quinta-feira, outubro 06, 2011

GUILHERME FIÚZA - 2014, a Copa do governo bêbado



2014, a Copa do governo bêbado
GUILHERME FIÚZA
REVISTA ÉPOCA

Dilma foi à Fifa e acabou com as dúvidas sobre a Copa do Mundo: chova ou faça sol, está garantida ao Brasil uma boa ressaca em 2014.

Essa perspectiva segura foi muito bem recebida pelos brasileiros, um povo cordial que jamais renuncia à alegria e ao oba-oba, mesmo quando está sendo assaltado.

A preparação do país para a Copa vai muito bem, obrigado. As obras faraônicas para os estádios seguem as regras mais estritas das negociatas, devidamente avalizadas pelo dinheiro do contribuinte.

A grande novidade é que o torcedor brazuca, ao entrar no Maracanã ou no Itaquerão, vai poder encher a cara – e esquecer os quase 2 bilhões de reais que esses novos templos da esperteza lhes custaram.

Foi mesmo providencial o anúncio do ministro dos Esportes, Orlando Silva, sobre a revogação da Lei Seca nos estádios brasileiros durante a Copa. Ninguém suportaria assistir careta a tanto gol contra.

Tome mais uma dose e alcance a lógica do ministro:

A proibição de bebidas alcoólicas nos estádios de futebol, determinada pelo Estatuto do Torcedor contra a epidemia de violência nas arquibancadas e nas ruas, pode ser suspensa porque “a Copa é especial”.

Orlando Silva explicou que essa regra de civilidade e segurança, há anos em vigor no Brasil, pode ser revista por causa dos “compromissos da FIFA com os patrocinadores”.

O ministro tem razão. O direito brasileiro termina onde começa o faturamento da Fifa.

Esse papo de soberania nacional soa bem em época de eleição – mas em época de Copa do Mundo não tem nada a ver. A Copa é especial.

Os que acham absurdo sujeitar as leis do país a uma marca de cerveja estão reclamando de barriga cheia. Se o patrocinador da Fifa fosse a Taurus, o ministro Orlando Silva também examinaria “com cuidado e naturalidade” a entrada de torcedores armados nos estádios.

E que não venham os estudantes protestar contra o roubo de seu direito à meia entrada na Copa. O governo brasileiro pode ser frouxo, mas felizmente também é incompetente: na falta de um sistema de transportes decente, decretará feriado nos dias dos jogos.

Os estudantes não têm do que reclamar.

Dilma e Orlando Silva poderiam estar matando, poderiam estar roubando, mas estão só rasgando as leis. Viva o governo ébrio.

IVAN MARTINS - Para quem você liga?



Para quem você liga?
IVAN MARTINS
REVISTA ÉPOCA

A gente não telefona para qualquer um quando o mundo desmorona


O telefone tocou logo cedo. Era a namorada, chorando. Tivera uma noite de sono ruim, chegara ao trabalho cansada e dera de cara com um problema sério, que parecia insolúvel. Bateu o desespero e ela ligou. Conversamos. Não havia o que fazer além de se acalmar e tentar resolver o caso. Disse isso a ela, juntei umas palavras de carinho e a ligação terminou de forma tranquila, uns minutos depois. Ela só precisava desabafar.

O significado dessa história cotidiana me parece da maior importância: é essencial ter alguém para quem ligar quando estamos aflitos, tristes ou perdidos. É fundamental ter com quem falar quando o mundo a nossa volta desmorona ou parece hostil e desanimador. Mesmo quando estamos felizes diante de uma notícia inesperada, ou de algo por muito tempo aguardado, temos necessidade de falar, contar, dividir. Para quem você liga nessas horas?

Nós damos uma importância enorme – e merecida – ao erotismo e ao romantismo nas nossas relações. Essas coisas são mesmo essenciais. Mas há outro componente na vida dos casais, igualmente fundamental, para o qual a gente nem sempre dá o devido valor. É a função de conforto e aconchego que o outro tem na nossa vida. É a proteção, ainda que subjetiva, que ela ou ele nos oferece. Quem ocupa essa posição detém uma das chaves da nossa existência. A pessoa para quem a gente faz a primeira ligação é uma pessoa essencial.

Faz algum tempo, uma amiga minha foi assaltada na porta da casa dela. A experiência foi assustadora, claro. Ela entrou no prédio apavorada, abriu a porta do apartamento chorando e correu para o telefone. Mas, em vez de ligar para o namorado, ligou para um colega do trabalho. Não foi pensado. Foi um impulso. Ela chamou a pessoa que ela gostaria de abraçar, a pessoa de quem precisava naquele momento. Só depois, quando a conversa com o colega acabou, ela se lembrou de ligar para o namorado. “O que isso significa sobre a minha relação com esses dois homens?”, ela me perguntou, uns dias depois. Eu achei que nem precisava responder. Significa, não?
Os telefonemas que a gente faz na hora do perrengue são reveladores. Eles exibem nossas conexões profundas, até mesmo as lealdades inconfessáveis. Se você acabou uma relação, mas ainda gosta da mulher, vai perceber um minuto depois de bater o carro. É para ela que você vai ter vontade de ligar. Se você conseguiu um tremendo emprego, não vai contar para o bonitão que conheceu no bar na semana passada. Vai ter vontade de ligar para o sujeito que sabe como isso é importante para você. E quando a gente bebe e fica insuportavelmente romântico e sentimental? Numa hora dessas, ninguém liga para pessoas estranhas. Comoção a gente divide com gente de confiança. Somos ridículos apenas com quem nos conhece muito bem.

Claro, nós não ligamos para uma única pessoa na vida. Temos vários interlocutores, para diferentes situações. Às vezes precisamos da franqueza de um amigo, outras vezes do apoio incondicional da mãe ou de um irmão. Quando os filhos crescem é gostoso dividir com eles coisas importantes, assim como ouvi-los em casa de dúvida. Quanto maior for essa agenda essencial, quanto maior o número de pessoas para quem se possa dar um telefonema íntimo, melhor. A minha impressão, porém, é que mesmo a família acolhedora ou amizades sólidas não substituem a cumplicidade de uma parceira emocional. Ter alguém especial para quem ligar faz toda a diferença – sobretudo quando as coisas parecem estar caindo sobre a nossa cabeça.

Na única vez que eu estive na China, anos atrás, houve um terremoto. Acordei com a cama sacudindo e percebi, apavorado, que o quarto inteiro do hotel tremia. Eu estava acima do 20º andar e pude ver o mundo balançando pela moldura da janela. Não recomendo a experiência. A coisa durou alguns terríveis segundos e cessou de repente. Alívio. Minha primeira reação, sentindo que tinha escapado da morte, foi sentar na cama e ligar para a ex-mulher, que estava no Brasil. Ela ouviu por três segundos e me interrompeu com uma ordem: “Larga esse telefone e corre pra rua! Pode ter outro terremoto logo em seguida!” Era uma criatura prática... Eu tinha ligado para dizer o quanto ela era importante, mas nem foi preciso. O ato de telefonar já dizia tudo, mesmo que eu não tivesse aberto a boca.

ILIMAR FRANCO - De onde vai sair?


De onde vai sair?
 ILIMAR FRANCO
O Globo - 06/10/2011

Os senadores que articulam pelo governo Dilma a aprovação de uma nova lei de royalties revelaram ontem de onde vão sair os R$ 8 bilhões para os estados não produtores de petróleo. Vão tirar R$ 3 bi da União, R$ 2 bi dos estados produtores e R$ 3 bi do aumento da produção.A proposta ainda precisa do aval do governo que está disposto a abrir mão de R$ 1,8 bi. O senador Wellington Dias (PT-PI) diz: “Este é o caminho para o entendimento”.

O que vale para um vale para todos
Em busca de aliados na votação dos royalties do petróleo, os senadores do Rio têm procurado estados produtores de minérios e energia. Eles sustentam que se for aceito que se pode alterar e reduzir a cota de royalties do petróleo em terra, omesmo princípio vai ser aplicado aos royalties devidos aos estados produtores de minérios e de energia. Os senadores de Minas, do Pará, do Paraná e de São Paulo estão sensíveis ao argumento de que os estados não produtores também podem reivindicar parcela daquelas receitas. Sobretudo agora, que os es-tados produtores querem aumentar os royalties pagos pelas mineradoras.

“Os partidos políticos não passam de balcão negócios” - Pedro Taques, senador (PDT-MT)

RebeldiaMesmo sabendo da posição contrária da Fifa, a bancada governista na Câmara incluiu no Estatuto da Juventude, aprovado ontem, artigo que concede a meia-entrada para jovens, de 15 a 29 anos, em eventos culturais e esportivos. A inclusão foi obra da relatora Manuela D’Ávila (PCdoB-RS), na foto. A iniciativa teve a simpatia do ministro Orlando Silva (Esporte) e da secretária nacional da Juventude, Severine Macedo

Investimento
O ex-senador José Serra quer que o Senado vincule a receita nova de royalties que os estados vão receber à criação de um fundo destinado a promover investimentos. Quer evitar que esse dinheiro seja dissipado pelo custeio da máquina.

Soberba
O presidente da Câmara, MarcoMaia(PT-RS),anda se queixando da ministra Miriam Belchior (Planejamento). Para o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), reclamou que pediu audiência mas não foi recebido.

Os que erguem os estádios do chão
O foco da presidente Dilma Rousseff quando defendeu para o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, a oferta de ingressos populares para os jogos da Copa do Mundo foi o de viabilizar que os trabalhadores, que estão reformando e construindo os 12 estádios, possam assistir pelo menos um dos jogos da competição. O governo acredita que a Fifa oferecerá ingressos a preços populares no Brasil como já fez na África do Sul.

Procissão
A bancada governista da Bahia foi cobrar ontem da ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) que sejam feitas as novas nomeações para as diretorias da Sudene, Chesf e Codevasf. As indicações dos nomes foram feitas há dez meses.

Segurança
O STF vai blindar todos os vidros do edifício-sede. O presidente Cezar Peluso quer aumentar a segurança do tribunal. No orçamento para o ano que vem, decidi-do pelos ministros, há uma previsão de R$ 4milhões para a realização da obr

A PRESIDENTE Dilma reforçou convite, a todas as autoridades com quem esteve na Europa, para que venham ao Brasil no ano que vem para a Rio+20.

O INSTITUTO FSB ouviu 217 deputados federais sobre as eleições municipais do ano que vem. Pretendem concorrer a prefeito 29% deles. São cerca de 47 candidatos de partidos governistas e 16 de oposição.

