O GLOBO - 23/07
A balança comercial deste ano, até agora, está registrando queda da corrente de comércio pela primeira vez desde 2009, quando a crise internacional estava no auge. O cenário externo atual não atrapalha, pelo contrário. Os juros são zero no Japão, Estados Unidos e Europa, e as economias estão se recuperando. Apesar da calmaria, o Brasil está exportando e importando menos.
As exportações caíram 3,4% de janeiro a junho, em relação ao mesmo período do ano passado. Já as importações ficaram 3,8% menores. Com isso, a corrente de comércio encolheu 3,6%. O período terminou com déficit comercial de US$ 2,5 bilhões.
As exportações sofreram muito com a crise na Argentina, que é nosso terceiro principal parceiro e grande consumidor de produtos industriais. No primeiro semestre, vendemos 20% a menos para eles. As vendas de material de transporte e componentes despencaram 30% no total exportado para o mundo e somente isso representa uma perda de US$ 4 bilhões.
A crise argentina explica uma parte do problema. Cinco dos dez maiores parceiros do Brasil compraram menos de nós neste primeiro semestre, em comparação ao mesmo período do ano passado. O que acontece é que o Brasil vem perdendo competitividade. Além da retração para os argentinos, em parte reflexo da crise deles, caíram também as vendas externas para Holanda (-2,4%), Japão (-14,33%), Alemanha (-0,5%) e Itália (-1,89%). Fora dessa lista dos dez maiores, caíram também as exportações para a Coreia do Sul (-23%), Espanha (-1,6%) e México (-7,79%). Ou seja, a redução foi espalhada.
Tudo isso fez com que a nossa dependência comercial da China ficasse maior. Houve aumento das exportações em 4%, e a China já representa 21% de tudo que vendemos para o exterior. O que significa que qualquer redução do crescimento deles nos afetará A economia chinesa continua sendo a que mais cresce no mundo, mas está numa fase de lenta desaceleração do ritmo.
Entre as empresas, a Vale já sente esses efeitos. Com a queda do preço do minério de ferro nos mercados internacionais, as vendas da empresa recuaram em 7,4%, de US$ 12,1 bilhões para US$ 11,2 bi. A Petrobras exportou 2% a mais e chegou a US$ 6 bilhões, enquanto a Bunge Alimentos teve desempenho 9,2% menor, de US$ 3,7 bilhões para US$ 3,3 bi. Entre as 10 principais empresas, seis delas exportaram menos no primeiro semestre.
As importações também têm caído, tanto pelo consumo mais fraco, quanto pelo menor investimento no Brasil. As compras de bens de capital caíram 5,85%. Os bens de consumo foram menores em 1% e as matérias-primas, em 1,8%.
Uma boa notícia foi a redução do déficit bilionário da conta petróleo. A exportação de combustíveis e lubrificantes deu um salto de 25%, de US$ 7,2 bilhões para US$ 9 bi; enquanto as importações caíram 8,8%, de US$ 20,8 bilhões para US$ 19 bilhões. Com isso, o rombo — que continua enorme — ficou um pouco menor. Era de US$ 13,6 bilhões no primeiro semestre do ano passado e ficou em US$ 10 bi nos primeiros seis meses de 2014.
Ontem, o Ministério da Fazenda reduziu sua projeção de crescimento do PIB brasileiro, de 2,5% para 1,8%. A estratégia do governo é ir descendo devagar, porque a verdade que já se sabe é que a alta do PIB em 2014 será bem menor. As projeções do mercado financeiro, na pesquisa feita pelo Banco Central, registraram esta semana, pela primeira vez, um número abaixo de 1%. O comércio exterior poderia ajudar numa fase de desaceleração interna do consumo se o Brasil não estivesse perdendo competitividade.
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