sexta-feira, abril 08, 2011

IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO - Falando para quem mexe com a terra


Falando para quem mexe com a terra 
 IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO
O ESTADO DE SÃO PAULO - 08/04/11

Maria Bethânia. Estou contigo e não abro, como se dizia certa época neste Brasil. Você merece o que pediu pelo seu blog de poesia, e muito mais, o dobro, o triplo, dez vezes. Se porcarias como esses musicais americanos importados recebem uma grana alta, por que não a cantora que tem a mais coerente e bela carreira da música popular brasileira? Poesia é fundamental para abrir o coração.
Comecei contigo, Bethânia, continuo, para te contar a experiência que, semana passada, tive no interior do Estado, em Santa Cruz do Rio Pardo, pequena e aconchegante cidade. Poesia é também o contato com a terra. Quando a bibliotecária Haydé Augusta Rosa entrou comigo na escola agrícola do Centro Paula Souza, fui tomado pelo cheiro de café fresco. Ao me aproximar da mesa, o professor Luis Alberto Belezi, o Belo, me estendeu uma xícara. A fumacinha tênue e perfumada me conduziu à casa de minha avó Branca, em Araraquara, onde todas as tardes ela coava café caboclo, ralo e doce, que tomávamos com pão de coco, enroladinho.
Enquanto esperava o momento de inaugurar a biblioteca, sorvi aquele café que me aqueceu, trocando ideias com Belo sobre coadores de pano, melhores do que esses industrializados, de papel. Aqueles coadores de pano que de tão usados adquiriam a cor amarronzada e queimavam melhor o pó. Coadores feitos em casa, era preciso fervê-los na água misturada ao pó, para "amaciar", assim como havia gente que pedia aos filhos ou irmãos para usarem o sapato novo, a fim de "amaciarem".
Estive no Centro Paula Souza para inaugurar a biblioteca da Escola Técnica Estadual Orlando Quagliato, uma luta da bibliotecária Haydé. Ainda tem muita gente assim no Brasil. Para um escritor é bênção/entusiasmo ver mais uma biblioteca aberta, elas são bases para a cultura, o hábito da leitura, a viagem pela fantasia. Imaginem a primeira biblioteca de uma escola agrícola, na qual os livros técnicos sobre solo, técnicas de plantio, processamentos agropecuários, produção vegetal, clima, suinocultura, estatísticas vão conviver com romances, poesia, contos e crônicas em que a imaginação corre solta. Uma alegria ver uma biblioteca numa escola pública em que a primeira lista de material escolar pede enxada, chapéu de palha, botinão, jeans usado e camisa de manga comprida para enfrentar sol e chuva. Considerei-me privilegiado. Quantos autores já viveram esse momento de contato com gente que trabalha a terra e viu pela primeira vez um escritor pela frente e ouviu os processos de criação, essa gente que também mexe com a criação daquilo que nos sustenta?
Ouvi uma reação curiosa contada pela Leni de Fátima Dário, coordenadora da escola. Uma pessoa que deveria ter ido ao aeroporto de Bauru me buscar, pediu a uma colega que fosse em seu lugar. Estava entusiasmada, porém intimidada. Achou que não saberia o que conversar com um escritor, que tipo de assuntos me interessavam, para ela eu devia ser distante, inacessível, difícil, ia falar de temas altamente intelectuais, acadêmicos. O bom dessas viagens é a desmitificação da inacessibilidade do escritor, nesses momentos mostramos o que realmente somos, gente do dia a dia, normal (bem, tenho algumas dúvidas). Tirando minha cara brava, amarrada (é de nascença), aquela mulher acabou descobrindo que falo de tudo, de literatura, ferrovias, futebol, caipirinhas, curau, mulheres, filmes e fantasmas.
Sim, fantasmas! Porque Edvaldo Nicolini, que também se empenhou para levar um escritor à escola agrícola que ele dirige, me avisou que há (ou dizem que há) um fantasma assombrando o porão da sede urbana da escola, bonito prédio histórico, de altíssimo pé-direito, em cuja fachada está escrito: Meninos de um lado, Meninas do outro. Inscrições que vêm dos tempos em que homens e mulheres estudavam separados por paredes. Eu queria, porque queria saber do fantasma, pensei em passar a noite lá, não me deixaram. Confesso, era uma bravata. Dormi no hotel!
O refeitório da escola, no campo, foi montado para a conversa com os alunos. Eram 500 (há gente de todos os Estados, até do Pará) e me deixaram com a boca seca, ansioso. Vieram alunos de outras escolas, inclusive da Fafil, de Letras. Como conduzir uma fala para aquela gente que tinha olhos brilhando e que vive em outro mundo, pé no chão, digo na terra? Contei histórias, mostrando que literatura é prazer. Foram duas horas com fala, perguntas, respostas. E, então, pose para fotos em celulares. Antigamente eram autógrafos, hoje são fotos. Os próprios alunos, em poucos minutos, remontaram o refeitório, o almoço começou. Tudo que ali se produz ali se come. Sentei-me a saborear alface tenra, tomates suculentos, maionese fresca, lombo de porco com abacaxi, frango assado crocante, como poucos restaurantes quatro estrelas desta São Paulo conseguem fazer. Coisas da terra à nossa volta. Ao regressar a Bauru para pegar o avião, atravessei um milharal verdíssimo e me lembrei das pamonhadas que se faziam em Vera Cruz na minha adolescência, em tardes que reuniam famílias e colonos de várias fazendas e o cheiro do milho ralado e do curau subia das panelas, tão intensamente que permanece ainda hoje. Da escola agrícola de Santa Cruz não esquecerei jamais.

ANCELMO GÓIS - Brasileirinhos


Brasileirinhos
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 08/04/11

O Brasil ficou um pouco pior ontem. Andou para trás. 

Baratas punidas
A 4a- Turma do STJ determinou que o “Pânico na TV”, da Rede TV!, indenize em R$ 100 mil Mariana Zanácoli Gomes. Mariana andava pela rua quando um dos apresentadores do programa jogou um monte de baratas em cima dela. O relator foi o ministro Aldir Passarinho. 

Faroeste caboclo

Dira Paes, a atriz, vai estrear como produtora. Lançará, dia 13 de maio, no Cine Glória, no Rio, o documentário “Esse homem vai morrer”, de Emílio Gallo. O longa conta as histórias de 14 pessoas ameaçadas de morte no Sul do Pará. 

Bispos na mira...
A paraense Dira vai trazer de sua terra, para o lançamento, três bispos e uma freira da lista de marcados para morrer. O padre paraense Ricardo Resende, aliás, exilado há anos no Rio por causa de ameaças, é o protagonista do longa.

Lei Sujismundo
A Comissão de Transportes da Câmara aprovou a obrigatoriedade de fabricantes de carros fixarem nos painéis dos veículos mensagens educativas para incentivar os motoristas a não jogarem lixo nas ruas. O projeto, que não precisa ir a plenário, será analisado agora pela Comissão de Constituição e Justiça. 

Memórias de Amorim

Celso Amorim começou a escrever suas memórias.

Boicote político

A banda Steel Pulse, que toca hoje na Fundição Progresso, no Rio, exigiu que no camarim não haja produtos do WallMart. Boicotes assim contra empresas são comuns lá fora. A banda inglesa acusa o supermercado de “maltratar funcionários”.