O SENADOR Lindbergh Farias (PT-RJ) esclarece que sua proposta de divisão dos royalties é para o futuro e não prevê a redivisão do já licitado.

ROBERTO MACEDO - Mais "parcerias republicanas"


Mais "parcerias republicanas"
 ROBERTO MACEDO
O ESTADÃO - 06/10/11

No dia 13 do mês passado, a presidente Dilma Rousseff assinou no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo, um convênio de destinação de recursos federais para obra do governo paulista, a do Trecho Norte do Rodoanel em torno da capital.
Reportagem deste jornal no dia seguinte registrou que foi a segunda visita presidencial em menos de um mês à sede do governo paulista. Ainda no dia 13, a presidente e o governador Geraldo Alckmin também se encontraram em Araçatuba (SP), para assinarem protocolo de intenção relativo a investimentos federais na Hidrovia Tietê-Paraná. No mês anterior, os dois anunciaram, juntos, a unificação do Bolsa-Família com o programa estadual Renda Cidadã. Tudo com muita cordialidade entre as partes.
Ótimo! Ruim foi saber pela mesma reportagem que alguns petistas e tucanos fazem restrições a essas ações, que a presidente chama de "parcerias republicanas":
"Há setores do PT que avaliam ser estrategicamente ruim para o partido firmar projetos com os tucanos, que acabariam beneficiados eleitoralmente pelas iniciativas.
No PSDB nacional, também há críticas à atitude de Alckmin, que, com a aproximação, esvaziaria o discurso de oposição ao PT". Não houve citação de quem está assim a resmungar, mas são atitudes de quem sobrepõe interesses partidários aos do País, e sintomáticas de uma visão política tipicamente não republicana.
Lula também teve parcerias com o governo paulista, mas o que chama a atenção nas agora realizadas é a sua maior escala e frequência. Como a presidente afirmou: "Começamos a fazê-las (...) em governos anteriores, mas elas progressivamente ganham hoje no Brasil um estatuto de exigência". Acrescentou que outras virão.
Essa exigência não é de hoje, e por várias razões. Primeiro, porque sabidamente a carga tributária do Brasil é enorme e do muitíssimo que se arrecada muito pouco é investido em obras públicas, das quais o País é tão carente. Segundo, o governo federal é privilegiado em termos de arrecadação e, por isso mesmo, costuma esbanjar recursos de que dispõe, enquanto Estados e municípios têm enorme carência deles relativamente ao muito que lhes cabe realizar. Terceiro, mesmo assim, no seu conjunto realizam a maior parte dos investimentos públicos brasileiros, tendo, por isso, maior experiência em geri-los, em particular pela prática acumulada e pela sua proximidade dos locais onde as obras se realizam.
Portanto, uma vigorosa expansão de "parcerias republicanas" há muito tempo se evidencia como uma exigência para aumentar a quantidade e a eficiência dos investimentos e outros gastos públicos. Ou seja, fazer mais com os recursos disponíveis.
Sintomática da dificuldade do governo federal em tocar seus próprios investimentos foi a notícia (Folha de S.Paulo, 4/10) com este surpreendente título: Dilma elege BB para tocar os novos projetos do governo. O texto diz que a Caixa Econômica Federal (CEF) está sobrecarregada ao gerenciar verbas para 18 ministérios e estatais, envolvida que está nas "(...) análises para aprovação de projetos e no acompanhamento de obras (...) como as do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e de construção de moradias populares. (...) Ministérios reclamam que a Caixa é burocrática, demora (...), atrasando o início de projetos (...)". O jornal afirma também que (...) o Banco do Brasil "avisou que ainda não está preparado para (...) assumir (...) essa tarefa, que requer (...) equipes de engenharia e de fiscalização em todo o país". Entendo que o encargo traz o risco de desvirtuar o trabalho usual do BB, e sem garantia de que o objetivo da presidente seja eficazmente alcançado.
Há outra saída, essa de a União ampliar com vigor o alcance das "parcerias republicanas" com os demais entes federativos, com o que investimentos federais se realizariam com maior descentralização, voltados para necessidades mais evidentes, e mais bem geridos localmente. Em particular, há nas grandes cidades enorme carência de redes metroviárias, que os Estados que as administram não têm condições de expandir suficientemente com recursos próprios. Enquanto isso, o governo federal quer tocar de Brasília um caríssimo e injustificável projeto de trem-bala entre este Estado e o do Rio de Janeiro.
E mais: se a presidente quiser optar por uma parceria republicanamente mais ousada no seu alcance e eficácia, há nas gavetas do Senado um projeto de lei inspirado em estudos do economista José Roberto Afonso, conhecido especialista em finanças públicas, e apresentado pelo ex-senador Alfredo Cotait (DEM-SP) no curto período em que exerceu o mandato no final ano passado. Esse projeto cria programa que autoriza Estados, Distrito Federal e municípios a abater até 30% das prestações devidas à União por força das dívidas estaduais assumidas por esta última, quando reestruturadas por meio de legislação em 1997 e 2001, desde que tais abatimentos sejam aplicados em investimentos nas áreas de educação, saúde e transportes.
Hoje, com tais prestações esses outros entes federativos gastam 13% de sua receita corrente líquida em pagamentos à União, mas, com a correção monetária do saldo devedor e os juros sobre ele, ao fim do prazo de 30 anos ainda restarão grandes somas a pagar.
Para esse pagamento não se prevê limite de comprometimento da receita e há estimativas de que então o gasto com a dívida poderá em alguns casos alcançar perto de 40% da primeira, levando os devedores a problemas financeiros que farão lembrar os da Grécia de hoje.
Com sua experiência em planejamento, a presidente Dilma sabe que ele será tanto mais eficaz quanto mais a ação governamental se antecipar a fatos que se revelarão graves no futuro. Está aí, portanto, uma oportunidade de estender também essa visão às suas muito bem-vindas "parcerias republicanas".

ECONOMISTA (UFMG, USP E HARVARD), CONSULTOR ECONÔMICO E DE ENSINO SUPERIOR, É PROFESSOR ASSOCIADO À FAAP

FERNANDO REINACH - Quando a segregação é melhor que a convivência


Quando a segregação é melhor que a convivência 
FERNANDO REINACH
O ESTADÃO - 06/10/11

O mundo precisa preservar a biodiversidade e produzir alimentos. Infelizmente, são poucos os estudos que consideram simultaneamente esses dois lados da equação. Enquanto ecologistas estudam a melhor maneira de preservar a biodiversidade, agrônomos tentam maximizar a produção de alimentos. Agora, um grupo de cientistas resolveu estudar qual a melhor maneira de otimizar a produtividade agrícola e, simultaneamente, a preservação da biodiversidade.

Grosso modo, existem duas maneiras de introduzir a agricultura em um ecossistema nativo. O primeiro, chamado de modelo de convivência, consiste em fazer um uso misto do solo, combinando pequenos campos agrícolas dispersos entre a vegetação nativa parcialmente preservada, o que permitiria a manutenção da biodiversidade original. O segundo, que podemos chamar de modelo de segregação, advoga a separação radical entre as duas atividades: áreas destinadas a agricultura são cultivadas de maneira intensiva, enquanto áreas dedicadas a preservação são mantidas intactas.

A pergunta que os cientistas tentaram responder é a seguinte: qual desses modelos (convivência ou segregação) permite uma melhor preservação da biodiversidade para um mesmo nível de produção de alimentos? Para responder a essa pergunta, cientistas determinaram a densidade (número de animais ou plantas por metro quadrado) de cada uma de 167 espécies de pássaros e 220 espécies de árvores em 20 áreas de 1 quilômetro quadrado em Gana. A produção anual de alimentos nessas áreas também foi medida. Enquanto algumas áreas eram totalmente preservadas e não produziam alimentos, outras haviam sido ocupadas parcial ou totalmente por atividades agrícolas. O estudo também analisou outras 25 áreas na Índia.

Para cada uma das 387 espécie analisadas, foi possível construir um gráfico relacionando a densidade da espécie em cada área analisada versus a produtividade agrícola da área. Esses gráficos retratam o comportamento de cada espécie frente ao convívio com a atividade agrícola. Para algumas espécies, bastava introduzir uma quantidade mínima de atividade agrícola para a densidade da espécie cair rapidamente (espécies perdedoras, que dependem totalmente da manutenção do ambiente original). Para outras, a densidade permanecia constante até um nível alto de atividade agrícola - somente então sua densidade diminuía (espécies resistentes).

Um terceiro grupo aumentava lentamente sua densidade, à medida que a atividade agrícola aumentava (espécies vencedoras, que se espalham pela diminuição de predadores). Um quarto grupo tem sua densidade aumentada rapidamente quando se introduz qualquer atividade agrícola (espécies vencedoras).Com base nos gráficos construídos para cada uma das quase 400 espécies foi possível para os pesquisadores simular que tipo de ocupação agrícola é capaz de manter a densidade de um maior número de espécies maximizando a produção de alimentos. Estas simulações mostram que, independentemente da quantidade de alimento produzido, o modelo que permite uma maior preservação da biodiversidade é o modelo da segregação.

Isso se deve ao fato de existirem muitas espécies que dependem totalmente da manutenção total de áreas intactas para sobreviver. Este estudo demonstra que é possível ocupar ecossistemas nativos de maneira relativamente inteligente e planejada, minimizando o impacto sobre a biodiversidade e permitindo a produção de alimentos de maneira intensiva. A surpresa é que o modelo de segregação total das atividades parece ser o ideal. É claro que a análise de somente 400 espécies não é suficiente para termos certeza do impacto sobre a biodiversidade, mas estudos como esses poderiam ser realizados no Cerrado e na Amazônia brasileira e deveriam ser usados como base para a elaboração das leis que regulam a ocupação das terras.

A boa notícia é que o Código Florestal brasileiro exige que de 20% a 80% de uma propriedade rural seja mantida com vegetação nativa (as reservas legais), o que permite a implementação de modelos segregacionistas. A má notícia é que poucas pessoas respeitam a exigência de preservar e isolar as reservas legais.

