderna começou há mais de um ano, com a mistura amadorística de questões muito diferentes: a renovação de concessões a empresas de eletricidade e o desafio político de uma inflação muito alta. A presidente Dilma Rousseff conseguiu impor a renovação antecipada a várias companhias e, ao mesmo tempo, determinou a contenção de tarifas. Esse foi o primeiro grande gato, a ligação clandestina entre o combate à inflação e a administração do setor elétrico.
Clandestina é uma boa qualificação. Em primeiro lugar, porque a decisão presidencial misturou a gestão de um setor de infraestrutura com um problema típico de ajuste monetário e, no caso brasileiro, também fiscal. Em segundo, porque o controle de tarifas permitiria, na melhor hipótese, administrar os índices de preços, sem de fato mexer nas pressões inflacionárias. O gato, nesse caso, ainda foi feito de forma incompetente e ineficaz.
O efeito sobre a inflação é conhecido e indisfarçável. Os preços continuaram a subir muito mais que em países governados com alguma seriedade, porque nenhuma fonte de pressão foi de fato atacada. As empresas voltaram a elevar as tarifas neste ano, realimentando os índices de preços. Com o atraso, no entanto, acumularam-se os problemas de caixa das distribuidoras e o governo foi forçado a novamente cuidar do assunto.
As dificuldades do setor ultrapassaram, de novo, a capacidade de socorro do Tesouro Nacional. Foi preciso montar - com garantia do governo - um esquema de financiamento urgente para socorrer as empresas. Um consórcio de bancos mobilizou R$ 11,2 bilhões para o setor. Esse dinheiro já foi consumido e o governo, com auxílio da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), teve de buscar novas soluções.
Os estragos estão em toda parte. É preciso cuidar das distribuidoras, sufocadas pela contenção demagógica e inepta das tarifas. É necessário socorrer a Eletrobrás, atolada em problemas cada vez mais sérios desde a renovação das concessões, realizada de forma voluntarista e sem consideração das condições de amortização e retorno de investimentos anteriores.
A ajuda à Eletrobrás, anunciada formalmente pela empresa na segunda-feira, envolverá um financiamento de R$ 6,5 bilhões - R$ 2,5 bilhões da Caixa e R$ 4 bilhões do Banco do Brasil (BB). O governo pretendia envolver bancos privados na operação, mas nenhum se dispôs a participar. Os dois bancos oficiais ficaram com todo o encargo e cobraram juros altos - 119,5 % do CDI - para fornecer o dinheiro.
Bancos privados foram sondados também para participar de um novo financiamento às distribuidoras, ao lado do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A maior parte dos consultados já havia contribuído para o empréstimo de R$ 11,2 bilhões concedido à Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) para repasse às distribuidoras. Nos primeiros contatos para a montagem da nova operação, os bancos cobraram maiores garantias.
O primeiro grande gato, o da renovação de concessões misturada com intervenção nas tarifas, acabou resultando em problemas para geradoras, distribuidoras e para o próprio governo, por causa dos encargos maiores impostos ao Tesouro. De gato em gato, a confusão aumentou e hoje o governo mal consegue achar as pontas de cada fio. No primeiro semestre o Executivo atrasou o repasse de R$ 3,4 bilhões devidos ao setor elétrico. Foi mais um truque para reforçar temporariamente as contas públicas e disfarçar as dificuldades orçamentárias. Ao mesmo tempo, aumentavam os problemas das empresas de eletricidade e o governo era forçado a planejar novas operações de socorro. Não serão desfeitos em pouco tempo os gatos da política energética. O maior perigo, agora, é o governo apelar para mais improvisações.
O governo transformou a política energética num poste cheio de gatos - uma confusão de fios ligados de forma clandestina e improvisada - e a cada dia tem maior dificuldade para desfazer as trapalhadas. Os problemas para montar um novo financiamento às distribuidoras de energia formam o mais novo capítulo dessa história. A baderna começou há mais de um ano, com a mistura amadorística de questões muito diferentes: a renovação de concessões a empresas de eletricidade e o desafio político de uma inflação muito alta. A presidente Dilma Rousseff conseguiu impor a renovação antecipada a várias companhias e, ao mesmo tempo, determinou a contenção de tarifas. Esse foi o primeiro grande gato, a ligação clandestina entre o combate à inflação e a administração do setor elétrico.
Clandestina é uma boa qualificação. Em primeiro lugar, porque a decisão presidencial misturou a gestão de um setor de infraestrutura com um problema típico de ajuste monetário e, no caso brasileiro, também fiscal. Em segundo, porque o controle de tarifas permitiria, na melhor hipótese, administrar os índices de preços, sem de fato mexer nas pressões inflacionárias. O gato, nesse caso, ainda foi feito de forma incompetente e ineficaz.
O efeito sobre a inflação é conhecido e indisfarçável. Os preços continuaram a subir muito mais que em países governados com alguma seriedade, porque nenhuma fonte de pressão foi de fato atacada. As empresas voltaram a elevar as tarifas neste ano, realimentando os índices de preços. Com o atraso, no entanto, acumularam-se os problemas de caixa das distribuidoras e o governo foi forçado a novamente cuidar do assunto.
As dificuldades do setor ultrapassaram, de novo, a capacidade de socorro do Tesouro Nacional. Foi preciso montar - com garantia do governo - um esquema de financiamento urgente para socorrer as empresas. Um consórcio de bancos mobilizou R$ 11,2 bilhões para o setor. Esse dinheiro já foi consumido e o governo, com auxílio da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), teve de buscar novas soluções.
Os estragos estão em toda parte. É preciso cuidar das distribuidoras, sufocadas pela contenção demagógica e inepta das tarifas. É necessário socorrer a Eletrobrás, atolada em problemas cada vez mais sérios desde a renovação das concessões, realizada de forma voluntarista e sem consideração das condições de amortização e retorno de investimentos anteriores.