A asma de Arida
O economista Pérsio Arida, 59 anos, que presidiu o BC, deu longo relato à revista “Piauí”, pela primeira vez, sobre sua prisão e tortura na ditadura. Aos 18, foi preso no DOI-Codi paulista e trazido ao Rio, onde apanhou, levou choques e foi impedido de tratar sua asma.

Rita Cadillac... 
Ex-VAR-Palmares, o jovem Arida não participou de nenhuma ação barra pesada. Com colegas, foi ao programa de Chacrinha vaiá-lo, porque, na época, achava “aquilo um circo para alienar consciências.” Mas desistiu ao ver a felicidade da plateia. E confessa que não tirou os olhos das pernas de Rita Cadillac. 

Dinheiro no turismo
A conta é do Ministério do Turismo. Bancos estatais emprestaram, nos últimos oito anos, R$ 25 bi a empresas do setor. Ano passado, foram R$ 6,67 bi, 20% a mais que em 2009.

Dança nos trópicos
Quarta, um gaiato gritou da galeria do Teatro Municipal do Rio, na apresentação de abertura da companhia Pina Bausch: “Liga o ar-condicionado, porra!” Foi muito aplaudido. Um locutor explicou que o ar foi desligado a pedido da produção do espetáculo, mas que seria ligado no segundo ato. Ah, bom! 

Lygia Clark 

Chega este mês ao Rio Luis Pérez-Oramas, curador do Museu de Arte Moderna de Nova York, o MoMA. Vem à inauguração do Clark
Art Center, em Botafogo. Aproveitará para tratar da preparação da retrospectiva de Lygia Clark, a grande artista plástica brasileira, no MoMA, em 2013. 

Troca de maestro
Paulinho, seis vezes campeão na Beija-Flor, de onde saiu em 2009, é o novo mestre de bateria da Vila Isabel. Entra no lugar de Átila, demitido após comandar a orquestra da escola nos últimos dois carnavais. 

O outro lado 

Bebeto, o ex-jogador e agora deputado, garante que é assíduo na Assembleia do Rio. Só faltou à votação de um projeto dele mesmo, diz, porque precisou subir a seu gabinete. 

Ave-maria
Crianças do turno da manhã do Colégio Notre Dame, em Ipanema, interromperam os afazeres da aula por um instante, ontem, para rezar juntas uma avemaria pelos brasileirinhos mortos na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo.

MONICA B. DE BOLLE - Novos dilemas, velhas políticas


Novos dilemas, velhas políticas
MONICA B. DE BOLLE

O Estado de S.Paulo - 08/04/11

Tantos deuses, tantos credos / Tantos caminhos que serpeiam, serpeiam (...) (Ella Wheeler Wilcox, The World"s Need)

Durante uma conferência recente sobre a condução da política econômica no período pós-crise organizada pelo FMI, o economista-chefe da instituição, Olivier Blanchard, defendeu a necessidade de uma "revisão abrangente dos princípios da política macroeconômica", destacando que a crise revelou os limites tanto dos mercados quanto do intervencionismo estatal. Segundo o economista, no "admirável mundo novo" pós-crise é necessário ter um espírito desbravador, inclinado a explorar diferentes opções que permitam navegar de forma mais adequada os desconhecidos mares dos novos dilemas da política econômica. Mas aquilo que para alguns tem um ar romântico de exploração e novidade, para outros é simplesmente o dessoterramento de velhos e frágeis artefatos.

O governo brasileiro atendeu prontamente à exortação de Blanchard, desenterrando peças quebradiças das tumbas da política econômica. Ações intervencionistas de todo tipo, antes classificadas sob rótulos pouco atraentes, como "repressão financeira" e "administração cambial", agora são chamadas de "macroprudenciais", uma denominação moderna e oportunista. Sob a justificativa de que é necessário combater os problemas causados pelas políticas frouxas dos outros, reeditam-se velhas distorções. A iniciativa mais recente, a imposição e subsequente extensão de um novo Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre a contratação de dívidas corporativas e bancárias no exterior, além das ameaças constantes de adoção de novas restrições, diante da incapacidade de conter a valorização do real, vai criando as condições para o retorno gradual dos regimes de câmbio múltiplo. Como já se viu antes, as tentativas fracassadas de dirigir os mercados tendem a gerar instrumentos alternativos, como o câmbio para os exportadores, para as viagens internacionais, para as compras das empresas, e por aí vai. As discussões sobre o papel do crédito público como fomentador do investimento de longo prazo, a reimplantação dos mecanismos de indexação, com as novas propostas de fixação do salário mínimo e do Imposto de Renda, a interferência do governo no planejamento estratégico de grandes empresas para "garantir o aumento do valor adicionado" também são artigos bolorentos do museu de políticas malsucedidas. Não são, como têm arguido certos membros da equipe econômica, bússolas para desbravar "o admirável Brasil novo".

Mas não é só isso. A política monetária, no Brasil e no mundo, parece cada vez mais inclinada a ressuscitar a desgastante engrenagem de stop-and-go da década de 70, que vacilava constantemente entre a priorização do combate inflacionário e da preservação do crescimento. Diante dessas crescentes evidências de mudança de regime, surge um questionamento fundamental. Será, como alertou certa vez o economista Dionisio Dias Carneiro, que estamos sofrendo as consequências de ter tentado reformar o Brasil com taxas de juros muito altas? Isto é, as alterações nos fundamentos da política macroeconômica brasileira estão refletindo a fadiga da sociedade com o lento e árduo processo de redução dos juros? Ou as novas ações seriam só um flerte exploratório, adolescente e efêmero, fruto do aval global para a adoção da heterodoxia? Eis a dúvida. O grau de desorganização macroeconômica que o País poderá enfrentar nos próximos dois anos depende da resposta.

Na década de 80, Dionisio escreveu o seguinte sobre o governo Geisel (1974-1979): "Os conflitos entre estabilização e ajuste estrutural, que caracterizariam a política econômica do governo Geisel, teriam sido resolvidos em favor de uma estabilização mais drástica, aceitando-se um crescimento deliberadamente menor por dois anos, por exemplo, para realizar a expansão em bases mais condizentes com as possibilidades dos anos seguintes". Ironicamente, as semelhanças entre o governo militar de Geisel e o governo democrático de Dilma são cada vez mais nítidas.

ECONOMISTA, PROFESSORA DA PUC-RJ,

É DIRETORA DO IEPE/CASA DAS GARÇAS

LUIZ GARCIA - Sem resposta


Sem resposta 
LUIZ GARCIA

O GLOBO - 08/04/11

Está avançando no Senado - ainda tem muito caminho pela frente, mas já foi aprovado pela comissão que discute a reforma política - o projeto que institui o financiamento público exclusivo das campanhas eleitorais.

A ideia é acabar com o poder do dinheiro em todas as eleições, do presidente da República aos prefeitos, dos senadores aos vereadores. Combina bem com outra novidade, aprovada outro dia pela mesma comissão: o voto em lista fechada. Por esse sistema, o eleitor vota na chapa apresentada pelo partido, e não neste ou naquele candidato.

