sábado, janeiro 02, 2010

ATRAÇÃO FATAL

CLÁUDIO HUMBERTO

"Só recebemos ajuda do brasileiro dono do supermercado"

Um dos brasileiros atacados no Suriname, criticando a Embaixada do Brasil


ENGENHARIA DE UMA OBRA DE R$ 26 MILHÕES

A nova sede do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Confea), em Brasília, somados os valores do projeto, das fundações e da execução da obra, já custou ao contribuinte quase R$ 26 milhões desde 1999. Com isso, o valor do metro quadrado da obra (R$ 2,6 mil) ficou quase quatro vezes maior que o valor do custo médio nacional do metro quadrado (R$ 712,5).

AÇÃO
O Ministério Público Federal impetrou em 2007 ação para investigar um contrato entre uma firma de arquitetura e o Confea, sem licitação.

SEM RESPOSTA
O Confea se recusou a explicar os motivos para o custo total da obra da nova sede ter quadruplicado nos últimos anos.

PARECE PIADA
Um atendimento de emergência no Hospital Espanhol, em Salvador, demora (pasmem!) em média cinco horas. Em vez de tentar apressar o atendimento, a direção preferiu colocar um cartaz informando a demora.

INJUSTIÇA
Enquanto o cachê de Zezé di Carmargo e Luciano para cantar no Show da Virada, em Brasília, foi de R$ 300 mil, o de Dhi Ribeiro, R$ 20 mil.

MEDO NATALINO
O Eixo Monumental, uma das principais vias de Brasília, ganhou R$ 4 milhões em decoração de Natal. Mas os turistas reclamam da insegurança: à noite é difícil ver polícia no gramadão da Esplanada.

PENSANDO BEM...
...às vezes, recesso é o outro nome da ressaca.

REPENTISTA DOS BONS
Poeta e repentista, o ex-senador Ronaldo Cunha Lima ganhou fama também pela memória prodigiosa: decorou todo o Código de Processo Penal e respondeu sobre o poeta Augusto dos Anjos no programa de TV O Céu é o Limite, de Jota Silvestre. Um dia foi desafiado por um eleitor chato: - Não é o senhor que repete qualquer coisa? Então diga o meu nome. Cunha Lima respondeu rápido: - Dizer, não digo. Mas repito.

REVELAÇÃO
O governo do DF esnoba artistas da cidade em eventos locais. A cantora é considerada revelação no samba e sempre faz shows no Rio.

ANO NOVO PARA POUCOS
As festas da virada do ano em Brasília foram para poucos. Com DJ, R$ 310, em clubes periféricos, por exemplo, custaram R$ 600, o casal.

FALTAM LEITORES
O Serviço de Portaria do Senado mandou e-mail aos senadores para que comuniquem a necessidade de envio de jornais durante o recesso. Nada de economizar em assinaturas. É só para não acumular papel mesmo.

COMPANHEIRO QUER APITO
Lula autorizou a contratação de mais cerca de 3,2 mil funcionários da Funai para os próximos três anos, o que duplicará o quadro funcional e triplicará a folha de pagamentos da entidade até 2012.

MAIS CACIQUES
Cerca de cem vagas são reservadas para os chamados cargos de confiança - os "cumpanhêro". Dessa forma, o presidente fará com que a entidade represente mais caciques do que índios.

Ó, COITADAS
A árvore de Natal na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, custou R$ 2,3 milhões. As donas da empresa contratada comentaram que foram três dias até tarde da noite para aprontar a belezura. Estavam exaustas.

SENADO QUER CRIAR POLÍCIA JUDICIÁRIA
A Reforma Administrativa do Senado ainda vai dar muito o que falar. Agora querem criar a Coordenação de Polícia Judiciária. Mas a Constituição Federal define que compete à Polícia Federal, com exclusividade, a função de polícia judiciária da União. A medida, portanto, não seria inconstitucional? Haveria, inclusive, previsão para se criar um "Serviço de Investigações Criminais".

CARO DEMAIS
No tradicional Iate Clube, custou até R$ 1,9 mil a mesa para seis. No Píer 21, também às margens do Paranoá, chegava a R$ 1,2 mil.

RELÍQUIAS DE DOM BOSCO
Chegam hoje a Brasília as relíquias e a mão de Dom Bosco, conservadas em uma caixa. As roupas vestem a imagem de cera do santo, que profetizou a criação da capital federal.

BICENTENÁRIO
As relíquias virão da Itália e já percorreram Argentina, Chile, Uruguai e Paraguai. Passarão pelo Brasil e por 130 países até 2015, ano do bicentenário de nascimento de Dom Bosco.

GOSTOSA

CLIQUE NA FOTO PARA AMPLIAR

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Patamar da taxa Selic será a grande dúvida deste ano