A ajuda à Eletrobrás, anunciada formalmente pela empresa na segunda-feira, envolverá um financiamento de R$ 6,5 bilhões - R$ 2,5 bilhões da Caixa e R$ 4 bilhões do Banco do Brasil (BB). O governo pretendia envolver bancos privados na operação, mas nenhum se dispôs a participar. Os dois bancos oficiais ficaram com todo o encargo e cobraram juros altos - 119,5 % do CDI - para fornecer o dinheiro.
Bancos privados foram sondados também para participar de um novo financiamento às distribuidoras, ao lado do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A maior parte dos consultados já havia contribuído para o empréstimo de R$ 11,2 bilhões concedido à Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) para repasse às distribuidoras. Nos primeiros contatos para a montagem da nova operação, os bancos cobraram maiores garantias.
O primeiro grande gato, o da renovação de concessões misturada com intervenção nas tarifas, acabou resultando em problemas para geradoras, distribuidoras e para o próprio governo, por causa dos encargos maiores impostos ao Tesouro. De gato em gato, a confusão aumentou e hoje o governo mal consegue achar as pontas de cada fio. No primeiro semestre o Executivo atrasou o repasse de R$ 3,4 bilhões devidos ao setor elétrico. Foi mais um truque para reforçar temporariamente as contas públicas e disfarçar as dificuldades orçamentárias. Ao mesmo tempo, aumentavam os problemas das empresas de eletricidade e o governo era forçado a planejar novas operações de socorro. Não serão desfeitos em pouco tempo os gatos da política energética. O maior perigo, agora, é o governo apelar para mais improvisações.
Entre a liberdade de manifestação e a criminalidade - EDITORIAL O GLOBO
O GLOBO - 23/07
Partidos, políticos e sindicatos que ajudam esses grupos cometem ilegalidade por serem cúmplices de atentados, e apoiarem organizações antidemocráticas, contrárias à Carta
Não demorou muito para que grupos de black blocs e vândalos em geral aproveitassem a onda de manifestações de rua convocadas à margem de partidos e máquinas sindicais, no meio do ano passado, para barbarizar.
Os ataques ao patrimônio público e privado passaram a se suceder, também em São Paulo. Repórteres da imprensa profissional também se transformaram em alvo. Até que, em fevereiro, um rojão disparado por dois black blocs, na região da Central do Brasil, no Rio, matou o cinegrafista Santiago Andrade, da Bandeirante. A polícia agiu e prendeu os autores do homicídio, Caio Silva de Souza e Fábio Raposo, réus à espera de sentença.
Os desdobramentos das investigações reforçaram a ideia de que havia alguma organização e planejamento por trás, inclusive com apoio em gabinetes de partidos mais à esquerda. O PSOL, um deles, continua a negar.
O trabalho da polícia avançou até que, no sábado 12, véspera da final da Copa, a Justiça decretou a prisão preventiva de um grupo, entre eles Elisa Quadros, Sininho, militante com liderança entre os black blocs. Depois, liberada parte do material colhido pela polícia nas investigações, ficou-se sabendo que poderia ter havido uma carnificina na manifestações que programaram para o dia seguinte, o da final, na Tijuca.
A reação de políticos é despropositada. Os deputados do PSOL Jean Wyllys e Chico Alencar, e Jandira Fegalli (PCdoB) chegaram a formalizar no CNJ reclamação com o juiz fluminense Fávio Itabaiana. Pouco depois, o GLOBO começou a publicar trechos do relatório encaminhado pela polícia à Justiça, sobre o grupo, em que grampos legais registram, entre outros, Sininho e uma professora de filosofia da UERJ, Camila Jourdan, em conversas para a compra de fogos de artifício, com referências à confecção de bombas molotov e outras armas artesanais usadas nas ruas.
O pedido de asilo ao consulado do Uruguai pela advogada Eloísa Samy, com prisão decretada, denuncia a visão distorcida da realidade brasileira que têm black blocs e aliados. Esquecem-se de que vigora há tempos no Brasil o estado de direito democrático, em que há leis a serem cumpridas por instituições republicanas. O Uruguai, com acerto, não concedeu o asilo, por este mesmo motivo.
O trabalho exemplar da Polícia e da Justiça fluminenses demonstra que a liberdade de expressão não pode ser usada para a prática da violência — homicídio, destruição do patrimônio público e privado. É assim em qualquer democracia no mundo. Partidos e sindicatos (Sepe, Sindiprev, Sindipetro) que ajudam esses grupos precisam estar conscientes que cometem uma ilegalidade, por serem cúmplices de atentados, e apoiarem organizações antidemocráticas, contrárias à Constituição.
Partidos, políticos e sindicatos que ajudam esses grupos cometem ilegalidade por serem cúmplices de atentados, e apoiarem organizações antidemocráticas, contrárias à Carta
Não demorou muito para que grupos de black blocs e vândalos em geral aproveitassem a onda de manifestações de rua convocadas à margem de partidos e máquinas sindicais, no meio do ano passado, para barbarizar.
Os ataques ao patrimônio público e privado passaram a se suceder, também em São Paulo. Repórteres da imprensa profissional também se transformaram em alvo. Até que, em fevereiro, um rojão disparado por dois black blocs, na região da Central do Brasil, no Rio, matou o cinegrafista Santiago Andrade, da Bandeirante. A polícia agiu e prendeu os autores do homicídio, Caio Silva de Souza e Fábio Raposo, réus à espera de sentença.
Os desdobramentos das investigações reforçaram a ideia de que havia alguma organização e planejamento por trás, inclusive com apoio em gabinetes de partidos mais à esquerda. O PSOL, um deles, continua a negar.
O trabalho da polícia avançou até que, no sábado 12, véspera da final da Copa, a Justiça decretou a prisão preventiva de um grupo, entre eles Elisa Quadros, Sininho, militante com liderança entre os black blocs. Depois, liberada parte do material colhido pela polícia nas investigações, ficou-se sabendo que poderia ter havido uma carnificina na manifestações que programaram para o dia seguinte, o da final, na Tijuca.