Funciona muito bem nos Estados Unidos, embora isso não represente qualquer garantia - ou mesmo discreta esperança - de que vai dar certo por aqui. Lá, o sistema é praticamente bipartidário. Além de democratas e republicanos, existe uma porção de pequenos partidos. Inclusive o comunista, que costuma ter até candidato a presidente da República. Mas, com raríssimas exceções, só são eleitos para o Congresso, governos estaduais e a Casa Branca os representantes dos dois partidões. A propósito, não existe qualquer forma de financiamento das campanhas com dinheiro público.

Aqui, a tradição é multipartidária e não há qualquer indício de mudança. Se já conseguimos ter mais de um partido comunista, pode-se prever, sem qualquer excesso de pessimismo, que o voto em lista fechada não vai estimular uma redução na quantidade de legendas.

Talvez contribua para reduzir o número de candidatos tiriricas - mas é sempre bom lembrar que não há tiriricas na história dos grandes escândalos no Congresso. Senadores e deputados envolvidos nos escândalos de nossa história parlamentar recente pertencem à elite política nacional, se assim se pode chamá-la. São eles que viajam demais, empregam demais - enfim, abusam demais das prerrogativas e privilégios associados ao mandato.

Em tese, a lista fechada e o financiamento público das campanhas são novidades que podem contribuir para melhorar, em incerta medida, o nível das eleições majoritárias e parlamentares? Na prática, o que interessa é saber se representarão o fim dos mensalões. Pelo menos, farão com que eles sejam menos frequentes e mais facilmente punidos?

Não há resposta segura para essas perguntas. Na melhor das hipóteses, talvez apenas vagas esperanças.

GOSTOSA

EDITORIAL - O ESTADÃO - O que precisava ser dito


O que precisava ser dito
EDITORIAL
O Estado de S. Paulo - 08/04/2011

O discurso de estreia no Senado do ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves, que aspira a ser o nome oposicionista em 2014, há de ter desapontado os que esperavam de sua fala, anteontem, um pronunciamento inaugural de campanha. Um chamado à batalha, capaz de devolver aos seus companheiros tucanos a confiança na sua aptidão para sacudir a maioria do eleitorado do estado de torpor crítico a que foi reduzida pelo carisma estelar do então presidente Lula.

Essa expectativa o mineiro de fato não atendeu, não porque lhe faltem atributos de liderança ou uma percepção adequada do quadro político nacional, mas por saber que a hora, para a oposição, ainda está longe de ser a de apresentar uma alternativa cabal à visão petista de poder e de País. Aécio subiu à tribuna antes como quem ia depositar uma pedra fundamental do que descerrar uma obra política pronta. Nisso estava certo e disso se desincumbiu à altura de suas credenciais para o papel que a força das coisas lhe atribuiu - o de preparar os oposicionistas para a travessia da desorientação programática e dos desgastes paroquiais à descoberta de uma voz e de uma sintaxe política que façam sentido.

Sim, ele apresentou um elenco de propostas tópicas de gestão da coisa política, divisão de responsabilidades, recursos e competências entre os entes federativos - o que não é de pouca monta para as finanças estaduais e municipais em apuros - e de incentivos às micro e pequenas empresas, cujo potencial para o dinamismo econômico é mais reconhecido no papel do que promovido na prática. Mas o forte da sua alocução foi a contestação do caricato retrato lulista do Brasil. "Ao contrário do que alguns nos querem fazer crer", apontou, "o País não nasceu ontem." Além disso, "o Brasil precisa de um choque de realidade porque o Brasil cor-de-rosa vendido competentemente pela propaganda política não se confirma na realidade".

Como tiro de largada, Aécio disse o que de há muito precisava ser dito e que a campanha presidencial tucana de 2010 evitou dizer. Se o tivesse feito, ainda que o desfecho da disputa fosse o mesmo, o PSDB e o candidato José Serra em particular não teriam acrescentado à derrota eleitoral a ainda mais grave debacle política. Os oposicionistas bem que poderiam despertar o eleitorado para uma regra geral, enunciada agora por Aécio, cujas consequências adversas estão ao alcance da mão: "Sempre que precisou escolher entre os interesses do Brasil e a conveniência do partido, o PT escolheu o PT."

Pode-se discutir se o tom do senador devia ou não ser mais agressivo. O aspecto é secundário. Em primeiro lugar, a oposição não precisa de um Lula para se contrapor ao produto original. Segundo, partir para a estridência seria um favor que tucanos e demistas lhe fariam, como a dar razão à sua teoria da conspiração das elites contra um governante que fez do progresso social a sua prioridade. Por último, a sociedade brasileira está madura para um líder que não confunde "adversário com inimigo", nem "o direito à defesa e ao contraditório com complacência ou compadrio", como Aécio se situou. Desde que, é claro, tenha consistência.

Nesse andamento, o senador pode ao mesmo tempo lembrar que o PT se opôs a avanços extraordinários como o Plano Real, a Lei de Responsabilidade Fiscal e os programas de transferência de renda que deram origem ao Bolsa-Família e reconhecer que "a manutenção dos fundamentos da política econômica implantada pelos governos anteriores é o primeiro e mais importante mérito" do governo Lula. Ou prever que o futuro considerará os governos Itamar, Fernando Henrique e Lula um só período da história nacional e denunciar "a farra da gastança descontrolada, em especial do ano eleitoral", que faz renascer a doença da inflação.

Aécio se guardou de avaliar os 100 dias iniciais da presidente Dilma Rousseff e, embora elogiasse o seu esforço de impor personalidade própria ao governo, denunciou não haver ruptura entre o velho e o novo, "mas o continuísmo das graves contradições dos últimos anos". A partir dessa constatação, a oposição pode construir a sua jornada para se reencontrar com o eleitorado.

NELSON MOTTA - Uma questão de estilo


Uma questão de estilo
NELSON MOTTA
O Globo - 08/04/2011

Os lulistas ficam eriçados como as cerdas bravas do javali quando, por falta de assunto ou de notícias do governo, a imprensa insiste em comparar e acentuar as diferenças entre Dilma e Lula. Logo dizem que a amizade dos dois é inabalável, que eles discutem a relação toda semana, que ninguém vai intrigá-los, muito menos a mídia golpista. Dilma sempre elogia Lula em público, chegou a dizer que eles tinham muitas afinidades, mas não eram a mesma pessoa, como se alguém pudesse sê-lo.

Nem o mais pérfido e melífluo dos conspiradores tem a pretensão de abalar a aliança de Lula e Dilma, porque os dois podem ser tudo, menos burros. Talvez sejam diferentes na tolerância com incompetências e malfeitorias de aliados, mas só o tempo dirá.

A evidência é que o estilo Lula de animador de auditório, de bravatas e grossuras, de palanqueiro em campanha permanente, pode até ser divertido e ter funcionado, mas foi tão intenso que cansou o público, como os comediantes de sucesso depois de um tempo. Isto não faz melhores ou piores os resultados de sua administração, é só uma questão de estilo. Desgostar do jeito de ser de alguém não impede de reconhecer o seu desempenho.

Com os aplausos que o seu governo merece e respeito pela sua história, muita gente acha esse estilo detestável. Sem preconceito contra líderes populares falastrões, ou nordestinos notáveis, ou quem não podia estudar, mas aprendeu a ensinar, como Marina Silva. Muitos também detestam o estilo pavão de FHC. O que incomoda é a obsessão pelo protagonismo, a prepotência e estridência da fala rude e machista, o rancor e o ressentimento do discurso divisionista, o choro fácil. Ninguém aguenta tanto exibicionismo autocongratulatório durante muito tempo, nem os líderes mais populares.