FOLHA DE SÃO PAULO - 02/01/10


O futuro da taxa básica de juros da economia brasileira será a grande incógnita de 2010. Enquanto os analistas mais otimistas esperam uma Selic de 10% no final do ano, os pessimistas apostam numa taxa de 11,5%. Hoje, os juros estão em 8,75% ao ano.
Outros indicadores da economia para o final deste ano, como a velocidade de crescimento do PIB, o patamar do câmbio e a taxa de inflação, estão praticamente dentro de um consenso entre os analistas ouvidos pela
Folha (veja quadro).
O que irá determinar o futuro da Selic será a velocidade de crescimento da economia, que será puxada pelo consumo.
"Um ajuste na Selic será necessário para segurar a pressão da inflação no final do ano", de acordo com Bernardo Wjuniski, economista da Tendências Consultoria.
Já a MCM Consultores prevê que os juros irão começar a subir em julho. "Acreditamos que o Banco Central tenha de fazer um aperto mais forte no segundo semestre", afirma Leandro Padulla, economista da MCM.
Por outro lado, os preços administrados devem ajudar a segurar a inflação, associado ao câmbio mais baixo, acredita Bráulio Borges, economista-chefe da LCA Consultores.
As projeções para o câmbio no final deste ano indicam um dólar a R$ 1,70, R$ 1,75, sem muita variação em relação à atual cotação. Wjuniski, porém, acredita que no meio do caminho o dólar possa sentir o reflexo da eleição presidencial.
"Depois de março, o dólar irá apresentar uma valorização por conta da tensão pré-eleitoral. O pico deve chegar a R$ 1,90 entre setembro e outubro." Porém, diz ele, como a entrada de capital deve continuar se acentuando, a cotação deve voltar a cair no final do ano.
As estimativas para o crescimento do PIB são bem favoráveis para 2010. Como a ociosidade da indústria está diminuindo e o crédito está melhorando para as empresas, os investimentos devem se recuperar. "O investimento vai saltar de uma queda de 10% em 2009 para uma alta de 20% em 2010", diz Borges, da LCA.
O principal fator que vai puxar a expansão do PIB será o consumo, devido à recuperação do mercado de trabalho e à renda elevada, diz Wjuniski, da Tendências Consultoria.

"Um ajuste na Selic será necessário para segurar a pressão da inflação no final de 2010"
BERNARDO WJUNISKI
economista da Tendências Consultoria

EFEITO ESTUFA NA BOLSA
Depois de lançar o Índice Carbono Eficiente, juntamente com o BNDES, na COP-15, conferência das Nações Unidas para mudanças climáticas, em Copenhague, em dezembro, Sônia Favaretto, diretora de sustentabilidade da BM&FBovespa, prepara-se para entrar em contato com empresas e especialistas neste mês.
A ideia é apresentar a metodologia, colher impressões e, eventualmente, aprimorar o indicador. Estruturado a partir do IBrX-50, índice com as 50 ações mais líquidas da Bolsa, o Carbono Eficiente será ponderado pelo inventário das emissões de gases de efeito estufa das companhias.
Companhias com maior eficiência em emissões, em relação às demais da carteira, tenderão a aumentar seu peso no novo indicador, na comparação com sua participação no IBrX-50.
"O índice tem poder indutor", acredita Favaretto. "Estimulará as empresas brasileiras de capital aberto mais líquidas a mensurarem e gerirem suas emissões. Sem inventário, não se sabe quanto diminui-las para mitigar a mudança climática", afirma a diretora.
Cerca de 14 das 50 empresas do IBrX-50 já fazem inventário das emissões, mas com escopos e metodologias diferentes, de acordo com ela.
"De forma compartilhada com o mercado, vamos alinhar isso", diz Favaretto, que vê no índice a oportunidade de dar informações transparentes a investidores sensíveis às questões ambientais.

Livro relata trajetória e atuação do Cade

A trajetória e a atuação do Cade devem ser um exemplo para outras agências regulatórias do país, defende Pedro Dutra, advogado especialista em concorrência e professor da FGV. Ele acaba de lançar o livro "Conversando com o Cade" (editora Singular, 288 págs.), no qual apresenta entrevistas com 23 ex-conselheiros do órgão que relembram casos célebres e as decisões tomadas.
Na opinião de Dutra, destacam-se, dessas histórias, a independência e a transparência da autarquia. "A própria lei que a criou já é muito boa, pois lhe permite atuar de forma aberta à sociedade. As reuniões são públicas e as indicações para o conselho são técnicas e não políticas", diz. "Aí reside uma enorme diferença em relação às demais entidades de regulação. Cidadãos deveriam cobrar que o modelo fosse copiado."
O livro também mostra como o Cade foi evoluindo e ganhando importância. "Hoje todo empresário que pensa em fusão ou aquisição vai consultar o órgão antes." O que falta, diz, é melhorar a estrutura, aumentando verba disponível e número de funcionários.

LIGAÇÃO 1
A 3G Americas, associação que representa a indústria de telefonia móvel nas Américas, encerrou o ano de 2009 com um crescimento mundial das tecnologias 3G na casa dos 380% em assinaturas de banda larga móvel. O número representa cerca de 9,4 milhões de novos clientes que passaram a fazer uso da tecnologia de terceira geração, que alcançou a marca dos 12 milhões de usuários.

LIGAÇÃO 2
Com 4 bilhões de assinaturas no mundo, a tecnologia GSM (de celulares com chip), da qual 3G é uma evolução, tem 89,5% de participação de mercado, com serviços em 860 redes, presente em 220 países. Segundo a 3G Americas, na América Latina e no Caribe esse índice é maior. Cerca de 90% das assinaturas de telefonia móvel da região são da família GSM, o que representa 448 milhões de assinaturas.

com JOANA CUNHA, ALESSANDRA KIANEK e DENYSE GODOY

ANCELMO GÓIS

Lição para o Brasil

O GLOBO - 02/01/10


O secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, que passou no meio da chuva o réveillon em Angra, na casa de Ricardo Teixeira, aposta que a Copa da África será um sucesso de organização: - Afinal, os estádios ficaram prontos seis meses antes do primeiro jogo.

Bola que segue...
Terça agora, Valcke se encontra em Brasília com Lula.

Cena carioca
Quinta pela manhã, em plena Ataulfo de Paiva, na altura do Jobi, boteco chique do Leblon, uma mulher cheia de amor para dar abordou um homem: - Sou garota de programa da Help, tô ficando desempregada hoje e queria saber se você quer sair comigo. Como o moço não mostrou apetite, a dadivosa emendou: - Então dá para me arrumar uns 5 ou 10 reais? O réveillon tá fraco...

Bangu Shopping
A João Fortes Engenharia (leia-se Antonio José Carneiro, o Bode) vendeu os 30% que tinha no Bangu Shopping, no Rio, para o grupo Aliansce, que já detinha os outros 70%. Negócio de uns R$ 80 milhões.