A reação de políticos é despropositada. Os deputados do PSOL Jean Wyllys e Chico Alencar, e Jandira Fegalli (PCdoB) chegaram a formalizar no CNJ reclamação com o juiz fluminense Fávio Itabaiana. Pouco depois, o GLOBO começou a publicar trechos do relatório encaminhado pela polícia à Justiça, sobre o grupo, em que grampos legais registram, entre outros, Sininho e uma professora de filosofia da UERJ, Camila Jourdan, em conversas para a compra de fogos de artifício, com referências à confecção de bombas molotov e outras armas artesanais usadas nas ruas.
O pedido de asilo ao consulado do Uruguai pela advogada Eloísa Samy, com prisão decretada, denuncia a visão distorcida da realidade brasileira que têm black blocs e aliados. Esquecem-se de que vigora há tempos no Brasil o estado de direito democrático, em que há leis a serem cumpridas por instituições republicanas. O Uruguai, com acerto, não concedeu o asilo, por este mesmo motivo.
O trabalho exemplar da Polícia e da Justiça fluminenses demonstra que a liberdade de expressão não pode ser usada para a prática da violência — homicídio, destruição do patrimônio público e privado. É assim em qualquer democracia no mundo. Partidos e sindicatos (Sepe, Sindiprev, Sindipetro) que ajudam esses grupos precisam estar conscientes que cometem uma ilegalidade, por serem cúmplices de atentados, e apoiarem organizações antidemocráticas, contrárias à Constituição.
Confiança em baixa - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE
CORREIO BRAZILIENSE - 23/07
Já houve quem dissesse que as pessoas não comem PIB, tentando diminuir a importância que os economistas de formação mais sólida costumam atribuir ao crescimento do Produto Interno Bruto (soma de todas as riquezas produzidas) de um país durante um ano. A frase de efeito pode arrancar aplausos de plateias menos informadas ou excessivamente envolvidas em campanhas eleitorais e, portanto, prontas a concordar com tudo que seu candidato diz no palanque.
Mas todos deveriam saber que a ausência de crescimento econômico cobra caro de toda a sociedade e, principalmente, dos mais pobres e dos mais jovens. Medir o comportamento do PIB significa estar atento ao estado de saúde da economia e à sua capacidade de criar e manter oportunidades de trabalho e renda.
Por isso, não parece ser o melhor para o país a encomenda de frases bem pensadas a algum marqueteiro para minimizar a importância do desempenho perigosamente ruim da economia brasileira neste e nos últimos dois anos. Nem é preciso esperar a confirmação pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) do baixíssimo crescimento da economia no segundo e nos dois próximos trimestres. O que se sabe já é suficiente para que o governo faça diagnóstico realista do que está ocorrendo e não tente escondê-lo.
A pessoas e as empresas que movimentam muito dinheiro - delas ou dos outros - trabalham com contratos que envolvem prazos e riscos de não serem pagos ou de ficarem abaixo dos custos financeiros (juros) envolvidos. Por esse motivo, fazem grande esforço de antecipação dos acontecimentos, já que o sucesso ou o fracasso de seus negócios depende de errarem menos nas previsões.
Ajudadas por economistas que se especializam nessa função, essas pessoas e empresas aumentam ou diminuem suas apostas nos negócios que realizam, conforme as previsões. Todas as semanas, o Banco Central recolhe e divulga prognósticos de 100 desses especialistas e faz uma média das provisões para a inflação, o crescimento da economia, a taxa de câmbio e outros dados. Não se trata, portanto, de dado oficial, definitivo, mas, considerando a base de consulta, é uma fonte respeitável sobre as tendências.
Foi essa fonte que, na segunda-feira, trouxe, pela primeira vez nos últimos meses, uma projeção de crescimento do PIB menor do que 1% para este ano: 0,97%. O número fala por si, mas pesa muito mais o que reflete e o contexto em que se insere. Primeiro, porque essa foi a oitava queda semanal seguida. Depois, porque, se confirmada pelo IBGE, joga mais água fria na confiança dos empresários de que o governo tenha condição de reverter a tendência ainda este ano, ou mesmo no ano que vem. E, sem essa confiança, não investem em máquinas nem contratam mão de obra.
A esta altura, parece claro que os agentes econômicos estão de olho apenas na campanha eleitoral e no resultado das urnas, e não há como tirar deles a razão. O que sobra é a certeza de que nada os reanimará, a não ser o compromisso de resgatar a credibilidade de uma política econômica que faça voltar o mais rapidamente possível o investimento e o estímulo à produção.
Mas todos deveriam saber que a ausência de crescimento econômico cobra caro de toda a sociedade e, principalmente, dos mais pobres e dos mais jovens. Medir o comportamento do PIB significa estar atento ao estado de saúde da economia e à sua capacidade de criar e manter oportunidades de trabalho e renda.
Por isso, não parece ser o melhor para o país a encomenda de frases bem pensadas a algum marqueteiro para minimizar a importância do desempenho perigosamente ruim da economia brasileira neste e nos últimos dois anos. Nem é preciso esperar a confirmação pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) do baixíssimo crescimento da economia no segundo e nos dois próximos trimestres. O que se sabe já é suficiente para que o governo faça diagnóstico realista do que está ocorrendo e não tente escondê-lo.
A pessoas e as empresas que movimentam muito dinheiro - delas ou dos outros - trabalham com contratos que envolvem prazos e riscos de não serem pagos ou de ficarem abaixo dos custos financeiros (juros) envolvidos. Por esse motivo, fazem grande esforço de antecipação dos acontecimentos, já que o sucesso ou o fracasso de seus negócios depende de errarem menos nas previsões.
Ajudadas por economistas que se especializam nessa função, essas pessoas e empresas aumentam ou diminuem suas apostas nos negócios que realizam, conforme as previsões. Todas as semanas, o Banco Central recolhe e divulga prognósticos de 100 desses especialistas e faz uma média das provisões para a inflação, o crescimento da economia, a taxa de câmbio e outros dados. Não se trata, portanto, de dado oficial, definitivo, mas, considerando a base de consulta, é uma fonte respeitável sobre as tendências.