Com a sobriedade e autoridade naturais de uma personagem que lhe é confortável, Dilma está aparecendo mais pelo que não faz como Lula do que pelo desempenho do seu governo. Mas foi ele que a descobriu, acreditou e apostou nela.

Quando a cobra fumar e a onça beber água no julgamento do mensalão é que se verá o quanto Dilma e Lula são diferentes. Ou não.

PAULO M. HOFF - O câncer, a epidemia e a saúde pública


O câncer, a epidemia e a saúde pública
PAULO M. HOFF
FOLHA DE SÃO PAULO - 08/04/11

É preciso que o Brasil tenha muita iniciativa, vontade política e empenho para enfrentar o câncer, doença difícil e em franca ascensão


O que representa uma década quando o assunto é medicina oncológica e seus avanços?
Para alguns, pode parecer muito tempo, mas quem luta diariamente contra essa doença, complexa e cheia de mistérios, sabe que esse período não é longo.
Falamos em uma década porque, para o câncer, esse tempo é o suficiente para torná-lo adulto. E bem adulto. Estima-se que até meados deste século esta se torne a principal causa de mortes no país, ultrapassando as doenças cardiovasculares. Um dado que assusta, preocupa e merece atenção.
Nas últimas décadas, a medicina oncológica conquistou importantes vitórias. Vivenciamos o surgimento de novos medicamentos e tratamentos que aumentaram significativamente a chance de cura e sobrevida de nossos pacientes.
A evolução da genética, levando a identificação de genes responsáveis pela ampliação do risco de desenvolver alguns tipos de tumores, potenciais alvos para terapias dirigidas, além do desenvolvimento e disseminação de novos e modernos equipamentos, importantes para o combate ao câncer.
Tudo isso trouxe uma enorme evolução, que poderia ter sido verdadeira revolução se a doença não nos acompanhasse e nos desafiasse continuamente nesta maratona.
Atualmente, o Brasil conta com diversos hospitais de ponta, que são referência para o tratamento oncológico. Há alguns anos, essa excelência no atendimento aos pacientes com câncer concentrava-se principalmente nos hospitais particulares, mas felizmente um número cada vez maior de unidades voltadas para o atendimento dos pacientes que dependem do Sistema Único de Saúde (SUS) também passou a se destacar nessa área.
E dar atenção para a construção e o custeio desses centros de excelência é não parar de lutar contra a doença. Em 2008, o governo de São Paulo e a Secretaria de Estado da Saúde investiram e inauguraram o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira (Icesp), um bom exemplo da parceria entre tecnologia, qualidade e atendimento voltado para o SUS.
Três anos depois, o Icesp hoje é um dos melhores centros de referência de câncer do país, com atendimento mensal a quase 11 mil pacientes e com o maior parque radioterápico da América Latina.
Só no último ano, o instituto atendeu, na parte assistencial, mais de 12 mil novos casos de câncer. Um número assustador e que precisa ser levado a sério.
É preciso que o Brasil tenha muita iniciativa, vontade política e empenho para enfrentar o câncer, uma doença difícil e que está em franca ascensão. Com o envelhecimento da população, certamente teremos uma "epidemia" de casos de câncer no futuro próximo.
O caminho ainda é longo, mas a experiência do Icesp e de outras instituições de renome prova que temos profissionais altamente qualificados e as condições necessárias para incluir o Brasil entre as nações que lideram o mundo no combate ao câncer.

PAULO M. HOFF, oncologista, é diretor-geral do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira e professor titular de oncologia da Faculdade de Medicina da USP.

JOSÉ VIEGAS FILHO - O futuro, o Brasil e o mundo


O futuro, o Brasil e o mundo
JOSÉ VIEGAS FILHO
FOLHA DE SÃO PAULO - 08/04/11

É de se prever, portanto, que o Brasil efetivamente tenha um papel crescente e positivo a desempenhar no seio da comunidade internacional


Trinta anos são uma geração.
Basta observar como o mundo mudou da década de 50 para a de 80 e para a nossa para ver que ele estará novamente mudado em 2040. Ainda mais com a velocidade com que as coisas acontecem no nosso tempo, é impossível fazer previsões. Ou melhor: é impossível acertá-las.
Isso não pode impedir, naturalmente, reflexões sobre o futuro, sobre o mundo e sobre algumas possíveis características da inserção do Brasil no cenário global.
A crise atual do grande capitalismo econômico-financeiro não será eterna, mas ainda não acabou de deixar as suas marcas, entre as quais um vistoso reequilíbrio das relações internacionais, fruto de uma progressiva descentralização do poder político e econômico.
Ainda nesta década, o Brasil poderá ser a quinta ou sexta economia do mundo, superando as diferenças quantitativas com relação à França, à Grã Bretanha e à Alemanha e aproximando-se cada vez mais desse patamar do ponto de vista qualitativo.
Quanto aos aspectos políticos, o mundo poderá ver-se fortemente pressionado por problemas globais cuja resolução, hoje incerta, terá que ocorrer já nos próximos 30 anos. Refiro-me a questões como a mudança do clima, as migrações e os desequilíbrios sociais, a luta contra o terrorismo e a construção de um sistema internacional de tomada de decisões que seja, ao mesmo tempo, mais justo, mais democrático e mais eficaz.
Impedir o fracasso do sistema internacional e buscar seu aperfeiçoamento provavelmente estarão entre as principais tarefas da próxima geração de políticos e diplomatas. Até hoje, as potências principais ainda agem como se suas ações individuais pudessem dar solução aos problemas globais, raciocínio antigo e contraproducente.
Os requisitos de defesa certamente continuarão a existir, mas as ações internacionais têm de ser tomadas pela comunidade das nações e pelos órgãos que a representam legitimamente. É quase absurdo, por exemplo, pensar que a composição do Conselho de Segurança da ONU, que reflete ainda hoje a situação vigente em 1946 -depois do que o mundo passou por seguidas e profundas transformações geopolíticas-, permaneça imutável.
O pessimismo, a perda de vitalidade política, a atitude defensiva quanto à entrada de imigrantes, a virtual ausência de grandes planos de mudança econômica e social e o conservadorismo em geral poderão manter papel proeminente na evolução dos países do Atlântico Norte no futuro previsível.
Nós, no Brasil e na América do Sul, vemos o futuro com otimismo e dinamismo econômico-social.
O Brasil -e quem sabe nossa região- desenvolveu um claro consenso sobre as vantagens de gerar o progresso econômico com base no mercado robusto que deriva da ascensão das faixas mais pobres da sociedade. É de se prever, portanto, que o Brasil efetivamente tenha um papel crescente e positivo a desempenhar no seio da comunidade internacional. Sob diferentes aspectos, o nosso país tem as características mais propícias para isso.
Sempre vivemos com os olhos no futuro, e não no passado, e temos firmemente, como nação, características que podem ser vistas como modelares na formação de um mundo novo: a ausência de qualquer desejo de hegemonia e dominação, ao lado da defesa do diálogo e da democracia, da solução pacífica e negociada das controvérsias, da cooperação igualitária, do pluralismo e do caráter revigorador da variedade e da diversidade.
Junto conosco emerge a nossa região, em especial a América do Sul, com que compartilhamos amplamente esses valores. As economias estão ajustadas, a democracia é sólida e nossos povos desejam a inclusão social. Não queremos criar problemas: queremos resolvê-los.
Com progresso e concórdia.