O Lobão francês
Não é só no Brasil que tem gente, como os ministros Edison Lobão e Reinhold Stephanes, que vive torpedeando as leis em defesa do meio ambiente. O Conselho Constitucional da França considerou ilegal a lei sobre o imposto pela emissão de carbono de Sarkozy.

Saudades de 1910
Copinha, clarinetista, saxofonista e flautista, é outro bamba da nossa música que faria 100 anos agora em 2010. Ex-aluno dele, Eduardo Neves, grande instrumentista brasileiro, prepara homenagem ao mestre no Centro Cultural Carioca.

Puro-sangue
Do cientista político Wanderley Guilherme dos Santos: - A chapa puro-sangue proposta pelo PSDB paulista significa pedir a Aécio Neves, de Minas, que eleja o governador José Serra presidente da República. É. Pode ser.

Espanha dividida
Em dezembro, Gilberto Gil, em turnê pela Europa, recusouse, em Barcelona, a satisfazer um capricho da produção local, que lhe pediu para não cantar nem falar... em espanhol. É que, em Barcelona, o povo fala catalão, e é grande a rivalidade com o castelhano dos madrilenos.

Aliás...
Um grupo de brasileiros, ao chegar a Barcelona, em outubro, logo depois de o Rio ter vencido Madri na disputa pelas Olimpíadas de 2016, ficou impressionado com o taxista dizendo que muitos moradores locais torceram a favor dos cariocas.

ZONA FRANCA
Você já votou na Mulata do Gois (oglobo.com.br/mulatadogois2010)? l O musical "No piano da patroa", de Roberto Bürgel, estreia dia 7, no Centro Cultural Correios no Rio.

Laerte e Ana Coutinho fizeram réveillon em Angra.

Uma das patrocinadoras do Fashion Business, a Amil fará a cobertura médica do evento que reúne 170 grifes de 12 estados.

Anna e Hermann Baeta receberam amigos para as festas de fim de ano.

Koni Store completa três anos com campanha ecologica no site www.konistore.com.br.

Você já votou no Mulato do Gois (oglobo.com.br/mulatodogois2010)?

O país da crendice
O primeiro vencedor de 2010 é o Cacique Cobra Coral, que prometeu um réveillon sem chuva na cidade, apesar de a meteorologia prever o contrário. Circulou até a versão de que a médium foi à Argentina, para evitar que a frente fria que vinha de lá chegasse ao Rio.

Só que...
Agora, poucos lembrarão que a médium falhou, por exemplo, em julho, quando prometeu que não choveria no show de Roberto Carlos no Maracanã. É como diz o personagem de "O Homem que Matou o Facínora" de John Ford: "Quando a lenda é mais interessante do que o fato, publique-se a lenda".

Virada de bacana
Réveillon de bacana foi o do bilionário russo Roman Abramovich, dono do time inglês Chelsea, no seu iate de 500 pés em Saint Barths, no Caribe. A festa para 300 pessoas teve show de Beyoncé.

Apagão da Ampla
Em Búzios, área da Ampla, faltou luz várias vezes na virada.

No mais
O réveillon de Copacabana foi ótimo, que bom. Mas veja como um dos desafios do Rio é o transporte público. Depois da meianoite, o trânsito - só de ônibus! - na N. S. de Copacabana ficou parado mais de 20 minutos. Era um nó de aço, com os coletivos todos lotados, como latas de sardinha, na volta para casa.

É por isso que...
Como ia dizendo, em 2016, quero ir de metrô até a Barra.

O BAMBA
Arlindo Cruz recebe a devida saudação de Roberta Rodrigues, a bela atriz, após show dele no Rio

ELIANA PITMAN, a cantora, brinca com o trombone, que aprendeu a tocar para viver a musicista Miranda em "Tempos modernos", próxima novela das 19h da Globo

PONTO FINAL
O prefeito Eduardo Paes bem que poderia dar uma consultoria de choque de ordem ao governador Cid Gomes, do Ceará. Se no Rio o frescobol e o altinho incomodam os banhistas, no Ceará a moda é... andar de carro na areia. Um horror, veja na foto.

COM ANA CLÁUDIA GUIMARÃES, MARCEU VIEIRA, AYDANO ANDRÉ MOTTA E BERNARDO DE LA PEÑA

GOSTOSA

TIMOTHY GARTON ASH

Risco cresce, poder se fragmenta

O ESTADO DE SÃO PAULO - 02/01/10


A década poderia ter acabado com um novo atentado como o 11 de Setembro. Será que, afinal, George W. Bush estava certo? Será que a "guerra total ao terror" é o conflito que define nosso tempo? Nesse caso, e as mudanças climáticas? E o fato de que mais de um bilhão de pessoas precisar sobreviver com menos de US$ 1 ao dia? E a proliferação nuclear, a ameaça de uma pandemia mundial, a crise do capitalismo globalizado?

Será necessária uma longa luta para reduzir a ameaça do terrorismo a um mínimo suportável, e esta luta terá de ser conduzida de modo mais inteligente do que nos últimos dez anos. Mas o problema da década que começa agora é que já temos meia dúzia de outras ameaças colossais à liberdade e ao modo de vida da maioria que vive sob democracias desenvolvidas.

Neste momento, nos defrontamos com um número crescente de ameaças que dizem respeito às pessoas de país, mas que se originam em outros países, e só podem ser resolvidos com a colaboração de muitos países. É o caso da crise financeira, do crime organizado, da migração em massa, do aquecimento global, das pandemias e do terrorismo internacional, para mencionar apenas alguns. A necessidade de cooperação internacional nunca foi tão grande, mas a oferta não acompanha a demanda.