ENTREVISTA - Fernando Henrique Cardoso

"Centro-direita não tem a ver com PSDB" 
ENTREVISTA - Fernando Henrique Cardoso
O Estado de S.Paulo

Ex-presidente esclarece informação publicada pelo Estado de que ele havia endossado sugestão de pesquisadora americana 


GABRIEL MANZANO 

Direita, esquerda, centro, socialistas ou neoliberais "são apenas rótulos, coisas externas à vida real dos partidos", e não faz sentido pedir que uma sigla vá para a "centro-direita" ou para a "centro-esquerda". Essa é a resposta do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso à avaliação feita pela acadêmica norte-americana Frances Hagopian, em entrevista ao Estado, segundo a qual o PSDB "devia assumir-se como partido de centro-direita".
Diferentemente do informado pelo Estado domingo passado, FHC não concorda com Hagopian nesse aspecto político-ideológico, externado por ela em entrevista exclusiva antes de palestra no Centro Ruth Cardoso, em São Paulo.
O que o ex-presidente endossa é a avaliação feita pela especialista americana, durante a palestra, de que os tucanos devem defender os seus feitos do passado: as reformas adotadas no País nos anos 90, as privatizações, a Lei de Responsabilidade Fiscal, que trouxeram a estabilidade política e econômica ao Brasil. 
Ainda sobre o aspecto ideológico, o ex-presidente alega que, teorias à parte, "a dinâmica dos partidos no Congresso é bem outra". "Na prática, há uma base que sustentou o governo Lula, sustentou o meu, e antes dele o governo Sarney", afirmou FHC. "Concordo com a Hagopian quando diz que o PSDB tem de se diferenciar, assumir o que fez. Mas falar em centro-direita não tem nada a ver com o PSDB nem com outros partidos. Não é por aí." O ex-presidente lembrou que "até Paulo Maluf já se definiu como social-democrata". 

Que lhe parece a avaliação da americana Frances Hagopian de que o PSDB deveria "assumir-se como de centro-direita? Acho que ela tem uma contribuição positiva, mas exagera a programatização dos partidos. A tese dela é que os partidos se tornaram mais programáticos e isso permitiu a aprovação das reformas. Quando fala em programatização, tem essa visão de que o PSDB fez aliança com o centro, com a centro-direita. E o PT, que era de esquerda, acabou vindo para a centro-esquerda etc. Isso é uma visão dos rótulos dos partidos. A dinâmica no Congresso é bem outra. Essas caracterizações tipo centro, centro-esquerda, centro-direita, neoliberal, socialista são externas à prática real. O que há é uma base, que sustentou o governo Lula. Que também sustentou a mim, ao Sarney.

Não se deve, então, falar em esquerda e direita ? Há uma insistência nessa dicotomia. Isso se deve à falta de analisar os processos reais, o mundo concreto. Não é que inexista uma esquerda, mas... o que significa a esquerda hoje? Ninguém mais pensa como no passado, coisas como coletivização dos bens privados, feita por um partido que dominasse o Estado em nome de uma classe. Isso não ocorre mais. 

Mas não existe uma "modernização" do modelo? Por exemplo, a opção de um Estado forte, centralizando a economia, com forte apoio do BNDES a empresas?Isso o general Geisel já fazia nos anos 70. Não chamaria isso de esquerda. É um modelo econômico sustentado em vários setores, em vários momentos da história. Como fez o Geisel.

No ensaio O Futuro da Oposição, o sr. pedia ao PSDB uma atenção especial às novas mídias e à nova classe média. Há uma ideologia nesse fenômeno? Eles funcionam como se fossem radicais livres. São pessoas que mudaram de categoria de renda, mas que ainda não são, sociologicamente, uma classe. Na medida em que vierem a ter as mesmas teias de relações sociais, vão exigir maior qualidade dos serviços do Estado. 

E que ideologia eles adotarão? Cada um vai para um lado. Na verdade, a população nem sabe bem o que é esquerda ou o que é direita. O fato é que todos vão demandar coisas concretas. 

E as tarefas do PSDB?Esse foi o ponto em que eu concordei com a análise da Hagopian, o PSDB tem que se diferenciar, assumir o que fez. Mas qual a diferença, neste momento? O PT está privatizando aeroportos, privatizando estradas, fez um Proer recentemente para salvar alguns bancos pequenos... E veja, antes isso era herança maldita... Essas diferenças entre os petistas e o que eles chamavam de neoliberalismo não existem mais. O que existe é a maior ou menor ingerência dos partidos na gestão da coisa pública. No nosso tempo, havia menos ingerência. 

Quando Gilberto Kassab disse que o PSD "não é de centro, nem esquerda, nem de direita", foi um sinal da desimportância da ideologia nos partidos brasileiros? Provavelmente, sim. Como não estão se desenhando alternativas ao que aí está, fica difícil dizer o que é esquerda, o que é direita. Não se esqueça que, há um bom tempo, o Paulo Maluf se declarou social-democrata. 

Se tivesse de dar um nome às ações do PSDB iniciadas pelo seu governo, qual seria? Primeiro, temos uma tradição republicana, nos diferenciamos bastante nisso. A coisa pública tem que ser respeitada como tal e não ser objeto nem de apropriação privada nem político-partidária. Isso é uma linha. Não é esquerda nem direita, é republicana.

O lulismo pode ser chamado de uma ideologia? Não. É um estado de espírito, um sentimento. Não é ideologia. Não está propondo nada. 

O que o sr. diz da direita? Quem defende a direita no Brasil? Ninguém. Mas na prática ela existe - mas a nossa direita é muito mais o atraso, o clientelismo, fisiologismo, esse tipo de questão, do que a defesa dos valores intrínsecos da propriedade, da hierarquia. Não tem muito essa defesa.

E como o PT conseguiu aliança com o clientelismo mantendo a imagem de partido de esquerda?Isso foi a grande pirueta que o PT fez. Como ele nasceu como partido dos trabalhadores, com uma luta assentada nisso, na inclusão social, ele se deitou no berço esplêndido da política tradicional. Se houve uma metamorfose importante, foi exatamente isso, porque o Lula simboliza isso. Ninguém foi capaz de reviver tantas forças do tradicionalismo e se sentir cômodo nelas como o próprio Lula. E ainda dar-se bem eleitoralmente. 

ANCELMO GOIS - A MORTE DE UM GÊNIO


A MORTE DE UM GÊNIO
 ANCELMO GOIS
O GLOBO - 06/10/11

O editor Luiz Schwarcz vai tentar antecipar por aqui o lançamento mundial, previsto para 21 de novembro, da biografia de Steve Jobs, escrita por Walter Isaacson, que fez 40 entrevistas com o gênio da Apple.
Está tudo pronto para, na primeira fornada, jogar no mercado de 80.000 a 100.000 exemplares.

NA TERRA DO TINTIM I 
João Ubaldo Ribeiro tem sido anunciado como uma das atrações brasileiras da Europalia, maior festival de cultura da Europa, que se realiza em Bruxelas. Sua participação será dia 24.
Mas o escritor não consegue falar com a produção para acertar a viagem. A turma sumiu.

NA TERRA DO TINTIM II 
Aliás, na Bélgica, o Brasil continua sendo a terra do “samba, samba, samba”, como dizem uns cartazes da Europalia.
A passagem de Dilma por lá, praticamente, não rendeu uma linha nos jornais locais.

NA TERRA DO ROUSSEFF 
Ontem, na Bulgária, terra do pai de Dilma, a presidente ouviu do colega Georgi Parvanov que o país dele deseja muito estar na Copa de 2014, mas... “Será muito difícil ganhar do Brasil”.

NA TERRA DA LINGERIE 
Chegou à França a polêmica decisão do governo de pedir a retirada do comercial em que Gisele Bündchen vive uma mulher que fica só de calcinha para dizer ao marido ter batido com o carro – e, assim, ser perdoada.
O jornal Libération fez graça: “Gisele ainda não se pronunciou, mas pode ser que tenha de se vestir para fazer isso”.

MORDE & ASSOPRA 
Caiu na rede do YouTube o vídeo de um cãozinho fã de Morde & assopra, da TV Globo. 
O totó dança, bate patinha e late ao ouvir a música de abertura da novela de 
Walcyr Carrasco. Confira só em youtube.com/watch?v=X--34qi5J5k.

VOLTA DO CIPÓ AROEIRA 
Empregado processar chefe por assédio moral é comum. Mas, no Rio Grande do Sul, aconteceu o contrário.
O TRT-RS mandou a Martiplast indenizar em R$ 2 mil uma assistente de produção que alegou ter sofrido assédio (era chamada de “chefinha” e “loura burra”) por uma subordinada.

GILLES LAPOUGE - O retorno do Kremlin hostil


O retorno do Kremlin hostil
GILLES LAPOUGE 
O Estado de S.Paulo - 06/10/11

O Ocidente perscruta com lupa todos os sinais que emanam de Moscou. E alguns deles preocupam
Depois que Putin anunciou seu retorno ao Kremlin em 2012, rebaixando seu protegido, o moderado presidente Dmitri Medvedev, à humilde função de primeiro-ministro, os ocidentais perscrutam com a lupa todos os sinais que emanam de Moscou. E alguns deles os preocupam.

Primeiro alerta: na terça-feira, a Rússia acompanhou a China e vetou uma resolução da ONU que denunciava a repressão da revolta democrática contra o regime despótico da Síria. No entanto, os ocidentais tinham tomado o cuidado de abrandar o teor do seu texto a ponto de o representante russo à ONU ter mostrado certas veleidades de abstenção. Depois de um telefonema para Moscou, no entanto, escolheu o veto. Assim, a solução do drama sírio encontra-se inexistente.

Mas há algo mais inquietante: a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) acaba de declarar em alto e bom som sua surpresa com a concentração de tropas diante dos bálticos, Estônia, Letônia e Lituânia, que, em 2004, aderiram à Otan e à União Europeia. Com certeza, esse aumento do número de tropas das forças russas ao longo dos "taludes da Europa" não pode ser imputado unicamente a Putin porque se trata de uma ação de longo prazo, iniciada há cerca de dois anos.

Entretanto, diante do retorno anunciado de Putin ao Kremlin, hoje essa medida pode ser percebida como a prova de que a aparência mais policiada, mais liberal, mais civilizada da Rússia de Medvedev não passava, indubitavelmente, de uma maquiagem sedutora por baixo da qual a Rússia de Putin, da antiga URSS e de toda a eternidade continuava fazendo suas velhas caretas.

Escalada. O reforço enviado aos exércitos russos na proximidade dos bálticos é impressionante: em 2009, os russos mantinham na região 16 mil homens. Em 2010, 26 mil homens. Em2011, a 26.ª Brigada de Mísseis, situada em Luga, perto de São Petersburgo (antiga Leningrado), tornou-se a primeira unidade de combate a receber mísseis SS-26 Iskandler-M, de curto alcance, mas com capacidade nuclear.