Foi essa fonte que, na segunda-feira, trouxe, pela primeira vez nos últimos meses, uma projeção de crescimento do PIB menor do que 1% para este ano: 0,97%. O número fala por si, mas pesa muito mais o que reflete e o contexto em que se insere. Primeiro, porque essa foi a oitava queda semanal seguida. Depois, porque, se confirmada pelo IBGE, joga mais água fria na confiança dos empresários de que o governo tenha condição de reverter a tendência ainda este ano, ou mesmo no ano que vem. E, sem essa confiança, não investem em máquinas nem contratam mão de obra.
A esta altura, parece claro que os agentes econômicos estão de olho apenas na campanha eleitoral e no resultado das urnas, e não há como tirar deles a razão. O que sobra é a certeza de que nada os reanimará, a não ser o compromisso de resgatar a credibilidade de uma política econômica que faça voltar o mais rapidamente possível o investimento e o estímulo à produção.
A seleção gira em falso - EDITORIAL FOLHA DE SP
FOLHA DE SP - 23/07
Escolha de Dunga como técnico do Brasil evidencia anacronismo da CBF, entidade refratária à modernização do futebol
A Confederação Brasileira de Futebol oficializou a recondução de Dunga ao cargo de técnico da seleção nacional. Na semana passada, a entidade havia designado o ex-goleiro Gilmar Rinaldi para o posto de coordenador de seleções.
As escolhas vieram na sequência da sofrível participação do Brasil na Copa do Mundo, marcada pelos humilhantes 7 a 1 para a Alemanha --o placar mais elástico que se impôs à equipe em toda sua história.
O revés, ao qual se seguiu uma derrota por 3 a 0 diante da Holanda, provocou reações de incredulidade e revolta, mas também propiciou reflexões acerca do atual estágio do futebol brasileiro.
Formou-se relativo consenso sobre a necessidade de realizar mudanças com vistas a profissionalizar a gestão futebolística, fortalecer clubes, aprimorar a formação de talentos e atualizar métodos de treinamento. Seria algo semelhante ao que a Alemanha, com evidente sucesso, fez nos últimos anos.
Imaginava-se que o impacto do fiasco da Copa levasse a CBF a uma reorientação de rumos. Os anúncios não apontam, porém, para essa direção. Liderada por dirigentes anacrônicos e com perfil autocrático, a própria entidade surge como obstáculo à modernização.
Não se trata de execrar os nomes escolhidos, mas de reconhecer que, com suas decisões, a CBF revela estar olhando para um passado controverso, quando deveria mirar um futuro promissor.
Questiona-se a envergadura de Gilmar Rinaldi para o cargo e sua atuação recente como empresário de jogadores, fato que reforça teorias sobre a seleção ser um grande balcão de negócios.
Quanto a Dunga, embora tenha obtido resultados positivos, fracassou na Copa de 2010 e seguiu com escassa experiência. Em toda sua carreira, treinou apenas um clube, o Internacional de Porto Alegre. Não consta que tenha feito cursos; tampouco parece ter abandonado a preferência pelo futebol carrancudo e disciplinado --no que supera o próprio Felipão.
Dunga assume com a perspectiva de permanecer exclusivamente na função até a próxima Copa, em 2018. O time que disputará a Olimpíada de 2016, no Rio, ficará nas mãos de Alexandre Gallo, que se dedicava às equipes de base.
Tal estabilidade, contudo, pode ser uma quimera; maus resultados, no Brasil, costumam provocar mudanças no meio do caminho.
Perdida a oportunidade de indicar figuras mais renomadas e com maior respaldo da opinião pública, não será surpresa se a torcida demonstrar crescente desinteresse por uma seleção que já não tem a mesma mística. A reversão desse processo, ou seu aprofundamento, depende do trabalho de Dunga.
Escolha de Dunga como técnico do Brasil evidencia anacronismo da CBF, entidade refratária à modernização do futebol
A Confederação Brasileira de Futebol oficializou a recondução de Dunga ao cargo de técnico da seleção nacional. Na semana passada, a entidade havia designado o ex-goleiro Gilmar Rinaldi para o posto de coordenador de seleções.
As escolhas vieram na sequência da sofrível participação do Brasil na Copa do Mundo, marcada pelos humilhantes 7 a 1 para a Alemanha --o placar mais elástico que se impôs à equipe em toda sua história.
O revés, ao qual se seguiu uma derrota por 3 a 0 diante da Holanda, provocou reações de incredulidade e revolta, mas também propiciou reflexões acerca do atual estágio do futebol brasileiro.
Formou-se relativo consenso sobre a necessidade de realizar mudanças com vistas a profissionalizar a gestão futebolística, fortalecer clubes, aprimorar a formação de talentos e atualizar métodos de treinamento. Seria algo semelhante ao que a Alemanha, com evidente sucesso, fez nos últimos anos.
Imaginava-se que o impacto do fiasco da Copa levasse a CBF a uma reorientação de rumos. Os anúncios não apontam, porém, para essa direção. Liderada por dirigentes anacrônicos e com perfil autocrático, a própria entidade surge como obstáculo à modernização.
Não se trata de execrar os nomes escolhidos, mas de reconhecer que, com suas decisões, a CBF revela estar olhando para um passado controverso, quando deveria mirar um futuro promissor.
Questiona-se a envergadura de Gilmar Rinaldi para o cargo e sua atuação recente como empresário de jogadores, fato que reforça teorias sobre a seleção ser um grande balcão de negócios.
Quanto a Dunga, embora tenha obtido resultados positivos, fracassou na Copa de 2010 e seguiu com escassa experiência. Em toda sua carreira, treinou apenas um clube, o Internacional de Porto Alegre. Não consta que tenha feito cursos; tampouco parece ter abandonado a preferência pelo futebol carrancudo e disciplinado --no que supera o próprio Felipão.
Dunga assume com a perspectiva de permanecer exclusivamente na função até a próxima Copa, em 2018. O time que disputará a Olimpíada de 2016, no Rio, ficará nas mãos de Alexandre Gallo, que se dedicava às equipes de base.
Tal estabilidade, contudo, pode ser uma quimera; maus resultados, no Brasil, costumam provocar mudanças no meio do caminho.