LIMITAÇÕES
Sob vários e importantes aspectos, esta cooperação se tornou muito difícil. O poder dos governos nacionais é cada vez mais limitado por companhias, bancos, mercado internacional, mídia, organizações não governamentais e fluxos de informação. Além da difusão vertical, há a horizontal, com o surgimento de novas grandes potências que competem com os EUA, Europa e Rússia. A ascensão da China é a mais importante e constituirá uma história central da nova década, mas há também Índia, Brasil, África do Sul e outros.

Nada disso está ainda devidamente expresso nos arranjos institucionais das organizações internacionais nascidas depois de 1945 - quer na participação permanente no Conselho de Segurança da ONU, quer no direito de voto no Fundo Monetário Internacional (FMI).

Historicamente, as principais mudanças das relações de poder entre Estados foram acompanhadas por guerras. A releitura de O choque de civilizações, de Samuel Huntington, de 1996, faz recordar que ele imagina uma guerra entre China e EUA supostamente deflagrada em ... 2010. A situação ainda não se agravou a este ponto, mas nas próximas décadas, o mero fato de se evitar uma guerra maior, seja ela entre a China e os EUA ou na Ásia, exigirá o esforço consciente e a diplomacia de uma ordem superior. Entretanto, esta época de problemas transnacionais exige não apenas que os Estados não guerreiem entre si - a condição mais fundamental da ordem internacional - mas que cooperem ativamente entre si como nunca fizeram até agora.

Em 2000, os EUA ainda detinham uma liderança decisiva, mas desperdiçaram uma enorme oportunidade nos oito anos do governo Bush. O especialista em política externa americana, Richard Haas, que fez parte do governo Bush nos primeiros anos, fala de "uma década de distração estratégica". Agora Barack Obama tenta juntar os pedaços, mas talvez seja tarde demais. Os historiadores poderão dizer: Bush poderia, mas não quis; Obama pretendia, mas não pôde.

No final da década, a cúpula do clima em Copenhague foi a ilustração perfeita deste mundo de problemas globalizados sem uma governança global. Em teoria, os quase 200 países da chamada "comunidade internacional" poderiam, sob os auspícios da ONU, selar um acordo internacional juridicamente compulsório para resolver o problema mais obviamente global do nosso tempo. Na prática, quase nada aconteceu.
Timothy Garton Ash é historiador e analista político

VILAS-BÔAS CORRÊA - COISAS DA POLÍTICA

As férias de Lula e dos convidados

JORNAL DO BRASIL - 02/01/10

CONTRA FATOS NÃO HÁ ARGUMENTOS: o presidente Lula é uma das mais poderosas vocações de líder popular da história deste país.

E não é provável que este século produza rival que lhe faça sombra. Nada a estranhar nas merecidas férias, com numerosos convidados nas praias paradisíacas da Base Militar de Aratu, da Bahia dos balangandãs, de Dorival Caymmi e do Senhor do Bonfim.

Os planos de descanso em local reservado, com pouca gente, não resistiram à amistosa pressão de parentes, amigos mais chegados e convidados especiais. O governador da Bahia, Jaques Wagner, é um dos penetras oficiais. Lurian, a filha de Lula, não podia faltar. A praia é imensa, espaço é o que não falta, e Lula e Marisa Letícia terão os seus momentos de privacidade. Afinal, no próximo Natal e Ano-Novo o presidente Lula será um ex-presidente sonhando com mais dois mandatos.

A ausência da candidata, ministra Dilma Rousseff, que não desgruda do presidente nas viagens domésticas da pré-campanha para os comícios nas visitas às obras do PAC e do Minha Casa Minha Vida é explicada pela cautela com a saúde.

Claro que nem tudo são flores em dois mandatos, com a agenda entupida de compromissos internacionais, pois Lula não recusa convite nem para missa de sétimo dia ou para visita a qualquer país dos cafundós da África. Mas os sinais de fadiga são desculpa mais conveniente para os escorregões presidenciais, cada vez mais frequentes, comentados em surdina por assessores, parlamentares e raros ministros.

Na véspera da viagem, na solenidade da sanção do projeto de lei que beneficia os taifeiros da Aeronáutica, Lula não apenas escolheu o mais inadequado momento como o pior tema para criticar a imprensa. E o presidente com o maior, mais sofisticado e competente sistema de publicidade no mundo, para criticar os repórteres que suportam a humilhação de cobrir o pior, mais escandaloso e desmoralizado Congresso da história deste país, virou as costas à evidência e apelou para o sofisma: “Se a gente for analisar o conjunto do trabalho produzido pelo Congresso durante o ano, vai perceber que tem muito mais coisa positiva do que negativa”.

Ora, com todo o respeito, será que o presidente não lê as manchetes dos jornais? Nem folheia as revistas? Ou não passa os olhos pelos resumos da sua competente equipe de excelentes profissionais? Será que não viu nos noticiários das redes de TV a degradante sequência do governador de Brasília, José Roberto Arruda, derreado na poltrona do seu gabinete e distribuindo pacotes de notas com as propinas milionárias de R$ 100 mil, R$ 200 mil que cada um escondia nas meias, na cueca, nos bolsos, nos sapatos e uma senhora na bolsa de confiança para o transporte dos maços de notas? Mas este é um episódio do big boss de araque, um governador que não devia existir na cidade construída para ser a capital do Brasil.

Mas, e a roubalheira com as verbas do Senado? E se remexer no lixo da Câmara, teremos um bis de arromba para o início do próximo ano parlamentar.

E que tal a sutileza da lógica presidencial: “Não fazemos distinção de que partido é o governador ou o prefeito. Você não pode deixar de dar comida a um porco porque não gosta do dono do porco”.

A degringolada do governador do DF, Roberto Arruda, tocou na corda sensível do coração presidencial, inspirando esta frouxa desculpa: “A imagem não fala por si. O que fala por si é todo o processo de investigação e de apuração”.