Ao mesmo tempo, mísseis antitanques S-300 e S-400 foram deslocados da região de Moscou para a região de São Petersburgo. E a Brigada de Infantaria Naval 336 da esquadra russa do Mar Báltico aumentou seus efetivos em 50%.

Os estrategistas do Ocidente procuram explicar esSa nova disposição. Eles lembram que, em 2008, depois que a Rússia lançou seus exércitos contra as fronteiras do sul, na Geórgia, os países bálticos, no flanco noroeste da Rússia, tinham dado sinais de nervosismo. O reforço militar não seria então uma clara manobra de intimidação pela excessiva irritação desses Estados? Outra explicação é que a Rússia continuaria alarmada com os projetos, nunca abandonados, de instalação de um escudo antimísseis da Otan no Leste Europeu.

Todas as chancelarias ocidentais estudam cada suspiro que sai da fortaleza do Kremlin, desde que Putin decidiu voltar a se instalar ali. Seja por meio de Obama quanto principalmente de Sarkozy, o Ocidente teria preferido com toda clareza em Medvedev a Putin. Hoje, percebe-se que Putin nunca deixou o cargo. A França retorna assim, não sem certa apreensão, à época (2007) em que Sarkozy havia declarado aos quatro ventos (com audácia ou com arrogância) que não gostaria de "apertar a mão de Putin". / TRADUÇÃO ANNA CAPOVILLA

EUGÊNIO BUCCI - O Judiciário e sua imagem em transe



O Judiciário e sua imagem em transe
EUGÊNIO BUCCI
O Estado de S. Paulo, 06/10/11


A imagem do Poder Judiciário no Brasil está sub judice. Em coisa de poucos dias, entrou num transe midiático. Não se sabe onde vai parar. Nem como. Nem se. Há uma semana, a tensão que vinha sendo administrada como assunto interno dos juízes explodiu nas manchetes. A percepção que os brasileiros têm dos seus magistrados não será mais a mesma.

Estamos passando por um terremoto simbólico, que vem abalando os significados mais tradicionais da instituição. Há apenas uma semana, as placas tectônicas que serviam de alicerce ao edifício da Justiça no Brasil começaram a trepidar em público. Surgiram fissuras no chão dos tribunais: disjunções de sentido encheram o ar de incertezas - éticas, mais que jurídicas. Ministros das altas Cortes descuidaram do linguajar polido, a ponderação e a prudência abriram lugar para discursos raivosos. Juízes deixaram de falar como árbitros. Agora, eles se exasperam como partes inflamadas. Os jurisconsultos, aos quais cabe fazer justiça, atiram-se na arena pública para clamar por… justiça. Justo eles. Diante do noticiário, o homem comum se pergunta: a quem reclamarão seus direitos os jurisconsultos ofendidos? Ao povo?

Mas o noticiário não responde. As capas dos jornais lançam novas dúvidas. O diálogo entre ministros do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) deixa de lado a serenidade. Eliana Calmon, corregedora do órgão, falou de “bandidos que se escondem atrás da toga”. Em referência ao Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJSP), foi jocosa: “Sabe quando vou inspecionar o TJSP? No dia em que o sargento Garcia prender o Zorro”. Em resposta, o ministro Cezar Peluso, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e também do CNJ, qualificou as declarações de sua colega como “um atentado ao Estado Democrático de Direito”. E disse mais: “Em 40 anos de magistratura, nunca li uma coisa tão grave”.

A situação, porém, é mais grave do que a leitura que o ministro Peluso faz dela. As palavras que ele leu são apenas o reflexo de um deslocamento mais profundo, tectônico. Fosse apenas o vernáculo, seria simples. Lembremos que, há poucos anos, os ministros Joaquim Barbosa e Gilmar Mendes se insultaram no plenário do Supremo e nem por isso a imagem da instituição sofreu arranhões mais comprometedores. Ambos passaram por deselegantes, talvez, mas o Poder que representam saiu incólume. Agora o cenário é outro. A turbulência não se reduz a destemperos verbais: resulta do afloramento de um choque mais antigo, que caminhava no subterrâneo e de repente veio a público, de modo espetacular. É nesse choque que mora o problema.

Não temos os elementos para traçar uma radiografia das câmaras internas do Judiciário, mas uma análise atenta dos fatos - e de seu significado no noticiário - fornece os dados para uma compreensão mais ampla da crise de imagem. Na grande narrativa histórica que é a construção da democracia no Brasil, o signo do Poder Judiciário começou a resvalar para o polo da resistência a uma demanda central da sociedade: a transparência. Isso se traduz no embate que era interno e agora ficou explícito.

Na cúpula do Judiciário, duas vertentes opostas que se batem. A primeira encarna o valor democrático da transparência, a outra prefere o conforto do corpo opaco. A transparência do Estado tornou-se indispensável para o aprimoramento da normalidade democrática. Resistir a ela significa resistir à modernização das instituições. Acontece que, em capítulos cruciais da História recente - a nossa narrativa histórica -, o Judiciário, infelizmente, aparece como um signo que se alinha aos que preferem a opacidade.

Essa associação de sentidos não ocorre porque os jornalistas são maldosos. Ela é natural. É lógica. O problema não está na intenção oculta dos relatos, mas na significação expressa dos fatos que se sucedem. Basta olhar para eles.

Sabemos que uma das distinções estruturais entre as democracias e os regimes totalitários tem que ver exatamente com isto: enquanto nas primeiras os cidadãos têm direito à privacidade pessoal assim como têm o direito de fiscalizar os negócios do Estado, nos segundos o Estado é opaco, blindado ao olhar do público, e dispõe de instrumentos para bisbilhotar a intimidade de toda a gente. Daí ser tão grave que a imagem do Poder Judiciário apareça com frequência associada àqueles que são inimigos da transparência.

Essa associação nefasta se manifesta em pelo menos dois eixos do noticiário.

O primeiro é o da censura judicial. O Judiciário, ainda que por decisões minoritárias, vem aparecendo como um fator que impede a publicação de dezenas de reportagens cujos temas são, predominantemente, investigações jornalísticas sobre atos suspeitos da administração pública. Para quê? Para proteger políticos que não admitem prestar contas. Num tempo em que a censura foi extinta constitucionalmente, alguns juízes entram em cena como guardiães de uma reserva ecológica da censura, prejudicando grandes jornais e pequenos blogs, ferindo o direito à informação do público, beneficiando oligarquias que rechaçam qualquer fiscalização.

No segundo eixo, esse que explodiu nas manchetes há uma semana, temos as tentativas de esvaziar o poder de investigação de atos das próprias autoridades judiciárias. Isso transpareceu, há mais tempo, de modo mais discreto, na oposição à ideia de controle externo, representada pela criação do CNJ. Hoje, o mesmo traço se escancara na tentativa de esvaziar o poder desse órgão.

Aí está o fundamento da crise de imagem. O restante é consequência. O restante aparece como privilégios que dependem da opacidade. O noticiário grita: juízes querem ganhar acima do teto, juízes que praticaram crimes são “punidos” apenas com aposentadoria. Por tudo isso, a imagem do Judiciário está sub judice. E essa é a notícia mais triste de todas.

GOSTOSA


CELSO MING - Represália aos chineses


Represália aos chineses
CELSO MING
O ESTADÃO - 061011

O Senado dos Estados Unidos debate no momento a adoção de represálias comerciais à China, com base no diagnóstico de que o governo de Pequim manipula o câmbio e mantém o yuan, sua moeda, artificialmente desvalorizado em cerca de 30%. Esse jogo cambial desleal, argumentam parlamentares dos dois maiores partidos dos Estados Unidos, alija o produto americano do mercado chinês e de seu mercado interno, na medida em que as mercadorias chinesas chegam substancialmente mais baratas por lá.

Assim, o atual nível de desemprego nos Estados Unidos, que atinge mais de 14 milhões de pessoas (9,1% da força de trabalho), é consequência de notório dumping cambial que já dura, pelo menos, 20 anos.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, por sua vez, prepara-se para denunciar a existência de uma guerra cambial de fato no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), onde pretende obter reconhecimento de que, contra países que mantêm artificialmente desvalorizada sua moeda, se podem adotar represálias comerciais.

A ironia da situação está em que Mantega acusa os Estados Unidos de fazerem manobra condenável equivalente à de que acusam a China, quando o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) despeja enormes volumes de moeda no mercado - que, na prática, produz forte desvalorização do dólar.

Em alentado trabalho apresentado há duas semanas no 8.º Fórum de Economia da Fundação Getúlio Vargas, a professora Vera Thorstensen, integrante da equipe do Brasil na OMC, demonstrou que a guerra cambial que se espalha pelo Planeta está anulando a proteção tarifária conquistada pelos acordos comerciais. Esse desarranjo, avalia ela, compromete os objetivos da própria OMC, cuja função é garantir a lisura do comércio internacional. "Genebra, temos um problema!", alerta Thorstensen e, com isso, lembra famosa advertência dos astronautas da Apolo 13, em abril de 1970, que detectaram séria avaria em sua espaçonave: "Houston, we have a problem". (Genebra, no caso, é a cidade-sede da OMC.)

As distorções são evidentes, não podem ser negadas. O problema está no que fazer para endireitar o que está torto. Represálias unilaterais, tais como as examinadas agora pelo Senado americano para o caso chinês, parecem um tiro no pé. Lá estão a General Electric, a GM, a Dupont, a Procter & Gamble e todas as grandes empresas americanas. Ou seja, castigar a China significa penalizar o desempenho das grandes multinacionais dos Estados Unidos.

Os desalinhamentos cambiais são resultado da desordem do sistema econômico global e da atual crise financeira. Não é com represálias comerciais que o problema de fundo será resolvido. A professora Thorstensen pergunta se a solução não estaria numa nova conferência de Bretton Woods - a mesma que adotou a ordem internacional que começou a vigorar em 1946 e criou o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial.

Provavelmente, sim. Mas como armar uma nova conferência de Bretton Woods se, desde 1998, quando Bill Clinton, então presidente dos Estados Unidos (cargo ocupado por ele entre 1993 e 2001), pediu empenho para a construção de nova arquitetura econômica mundial, não se consegue reunir os dirigentes do mundo para isso?