Perdida a oportunidade de indicar figuras mais renomadas e com maior respaldo da opinião pública, não será surpresa se a torcida demonstrar crescente desinteresse por uma seleção que já não tem a mesma mística. A reversão desse processo, ou seu aprofundamento, depende do trabalho de Dunga.
Momento de apreensão - EDITORIAL ZERO HORA
ZERO HORA - 23/07
Foram reforçadas esta semana as projeções negativas para a performance da economia brasileira este ano, o que significa a manutenção de uma preocupante tendência. As previsões de analistas de instituições financeiras, ouvidos pelo Banco Central, reduziram pela oitava semana seguida a estimativa de crescimento do PIB, que fica agora em 0,97%. Considerando-se que o país acumula baixos desempenhos desde 2011, não há mais como desconsiderar os alertas de que as bases da atual política econômica se exauriram. São os números, expressos pela realidade, e não apenas os pontos de vista de eventuais críticos da orientação governamental, que atestam o declínio da atividade produtiva.
Para um país com as potencialidades do Brasil, crescer 0,97% significa estagnação. O cenário desfavorável está exposto num conjunto de estatísticas. Há retração no desempenho da indústria, a criação de vagas de empregos, de janeiro a junho, teve o pior semestre desde 2008, o nível de consumo começa a indicar sinais de queda e a inflação ainda se mantém fora do patamar que o próprio governo considera razoável. Os economistas contabilizam ainda, para análise das projeções, o fato de que o humor do empresariado está em baixa. Não surpreende, nesse contexto, que o nível de confiança chegou ao menor patamar dos últimos 15 anos, conforme a Confederação Nacional da Indústria.
Ações pontuais, como desoneração da folha de pagamento, reduções tributárias e outros incentivos específicos a alguns setores já não produzem o efeito esperado. Erra, como já demonstram os números, quem insiste em negar que o país já experimenta a sensação de que se encaminha para uma recessão. É importante lembrar que há exatamente um ano os mesmos analistas previam crescimento do PIB de 2,6%. Nesse período, as estimativas foram caindo, até chegar agora ao nível mais baixo.
O quadro que se forma pode ser incapaz de segurar os índices de emprego, extremamente favoráveis, nos últimos anos, nos mesmos níveis, o que acabaria por dar forma aos piores danos da estagnação. Não há, até o momento, nenhum movimento, por parte do governo, que sinalize alguma mudança de fundo na linha que orienta os condutores da política econômica. Especula-se que poderão ser adotadas novas medidas de estímulo ao crédito e ao consumo, o que certamente será insuficiente.
Para complicar, o período eleitoral dificulta eventuais medidas corretivas, que poderiam contribuir para melhorias, mesmo que momentâneas, como a racionalização no controle de gastos estatais. O maior risco, diante de uma perspectiva recessiva, é a ampliação do sentimento de que o país ainda poderá ter mais notícias ruins. Nessas circunstâncias, o pior para todos seria a perda de confiança na capacidade do governo de reorganizar a economia para o crescimento.
Foram reforçadas esta semana as projeções negativas para a performance da economia brasileira este ano, o que significa a manutenção de uma preocupante tendência. As previsões de analistas de instituições financeiras, ouvidos pelo Banco Central, reduziram pela oitava semana seguida a estimativa de crescimento do PIB, que fica agora em 0,97%. Considerando-se que o país acumula baixos desempenhos desde 2011, não há mais como desconsiderar os alertas de que as bases da atual política econômica se exauriram. São os números, expressos pela realidade, e não apenas os pontos de vista de eventuais críticos da orientação governamental, que atestam o declínio da atividade produtiva.
Para um país com as potencialidades do Brasil, crescer 0,97% significa estagnação. O cenário desfavorável está exposto num conjunto de estatísticas. Há retração no desempenho da indústria, a criação de vagas de empregos, de janeiro a junho, teve o pior semestre desde 2008, o nível de consumo começa a indicar sinais de queda e a inflação ainda se mantém fora do patamar que o próprio governo considera razoável. Os economistas contabilizam ainda, para análise das projeções, o fato de que o humor do empresariado está em baixa. Não surpreende, nesse contexto, que o nível de confiança chegou ao menor patamar dos últimos 15 anos, conforme a Confederação Nacional da Indústria.
Ações pontuais, como desoneração da folha de pagamento, reduções tributárias e outros incentivos específicos a alguns setores já não produzem o efeito esperado. Erra, como já demonstram os números, quem insiste em negar que o país já experimenta a sensação de que se encaminha para uma recessão. É importante lembrar que há exatamente um ano os mesmos analistas previam crescimento do PIB de 2,6%. Nesse período, as estimativas foram caindo, até chegar agora ao nível mais baixo.
O quadro que se forma pode ser incapaz de segurar os índices de emprego, extremamente favoráveis, nos últimos anos, nos mesmos níveis, o que acabaria por dar forma aos piores danos da estagnação. Não há, até o momento, nenhum movimento, por parte do governo, que sinalize alguma mudança de fundo na linha que orienta os condutores da política econômica. Especula-se que poderão ser adotadas novas medidas de estímulo ao crédito e ao consumo, o que certamente será insuficiente.
Para complicar, o período eleitoral dificulta eventuais medidas corretivas, que poderiam contribuir para melhorias, mesmo que momentâneas, como a racionalização no controle de gastos estatais. O maior risco, diante de uma perspectiva recessiva, é a ampliação do sentimento de que o país ainda poderá ter mais notícias ruins. Nessas circunstâncias, o pior para todos seria a perda de confiança na capacidade do governo de reorganizar a economia para o crescimento.
Os nossos 'presos políticos' - EDITORIAL O ESTADÃO
O ESTADO DE S.PAULO - 23/07
O fenômeno do "ativismo" ora em curso no País atingiu de vez o nível do delírio. Convictos de que estão acima das leis e de que o Estado é, por definição, um ente inimigo, os chamados ativistas, também conhecidos como militantes, se dedicam dia após dia a atormentar os cidadãos comuns nas grandes cidades, sob o argumento de que a democracia lhes faculta o direito de bloquear avenidas, de depredar a propriedade alheia e de praticar outros delitos.
