Cem dias de governo?
ROBERTO FREIRE
BRASIL ECONÔMICO - 08/04/11
Os 100 primeiros dias de governo Dilma, na verdade a continuação de oito anos de governo sob a direção do Lula e do PT, é mais do mesmo. Novo é o crescimento consistente da inflação, a opressão e espoliação de milhares de trabalhadores nos canteiros de obra do PAC, aumento de impostos e o anúncio de um ajuste fiscal que enfrente os desequilíbrios estruturais da economia, herdados do governo Lula, cuja primeira consequência foi a volta do arrocho salarial depois de 16 anos de crescimento real do salário mínimo.
Afora isso, continuamos na mesma. As necessárias obras de infraestrutura para os dois macros eventos a Copa do Mundo em 2014 e a Olimpíada em 20116, sobre os quais, como sempre a propaganda governista destinou um oceano de tinta, estão paralisadas. E até hoje não se tem um desenho claro dos projetos necessários para enfrentarmos tal situação vexatória.
As seis mil creches prometidas durante a campanha que pretendia superar as agruras das mães trabalhadoras evaporaram. Assim como os dois milhões de casas populares do Programa Minha Casa, Minha Vida, do qual o governo sabe do seu raquitismo e reflui na publicidade. O escandaloso problema do saneamento básico - que afeta a esmagadora maioria dos pobres, em nossas cidades - para o qual, na propaganda eleitoral, foram anunciadas verbas e articulações com os prefeitos e governadores para a superação desse atestado de subdesenvolvimento social caiu no esquecimento.
O assustador quadro do sistema da educação pública, no país, avança lentamente com escolas precárias e inadequadas, um quadro profissional desmotivado, com uma preocupante falta de professores de matemática, química, física e biologia. A paralisia na área da educação já vem comprometendo a possibilidade de sermos contemporâneos do futuro.
A saúde pública próxima do colapso do sistema, atolado em denúncias de corrupção e sem nenhuma perspectiva de melhora de sua administração, continua infelicitando cotidianamente nosso povo. As epidemias como a dengue são os dolorosos fatos de nossa realidade.
A tudo isso, some-se uma macroeconomia, cuja política de câmbio ajuda a ferir de morte nossa indústria, e a política de juro torna o crédito no país, tanto para produtores como para consumidores, um dos mais caros do planeta. Sem falar que a inflação que já começamos a sentir no nosso cotidiano não parece estar sendo enfrentada com o devido cuidado e competência.
No entanto, as reformas necessárias que o país precisa para sair dessa camisa de força que nos aprisiona a um quadro desolador de ineficiência, desperdício, corrupção e desrespeito à cidadania são a tônica. Não sairemos da condição de país exportador de commodities - nosso legado colonial que retorna - se não investirmos pesadamente na ciência e inovação tecnológica, construirmos uma política industrial séria e sem enfrentarmos a reforma do Estado brasileiro, que há muito o país anseia.
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