CONFIRA

Agora, há problemas. As autoridades da área do euro entendem agora que necessitam, sim, capitalizar seus bancos. E avisam que precisam, ao menos, de 200 bilhões de euros, providenciados pelo Fundo de Estabilidade Financeira Europeia (EFSF, na sigla em inglês) - que ainda depende de aprovação dos Parlamentos dos 17 membros do bloco. Há apenas três meses, os testes de estresse não viam problemas nos bancos.

Coração de mãe. Esse fundo nasce com enorme coração de mãe. Deveria socorrer somente os países em dificuldades. E agora é chamado também para capitalizar os bancos. Por aí já se vê que 440 bilhões de euros, o patrimônio desse fundo, não serão suficientes para a tarefa grandiosa de segurar o euro.

Montagem. Por isso, os especialistas começam a montar uma arquitetura financeira para o EFSF. Ele vai resgatar títulos de países endividados e, em seguida, esses títulos servirão para dar garantia (colateral) para novos aportes do Banco Central Europeu.

EDITORIAL O ESTADÃO - Retrocesso nos aeroportos


Retrocesso nos aeroportos
EDITORIAL
O Estado de S. Paulo - 06/10/2011

Enganou-se quem pensou que o leilão do Aeroporto de São Gonçalo do Amarante, em Natal, no fim de agosto, realizado sem a participação da Infraero no negócio, estabeleceria um padrão para concessões à iniciativa privada dos terminais aéreos no País. A minuta do edital de concessão dos Aeroportos de Cumbica, em São Paulo, de Viracopos, em Campinas, e de Brasília - disponível para consulta pública por 30 dias - reintroduz a Infraero como sócia, determinando que a empresa detenha nada menos que 49% das ações das concessionárias. A estatal terá ainda poder de veto sobre "decisões estratégicas" das companhias privadas que deveriam, em princípio, administrar os terminais. Essas exigências representam um verdadeiro retrocesso, reproduzindo, em essência, o esquema que levou os aeroportos do País ao caos em que se encontram.

O que ocorreu com o Aeroporto de Natal foi uma privatização efetiva, com acirrada disputa, graças à qual o ágio pago pelo consórcio vencedor foi 229% superior ao valor mínimo, elevando o preço final a R$ 270 milhões. Nos três grandes aeroportos que devem ir a leilão em dezembro, segundo promete a Secretaria de Aviação Civil (SAC), quaisquer que sejam os consórcios vencedores, eles terão de dividir, na prática, a administração dos terminais com a Infraero.

Estabelece também o edital, com o argumento de estimular a concorrência, que nenhuma concessionária privada poderá administrar mais de um aeroporto. A Infraero, porém, participará de todos. Há ainda um objetivo corporativista nessa decisão que fica nítido com a cláusula que permite que a Infraero venda a seus funcionários sua participação nas futuras concessionárias, se e quando estas tiverem condições de abrir o seu capital.

O ministro-chefe da Secretaria de Aviação Civil, Wagner Bittencourt, de quem se esperava uma nova orientação do transporte aéreo no País, além de permitir que um modelo que não deu certo tenha continuidade, embora disfarçado de parceria igualitária com o setor privado, complicou ainda mais a privatização ao colocar no edital que parcela da receita bruta anual das concessionárias - não da receita líquida, note-se - proveniente do aluguel de lojas, exploração de estacionamento e outros serviços irá para o Fundo Nacional de Aviação, subordinado à SAC, que deverá aplicar esses recursos na expansão de aeroportos regionais.

Esse ônus não pesou na privatização do Aeroporto de Natal e, dependendo do porcentual a ser fixado, pode inviabilizar as futuras concessões. A SAC acabou transferindo para sua esfera uma das atribuições da Infraero, que também teria de modernizar aeroportos regionais com os recursos obtidos pelos terminais comprovadamente lucrativos, que não passam de sete no País. Atribuição que a estatal não cumpriu.

Em termos financeiros, a equação também é complexa. Ao que se informa, o BNDES vai proporcionar financiamentos para Cumbica, Viracopos e Brasília nas mesmas condições do Aeroporto de Natal. Mas vale notar que a modalidade de financiamento para aquele terminal foi a de project finance, que requer elevado retorno, que pode ser comprometido pela cobrança pretendida pela SAC.

Como se não bastasse, o governo praticamente excluiu do processo as empresas aéreas, cuja fatia nas concessões não poderá passar de 1%. Além disso, elas estariam sujeitas ao pagamento de uma "tarifa de conexão", que supostamente beneficiaria o Aeroporto de Brasília. Segundo Bittencourt, essa taxa será calculada por passageiro, mas não será paga por ele e, sim, pelas empresas. Dá para acreditar que os usuários sejam poupados desse custo?

Tudo isso pode afugentar os investidores, uma vez que terão de assumir o compromisso de pesados aportes. O edital prevê a instituição de uma espécie de "gatilho", um mecanismo semelhante ao que existe na concessão de rodovias, que sinalizaria o momento em que a concessionária deve investir antes que a capacidade do terminal esteja para esgotar-se. Mas será preciso, primeiro, passar pelos obstáculos do edital.

CARLOS HEITOR CONY - Soberania nacional


Soberania nacional
CARLOS HEITOR CONY
FOLHA DE SP - 06/10/11 

RIO DE JANEIRO - Que está complicado, está. Além do atraso nas obras e do orçamento mal calculado que torna as despesas da Copa cada vez maiores, surgiu agora um problema complicadíssimo, que envolve inclusive a soberania do país.
Não conheço em detalhes os acordos firmados entre a Fifa e o Brasil. Acredito que sejam os de rotina, mas todos sabemos que a goela da instituição que regula o futebol é voraz, não deixa pedra sobre pedra.
Houve tempo (não sei se ainda é) em que a Fifa tinha mais membros do que a ONU. É poderosa politicamente e rica o bastante para impor condições. Supõe-se que sejam condições técnicas, de infraestrutura, operacionais. Acontece que cada país -no caso, o Brasil, sendo como é, uma República Federativa- é composto por Estados cujas leis locais devem ser cumpridas.
Pelo que se sabe, a cúpula da instituição não deseja abrir mão das rendas de cada jogo e não aprova que idosos e estudantes possam comprar ingressos por preço inferior ao oficial. Não parece, mas o assunto chegou a ser discutido com a própria Dilma em seu giro pela Europa. Evidente que a nossa presidente invocou a soberania nacional. Mesmo assim, a questão ficou para ser acertada em encontros posteriores.
Sabe-se também que a Fifa está preocupada com o organograma das obras e pode criar tais e tantas exigências, as quais, no limite, darão pretexto a um cancelamento da Copa de 2014 no Brasil.
Oficialmente, nada foi feito até agora, mas há correntes dentro da instituição que já ameaçaram um rompimento do contrato desde que suas pretensões não sejam atendidas.
Que as obras da Copa estão atrasadas e mal programadas, estão. Mas o Brasil é Ph.D em matéria de fazer certos milagres. O que não pode é submeter sua legislação aos interesses dos cartolas que mandam e desmandam no futebol.

JANIO DE FREITAS - Ah, como é difícil


Ah, como é difícil
JANIO DE FREITAS 
FOLHA DE SP - 06/10/11

Segurança pública é função do Estado; privatizá-la, por concessão ou terceirização, não tem como justificar-se


MAIS IMPORTANTE, para a população, do que serem identificados os que roubaram o arsenal de uma empresa de segurança (?!) paulistana, é descobrir a finalidade do roubo.
Se foi uma empreitada comercial, para vendas no varejo de tantas quadrilhas por aí afora, ou para grandes planos de um bando.
Só as 49 escopetas calibre 12 e 3.200 projéteis, além de mais de 50 outras armas, compõem um conjunto aterrorizante de possíveis usos e efeitos.
Esse arsenal foi roubado de uma empresa de segurança (?!) na ocasião mesma em que era divulgado um novo projeto do Ministério da Justiça. É o de autorizar numerosos usos adicionais dessas empresas armadas, agora em vias públicas, estádios, eventos em geral e dentro de transportes. Ideia, para dizer o mínimo, muito discutível.
Divulgado o roubo, com a parcimônia própria dos meios de comunicação quando se trata de acontecimento negativo em São Paulo, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, apressou-se a criar um pretexto para falar de treinamento e seleção dos vigilantes privados que integrariam o projeto. O remendo foi insuficiente para melhorar a ideia.
A procedência dos vigilantes atraídos pelas empresas ditas especializadas é a mesma, ou muito próxima, daquela que preenche os quadros das PMs. O resultado também não é diferente. O noticiário de acontecimentos dessa área, no Rio, é muito instrutivo.
A seleção e a formação dos PMs admitidos para servir nas UPPs, as Unidades de Polícia Pacificadora que resguardam as favelas esvaziadas de bandidos, é a melhor possível nas circunstâncias vigentes.
Apesar disso, são frequentes as prisões de PMs das UPPs que em tão pouco tempo já se associaram aos traficantes, ou estão envolvidos em assaltos e outros crimes dentro e fora de suas áreas de serviço, com participação até de oficiais e comandantes das guarnições.
Nem as mulheres trazem novidade: na terça-feira, uma PM de UPP foi presa, por acaso, com dois revólveres de numeração raspada, documentos falsos e, no carro, acessórios para falsificar documentos com CRM de médicos.
O problema da segurança pública no Brasil chegou a um grau de dificuldade altíssimo, talvez inimaginável. Saídas pelo facilitário não são saídas. Logo serão mais problemas.
Não há motivo algum para admitir que as empresas de vigilância, destinadas ao lucro, cheguem a níveis de seleção e formação, em geral, à altura do necessário.
Sua atual prestação de serviços a clientes privados é um suprimento particular à omissão do Estado, feito em âmbito particular.
Boas ou não, as consequências são, portanto, de responsabilidade dos contratantes.
O avanço que o governo projeta é outra coisa: torna-o cedente de sua responsabilidade e das consequências. Vigilantes terceirizados em transportes públicos, como são citados os ônibus, é um caminho certo para incidentes armados com inocentes como vítimas. Não faltam exemplos no gênero.
Segurança pública é função do Estado. É o próprio Estado em ação. Privatizá-la, por concessão ou por contrato de terceirização, não tem como justificar-se. Ou até onde pretendem também os petistas levar a liquidação do Estado brasileiro?