Lula também encaixa observações sutis e generosas. No acaso de uma visita ao quartel de comando do II Exército, no Ibirapuera, onde Dilma Rousseff esteve presa e foi torturada, quando o helicóptero parou, a ministra-candidata olhou para o presidente e comentou: “Engraçado, eu não tenho raiva. Eu vim para cá quando fui presa”.

Na cerimônia recente, em 21 de dezembro, do lançamento do Programa Nacional de Direitos Humanos, a ministra Dilma Rousseff, estreando o novo cabelo ainda curto, emocionou-se às lágrimas ao lembrar os dias de prisioneira: “Muitas pessoas foram presas, torturadas e mortas pelo regime militar”.

Testemunho de uma possível presidenta da República.

A degringolada do governador do DF tocou na corda sensível de Lula

FELIPE PATURY

REVISTA VEJA
Panorama

Holofote


Felipe Patury

Lula vacinado

Marcos de Paula/AE


O governo prepara uma campanha publicitária para melhorar a imagem de sua política de saúde - setor que recebe as piores avaliações nas pesquisas de opinião e poderá prejudicar a campanha da candidata petista a presidente, Dilma Rousseff. Na última semana do ano, por exemplo, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, reuniu seus assessores para planejar medidas em relação aos surtos de dengue e de gripe A. Temporão decidiu concentrar os recursos de combate à dengue no Nordeste, a região que mais sofreu com a doença em 2009. Enfrentará, ainda, a gripe A com uma campanha de vacinação. Ele próprio e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva serão os primeiros a receber o medicamento.

FGTS recorde em 2009

Ricardo Marques/Folha Imagem


Os primeiros meses de 2009 apontavam para um ano catastrófico para o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). A crise econômica fez com que, em março, o fundo registrasse uma captação negativa, resultado do aumento dos saques que são feitos pelos desempregados e da redução dos depósitos dos empregados. A situação mudou no segundo semestre. Em novembro, o número de contribuintes chegou a 31,8 milhões, um recorde. Três dias antes do Natal, a arrecadação líquida (depósitos menos saques) bateu 7,5 bilhões de reais, outra marca histórica. Os números serão divulgados nos próximos dias pelo vice-presidente da Caixa Econômica Federal, Wellington Moreira Franco.

Bons ventos para a energia

Andre Dusek/AE


O governo anunciará neste mês que fará dois leilões de energia eólica em 2010. A decisão foi tomada nos últimos dias do ano e está baseada no primeiro pregão desse tipo, realizado em meados de dezembro, quando foi aprovada a construção de projetos que, uma vez prontos, produzirão 750 megawatts médios, o suficiente para abastecer uma cidade do tamanho de Salvador. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, evita fazer previsões sobre as futuras licitações. Espera, no entanto, repetir o deságio de mais de 20% obtido na concorrência do ano passado.

Está faltando lata

Divulgação


O mercado de latas de alumínio cresceu 11% em 2009. A expansão da demanda foi tão grande que o número de unidades consumidas no país, 14,6 bilhões, ultrapassou a capacidade instalada da indústria, que é de 14,4 bilhões. Por isso, os principais fabricantes já planejam novas unidades. Neste ano, a Crown, presidida por Rinaldo Lopes, começará a construir uma planta no Paraná. A Rexam, de André Balbi, também deverá ampliar sua capacidade produtiva em 2011.

My king, how can I say axé?

Marcio Lima


A cantora baiana Ivete Sangalo está pagando curso de inglês para toda a sua trupe. No mês que vem, a rainha do axé se apresentará ao lado da pop star Beyoncé, e quer que seus músicos, bailarinos e assessores se entendam com a equipe da americana. Não é só. Ivete deseja que 2010 seja lembrado como o ano em que sua carreira internacional deslanchou - outro motivo para sua equipe aprender inglês. Marcou até data para o bloco adquirir alguma fluência: setembro, quando ela gravará um DVD no Madison Square Garden, em Nova York.

Com reportagem de Leonardo Coutinho

GIORA BECHER

Querem a paz?

O GLOBO - 02/01/10


O compromisso com a paz tem sido o objetivo central dos governos de Israel desde a criação de nosso Estado, em 1948. Se por um lado os esforços resultaram na conclusão de acordos com o Egito e a Jordânia, por outro as tentativas de paz com os vizinhos palestinos têm sido repetidamente rechaçadas.

Em discurso na Universidade BarIlan, em junho de 2009, o primeiro-ministro Netanyahu declarou claramente sua aceitação de um estado-nação palestino em paz e segurança. Líderes dos EUA e da Europa elogiaram. Infelizmente, o discurso de Netanyahu foi rejeitado pelos palestinos.

Na 6aconferência do Fatah, resolveuse “adotar todas as formas legítimas de luta” contra Israel, além de “ser criativo ao buscar novas maneiras de luta e resistência”.

Apesar disso, Netanyahu tem reiterado o chamado à paz com os palestinos.

O governo de Israel reconhece que o chamado do Estado palestino à paz é necessário, mas não é o suficiente, e implementou medidas mais abrangentes para melhorar o clima político e para o avanço da reconciliação. Os passos tomados por Israel incluem medidas para aumentar a liberdade de movimento dentro da Cisjordânia e entre a Cisjordânia e Israel, como a remoção de postos de controle e barreiras, cooperação de perto com a Autoridade Palestina na construção da capacidade das forças de segurança civis palestinas e na melhoria da coordenação entre Israel e os serviços de segurança palestinos.

Estas medidas contribuíram com as estatísticas impressionantes e encorajadoras do Banco Mundial, que mostram um aumento de 8% de crescimento anual na economia da Cisjordânia.

Apesar de a vida na Cisjordânia ter melhorado significativamente, como resultado desses esforços israelenses, os líderes palestinos continuam com uma campanha internacional para tirar a legitimidade de Israel, prejudicar sua economia e minar sua habilidade para se defender. Na citada conferência do Fatah foi adotada uma plataforma conclamando “o boicote de todos os produtos e instituições israelenses dentro dos territórios e no exterior”.