Quem disso discorda e defende a necessária ação da polícia e da Justiça contra a baderna e o vandalismo é logo acusado, por uma barulhenta rede de simpatizantes espalhados pelas universidades e pela internet, de advogar a "criminalização das lutas sociais". Quando finalmente o Estado decidiu agir, encarcerando vândalos que se dizem "ativistas", essa rede imediatamente reagiu, dizendo que os detidos e os indiciados são "perseguidos políticos" - uma farsa que expõe seja a má-fé, seja a confusão moral dessa turma.
O caso mais recente, envolvendo uma advogada que diz prestar assistência jurídica a manifestantes, dá a exata medida dessa tentativa cínica de desmoralização do Estado Democrático de Direito no Brasil. A advogada Eloísa Samy, acompanhada de dois adeptos da violenta tática Black Bloc, foi ao Consulado do Uruguai no Rio de Janeiro para - pasmem - pedir asilo político.
Eloísa, de 45 anos, é considerada foragida da Justiça, porque foi denunciada pelo Ministério Público do Rio por associação criminosa. Ela e outros 22 "ativistas" tiveram a prisão decretada pela 27.ª Vara Criminal do Rio. O inquérito da Polícia Civil que baseou a denúncia concluiu, conforme revelou o jornal O Globo, que os acusados planejavam atacar seus alvos com explosivos no dia 13 de julho, quando foi disputada a final da Copa do Mundo.
Em vídeo que gravou para expor sua versão, Eloísa afirma que está sendo perseguida em razão de sua "atuação na defesa do direito de manifestação". O promotor Luís Otávio Figueira Lopes afirma, no entanto, que a advogada, "escudando-se em um suposto exercício da atividade profissional", prestou "apoio logístico" aos delinquentes, "cedendo sua residência para reuniões" de preparação de atos violentos.
É bem possível que Eloísa e seus colegas acreditassem que o Uruguai fosse mesmo lhes dar asilo. Afinal, o país é governado por José Mujica, aquele presidente simpático e modernoso que defende a liberação da maconha. Ele receberia, pois, os "perseguidos políticos" de braços abertos.
A reação da diplomacia uruguaia, porém, escancarou o ridículo da situação. A cônsul-geral Myriam Fraschini Chalar informou aos solicitantes que o Brasil "é um autêntico Estado Democrático de Direito", razão pela qual não há perseguidos políticos no País nem motivo para conceder asilo. A deputada Janira Rocha, do PSOL, que foi ao consulado para dar apoio aos "ativistas", disse à diplomata uruguaia que "o problema não é o Brasil, o problema é o Estado do Rio, que está agindo como um verdadeiro estado de exceção". Pela lógica desse pessoal, até um condômino pode pedir asilo político ao Uruguai se acreditar que está sendo perseguido pelo síndico do prédio.
A patetice, no entanto, não deve servir de pretexto para que os tais "ativistas" sejam tratados com a candura dispensada aos inimputáveis. É o caso de enfatizar que, no inquérito policial sobre os black blocs, Elisa Quadros, vulgo "Sininho", considerada a líder do bando, é acusada de incitar seus companheiros a atear fogo à Câmara Municipal do Rio durante protesto no ano passado - o ato só não se consumou porque militantes mais ajuizados impediram. É o caso também de relembrar que a ação desses delinquentes já produziu um morto, o cinegrafista Santiago Andrade. Eles não estão para brincadeira.
Resta agora às autoridades investigar com rigor as possíveis ligações desses "ativistas" com sindicatos e partidos políticos radicais. Há cada vez mais indícios de que os militantes vândalos podem estar atuando como uma espécie de "braço armado" de organizações que se constituíram graças à democracia, mas que não têm nenhum apreço por ela.
O fenômeno do "ativismo" ora em curso no País atingiu de vez o nível do delírio. Convictos de que estão acima das leis e de que o Estado é, por definição, um ente inimigo, os chamados ativistas, também conhecidos como militantes, se dedicam dia após dia a atormentar os cidadãos comuns nas grandes cidades, sob o argumento de que a democracia lhes faculta o direito de bloquear avenidas, de depredar a propriedade alheia e de praticar outros delitos.
Quem disso discorda e defende a necessária ação da polícia e da Justiça contra a baderna e o vandalismo é logo acusado, por uma barulhenta rede de simpatizantes espalhados pelas universidades e pela internet, de advogar a "criminalização das lutas sociais". Quando finalmente o Estado decidiu agir, encarcerando vândalos que se dizem "ativistas", essa rede imediatamente reagiu, dizendo que os detidos e os indiciados são "perseguidos políticos" - uma farsa que expõe seja a má-fé, seja a confusão moral dessa turma.
O caso mais recente, envolvendo uma advogada que diz prestar assistência jurídica a manifestantes, dá a exata medida dessa tentativa cínica de desmoralização do Estado Democrático de Direito no Brasil. A advogada Eloísa Samy, acompanhada de dois adeptos da violenta tática Black Bloc, foi ao Consulado do Uruguai no Rio de Janeiro para - pasmem - pedir asilo político.
Eloísa, de 45 anos, é considerada foragida da Justiça, porque foi denunciada pelo Ministério Público do Rio por associação criminosa. Ela e outros 22 "ativistas" tiveram a prisão decretada pela 27.ª Vara Criminal do Rio. O inquérito da Polícia Civil que baseou a denúncia concluiu, conforme revelou o jornal O Globo, que os acusados planejavam atacar seus alvos com explosivos no dia 13 de julho, quando foi disputada a final da Copa do Mundo.
Em vídeo que gravou para expor sua versão, Eloísa afirma que está sendo perseguida em razão de sua "atuação na defesa do direito de manifestação". O promotor Luís Otávio Figueira Lopes afirma, no entanto, que a advogada, "escudando-se em um suposto exercício da atividade profissional", prestou "apoio logístico" aos delinquentes, "cedendo sua residência para reuniões" de preparação de atos violentos.