CLÓVIS ROSSI - Quando a crise encontrou Dilma


Quando a crise encontrou Dilma
CLÓVIS ROSSI 
FOLHA DE SP - 06/10/11

Ao cobrar regulação do fluxo de capitais, a presidente está enfatizando a agenda correta para o G20

BRUXELAS - A crise no mundo rico, o fantasma que assombra Dilma Rousseff, materializou-se bem diante dela em Bruxelas: na pracinha em frente ao hotel Sheraton, em que a presidente se hospedou, todas as emissoras belgas de TV instalaram seus caminhões de externas, para não falar dos fotógrafos.
Não era para Dilma, no entanto, que apontavam as câmeras. Era para a sede central do banco franco-belga Dexia, em virtual estado de quebra. Segundo o jornal flamengo "De Tijd" (O Tempo), os clientes do banco retiraram, só na quarta-feira que Dilma passou no hotel em frente, algo em torno de € 300 milhões, por mais que o Banco Nacional da Bélgica anunciasse que os depósitos estavam "perfeitamente garantidos" e que, portanto, não havia nenhuma razão para retirá-los.
O "Monde" de ontem se lamentava: "Vinte anos depois do Crédit Lyonnais, a França conhece seu segundo desastre bancário. Os € 6 bilhões empregados em 2008 no salvamento público do Dexia foram pura perda".
Desconfio até de que Dilma tomou conhecimento dos problemas do Dexia antes de falar aos jornalistas que cobríamos a sua visita. Afinal, defendeu na entrevista controle do fluxo de capitais, cujos movimentos desenfreados "são fonte inesgotável de problemas".
Quem sou eu para discordar da presidente, ainda mais depois de ter passado os últimos muitos anos dizendo exatamente a mesma coisa? Bem-vinda, pois, ao clube, Dilma. Já temos companhias importantes. Ontem, no "Financial Times", Mohamed El-Erian (fundo Pimco de investimentos), um dos ícones dos tais mercados, escrevia que o estresse não está mais limitado à Europa: "Algumas instituições americanas também estão sob pressão, na medida em que as preocupações com o contágio amplificam o impacto deletério de uma desaceleração econômica e de fraquezas estruturais que persistem três anos após a última crise financeira global".
Mais: Angela Merkel, a chanceler alemã e, como tal, a mais poderosa figura europeia, também anunciou, como Dilma, que quer levar à cúpula do G20, dentro de um mês, a necessidade de "estrita" regulação dos mercados financeiros.
Ótimo. Mas é bom lembrar que tal regulação está na pauta do G20 desde sua primeira cúpula, faz três anos, e que até já se preparou um razoável cardápio de controles, elaborado pelo BIS (Banco de Compensações Internacionais, o banco central dos bancos centrais). Só não se aplicou ainda porque os governantes têm medo da reação da banca ao aperto dos parafusos soltos.
Parte do medo até se justifica: a crise de 2008/09 jogou areia nas engrenagens do sistema financeiro mesmo porque ninguém sabia direito que instituição tinha qual papel podre nos seus ativos e em que quantidade. Se os bancos fossem obrigados a separar mais capital para eventuais perdas -peça crucial de qualquer aperto regulatório- entraria mais areia nas rodas.
O caso do Dexia mostra que esse buraco negro continua aberto, o que levará muito governante a um excesso de cautela. De todo modo, ao deixar claro que o descontrole do sistema financeiro é a "raiz" dos problemas do momento, Dilma está enfatizando a agenda correta para seus pares do G20.

CONTARDO CALLIGARIS - O sentido faz falta?



O sentido faz falta?
CONTARDO CALLIGARIS
FOLHA DE SP - 06/10/11

É uma queixa frequente: o mundo e a vida fazem pouco sentido -muito menos sentido do que antigamente, completam os saudosistas. Nas famílias, às vezes, essa queixa produz uma espécie de pingue-pongue. Os pais acham que os filhos adolescentes vivem por inércia, sem rumo e projeto: "Eles não estão a fim de nada que preste, não têm uma causa, uma visão de futuro".
Os filhos, confrontados com essa preocupação dos pais, declaram que, se precisassem mesmo de um sentido para viver, certamente não é com os pais que eles o aprenderiam: "Mas qual sentido gostariam que eu escolhesse para minha vida, se a vida deles não tem nenhum?". Nesse diálogo, o sentido parece ser sempre o que falta na vida dos outros que criticamos.
Também existem indivíduos (adolescentes e adultos) que se queixam da falta de sentido em sua própria vida: "Viver para quê? Todo o mundo vai morrer de qualquer jeito; que sentido tem?".
Geralmente, ao procurar responder a essas constatações desconsoladas, amigos, parentes e terapeutas agem como os pais que mencionei antes: querem injetar uma causa, uma visão de futuro na vida de quem lhes parece ter perdido o rumo "necessário" para viver.
Agora, eu não estou convencido de que, para viver, seja necessário que a vida tenha um sentido. Quando alguém se queixa de que sua vida é sem sentido, não tento interessá-lo em grandes razões para viver. Prefiro perguntar (para ele e para mim mesmo) de onde surge tamanha necessidade de um sentido. É curioso que, para alguns, a existência precise de uma justificação, de uma razão, de uma causa, de uma visão de futuro.
Em regra, essa necessidade de justificar a vida se impõe quando a própria vida não se basta mais. Ou seja, é quando os gestos cotidianos perdem sua graça que surge a obrigação de fundamentar a vida por outra coisa do que ela mesma.
Nota clínica: a depressão não é o mal de quem teria perdido (ou nunca achado) uma grande razão para viver. Depressão é ter perdido (ou nunca encontrado) o encanto do cotidiano. Por consequência, tentar "curar" a depressão de um adolescente propondo-lhe militância política ou fé religiosa é nocivo: se a gente conseguir capturá-lo num grande projeto, esse mesmo projeto o afastará ainda mais da trivialidade do dia a dia, cujo encanto ele perdeu.
Resumindo, quando alguém se queixa de que a vida não tem sentido, o problema não é ajudá-lo a encontrar o tal sentido da vida, mas ajudá-lo a descobrir que a vida se justifica por si só, que ela pode ser seu próprio sentido.
A cultura moderna poderia ser dividida em dois grandes blocos (que não coincidem com as tradicionais divisões de esquerda vs. direita etc.): os que pensam que o sentido da vida não está na própria experiência de viver (mas na espera de um além, num projeto histórico etc.), e os que pensam que a experiência de viver, por mais transitória que seja, é todo o sentido do qual precisamos (nota: a psicanálise, inesperadamente, está nesse segundo grupo, por constatar que a gente sofre mais frequente e gravemente pelo excesso do que pela falta de um sentido).
Alguém dirá que, com o declínio das utopias políticas e algum avanço (talvez) do pensamento laico, o sentido da vida está em baixa. Em suma, eu estaria chutando um cachorro morto.
Não concordo: talvez a própria crise das utopias e de algumas religiões instituídas esteja reavivando uma espiritualidade que tenta sacralizar o mundo, prometendo, no mínimo, sentidos ocultos.
O esoterismo "new age" nos garante que a vida tem um sentido misterioso, que a gente nem precisa saber qual é. Melhor assim, não é? Acabo de ler um breve (e delicioso) ensaio do filósofo italiano Giorgio Agamben, "La Ragazza Indicibile" (a moça indizível, Electa, 2010). Agambem (retomando um ensaio de Jung e Kerényi, de 1941, sobre Koré, a moça sagrada -Perséfone na mitologia clássica) mostra que os mistérios de Eleusis (que são os grandes ascendentes do esoterismo ocidental) de fato não revelavam nenhum grande sentido escondido das coisas e da vida -a não ser talvez o sentido de uma risada diante do pouco sentido do mundo.
Ele conclui com a ideia de que podemos e talvez devamos "viver a vida como uma iniciação. Mas uma iniciação ao quê? Não a uma doutrina, mas à própria vida e à sua ausência de mistério.

CARLOS ALBERTO SARDENBERG - O vício pela virtude


O vício pela virtude
CARLOS ALBERTO SARDENBERG
O Globo - 06/10/2011

Você está no peso ideal, colesterol abaixo de 100, pressão 12 por 8, boa alimentação, exercícios em dia - e quer saber? Você está em desvantagem. Não tem como melhorar. Suponha que fique doente. O que o médico poderia recomendar para aperfeiçoar sua qualidade de vida?

Bem diferente se você estivesse gordinho e meio paradão. Haveria ampla possibilidade de ação e melhoria.

Foi com esse tipo de lógica que o ministro Mantega andou demonstrando uma suposta superioridade brasileira no cenário de crise mundial. Lembrou, por exemplo, que em muitos países a taxa de juros está próxima de zero - de modo que seus bancos centrais, coitados, não dispõem de poderoso instrumento de estímulo à economia. Já o BC brasileiro, que pilota a maior taxa de juros do mundo, teria ampla possibilidade de reduzi-los várias vezes.

Assim, um dos piores vícios brasileiros, o juro descabido, se transforma em virtude. Mas, se essa lógica faz sentido, também faria sentido derivar daí uma recomendação de política monetária: que os BCs mantivessem juros elevados para poder reduzi-los em caso de necessidade. E isso nos levaria a uma contradição em termos: na crise, os juros não poderiam ser reduzidos porque se perderia o instrumento.

Vai que o BC brasileiro coloca a taxa de juros a zero e a economia continua exigindo mais estímulo, que fazer? Parece absurdo, é absurdo, mas é isso que estão nos dizendo: teria sido enorme sabedoria manter os juros mais altos do mundo.

Não é incrível que apareça esse tipo de questão em meio a um momento difícil e complexo da economia global?

É claro que os BCs que já reduziram os juros não têm mais o que fazer nessa direção. Mas os juros no chão continuam fazendo o serviço de baratear consumo e investimentos.

Portanto, vamos reparar: em qualquer circunstância, os juros brasileiros constituem vício. E formam o sintoma mais visível de diversas doenças da economia local, incluindo dívida pública elevada e com rolagem curta, gasto público exagerado e baixo nível de investimento.

Aplicaram a mesma manobra mental aos compulsórios - dinheiro que os bancos devem deixar depositado no BC -, também os maiores do mundo aqui no Brasil. Com tanto dinheiro retido, quando surge algum problema de liquidez, como falta de dinheiro e crédito na praça, o nosso BC pode liberar recursos do compulsório.

Do mesmo modo que na lógica dos juros altos, o correto seria aumentar o compulsório para poder reduzi-lo quando ocorresse algum problema. Outro vício que virou virtude.