Em novembro de 2009, o governo israelense anunciou uma moratória, sem precedentes, de dez meses, na construção de um conjunto habitacional na Cisjordânia, que Netanyahu considerou um passo “objetivando encorajar o retorno das conversações de paz” e “uma oportunidade” no caminho da paz.

Infelizmente, o porta-voz palestino rejeitou a moratória. Já demonstramos, com palavras e ações, nosso comprometimento para avançar com a paz e estamos dispostos a fazer as concessões necessárias. A rejeição às iniciativas, e a recusa de negociar, deixa Israel pensando se de fato seus vizinhos estão comprometidos com a paz.

GIORA BECHER é embaixador de Israel no Brasil.

BRASÍLIA -DF

Voo ascendente

CORREIO BRAZILIENSE - 02/01/10


A ala tucana favorável à candidatura de Geraldo Alckmin ao governo de São Paulo leva sobre o braço uma nova rodada de pesquisas que apontam o atual secretário de Desenvolvimento Econômico como a via mais segura para o PSDB prolongar os 15 anos passados à frente do Palácio do Bandeirante. Mais do que corroborar os resultados da mais recente pesquisa Datafolha, a sondagem amplia a vantagem do Alckmin em relação a Marta Suplicy (PT) e ao deputado Ciro Gomes (PSB), cenário em que venceria com 57% dos votos — a mais estreita margem aferida.

A pesquisa tem sido tratada com discrição pelos alckmistas, já repreendidos uma vez pelo governador José Serra (PSDB), pelo vazamento de uma edição anterior. Avesso à antecipação da disputa estadual, Serra não quer marola com o outro postulante ao governo paulista, seu chefe da Casa Civil, Aloysio Nunes Ferreira.


Campo

O governo federal acelerou, em 2009, aumento no número de imóveis rurais de interesse social para a reforma agrária que, em 2008, chegou a apenas 6,4 mil hectares, a menor marca dos últimos 14 anos. No ano passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou 137 decretos, prevendo a desapropriação de 408 mil hectares


Comparativo

Apesar da retomada, a área destinada à reforma agrária ficou 19% abaixo da média dos primeiros seis anos do governo Lula, de 500 mil. Em relação à gestão de Fernando Henrique Cardoso, o número se distancia ainda mais da média do governo tucano, de 1,2 milhão de hectares.


Relógio

A Câmara dos Deputados deve gastar R$ 2,2 milhões para implementar o sistema de ponto eletrônico dos funcionários da Casa. O registro das horas trabalhadas — que sofre resistência de setores — funcionará no início, de forma experimental, em quatro setores da administração da Casa.


Minguante

Deputados escolados no eleitorado do Rio de Janeiro fazem prognósticos desanimadores para a bancada do DEM. Dos cinco parlamentares eleitos em 2006, preveem, só dois devem se reeleger: Índio da Costa e o presidente nacional da legenda, Rodrigo Maia, que concorrerá com seu pai, o ex-prefeito César Maia, fora da máquina pública carioca.


Composição

Aspirante ao governo do Maranhão, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, desistiu de concorrer ao Palácio dos Leões. Disputará a reeleição para o Senado na chapa da governadora Roseana Sarney (PMDB). Um dos ministros mais próximos da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, Lobão declarou também apoio para que o vice da “mãe do PAC” seja o presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer (PMDB-SP).


Entorno
Uma proposta do deputado Tadeu Fillippeli (PMDB-DF), que prevê a incorporação de seis municípios goianos do Entorno ao Distrito Federal, acendeu uma disputa com a bancada do estado vizinho. Apresentado no fim de outubro, o projeto recebeu pedido de vistas do deputado João Campos (PSDB-GO), que monta resistência ao avanço da matéria.

Missivas
Entre a enxurrada de e-mails enviados, em 2009, para a Presidência da Câmara dos Deputados, o projeto que mais recebeu atenção dos eleitores foi a PEC 300/08, que unifica o piso nacional de policiais e bombeiros militares. A proposta foi tema de 36.636 mensagens. Em seguida, veio o PL 3.299/08, que prevê o fim do fator previdenciário, com 35.159 correspondências.

Prudência
Presença certa em feiras e praças de Planaltina, por onde costumava circular nesta época entre o eleitorado da cidade, o distrital Aylton Gomes (PR) mudou o roteiro de fim de ano. Depois de ser citado nas investigações da Operação Caixa de Pandora, o neo-republicano decidiu passar férias na cidade de Valparaíso (GO), a 60km de distância.


Sonhar pode

Entusiastas da candidatura do vice-governador de Minas Gerais, Antônio Anastasia (PSDB), ao Palácio da Liberdade apontam como cenário ideal, nas próximas eleições, uma aliança de peso com o PMDB. Ao partido, seria entregue a vice e a segunda cadeira ao Senado, com prioridade ao ministro das Comunicações, Hélio Costa.

"TAMO FUDIDO"

ROBERTO POMPEU DE TOLEDO

REVISTA VEJA
Roberto Pompeu de Toledo

Recomeços passados e presentes

"A noção de que se está reinaugurando o país traz o duplo prejuízo
de poder ser interpretada como um embuste, de um lado, e induzir
ao autoengano, de outro"

Em 2010 completam-se 100 anos da morte de Joaquim Nabuco e Brasília faz cinquenta anos. São duas efemérides que dizem dos destinos da pátria de forma semelhante – ambas têm a ver com recomeços, ou tentativas de recomeço. Lembrar de Nabuco é lembrar da abolição da escravatura, movimento do qual ele foi talvez o principal dos agentes, e com certeza o mais elegante. Com a abolição pretendeu-se um recomeço. Com Brasília, 72 anos depois da abolição, pretendeu-se outro. Era a aurora de um país destemido, porque avançava por sertões ignotos; dinâmico, porque ousara um empreendimento que só em sonho outros ousariam; justo, porque na nova capital as diferenças de classe e de hierarquia se dissolveriam na homogeneidade das superquadras e das vias expressas; e moderno, porque os terrenos baldios daquele naco do Planalto Central seriam preenchidos por uma arquitetura de riscos deslumbrantemente avançados.