É bem possível que Eloísa e seus colegas acreditassem que o Uruguai fosse mesmo lhes dar asilo. Afinal, o país é governado por José Mujica, aquele presidente simpático e modernoso que defende a liberação da maconha. Ele receberia, pois, os "perseguidos políticos" de braços abertos.
A reação da diplomacia uruguaia, porém, escancarou o ridículo da situação. A cônsul-geral Myriam Fraschini Chalar informou aos solicitantes que o Brasil "é um autêntico Estado Democrático de Direito", razão pela qual não há perseguidos políticos no País nem motivo para conceder asilo. A deputada Janira Rocha, do PSOL, que foi ao consulado para dar apoio aos "ativistas", disse à diplomata uruguaia que "o problema não é o Brasil, o problema é o Estado do Rio, que está agindo como um verdadeiro estado de exceção". Pela lógica desse pessoal, até um condômino pode pedir asilo político ao Uruguai se acreditar que está sendo perseguido pelo síndico do prédio.
A patetice, no entanto, não deve servir de pretexto para que os tais "ativistas" sejam tratados com a candura dispensada aos inimputáveis. É o caso de enfatizar que, no inquérito policial sobre os black blocs, Elisa Quadros, vulgo "Sininho", considerada a líder do bando, é acusada de incitar seus companheiros a atear fogo à Câmara Municipal do Rio durante protesto no ano passado - o ato só não se consumou porque militantes mais ajuizados impediram. É o caso também de relembrar que a ação desses delinquentes já produziu um morto, o cinegrafista Santiago Andrade. Eles não estão para brincadeira.
Resta agora às autoridades investigar com rigor as possíveis ligações desses "ativistas" com sindicatos e partidos políticos radicais. Há cada vez mais indícios de que os militantes vândalos podem estar atuando como uma espécie de "braço armado" de organizações que se constituíram graças à democracia, mas que não têm nenhum apreço por ela.
COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO
“A política está desmoralizada e apodrecida”
Ex-presidente Lula, fazendo de conta que não foi em seu governo o escândalo do mensalão
MINISTÉRIO DAS CIDADES DÁ CALOTE DE R$ 30 MI
Cobrado pelo Planalto para intensificar as propagandas institucionais e de utilidade pública antes do período eleitoral, o Ministério das Cidades acumulou dívida de cerca de R$ 30 milhões com veículos de comunicação só no primeiro semestre deste ano. Donos de rádios e jornais locais já estão batendo na porta do ministério e ameaçando entrar com processo na Justiça contra o governo federal para receber o valor devido.
SÓ PENSA NISSO
De olho em faturar votos, Dilma gastou no primeiro bimestre 27% a mais em publicidade do que no mesmo período do ano passado.
MINHA ELEIÇÃO, MINHA VIDA
Segundo a ONG Contas Abertas, o Ministério das Cidades é o campeão de gastos publicitários: foram R$ 31 milhões só em janeiro e fevereiro.
MÁ GESTÃO
A previsão de gastos para este ano foi calculada em R$ 863,4 milhões, excluindo as estatais. Só não se sabe de onde sairá o dinheiro.
NO SEU TEMPO
A assessoria do Ministério das Cidades se resumiu a informar que “os processos de pagamento estão ocorrendo dentro do cronograma”.
SAÚDE CRIOU REGRA PARA JUSTIFICAR COMPRA
O Ministério da Saúde, ainda sob comando de Alexandre Padilha (PT), publicou em janeiro de 2014 o Protocolo de Diretrizes de Tratamento de Hipertensão Pulmonar para tentar justificar, às pressas, a parceria de R$ 134,4 milhões com Labogen para produção de comprimidos de sildenafil, princípio ativo do Viagra. Engavetada há dez anos, a portaria força médicos a prescreverem a droga a pacientes com hipertensão pulmonar.
SEGUNDA CATEGORIA
Estudo científico da Associação Médica Brasileira revela que componente do Viagra não é a primeira escolha para tratar da hipertensão pulmonar.
LAVAGEM DE DINHEIRO
Firmado dois meses antes da portaria, o contrato foi suspenso após a PF revelar que Labogen é uma empresa fachada do doleiro Alberto Youssef.
BOCA ALTÍSSIMA
Pelas denúncias, a Labogen repassaria a produção a outra empresa por R$ 40 milhões e embolsaria o restante do valor: quase R$ 100 milhões.
FESTA NO MEC
Uma licitação, nesta quarta, tem tudo para acabar em CPI. A empresa de eventos “GV2”, que tem os maiores contratos do governo federal, deve ganhar a conta do Ministério da Educação. O valor de R$ 70 milhões é só para despistar: o contrato pode chegar a R$ 350 milhões.
REGISTRADO EM CARTÓRIO
Aspirante ao Planalto, Aécio Neves (PSDB-MG) declarou à Justiça Eleitoral possuir 50% de um imóvel rural no valor de R$ 87 mil no município de Cláudio, onde foi levantado aeroporto na fazenda de seu tio.
GAROTO CARIOCA
Diante das denúncias de aeroporto na fazenda do tio-avô de Aécio, políticos de Minas garantem que o “calvário do garoto do Rio” está só começando.
RETRATO DA POLÍTICA
A população anda tão descrente com o cenário político que o Partido Novo nem existe – deve pedir registro hoje – mas já tem mais seguidores em redes sociais que PT e PSDB juntos.
O MEDIADOR
Após reassumir o comando nacional do PMDB, Michel Temer disse ao vice Valdir Raupp (RO) que está dedicando tempo para costurar o palanque de Paulo Skaf (PMDB-SP) para Dilma.
DEDO DO LULA
A ex-prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins, não apoiará o candidato do PT a governador, Camilo Santana. Ela acertou com senador Eunício Oliveira (PMDB-CE) um comitê para apoiá-lo ao governo e Dilma presidente.
JOAQUIM É TRICOLOR
À espera da aposentadoria, Joaquim Barbosa (STF) contou, durante noite de autógrafos do livro Nós somos a História, que acompanhava o Fluminense na época da Máquina Tricolor.