JOSÉ VIEGAS FILHO, 68, é embaixador do Brasil na Itália. Foi ministro da Defesa (2004-2005) e embaixador do Brasil na Dinama

DORA KRAMER - Desequilíbrio ecológico


Desequilíbrio ecológico
DORA KRAMER

O ESTADO DE SÃO PAULO - 08/04/11

A oposição realmente terá de rebolar para conseguir fazer frente ao PT e cercanias nesta quadra de nossa história. Nos primeiros oito anos de poder, o partido escorou-se na figura de Lula, que a tudo o mais se sobrepunha como centro dos acontecimentos e movimentos políticos.
Agora, sem ele na linha de frente constante proporcionada pelo exercício da Presidência da República, assume a cena a equipe unida num mesmo projeto, organizada e na posse plena de perfeita noção de conjunto.
A oposição, por sua vez, ainda atua na lógica personalista buscando desesperadamente um líder, um comandante, uma referência.
Se isso ficou claro durante o discurso de Aécio Neves na quarta-feira no Senado, quando se viu de um lado um só se posicionando como elemento catalisador e de outro um batalhão se movimentando de maneira coordenada no contra-ataque, o quadro fica ainda mais nítido em perspectiva ampliada.
Sem grandes dificuldades os petistas conseguiram aprovar na Câmara a criação de uma empresa estatal para administrar a operação do trem-bala São Paulo-Rio, uma proposta de eficácia no mínimo questionável do ponto de vista da demanda, dos investimentos e dos resultados.
Aprovaram também os termos do Tratado de Itaipu, elevando de US$ 120 milhões para US$ 360 milhões o valor anual que o Brasil paga ao Paraguai pela energia consumida aqui e gerada pela Usina de Itaipu. Razão? Uma ajuda ao amigo presidente Fernando Lugo, paga pelo contribuinte brasileiro.
Note-se, a propósito da eficiência petista em transformar o manejo dos instrumentos de poder em objeto de consumo próprio, o empenho e atuação da tropa petista/governista na defesa de seus interesses no esboço de reforma política desenhado na comissão especial do Senado que prepara as propostas a serem examinadas pelo plenário.
Dos pontos aprovados até agora nenhum contraria os interesses do PT e dois em particular os atendem de maneira acentuada: o voto em lista fechada para a eleição de deputados e o financiamento público de campanhas eleitorais, duas antigas bandeiras do partido.
Evidentemente que o jogo não está ganho, mas as cartas estão postas para que os petistas façam valer a maioria governista a fim de patrocinar alterações no sistema político-eleitoral à imagem e semelhança do que pretende o PT.
No caso específico do financiamento público, isso passou pela comissão no exato momento em que o mensalão ganhava novo destaque por causa do relatório da Polícia Federal mostrando em detalhes o uso de recursos oficiais desviados para políticos e partidos por intermédio da "lavanderia" montada pelo lobista Marcos Valério Fernandes de Souza para captar e distribuir a "mercadoria".
Aprovou-se o financiamento público exclusivo, mas nada se discutiu sobre os controles na fiscalização do uso desse dinheiro.
Ponto crucial quando se trata de convencer a população de que a reserva de uma parcela do Orçamento da União deve ser transferida aos partidos, justamente quando o governo se fortalece e a oposição se enfraquece de tal forma que, na prática, a sociedade não tem quem a represente na tarefa de manter estreita e constante vigilância sobre o destino do patrimônio coletivo.
A realidade é que a predominância absoluta do governismo e a ausência de contraponto eficaz podem até revelar competência das forças aliadas ao Palácio do Planalto, mas na democracia são uma deformação de consequências tão nefastas quanto inexoráveis.
Sendo a sociedade plural, o normal é que a diversidade se expressasse também no Parlamento em nome da preservação do equilíbrio ecológico na política.
Luto. O coração se aperta, a alma se encolhe, a mente se conturba, o corpo acusa o golpe na boca do estômago e o sobressalto nos invade ante a constatação de que para a tragédia não há fronteiras nem limites.
A loucura e a iniquidade são universais, sabemos. Mas quando chegam bem perto de nós o sentimento é de paralisia, impotência, perplexidade. De atroz e dilacerante desesperança. 

JAPA GOSTOSA

MÔNICA BERGAMO - BUSCA NO MAR


BUSCA NO MAR
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SÃO PAULO - 08/04/11

Familiares de vítimas do voo 447 da Air France, em 2009, preparam uma ação para tentar obrigar a companhia e a Airbus a participarem de buscas pelos corpos no mar. Até agora, elas estão sendo realizadas pelo governo francês, que prioriza o encontro de destroços para tentar desvendar o acidente. Parentes querem que a prioridade seja invertida. E que as operações não sejam interrompidas até que todos os passageiros mortos sejam localizados.

BUSCA 2
"As famílias têm o direito de velar por seus mortos, é uma questão de dignidade humana. É preciso dar prioridade a isso, não importa o custo financeiro dessas buscas", diz o advogado João Tancredo, que representa parentes de 15 vítimas.

LÁ VAI O JUVENAL

Juvenal Juvêncio, presidente do São Paulo, conseguiu que a Justiça deixasse o caminho livre para que ele dispute mais uma reeleição. A oposição contestava esse direito, afirmando que o cartola vai para o terceiro mandato. Juvêncio alega que, como o estatuto do clube foi modificado, ele disputará apenas o segundo mandato sob as novas regras.

BOM PAPO
Com a cabeça sob a mira do DEM depois que aderiu ao novo partido de Gilberto Kassab, o PSD, o vice-governador Guilherme Afif Domingos almoçou anteontem com o governador Geraldo Alckmin e o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli. Diz que Alckmin o tratou muito bem -e nem sequer tocou na possibilidade de tirar Afif da Secretaria de Desenvolvimento por ele ter mudado de legenda. "Só conversamos sobre assuntos operacionais", diz Afif.

SUSTO

Em Brasília, convidado pelo ministro Fernando Pimentel, do Desenvolvimento, para solenidade com microempresários, Afif diz que a plateia ficou chocada quando a presidente Dilma Rousseff, com a voz embargada, pediu um minuto de silêncio pelas crianças mortas no massacre de uma escola no Rio. "Quase ninguém sabia de nada."

DIA DE FAXINA
As 31 subprefeituras da cidade farão um mutirão de fiscalização da Lei Cidade Limpa, hoje, com a ajuda de mais de 300 fiscais. Serão fiscalizados estabelecimentos nas principais vias de cada bairro. Para cada propaganda irregular encontrada, será aplicada uma multa de R$ 10 mil. Até março foram retiradas das ruas mais de 52 mil publicidades irregulares.

BATALHÃO DA SAÚDE
Quatro mil soldados do Exército serão treinados pela Secretaria Estadual de Saúde para atuar nos quartéis na prevenção do HIV e de outras doenças sexualmente transmissíveis. "Queremos sensibilizar os participantes quanto à importância da adesão espontânea ao teste de HIV e à participação no pré-natal de suas parceiras", diz o sociólogo Cláudio Monteiro.