Reparem: compulsório é dinheiro retirado do sistema financeiro, que tem reduzida sua capacidade de emprestar para empresas e pessoas. É vício, sintoma de uma economia doente que não pode conceder crédito abundante.

Olhando bem, juros altos e compulsórios elevados são duas faces do mesmo vício. Decorrem das necessidades de um governo gastador, que avança no mercado para se financiar, e do baixo nível de investimentos. Dito de outro modo: com juros baratos e mais dinheiro disponível, o crédito cresceria e ampliaria a capacidade de investimento e consumo de empresas e pessoas. E isso traria mais inflação, porque a oferta de bens e serviços ficaria muito abaixo dessa demanda turbinada.

Sim, é verdade que, em muitos países, juros muito baixos, por muito tempo, e muito dinheiro disponível levaram a bolhas e excessos de gastos públicos e privados. O momento, pois, é de maior prudência.

Não decorre daí que é melhor ter crédito caro e limitado. E, se for para escolher o problema, é melhor a abundância do que a falta de crédito.

E, na mesma linha de dar lições ao mundo, a presidente Dilma Rousseff disse aos europeus que ajustes fiscais (das contas públicas) são até prejudiciais quando muito rigorosos. Citando experiência brasileira, disse que era melhor estimular consumo e investimento, que teria o seguro anticrise.

Ora, é o contrário: a economia brasileira tornou-se mais resistente depois e graças ao pesado, rigoroso e longo ajuste fiscal feito no segundo mandato de Fernando Henrique e no primeiro de Lula. Com FHC, houve contenção de gastos públicos, aumento de impostos, privatizações e reformas estruturais, como a da Previdência, além da eliminação das dívidas dos governos estaduais. E Lula ampliou o superávit primário a nível recorde, conseguindo a redução do endividamento.

Exigiu esforço e desgaste político, mas foi o que salvou o Brasil, uma virtude da política ortodoxa. E é o que muitos europeus precisam fazer.

Mas, se eles tentarem seguir as lições das autoridades brasileiras, ficarão bem atrapalhados. A presidente recomenda que estimulem a economia com gastos públicos maiores e juros menores. Depois o ministro sugere que ter juros altos é uma vantagem relativa. Emagreçam, mas engordem antes.

Eis como a consciência culpada dos petistas (por terem aplicado uma política econômica clássica) os leva a tomar vícios por virtudes e a esquecer das virtudes praticadas. Outro caso de personalidade dividida.

MÔNICA BERGAMO - ELÁSTICA


ELÁSTICA
MÔNICA BERGAMO 
FOLHA DE SP - 06/10/11

Camila Pitanga se prepara para ficar nua no cinema. Viverá a ex-prostituta e ex-drogada Lavínia em "Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios". A atriz conta à revista "Alfa" que se consultou com Sonia Braga. "Ficamos quase duas horas conversando. Ela me disse: 'Olha, Camila, o que fiz foi o seguinte: como sabia que tinha muitas cenas de sexo, já fiquei pelada no primeiro dia'."

ALTO CUSTO

O custo de vida da classe média paulistana subiu 0,37% de julho para agosto, segundo pesquisa da Fecomercio. Os gastos com vestuário, que tiveram alta de 1,09%, puxaram o aumento. O preço das roupas femininas subiu 1,22%, das masculinas, 0,70%, e das infantis, 0,30%. O Índice de Custo de Vida da Classe Média (ICVM) acumula alta de 6,47% nos últimos 12 meses.

ALTO CUSTO 2
O setor de alimentação também teve alta de 0,98% no período. Os itens que mais tiveram aumento no orçamento familiar em agosto foram limão (50,71%), frango (5,50%), alcatra (3,66%) e arroz (3,38%).

PÃO E CIRCO
Tiririca propôs a realização de audiência pública na Câmara para discutir a instalação de circos nas cidades. Artistas do setor relatam dificuldades para se apresentar em vários municípios.

MEMÓRIA
E Tiririca relatou o projeto que coloca Carlos Gomes no "Livro dos Heróis da Pátri"a. Seu nome será inscrito no panteão na praça dos Três Poderes, em Brasília, ao lado do de Villa-Lobos.

COLETIVO
Os publicitários Nizan Guanaes, Guga Valente e Bazinho Ferraz, sócios do Grupo ABC, venderam a um fundo de investimentos sua participação na Prime Fraction Club. Criada no ano passado, a empresa administra jatinhos, helicópteros, barcos e carros esportivos adquiridos de forma compartilhada.

DESCANSO
O ex-jogador Sócrates cancelou compromissos ontem pela manhã por causa de uma febre. Ele está em tratamento contra cirrose.

VIÚVA DO GRUNGE
Courtney Love, viúva de Kurt Cobain, será uma das atrações do festival SWU, em Paulínia, em novembro, com sua banda Hole. A cantora quer chegar ao Brasil com alguns dias de antecedência para poder descansar. Outro grupo que acaba de ser confirmado é o Lynyrd Skynird, da música "Sweet Home Alabama".

CURVA
As faculdades de medicina da USP, Unicamp e Unesp enviaram carta ao MEC pedindo a revogação da medida que aumenta em até 20% a nota na prova de residência do aluno que participar de programa que leva médicos a comunidades carentes. Afirmam que "se trata de verdadeira distorção do processo seletivo" e "flagrante interferência na autonomia universitária".

EXPERIÊNCIA
Maria do Patrocínio Tenório Nunes, do MEC, afirma que outros Estados são favoráveis ao projeto. "O programa começará com 2.000 vagas. Só vamos ampliar, reduzir ou encerrar depois de avaliar o resultado em 2012", afirma ela, que é professora de medicina da USP.

TOLERÂNCIA
Um protesto contra mais uma agressão a gays perto da avenida Paulista está sendo convocado na web. Com o nome "Todo mundo gay no Facebook", pede que os usuários coloquem em seu perfil no site, no sábado à noite, foto de alguma personalidade gay. Haverá também passeata com velas às 23h30 na esquina das ruas Bela Cintra e Fernando de Albuquerque.

ALIANÇA
O consulado britânico vai rifar hoje em SP uma joia dos príncipes William e Kate. Ela foi criada para presentear o casal, que decidiu destiná-la a ações beneficentes. O dinheiro arrecadado na festa, com apresentação dos Beatles 4Ever, será doado para a Acer (Associação de Apoio à Criança em Risco).

NOITE DE APLAUSOS
Os atores Marco Nanini e Karin Rodrigues, o músico Marcelo Jeneci e o cartunista Laerte foram à entrega do Prêmio Bravo, anteontem, no Auditório Ibirapuera.

CURTO-CIRCUITO
O MAC-USP abre hoje, às 19h, a exposição "Modernismos no Brasil", no prédio da Bienal.

A cantora Luciana Mello se apresenta amanhã, às 21h, no Auditório Ibirapuera. Classificação: livre.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

RENATA LO PRETE - PAINEL


Dá que é meu
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SP - 06/10/11

Uma indicação para o Banco do Nordeste, comandado pelo PT, tirou do sério o líder do PMDB na Câmara, Henrique Alves (RN). Os deputados peemedebistas tinham a promessa de arrematar uma diretoria.
Tentaram a de Negócios, mas ouviram que a vaga era do PT. Daí Alves sugeriu a Financeira. O PMDB do Senado já levara. O líder então propôs a Administrativa. Recebeu outro "não" do ministro Guido Mantega (Fazenda) .
Alves foi procurar o vice Michel Temer. Com a votação da DRU batendo à porta, ameaçou: "Assim não é possível. Não me peçam votos. Eu não tenho como controlar a bancada se nada for atendido".

Menos A turma do deixa disso entrou em campo. Mantega procurou o líder para explicar que há processos em curso que fariam a manutenção do atual diretor administrativo imprescindível. Alves e os peemedebistas acabaram aceitando a diretoria de Controle e Risco do banco.

Conversão Indicado pelo PP, mas há tempos cortejado pelo PMDB, o diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, teria oficializado a "troca de padrinho" em encontro com os senadores peemedebistas Renan Calheiros (AL) e Romero Jucá (RR). Renan nega que a conversa tenha ocorrido.

Doce ilusão O Planalto prometeu acelerar o ritmo de liberação das emendas, mas parlamentares alegam que os empenhos não saem. E que, exceção feita à Saúde, nenhuma pasta tem poder para deliberar quais projetos serão contemplados. O pacote vem pronto da Secretaria de Relações Institucionais.

Em pauta 1 À caça de agenda positiva, José Sarney (PMDB-AP) tenta reanimar o pacto republicano, na UTI desde que Executivo e Judiciário passaram a se estranhar por causa do Orçamento-2012. O pacto prevê o esforço conjunto dos três Poderes para aprovar reformas como a PEC dos Recursos. Dilma Rousseff e Sarney já manifestaram apoio à proposta, apresentada pelo presidente do Supremo, Cezar Peluso.

Em pauta 2 A PEC, que prevê finalizar e executar processos após a decisão em segunda instância, será tema de palestra de Peluso, dia 31, no iFHC. A iniciativa é do senador Aloysio Nunes (PSDB).

Em família Dilma tomou café ontem em Sofia com a prima Tsana, sua parente mais próxima na Bulgária, que a acompanharia hoje na visita a Gabrovo, cidade natal do pai da presidente.

Comercial Nenhum dos cinco pré-candidatos do PT à prefeitura paulistana deverá desistir antes do dia 7 de novembro, quando entram no ar as inserções de propaganda partidária na televisão. Carlos Zarattini, Eduardo Suplicy, Fernando Haddad, Jilmar Tatto e Marta Suplicy terão espaço equânime na tela durante 15 dias.

De grão em grão Aliados de Haddad esperam computar até sábado os apoios de mais duas correntes minoritárias à candidatura do ministro da Educação: Movimento PT, de Arlindo Chinaglia, e Articulação de Esquerda. Juntas, respondem por 5% do partido em SP.

Teste O PT-SP trabalha para colher na embrionária bancada do PSD de Gilberto Kassab as assinaturas que faltam para abrir a CPI das Emendas na Assembleia.