TOPA TUDO
De olho em suceder Henrique Alves (RN) no comando da Câmara, o líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), tem prometido tentar conseguir doações de empresas para campanha à reeleição de correligionários da bancada.
PENSANDO BEM...
... reconduzido ao comando da Seleção ontem, Carlos Caetano Bledorn Verri está muito mais para Zangado do que para Dunga.
PODER SEM PUDOR
SEDA É MAIS DECENTE
O então senador gaúcho Pinheiro Machado marcou uma visita ao hotel onde estava o seu colega Bernardo Monteiro, no Rio de Janeiro. O anfitrião o recebeu vestindo ceroulas comuns e ele não conteve a observação:
- Bernardo, você precisa estar preparado para morrer na rua. Vista-se de seda por baixo. Seja um cadáver decente.
Pinheiro Machado seria assassinado alguns anos depois, no Hotel dos Estrangeiros, no Rio. Vestia ceroulas de seda.
Ex-presidente Lula, fazendo de conta que não foi em seu governo o escândalo do mensalão
MINISTÉRIO DAS CIDADES DÁ CALOTE DE R$ 30 MI
Cobrado pelo Planalto para intensificar as propagandas institucionais e de utilidade pública antes do período eleitoral, o Ministério das Cidades acumulou dívida de cerca de R$ 30 milhões com veículos de comunicação só no primeiro semestre deste ano. Donos de rádios e jornais locais já estão batendo na porta do ministério e ameaçando entrar com processo na Justiça contra o governo federal para receber o valor devido.
SÓ PENSA NISSO
De olho em faturar votos, Dilma gastou no primeiro bimestre 27% a mais em publicidade do que no mesmo período do ano passado.
MINHA ELEIÇÃO, MINHA VIDA
Segundo a ONG Contas Abertas, o Ministério das Cidades é o campeão de gastos publicitários: foram R$ 31 milhões só em janeiro e fevereiro.
MÁ GESTÃO
A previsão de gastos para este ano foi calculada em R$ 863,4 milhões, excluindo as estatais. Só não se sabe de onde sairá o dinheiro.
NO SEU TEMPO
A assessoria do Ministério das Cidades se resumiu a informar que “os processos de pagamento estão ocorrendo dentro do cronograma”.
SAÚDE CRIOU REGRA PARA JUSTIFICAR COMPRA
O Ministério da Saúde, ainda sob comando de Alexandre Padilha (PT), publicou em janeiro de 2014 o Protocolo de Diretrizes de Tratamento de Hipertensão Pulmonar para tentar justificar, às pressas, a parceria de R$ 134,4 milhões com Labogen para produção de comprimidos de sildenafil, princípio ativo do Viagra. Engavetada há dez anos, a portaria força médicos a prescreverem a droga a pacientes com hipertensão pulmonar.
SEGUNDA CATEGORIA
Estudo científico da Associação Médica Brasileira revela que componente do Viagra não é a primeira escolha para tratar da hipertensão pulmonar.
LAVAGEM DE DINHEIRO
Firmado dois meses antes da portaria, o contrato foi suspenso após a PF revelar que Labogen é uma empresa fachada do doleiro Alberto Youssef.
BOCA ALTÍSSIMA
Pelas denúncias, a Labogen repassaria a produção a outra empresa por R$ 40 milhões e embolsaria o restante do valor: quase R$ 100 milhões.
FESTA NO MEC
Uma licitação, nesta quarta, tem tudo para acabar em CPI. A empresa de eventos “GV2”, que tem os maiores contratos do governo federal, deve ganhar a conta do Ministério da Educação. O valor de R$ 70 milhões é só para despistar: o contrato pode chegar a R$ 350 milhões.
REGISTRADO EM CARTÓRIO
Aspirante ao Planalto, Aécio Neves (PSDB-MG) declarou à Justiça Eleitoral possuir 50% de um imóvel rural no valor de R$ 87 mil no município de Cláudio, onde foi levantado aeroporto na fazenda de seu tio.
GAROTO CARIOCA
Diante das denúncias de aeroporto na fazenda do tio-avô de Aécio, políticos de Minas garantem que o “calvário do garoto do Rio” está só começando.
RETRATO DA POLÍTICA
A população anda tão descrente com o cenário político que o Partido Novo nem existe – deve pedir registro hoje – mas já tem mais seguidores em redes sociais que PT e PSDB juntos.
O MEDIADOR
Após reassumir o comando nacional do PMDB, Michel Temer disse ao vice Valdir Raupp (RO) que está dedicando tempo para costurar o palanque de Paulo Skaf (PMDB-SP) para Dilma.
DEDO DO LULA
A ex-prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins, não apoiará o candidato do PT a governador, Camilo Santana. Ela acertou com senador Eunício Oliveira (PMDB-CE) um comitê para apoiá-lo ao governo e Dilma presidente.
JOAQUIM É TRICOLOR
À espera da aposentadoria, Joaquim Barbosa (STF) contou, durante noite de autógrafos do livro Nós somos a História, que acompanhava o Fluminense na época da Máquina Tricolor.
TOPA TUDO
De olho em suceder Henrique Alves (RN) no comando da Câmara, o líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), tem prometido tentar conseguir doações de empresas para campanha à reeleição de correligionários da bancada.
PENSANDO BEM...
... reconduzido ao comando da Seleção ontem, Carlos Caetano Bledorn Verri está muito mais para Zangado do que para Dunga.
PODER SEM PUDOR
SEDA É MAIS DECENTE
O então senador gaúcho Pinheiro Machado marcou uma visita ao hotel onde estava o seu colega Bernardo Monteiro, no Rio de Janeiro. O anfitrião o recebeu vestindo ceroulas comuns e ele não conteve a observação:
- Bernardo, você precisa estar preparado para morrer na rua. Vista-se de seda por baixo. Seja um cadáver decente.
Pinheiro Machado seria assassinado alguns anos depois, no Hotel dos Estrangeiros, no Rio. Vestia ceroulas de seda.
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