ALGODÃO ENTRE OS CRISTAIS


Os executivos entraram para engrossar a plateia. O patrocinador, com uísque. E Ricardo Almeida entrou com os ternos na festa em que comemorou 25 anos de alfaiataria, anteontem, no Masp.

O estilista levou à passarela, de graça, 25 famosos: Gustavo Borges, Paulo Vilhena, Otávio Mesquita, Márcio Garcia e Roberto Justus, entre outros. "O que ele mandar, eu faço. Ao menos em tecido", dizia Ney Latorraca.

Ricardo Almeida diz que é ano de recomeço. Vai tornar a fazer roupa de mulher e estrear em "vestir" camas. Não diz onde os lençóis serão vendidos. Mas descarta a Casa Almeida, que saiu da família de Ricardo quando seu pai morreu, há dez anos.

Fábio Assunção, Fiuk e seu segurança fumam nos fundos do museu. "Fiz um terno com ele há anos e, desde então, o Ricardo sempre me dá a mão", diz Assunção.

Enquanto todos são amigos do dono da noite há décadas, Lulu Santos, que também desfilou, diz conhecer o anfitrião "há 25 minutos". "Tô precisando de um "remake" de guarda-roupa, para o palco e para a vida. Essa foi a oportunidade de a gente se aproximar."

ZEZÉ NO PALCO

Zezé Polessa aguarda a aprovação do dramaturgo Edward Albee para a tradução em português da peça "Quem Tem Medo de Virgínia Woolf?". Ela pretende encenar o espetáculo no segundo semestre, com direção de Victor Garcia Peralta. O ator Marco Ricca está cotado para o elenco. O projeto prevê 72 apresentações.

PIT BOM
Um cachorro pit bull que matou outros quatro cães e machucou um gato vai dividir, ao vivo, a tela com Luisa Mell na estreia de seu programa "Estação Pet", no dia 17, na TV Gazeta. Mell gravou sua captura anteontem, na Vila Matilde. O "convidado", diz ela, servirá para mostrar que "bichos de qualquer raça só precisam de cuidado".

BOM GARFO
O crítico de gastronomia Josimar Melo entregou certificados para estabelecimentos estrelados por seu guia na Casa Electrolux, no Jardim América. O chef Massimo Ferrari preparou o jantar do evento.

CURTO-CIRCUITO

A cantora de soul Nathalie Alvim se apresenta hoje no Club A, às 23h30. Classificação etária: 18 anos.

Luciana Bergier promove hoje coquetel para abertura de exposição de Maurice Prowizur, na Galeria Bergier.

A data da leitura que Lu Alckmin fará no projeto "Lê pra Mim?" foi alterada para amanhã, no Museu da Língua Portuguesa.

Sueli Almeida comemora aniversário no Via Funchal, com DJs Ucha e Lala K. Às 23h.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA, THAIS BILENKY e CHICO FELITTI

BARBARA GANCIA - Chega de sexo!


Chega de sexo! 
BARBARA GANCIA

FOLHA DE SÃO PAULO - 08/04/11

NÃO É PRECISO ser nenhum Contardo Calligaris, nenhuma Rosely Sayão, diria que não é preciso nem mesmo saber se Sigmund Freud vivia entre os aborígenes australianos ou em Viena e Londres do século 19 para ter certeza de que o atirador que encerrou prematuramente a vida de 12 brasileirinhos tinha um problema de ordem sexual.
Fico pensando no quanto alguém tem de estar perturbado para se imaginar nu e sem sopro, jogado sobre a pedra fria do IML depois de cometer um crime bárbaro seguido de suicídio, cuja única preocupação ao se ver nessa posição seja a de que irá ter o corpo manipulado por mãos ímpias, ou melhor dizendo, por quem já perdeu a virgindade.
Tudo bem, os especialistas falam em esquizofrenia, em surto e coisa e tal. Mas eu fico pensando. O pedido que ele deixou na carta-testamento encontrada pela polícia foi esse, não? Que quando seu corpo estivesse sendo preparado para ser sepultado, não deveria ser tocado por nenhum "impuro", "fornicador" ou "adúltero". Será que ele imaginava estar livrando as crianças que matou do pecado?
Foi sugerido que o atirador pudesse ser portador do vírus da Aids. Ué? Ele tinha histórico de compartilhamento de seringas por uso de drogas? Ou se imaginava como tal em mais uma de tantas facetas de uma identidade fragmentada? Agora é fácil perguntar, mas como é que ninguém ao seu redor percebeu tamanho sofrimento?
E faz sentido que, quando parece estar manifestando sua espiritualidade, ele só consiga papagaiar uma caricatura de talibã que nada tem a ver com o islâmismo. O sujeito definitivamente tentava de tudo para dominar seus instintos mais rudimentares.
Em uma sociedade evoluída, a questão da preferência sexual -são quantas, 15 ou, sei lá, 56 opções no cardápio? Sendo que ao menos 55 parecem mais ou menos iguais- não deveria ser valorizada, discutida ou sequer admitida a sua existência. Sexualidade é uma só, posto que todos temos um cérebro, um coração, uma libido e uma língua. Por isso chamamos de "sexo" e não de "atletismo" ou quiçá de "boliche", justamente porque versa sobre o íntimo e metade ou mais da graça reside em seu mistério.
Alô, seu Bolsonarossauro! Até quando o Vaticano vai usar a sexualidade da gente como instrumento político é o que a gente deveria estar se perguntando, não se a Preta Gil faz suruba.
Nesta semana, a polícia encontrou o corpo de uma garota de 16 anos, em Itarumã, Goiás. Suspeita-se que tenha sido morta a facadas, depois de ter sido emboscada por parentes de sua namorada que não aceitavam o relacionamento.
Em outro caso, no sábado passado, Michael, jogador do Vôlei Futuro, se viu forçado a assumir sua homossexualidade publicamente ao ser humilhado em estádio de Contagem, MG. "Foi a primeira vez que vi um estádio inteiro gritando "bicha" em alto e bom som", diz. "Tinha até criança, senhora, muita gente gritando". Pois eu digo que ninguém mais merece sofrer por causa da sexualidade. Ninguém.
Para combater a boçalidade, Marcelo Tas nos apresentou sua filha Luísa no "CQC" desta semana, uma luminosa estudante de direito, bolsista da American University em Washington e estagiária da OEA: youtube.com/watch?v=WLhxyOMriXU.
Fui às lágrimas quando vi e agradeço profundamente pelo gesto.

GOSTOSA

MERVAL PEREIRA - Ouvir o povo


Ouvir o povo
MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 08/04/11 

Independentemente do que for aprovado ao final dos trabalhos das comissões da Câmara e do Senado que tratam da reforma política, já há um consenso importante: a mudança do sistema eleitoral terá que ser aprovada por um referendo - como já decidiu a comissão de senadores - ou por um plebiscito, como parece ser a tendência majoritária na comissão de deputados.


A Comissão do Senado que trata da reforma política, presidida pelo senador Francisco Dornelles, terminou ontem seus trabalhos com a aprovação de diversas mudanças, sendo a mais importante a adoção do sistema proporcional de listas fechadas nas eleições para deputados federais, deputados estaduais, deputados distritais e vereadores, dependente de um referendo popular.

O deputado Miro Teixeira, que foi o pioneiro na defesa da consulta popular, quer mais que o referendo, quer um plebiscito para que o povo escolha entre diversos modelos o que mais o agrada, ideia que está avançando muito na Câmara.