Joaquim Nabuco (1849-1910) forma, com José Bonifácio, o Patriarca da Independência (1763-1838), a dupla de maiores estadistas da história do Brasil. Eles merecem esse título não só pelo que fizeram, mas também pela ideia geral que os movia – a ideia rara, lúcida e generosa de construção de uma nação. José Bonifácio está fora das datas redondas que serão lembradas neste ano, mas é outro que personifica um recomeço – merece uma carona neste texto, por isso. Ele personifica a independência, assim como Nabuco personifica a abolição. Ambos venceram, no sentido de que, em grande parte pelas manobras de Bonifácio, o Brasil em 1822 se tornou independente, assim como, em grande parte pela pregação de Nabuco, a escravidão foi legalmente abolida em 1888. Ambos perderam, porém, no que propunham como sequên-cia necessária de tais objetivos.

Bonifácio ousou querer dotar o jovem estado brasileiro de um povo. Ora, um povo não podia ser formado por uma sociedade dividida entre senhores e escravos. Daí que, três gerações antes de Nabuco, ele já propusesse a abolição da escravidão. Falaram mais alto os interesses dos traficantes e dos senhores de escravos. Nabuco, se pegou a fortaleza escravista já mais desgastada, pronta para o assalto final, não teve êxito na segunda parte de sua pregação: a distribuição de terras entre os antigos escravos (ele dizia que a questão da "democratização do solo" era inseparável da emancipação) e o investimento num sistema de educação abrangente o bastante para abrigá-los. Tal qual o de José Bonifácio, o recomeço pretendido por Nabuco ficou pela metade.

Que dizer do recomeço representado por Brasília? Há versões segundo as quais, entre os motivos que levaram o presidente Juscelino Kubitschek a projetá-la, estaria a estratégia de fugir da pressão popular presente numa metrópole como o Rio de Janeiro. Uma espúria síndrome de Versalhes contaminaria, desse modo, as nobres razões oficiais para a mudança da capital. Mais perverso que a even-tual mancha de origem, no entanto, é o destino que estava reservado à "capital da esperança". Meros quatro anos depois de inaugurada, ela viraria, com seu isolamento dos grandes centros e suas avenidas tão propícias à investida dos tanques, a capital dos sonhos da ditadura militar. Hoje, é identificada com a corrupção e a tramoia. Pode ser injusto. Falta demonstrar que, em outra cidade, a corrupção e a tramoia teriam curso menos desimpedido. Não importa. Para a desgraça de Brasília, o estigma grudou-lhe na pele.

"Falo, falo, e não digo o essencial", costumava escrever Nelson Rodrigues. O essencial é o seguinte: nunca antes neste país houve um governo tão imbuído da ideia de que veio para recomeçar a história. Embalado por um lado em seus próprios mitos, e por outro em festivos, se não interesseiros, louvores internacionais, chega a esta quadra acreditando que preside a uma inédita mudança de estruturas, na ordem interna, ao mesmo tempo em que é premiado com uma promoção pela comunidade internacional. Assim como ocorreu pelo menos duas vezes, em décadas recentes – com o "desenvolvimentismo" de JK e com o "milagre econômico" dos militares –, propaga-se a ideia de que "desta vez vai". A noção de que se está reinaugurando o país traz o duplo prejuízo de poder ser interpretada como um embuste, de um lado, e induzir ao autoengano, de outro. Não há refundação possível. Raras são as oportunidades de recomeço. O poder das continuidades é sempre maior.

P.S.: É ano novo. Bom recomeço, para quem acredita neles.

ARI CUNHA

Trotes e vírus

CORREIO BRAZILIENSE - 02/01/10


No início de Brasília, a criançada não tinha lá muito o que fazer. Uma das diversões era trote por telefone. Eram ingênuos e alegres. Nada das maldades de usar serviços de emergência. Hoje são piadas velhas, mas na década de 70 os mais velhos caíam em todas. Tem vidro verde? Quando tiver maduro eu compro. Tem um carro gelo aí? Então deve ter derretido. O máximo que o interlocutor sentia era raiva. Alguns até riam. Atualmente os trotes telefônicos foram substituídos por vírus no e-mail. Nada ingênuos e causam prejuízos incalculáveis. Abrir uma correspondência de estranhos pode fazer que todas as fotos, filmes, músicas do computador desapareçam. As mensagens levam à curiosidade. Sexo, fortuna, mensagens carinhosas. Abra esse arquivo. Veja a nossa foto. Mensagens para você. Leia-me. Carta de amor. Teste de QI. Tudo cilada. Cuidado. (Circe Cunha)


A frase que não foi pronunciada

“Votar mal é a melhor maneira de jogar fora o dinheiro pago nos impostos.”
Myrtes Maya, preparando a comida do Leão




Estradas
» Aristides Junior, da Polícia Rodoviária Federal, prevê que o feriado do ano- novo terá acidentes. A chuva continua e o movimento aumenta. No Natal foram 477 acidentes com 30 mortes. Em 2008, na mesma época, foram 538 acidentes com 27 mortos.

Moeda
» Notas de R$10 e R$ 1 não são mais emitidas pelo Banco Central. Mas, se estiverem malconservadas, podem ser trocadas nos bancos. Por enquanto continuam valendo no mercado. Já as de R$ 50 e R$ 100 são as mais falsificadas. No Brasil não há o hábito de usar uma caneta própria para identificar notas falsas. Há casos até de caixas eletrônicos que emitiram essas cédulas.