Tira-teima Acompanhados dos técnicos da FGV, auditores da CGU iniciam nova rodada de vistorias aos estádios da Copa, a segunda desde que Dilma demonstrou irritação com o atraso no cronograma das obras. As inspeções seguem até dia 13.

com LETÍCIA SANDER e FÁBIO ZAMBELI

tiroteio

"Estou curioso em relação ao CD do Delúbio. Será que a parte interativa explica como funcionavam os saques na boca do caixa do Banco Rural?"
DO LÍDER DA MINORIA NO SENADO, MÁRIO COUTO (PSDB-PA), sobre material multimídia distribuído pelo tesoureiro do mensalão em evento da CUT. O pacote inclui peça autografada de sua defesa no processo que corre no STF.

contraponto

Origem das espécies


O deputado José Luiz Stédile (PSB-RS) presidia sessão da Frente Parlamentar em Defesa dos Animais quando um integrante informou que dois vereadores de Araraquara haviam protocolado requerimento pedindo à África o empréstimo de duas girafas. Segundo eles, seriam exibidas no zoológico do município paulista para que os moradores conhecessem esse bicho. Stédile brincou:
-Bem, como a população de Araraquara não conhece as girafas, e como os africanos não conhecem os vereadores, sugiro promover uma troca!

GOSTOSA


JOSÉ SIMÃO - BUM! Toddynho no Center Norte!


BUM! Toddynho no Center Norte! 
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 06/10/11


Buemba! Buemba! Macaco Simão urgente! O esculhambador-geral da República!
Quer explodir? Toma um Toddynho no shopping Center Norte! Rarará! Promoção na praça de alimentação do shopping Center Norte: coma até explodir! Rarará!
E esta: "Oscar Maroni condenado a 11 anos de prisão". O dono do Bahamas! Gente, condenar dono de puteiro só pode ser GOZAÇÃO! E agora ele vai entrar com habeas pernas? E careca daquele jeito ele parece um vibrador. Condenaram um vibrador a 11 anos de prisão! E adorei a sentença do juiz: "Manter local destinado a encontros libidinosos visando o lucro". Tucanaram o puteiro! Local destinado a encontros libidinosos visando o lucro! E o Kibeloco: "Então é o flat do Zé Dirceu". Rarará!
E a manchete do Piauí Herald: "Berlusconi oferece asilo político a Oscar Maroni". E a Dilma na Bulgária? Uma pit búlgara na Pit Bulgária! Todo mundo quer dinheiro emprestado. Tanto que ela desceu na Bulgária com um cartaz no pescoço: "Não me chamem de tia! Não tenho trocado! E não quero bala!". Em búlgaro!
E o novo iPhone? O iPhone 4S! Você pergunta o tempo e ele responde. Você pode olhar pela janela, mas não tem graça. Um amigo perguntou quando o Corinthians ia ser campeão da Libertadores e o aparelho explodiu! Rarará!
E um cara no meu Twitter revelou que o iPhone 4S faz mais coisa ainda: você pergunta o tempo e ele te vaia e toca Mamonas Assassinas! E como perguntou uma amiga minha: "Esse iPhone 4S lava e passa?". Lava, passa, conserta o pé do meu frigobar. E ainda faz massagem! Rarará! É mole? É mole, mas sobe! Ou como disse aquele outro: "É mole, mas trisca pra ver o que acontece!".
E o Kassab não devia ter fechado o Bahamas, devia ter colocado Zona Azul no estacionamento do Bahamas. Ia encher os cofres! E você pode ter um bordel, mas não pode dizer que é um bordel. Senão vai em cana. Moral de jegue! Fecharam o Bahamas e agora São Paulo só tem 1.999 puteiros.
E até hoje ainda tem aquela faixa:"Reabram o Bahamas! Não aguento mais traçar a patroa!". Rarará! E em Alfenas, Minas, tem o Bordel da Maria Macaca. Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

MARCIA PELTIER - Cabeças coroadas



Cabeças coroadas
MARCIA PELTIER 
JORNAL DO COMMÉRCIO - 06/10/11 

Enquanto em Bruxelas o rei Alberto II e a rainha Fabíola recebiam, terça-feira, a presidente Dilma e a ministra Ana de Hollanda na abertura do Europalia, na Holanda, um dia antes, o secretário Sérgio Mamberti, também do MinC, participava do Festival Brasil Amsterdam. A festa inaugural foi comandada pela princesa Máxima Cerruti, a bela loura argentina casada com o herdeiro aparente do trono holandês, o príncipe Guilherme Alexandre. Máxima estava toda de dourado, dos brincos à bolsinha com franjas. Seu vestido longo era de um ombro só.

Brasil na veia 

O festival brasileiro em Amsterdam acontece ao mesmo tempo em que várias atrações do Europalia movimentam a capital holandesa. A programação, que pretende abarcar da dança à música clássica, passando pela culinária, arquitetura e artes visuais, contará, hoje, com recital do violonista Yamandu Costa. Também estão previstos shows de Teresa Cristina, Tom Zé, o grupo Azymuth, exibição de Tropa de Elite 2, Enrique Diaz na peça A Gaivota e dança por uma dupla de índios das etnias caiapó e mehinaku.

Mais realeza 

Irmã do monarca Abdullah II, da Jordânia, e, portanto, cunhada da rainha Rânia, a princesa Haya Bint Al Hussein da Jordânia estará no Rio entre os dias 11 e 14 de novembro para participar da assembleia anual da FEI (Federação Equestre Internacional), promovida pela Confederação Brasileira de Hipismo. Primeira amazona árabe a disputar jogos olímpicos (2000), Haya, que foi reeleita para a presidência da FEI, irá comandar o encontro que reunirá cerca de 500 membros de 130 federações internacionais, no Hotel Sofitel. Há mais de 20 anos o Brasil não sedia uma assembleia da FEI, mas garantiu, agora, a disputa em uma concorrência com os Emirados Árabes e o Azerbaijão.

Prato cheio 
O chef italiano Carlo Cracco, que comanda o badalado Ristorante Cracco, em Milão (Itália), está no Rio desde ontem. Ele veio apresentar a nova água mineral do grupo San Pellegrino, que acabou de fechar parceria com a grife Bvlgari, e que será vendida apenas em restaurantes chiques por até R$ 20. O almoço com vips cariocas acontece hoje, no Terraço Fasano, em Ipanema. Depois do encontro, Carlo quer caminhar pela orla e beber água de coco direto do fruto. Também pediu para ver o pôr do sol no Pão de Açúcar.

'Fashion talk show' 

Cerca de 200 cariocas estão recebendo um convite para um bate-papo às 15h30 da próxima segunda, com ninguém menos que Jean Paul Gaultier. O estilista, que estará na cidade para o lançamento do documentário sobre sua vida ( Les Codes Bouleversés) no Festival do Rio, no domingo, responderá às perguntas conduzidas pela editora de moda Camila Yahn, do grupo Luminosidade, de Paulo Borges. O local ainda não estava definido até ontem.

Perfumes exóticos 
O papel de parede perfumado que está fazendo o maior sucesso no lavabo das arquitetas Marcia Caldara, Ana Paula Mussumeci e Tânia Khayat, no Casa Cor, custa R$ 350 o metro quadrado já instalado. Com duração de aproximadamente 20 meses, a fragância tem quatro opções: cereja, tutti frutti, banana e bacon (!).

Festival verde

O Rio ganhará seu primeiro Festival Internacional do Audiovisual Ambiental, o FilmAmbiente, em novembro, de 18 a 25, com toda a programação gratuita exibida no Espaço Museu da República, Instituto Moreira Salles e Espaço Multimídia do Jardim Botânico. A produtora Suzana Amado anuncia a vinda da dinamarquesa Tonje Schei, diretora de Vamos brincar novamente?, o francês Florent Tilon, de Chicago, Cidade Selvagem, a americana Suzan Bezara, de Ensacola!, e a canadense Elene Dallaire, de Os anjos do desperdício.

Para o povo 

A atração da festa Uma Noite com os Beatles4Ever, que o cônsul britânico John Doddrell promove hoje, em São Paulo, será a joia Amazônia, desenhada pelo brasileiro Yves Winandy. O broche, em ouro 18k e com uma pedra de safira, enviado para o consulado como um presente para Kate Middleton por ocasião de seu casamento com o príncipe William, será rifado entre os convidados, com bilhetes a R$ 100. Os duques de Cambridge abriram mão de receber presentes e pediram contribuições para caridade. A renda irá para a Associação de Apoio a Crianças em Risco.

Febre de consumo 

Pesquisa do instituto Programa de Administração do Varejo, da Fundação Instituto de Administração, apontou queda na intenção de compras dos brasileiros pela internet do terceiro para o quarto trimestre deste ano, de 88,3% para 86,3%. O levantamento, feito com 4.574 internautas e em parceria com site e-bit, revelou ainda que os itens mais procurados são eletroeletrônicos (32,8%); informática (30,2%) e CDs, DVDs, livros e revistas (28,1%). Para Claudio Felisoni, presidente do conselho do Provar, apesar do recuo, o consumo continua em patamares elevados. Ele destaca que a projeção para o final do ano mantém-se positiva, o que poderá trazer risco de mais inadimplência, principalmente para a classe C.

Livre Acesso

Os chefs Daniel Boulud e Claude Troisgros se encontram, hoje à tarde, com os alunos dos cursos de gastronomia e hotelaria do Centro Universitário IBMR, na Barra, filiado ao Kendall College e Glion, que estão entre as mais importantes escolas de culinária do mundo. Os dois vão inaugurar a parede da fama do curso, deixando suas mãos registradas no IBMR. Daniel Boulud é autor de um livro com dicas para jovens cozinheiros.

Georgiana Guinle é a hostess do café da manhã que a imobiliária Coelho da Fonseca promove hoje, no Casa Cor.

Sylvia Wachsner, coordenadora do projeto OrganicsNet/SNA, faz palestra, hoje, sobre a utilização de produtos orgânicos na panificação no 3º Workshop de Cooperação Internacional – Gestão e Inovação na Panificação, em Mato Grosso do Sul.

O professor Bayard Boiteux, da UniverCidade, embarca para a Índia no sábado. Vai buscar mais informações para o livro que lança em 2012,com João Ricardo Coellho, sobre destinos turísticos.

Depois de 14 anos sem se apresentar no Rio, o Grupo Contadores de Estórias, de Paraty, estreia seu espetáculo Flutuações, amanhã, no Teatro do Jockey. O grupo tem como marca registrada o trabalho sem texto, com bonecos pequenos e temática poética.

O restaurante Alameda, em Botafogo, acaba de ser premiado no Guia 4 Rodas. Ao todo, a casa soma oito estrelas no Guia, com seis nas edições de 2004 a 2009 (em Petrópolis) e duas nas edições de 2011 e 2012 (no Rio).

Com Marcia Bahia, Cristiane Rodrigues, Marcia Arbache e Gabriela Brito