Frio na espinha
ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SÃO PAULO - 08/04/11
BRASÍLIA - Ao nascer, importou o nome de Wellington. Ao morrer, importou expressões religiosas estranhas à vida dele e o método norte-americano de ataques desesperados e assassinos contra dezenas de crianças inocentes numa escola onde um dia estudou -e sofreu sabe-se lá o quê, de quem.
De nada adianta, porém, reduzir a tragédia ao drama pessoal e aos demônios de Wellington. Como de nada adianta endeusar o policial que puxou o gatilho e encerrou a matança. Há muito mais em jogo.
Que o rapaz assassino tinha transtornos mentais, é óbvio. Daí a chamá-lo de "animal" e "psicopata" é jogar adjetivos fora. Ou jogar para a plateia. Tanto quanto classificar de "herói" quem foi treinado para situações e assim cumpriu adequadamente seu dever.
Se há heróis numa tragédia como essa, são as dezenas de anônimos que se dispuseram a passar horas numa fila para doar sangue e ajudar a salvar as pequenas vítimas feridas estupidamente.
O mais importante, porém, é não deixar passar o dia 7 de abril de 2011 em branco. É preciso tentar entender o que se passa nas escolas brasileiras, que tipos de violência e humilhação Wellington sofreu pela vida afora e como a família adotiva e as pessoas próximas não viram se aproximar o tsunami de dor, desamparo e violência.
E é preciso, mais do que tudo, descobrir a origem da arma e o seu roteiro até chegar às mãos de um rapaz doente e, afinal, perigoso.
Onde, como, de quem, quando, por quanto e com que facilidade ele comprou aquela arma para trucidar meninos e, sobretudo, meninas? E você que votou a favor do armamento, o que está sentindo?
O momento é de dor nacional pelas crianças mortas e feridas e por seus pais, mães, irmãos, irmãs, parentes e amigos. Uma dor que remete aos massacres nos EUA. Depois que começaram, na década de 1960, nunca mais pararam. Dá um frio na espinha. E na alma.
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