Integração
» Especialistas iniciam um projeto para criar pela internet um sistema de cadastro nacional de informações sobre documentos perdidos ou roubados. O Ministério da Justiça coordena o programa. Ideia simples.

Tudo errado
» A meta não deveria ser só reduzir a emissão de gases do efeito estufa. O certo seria também triplicar a emissão de oxigênio. Assim, cada árvore derrubada teria que ser compensada com o plantio de três em área próxima. O espetáculo do crescimento seria verde.

Concurso
» Das 360 mil vagas no serviço público, 77 mil já foram autorizadas. Não importa que seja ano eleitoral. Até 1º de julho, o resultado deve ser publicado no Diário Oficial. O problema é quando todo o aparato é criado apenas para formar um cadastro de reserva. É bom ficar de olho. No mais, vale o estudo e o progresso.

Meu rei
» Bahia é o melhor destino turístico do Brasil. O dado é resultado de pesquisa do Ministério do Turismo. Salvador, Ilhéus, Porto Seguro e a Chapada Diamantina são os pontos prediletos. O presidente Lula acatou a pesquisa. Hoje ele está em uma base da Marinha no litoral baiano, em Aratu. Volta a trabalhar no dia 11.

Extinta
» Decisão já assinada pelo presidente determina a extinção da Administração Regional da Funai em 17 localidades do país. Surpresa geral para seus dirigentes. Pernambuco tem a terceira maior população indígena do Brasil. Tem também projetos importantes que foram subitamente interrompidos. O decreto 7.056 não é em vão. A estrutura será repensada e fortalecida.

Pela paz
» Depois das barbáries cometidas por quilombolas do Suriname a brasileiros, o Brasil pensa em uma integração maior com aquele país. É assim que se governa pela paz. As cenas de terror foram intensas. Mas serviram para chamar a atenção para o descaso nas fronteiras. É preciso intensificar o trabalho nas bordas do Brasil. Sempre com o objetivo pacificador. Isso, se não houver interesse em ampliar o terror que traz uma guerra.

Detrito Federal
» A política é mesmo um carnaval. Foram R$ 3 milhões do GDF empregados no carnaval da Beija-Flor. Na passarela do samba, o tema será Brasília. Uma aniversariante que não está no melhor dos seus dias. Vamos ver quanto vale o aplauso ou quanto foi gasto pela vaia.



História de Brasília

O jeep azul 1-68-30, pertencente a um engenheiro da Novacap, foi roubado da porta do cinema. Imediatamente, seu proprietário comunicou-se com a polícia, que não pôde dar caça ao ladrão sob a alegação de que não tinha viatura para isso. (Publicado em 22/2/1961)

GOSTOSA

CLIQUE NA FOTO PARA AMPLIAR

CLÓVIS ROSSI

Sobre verdades e venenos

FOLHA DE SÃO PAULO - 02/01/10


Episódio de envenenamento de opositores à ditadura de Augusto Pinochet no Chile tem pista brasileira revelada


A COMISSÃO da Verdade, proposta pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, bem que poderia começar procurando a verdade nos argumentos contra ela esgrimidos pelos comandantes militares. Não vai encontrar.
O argumento mais popular, a julgar pelo Painel do Leitor de ontem desta Folha, é o de que a proposta quer investigar os abusos de um lado (o dos militares) e ignorar os do outro (os militantes da esquerda armada). Ou é desinformação ou má-fé.
Todos os abusos da esquerda armada foram punidos. Alguns, na forma da lei. Outros, muitos, à margem da lei, por meio de assassinatos, torturas, exílio, banimento, desaparecimentos.
Já os abusos praticados pelo aparato repressivo não foram nem investigados, com pouquíssimas exceções.
Para ficar apenas no âmbito mais próprio para este espaço, o internacional, está mais do que na hora de buscar a verdade sobre a Operação Condor, o mecanismo repressivo multinacional armado pelas ditaduras militares do Cone Sul, nos anos 70/80.
Deve haver, escondido em algum arquivo bem protegido, um documento assinado por chefes militares da época anulando a soberania de cada país para que militantes da oposição às ditaduras pudessem ser caçados livremente.
Eu mesmo andei atrás desse papel, quando estava para cair a ditadura boliviana da época (começo dos 80), a primeira brecha que se abriria para ter acesso a arquivos oficiais. Um coronel, que fazia a ligação entre o candidato presidencial Hernán Siles Zuazo e as Forças Armadas, me disse que teria, sim, que haver um documento oficializando, digamos assim, a Operação Condor.
Pena que um novo golpe adiou a vitória de Siles, e perdi a pista.
Ainda nesse terreno de repressão internacional, a nova comissão poderia procurar a verdade sobre o envenenamento de opositores à ditadura de Augusto Pinochet. No domingo, o jornal espanhol "El País" fez um belo levantamento sobre a morte, por aparente envenenamento, do ex-presidente Eduardo Frei Montalva, pai de Eduardo Frei Ruiz-Tagle, também ex-presidente e hoje candidato de novo.
A investigação indica que Frei foi assassinado com três doses de mostarda sulfúrica, tálio e um fármaco não identificado.
No percurso para chegar a essa suspeita surgiu o caso de quatro militantes políticos presos em uma cadeia de segurança máxima em Santiago. Todos foram também envenenados, juntamente com quatro presos comuns, mas Ricardo Aguilera, então com 28 anos, sobreviveu.
Para encurtar a história, descobriu-se que o agente venenoso era a bactéria "clorstridium botulinum", que provoca botulismo, e chegara ao Chile "em um pacote letal enviado do Brasil por valise diplomática", segundo "El País".
Em vez de incomodar-se com uma "Comissão da Verdade" não seria mais lógico que os comandantes militares brasileiros se