Nesse caso, haveria um acordo entre a Câmara e o Senado para escolher diversos modelos de sistema eleitoral a serem apresentados ao eleitorado.

No momento, os modelos mais debatidos nas duas comissões são o da lista fechada, no qual os partidos políticos ganham centralidade e elaboram uma lista de candidatos que serão eleitos de acordo com a ordem em que forem colocados na lista, e o eleitor vota apenas no partido, e não mais diretamente no candidato; o "distritão", em que toda eleição se transforma em majoritária e os mais votados são eleitos; o "distritão" misto, em que uma parte das vagas é preenchida pela lista fechada e outra pelo voto majoritário; o distrital, onde o país é dividido em distritos, de acordo com critérios a serem definidos, que escolhem um representante; e o distrital misto, em que parte dos eleitos é escolhida nos distritos e outra parte por eleição majoritária.

O referendo submete ao eleitor apenas uma alternativa, no caso do Senado o voto em lista fechada, ou a manutenção do sistema atual.

Embora considere que o ideal é o plebiscito, o deputado Miro Teixeira acha que o referendo já é um ganho formidável, pois acaba com o voluntarismo, com as fórmulas impostas.

Ontem, na comissão da Câmara, a ideia do plebiscito teve bom avanço, recebendo o apoio de deputados com prestígio entre os seus pares, como Luiza Erundina ou o petista Ricardo Berzoini, e também do presidente da comissão, deputado Almeida Lima.

A comissão decidiu viajar aos estados, e vai haver mobilização no Rio de Janeiro e em outros estados em que as lideranças políticas estejam engajadas no projeto do plebiscito.

O deputado Miro Teixeira acha que desse modo o resultado fica insuspeito. A base da decisão é que o povo tem todo o direito de desconfiar das mudanças quando os políticos estão definindo a maneira como eles serão escolhidos.

A convocação de uma Constituinte restrita, ou um Congresso revisor restrito, para tratar da reforma política, que chegou a ser considerada, mas não prosperou, segundo Miro daria oportunidade de tratar de forma mais aprofundada a questão da reforma política, juntamente com o sistema tributário e o pacto federativo.

Seriam discussões estruturais que se interligariam, com a redistribuição das atribuições e verbas entre os entes federativos.

Foi politicamente inviável tentar levar adiante a proposta devido ao uso distorcido das constituintes em países da região, seguindo exemplo da Venezuela de Chávez, que acabaram transformadas em instrumentos para aumentar o poder dos governantes de países como a Bolívia ou Equador.

Há divergências sobre qual a melhor ocasião para a realização do referendo ou plebiscito. Há quem defenda que seja feito simultaneamente à eleição municipal de 2012, para valer para 2014, usando o tempo de televisão para sustentar seus pontos de vista.

Mas há os que consideram que o debate coincidente pode confundir o eleitor, e preferem que seja realizado separadamente, ou para incluir já as eleições municipais nas novas regras ou para entrar em vigor mesmo em 2014.

As comissões da Câmara e Senado estão tratando de diversos temas, além do sistema eleitoral. Ontem, a do Senado encerrou seus trabalhos fazendo diversas propostas, como a proibição de coligações nas eleições proporcionais, mantendo-se a permissão para as eleições majoritárias.

A adoção do financiamento exclusivamente público das campanhas eleitorais foi aprovada, com fixação de teto para os gastos de campanhas eleitorais, ainda a ser definido.

Foi também aprovado o registro de candidaturas avulsas exclusivamente para os cargos de prefeito e vereador, desde que o candidato não seja filiado a partido político e obtenha o apoio de um percentual mínimo de 10% de eleitores na respectiva circunscrição.

Algumas das propostas são polêmicas, como o fim da reeleição e a ampliação, de quatro para cinco anos, dos mandatos do presidente da República, dos governadores de estado e do Distrito Federal e dos prefeitos.

A ampliação aprovada não se aplica aos mandatos atuais dos chefes do Poder Executivo eleitos em 2008 ou 2010. Vai ser preciso, no entanto, estudar a ampliação do prazo também de deputados estaduais e federais e vereadores, para que as eleições sejam compatíveis.

Outra mudança aprovada na Comissão do Senado que tem implicações políticas que não foram resolvidas foi a da data das posses: de governadores de estado e do Distrito Federal e dos prefeitos municipais passam a ser no dia 10 de janeiro; a do presidente da República fica no dia 15 de janeiro.

O comunicado do Senado diz que as alterações nas datas de posse não implicarão "prorrogação ou redução dos mandatos em curso, devendo os ajustes necessários ser efetuados nos mandatos futuros", mas não explica como isso se fará. 

JOSÉ SIMÃO - Bono é a cara do Dunga!


Bono é a cara do Dunga!  
JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SÃO PAULO - 08/04/11

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
E eu não vou pro show do U2 porque o Bono tá a cara do Dunga! Ou então eu vou estender a faixa: "Bono solidário, me passa o seu salário". Rarará!
Últimas Notícias. Breaking News! "Bêbado dirige por mais de 6 km até ser avisado que o carro estava sem uma roda." O que prova que rodinha de bêbado não tem dono mesmo. Rarará!
Michel Temer suspeito de propina no porto de Santos. Devia ser em aeroporto. Com aquele avião que ele tem em casa! Rarará!
E, direto de Vila Velha, Espírito Santo: "Projeto de meia passagem pra quem ficar de pé em ônibus". Ninguém vai sentar!
Ou então vai todo mundo ficar em pé em cima da cadeira! Usar a cadeira pra ficar em pé!
E Netinho quer criar a Comissão dos Direitos da Mulher. Vai ser uma luta. Rarará! Tiririca na Comissão de Educação e Cultura. Bolsonaro na Comissão dos Direitos Humanos e Netinho na Comissão dos Direitos da Mulher. O mundo não vai acabar. O mundo TEM que acabar!
E uma mulher no rádio lá na Bahia, que chamou a Lei Maria da Penha de Lei Maria Apanha! Acertou, errando! Rarará!
E o tal do jogador holandês que o Corinthians quer contratar, o Seedorf (Seeford e Seedorm), está acima do peso. Mas é condição "sine qua non" pra entrar no Timão? Jogador por quilo! Eles querem o bicentenário da banha! Rarará!
E diz que o apelido do Adriano é caminhão de usina: grandão, mal conservado e cheira a garapão.
E um amigo meu conheceu uma mulher na internet com o codinome de oncinha. Aí eles se encontraram e de oncinha ela só tinha o bafo. Rarará! É mole? É mole, mas sobe!
O Brasileiro é Cordial! E mais uma do Gervásio! Olha a placa na empresa em São Bernardo: "Se eu pegar algum zoião daqui paquerando ou olhando pra bunda da minha filha no churrasco lá no sítio, vou fazer esse arrombado mental cantar em mandarim com um sarrafo enfiado na garganta. Conto com todos. Assinado: Gervásio".
E tem uma leitora apaixonada pelo Gervásio que me passou um e-mail: "Eu vou ler o meu bronco amado hoje?". Vai. Ter orgasmos múltiplos. Com eco! Pro prédio inteiro ouvir. Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza.
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

O ABALO DAS BALAS

ILIMAR FRANCO - Mantega dá cartas


Mantega dá cartas
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 08/04/11 

O novo presidente do Banco do Nordeste (BNB) será um funcionário de carreira do Banco do Brasil: Miguel Cícero Terra Lima. O nome foi escolhido pelo ministro Guido Mantega (Fazenda). Ele foi superintendente do BB no Ceará, em 2000, e nomeado para uma diretoria da Brasilprev, em 2009. Os políticos governistas do Ceará foram mantidos à margem da escolha e o atual presidente do BNB, Roberto Smith, ainda se movimenta para ficar.

Ambientalistas começam a ceder

Com o aval dos ministérios do Meio Ambiente e do Desenvolvimento Agrário, integrantes da bancada do PT vão propor emenda ao Código Florestal para acabar com a necessidade de averbação da reserva legal. A concessão alivia pequenos e médios produtores rurais, base eleitoral petista. Os petistas estavam sendo pressionados por esses setores sociais a flexibilizar suas posições. Esse movimento, no entanto, não é suficiente para dar maioria aos ambientalistas na discussão do relatório do deputado Aldo Rebelo (PCdoB- SP). Nem deve levar a maioria, alinhada com os ruralistas, a ceder em outras questões do código.

"O Brasil tem uma fábrica de munição. Suspeito que esteja exportando para Bolívia, Peru, Paraguai e Colômbia; e que ela volte contrabandeada para as mãos de loucos, assassinos e traficantes” — Marcelo Crivella, senador (PRB-RJ) sobre a tragédia de Realengo

DEBUTANTE. Depois da Vale, a presidente Dilma Rousseff está começando a se debruçar na sucessão da presidência da Petrobras. Nesse caso, o governo tem mais tempo para avaliar as opções de nomes. O presidente da petrolífera estatal, Sérgio Gabrielli, estaria se preparando para deixar o cargo no ano que vem. Ele é o candidato do governador da Bahia, Jaques Wagner, à prefeitura de Salvador.

Zum-zum
Insatisfeita com a gestão do programa Segundo Tempo, do Ministério do Esporte, a presidente Dilma Rousseff andou conversando com o ministro Fernando Haddad (Educação) para que sua pasta assuma a condução do programa.

Viúvas
Depois de oito anos no centro das decisões, o secretáriogeral da Presidência, Gilberto Carvalho, e o assessor para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, estão ressentidos e insatisfeitos com o peso deles na atual administração.

A oposição precisa combater todo dia
Políticos experientes do Congresso dizem que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) precisa fazer mais do que um discurso no Senado para ser, de fato, o líder da oposição. Avaliam que para isso é preciso que Aécio faça ataques diários ao governo petista. Citam como exemplo a eleição de Fernando Collor, em 1989. Ulysses Guimarães defendia a mudança, mas os eleitores elegeram Collor como o
candidato da ruptura.

Procura-se
É grande o constrangimento entre os tucanos. Seus dirigentes estão à procura de um papel à altura do ex-governador José Serra. A criação do Conselho Político foi pensada com esta intenção. Mas a ideia não está empolgando.

Fico

Apesar da intensa pressão de deputados e senadores do PTB, o ministro Guido Mantega (Fazenda) bateu na mesa e decidiu que não haverá mudanças na Casa da Moeda. Será mantido na presidência Luiz Felipe Denucci Martins.

 O SENADOR Francisco Dornelles (RJ) vai ser reeleito presidente do PP. Na costura, o ministro Mário Negromonte (Cidades), o líder na Câmara, Nelson Meurer (PR), e o senador Benedito de Lira (AL). 
 CONFIRMADÍSSIMO. A presidente Dilma Rousseff recebeu convite oficial e vai visitar a Bulgária, país de nascimento de seu pai, no segundo semestre.
● PELA PRIMEIRA vez na história, mesmo que interinamente, a Câmara será presidida por uma mulher, a primeira-vice Rose de Freitas (PMDB-ES). Será no período de 13 a 17 deste mês, durante viagem do presidente Marco Maia (PT-RS) à Espanha.

VINICIUS TORRES FREIRE - Está feia a coisa, pá!


Está feia a coisa, pá! 
VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SÃO PAULO - 08/04/11

COMO SE soube oficialmente nesta semana, o governo de Portugal quebrou. Na verdade, o conjunto do país está mais ou menos quebrado, pois não é produtivo o bastante para pagar suas contas. Mas o que está oficial e objetivamente estabelecido é que o governo português jogou a toalha. Vai pedir ao "governo" da União Europeia um empréstimo do fundo para países quebrados, que já socorreu Grécia e Irlanda.
O Estado português não tem mais como pagar seus débitos, não ao nível presente da taxa de juros pela qual o país é obrigado a refinanciar suas dívidas. O problema é saber se o governo português terá como pagar suas dívidas mesmo com o papagaio da UE. Caso possa objetivamente pagar, resta saber de onde virá o sangue -quer dizer, de onde virão os recursos.
Em geral, um modo não muito complicado de avaliar a solvência de um Estado é observar o tamanho de sua dívida em relação ao tamanho de sua economia (relação dívida-PIB) e o ritmo de crescimento (ou decréscimo) da dívida pública.
O crescimento do tamanho relativo da dívida pública depende obviamente do tamanho do PIB, do deficit do governo (o deficit se acumula na dívida) e da taxa de juros que o governo em questão é obrigado a pagar para rolar seus débitos.
Ao pedir socorro à União Europeia, Portugal deve conseguir reduzir em um tanto a taxa de juros que paga. Como Portugal vai, pois, se submeter a um pacote "tipo FMI", de arrocho, a fim de receber o empréstimo-socorro, os mercados (credores) ficam mais calmos. Como aumenta a chance de receber o dinheiro de volta, cobram juros menores.
Quanto aos deficit, eles também devem cair ou desaparecer. Portugal, na verdade, terá de ter superavit a fim de reduzir sua dívida bruta, que será a condição para receber o dinheiro do pacote de ajuda.
O pacote, pois, vai demandar arrocho da despesa pública, de salários de servidores e gastos sociais. Provavelmente, virá também alguma cláusula de "aumento da competitividade" -isto é, arrocho de salários privados.
De início, pelo menos, esse tipo de pacote é recessivo. Ou seja, existe alguma chance de a dívida portuguesa até crescer em relação ao PIB, estagnado ou declinante. Pode ser que, no médio prazo, a dívida volte a cair. No caso da Grécia, por exemplo, isso é praticamente impossível: a Grécia não sai dessa sem algum calote, organizado ou não.
Logo, pelo menos se levada em conta a aritmética da relação dívida-PIB, o governo pode sair do buraco, "tudo o mais constante": se não houver outros choques na economia do mundo.
Mas quem paga a conta?
Por ora, o mercado financeiro (os credores) não vai pagar. Basta ver a reação da praça. Ninguém deu a mínima para o colapso português. Bancos credores, outros credores, acionistas de bancos credores e de bancos relacionados, ninguém se preocupou muito.
Logo, quem vai pagar a conta é o povo português. Haverá recessão. Haverá corte de despesa social. Haverá repressão de salários para todo mundo: no curto prazo, isso significa "aumento da produtividade". No médio e longo prazos, não se sabe como Portugal será mais "produtivo". Sua economia depende quase só de turismo, a educação é ruim, não há quase ciência e inovação.

GOSTOSA